Você está na página 1de 47

1

APOSTILA RESUMO ENEM O mito opera com a saturação do sentido, ou


seja, um mesmo fato pode ser narrado de
Professora: Crystianne Mendonça inúmeras maneiras diferentes, dependendo do
Email: crysfilosofia@gmail.com que se queira enfatizar, e as coisas do mundo
(animais, vegetais, minerais, humanos) podem
receber inúmeros sentidos, conforme o lugar que
O MITO GREGO: DA COSMOGONIA ocupem na narrativa.
A COSMOLOGIA
Por isso, o mito abre espaço para contradições,
Características da Mitologia Grega: mesmo sendo inquestionável. O mito pressupõe
adesão plena, admite incoerências e é
O Mito é:
transmitido pelo poeta-rapsodo, tido como
o Sagrado autoridade religiosa.
o Inquestionável
o Dogmático O mito é uma cosmogonia, composta da palavra
cosmos, que significa mundo ordenado e da
Conceito de mito: O mito é uma narrativa palavra gonia, que vem da palavra gênese, que
inquestionável acerca do surgimento do universo. significa nascimento, surgimento. O mito grego
Esse mito era narrado pelos Poetas Rapsodos, narra a origem da ordem=cosmos, gerada (gonia)
em cantigas, poemas, músicas. Os poetas mais pelos deuses através de suas lutas e relação
famosos são Homero e Hesíodo. sexual.

Cabia ao poeta-rapsodo a tarefa de anunciar às A Filosofia possui um conteúdo preciso ao nascer:


populações a palavra divina, sob suposto efeito é uma cosmologia. A palavra cosmologia é
da inspiração das musas; composta de duas outras: cosmos, que significa
mundo ordenado e organizado, e logia, que
Musas: entidades mitológicas capazes de inspirar significa pensamento racional, discurso racional,
a criação artística ou científica. conhecimento, estudo.

Eram adoradas no templo Museion (daí a palavra Cosmogonia: uma tentativa de explicar a
“museu”, que é o local onde se preservam as realidade através dos mitos, narrava a origem da
artes e as ciências); natureza por meio de genealogias divinas.

Eram invocadas ao princípio de um poema épico, Cosmologia: um tentativa de explicar a realidade


a fim de ajudar a um autor ou a um orador por meio de conceitos, explicava a origem da
durantes os trabalhos com o poema; natureza pela existência de um ou alguns
elementos naturais (terra-seco, água-úmido, ar-
Elementos cognitivos do mito – o poeta relata de frio, fogo-quente), a PHYSIS
modo detalhado “como” tudo surgira, fazendo
conexões de hierarquia e necessidade entre uns e Porque ocorre a transição do período
outros elementos; cosmogônico para o período cosmológico?
O mito não era mais capaz de explicar os
Esta narrativa representou, até o século VII a.C., a acontecimentos ocorridos na pólis (cidade-
única maneira conhecida pelo grego como Estado).
explicação para o mundo;

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


2
O SURGIMENTO DA FILOSOFIA espanto, na estranheza e perplexidade que os
homens sentem diante dos enigmas do universo
No final do século VII e início do século VI a C., e da vida. É o espanto que os leva a formularem
surge a Filosofia nas colônias gregas da Ásia perguntas e os conduz à procura das respectivas
Menor (particularmente as que formavam uma soluções.
região denominada Jônia). De acordo com os
historiadores, o primeiro filósofo foi Tales de OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
Mileto (c. 625-558 a C.).

A filosofia nasce com o intento de responder os


OS PRÉ-SOCRÁTICOS
questionamentos que o mito não mais conseguia Os pensadores pré-socráticos buscaram
explicar. Agora, o estudo pauta-se na razão explicações racionais para o conhecimento da
(Logos), e não mais na explicação por meio dos natureza e da realidade, tendo como problemas
mitos. centrais a constante mudança percebida pelos
sentidos humanos e a recusa dos sentidos como
OBS: Os primeiros filósofos consideravam os fonte segura de conhecimento.
elementos originários como forças divinas, mas já
não eram personalizados nem sua ação explicada Os primeiros filósofos buscavam descobrir a
por desejos, paixões e furores. Arché ou Arqué da Physis.

TEORIAS SOBRE O SURGIMENTO DA A arché ou arqué (origem) seria um princípio que


FILOSOFIA deveria estar presente em todos os momentos da
existência de todas as coisas; no início, no
desenvolvimento e no fim de tudo.
Teoria do Milagre Grego: a filosofia nasceu por
uma ruptura radical com os mitos, sendo a Esses primeiros filósofos são chamados de
primeira explicação científica da realidade Filósofos da Natureza, Físicos, ou ainda de Pré-
produzida pelo Ocidente. Socráticos.

Teoria do mito noético: Dizia-se que os gregos, Para cada dos primeiros filósofos pré-socráticos a
como qualquer outro povo, acreditavam em seus Arché era diferente. Vejamos:
mitos e que a filosofia nasceu, vagarosa e
gradualmente, do interior dos próprios mitos, Tales de Mileto: A Arché da Physis para Tales era
como uma racionalização deles. a Água. Desse modo, para o filósofo, a “água é o
princípio de todas as coisas.”
Teoria da origem política da filosofia: vários
fatores influenciaram, como os sociais e Pitágoras de Samos: A Arché da Physis para
econômicos, mas sobre a política, valorizando o Pitágoras eram os Números. Relatam os
humano, o pensamento, a discussão, a persuasão historiadores que Pitágoras foi o primeiro filósofo
e a decisão racional valorizou o pensamento a utilizar a palavra filosofia para designar a
racional e criou condições para que surgisse o atividade incansável da busca do saber.
discurso ou a palavra filosófica.
Anaximandro: A Arché da Physis para
Teoria do Espanto (Aristóteles): Aristóteles Anaximandro era o Ilimitado (ápeiron), princípio
afirmava que a filosofia tinha a sua origem no indeterminado e em movimento perpétuo.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


3
e eternas, governa o constante movimento dos
Anaxímenes: A Arché da Physis para Anaxímenes seres.
era o Ar, com seus atributos como a infinitude e o
movimento incessante. O Logos é que compreende e sabe que a
harmonia e a unidade nasce da contradição, do
OBS: Para os historiadores da filosofia, o primeiro movimento e da multiplicidade. “A natureza
filósofo é Tales de Mileto, e quem “batizou” a gosta de se ocultar”, afirma Heráclito, querendo
filosofia foi Pitágoras de Samos. dizer com isso que a aparência das coisas não
revela a sua verdade que é o eterno fluxo de tudo
HERÁCLITO DE ÉFESO e sua contradição a estabelecer que tudo é Um:
harmonia e unidade que somente o Logos
Segundo o filósofo, nada permanece idêntico a si conhece.
mesmo, nem por um instante. Desse modo, tudo
está em constante transformação, em eterno Heráclito escreve sobre a forma de aforismos,
devir. O eterno devir traz a ideia de que o mundo, frases que expressam de forma condensada uma
não é um lugar estático, mas sim um fluxo, uma ideia. Exemplos: “O Sol é novo a cada dia”, “Nos
mudança eterna e permanente de todas as mesmos rios entramos e não entramos, somos e
coisas, um constante vir-a-ser. não somos”.

O movimento segundo esse filósofo, só é possível O SER para Heráclito é Múltiplo, Mutável,
porque tudo o que existe, existe em seu oposto. Destrutível. Mas da multiplicidade vem a
Desse modo, só é possível conhecer qualquer unidade, portanto, Heráclito não pode ser
coisa, porque existe seu contrário. considerado empirista.

São os Opostos em guerra que possibilitam o Assim, Heráclito tem como reflexão a afirmação
movimento. da mudança constante, o eterno fluxo, como
fundamento do conhecimento, admitindo tanto a
A causa do movimento, segundo Heráclito: A Luta multiplicidade (dos seres) quanto a unidade e a
Constante dos Contrários/ Luta constante dos harmonia garantidas pelo “logos”.
opostos.
Palavras-chave: MOVIMENTO, DEVIR, TUDO FLUI
Exemplo: Só existe dia, porque existe noite. Só (“Panta rei”).
existe quente, porque existe frio. Só existe seco,
porque existe molhado; etc. PARMÊNIDES DE ELÉIA

OBS: Esse movimento gerado pela Guerra Parmênides defende o imobilísmo, ele é
SEMPRE é dado em EQUILÍBRIO. Nunca gera o considerado por historiadores da filosofia como o
caos e a desordem. Assim, o universo está em “Pai da Metafísica”, o “Pai da Ontologia”.
permanente conflito com o seu contrário.
Quase toda a teoria de Parmênides se encontra
Heráclito para ilustrar sua dialética utiliza da em um poema de sua autoria denominado “Sobre
metáfora do “Fogo”. Ele utiliza esse recurso para a natureza”, que trata basicamente em suas duas
demonstrar que tudo flui, tudo está em constante partes, do caminho da verdade (Alétheia) e do
movimento. Pois “o fogo acende e apaga com caminho da opinião (Doxa).
medida”. Desse modo, o fogo, como chamas vivas

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


4
Segundo esse filósofo, não existe movimento, Caminho da Opinião (“doxa”): É o caminho dos
tudo o que vemos, é ilusão dos nossos sentidos, enganos, da opinião, do erro, do falso
“Doxa”, pois aquilo que corresponde ao Ser, não conhecimento.
pode se transformar, ou deixar de ser. Desse
modo, o pensamento de Parmênides é OBS: O SER para Parmênides é Uno, Imutável,
absolutamente oposto ao de Heráclito, que Indestrutível. Parmênides não pode ser
afirmava que o Ser estaria em eterno devir. considerado empirista.

Para Parmênides o olho engana, o conhecimento Segundo Parmênides só podemos conhecer pelo
não está nos sentidos, mas em um plano pensamento, já que pensar e ser é uma só coisa
metafísico. Esse filósofo é considerado o primeiro para ele.
a formular os princípios lógicos de identidade e
não-contradição, desenvolvidos posteriormente Dessa maneira Parmênides, que afirma a
por Aristóteles. imobilidade do ser e a identidade entre o ser e o
pensar, em oposição à aparência, que é fruto das
A busca racional do ser vai nos revelar um ser opiniões formadas pelos homens a partir dos
uno, imutável, ingênito, imperecível, eterno, não sentidos.
contraditório e idêntico a si mesmo. Que só
podemos conhecer pelo pensamento, já que OS SOFISTAS
pensar e ser é uma só coisa para ele.
Para os Sofistas, tudo deveria ser avaliado
Assim, existe o ser, e não é concebível sua não- segundo os interesses do homem e de acordo
existência. Por isso, o ser é, e o não-ser não é. com a forma que este vê a realidade.

AS VIAS DE INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO Os Sofistas eram “Professores Itinerantes” que se


preocupavam apenas com a retórica.
Via do SER: Tudo aquilo que nós podemos
conhecer, Parmênides chama de SER. O SER é Assim, usavam complicados jogos de palavras,
tudo aquilo que pode ser pensado, dito e trocadilhos, raciocínios sem lógica, todos os
explicado. recursos do discurso para demonstrar a
“verdade” daquilo que se pretendia alcançar.
Via do NÃO-SER: O NÃO-SER nada é. O NÃO-SER
não poder ser dito, nem pensado, muito menos Se utilizavam da arte da Persuasão:
explicado, porque o NÃO-SER não existe. Convencimento -> Fundamental para a Política,
exemplo Protágoras de Abdera: “O homem é a
Via dos Mortais: São aqueles que acreditam que medida de todas as coisas.”
existe tanto o SER quanto o NÃO-SER. Os mortais
tendem a tomar o Não-Ser pelo Ser, uma vez que - Retórica: Convencer uma pessoa sobre algo,
guiam seu pensamento pela opinião. sem saber se é verdadeiro ou não. “a verdade
depende apenas da confiança de quem ouve”
CAMINHOS DE INVESTIGAÇÃO “uma mentira repetida várias vezes se torna uma
verdade.”
Caminho da Verdade: É o caminho do ser,
caminho de todo o conhecimento.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


5

DEMOCRACIA DIRETA DEMOCRACIA Sócrates foi mestre de Platão; Sócrates não


INDIRETA deixou nada escrito, tudo sobre esse filósofo
foram outros pensadores que descreveram,
Ocorre na praça Voto dos cidadãos
sendo que a maior parte dos escritos da doutrina
(ágora)
socrática se encontra nas obras de Platão.

Debater sobre Elegem-se A Filosofia socrática é conhecida como


assuntos; representantes; Antropológica ou Antroposophica;.
Criada na Grécia Criam as leis de acordo
Antiga. com a vontade da Sócrates funda um Método que é chamado de
população.
Método do Diálogo, ou Método Dialético.

“Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates encontra sua


Os sofistas não se preocupavam com a essência, verdadeira missão ao visitar o oráculo de Delfos:
apenas se preocupavam com a persuasão, eles despertar o conhecimento nas pessoas, por meio
cobravam para ensinar. Os maiores críticos dos da Maiêutica.
sofistas são Sócrates e Platão.
O autoconhecimento é um dos pontos
A sofistica destruía os fundamentos de todo o fundamentais da filosofia socrática. Assim, a
conhecimento, já que tudo seria relativo e os mensagem do Oráculo de Delfos “Conhece-te a ti
valores seriam subjetivos, assim, como impedia o mesmo”, a acusação e o julgamento definem a
estabelecimento de um conjunto de normas de missão de Sócrates.
comportamento que garantissem os mesmos
direitos para todos os cidadãos da pólis. Eis que Outro ponto fundamental é quando o indivíduo
assim, por esse motivo, surge Sócrates, cuja admite sua ignorância, o “sei que nada sei”, para
doutrina se opõe profundamente aos sofistas. que se realize o principal aspecto de sua filosofia:
a busca pelo bem na vida em sociedade.
SÓCRATES DE ATENAS O MÉTODO DO DIÁLOGO:

Sócrates é considerado um marco na história da O método socrático, exercitado sob a formado


filosofia por deixar de analisar especificamente a diálogo, consta de duas partes:
questão da origem do mundo na natureza physis
1) Exortação (protréptico): Sócrates convida o
e buscar no próprio homem fundamentos para interlocutor a filosofar, a buscar a verdade.
sua filosofia. Desse modo, os filósofos que o
antecederam são chamados de pré-socráticos, 2) Indagação (élenkhos): Sócrates, fazendo
por ser um marco divisório na história da perguntas, comentando as respostas e
filosofia. voltando a perguntar, caminha com
interlocutor para encontrar a definição da
coisa procurada.
Sócrates modifica o eixo das questões propostas
pelos pré-socráticos, direcionando as questões Ironia (eiróneia), isto é, refutação: feita a
filosóficas para temas como a Ética, a formação pergunta, Sócrates comenta as várias respostas
moral, os limites do conhecimento humano e que a ela são dadas, mostrando que são sempre
para a formulação de conceitos universais, em preconceitos recebidos, imagens sensoriais
oposição ao relativismo dos sofistas.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


6
percebidas ou opiniões subjetivas e não a O método socrático é Indutivo, pois parte de
definição buscada. afirmações particulares do indivíduo para se
construir conceitos universais. Desse modo, não
Maiêutica, isto é, parturição: Sócrates, ao confundir com o método aristotélico do silogismo
perguntar, vai sugerindo caminhos ao que é DEDUTIVO, partindo de premissa universal,
interlocutor até que este chegue à definição para concluir particularidades do ser.
procurada. Esta segunda parte é uma arte de
realizar um parto, no caso, parto de uma ideia Sócrates não tem a intenção de humilhar seu
verdadeira. interlocutor, pelo contrário, a finalidade do
filósofo é fazer com que o interlocutor busque a
A ciência, epistême, socrática é o resultado do verdade.
método. Por operar com o exame de opiniões,
doxa – isto é, definições parciais, subjetivas, O diálogo socrático é aporético, pois não
confusas, contraditórias – para chegar à definição consegue alcançar a definição completa daquilo
universal e necessária, Sócrates dá início ao que que se perguntou: “só sei que nada sei”.
Aristóteles chama de indução: chegar ao
universal por meio do particular. Portanto: Sócrates foi condenado a morte acusado em sua
época de corromper a juventude, visto que a sua
Ironia é o momento no qual Sócrates ironia enfureceu alguns cidadãos de Atenas que
interrogava/questionava seu interlocutor sobre detinham o poder.
aquilo que julgavam conhecer. O interlocutor
apresenta suas opiniões e, Sócrates o envolve na Sócrates foi levado a julgamento e diante dos
estrutura confusa de suas próprias afirmações, juízes rebateu os argumentos de seus acusadores,
terminando por “trazer a tona” toda a ignorância e apesar de se declarar inocente, foi condenado a
do interlocutor. morte por envenenamento. Foi dado a ele a
chance de escapar da pena se admitisse as
Maiêutica concepção de ideias, “arte de trazer à acusações a ele feitas, porém, não aceitou a
luz” novos conhecimentos. Assim, Sócrates dizia alternativa, por ser desonesta de acordo com
que transportava para a filosofia o exemplo de suas ideias. Assim, foi morto por ingestão de
sua mãe, que sendo parteira, ajudava a trazer cicuta, veneno letal, defendendo até a morte suas
crianças ao mundo, trazendo novas ideias. ideias.

A finalidade da Ironia socrática não é depreciar o A procura da verdade para Sócrates implicava em
seu interlocutor, mas sim despertar nele o conseguir uma convivência honesta e digna entre
conhecimento, a partir do momento em que ele os homens. Assim, Sócrates procurou caracterizar
admite sua ignorância, quebram-se os a sua vida construindo uma personalidade
preconceitos sobre o assunto o qual debatem e corajosa e guiando sua conduta pelo seu critério
chegam a busca de um novo conceito, por meio de justiça. Viveu conforme sua própria
do “parto das ideias”. consciência. Morreu sem ter renunciado a seus
valores morais e a sua doutrina.
Desse modo, a maiêutica (o parto das ideias), o
reconhecimento do não saber pela ironia e a PLATÃO
ausência de respostas às questões levantadas
A filosofia platônica tem como fundamento inicial
(aporia) constituem o fundamento do
resolver o embate entre o mobilísmo de Heráclito
pensamento socrático.
e o imobilísmo de Parmênides. Segundo Platão,

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


7
nem Heráclito e nem Parmênides estavam Teoria da Reminiscência
errados em suas afirmações acerca da existência
Segundo Platão os indivíduos já viveram outras
ou não do movimento.
vidas, eles contemplaram todo o conhecimento
no mundo das ideias. Só que eles passaram pelas
Para resolver o impasse entre Parmênides e
águas do esquecimento, e vieram para o mundo
Heráclito, Platão apresenta relação entre o
sensível, tendo se “esquecido” das ideias que já
sensível e o inteligível, presente na Alegoria da
havia contemplado.
Caverna.

Conhecer é recordar. Assim, a alma antes de se


A ontologia platônica introduz uma divisão no
encarnar, conheceu as ideias, pois estava junto
mundo, afirmando a existência de dois mundos
delas. Ao encarnar-se, entretanto, esse
diferentes e separados: o mundo sensível da
conhecimento se perderia, numa espécie de
mudança, da aparência, do devir dos contrários, e
“esquecimento.” Uma vez presente no homem,
o mundo inteligível da identidade, da
no mundo sensível, ela poderia “recordar-se”
permanência, da verdade, conhecido pelo
pelo processo de reminiscência (anámnesis).
intelecto puro, sem qualquer interferência dos
sentidos e das opiniões.
Por exemplo, quando um homem vê uma gato e
aprende o que é esse animal é, sua alma que
O primeiro é o mundo das coisas, material. O
estaria reconhecendo a ideia de gato. Assim, todo
segundo, o mundo das ideias ou das essências
aprendizado seria na verdade uma lembrança.
verdadeiras, portanto real.

Para adquirir o conhecimento o indivíduo precisa


O mundo sensível é uma sombra, uma cópia
passar pelo processo de Educação (Dialética
deformada ou imperfeita do mundo inteligível
Platônica). Assim, o movimento dialético da alma
das ideias ou essências.
começa com as sombras (ilusões), passa pelos
objetos sensíveis (doxa), vai para o primeiro
O mundo das ideias ou das essências verdadeiras
momento do inteligível que são os raciocínios
é o mundo do Ser; o mundo sensível das coisas,
(matemática) até comtemplar o bem (analogia do
material ou aparências é o mundo do falso – ser.
sol), simbolizados na símile da linha de Platão,
com os quarto graus de conhecimento.
O mundo sensível tem influência do pensamento
de Heráclito, pois nele se tem um eterno fluxo,
Platão é INATISTA: Todo o indivíduo já nasce com
onde tudo se transforma. Já no mundo inteligível,
o conhecimento, o que ele deve fazer é relembrar
as essências não mudam, sempre permanecem
o que já contemplou no mundo das ideias.
idênticas a si mesmas.

Assim, a relação entre conhecimento e


MUNDO SENSÍVEL MUNDO INTELIGÍVEL reminiscência é que o conhecimento vem pela
recordação das ideias perfeitas que se encontram
no mundo inteligível.
Mundo das Cópias Mundo das Essências
Imperfeitas das Ideias
A distinção existente entre o verdadeiro saber
Mundo das Sombras, Mundo das Ideias, do (episteme) e o falso saber (doxa), é feita,
da “Doxa” conhecimento portanto, na apresentação do mundo dos
sentidos e o mundo das ideias.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


8
Não confundir a teoria da reminiscência de Platão E finalmente, na última etapa o cativo liberto
com a teoria da iluminação divina de Santo “vê” o mundo verdadeiro das ideias. Através da
Agostinho. intuição intelectual, visão da alma que contempla
as formas (ideias) puras: o mundo inteligível e o
O Demiurgo: “artesão”: Platão escolheu essa sol da Ideia do bem, ou o Ser.
palavra para designar o deus que, em sua
doutrina, criou o mundo material (sentidos). Livro VII: A República - O governo ideal: O rei
Assim ele modelou o mundo inferior com base Filósofo. É na alegoria/mito da caverna que
nas ideias. Esse mundo criado a partir do mundo Platão demonstra sua teoria política e propõe o
perfeito, das ideias, é o mundo dos sentidos, governo dos melhores em inteligência.
cópia imperfeita do mundo inteligível.
Meritocracia (Aristocracia): Governo dos
O mundo sensível/sentidos/sombras, só existe melhores, esses melhores para Platão eram
porque participa do mundo inteligível/ideias, melhores em inteligência; Assim tem-se o ideal
sendo que o primeiro é uma cópia imperfeita do platônico da política: a cidade Justa e o Rei
segundo. Filósofo.

A metempsicose: Trata-se do modo pelo qual a Platão defendeu um modelo de poder


alma, por um processo de múltiplos nascer e aristocrático, mas não pela riqueza ou sangue, e
morrer, evolui de uma condição inferior para um sim pela inteligência e conduta ética.
estágio superior a partir da recordação
acumulada do que já se encontra em seu interior. O Filósofo por ser o único que possui senso de
justiça, igualdade, e a ideia do supremo bem,
Alegoria da Caverna “Mito da Caverna” deve ser o governante da cidade.

O caminho que eleva a alma ao conhecimento Para Platão, as três partes da alma agem na busca
das ideias se inicia no grau de máxima ignorância: do Bem supremo, impulsionadas pelo amor. A
nas paredes, no fundo da caverna, estão Alma de ouro (racional); Alma de prata (irascível);
projetadas as sombras dos bonecos de madeira, Alma de Bronze (apetites);
cópias dos objetos sensíveis, imagens
(simulacros). A parte racional da alma, conheceria a verdade e
reuniria a inteligência, a moral e a lógica. A parte
Na segunda etapa ainda no fundo da caverna, isto emocional conteria as emoções superiores, como
é, no mundo sensível: temos a crença no que os a honra e o ódio à injustiça. A parte da alma dos
sentidos nos mostram: os bonecos de madeira, apetites é rebelde e corresponde aos desejos
objetos sensíveis, meras cópias dos verdadeiros inferiores carnais, sendo desordenada e inquieta.
seres – as Ideias (formas).
A Alegoria (Simbologia):
Na terceira etapa, entre o mundo sensível e o Sol: Ideia do Supremo Bem
mundo inteligível, o cativo liberto chega ao
primeiro grau do conhecimento verdadeiro com o Interior da Caverna: Mundo Sensível
pensamento discursivo, que são os raciocínios
Exterior da Caverna: Mundo Inteligível
matemáticos que refletem e demonstram as
verdades filosóficas. Sombra da Fogueira no fundo da caverna: Cópias
imperfeitas das ideias

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


9
Cativos/Bonecos: Prisioneiros na caverna. características e qualidades de um objeto de
estudo para analisá-lo e conhecê-lo.
Objetos fora da Caverna: Ideias, essências.
Aristóteles reúne o mundo sensível e o inteligível,
ARISTÓTELES DE ESTAGIRA no conceito de SUBSTÂNCIA.

A filosofia aristotélica tem como fundamento


inicial resolver o embate entre o mobilísmo de
Heráclito e o imobilísmo de Parmênides, assim
como a filosofia de Platão.

Aristóteles foi discípulo de Platão, porém, com


A substância primeira é o ser individual concreto,
seu mestre não concorda no que diz respeito a
existente por si mesmo e que não se diz de algum
dicotomia dos mundos sensível e inteligível.
outro, pois é sujeito, suporte e substrato. Já a
substância segunda são os universais que não
Por isso costuma-se dizer na história da filosofia
existem por si mesmos, mas que podem ser
que Aristóteles “Trouxe de volta dos céus para a
conhecidos, são os gêneros e espécies das
Terra o mundo das ideias de Platão”.
substâncias primeiras.
Assim, para Aristóteles o Conhecimento não está
Assim, segundo o filósofo, a Filosofia Primeira
em um mundo separado, ele está na própria
(Metafísica) pode conhecer as causas primeiras
realidade que vivemos.
ou as mais universais, a partir da substância.

O mundo das ideias para Aristóteles não existe.


Essência (Ousía-Substância): nos dá o que há de
Para ele o mundo material da natureza deve ser
mais íntimo e necessário num ser; aquilo que a
conhecido e explicado pela razão do filósofo.
coisa é. Ex: homem, mortal, bípede.
Assim, Aristóteles concebe os seres ou entes
como uma unidade substancial de matéria e
Acidente/Acessório: atributo circunstancial do
forma. Para ele não há matéria sem forma, nem
ser. O ser pode apresentar ou não, não alterando
forma sem matéria.
a essência do ser. Ex: Alto, Baixo, Magro, Gordo.

A matéria é indeterminada. A matéria pode


Para o filósofo, o ser pode ser dito de várias
assumir qualquer forma. Já a forma é quem
maneiras, a partir dos acidentes e das categorias.
determina a matéria. Informa o ser /ente, diz o
que ele é. Por isso a forma é o princípio de
As 9 Categorias Aristotélicas são:
determinação dos seres.

Quantidade, Qualidade, Ação, Paixão, Lugar,


A metafisica ou filosofia primeira de Aristóteles
Posição, Posse, Tempo e Relação.
preceitua o conhecimento das primeiras causas.
A metafisica é a compreensão dos fenômenos
OBS: Categoria é diferente de conceito.
que se situam “além do físico”, mas cujas
manifestações ou consequências são percebidas
Conhecer para Aristóteles é buscar as causas.
pelos sentidos. Daí a ideia da teoria da abstração
Causa para ele é em sentido bastante amplo:
das ideias, onde coloca-se mentalmente as

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


10
tudo aquilo que determina a realidade de um ser
ou ente. Causa formal: (O que é?) é aquilo que explica a
forma que uma essência possui.
Ato e potência
Causa eficiente ou motriz: (Quem faz?) é aquilo
Explica a mobilidade/transformação dos que explica como uma matéria recebeu uma
seres/entes. A matéria possui potencialidade forma para constituir uma essência.
indeterminadas e a forma lhe dá determinações
na constituição de um ser/ente em ato. Causa final: (Para que é feito?) é a causa que dá o
motivo, a razão ou finalidade para alguma coisa
Potência: (Possibilidade de mudança, de vir a ser) existir e ser tal como ela é.
é o que está contido numa matéria e pode vir a
existir, se for atualizado (ato) por alguma causa
(Ex: a criança é um adulto em potência) .

Ato: (É o ser atual) é a atualidade de uma


matéria, sua forma num dado instante do tempo;
o ato é a forma que atualizou uma potência
contida na matéria. (Ex: a árvore é o ato da
semente, o adulto é o ato da criança).

Ato Puro (Primeiro motor imóvel): Somente o


Lógica Aristotélica
imóvel é causa absoluto do móvel. Já que todo ser é Na lógica aristotélica a verdade da proposição é
contingente, não tem em si a causa de sua uma adequação do discurso àquilo que ocorre
existência, foi produzido por outro. Para não ir ao nas coisas e se diferencia da noção de validade,
infinito, é preciso admitir uma primeira causa apropriada ao raciocínio.
incausada. Esse primeiro motor imóvel é o ato
puro (sem nenhuma potência), Deus. O primeiro Assim, a lógica é um instrumento para o exercício
motor é de onde parte todo o movimento de formal do pensamento. Desse modo, Lógica não é
todo o Universo. Ele é um motor, pois move uma ciência prática, mas um instrumento para as
todas as coisas, mas é imóvel, pois ele não é ciências e a lógica é formal. Importa a estrutura
movido por ninguém. válida do raciocínio e não a verdade do
argumento.
Causa final de todos os seres: A natureza dos
seres agem sempre tendo em vista um thelos, O Silogismo: é um raciocínio dedutivo válido que
uma finalidade. Move para buscar a perfeição infere uma conclusão derivada necessariamente
(enteléquia – ato final), que é a ausência de de duas premissas. O argumento ou raciocínio é o
potência. discurso em que proposições são encadeadas de
maneira a chegar a uma conclusão.
Distingue então o filósofo as quatro causas
primeiras de todos seres/entes. Um silogismo é constituído por três proposições,
que encadeadas recebem o nome de argumento.
Teoria das quatro causas: A primeira é chamada de premissa maior, a
segunda, de premissa menor e a terceira de
Causa material: (De que é feito?) é aquilo de que conclusão, inferida das premissas pela mediação
uma essência é feita, sua matéria.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


11
de um termo médio. Por isso, a arte do silogismo para o poderio do império de Alexandre da
consiste em saber encontrar o termo médio que Macedônia, e, depois, para as mãos do Império
ligará os termos extremos e permitirá chegar à Romano.
conclusão. O silogismo deve obedecer a um
Trata-se do último período da Filosofia antiga,
conjunto complexo de regras.
quando a pólis grega desapareceu como centro
político, deixando de ser referência principal dos
- Regras básicas para construção de um
filósofos, uma vez que a Grécia encontra-se sob o
silogismo:
poderio do Império Romano.
a. Um silogismo tem 3 termos, e apenas 3
O período helenístico é caracterizado
termos.
principalmente por uma ascensão da ciência e do
b. O termo médio sempre se repete nas duas
conhecimento.
primeiras premissas, mas nunca aparece na
conclusão, pois sua função se esgota ao ligar os As escolas helenísticas têm em comum a
extremos (Termo maior e Termo menor). atividade filosófica, como amor e investigação da
c. Princípio de Identidade e não-contradição sabedoria, sendo esta um modo de vida. Com o
d. Princípio do terceiro excluído: dada duas declínio da importância da participação do
proposições com o mesmo sujeito e o mesmo cidadão nos destinos da cidade, passa-se da vida
predicado, uma delas é necessariamente pública à vida privada.
verdadeira e a outra necessariamente falsa : A é x
ou não-x, não havendo terceira possibilidade. SABEDORIA: tranquilidade da alma.

Na filosofia despontaram correntes filosóficas


Silogismo dialético é aquele cujas premissas se
voltadas para a descoberta da fórmula da
referem ao que é apenas possível ou provável.
felicidade, da intimidade e da vida interior do
Assim possui argumento falso e estrutura válida.
homem:

Silogismo científico é aquele que se refere ao  Ceticismo


universal e necessário, suas premissas são  Epicurismo
apodíticas (necessárias). Assim possui argumento  Estoicismo
verdadeiro e estrutura válida.  Cinismo

Ceticismo: é a doutrina que afirma que não se


Método Dedutivo: Parte do Universal para o
pode obter nenhuma certeza a respeito da
Particular. Método indutivo: Parte do Particular
verdade, o que implica numa condição intelectual
para o Universal. O Silogismo Aristotélico utiliza-
de dúvida permanente e na admissão da
se do método dedutivo.
incapacidade de compreensão de fenômenos
metafísicos, religiosos ou mesmo da realidade.
HELENISMO Defendiam que se deve contentar com as
aparências das coisas, desfrutar o imediato
O período conhecido como helenístico foi um captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em
marco entre o domínio da cultura grega que vez de se lançar à busca de uma verdade plena,
difundiu no mundo mediterrânico, e no Oriente, pois seria impossível ao homem saber se as coisas
fundindo-se com a cultura local devido à são efetivamente como aparecem. Para atingir a
expansão militar do Império Macedônico. felicidade o indivíduo deveria dirigir uma
indiferença absoluta aos costumes e aos
A época helenística ocorre a partir do final do
acontecimentos da vida.
século IV antes de Cristo, quando a Grécia passa

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


12
Epicurismo: propunha uma vida de contínuo mundo. Não dispomos de poderes para alterar,
prazer como chave para a felicidade, esse era o substancialmente, a ordem universal do mundo.
objetivo de seus ensinamentos morais. A Mas pela filosofia podemos compreender esta
finalidade dessa filosofia não era teórica, mas sim ordem universal e viver segundo ela.
bastante prática. Buscava encontrar uma vida
Cinismo: partia do princípio de que a felicidade
feliz e aprazível. O mal da alma se cura pela
não depende de nada externo à própria pessoa.
filosofia. Assim, o supremo prazer é de natureza
Segundo os Cínicos, é justamente a libertação de
intelectual e obtido mediante o domínio das
todas essas coisas, a preocupação com a saúde, o
paixões. O epicurismo serviu de base para o
sofrimento e a morte, que pode trazer a
hedonismo, que também define a busca do
felicidade. Levavam ao extremo a filosofia de
prazer, mas que não diferencia os tipos de
Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar
prazeres tal como faz Epicuro. O autor propunha
conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens
que o ser humano deve buscar o prazer, pois,
materiais. O pensador mais destacado dessa
segundo ele, o prazer é o princípio e o fim de uma
escola é Diógenes, que questionava os valores e
vida feliz. Distinguia 2 grandes grupos de
tradições sociais e vivia conforme os princípios
prazeres: 1º Grupo prazeres mais douradouros,
que considerava moralmente corretos.
que encantam o espírito, como por exemplo: a
boa conversação, a contemplação das artes, a Desse modo, o ideal da Pólis, portanto, é
audição da música etc. 2ª Grupo: prazeres mais substituído pelo ideal "cosmopolita” (o mundo
imediatos, muitos dos quais movidos pela inteiro e uma Polis), e o homem-citadino é
explosão das paixões e que, ao final, poderiam substituído pelo homem-individuo; a
resultar em dor e sofrimento. Para desfrutar os contraposição grego-bárbaro em larga medida é
grandes prazeres do intelecto precisamos superada pela concepção do homem em uma
aprender a dominar os prazeres exagerados da dimensão de igualitarismo universal.
paixão: os medos, os apegos, a cobiça, a inveja.
Os epicuristas buscavam a ATARAXIA, termo
grego usado pra designar o estado de ausência da FILOSOFIA MEDIEVAL
dor, quietude, serenidade e impertubabilidade da
Na Filosofia Medieval se discute a relação entre a
alma. O epicurismo defende uma administração
fé cristã e a filosofia grega, a partir da concepção
racional e equilibrada do prazer, evitando ceder
da patrística e da escolástica, com ênfase nas
aos desejos insaciáveis que, inevitavelmente,
propostas de Agostinho de Hipona e de Tomás de
terminam no sofrimento.
Aquino.
Estoicismo: é uma doutrina filosófica que afirma
que todo o universo é corpóreo e governado por Assim é abordado o papel da filosofia grega como
um Logos divino. A alma está identificada com instrumento da teologia (fé cristã). Apresentando
este princípio divino, como parte de um todo ao sempre a ideia central da superioridade da fé
qual pertence. O estoicismo propõe viver de sobre a razão.
acordo com a lei racional da natureza. É a
corrente filosófica de maior influência de seu SANTO AGOSTINHO
tempo. Fundada por Zenão de Cicio, localidade da
ilha de Chipre. Defendiam que toda realidade Filosofia Patrística: filosofia dos primeiros padres
existente é uma realidade racional. O que da igreja, da qual, Santo Agostinho é um dos
chamamos de Deus nada mais é do que a fonte principais representantes.
dos princípios que regem a realidade. Somos
deste mundo e ao morrer, nos dissolvemos neste

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


13
Santo Agostinho é influenciado pela corrente dos
chamados “neoplatônicos”, que era uma escola Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis
filosófica que utilizava a doutrina platônica na e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias
defesa da religião como forma de revelação da ou razões não existem em um mundo à parte,
verdade. como afirmava Platão, mas na própria mente ou
sabedoria divina, conforme o testemunho da
Ele foi influenciado por Platão, mais ele não Bíblia.
concorda em todos os pontos com sua filosofia.
Agostinho entende a percepção do inteligível na
Agostinho propõe a conciliação entre Fé e Razão. alma como irradiação divina no presente. Assim
Assim, o filósofo considera a filosofia grega um como os objetos exteriores só podem ser vistos
instrumento útil para a fé cristã, pois a primeira quando iluminados pela luz do sol, também as
ajuda a compreender melhor as verdades da fé. verdades da sabedoria precisam ser iluminadas
pela luz divina para se tornarem conhecidas pelo
Para se ter acesso as verdades eternas é intelecto.
necessário que o indivíduo tenha fé. As verdades
eternas encontram-se no interior do homem, em Deus não substitui o intelecto quando o homem
sua alma. Deus está na alma de cada um de nós, e pensa o verdadeiro, a iluminação teria apenas a
o conhecimento está na mente de Deus, que função de tornar o intelecto capaz de pensar
habita o interior do homem. corretamente em virtude de uma ordem natural
estabelecida por Deus. Assim, tem-se a influência
“Creio em tudo o que entendo, mas nem tudo e participação de uma centelha do intelecto
que creio, também entendo”, ou seja, existem divino que se irradia na mente humana.
alguns mistérios da fé que não são acessíveis aos
homens, mas eles devem acreditar, pois são A teoria agostiniana estabelece assim, que todo
verdades de Deus, e assim, a fé ilumina os conhecimento verdadeiro é o resultado de um
caminhos da razão. Assim, para o filósofo, a fé processo de iluminação divina, que possibilita ao
revela verdades ao homem de forma direta e homem contemplar as ideias, arquétipos eternos
intuitiva, vem depois a razão esclarecendo aquilo de toda realidade.
que a fé já antecipou.
Assim que pode ser compreendida a principal
Assim, para Agostinho, as verdades eternas e diferença entre a teoria de Agostinho e a teoria
imutáveis têm sua sede em Deus, assim sendo, as de Platão.
mesmas só podem ser alcançadas pela
iluminação divina: Deus que é uma realidade A luz divina, segundo Agostinho, torna inteligível
exterior, habita o interior do homem, revelando o a verdade eterna na mente falível.
conhecimento verdadeiro.
Agostinho rejeita a teoria da reminiscência de
Nenhum conhecimento verdadeiro pode ser
Platão e cria a chamada Teoria da iluminação
introduzido na mente das pessoas vindo de fora,
divina. Assim, o conhecimento não vem da
por meio do ensino. O saber se encontra na alma,
recordação de uma passagem anterior pelo
porque ela se origina da substância divina. Com
mundo das ideias, mas sim da iluminação divina,
isso Agostinho demonstra que a verdade não
no momento presente, onde Deus ilumina o
pode ser ensinada pelos homens, mas somente
indivíduo para ter acesso as verdades.
pelo mestre interior (o mestre interior é Deus,
que habita o interior do homem).

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


14
A Reencarnação consiste na crença da existência filosófica sobre a existência ou não de conceitos
de outras vidas, veja-se a teoria da Reminiscência universais.
de Platão, que aponta que nossa alma já
contemplou as ideias quando transitou pelo Duas soluções opostas foram dadas pelos
mundo inteligível. A Ressurreição é o que filósofos da Idade Média sobre a questão dos
defendem os católicos-cristãos, que quando o universais:
indivíduo morre, ele irá para o reino dos céus
descansar eternamente ao lado de Deus. Realista: de Santo Anselmo e Guilherme de
Champeaux, afirma que: os universais existem
Para o filósofo, o homem que trilha a via do como natureza comum real, e os indivíduos
pecado só consegue retornar aos caminhos de diferem apenas em seus acidentes e não em sua
Deus e da salvação mediante a combinação de substância (essência, universalidade comum).
seu esforço pessoal de vontade e a concessão, Assim, o realismo representa a opinião de que o
imprescindível, da graça divina. Sem a graça de mundo exterior é tal qual o compreendemos, por
Deus, o homem nada pode conseguir. E nem meio de nossos conceitos (universais), ou seja,
todas as pessoas são dignas de receber essa considera que os universais são entidades que
graça, mas somente, alguns eleitos, existem por si e separados das coisas exteriores.
predestinados a salvação. De certa forma, o realismo deriva da doutrina de
Platão.
Segundo Agostinho, o mal seria a perversão da
vontade desviada da substância suprema. Assim, Nominalista: de Roscelino e de Guilherme de
para o filósofo “ama e faze o que quiseres” diz Ockham, que afirma uma posição
respeito a: se o homem ama verdadeiramente, diametralmente oposta ao realismo, defendendo
isto é, como Deus ama, com gratuidade fazendo o a tese de que a realidade é constituída pelos
bem aos outros, sua vontade será guiada indivíduos singulares, não sendo o universal mais
corretamente; por isso, ser e agir conforme a do que uma simples emissão de voz humana
própria vontade, iluminada pelo amor de Deus é (flatus vocis), meros nomes. Desse modo, Os
a garantia de que a liberdade de ação será justa, nominalistas defendem a ideia de que os
ou seja, ética. universais não existem independentemente das
coisas, os universais são apenas palavras sem
Desse modo, para Agostinho, a liberdade humana existência real, ou apenas conceitos produzidos
é a própria da vontade, e não da razão. E é nisso pela razão para referir-se a elas, ou seja,
que reside a fonte do pecado. O indivíduo peca consideram nossos conceitos como ficções úteis
porque usa de seu livre-arbítrio para satisfazer a que nos permitem uma compreensão da
sua vontade, mesmo sabendo que tal atitude é realidade sem nos dar certeza de como ela é
pecaminosa. realmente.

Ainda há a posição do Conceitualismo de Pedro


QUESTÃO DOS UNIVERSAIS
Abelardo (também se chama conceitualismo de
realismo moderado) que defende que os
A questão ou problema dos Universais, também
Universais não são entidades metafísicas, nem
conhecida como querela dos universais trata,
meros nomes, e sim discursos mentais (existência
especialmente no período da escolástica, a
simbólica na mente e existência concreta nas
relação existente entre as coisas e as palavras, e
coisas). Assim, para o Conceitualismo só existem
se caracteriza como um momento na reflexão
as realidades singulares, no entanto é possível
que se busquem as semelhanças entre os seres

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


15
individuais, através de abstração, de tal maneira a razão tem como ponto de partida a realidade
gerar os conceitos universais. Por isso, a posição sensível, pois cada ente (substância individual)
de Pedro Abelardo diferencia-se do realismo, pois traz a sua forma inteligível, que é a forma da
nega que os universais sejam entidades espécie.
metafísicas (tese defendida pelo realismo), mas
não se identifica com o nominalismo, pois para Desse modo, o conhecimento começa pela
Abelardo os universais existem como entidades experiência sensível até a apreensão de formas
mentais, que fazem a mediação entre o mundo abstratas pelo intelecto.
do pensamento e o mundo do ser, portanto, não
podem ser apenas palavras, como pregavam os O conhecimento humano parte sempre dos
nominalistas. sentidos, que revelam objetos concretos e
singulares: mas, através da abstração, é capaz de
SÃO TOMAS DE AQUINO finalmente forjar conceitos universais. Exemplo:
deste gato concreto e singular que inicio
Tomás de Aquino ao formular sua doutrina, foi conhecendo pelos sentidos, sou capaz de abstrair
influenciado pela teoria de Aristóteles. O filósofo e forjar o seu conceito universal: felino.
é considerado um dos principais representantes
da Filosofia escolástica: filosofia nas escolas Intelecto agente é a faculdade que anima o
medievais, surgimento do debate da conciliação conhecimento sensível para captar a essência que
entre fé e razão. está no objeto (abstração);

O conhecimento é resultado da conciliação entre Intelecto passivo recebe esse conhecimento e o


fé e razão. Desse modo, o trabalho da razão apreende pelos conceitos, fixa o conhecimento
humana é compatível com a crença nos dogmas ativado pela intelecção ativa que entende a
de fé: filosofia e teologia são ciências distintas, essência, e o faz pelo raciocínio, pelo julgamento,
porém não excludentes. Assim, fé e razão não se pela elaboração do saber filosófico.
contradizem.
Tomás de Aquino formula chamadas “provas” da
Fé e razão são conciliáveis, estando em um existência de Deus, partindo dos dados sensíveis
mesmo patamar. Em alguns casos a fé pode e procurando ultrapassá-los pelo esforço de
ultrapassar a razão, pois Tomás de Aquino abstração, culminando na Metafísica.
trabalha para conciliar a filosofia de Aristóteles
com a religião cristã, embora mantenha a AS 5 PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS:
supremacia da fé em relação à razão.
1) Pelo movimento/Primeiro Motor Imóvel: tudo
O conhecimento está na experiência, mas a razão aquilo que se move é movido por outro ser. Por
recebe os dados da experiência e registra-os. sua vez, este outro ser, necessita também que
Assim nota-se o caráter abstrativo do seja movido por outro ser. E assim
conhecimento tomista, que consiste em abstrair sucessivamente. Se não houvesse um primeiro
do objeto a espécie inteligível: abstrair o ser movente cairíamos num processo indefinido.
universal do particular, a espécie inteligível das Assim, é necessário chegar a um primeiro ser
imagens singulares. movente que não seja movido por nenhum outro.
Esse ser é Deus.
Nota-se a influência da teoria da abstração
aristotélica na doutrina de Tomás de Aquino: a

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


16
2) Causa eficiente: todas as coisas existentes no as decisões que tomam em suas vidas. Por isso, o
mundo não possuem em si próprias as causas mal para Aquino é a ausência do bem, e o
eficientes de sua existência. Assim, é necessário homem que pratica o mal é porque deixou de
admitir a existência de uma primeira causa praticar o bem em sua perfeição.
eficiente, responsável pela sucessão dos efeitos.
Essa causa primeira é Deus. Por isso, segundo Aquino, o homem, por ter em
sua natureza a providência divina e saber
3) Ser necessário, ser contingente: Todo ser diferenciar o bem de suas imperfeições, deve
contingente, do mesmo modo que existe, pode corrigir a culpa, e seus pecados, nas escolhas que
deixar de existir (nós, humanos). É preciso admitir tiver de fazer.
um ser que sempre existiu e sempre irá existir,
um ser absolutamente necessário, que não tenha FILOSOFIA MODERNA
fora de si a causa de sua existência, mas ao
contrário, seja a causa da necessidade de todos FRANCIS BACON
os seres contingentes. O ser necessário é Deus
que é onisciente, onipotente e onipresente. Crítico de Aristóteles: Seu pensamento era
interessante para discussões, porém de pouca
4) Graus de Perfeição: Em relação à qualidade de aplicação prática.
todas as coisas existentes, pode-se afirmar a
Para Bacon, a ciência poderia e deveria
existência de graus diversos de perfeição.
transformar as condições de vida do homem.
Devemos então, admitir que existe um ser com o
máximo de bondade, de beleza, de poder, de Bacon examinou exaustivamente as causas e as
verdade, sendo portanto, um ser máximo e formas do erro, inaugurando um estilo filosófico
pleno. Esse ser é Deus. que permanecerá na Filosofia, isto é, a análise
dos preconceitos e do senso comum.
5) Finalidade do ser/Pela finalidade, pela ordem e
Bacon elaborou uma teoria conhecida como a
governo do mundo: todas as coisas brutas, que
crítica dos ídolos (a palavra ídolo vem do grego
não possuem inteligência própria, existem na
eidolon e significa imagem).
natureza cumprindo uma função, um objetivo,
uma finalidade, semelhante a flecha dirigida pelo Teoria dos ídolos: Formulada a partir da história
arqueiro. Devemos admitir então que existe e da observação. A função da teoria dos ídolos é a
algum ser inteligente que dirige todas as coisas de tornar os homens conscientes das falsas
da natureza para que cumpram seu objetivo. Esse noções que obscurecem sua mente e barram o
ser é Deus. caminho para a verdade.

Segundo Aquino, Deus cria e regula a ordem do Quem são os ÍDOLOS?


mundo. Essa ordem divina é chamada de
Aqueles que impedem o homem de alcançar o
providência, e todas as coisas e seres estão
verdadeiro conhecimento. O intelecto deve ser
sujeitos a ela. Deus ao estabelecer essa ordem,
expurgado de todos os ídolos.
encaminha todas as coisas a si, o bem supremo.
Para se tornar “uma criança diante da natureza”
Assim, em virtude da providência, o homem é o cientista deve se livrar de quatro ídolos
encaminhado para a beautitude, porém escolhe (imagens que formam opiniões cristalizadas e
seus próprios caminhos. A faculdade de escolha é preconceitos, que impedem o conhecimento da
o livre-arbítrio, e os homens dele se utilizam para verdade):

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


17
 Ídolos da tribo Duas espécies de ídolos do foro:

 Ídolos da caverna  Nome das coisas que não existem (por


exemplo, a “sorte”, o “primeiro móvel,
 Ídolos do foro
etc”.
 Ídolos do teatro
 Nomes confusos, abstratos de coisas que
Ídolos da Tribo: Noções falsas que surgem da existem, indeterminados ou
própria natureza humana. Surgem quando o impropriamente abstraído das coisas
homem tenta buscar entre a natureza das coisas (ludibriar).
e sua própria natureza, paralelos que não
A relação entre os homens ocorre por meio da
existem.
fala, mas os nomes são impostos as coisas
0s ídolos da tribo se fundamentam sobre a segundo a compreensão do vulgo.
própria natureza, e sobre a própria família
E basta essa informe e inadequada atribuição de
humana ou "tribo". O intelecto humano mistura
nomes para perturbar extraordinariamente o
sua própria natureza com a das coisas,
intelecto. E, naturalmente, para retomar a
deformando-a e desfigurando-a. Assim, por
relação natural entre o intelecto e as coisas,
exemplo, o intelecto humano é levado por sua
também não tem valor todas aquelas definições e
natureza a supor nas coisas "uma ordem maior"
explicações das quais frequentemente os doutos
do que aquela que efetivamente nelas se
se servem para se precaver e se defender em
encontra, ou seja, paralelismos, correspondências
certos casos.
e relações que na realidade não existem.
Na opinião da Bacon, os ídolos do foro são os
Ídolos da Caverna: Noções falsas que decorrem
mais incômodos de todos, "justamente porque
das características de cada pessoa, das influências
estio ligados a linguagem". Os homens acreditam
do meio. São ilusões individuais de quem prefere
que sua razão domina as palavras; mas ocorre
aceitar aquilo que faz parte de seu mundo e
também que as palavras retrucam e refletem sua
aceitar ideias alheias em busca das verdades
força sobre o intelecto, o que torna a filosofia e
reais.
as ciências sofisticas e inativas.
Os ídolos da caverna "derivam do indivíduo
Ídolos do Teatro: Noções falsas de doutrinas
singular”. Além das aberrações comuns ao gênero
filosóficas e científicas, inclusive as antigas, que
humano, cada um de nós tem uma caverna ou
se afirmaram em nome da fé e da tradição.
gruta particular na qual a luz da natureza se
Recebem esse nome visto que essas doutrinas
perde e se corrompe, por causa da natureza
criaram o mundo de ficção, teatral.
própria e singular de cada um, por causa de sua
educação e das conversações com os outros. Bacon os chama de idolos do teatro porque
Assim, os ídolos da caverna, portanto, tem sua considera todos os sistemas filosóficos que foram
origem na natureza especifica da alma e do corpo acatados ou cogitados como fábulas preparadas
do individuo, em sua educação e seus hábitos ou para serem representadas no palco, boas para
então em outros casos fortuitos. construir mundos de ficção e de teatro.

Ídolos do Foro (mercado): Noções falsas que MÉTODO INDUTIVO: A indução não foi
surgem das relações entre os homens descoberta de Bacon, mas ele foi mais além,
(comunicação). Vem das palavras que forçam o propondo um método indutivo que gerava
homem a acreditar em fantasias. conhecimento, ao invés de apenas ordenar o já
conhecido. Bacon definiu o método como o modo

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


18
seguro e certo de “aplicar a razão à experiência”, Assim, a dúvida é um caminho para se buscar a
isto é, de aplicar o pensamento lógico aos dados primeira verdade indubitável.
oferecidos pelo conhecimento sensível.
Hiperbólica: A dúvida é hiperbólica porque é
Bacon acreditava que o avanço dos
exagerada, chegando a extremos de
conhecimentos e das técnicas, as mudanças
generalização.
sociais e políticas e o desenvolvimento das
ciências e da Filosofia propiciariam uma grande
Provisória: Por fim, a dúvida é provisória, pois ela
reforma do conhecimento humano, que seria
termina, no momento em que se chega a
também uma grande reforma na vida humana.
primeira verdade indubitável, que é o cogito,
ergo sun.
RENÉ DESCARTES
Descartes coloca tudo em dúvida, até que se
chegue a uma certeza da qual não se pode
Descartes é considerado um dos pais da filosofia
duvidar. Assim começa a dúvida em Descartes:
moderna, pois sua filosofia e originalidade
sintetizam o espírito do século XVII. Ele pauta
O filosofo começa por colocar em dúvida tudo
seus estudos no Racionalismo.
aquilo que nos é dado pelos sentidos: pois esses,
por vezes nos enganam;
Para obter o conhecimento o indivíduo primeiro
necessita DUVIDAR DE TUDO. Assim, é a partir da
Depois destrói também as certezas mais difíceis
dúvida começa a construção do conhecimento. O
de serem postas em dúvida, ter algo, estar em
objetivo da dúvida cartesiana é encontrar uma
determinado lugar, pois podemos estar
primeira verdade impondo-se com absoluta
sonhando. Quantas vezes não tivemos um sonho
certeza.
tão vívido que nos parecia real?

Para começar a descobrir a verdade, o indivíduo


Em seguida para destruir as certezas
precisa colocar todos os juízos em suspensão.
matemáticas, Descartes supõe a existência de um
Não atingiremos a verdade se, antes, não
Deus enganador.
pusermos todas as coisas em dúvida.

Para reforçar o argumento do Deus enganador,


Assim, nas Meditações metafísicas Descartes
imagina a existência de um gênio maligno, que se
apresenta uma série de argumentos
diverte em enganar as pessoas.
demonstrando a importância de pôr à prova
todas as certezas aparentes que vão metódica e
Após todo esse mergulho, em diversas dúvidas,
progressivamente destruindo as falsas certezas.
Descartes tem uma intuição: Ele nota com clareza
que duvida, e se duvida, ele pensa.
Assim, são falsas todas as coisas das quais nós
podemos duvidar.
Assim, não importa se o que ele pensa é um
pensamento verdadeiro, não importa que ele não
A Dúvida em Descartes, tem três características
tenha certeza; existe, porém, a consciência de
fundamentais, ela é:
que pensa. E uma coisa que pensa, existe, pelo
menos enquanto pensa.
Metódica: A dúvida é metódica pois é
metodicamente necessário pôr tudo em dúvida.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


19
A partir daí ele terá acesso a primeira verdade
indubitável: “COGITO, ERGO SUN”. Fictícias: aquelas que criamos em nossa fantasia
e imaginação. Essas ideias nunca são verdadeiras.
Aqui está o racionalismo de Descartes: ele funda
sua primeira certeza somente na razão. Inatas: inteiramente racionais e só podem existir
porque já nascemos elas, por isso, são ideias
O homem é pensamento, daí a primeira certeza, sempre verdadeiras. As ideias inatas são
do ponto fixo procurado, momento fundamental resultado exclusivo da capacidade pensar e,
da reflexão cartesiana. portanto, independentes da experiência sensível.
Elas são a assinatura do Criador nas criaturas;
Assim, tem-se a primeira verdade, ou certeza assim, a razão é a luz natural inata que nos
encontrada por Descartes, “O Penso, logo permite conhecer a verdade.
existo.”, ou cogito, ergo sun. Desse modo, o
cogito cartesiano é a primeira verdade No Discurso sobre o Método, Descartes afirma a
indubitável e fundamenta as outras verdades: igualdade, de direito, do bom senso ou razão:
Deus e a matemática. todos nós possuímos a razão, ou seja, essa
capacidade de bem julgar e de discernir o
A segunda verdade indubitável a que Descartes verdadeiro do falso.
chega é a da existência de Deus. Isso significa que
Deus existe, pois se não existisse não poderia Nem todos os homens utilizam corretamente sua
causar a ideia de perfeição que existe em cada razão segundo a filosofia de Descartes. Daí a
um de nós. Por isso, para o filósofo a ideia de necessidade de um método, quer dizer, um
Deus só pode ser inata, pois ela nasceu com os “caminho seguro para bem conduzir a razão à
indivíduos e produzida por ele desde o momento verdade nas ciências”.
em que ele foi criado.
Daí as quatro regras do método formuladas pelo
A terceira verdade indubitável é a do Raciocínio filósofo:
lógico-matemático, ou seja, a essência
geométrica do mundo material. Evidência: jamais admitir coisa alguma como
verdadeira se não a reconheço evidentemente
Dessa maneira, quando se chega a primeira como tal; isto é, evitar cuidadosamente a
verdade indubitável a dúvida termina, por isso, precipitação e prevenção e de nada incluir em
Descartes não pode ser considerado um filósofo meus juízos que não se apresentasse tão clara e
cético. tão distintamente a meu espírito, que eu não
tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
AS IDEIAS EM DESCARTES
Análise: dividir cada uma das dificuldades que eu
De acordo com Descartes nós possuímos três examinasse em tantas parcelas quantas possíveis
tipos de ideias que se diferenciam por sua origem e quantas necessárias fossem para melhor
e qualidade: resolvê-las.

Adventícias: originam de nossas sensações, Síntese: conduzir por ordem meus pensamentos,
lembranças; ideias que nos vêm da experiência. começando pelos objetos mais simples e mais
Podem ser verdadeiras ou falsas. Descartes fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco,
denomina as ideias adventícias como obscuras, como por degraus, até o conhecimento dos mais
pois dependem da experiência.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


20
compostos, e supondo mesmo uma ordem entre eliminando assim a noção de ideia inata,
os que não se precedem naturalmente uns aos considerada obscura e problemática.
outros.
Para Hume, os materiais da mente, ou conteúdo
Enumeração, Revisão, Verificação: fazer em toda da consciência constituem as chamadas
parte enumerações tão completas e revisões tão percepções.
gerais, que se tenha a certeza de nada omitir.
As percepções se dividem em:
Para Descartes, uma ideia clara e distinta é
aquela que pode ser apreendida em sua Impressões: são as percepções mais vivas, como
totalidade pelo espírito atento e que não pode aquelas que se tem quando se “ouve, vê, sente,
ser confundida com nenhuma outra. Assim, uma ama, deseja”
ideia clara e distinta é o mesmo que uma ideia
evidente. Ideias ou pensamentos: são as percepções mais
fracas que as impressões, pois são cópias destas,
Concepção dualista da realidade em Descartes: e ocorrem quando recordamos, imaginamos,
separação da realidade material e da realidade refletimos.
espiritual. Assim, para o filósofo, mente e corpo
são coisas separadas e distintas. Desse modo tem-se que:

Assim, existe, além da Res Cogitans (Coisa IMPRESSÃO: Sempre forte e Vívida
pensante) a Res Extensa: (Coisa extensa). Isso X
significa que o conhecimento certo e seguro do IDEIA: Sempre fraca e menos Vívida
mundo externo será possível apenas no que diz
respeito a essas propriedades quantitativas,
A Ideia, portanto, é uma lembrança de uma
geométricas, matemáticas, as únicas que podem
experiência, ou seja, uma impressão já vivida por
ser conhecidas pela razão.
cada um de nós.

Desse modo, para o filósofo, o Universo


O conhecimento se origina nas impressões, pois a
propriamente sensível, por sua incerteza, isto é,
validade das ideias é determinada a partir das
por não garantir a consciência a certeza das ideias
impressões que lhes deram origem. Assim, não
claras e distintas, não poderá ser objeto de
existem ideias inatas.
conhecimento.
DAVID HUME Desse modo, compreende-se a anterioridade das
impressões em relação às ideias. As ideias nada
David Hume inaugura uma filosofia empirista, na mais são do que hábitos mentais de associação
qual não existem ideias inatas. Assim, para o de impressões semelhantes ou impressões
filósofo, as ideias vão se formando na mente sucessivas.
humana ao longo da vida, por isso, os indivíduos
nascem uma “folha de papel em branco” e TIPOS DE IDEIAS
formam suas ideias a partir da experiência.
Ideia Simples: Formada por meio da sensação e
Os empiristas pretenderam dar uma explicação da reflexão. Exemplo: branco, frio, duro.
do conhecimento a partir da experiência,

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


21
Ideia Complexa: Composição de ideias simples. Portanto, segundo Hume, todo o conhecimento
As ideias formadas a partir de um repertório de se encontra na experiência, nos sentidos. E assim
impressões que se encontram disponíveis em sendo, todo conhecimento é probabilidade todo
nossa memória. Exemplo: Cubo de gelo, onde conhecimento é relativo, pois não existe
para conhece-la, são necessárias as ideias simples conhecimento absoluto e necessário a partir dos
de frio, duro, branco. fenômenos sensíveis, pois nenhuma ideia possui
esse grau de universalidade. Sendo assim, a
ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS crença e o hábito, fundamento do conhecimento.

Os processos cognitivos do entendimento Com David Hume, tem-se a crise da metafisica,


ocorrem quando a mente reúne, junta, conecta que em sua teoria se torna praticamente
mais de uma ideia, simples ou complexa. impossível. Assim, substância, essência, causa,
efeito e todos os outros conceitos da metafísica
Assim, há três tipos de associação das ideias na não correspondem a seres, mas apenas nomes
mente: semelhança, contiguidade e causa e gerais que o sujeito nomeia e indica seus próprios
efeito. Sendo esses os recursos que a mente hábitos associativos.
possui para produzir conteúdo cognoscitivo.
David Hume, o mais radical dos empiristas,
TIPOS DE ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS chegará a negar a validade universal ao princípio
de causalidade e à noção de necessidade a ele
Semelhança: Quando uma pessoa vê um retrato associada. A causalidade não seria, assim, uma
e pensa no que está retratado. propriedade real, mas simplesmente o resultado
de nossa forma habitual de perceber fenômenos,
Contiguidade: A ideia de neve faz pensar em relacionando-os como causa e efeito, a partir de
branco, a ideia de verde faz pensar em grama, sua repetição constante.
pois neve e branco, grama e verde, são ideias
próximas ou contiguas. Para Hume causa e efeito não se fundamentam
na razão; causa e efeito se explicam pelo hábito,
Causalidade: Ideia de ferimento faz pensar na na observação sensível, pela experiência de
ideia de dor, como uma relação de causa eventos, acontecimentos, sucessivos, repetidos
(ferimento) e efeito (dor). que nos leva a inferir a existência de um objeto
(efeito), pelo aparecimento de outro (causa). O
Deus: Ideia complexa que a mente criou a partir hábito de ver se repetindo o acontecimento me
de associações de ideias de inteligência, dá a crença que irá se repetir sempre.
sabedoria e bondade.
Desta forma, as causas primeiras dos
A partir dos pressupostos do empirismo de acontecimentos permanecem inatingíveis, o que
Hume, é possível entender que é impossível se acaba por implicar um ceticismo considerando
construir a priori o conceito de causalidade, visto que inclusive a Ciência da Natureza estaria
que a ideia de causa e efeito, segundo esse definitivamente limitada à mera probabilidade.
filósofo é decorrente do hábito. Por isso, o hábito
é o recurso cognoscitivo para explicar a relação Hume critica a causalidade, pois, nem toda causa
de causa e efeito. sempre trará o mesmo efeito. A causa e efeito
não é uma lei natural, mas sim produto do hábito.
A causalidade não existe como lei da natureza,

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


22
assim é o HÁBITO que faz com que acreditemos consiste em, ao invés de admitir que a faculdade
que a mesma causa trará o mesmo efeito. Desse de conhecer se regula pelos objetos, pela
modo, a crença (advinda do hábito) é a única realidade objetiva, admite-se o contrário, é a
hipótese para o estabelecimento de leis gerais faculdade de conhecer da razão regula os
sobre o mundo. objetos. Veja-se ilustração que remete a inversão
proposta por Kant, com a revolução copernicana
As relações de fato estabelecidas pela mente não na filosofia.
se baseiam em nenhum princípio racional, mas
apenas na experiência.

Hume afirmou que a conclusão indutiva, por


maior que seja o número de percepções
repetidas do mesmo fato, não possui fundamento
lógico. Será sempre um salto do raciocínio
impulsionado pela crença ou hábito seguinte: as
repetidas percepções de um fato nos levam a Assim, o Sujeito é sempre o conhecedor, ou seja,
confiar em que aquilo que se repetiu até hoje irá é cognoscente. Já o Objeto do conhecimento é
repetir amanhã. cognoscível. Desse modo, a Revolução
Copernicana no pensamento kantiano é uma
Desse modo, a ciência, que se constitui de nova concepção da relação entre sujeito e objeto
afirmações fundamentadas em relação a fatos, no uso teórico da razão.
não tem bases racionais. São a crença e o hábito
que fundamentam as leis “imutáveis” da Assim, os objetos para Kant se regulam pelo
natureza. nosso conhecimento. Isso quer dizer que,
quando, por exemplo, vemos um objeto
IMMANUEL KANT qualquer, a imagem que se forma em nossa
mente não é determinada por esse objeto, e sim
A filosofia Kantiana tem como fundamento inicial ao contrário: nós, por meio do nosso modo
resolver o embate entre o racionalismo de próprio de perceber as coisas, é que
Descartes e o empirismo de David Hume, daí Kant determinamos e formamos essa imagem.
formula o CRITICISMO.
Para Kant, o processo de construção do
Kant em sua filosofia pretende conciliar o uso da conhecimento é constituído de Sensibilidade e
razão e dos sentidos. Assim, partiu da crença de Entendimento. Assim, o sujeito possui certas
que tanto a razão quanto os sentidos são faculdades que possibilitam e determinam a
determinantes no processo de conhecimento das experiência e o conhecimento.
coisas e, por isso, não adotou nem o
racionalismo, nem o empirismo. A sensibilidade é composta por espaço e tempo.
Espaço e tempo são condições a priori de
Para estudar o conhecimento Kant propõe uma possibilidade da experiência sensível ou intuição
nova forma de pensar o sujeito do conhecimento, empírica. Em outras palavras, tempo e espaço
Sujeito Cognoscente (Razão). não são abstrações ou algo que existe fora de
nós, são formas que o sujeito põe nas coisas, ou
Kant propõe, para formular sua filosofia uma seja, ferramentas inatas e necessárias ao homem
Revolução Copernicana na filosofia. A revolução

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


23
para que possa construir toda a sua experiência (puro). Assim, para conhecer as coisas, temos de
do mundo. organizá-las a partir das formas a priori da
sensibilidade, o tempo e o espaço, como também
Assim, para conhecer as coisas, precisamos ter aplicá-las às formas a priori do entendimento, às
delas uma experiência sensível, mas essa categorias ou conceitos puros.
experiência não será dada se não for organizada
por formas da nossa sensibilidade, as quais são a Para Kant, se projetamos sobre a natureza as
priori, ou seja, anteriores a qualquer experiência nossas formas próprias de conhecer, o
e condição da própria existência. Para conhecer conhecimento do mundo se restringe, pois nunca
as coisas, temos de organiza-las a partir das poderemos conhecer como o mundo é em si, mas
formas a priori do tempo e espaço. apenas como ele aparece para nós. Assim, Kant
contribui com os conceitos de “coisa em si” e
Vale lembrar que não pode se confundir as “coisa para nós”. Daí Kant distingue as duas
ferramentas da sensibilidade a priori com a posse modalidades de realidade.
de conteúdos inatos, visto que o conhecimento é
produzido pelo intelecto em conjunto com a Fenômeno (coisa para nós): Tudo que
experiência. conhecemos do mundo, aquilo que já aparece
para nós filtrado pelas formas da sensibilidade.
O entendimento ou faculdade de pensar é Assim o fenômeno é aquilo que de modo algum
responsável por unificar as múltiplas pode encontrar-se no objeto em si mesmo, mas
representações que aparecem na sensibilidade. sempre na sua relação com o sujeito, sendo
Assim, todo juízo é uma síntese efetuada pelo inseparável da representação do primeiro.
entendimento. Dentro do entendimento temos (Exemplo: Nós, seres humanos, os animais, ou
as categorias (Quantidade, Qualidade, Relação e seja, tudo o que pode ser conhecido).
Modalidade) e conceitos.
Coisa em si (nôumeno): Pode ser pensado, mas
não pode ser conhecido. Não é dado nem a
sensibilidade, nem ao entendimento, mas é
afirmado pela razão sem base na sensibilidade e
no entendimento. Não pode ser percebida pela
razão humana porque ultrapassa a experiência
possível. (Exemplo: Deus, Infinito, pois nos falta a
experiência para que possamos afirmar ou não
sua existência).

JUÍZOS EM KANT – RELAÇÃO DE SUJEITO E


Portanto, as formas de conhecimento para Kant PREDICADO
são duas: o empírico (da experiência sensível) ou
a posteriori, fornecidos pela experiência sensível Conhecer é formular juízos, e tem que constar de
e o puro ou a priori que não depende de afirmações universais. Todo juízo traz consigo
qualquer experiência sensível. uma afirmação ou uma negação acerca de um
objeto.
O filósofo afirma que o conhecimento humano é
constituído de matéria e forma. A matéria dos Juízo Analítico (a priori): É aquele no qual o
nossos conhecimentos é dada pelos objetos sujeito contém o predicado. Esses juízos
(empírico) e a forma é fornecida por nós mesmos

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


24
fundamentam-se no princípio de identidade: são FILOSOFIA POLÍTICA
universais, válidos, em qualquer tempo e lugar
(necessários). São juízos a priori, pois MAQUIAVEL
independem da experiência. Porém esses juízos
não ampliativos, pois o predicado apenas Maquiavel é um marco na história da filosofia
explicitam o conteúdo do sujeito. política moderna, por desvincular o Estado dos
imperativos da religião (propõe assim um Estado
Juízo Sintético (a priori): É o juízo mais Laico), e também dos imperativos da metafísica.
importante por dois motivos: a) é universal e Assim, a filosofia de Maquiavel é considerada
necessário e não está limitado a experiência; e b) amoral no sentido de que não se vincula a ideia
seu predicado acrescenta novas informações aos de moral posta pela igreja, visto que o príncipe
sujeitos possibilitando uma ampliação do não está vinculado a ideia de bem ou mal. Isso
conhecimento. Esse juízo é o instrumental para a não significa que não possa haver uma moral
operação da Ciência: reúnem em si características própria da ação política.
básicas dos juízos analíticos e sintéticos. Estão
fundamentados na intuição do sujeito, e ao Maquiavel é um teórico da política, sendo sua
mesmo tempo que podem ser comprovados pela obra mais importante “O Príncipe”. É nela que ele
experiência. vai demonstrar o que um governante deve fazer
para conquistar o poder e se manter no governo.
Juízo Sintético (a posteriori): Estão ligados a Assim, o filósofo se preocupa em saber como os
experiência. Esses juízos fundamentam-se na governantes governam de fato, quais os limites
experiência, por isso não são universais e nem do uso da força e da violência para conquistar e
necessários, mas particulares e contingentes. conservar o poder, como se ter um governo
estável. Assim, para Maquiavel o que importa
IDEALISMO TRANSCENDENTAL para o príncipe é MANTER-SE NO GOVERNO.

Transcendental é todo conhecimento que se Um aspecto inovador na política de Maquiavel é


ocupa não propriamente com objetos, mas, em que ele ressalta o aspecto agonístico (luta,
geral, com a nossa maneira de conhecer objetos, conflito) da realidade. Para o filósofo o conflito é
enquanto esta deva ser possível a priori. inerente a atividade humana. Assim, trata-se do
reconhecimento de que a política se faz com base
Assim, todos nós, como sujeitos do em interesses divergentes, em contínuo
conhecimento, trazemos formas e conceitos a movimento. Daí a necessidade de ordem, única
priori (que não necessitam da experiência) para a condição capaz de trazer o bem comum.
experiência do mundo.
O Príncipe deve ter ao mesmo tempo o amor e o
Vale lembrar que o transcendental corresponde temor de seus súditos, pois para o filósofo é
ao conhecimento das formas que antecedem a importante ser amado e temido. Porém se tiver
experiência, que não se confunde com o que escolher entre um dos dois, “É melhor ser
transcendente que é conhecimento dos objetos temido do que amado”, visto que o temor faz
que estão fora do domínio da experiência. Assim, com que o príncipe tenha ações imprevisíveis. Já
a filosofia kantiana se pauta no conhecimento se for amado, seus súditos conheceram seus
transcendental e não pelo conhecimento pontos fracos e poderão retirá-lo do poder.
transcendente.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


25
Para que o Príncipe se mantenha no governo, ele uma deusa e mulher, para atrair suas graças era
deve saber se adaptar as situações, ou seja, a necessário mostrar-se “vil”, um homem de
realidade concreta. Assim, ele não precisa ser verdadeira virilidade, inquestionável coragem.
bom sempre, mas os súditos devem lhe devotar Assim, a fortuna, entendida como ocasião, o
confiança. A virtú do príncipe não deve ser a príncipe deve sempre estar atendo ao curso da
mesma do cristianismo, a qual prega a história aguardando a ocasião propícia
resignação, a humidade, o perdão aos inimigos. aproveitando o acaso ou as circunstâncias.
Porém o príncipe deve parecer ter tais virtudes,
mas de modo algum, deve de fato, empregá-las. Maquiavel procurará demonstrar a possibilidade
da virtù conquistar a fortuna. O Príncipe de
Desse modo, o que Maquiavel defende virtude é aquele que aproveita a ocasião que a
Maquiavel não é um governo ideal, ou ainda Fortuna lhe põe ao alcance, mas que sabe esperar
governantes ideais, mas sim um governo que quando a situação lhe é desfavorável, ou ainda
saiba se adequar a realidade concreta, um converte a situação desfavorável ao seu favor
governo real, sem qualquer concepção idealizada para manter o seu poder.
de política como propunham a religião e a política
clássica. Assim, a política tem o objetivo a A VERDADE EFETIVA DAS COISAS
manutenção do poder.

O governante deve lutar com todas as armas para


manter-se no poder. A qualidade exigida do
príncipe que deseja se manter no poder é
sobretudo a sabedoria de agir conforme as Cuidado: a fortuna, é chamada de sorte, mas
circunstâncias. Sendo capaz de aparentar possuir necessário que o príncipe saiba quando agir, não
as qualidades valorizadas pelos governados. se deixando levar pelo mero oportunismo. Assim,
Assim, a ação política boa consistirá naquela que a virtú não deve existir sem a fortuna para aquele
consiga atingir, não importa como, os resultados príncipe que visa manter-se no poder. Por isso, o
almejados na busca do bem comum. mais importante para o príncipe é que ele saiba
se adaptar as condições impostas pela fortuna.
VIRTÚ E FORTUNA
Desse modo, governante deve fazer o que for
Virtú: significa virtude, na expressão grega de mais conveniente para que se mantenha no
força, valor, qualidade de lutador e guerreiro viril. poder a cada momento em que seja importante
Vale lembrar que não se refere ao príncipe bom e para que ele o mantenha. O príncipe é um
justo no sentido empregado pelos cristãos. Os
homem de virtú que deve voltar seu ânimo para a
homens de virtú são aqueles que tem a direção que a fortuna o impelir, pois a conquista
capacidade de perceber o jogo de forças que lhe e a conservação do poder podem implicar ações
impõe a política e agir com energia para más. Assim, não se tem uma decisão moral, mas
conquistar e manter o poder. Assim, a virtude sim decisões que atendem a lógica do poder. Por
maquiavélica se mostrará contundente e isso que:
oportunista, que revela a prudência do
observador atento.

Fortuna: Para o pensamento antigo clássico a


fortuna é uma deusa mulher. Como se trata de

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


26
Vale lembrar que essa frase não pertence ao poder, da maneira que quiser, para a preservação
filósofo Maquiavel, mas se adequa perfeitamente de sua própria natureza, ou seja, de sua vida: e
a lógica do poder proposta pelo filósofo consequentemente, de fazer tudo aquilo que seu
conforme acima demonstrado. Desse modo, a próprio julgamento e razão lhe indiquem como
Força e a Violência só podem ser utilizadas se meios adequados a esse fim e é isso que faz com
NECESSÁRIO para que se mantenha o governo, que eles deixem esse estado, para conviverem
não podem ser utilizadas a qualquer custo e em em sociedade.
todos os casos.
A partir da tendência de secularização do
OBS: Maquiavel não é um teórico do pensamento político, os filósofos do século XVII
Absolutismo, o que ele defende é uma estão preocupados em justificar racionalmente e
centralização do poder. No seu livro legitimar o poder do Estado sem recorrer à
“Comentários sobre a primeira década de Tito intervenção divina ou a qualquer explicação
Lívio” Maquiavel se apresenta republicano. religiosa. Daí a preocupação com a origem do
Assim, a interpretação que prevalece é que “O Estado de Hobbes, Locke e Rousseau.
príncipe” representaria uma primeira etapa da
ação política para se justificar o poder para a
conquista da estabilidade. Atingido esse fim,
surgiria uma segunda etapa, em que seria
possível se instalar um governo republicano.

O uso do termo “maquiavélico” que passou a


designar um comportamento “desleal”, “sem
moral”, ou ainda “mau” por causa da franqueza
que o filósofo trata a realidade concreta. Na
verdade, o que deve ser analisado é que o
pensamento desse filósofo inagura um novo
patamar de reflexão política, o que é o grande
mérito de Maquiavel, compreender a política
como se dá realmente e não como pregava a
moral tradicional e a religião, constituindo assim
uma esfera autônoma.

FILOSOFIA CONTRATUALISTA

Os Filósofos contratualistas são aqueles que


partem da análise do homem em um estado de
natureza (anterior a sociabilidade, pré-social),
para ingresso na sociedade civil, através de um
pacto artificial, ou seja, um contrato social.

O direito de natureza, a que os autores


geralmente chamam jus naturale, é a liberdade
que cada homem possui de usar seu próprio

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


27
MONTESQUIEU
Autor francês, tendo como sua principal obra: “O
espírito das leis”. O espirito das leis é o conjunto
de relações (geográficas, climáticas, religiosas,
econômicas, morais etc.) que caracterizam um
conjunto de leis positivas e históricas, que
regulam os comportamentos e as relações
humanas nas diversas sociedades.

Retoma a problemática de Maquiavel discutindo


as condições de manutenção do poder.

Conceito de Lei: Para o autor a lei é uma relação


necessária que decorre da natureza das coisas.
Assim, rompe com a submissão das leis a
teologia: a política está no campo teórico.

A lei e, em geral, a razão humana, enquanto


governa todos os povos da terra, enquanto as leis
politicas não devem ser mais que os casos
particulares aos quais se aplica a razão humana.
As leis e os sistemas políticos são, portanto,
necessariamente diversos de povo para povo,
mas é possível, em todo caso, individuar três
formas típicas de governo:

1) o republicano, em que o poder soberano e


possuído pelo povo em sua totalidade, ou por
uma parte dele;

2) o monárquico, em que é um só homem que


governa, mas em base a leis fixas e imutáveis;

3) o despótico, em que um só governa sem lei ou


regra, decidindo cada coisa em base a sua
vontade e capricho.

Estas três formas típicas de governo são


inspiradas em três princípios éticos:

1) a virtude para a forma republicana


(democracia);

2) a honra para a monárquica;

3) o medo para a despótica.

As duas primeiras formas podem se corromper, e


isso ocorre quando a corrupção atinge em

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


28
primeiro lugar seu principio ético; a terceira A grande dificuldade é limitar o poder. Não dividir
forma, a despótica, e, ao contrario, já corrompida os poderes é um risco a liberdade dos homens.
por natureza.
A teoria de separação de poderes de
A obra maior de Montesquieu não é apenas Montesquieu é bem adequada ao século XVIII,
analise descritiva e teoria politica explicativa, mas mas trazer para os dias atuais é problemático. A
é também dominada pela grande paixão pela função do Estado é preservar a ordem pública.
liberdade. Montesquieu, com efeito, busca na
Quem produz a lei não poder ser o aplicador da
historia e na teoria as condições efetivas que
lei. A casa que legisla não pode ser aquela que
permitem a fruição da liberdade.
aplica. Aquela casa que exerce a função
Em particular, ele teoriza a divisão dos poderes, administrativa não pode ser aquela que produz a
que e um fulcro inextirpável da teoria do Estado lei.
de direito e da prática da vida democrática. Em
um Estado, com efeito, a liberdade consiste no
direito de fazer tudo aquilo que é permitido pelas FILOSOFIA DA HISTÓRIA
leis; HEGEL
As leis não limitam a liberdade; ao contrário, as
Para Hegel, o real é uma totalidade em
asseguram para cada cidadão, e a condição
movimento. A realidade passa de um estado a
politica e jurídica da liberdade põe-se, segundo
outro e só é o que é no final do processo. A
Montesquieu, na divisão dos três poderes do
verdade é movimento dialético em sua
Estado: o poder legislativo, o executivo e o
totalidade, e o todo real, resultado do seu vir-a-
judiciário. Quando dois ou ate todos os três
ser (devir), daí a influência do pensamento do
poderes se concentram em uma mesma pessoa
filósofo Heráclito de Éfeso que defendia a eterna
ou no mesmo corpo de magistrados, então a
luta dos contrários.
liberdade não existe mais. Assim, liberdade é o
direito de fazer tudo aquilo que as leis permitem.
Para o filósofo, o que chamamos realidade, a
Em sua obra defende a separação dos Poderes: totalidade de nossas experiências têm uma
coerência e um sentido. Porque a realidade é
 Legislativo racional o pensamento é capaz de encadeá-la
 Executivo entre os elos de sua dialética. A realidade é o que
nós podemos e devemos pensar, porque em si
 Judiciário mesma é pensável, porque tem em si mesma
uma estrutura e sentido. A dialética tem por
O primeiro autor a abordar a Teoria da Separação
missão descobrir e fazer patente essa profunda
dos Poderes é John Sadler. Sua justificativa era
racionalidade do real.
religiosa, baseada na Santíssima Trindade.

Para Montesquieu os três poderes são Segundo Hegel, “o real é racional, o racional é
independentes. Eles são equivalentes, ou seja, real”, visto que todas as coisas existentes, mesmo
possuem a mesma quantidade de poder. as piores, fazem parte de um plano racional, e
que portanto, tem sentido dentro do processo
A divisão dos Poderes tem como fundamento: histórico. Essa afirmação de Hegel sofre diversas
 Evitar abusos dos governantes críticas pois leva a um certo conformismo ou
passividade diante das injustiças sociais.
 Proteger as liberdades individuais

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


29
Para Hegel, o motor do movimento dialético é a O espírito para realizar o seu fim utiliza como
negação ou contradição, é “a alma dialética que meio os pequenos interesses, necessidades e
contém em si mesma todo o verdadeiro”. O paixões humanas que surgem a cada passo no
espírito (razão/ideia) não é esta potência ou força cenário da história. Mas, como pode o espírito
como o positivo que se separa do negativo, como com essa massa enorme de interesses e paixões
quando dizemos de alguma coisa não é =nada ou individuais, numa palavra: egoísmo, realizar o fim
é falsa e tendo afirmado isso, passamos universal da história? A razão/Espírito faz com
imediatamente a outra coisa que seja seu que o interesse particular da paixão sirva de
contrário ou negação. A morte é ao mesmo instrumento a realização do interesse universal.
tempo fim e começo de vida. O animal predador Assim, a história é o desdobramento do espírito
tira da morte (negação da vida) de outro a sua no tempo.
vida. Esta permanência no negativo
(negação/contradição) é então a força mágica Os grandes indivíduos e personagens históricos
que faz com o negativo = não-ser (morte), tais como Alexandre, César e Napoleão
retorne ao ser/é (vida). Bonaparte não tinham consciência de que os fins
particulares que perseguiam eram momentos do
O conceito em Hegel se refere ao processo de fim universal da Razão.
raciocínio, ao movimento completo de reflexão.
Exemplo: Napoleão era para Hegel a encarnação
A negação/contradição é o motor do movimento da Razão na histórica dos ideais da revolução
dialético da vida do Espírito (razão/ideia), e não a francesa e do mundo moderno, visto que “O
luta de classes que move a história, como propõe indivíduo perece, mas a ideia se salva”.
a teoria de Karl Marx.
Com relação a natureza desse espírito Hegel
Os três momentos da dialética:
reconhece três momentos:
Afirmação (Tese) Ex.: o botão (de uma flor)
Espirito Subjetivo: se refere ao indivíduo e a
Negação (Antítese) Ex.: a flor consciência individual.
Negação da Negação (Síntese/ Superação) Ex. o Espírito Objetivo: se refere as instituições e
fruto. costumes historicamente produzidos pelo
homem.
Hegel concebe assim um movimento em espiral,
ou seja, um movimento circular que não se fecha, Espírito Absoluto: se manifesta na arte, na
pois cada momento final, que seria a síntese, se religião e na filosofia, como espírito que
torna a tese de um movimento posterior. compreende a si mesmo.

OS ESPÍRITOS EM HEGEL O ESTADO EM HEGEL

O verdadeiro protagonista da história é o Espírito Para Hegel o Estado é o desenvolvimento


(Razão/Ideia) e o fim que o move é a conquista da concreto da ideia de Estado que conduz a
liberdade. A história é processo de História. Para Hegel a instituição que assegura a
desenvolvimento da liberdade. O que está em realização/efetivação do fim a que se dirige a
jogo nela é o progresso do homem na consciência história, a liberdade, é o Estado.
de sua liberdade.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


30
O Estado para o filósofo é o material com o qual acontecimentos, que se desenvolve segundo uma
se constrói na história o fim último do dialética interna.
espírito/ideia. É a realização (efetivação) da
liberdade, da união da vontade universal do Para Hegel, o sujeito da história não é o
espírito/ideia e da vontade subjetiva indivíduo, é o espírito absoluto, que toma
(particular/individual) dos indivíduos. consciência de si mesmo no decurso da história.
Para Marx, o modo de pensar do homem é
Em sua dialética o pensamento se movimenta nos condicionado pela situação concreta. Dessa
três momentos: forma, o que impede o indivíduo de se realizar
como ser humano não são suas representações
TESE: A meta da História universal é o progresso inadequadas sobre o mundo, mas suas condições
na consciência da liberdade. de vida opressivas. À medida que essas condições
materiais mudarem, também o modo de pensar
ANTÍTESE: Os meios para alcançar o seu fim são
mudará.
as paixões e o egoísmo dos indivíduos.

SÍNTESE: A união de ambos os momentos é a É o caráter de exploração característico do modo


efetivação(realização) da liberdade no Estado. de produção capitalista, que leva ao limite o
antagonismo entre as classes sociais: burguesia e
proletariado. Para esse filósofo existe um caráter
contraditório existente entre o desenvolvimento
de forças produtivas e a manutenção das relações
sociais de produção capitalistas.

Desse modo, o Estado é o único ente que Nas relações capitalistas de produção do período
consegue superar os embates existentes entre os contemporâneo, os indivíduos livres estabelecem
interesses públicos e os interesses privados e uma relação mediada pelo mercado: aqueles que
compatibilizá-los dentro do Estado. Assim é não são donos dos meios de produção vendem a
dentro do Estado que se tem a concretização da única coisa de que dispõe – seu trabalho - em
liberdade. troca de recursos necessários a sua
sobrevivência. Daí na sociedade capitalista Marx
KARL MARX afirma que é o capital que explora o trabalho.

Karl Marx apresenta uma nova possibilidade, uma O trabalho é explorado segundo a filosofia de
concepção dialética da realidade social. Assim, Marx através da mais-valia. A mais-valia
para Marx, não é a consciência dos homens que corresponde a diferença entre o valor final da
determina o seu ser social, mas, ao contrário, é o mercadoria e a soma do valor dos meios de
seu ser social que determina sua consciência, produção e do valor do trabalho, ou seja, parte
assim, discorda do idealismo de Hegel e propõe o do valor da força de trabalho dispendida por um
materialismo histórico e dialético que determinado trabalhador na produção que não é
compreende a história real dos homens a partir remunerada pelo patrão.
das condições materiais em que eles vivem.
A mais-valia absoluta é aquela na qual o detentor
Desse modo, Marx critica o idealismo hegeliano. dos meios de produção estende a duração da
A crítica começa pela concepção hegeliana da jornada de trabalho mantendo o salário
história como uma sequencia racional de constante. Já a mais-valia relativa é quando há a

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


31
ampliação da produtividade física do trabalho Os modos de produção é a maneira pela qual as
pela via da mecanização. forças produtivas se organizam em determinadas
relações de produção num dado momento
A relação de condicionamento da base histórico. Por exemplo, no modo de produção
econômica da sociedade sobre as ideias capitalista, as forças produtivas, representadas,
presentes em um determinado período histórico sobretudo pelas máquinas do sistema fabril,
pode ser compreendida em Marx a partir dos determinam as relações de produção
conceitos de infraestrutura e superestrutura, caracterizadas pelo dono do capital e pelo
assim, para Marx, a sociedade se estrutura em trabalhador (operário) assalariado.
níveis.
Antagonismo de classes: as forças produtivas só
O primeiro nível, chamado de infraestrutura, podem se desenvolver até certo ponto, pois, ao
constitui a base econômica (que é determinante, atingirem um estágio por demais avançado,
segundo a concepção materialista). Engloba as entram em contradição com as antigas relações
relações do homem com a natureza, no esforço de produção, que se tornam inadequadas.
de produzir a própria existência, e as relações dos Surgem então as lutas e a necessidade de uma
homens entre si. Ou seja, as relações entre os nova divisão de trabalho. A contradição aparece
proprietários e não proprietários, e entre os não como luta de classes. Por isso, a luta de classes é
proprietários e os meios e objetos de trabalho. o motor da história.

O segundo nível, político – ideológico, é chamado Revolução e práxis: Marx chama de práxis à ação
de superestrutura que é constituída pela humana de transformar a realidade. Nesse
estrutura jurídico-política representada pelo sentido, o conceito de práxis não se identifica
Estado e pelo direito e pela estrutura ideológica propriamente com prática, mas significa a união
referente às formas da consciência social, tais dialética da teoria e da prática. Isto é, ao mesmo
como a religião, as leis, a educação, a família, a tempo em que a consciência é determinada pelo
literatura, a filosofia, a ciência, a arte, os meios modo como os homens produzem sua existência,
modernos de comunicação: TV, rádio, cinema, também a ação humana é projetada, refletida,
etc. consciente.

A superestrutura de uma sociedade depende, Para Marx, o Estado não supera as contradições
pois, de sua infraestrutura. Daí a importância da da sociedade civil, mas é o reflexo delas, e está aí
questão econômica para Marx. Desse modo, a para perpetuá-las. Por isso só aparentemente visa
infraestrutura determina a superestrutura que o bem comum, estando de fato a serviço da
por sua vez, influencia a infraestrutura. classe dominante. Portanto, o Estado é um mal
que deve ser superado. O Estado para Marx,
assim como, as demais formas da superestrutura
são um instrumento de manutenção das relações
existentes na base econômica.

O Estado burguês protege as relações capitalistas


de produção de forma a assegurar o domínio do
capital sobre o trabalho, a reprodução ampliada
do capital, a acumulação privada do produto
social, a redistribuição do fundo público em

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


32
benefício do capital, a exploração da renda
fundiária etc., essa é a real função do Estado. Imoral: aquele que não corresponde às regras
Portanto, o Estado seria, ao mesmo tempo, parte morais, porém o individuo tem conhecimento das
integrante das relações capitalistas de produção e mesmas.
instrumento de defesa destas.
 Problema Ético: caso geral/universal, trata de
Ao lutar contra o poder da burguesia, o problemas vinculados a condutas e valores de
proletariado deve destruir o poder estatal, o que ordem universal.
não será feito por meios pacíficos, mas pela
 Problema Moral: caso particular/específico,
revolução. Daí que se compreende o que Marx
tipo de conduta específica.
quer dizer com “Proletários, uni-vos”.
Toda cultura e cada sociedade institui uma moral,
Marx não considera viável a passagem imediata isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao
da sociedade dominada pelo Estado burguês para permitido e ao proibido, e à conduta correta,
o comunismo, havendo a necessidade de um válidos para todos os seus membros. Culturas e
período de transição. Entre a sociedade sociedades fortemente hierarquizadas e com
capitalista e a sociedade comunista media o diferenças muito profundas de castas ou de
período da transformação revolucionária da classes podem até mesmo possuir várias morais,
primeira na segunda. cada uma delas referida aos valores de uma casta
ou de uma classe social.
A este período corresponde também um período
político de transição, cujo Estado não pode ser No entanto, a simples existência da moral não
outro senão a ditadura revolucionária do significa a presença explícita de uma ética,
proletariado. Este Estado transitório que irá entendida como filosofia moral.
construir a sociedade comunista, onde o Estado
será superado, é a Ditadura Revolucionária do
Proletariado (socialismo), ou a Democracia
Proletária.

FILOSOFIA ÉTICA
ÉTICA E MORAL

ÉTICA ARISTOTÉLICA

A filosofia ética de Aristóteles é teleológica, ou


seja, os fins a que se destina o homem é a
felicidade.

A ética aristotélica busca como fim último a


FELICIDADE (eudaimonia). Assim é necessário que
Moral: aquele que corresponde a uma regra
os cidadãos sejam educados nos bons hábitos e
moral de uma sociedade.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


33
capazes de agir por meio de um princípio racional
e não por paixões.

Para buscar a felicidade o homem deve agir com


Tendo em vista que a honra para Aristóteles é a
excelência, praticar o justo meio. Assim, a virtude
finalidade da vida política e sua busca se daria por
não é uma inclinação, mas sim uma disposição. É
meio da virtude, para o filósofo essa é a razão
um hábito adquirido para agir racionalmente.
para qual os homens convivem em sociedade. A
política é a ciência cujo objetivo é buscar o bem
O Homem deve agir de acordo com o justo meio,
comum. Daí sua frase marcante: “o homem é um
esse homem que o faz é o homem prudente, ou
animal político”, ou seja, o homem é participante
seja, aquele que sabe deliberar, pois a prudência
da pólis.
orienta a escolha. Assim, o homem prudente é
Para Aristóteles a ética é a ciência que trata do
aquele que pratica condutas éticas deliberadas
caráter e da conduta dos indivíduos, enquanto a
pelo justo meio.
política cuida dos estudos que regem a existência
do homem vivendo em uma comunidade, no
Excelência Moral (virtudes éticas): São as
caso, a pólis. Assim, a política e a ética são
virtudes morais que implicam um sentimento
inseparáveis.
afetivo que deve ser governado pela razão. São as
virtudes adquiridas a partir da prática do justo
Segundo a filosofia ética desse filósofo o homem
meio. As virtudes éticas são adquiridas a partir do
virtuoso encontra o prazer em seus próprios atos.
hábito de práticas virtuosas equilibradas pelo
Assim, a conduta humana, conduzida por leis que
justo meio. Assim, as virtudes morais são um
possibilitam promover a realização do bem
meio termo entre dois vícios.
supremo, ou seja, a felicidade de contemplar a
verdade e possuir sabedoria.
Excelência Intelectual (virtudes dianoéticas): São
as virtudes racionais resultantes da atividade
Para Aristóteles a ética é a ciência da práxis
intelectual, que demandam tempo e esforço,
humana, que tem por objeto a ação. A ética é
adquiridas a partir do estudo, por isso são
teleológica pois busca um fim, que segundo esse
virtudes superiores as virtudes dianoéticas.
filósofo se encontra na felicidade que é um bem
supremo. Esta virtude é racional, daí a
Vale lembrar que tanto as virtudes éticas, quando
necessidade da razão para se chegar a virtude.
as virtudes dianoéticas são importantes para a
formação do caráter do indivíduo. Dizer que a
A virtude ética mais importante segundo
excelência intelectual é superior a moral, não
Aristóteles é a justa medida.
quer dizer que a excelência moral seja negativa.
Pelo contrário, tanto a excelência intelectual,
O justo meio: consiste no meio, onde se visa o
quando a excelência moral são positivas.
equilíbrio entre os vícios por falta e os vícios por
excesso.
Caráter é formado com o hábito da virtude –
justo meio, (atitudes). A educação ética está
Aristóteles distinguiu vícios e virtudes pelo
destinada a nos fazer adquirir esse hábito da
critério do excesso, da falta e da moderação, ou
virtude. Desse modo, segundo esse filósofo, nos
seja, um vício é um sentimento ou uma conduta
tornamos bons, quando praticamos atos bons. O
excessiva, ou deficiente; uma virtude é um
hábito da virtude é o exercício da vontade sobre a
sentimento ou uma conduta moderada. O agir
orientação da razão para deliberar sobre os
virtuoso é, portanto, agir de modo deliberado.
meios e escolher os fins nas ações que permeiam

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


34
satisfazer os desejos sem cair em extremos, Desse modo, para o filósofo, “O dever é uma
evitando assim, os vícios. necessidade de cumprir uma ação por respeito a
lei.” É um imperativo, o qual, por causa de sua
ÉTICA KANTIANA origem incondicional, é categórico.

A ética kantiana é deontológica, ou seja, é uma Já a inclinação para Kant, diferentemente do


ética fundamentada no princípio racional da ação dever, está fundada na liberdade do mundo
e do dever. Para o filósofo o conteúdo da ação sensível, é a dependência da faculdade de
moral está na prática do dever e não por apetições das sensações. Possuir uma vontade
inclinação, isso porque o dever contem a boa determinada exclusivamente por inclinação é ser
vontade, ou seja, um tipo de querer, com valor desprovido de espontaneidade, reagir à
absoluto, independente, de qualquer outra estímulos, é uma “escolha animal”.
influência.
A escolha humana ao ser afetada mas não
Assim, na ética kantiana, no campo prático da determinada por inclinação, nos leva a debilitar a
razão, ideias como Deus, a imortalidade e liberdade da vontade. Os objetos da inclinação
liberdade, não devem ser tratadas como têm um valor condicionado, não são desejados
conhecimento, no campo da razão pura, mas sim “por si mesmos”, mas por concorrerem para
como noções reguladoras da prática humana, ou satisfazer fins fora deles: as necessidades de
seja, essas noções tem funções práticas em inclinação. Isto torna-os indignos de servirem
nossas vidas. como princípios de juízo moral, porque não
podem ser universalizados, só podem servir a
A ética (moral) na razão, independe da religião, base de imperativos hipotéticos e não
dos costumes e da comunidade. Kant sustenta categóricos.
que há uma lei moral objetiva. Ela é conhecida
por nós não pela experiência, mas pela razão. Ela Imperativo Hipotético: Estes nos apresentam
nos obriga a agir ou a nos abster de agir, uma ação meio como necessária para alcançar
simplesmente em razão de que a ação é exigida um certo fim. Por exemplo: os imperativos da
pela lei, ou proibida por ela. prudência, que nos prescrevem os meios mais
seguros para alcançar a felicidade.
A lei moral objetiva da razão exige obediência por
direito próprio. Também a moralidade não pode O Imperativo Categórico: é aquele no qual se
depender de nossos desejos. Ela tem valor em si encontra a ética “Age apenas segundo uma
mesma. Ela não deriva seu valor de sua aptidão máxima (lei) tal que possas, ao mesmo tempo,
para promover a felicidade ou qualquer outro querer que ela se torne uma máxima universal.”
objetivo que consideramos atraente. Ela apenas
Os imperativos categóricos para Kant, portanto,
nos diz o que devemos fazer. Assim, a ética
são aqueles que nos apresentam uma ação como
kantiana é fundamentada na razão.
necessária em si mesma, incondicionalmente.
Estes não estão subordinados a nenhum fim. Ora,
Dever em Kant é “uma necessidade prática,
não existe, na natureza, senão um fim em si: o
incondicional da ação, (a qual) deve ser válida
Homem. E ao tomarmos a pessoa humana como
para todos os seres racionais e que, por essa
um fim em si, é que podemos afirmar uma
razão também pode ser uma lei para todas as
segunda formulação do imperativo categórico:
vontades humanas”.
“Procede de maneira que trates a humanidade,

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


35
tanto na tua pessoa como na pessoa de todos os semelhança com as inclinações. Assim a ação tem
outros, sempre ao mesmo tempo como fim, e valor moral quando “ele faz o bem, não por
nunca como puro meio”. inclinação, mas por dever”, e desse modo, a ação
será ética.
A AÇÃO POR DEVER E EM CONFORMIDADE COM
O DEVER: Para Kant, a liberdade é condição da lei moral.
Desse modo, só pode ser considerada uma ação
Dever: “o dever é uma necessidade de cumprir moral aquela que for realizada de forma livre e
uma ação por respeito à lei”. Ora, se o dever me autônoma. Desse modo, esse filósofo recusa
faz cumprir uma ação por respeito a lei, a ação todas as éticas anteriores fundamentadas em
por dever só pode corresponder ao respeito pela normas de origens diversas, ou seja, rejeita as
lei moral objetiva da razão, qual seja, o éticas heterônomas, ou seja, aquelas vindas de
imperativo categórico. outras fontes, que não da razão. Por isso é a
razão que deve indicar quais são os deveres e
normas a serem seguidos de uma forma universal
pela razão.

ESCLARECIMENTO EM KANT

O esclarecimento, segundo a filosofia de Kant é a


saída da menoridade, da qual o próprio homem é
culpado, por ser preguiçoso e covarde. Para Kant,
o homem tem preguiça de fazer o uso de seu
Kant distingue quando uma ação tem verdadeiro
próprio entendimento, ele prefere ser guiado por
valor moral ou quando esta ação tem como fim o
outro, do que fazer o uso de sua própria razão.
interesse.

Assim, Kant propõe que o homem precisa ter


Por exemplo, comerciante que atende
coragem para fazer o uso de sua própria razão,
honestamente aos clientes, age em conformidade
ou seja, do seu próprio entendimento, para sair
com o dever, mas não por dever. Se não tem em
dessa condição de menoridade, para passar a
vista senão o seu interesse bem definido de
maioridade (esclarecimento). Portanto, o homem
manter a clientela. A pessoa que leva uma vida
esclarecido segundo Kant, é aquele que faz o uso
feliz e se esforça em conservar a vida, age
de sua própria razão sem ser guiado pelo outro.
conforme o dever, pois a conservação da vida é
um dever, assim não age por dever.
ARTHUR SCHOPENHAUER
A ação por dever é uma ação desinteressada, ou
Schopenhauer é um dos maiores críticos de
seja, quem se esforça por conservar uma vida a
Hegel, que para ele seria um charlatão, que
que já não tem amor, este sim age por dever.
construiu sua filosofia segundo interesses do
Aquele que pratica o bem, mesmo sem se sentir
Estado prussiano.
inclinado a isso, possui um valor moral maior do
que aquele que é bom por inclinação. A visão da vida para Schopenhauer é pessimista,
encarada como uma história de sofrimentos. Para
Portanto, na filosofia moral de Kant existe uma ele, o ser humano seria essencialmente vontade,
oposição entre agir por inclinação e por dever. que o levaria a desejar sempre mais, produzindo
Para ele o dever rejeita todo “parentesco” ou uma insatisfação constante. Essa vontade, que se

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


36
nas ações humanas. Se a essência do homem e diante. A reflexão, portanto, torna possível
do mundo é essa vontade insaciável, ultrapassar o fenômeno e chegar a coisa em si.
Schopenhauer identifica ai a origem das lutas
A essência do mundo é vontade insaciável, é um
entre os homens da dor e do sofrimento.
eterno tender. E a vida do homem é necessidade
A história é, para ele, a historia de lutas, onde “a e dor, oscila entre crueldade, dor e tédio.
infelicidade é a norma”, a regra geral. Portanto, a Todavia, quando o homem chega a compreender
recusa da concepção racionalista de historia, que a realidade é vontade e que ele próprio é
elaborada por Hegel, segundo a qual a historia vontade, então ele esta pronto para sua
possui um sentido e progride em direção a uma redenção. O homem pode se redimir, se salvar,
maior liberdade. "apenas com o cessar de querer". E ele pode se
libertar da dor e romper a corrente das
Para Schopenhauer o mundo, é uma
necessidades por a arte meio da arte e da ascese.
representação que cada um faz. E esta
representação, este trabalho do intelecto, não A arte, porque a experiência estética é anulação
nos leva além do mundo sensível. temporária da vontade e, portanto, da dor; na
experiência estética o homem se afasta de seus
O mundo como representação é, portanto,
desejos, anula suas necessidades, anula-se como
fenômeno. Mas, enquanto para Kant o fenômeno
vontade. Assim, a arte permite ao homem o a
é a única realidade cognoscível, para
compreensão da verdade.
Schopenhauer o fenômeno é a ilusão que cobre a
realidade das coisas, é "o véu de Maya" que O outro caminho, o da ascese, faz sentir
esconde a face da realidade. Schopenhauer próximo dos sábios indianos e de
outros ascetas do cristianismo. A ascese arranca o
A essência da realidade, o númeno de Kant -
homem da vontade de viver, da ligação com os
afirma Schopenhauer - pode ser alcançada. E o
objetos; e Ihe permite assim de aquietar-se.
caminho que leva a este conhecimento é o
próprio corpo. Com efeito, todo ato real de nossa
vontade é também movimento de nosso corpo. NIETZSCHE
Nosso corpo é, portanto, vontade tornada visível.

Por meio do próprio corpo cada um de nós sente Nietzsche é um filósofo que trata de questões
que vive e experimenta prazer e dor, e percebe o morais. Ele critica toda a moral pré-estabelecida e
anseio de viver e o impulso pela conservação; propõe que os conceitos de bem e mal forma
cada um de nos sente que a essência intima não é transformados em valores metafísicos e
mais que sua vontade, a qual constitui o objeto transcendentes à realidade da Terra,
imediato de seu próprio conhecimento. independentes de situações concretas vividas
pelos homens. Em sua principal obra Assim falou
A essência de nosso ser é, portanto, vontade. A
Zaratustra expõe os conceitos do eterno retorno
imersão na profundidade de nos mesmos nos faz
e da derrota da moral cristã pelo Super-homem.
descobrir que somos vontade. E ao mesmo
tempo rasga "o véu de Maya" e permite ver-nos
Segundo Nietzsche, existem dois elementos
por aquilo que somos; uma parte da vontade
fundamentais e antagônicos: o espírito apolíneo e
única, do "cego e irresistível impulso" que
o espírito dionisíaco, sendo que o primeiro
permeia todo o universo: vontade é a força que
representa a ordem, a harmonia e a razão, e o
faz crescer a planta, que dá forma ao cristal, que
segundo o sentimento, a ação e a emoção.
dirige a agulha imantada para o norte e assim por

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


37
Na cultura ocidental, o espírito apolíneo é mais foram subjugadas pela filosofia socrático-
forte do que o dionisíaco, e o papel da filosofia platônica e pelas religiões. Assim, a religião, e a
seria de libertar o homem dessa tradição para se filosofia socrático-platônica, e a filosofia
encontrar com o niilismo. O niilismo de Nietzsche tradicional corromperam o homem.
conduz o homem ao encontro de valores que
sejam afirmativos de sua existência real, da sua Sócrates e Platão tiraram do homem o espírito
vontade de poder, para que possa escapar dos dionisíaco (contradição) e colocaram o homem
valores e das crenças tradicionais como aqueles para pensar apenas de acordo com o espírito
impostos pelo cristianismo. Assim, ser niilista apolíneo (razão). O Cristianismo também se
corresponde a não crer em nenhuma vontade aproveitou dessa valorização exacerbada da
moral ou hierarquia de valores pré-estabelecidos. razão e fez com que os homens deixassem de
valorizar suas Forças Vitais e os seus Instintos.
O niilismo de Nietzsche baseava-se na afirmação
da “morte de Deus”, isto é, na rejeição a crença O espírito dionisíaco: A mitologia e a tragédia:
de um ser absoluto capaz de traçar o caminho, a confronto entre os homens e os deuses e entre
verdade e a vida para o ser humano. Assim, visa a os homens e seu destino, os heróis que buscam
liberdade da razão sem conformismo, resignação superar seus limites (como Prometeu).
ou submissão.
Os rituais dionisíacos: deus da dança, da
Para Nietzsche a moral deve estar além do bem e embriaguez, que habita a natureza, simbolizando
do mal, não está vinculada a religião (Filosofia a força vital, a alegria, o excesso. O desejo: a
Amoral). Assim esse filósofo critica os valores “afirmação da vida”.
morais existentes, e propõe a transvaloração dos
valores. O espírito apolíneo: A filosofia, representada por
Sócrates, o “homem de uma visão só”, instaura o
Transvaloração dos valores: “Inversão de todos predomínio da razão, da racionalidade
os valores, eis minha fórmula para um ato de argumentativa, da lógica, da demonstração. O
supremo reconhecimento de si mesma por parte surgimento da filosofia representa o predomínio
da humanidade, ato que em mim tornou-se carne do espírito apolíneo, derivado de Apolo, o severo
e gênio. Meu destino exige que eu seja o primeiro deus da racionalidade, da medida, da ordem, do
homem honesto, que me sinta em oposição às equilíbrio.
mentiras de vários milênios”.

A transvaloração dos valores feita por Nietzsche


tem o objetivo de revalorizar o equilíbrio entre as
forças instintivas e vitais do homem que foram
subjugadas pela filosofia socrático-platônica e
pelas religiões.

Nietzsche busca promover a grande


transformação no modo de vida, questionando
de modo radical os fundamentos dos valores
Tradição filosófica: triunfo do espírito apolíneo
morais que norteiam nossas atitudes na vida. Sua
em detrimento do dionisíaco. A filosofia
filosofia busca recuperar, revalorizar o equilíbrio
socrático-platônica representou a tentativa de
entre as forças instintivas e vitais do homem que
compreender e dominar a vida com a razão.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


38
Vontade de potência: "Super-homem":
O Cristianismo: Reforço na direção do apolíneo, Considerando que os valores não têm origem
enaltecendo o espírito do sacrifício e da divina ou transcendente, Nietzsche afirma que
submissão, com o pecado e a culpa. Nietzsche somos livres para negá-los e escolher nossos
voltou-se contra a tradição filosófica e defendeu próprios valores. Ao "tu deves" devemos
uma “filosofia afirmativa da vida”. responder com o "eu quero". É a vontade de
poder que permite ao indivíduo que se auto elege
A MORAL: desenvolver seu potencial máximo de modo a
tornar-se um super-homem ou um ser além-do-
Moral dos Senhores: (Positiva) Moral dos fortes, homem - isto é, que se coloca acima da massa.
dos que dizem sim a vida, valorização da força, da
saúde, da criatividade, do amor à vida, da Nietzsche identifica o "super-homem" em
embriaguez dionisíaca, do novo orgulho. (Homem personagens como Napoleão, Lutero, Goethe e
Ético). até mesmo Sócrates (não por suas ideias, mas
pela coragem de levá-las às últimas
Moral dos Escravos (moral de rebanho, moral consequências). Enfim, no líder que tem vontade
dos ressentidos): (Negativa) Moral daqueles que de poder, que ousa tornar-se o que realmente é.
não conseguem viver sua vida como senhor de É assim que se afirma a vida e se pode atingir a
suas ações, caracterizada pelo ódio dos auto realização.
impotentes, pelo ressentimento contra aquelas
características e pela crença em um mundo Nietzsche considera que o cristianismo tem um
superior, que torna a Terra algo inferior e efeito degenerativo, porque doma o espírito e
imperfeito, da qual se aspira distância. enfraquece a vontade de poder com a sua
condenação do orgulho, da paixão, da cólera, dos
Propagando uma moral que protegia os fracos instintos de guerra e de conquista. Assim, para o
dos fortes, os mansos dos ousados, que filósofo, a moral do super-homem define tudo
valorizava a justiça em vez da força, eles que intensifica no homem a vontade de potencia
inverteram os processos pelos quais o homem se e que o mau é tudo o que provem do sentimento
elevou acima dos animais e exaltaram como de fraqueza.
virtudes características típicas de escravos:
abnegação, auto sacrifício, colocar a vida a O nazi-fascismo apropriou-se das ideias de
serviço dos outros. Nietzsche e as usou em sua propaganda. No
encontro histórico de Mussolini e Hitler, em
Segundo Nietzsche a nossa cultura é fraca e 1938, o líder alemão presenteou o italiano com
decadente. A verdade e a moral são os uma coleção das obras de Nietzsche. Vale
instrumentos que os fracos inventaram para lembrar, porém, que o filósofo já em sua época
submeter e controlar os fortes, os guerreiros. A ridicularizava o nacionalismo alemão.
tradição ocidental é resultado desse processo.
Nietzsche objetivava restaurar os valores Desse modo o homem ético é aquele que tem
primitivos e criticar os conceitos éticos VONTADE DE PODER, VONTADE DE POTÊNCIA.
tradicionais. Em “A genealogia da moral” revelou Por isso o homem deve se superar a cada
o que chamava de “moral de rebanho”: os que se momento, e não deve buscar o escapismo na
submetem e obedecem, anulando sua vontade e religião ou na razão, assim, acredita na disciplina
reprimindo seus desejos. e na força de vontade e vê a compaixão como
uma fraqueza a ser combatida (o sofrimento é

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


39
necessário). Daí a ideia de Nietzsche de que “O
que não me mata, me fortalece”. JEAN-PAUL SARTRE
O eterno retorno: pode ser considerada a
A Ética de Sartre pauta-se na responsabilidade de
fórmula que sintetiza todo o pensamento de
cada indivíduo. Sartre é um Existencialista (trata
Nietzsche. O filósofo coloca-se em oposição
do indivíduo apenas depois que ele existe) Ateu
frontal ao platonismo e ao cristianismo,
(não há um Deus criador). Assim, ser para esse
considerando-os uma espécie de platonismo
filósofo não há um Deus criador, os indivíduos
popular. Dessa forma, rejeita qualquer distinção
vieram do nada e para o nada retornaram. Desse
entre este mundo e outro, seja o mundo
modo, o indivíduo nasce uma “tabula rasa”, sem
inteligível de Platão ou paraíso cristão.
nenhum conhecimento, portanto:

Para Nietzsche, sé este mundo é real, com suas


Para Sartre “A existência precede a essência”,
cores e movimentos, em constante mudança.
isso quer dizer que para o filósofo: “(...) há pelo
Não admite a existência de uma outra realidade
menos um ser no qual a existência precede a
que seja inteligível, única e imutável; assim como
essência, um ser que existe antes de poder ser
também nega a existência de uma verdade
definido por qualquer conceito, e que este ser é o
necessária e universal. Para o filósofo, há apenas
homem. O que significará aqui o dizer-se que a
perspectivas diversas sobre um real que está em
existência precede a essência? Significa que o
permanente transformação e que se repete num
homem primeiramente existe, se descobre, surge
eterno retorno.
no mundo; e que só depois se define. O Indivíduo
primeiro nasce e depois ele adquire o
Segundo Nietzsche, devemos aceitar a vida como
conhecimento.
ela é e o eterno retorno consistiria num
verdadeiro teste pelo qual o homem deveria
O homem, tal como o concebe o existencialista,
passar: a vida, revivida inúmeras vezes, não
se não é definível, é porque primeiramente não é
trazendo nada de novo, tudo ocorrendo na
nada. A característica tipicamente humana é o
mesma ordem e na mesma sucessão, pode levá-
nada, um “espaço aberto”. Assim, segundo Sartre
lo à destruição ou à exaltação, dependendo de
não há natureza humana, visto que não há Deus
sua capacidade para superar e admitir essa
para a conceber. O homem é, não apenas como
contínua repetição.
ele se concebe, mas como ele quer que seja,
como ele se concebe depois da existência, como
Segundo Nietzsche, só resta ao homem, diante do
ele se deseja após este impulso para a existência;
espetáculo irracional do mundo, adotar três
o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o
posturas: ser fraco, forte ou inocente. Para
primeiro princípio do existencialismo. É também
explicar essas atitudes, recorre a uma metáfora
a isso que se chama a subjetividade.
envolvendo as figuras do camelo, do leão e do
menino. Assim, o homem passa da situação de
SER “EM SI” E SER “PARA SI”
camelo, que aceita, ou melhor, carrega todos os
valores, para a do leão, que se revolta contra
Qual a diferença entre o homem e as coisas, a
esses mesmos valores. Entretanto, o leão não
natureza? É que só o homem é livre. O homem
corresponde ao último estágio; segundo
nada mais é do que o seu projeto. A palavra
Nietzsche, ele deve dar lugar à criança, que é
projeto significa, etimologicamente, “ser lançado
capaz de esquecer, de recomeçar, de aceitar o
adiante”, assim como o sufixo ex da palavra
jogo natural da criação e da vida.
existir significa “fora”. Ora, só o homem existe,

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


40
porque o existir do homem é um para – si, ou
seja, sendo consciente, o homem é um “ser-para- Existem indivíduos que preferem fingir que
si”. É o único ser que tem consciência de ser um escolhem sem na verdade escolher. Mas mesmo
ser para si mesmo. As coisas, objetos e a natureza assim eles acabam escolhendo, eles escolhem
é um Em-si, um “bloco fechado em si mesmo”, não escolher. Esses indivíduos são chamados por
porque não tem consciência de ser. O homem é o Sartre de pessoas que agem de Má-Fé. Assim a
que ele próprio se faz. A Condição humana Má-Fé é característica daqueles indivíduos que
fundamental no homem é, antes de mais nada, tentam fugir da responsabilidade da escolha.
um projeto que se vive subjetivamente. O
homem é um ser PARA-SI mesmo, pois possui O homem ao experimentar a liberdade, e ao
Liberdade, Consciência e Escolha. sentir-se como um vazio, vive a angústia da
escolha. Muitas pessoas não suportam essa
Desse modo, por não existir nenhum ser criador angústia, fogem dela, aninhando-se na má – fé. A
dos homens, eles nascem LIVRES. Eles são má – fé é a atitude característica do homem que
CONDENADOS A LIBERDADE. Assim, a Liberdade finge escolher, sem na verdade escolher (acaba
é INCONDICIONADA. Se não há natureza humana, escolhendo não escolher). Imagina que seu
se o homem nasce uma tábula rasa, ou seja, uma destino está traçado, que os valores são dados;
folha de papel em branco, sem nenhum aceitando as verdades exteriores, “mente” para si
conhecimento e só o constrói com sua vida, e se mesmo, simulando ser o próprio autor dos seus
os homens são condenados a liberdade, o atos. É um conformismo. Aceita os valores
Indivíduo deve ser responsável por suas escolhas, estabelecidos. Para fugir à angústia da escolha,
é a liberdade que trás a responsabilidade. Por tentando mentir para si mesmo e renunciar a
isso, o homem será ético segundo a filosofia condição fundamental de liberdade, ele busca
sartreana quando responde por suas ações. Isso é tornar-se um EM-SI. Semelhante às coisas, os
o que vemos representado no esquema abaixo. objetos. Para assim não ter que escolher mais,
escapar ao fato de estarmos condenados à
liberdade.

Inicialmente, o homem passa pela constatação de


que é essencialmente um ser livre, que deve
tomar como ponto de partida a construção de um
projeto de vida individual. Contudo, o seu projeto
pode entrar em conflito com o projeto dos
outros. Como ser livre, pode praticar o mal. Essa
ideia levou Sartre a afirmar que “o inferno são os
outros”. Para Sartre “O inferno são os outros”
Segundo Sartre nós “Somos eternos aprendizes porque cada indivíduo projeta no outro a própria
de nossas escolhas”. Pois todo momento estamos infelicidade. As relações afetivas, familiares,
fazendo escolhas. O homem está condenado a sexuais, profissionais acabam se transformando
ser livre. Precisa assumir suas próprias escolhas em um inferno, porque cada um culpa o outro
para ser responsável por sua história. Sartre por aquilo que não conseguiu desenvolver ou
afirma a importância de caminha com os próprios ser.
pés. Desse modo o indivíduo deve ter consciência
de seus atos, pois é o único responsável pelo Desse modo, para Sartre, o homem se angustia
fracasso ou sucesso de suas ações. com o peso da responsabilidade de uma escolha

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


41
que faz. Aqueles que fogem da angustia são os âmbitos da vida social. Para ele, o poder se
homens sérios que agem de má-fé. Assim, a fragmentou em micropoderes e se tornou muito
Angustia é o homem que tem consciência do mais eficaz.
peso da sua responsabilidade de escolher, do
Assim, em vez de se deter apenas no macropoder
peso de sua liberdade. O homem angustiado é o
concentrado no Estado, Foucault analisou esses
homem ético.
micropoderes que se espalham pelas mais
A Vida para Sartre é gratuidade, contingência; diversas instituições da vida social. Isto é, os
poderíamos existir ou não existir. Tudo o que poderes exercidos por uma rede imensa de
existe também poderia não existir. Não há pessoas que interiorizam e cumprem as normas
destino, ou um Deus com uma finalidade pré- estabelecidas pela disciplina social. Exemplo: os
estabelecida. Desse modo, a Morte é um pais, os porteiros, os enfermeiros, os professores,
Absurdo, fim de todos os projetos, “a nadificação as secretárias, os guardas, os fiscais etc.
de todos os projetos”, por isso a “A vida é uma Adotando essa perspectiva de análise, conhecida
paixão inútil”. como microfísica do poder, Foucault afirma que
“o poder está em toda parte, não porque englobe
“O importante não é o que fazem de mim, mas o
tudo” e sim “porque provém de todos os
que eu farei com aquilo que fizeram de mim.”
lugares”.

Na vida cotidiana, segundo o filósofo, esbarramos


MICHAEL FOUCAULT mais com os guardiões dos micropoderes – os
Historiador e filósofo francês. A sua obra pequenos donos dos poderes periféricos – do que
bastante diversificada — entre a história, a com os detentores dos macropoderes. Em seu
filosofia, a psicanálise e a linguística — foi livro Microfísica do poder, Foucault explica: “por
extraordinariamente influente, levantando novas dominação eu não entendo o fato de uma
questões quanto ao carácter histórico das dominação global de um sobre os outros, ou de
categorias da experiência social. um grupo sobre o outro, mas as múltiplas formas
de dominação que se podem exercer na
Foucault interessava-se especialmente pela sociedade”.
utilização da razão e da ciência como
instrumentos de poder, em domínios como a O objetivo de Foucault, como filósofo, foi o de
criminologia e a medicina. colocar à mostra estruturas veladas de poder,
tendo por inspiração Nietzsche. Tanto quanto
Desse modo, o autor trabalha em sua obra esse filósofo, Foucault afirmou a relação entre
aspectos da dominação social presentes nas saber e poder. Em suas palavras: “vivemos em
diversas instituições, tais como escolas, presídios, uma sociedade que em grande parte marcha ‘ao
hospícios e hospitais. Desenvolve, nessa análise, a compasso da verdade’ – ou seja, que produz e faz
ideia dos micropoderes, espalhados por toda a circular discursos que funcionam como verdade,
estrutura social. que passam por tal e que detêm, por esse
motivo, poderes específicos”.
Segundo Foucault, as sociedades modernas
apresentam uma nova organização do poder que Genealogia do poder
se desenvolveu a partir do século XVIII. Nessa
nova organização, o poder não se concentra Foucault também desenvolveu seu método de
apenas no setor político e nas suas formas de pesquisa à maneira de uma genealogia, como o
repressão, pois está disseminado pelos vários fez Nietzsche. Semelhante ao filósofo alemão,
adota como ponto de partida a noção de que os

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


42
valores – o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o Assim, como o poder se encontra em múltiplos
certo e o errado, o sadio e o doente etc. – são espaços, a resistência a esse estado de coisas não
consagrados historicamente em função de caberia, segundo o filósofo, a um partido ou uma
interesses relativos ao poder dentro da classe revolucionária, pois estes se dirigiriam a
sociedade. Em outras palavras, a definição do que um único foco de poder. Seria necessária,
é bom, do que é verdade, do que é sadio portanto, a ação de múltiplos pontos de
depende das instituições nas quais o poder se resistência.
encontra.
JOHN RAWLS
E, no entendimento de Foucault, esse poder não
seria essencialmente um poder de repressão ou Filósofo moral e político americano. Rawls nasceu
de censura, mas sim um poder criador, no sentido em Baltimore e estudou em Harvard e Oxford.
de que produz a realidade e seus conceitos. Após ensinar em Princeton e Cornell, entrou para
Harvard em 1959.
Em seu livro Vigiar e punir, uma genealogia do
poder, ele explica esse seu entendimento do que A Theory of Justice (1971, trad. Uma Teoria da
é poder: “é preciso cessar de sempre descrever Justiça, 1993), a sua obra principal, revitalizou o
os efeitos do poder em termos negativos: ele estudo do pensamento político na filosofia anglo-
“exclui”, “reprime”, “recalca”, “censura”, americana e tem sido um ponto de referência
“discrimina”, “mascara”, “esconde”. Na verdade, para todas as discussões posteriores.
o poder produz: produz o real; produz os
Nessa obra, Rawls analisa as instituições básicas
domínios de objetos e os rituais de verdade”.
de uma sociedade que poderiam ter sido
Nesse mesmo livro, Foucault acompanha a escolhidas por pessoas racionais sob condições
evolução dos mecanismos de controle social e que assegurassem a imparcialidade.
punição, que se tornaram cada vez menos visíveis
Estas condições são dramatizadas numa posição
e racionalizados. Ele caracteriza a sociedade
original, caracterizada de tal modo que é como se
contemporânea como uma sociedade disciplinar,
os participantes efetuassem um contrato acerca
na qual prevalece a produção de práticas
de uma estrutura social básica, por detrás de um
disciplinares de vigilância e controles constantes,
véu de ignorância que os torna incapazes de fazer
que se estendem a todos os âmbitos da vida dos
uso de considerações egoístas ou de
indivíduos. Uma das formas mais eficientes dessa
considerações favoráveis a determinados tipos de
vigilância se dá, no seu entender, através dos
pessoas.
discursos e praticas cientificas, aparentemente
neutras e racionais, que procuram normatizar o Rawls argumenta que tanto uma arquitetura
comportamento dos indivíduos. básica das liberdades como uma preocupação
pelos menos favorecidos caracterizariam
Um exemplo disso seria o tratamento científico
qualquer sociedade que se pudesse escolher
dado à sexualidade, no qual o comportamento
racionalmente.
sexual é normatizado por meio do
convencimento racional dos indivíduos sobre os Quando as leis e as instituições são justas? Em
cuidados necessários á vida sexual. Desse modo, busca de uma teoria da justiça, Rawls parte
assumindo a face do saber, o poder, segundo daquela que ele chama de posição originária. Esta
Foucault, atinge os indivíduos em seu corpo, em e a posição em que se encontram os indivíduos
seu comportamento e em seus sentimentos. que devem estipular o contrato, e caracteriza-se
por um véu de ignorância, que torna todos iguais.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


43
O véu de ignorância não é vantajoso para O Filósofo é, atualmente, o representante mais
ninguém; ninguém poderá propor princípios ou importante da escola de Frankfurt, e é conhecido
pensar em uma sociedade em que poderão ser pelo seu estudo persistente dos problemas da
favorecidos eles próprios ou seus amigos e natureza da comunicação e da autoconsciência e
desfavorecidos os outros; ninguém sabe nada do seu papel causal na ação social. Para ele é
nem de si próprio nem dos outros. necessário um novo conceito de razão, a razão
comunicativa, como forma de retomar o projeto
A posição originaria, portanto, obriga a todos a
emancipatório da humanidade em novas bases.
escolher princípios de justiça universais,
princípios que se referirão a todos e que nao “São as pessoas quando falam entre si, e não
favorecerão este ou aquele; ou seja, princípios quando ouvem, lêem ou assistem os meios de
cujo proposito principal é o de proteger-se contra comunicação de massas, as que realmente fazem
a possibilidade de amanha encontrar-se entre os que a opinião mude”. (Jurgen Habermas)
desfavorecidos.
Dentre os teóricos da escola de Frankfurt, o que
Estes princípios são dois. maior influência exerce atualmente é Jurgen
Hebermas. Ele discorda de Adorno e Horkheimer
O primeiro princípio de justiça afirma: "Toda
no que se refere aos conceitos centrais da análise
pessoa tem igual direito a maisextensa liberdade
realizada por esses dois filósofos: razão, verdade
fundamental, compativelmente com uma
e democracia.
liberdade semelhante para os outros".
Adorno e Horkheimer chegam a um impasse
0 segundo principio sustenta que "as
quanto à possibilidade de uma razão
desigualdades econômicas e sociais, como as da
emancipatória, já que a razão estaria asfixiada
riqueza e do poder, são justas apenas se
pelo desenvolvimento do capitalismo.
produzem benefícios compensatórios para cada
um, e em particular para os membros menos De acordo como Habermas, essa é uma posição
favorecidos da sociedade". perigosa em filosofia, pois poderia conduzir a
uma crítica radical da modernidade e, em
0 primeiro principio está na base das liberdades
consequência, da razão, que levaria ao
individuais. 0 segundo nos diz que as
irracionalismo.
desigualdades econômicas e sociais são justas,
não - como pretenderia o utilitarista - se forem Em seu artigo “Modernidade versus pós-
vantajosas para os poucos ou os muitos ou a modernidade”, ele enfatiza esse ponto,
maioria, mas apenas com a condição que sejam afirmando, contra a tendência ao irracionalismo
vantajosas para todos, de modo especial para os presente na chamada filosofia pós-moderna que
mais desfavorecidos. “o projeto da modernidade ainda não foi
cumprido”. Ou seja, que o potencial para a
racionalização do mundo ainda não está
JÜRGEN HABERMAS esgotado. Por isso Habermas costuma ser
Habermas nasceu em Düsseldorf, estudou em descrito como “o último racionalista”.
Bona e em Marburgo, após o que exerceu a sua O filósofo também discorda dos resultados
atividade no Instituto de Investigação Social pessimistas da análise de Adorno e Horkheimer,
tornando-se, por fim, professor de filosofia em segundo a qual a razão não mais se realizaria no
Frankfurt. mundo, porque o capitalismo, em sua
complexidade, teria conseguido narcotizar a

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


44
consciência do proletariado e, dessa forma, comunicativa pode ser entendida como uma
perpetuar-se como sistema. maneira de tentar “salvar” a razão, que teria
chagado a um beco sem saída. Assim, se o mundo
Para Habermas, existem alguns pontos falhos
contemporâneo é regido pela razão instrumental,
nessa análise cuja identificação permitiria propor
conforme denunciaram os filósofos que o
uma retomada do projeto emancipatório, porém
antecederam na Escola de Frankfurt, para
em novas bases. Na realidade, o filósofo rompe
Habermas caberia à razão comunicativa, enfim, o
com a teoria marxista em seus pontos
papel de resistir e reorientar essa razão
fundamentais, tais como a centralidade do
instrumental.
trabalho e a identificação do proletariado como
agente da transformação social.
ULRICH BECK
Ação comunicativa e verdade intersubjetiva
Em um texto escrito em 1986 sobre o livro (e a
Habermas propõe então, como nova perspectiva,
ideia de) "Sociedade de risco", que estava sendo
outro conceito de razão: a razão dialógica, que
lançado na Alemanha, o sociólogo germânico
brota do diálogo e da argumentação entre os
Ulrich Beck evocava o acidente nuclear de
agentes interessados numa determinada
Chernobyl, então recentemente ocorrido (em 26
situação. É a razão que surge da chamada ação
de abril daquele ano) na usina na ainda União
comunicativa, do uso da linguagem como meio
Soviética, hoje Ucrânia. Se estivesse escrevendo
de conseguir o consenso. Para tanto, é necessária
em 1999, talvez falasse do bug do milênio. Hoje,
uma ação social que fortaleça as estruturas
usaria, digamos, o aquecimento global (como
capazes de promover as condições de liberdade e
faria, aliás, em World at Risk, lançado em 2007).
de não-constrangimento imprescindíveis ao
Em todos os casos, trata-se de um emblema: o
diálogo.
risco se tornou, quase 25 anos atrás ele
O conceito de verdade também se modifica em constatava, uma ameaça ubíqua. Viver em risco é
função dessa nova perspectiva. Habermas propõe o que fazemos. Todos.
o entendimento da verdade não mais como uma
O risco, então, é ubíquo. Não apenas em nossas
adequação do pensamento à realidade, mas
mentes, mas em todas as dimensões da vida e
como fruto da ação comunicativa; não como
assume proporções globais: a sociedade de risco
verdade subjetiva, mas como verdade
é uma sociedade que nos equaliza a todos
intersubjetiva (entre sujeitos diversos), que surge
(embora não necessariamente nos iguale) porque
do diálogo entre os indivíduos. Nesse diálogo se
todos corremos os mesmos riscos, estamos todos
aplicam algumas regras, como a não-contradição,
ameaçados.
a clareza de argumentação e a falta de
constrangimentos de ordem social. Para Beck, a sociedade industrial, caracterizada
pela produção e distribuição de bens, foi
Razão e verdade deixam de ser, assim, conteúdos
deslocada pela sociedade de risco, na qual a
ou valores absolutos e passam a ser definidos
distribuição dos riscos não corresponde às
consensualmente. E sua validade será tanto
diferenças sociais, econômicas e geográficas da
maior quanto melhores forem as condições nas
típica primeira modernidade.
quais se dê o diálogo, o que se consegue com o
aperfeiçoamento da democracia. O desenvolvimento da ciência e da técnica não
poderiam mais dar conta da predição e controle
O pensamento de Habermas incorpora e
dos riscos que contribuiu decisivamente para
desenvolve reflexões propostas pela filosofia da
criar e que geram consequências de alta
linguagem. A ênfase dada por ele à razão

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


45
gravidade para a saúde humana e para o meio Durante toda a era moderna, nossos ancestrais
ambiente, desconhecidas a longo prazo e que, agiram e viveram voltados para a direção do
quando descobertas, tendem a ser irreversíveis. futuro. Eles avaliaram a virtude de suas
realizações pela crescente (genuína ou
Entre esses riscos, Beck inclui os riscos ecológicos,
suposta) proximidade de uma linha final, o
químicos, nucleares e genéticos, produzidos
modelo da sociedade que queriam estabelecer. A
industrialmente,externalizados economicamente,
visão do futuro guiava o presente. Nossos
individualizados juridicamente, legitimados
contemporâneos vivem sem esse futuro. Fomos
cientificamente e minimizados politicamente.
repelidos pelos atalhos do dia de hoje. Estamos
Mais recentemente, incorporou também os riscos
mais descuidados, ignorantes e negligentes
econômicos, como as quedas nos mercados
quanto ao que virá.
financeiros internacionais.
Suas idéias refletem sobre as conexões sociais
Este conjunto de riscos geraria “uma nova forma
potenciais na sociedade contemporânea, nesta
de capitalismo, uma nova forma de economia,
era comumente conhecida como pós-
uma nova forma de ordem global, uma nova
modernidade. Os estudos sociológicos lhe
forma de sociedade e uma nova forma de vida
permitem refletir sobre a angústia que reina nos
pessoal”.
sentimentos humanos, emoção despertada pela
O conceito de sociedade de risco se cruza pressa de encontrar o parceiro perfeito, sempre
diretamente com o de globalização: os riscos são mantido como meta ideal, nunca como realidade
democráticos, afetando nações e classes sociais concreta.
sem respeitar fronteiras de nenhum tipo. Os
Assim, os casais procuram manter
processos que passam a delinear-se a partir
relacionamentos abertos, que lhes possibilitem
dessas transformações são ambíguos, coexistindo
uma porta de saída para novos encontros. A
maior pobreza em massa, crescimento de
insatisfação está, portanto, constantemente
nacionalismo, fundamentalismos religiosos, crises
presente na esfera da afetividade humana.
econômicas, possíveis guerras e catástrofes
ecológicas e tecnológicas, e espaços no planeta As pessoas desejam interagir, buscam a vivência
onde há maior riqueza, tecnificação rápida e alta do afeto, mas não querem se comprometer. É o
segurança no emprego. que Bauman chama de amor líquido, vivenciado
em um universo marcado pelos laços fluidos, que
não permanecem, não se estreitam,
ZYGMUNT BAUMAN desobedecem à lei da gravidade, ou seja, à
Em 1963, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman ausência de peso. O que provoca a famosa
foi censurado e afastado da Universidade de ‘insustentável leveza do ser’.
Varsóvia por causa de suas ideias, consideradas Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o
subversivas no comunismo. Hoje é considerado amor a partir do padrão dos bens de consumo:
um dos pensadores mais eminentes do declínio mantenha-os enquanto eles te trouxerem
da civilização. satisfação e os substitua por outros que
Segundo Bauman ainda que a proclamação do prometem ainda mais satisfação. O amor com um
“fim da história” de Francis Fukuyama não faça espectro de eliminação imediata e, assim,
sentido (a história terminará com a espécie também de ansiedade permanente, pairando
humana, e não num momento anterior), pode-se acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta
falar legitimamente do “fim do futuro”. Para o substituir a qualidade por quantidade — mas isso
autor vivemos o fim do futuro. nunca pode ser feito, como seus praticantes mais

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


46
cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom eliminados: eles também estão nas favelas e nas
lembrar que o amor não é um “objeto ruas, são os desempregados crônicos, aqueles
encontrado”, mas um produto de um longo e que foram expulsos da esfera do trabalho por
muitas vezes difícil esforço e de boa vontade. estarem “desatualizados”, ou que não têm mais
para onde ir, pois não podem mais seguir o fluxo
Bauman crê que os relacionamentos a dois não
de imigração para países que exploração de mão
podem se desenrolar à parte da cena social, das
de obra estrangeira. São os mendigos, os loucos,
regras do jogo estabelecidas pela sociedade
os pobres, os drogados, aqueles que fogem do
global. Nada pode, segundo ele, fugir deste
padrão da sexualidade, são todos os que estão
complexo panorama, do moderno fenômeno
fora da construção da ordem, são os que realizam
conhecido como globalização.
o contrário, que desfazem a ordem, que dão
O autor é famoso por suas agudas pesquisas indícios de que ela pode ser quebrada ou de que
sobre os vínculos entre os tempos modernos, o ela não é absoluta.
Holocausto e o frenético consumo da era pós-
Mas há uma nova forma de exclusão, a forma que
moderna. Para ele, a fluidez dos vínculos, que
advém particularmente da globalização: a
marca a sociedade contemporânea, encontra-se
exclusão do não-consumidor. Aquele que não
inevitavelmente inserida nas próprias
consome já não é parte do esforço de construção
características da modernidade.
da ordem, já que a ordem tem lugar cativo para
Segundo Bauman vivemos tempos líquidos. Nada os grandes consumidores, para os gastadores
é para durar, uma “modernidade líquida”, seu compulsivos e para aqueles que querer “exercer
conceito fundamental. É assim que ele se refere sua liberdade” por meio do consumo de serviços
ao momento da História em que vivemos. Os e produtos que demonstrem suas escolhas em
tempos são “líquidos” porque tudo muda tão todas as esferas da vida. Os que não consomem
rapidamente. Nada é feito para durar, para ser não podem ficar no espaço social.
“sólido”.
Para Bauman estamos cientes dessa situação,
Disso resultariam, entre outras questões, a num grau ou outro. Pelo menos às vezes, quando
obsessão pelo corpo ideal, o culto às uma catástrofe, natural ou provocada pelo
celebridades, o endividamento geral, a paranóia homem, torna impossível ignorar as falhas.
com segurança e até a instabilidade dos Portanto, não é uma questão de “abrir os olhos”.
relacionamentos amorosos. É um mundo de
O verdadeiro problema é: quem é capaz de fazer
incertezas. E cada um por si.
o que deve ser feito para evitar o desastre que já
Bauman revela que o capitalismo atual não tem podemos prever? O problema não é a nossa falta
mais um grande banco de trabalhadores reservas, de conhecimento, mas a falta de um agente
mas tem dispositivos de armazenamento e de capaz de fazer o que o conhecimento nos diz ser
exclusão mais eficientes. As prisões, ao contrário necessário fazer, e urgentemente. Por exemplo:
daquilo que foi dito por Foucault, não é mais o estamos todos conscientes das consequências
lugar da disciplina, mas é o da vigilância e apocalípticas do aquecimento do planeta. E todos
exclusão total. O preso é um sujeito vigiado e estamos conscientes de que os recursos
armazenado, mas não para ser disciplinado, ele planetários serão incapazes de sustentar a nossa
não é mais útil e nem pode ser. É uma vida filosofia e prática de “crescimento econômico
desperdiçada, é um lixo humano. infinito” e de crescimento infinito do consumo.

Mas não são somente nas prisões que nós Sabemos que esses recursos estão rapidamente
encontramos aqueles que precisam ser se aproximando de seu esgotamento. Estamos

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com


47
conscientes — mas e daí? Há poucos (ou REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da
nenhum) sinais de que, de própria vontade, Filosofia. v.1 a v.7. Ed. Paulus.
estamos caminhando para mudar as formas de
Coleção Os Pensadores – Abril Cultural (Volumes
vida que estão na origem de todos esses
referentes aos autores em análise).
problemas.

Para Bauman os jovens devem perseguir e Sites da internet:


consertar o estrago que os mais velhos fizeram.
Como e se forem capazes de pôr isso em prática, <http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/02/bzyg
munt-baumanb-vivemos-o-fim-do-futuro.html>
dependerá da imaginação e da determinação
deles. Para que se deem uma oportunidade, os <http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartol
jovens precisam resistir às pressões da a/2013/11/zygmunt-bauman-vivemos-tempos-
fragmentação e recuperar a consciência da liquidos-nada-e-para-durar.html>

responsabilidade compartilhada para o futuro do


<http://www.mundodosfilosofos.com.br>
planeta e seus habitantes. Os jovens precisam
trocar o mundo virtual pelo real.

Assim o autor afirma pela necessidade de


existência de uma confiança no potencial
humano à altura da tarefa de reformar o mundo,
a crença de que “nós, seres humanos, podemos
fazê-lo”, crença esta articulada com a
racionalidade capaz de perceber o que está
errado com o mundo, saber o que precisa ser
modificado, quais são os pontos problemáticos, e
ter força e coragem para extirpá-los. Em suma,
potencializar a força do mundo para o
atendimento das necessidades humanas
existentes ou que possam vir a existir.

REFERÊNCIAS:

Livros e artigos utilizados para elaboração desse


resumo:

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo:


Ática, 2006.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo:


Ed. Ática, 2003.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São


Paulo: Saraiva, 2004.

GUIVANT. Julia S. A teoria da sociedade de risco


de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia.

Resumo de Filosofia – Professora: Crystianne Mendonça – crysfilosofia@gmail.com

Você também pode gostar