Você está na página 1de 25

ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

2. CONVIVÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS HOMENS


2.1. Política e Filosofia política: Noções Básicas
2.1.1. Política: O conceito de “política” tem origem na palavra grega politiké ou “polis” que etimologicamente
quer dizer cidade. Sendo assim, a política é a ciência ou arte de governar a cidade ou uma nação. A política
na antiga Grécia era traduzida por, República que em latim ―Res + publicae” que significa “as coisas
públicas”. Sendo assim, a República significaria um regime político, ou constituição de uma cidade, de uma
comunidade, etc. Aristóteles entendia a política como a arte ou ciência de governar bem a cidade. Para ele, o
homem é um animal político, sociável, pelo simples facto de viver em sociedade.
A política actualmente é concebida como um conjunto de acções levadas a efeito por indivíduos, grupos e
governantes com vista a resolver os problemas com que se depara uma colectividade humana. Estas práticas
são orientadas por imperativos, tais como: o bem comum, a ordem pública, a justiça social, a harmonia e o
equilíbrio social. O conceito de política, entendido como forma de actividade ou pática humana, está
estreitamente ligado ao de poder, quer compreendendo ―a luta por sua conquista, manutenção e expansão‖
segundo Maquiavel, quer as instituições por meio das quais ele se exerce, ou a reflexão sobre a sua origem,
estrutura e razão de ser. O poder é tradicionalmente entendido Hobbes como “meios adequados à obtenção
de qualquer vantagem”; por Russell como “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos
desejados”.
De acordo com Bobbio, existem três formas de poder, nomeadamente: poder económico, ideológico e poder
político: O poder económico - vale-se da posse de certos bens necessários, que leva àqueles que não os têm a
manter um certo comportamento. O poder ideológico - é o exercido através da influência que uns (detentores
do poder: Sacerdotes, Pastores, Líderes comunitários ou de partidos e organizações sociais ou afins) exercem
sobre os demais determinando-lhes o comportamento. O poder político – é o poder do homem sobre outros
homens. Uma das formas de exercício deste tipo de poder é a força, pela coerção. As outras formas de poder
são exercidas por persuasão, quer através das limitações económicas, quer através do discurso. Por outras
palavras, o poder político é a faculdade que um povo possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que
exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários
meios de coacção. Assim, o poder político têm três características principais: a exclusividade tendência de
não permitir a organização de uma força concorrente, por exemplo, grupos armados independentes que
ameaçam o seu monopólio de uso da força, como resulta do nº3 artigo 52 da CRM “São proibidas as
associações armadas de tipo militar ou paramilitar e as que promovam a violência, o racismo, a xenofobia
ou que prossigam fins contrários à lei.”; a universalidade, que é a capacidade de tomar decisões para toda a
colectividade e por fim a inclusividade que é a possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as
esferas possíveis da actividade de membros do grupo e de encaminhar tais actividade aos fins desejados ou de
desviá-los de um fim não desejado Ex. A intervenção do Presidente da República no Moçambola.
A política é uma ciência porque descreve, analisa e prevê os factos políticos. A finalidade ou função da
política e da comunidade política é assegurar o bem comum, a ordem pública, a justiça, a paz, o bem-
estar e o equilíbrio social. A disciplina que investiga sobre a política chama-se ciência política. A ciência
política analisa o Estado, a soberania, a hegemonia, os regimes políticos, os governos, as linhas históricas, em
regimes democráticos.

2.1.2. Filosofia Política


A Filosofia política é a ciência que tem por objecto a meditação filosófica dos factos políticos no
conhecimento da sua essência ou na discussão em função de certos valores.
São tradicionais nessa área, as hipóteses sobre o contrato original que teria dado início à vida em sociedade,
instituído o governo, os deveres e os direitos dos cidadãos. Muitas dessas situações hipotéticas são elaboradas
1
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

no intuito de recomendar mudanças ou reformas políticas aptas a aproximar as sociedades concretas de um


determinado ideal político.
A Filosofia política alimenta-se das práticas políticas, ou seja, dos acontecimentos políticos levados a cabo por
políticos e por aqueles que pensam o facto político. O facto político é todo o acontecimento político relativo à
origem do Estado, à sua organização, à sua forma ideal, à sua função e ao seu fim específico, à natureza da
acção política e suas relações com a moral, à relação entre o Estado e o indivíduo, entre o Estado e a Igreja
e entre o Estado e os partidos políticos, compreender e esclarecer os conceitos de justiça, bem comum, de
tolerância, e entre outros conceitos no âmbito político.

2.1.3. Relação entre Filosofia e Política


A filosofia está estreitamente ligada a política numa relação de interdependência e complementaridade.
A política precisa da filosofia para melhor esclarecer as formas de conhecimento e os fundamentos dos factos
políticos, sua natureza e a respectiva valoração. Foram filósofos (sofistas) os primeiros pensadores que se
debruçaram sobre os problemas suscitados pelo facto político e até sobre as próprias manifestações do facto
político.
O filósofo político é a pessoa que analisa criticamente a sociedade (identifica aspectos positivos e negativos) e
aponta soluções filosóficas para os problemas identificados. Por isso, a relação entre Filosofia e Política é
positiva, na medida em a filosofia denuncia e critica toda a forma da dominação do homem pelo homem e a
absolutização da política. A filosofia ilumina os conceitos inerentes a política: o bem comum, a ordem pública,
a justiça social, a harmonia e o equilíbrio social, a tolerância, a sua relação com a política. Por outro lado, a
relação entre a política e a filosofia é polémica (negativa) porque, o filósofo não é bem-vindo pelos
governantes (em algumas sociedades), pois é considerado um perturbador da sociedade e da ordem pública.
Basta lembrar na Grécia antiga, Sócrates foi obrigado a beber cicuta (um tipo de veneno), no ano 400 a.C., sob
a acusação de corromper a juventude e não fazer crer os deuses da cidade; E Levy disse que o filósofo fala
muito e por isso perturba a ordem do mundo, incluindo os próprios políticos. Bochinski diz quem quer saber
para onde nos encaminhamos deve prestar atenção aos filósofos e não aos políticos porque os filósofos
anunciam hoje o que será verdade de amanhã. Dai que Platão na República declara que para ser político é
necessário que este se torne em filósofo ou o filósofo se tornar em político, vice-versa.

2.1.5 Estado / Nação. Elementos do Estado: Governantes, Governados, Constituição (caso da


Constituição de Moçambique), Soberania, Símbolos nacionais.
2.1.5.1. Estado/ Nação
Estado é uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupando um território definido,
normalmente onde a lei máxima é uma constituição escrita, e dirigida por um governo que possui soberania
reconhecida tanto interna como externamente. O Estado é legítimo quando age de acordo com o direito e de
acordo com os interesses da maioria. Um Estado tem como elementos fundamentais: o povo, o território e o
poder político.
Nação. O conceito nação é muitas vezes associado ao de Estado. A nação é a comunidade natural de
homens que, reunidos num mesmo território, possuem em comum a origem, os costumes, cultura, e raça
(factores objectivos) e a consciência do grupo humano de que esses elementos comunitários estão
presentes (factores subjectivos). A maior parte dos Estados modernos constituíram-se em nações, na
medida que os povos foram se unindo e adquirindo sentimentos de pertença de uma mesma nação,
como, por exemplo, a França, a Itália, Moçambique, Estados formados por vários povos e culturas, que
constituem hoje uma mesma nação.

2
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

2.1.5.2. Elementos do Estado: Governantes, Governados, Constituição (caso da Constituição de


Moçambique), Soberania, Símbolos nacionais.
a) Povo (Governados) é o conjunto dos indivíduos ligados pelos laços de cidadania ou nacionalidade. O
conceito de povo é político, composto pelos cidadãos; não se confunde com o conceito população (de
natureza económico, demográfico estatístico), o conjunto de pessoas físicas residentes no território de um
Estado num determinado momento histórico, sejam eles nacionais, estrangeiros e os apátridas residentes no
território nacional bem como os turistas e visitantes que nele poisem ou temporariamente residam (população
flutuante) e exclui os nacionais não residentes. O que distingue o conceito de Povo e População é a
nacionalidade.
b) O governo é usualmente utilizado para designar a instância máxima de administração executiva, geralmente
reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação. Normalmente chama-se o governo ou gabinete ao
conjunto dos dirigentes executivos do Estado (pessoas portadoras de cargos oficiais e de autoridade), ou
ministros (por isso, também se chama Conselho de Ministros). Os governantes são (ou deviam ser) os
servidores do povo. A origem etimológica da palavra ministro, por exemplo, significa escravo, do latim
―minister”. A legitimidade de um governo reside na delegação do poder pelos cidadãos, atrás do voto num
Estado democrático.

Poder político (Governantes) é definido como a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade
própria, instituir órgãos que exercem, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um território, nele criando e
executando normas jurídicas usando os necessários meios de coacção. Governante é qualquer funcionário
público que assume cargos de direcção, que dirige uma instituição pública.
c) Território. Geralmente não se concebe Estados sem território, excepcionalmente existiram Estados antes da
definitiva e fixação de fronteiras. Ex. Polónia depois da 1ª grande guerra. O território de um Estado integra o
solo e o subsolo (território terrestre); o espaço aéreo (território aéreo) e o mar território, no caso de se tratar de
um Estado ribeirinha (território marítimo).
d) A Constituição ou Carta Magna é um conjunto de regras de governo que define a política fundamental,
princípios políticos, e estabelece a estrutura, procedimentos, poderes e direitos, de um governo e garante certos
direitos para o povo. A Constituição é a estrutura de uma comunidade política organizada, a ordem necessária
que deriva da designação de um poder soberano e dos órgãos que o exercem. Dito de forma mais simples, a
constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o relacionamento de todos elementos pertencentes a
um mesmo Estado (indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). As outras leis particulares são
elaboradas com o respeito à constituição, que é lei-mãe. Por isso, mesmo os Estados absolutistas do século
XVII e os totalitaristas do século XX tiveram uma constituição. Portanto, a constituição tem a função de
traçar os princípios ideológicos da organização interna (do Estado). Para Aristóteles a constituição é ―a
estrutura que dá ordem à cidade, estabelecendo o funcionamento de todos os cargos, sobretudo da
autoridade soberana”.
A Constituição da república de Moçambique caracteriza-se por reafirmar, desenvolver e aprofundar os
princípios fundamentais do Estado moçambicano, consagrar o carácter soberano do Estado de Direito
Democrático, baseado no pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e
liberdades fundamentais dos cidadãos; garantir que ninguém está acima da lei e todos cidadãos devem
obedência à lei. As normas constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento
jurídico, nº4 do art. 2 da CRM.
A mudança da constituição implica a mudança de tipo de Estado, por exemplo, a Constituição de 1990 torna o
Estado moçambicano um Estado Democrático, por abrir a possibilidade da participação política através do voto
e a liberdade de reunião de associação e de formação de partidos políticos, entre várias mudanças.

3
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

e) Soberania: De acordo com Jean Bodin, teórico da soberania, define que “A soberania é o poder absoluto e
perpétuo de um Estado ou Nação”. Para Jean Bodin, não existe outra entidade superior a ela tanto na ordem
externa como na ordem interna, é uma autoridade suprema de um país ou nação, pode ser atribuída a um grupo
de pessoas (no nosso caso, artigo 133º da CRM = são órgãos da soberania o Presidente da República, a
Assembleia da República, o Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional), ou a um indivíduo (na
monarquia absoluta o monarca é chamado soberano ou a Deus, como no caso do Daesh = Estado Islâmico). Em
Moçambique a soberania reside no povo, Artigo 2, nº 1 da CRM.
Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através da qual as normas e decisões
elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários,
tais como: a família; a escola; a empresa, a igreja, etc. Neste sentido, no âmbito interno, a soberania estatal
traduz a superioridade de suas directrizes na organização da vida comunitária. A soberania se manifesta,
principalmente, através da constituição de um sistema de normas jurídicas capaz de estabelecer as pautas
fundamentais do comportamento humano. No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a ideia de
igualdade de todos os Estados na comunidade internacional. A soberania caracteriza-se por ser una e
indivisível, própria e não delegada, irrevogável, suprema na ordem interna e independente na ordem
internacional.
f) Símbolos Nacionais: são representações visuais, verbais ou icónicas do povo, dos valores, objectivos ou da
história nacional que pretendem unir pessoas e que são frequentemente mobilizados como parte de celebrações
de patriotismo e projectados para ser inclusivos e representativos de todas as pessoas da comunidade nacional.
Os símbolos nacionais constam do Artigo 13 da Constituição da República de Moçambique, nomeadamente: a
Bandeira Nacional; o Emblema de República de Moçambique e o Hino Nacional, Cfr. art. 297 a 299 da
CRM.

2.1.6 Participação política dos cidadãos.


O problema político diz respeito ao cidadão na sociedade. O cidadão tem de participar em todos os assuntos
que dizem respeito a sociedade. Aristóteles no seu tratado “A Política” defendia que “o homem é, por
natureza, um animal político” porque “foi feito para viver em sociedade, sente a necessidade de fazer parte
da Cidade e há tendência nele de se associar”. Péricles dizia que “um homem que não participa da política
deve ser considerado não um cidadão tranquilo, mas um cidadão inútil”. Maquiavel, já na Idade Moderna,
em Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio diz que “não há cidade forte sem povo, mas também
não há cidade livre sem participação da maioria na vida política da cidade”. Maquiavel, contudo, ressalva
que a participação popular traz consequências, pois leva o público a intenções e desejos que não são
consensuais (como acontece na maior parte das vezes) pode resultar em conflitos políticos.
A vida social é condicionada, sobremaneira, pela política. Sabe-se que todo cidadão tem sua existência
acompanhada do exercício de direitos fundamentais e do direito de participação. Pasquino entende que
―Participação política é o conjunto de actos e de atitudes que aspiram a influenciar de forma mais ou menos
directa e mais ou menos legal as decisões dos detentores do poder no sistema político ou em organizações
políticas particulares como a sociedade civil, bem como a própria escolha daqueles, com o propósito de manter
ou modificar a estrutura (e, consequentemente, os valores) do sistema de interesses dominante‖.
Sobre a participação, cumpre asseverar que este direito significa a capacidade de ser consultado para as
tomadas de decisão que dizem respeito à direcção da sociedade em que vive o cidadão e que, dentre os direitos
de participação política, tais como a igualdade de sufrágio, o direito de voto e de elegibilidade, e o direito de
petição, moção, ainda importa recordar outro que também a integra, é o direito de iniciativa popular (para
abertura de escolas, postos sanitários, mercados, etc.).
Outra forma de participação política é a formação e participação cívica através de partidos políticos. O Partido
político funda-se num agrupamento de indivíduos que se encontram unidos por ideias e actividades comuns,
4
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

com vista à consecução de certos fins políticos ou à eleição de funcionários para o Estado, quer se trate de
órgãos para o Governo central, assembleias provinciais ou para as autarquias locais. Em regimes
democráticos, os partidos políticos sobem ao poder através de eleições. Em Moçambique, a eleição é a
escolha, por meio de sufrágios universal, directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus
representantes, por referendo sobre as grandes questões nacionais e pela permanente participação democrática
dos cidadãos na vida da Nação, Art.73 CRM. Na eleição, o povo escolhe o programa do partido que acha que
resolverá melhor os problemas do seu grupo social. Os sofistas deram um valioso contributo na política, pois,
falavam em espaço público sem reservas, eram os educadores do povo, com o intuito de formar bons cidadãos,
viajavam de cidade em cidade ensinando que a virtude fundava-se no saber e que não era hereditária. Jurgen
Habermas fala do espaço público que é o lugar onde os cidadãos discutem ideias, para o bom funcionamento
da sua sociedade.

2.1.7. Direitos Humanos e Justiça social


Os direitos humanos são o conjunto de princípios básicos e essenciais à existência humana condigna, de
todos os seres humanos. Trata-se de regras ou normas de relacionamento entre os homens, ou seja, resultam da
natureza humana, visando um tratamento mútuo com dignidade, endereçados à sociedade, desde que o
individuo nasce, isto é, são direitos que se caracterizam como sendo: universais, individuais, inalienáveis e
anteriores ao Estado. Ninguém pode usurpá-los ilegitimamente, sobretudo o direito à vida, à inviolabilidade
física e psicológica. Normalmente o conceito de direitos humanos tem a ideia também de liberdade de
pensamento e de expressão, e a igualdade perante a lei. ―Os direitos humanos‖ significam também o dever de o
Estado não usurpar ilegalmente as liberdades do homem.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela ONU a 10 de Dezembro de 1948. Esboçada
principalmente por John Peters Humphrey, do Canadá, mas também com a ajuda de várias pessoas de todo o
mundo – EUA, França, China, Líbano, entre outros -, delineia os direitos humanos básicos. O Bill of Right de
Virgínia é um documento importante na luta pelos direitos humanos na América porque continha princípios
de direitos inatos de liberdades e separação dos poderes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH) da Organização das Nações Unidas tem como objectivo principal promover a igualdade entre os
homens e entre as nações evitando atrocidades como a tortura, a violência, a censura e a guerra. Na
(DUDH) temos os direitos pessoais, judiciários, sociais, civis e cívicos. A primeira Constituição escrita a
exaltar os direitos humanos foi estabelecida na América em 1787.
Justiça social
A justiça consiste na vontade firme e constante de dar a cada um o que lhe é devido. A justiça supõe que uma
pessoa tem direito a um objecto que lhe pertence e outra tem o dever correlativo de o respeitar (justiça
comutativa que se aplica aos iguais). O conceito de Justiça social está vinculado ao do bem comum,
igualdade de direitos. A justiça social é uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e na
solidariedade colectiva, é vista como o cruzamento entre o pilar económico e o pilar social.
A justiça social corresponde à justiça distributiva que se aplica aos desiguais: justa distribuição da renda ou
riqueza, de acordo com as necessidades e a capacidade das pessoas; aumento do nível de rendimentos das
massas (salário mínimo); diminuição das assimetrias entre as classes sociais, etc. o seu principal teórico
contemporâneo é o filósofo liberal John Rawls, que em sua Obra ―Uma Teoria da Justiça, 1971, defende que
uma sociedade justa seria aquela que respeitasse os três princípios nomeadamente: garantia das liberdades
fundamentais para todos; igualdade equitativa de oportunidades e manutenção de desigualdades apenas
para favorecer os mais desfavorecidos.
A justiça social propõe a criação de condições razoáveis para a existência humana, daí a sua relação
estreita com os direitos humanos. Onde não se respeitam direitos humanos não há justiça social, por sua

5
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

vez, onde não há justiça social não há respeito pelos direitos humanos. Os direitos humanos e justiça social
devem ser vistos como irmão siamês.

2.1.8. Estado de Direito e suas funções


O Estado de Direito: O conceito de Estado de Direito é aplicável aos Estados onde os membros dessa
sociedade estão todos, de forma directa e clara, ninguém está acima da lei, todos estão submetidos à mesma lei,
ou seja, onde a lei prevalece e reina sobre todos os indivíduos, todos respeitam a Constituição. Num Estado de
Direito há respeito pela hierarquia das normas, separação de poderes e, por consequência, pelos direitos
fundamentais. No Estado de Direito a legitimidade de um governo reside na delegação do poder pelos
cidadãos, atrás do voto. Uma das garantias do Estado de Direito é a divisão e separação de poderes, pois
permite que haja legisladores para aprovar as leis, executores para as aplicar e magistrados para que possam
julgar todos aqueles que não agirem em conformidade com a lei (poderes legislativos, executivos e judiciais).
Funções do Estado de Direito:
As funções principais do Estado com actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político são: função
política, jurisdicional e administrativa, sobretudo, a função de zelar pela ordem e segurança da sociedade.
Num Estado de direito, o poder político está dividido em poder executivo, poder legislativa e poder judicial.
O poder executivo que exerce a função administrativa ou política é o poder do Estado que, de acordo com a
Constituição do país, possui a atribuição de governar o povo e administrar os interesses públicos, fazendo
cumprir fielmente a lei e interpretado pelo sistema judicial. Ex: Cobrar do importador o imposto na quantidade
prevista na lei é acto executivo.
Poder ou Função legislativa: é o poder do Estado que tem como atribuição elaborar leis, normas de direito de
abrangência geral ou individual que são aplicadas à toda a sociedade; poder de fiscalizar o executivo com o
objectivo de satisfazer os grupos de pressão, administração pública, a sociedade e própria causa. O órgão
exerce o poder legislativo é o parlamento.
Ex: Quem importa mercadoria paga o imposto sobre importação. Esta é uma lei.
O poder ou A Função jurisdicional consiste no julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses
privados, ou públicos e privados, bem como a punição da violação da Constituição e das leis através de órgãos
entre si independentes, colocados numa posição de passividade e imparcialidade, e cujos titulares (os juízes)
são inamovíveis e, em princípio não podem ser sancionados pela forma como exercem a sua actividade. Ex: Se
o importador dos exemplos acima, considera indevido o imposto cobrado surge uma contenda a ser resolvida
definitivamente pela função jurisdicional.
Exercícios: 1
1. O que entendes por política? Qual a finalidade da política? Pode-se viver sem política?
2. Qual é o objecto de estudo da Filosofia política?
3. Quando é que um Estado é legítimo?
4. De entre os três fundamentais elementos do Estado: o povo, o território e o poder político, qual deles é
indispensável? Porquê?
5. Nos dias de hoje, podemos considerar Moçambique como uma verdadeira Nação? Justifica.
6. Quais foram as principais mudanças que ocorreram em Moçambique com a alteração da Constituição
de 1990.
7. Qual é entidade superior de um país, acima da qual não existe nenhuma outra? Como é que
manifesta.
8. O que é que se pretende dizer quando se diz que em democracia, a soberania nacional reside no Povo.
9. Se entendemos que o homem é um animal político pelo facto de viver em sociedade e, por isso, é
chamado a participar activamente na vida política. Imagina-te estar a viver numa cidade com problemas
de saneamento, lixo, estradas esburacadas, enchente nos hospitais, estudares em condições não
6
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

adequadas. Que meios usarias para reverter a situação?


10. Justifica porque é que os Direitos Humanos são universais, individuais, e anteriores ao Estado.
11. Em termos de justiça é lícito sacrificar a liberdade da minoria para o bem comum? Justifica.
12. Os direitos garantidos pela justiça na constituição estão dependentes da negociação política ou do
cálculo dos interesses sociais ou partidários?
13. Como está dividido o poder num Estado de Direito? Qual é a função de cada um deles?
5. “Não há regras sem excepção.” A lei pode ser aplicável para uns em detrimento dos outros pela
posição em que algumas pessoas ocupam na sociedade?

2.2 A Filosofia Política na História


2.2.1 A Filosofia Política na Antiguidade (Platão e Aristóteles)
A. Os sofistas: A democracia ateniense solicitava novas habilidades intelectuais, sobretudo a capacidade de
persuadir. É nesse momento que se destacam os filósofos que se dedicam justamente a ensinar a retórica e as
técnicas de persuasão – os sofistas. A educação sofística buscava preparar os seus alunos para uma vida
prática, a política. Os Sofistas foram os primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes para
efectuar suas defesas, dada sua alta capacidade de argumentação. São também considerados por muitos os
guardiães da democracia na antiguidade, na medida em aceitavam a relatividade da verdade. Hoje, a aceitação
do "ponto de vista alheio" é a pedra fundamental da democracia moderna. Estão entre os primeiros sofistas
conhecidos são: Protágoras, Górgias, Pródigo, e Isócrates.

2.2.1.1. Platão (427 a.C. 347 a.C.)


a) Vida: Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C. oriundo de uma família aristocrática, foi ainda, discípulo de
Sócrates. O seu verdadeiro nome era Aristócles. Platão é apelido que derivou de seu vigor físico ou da
amplitude de seu estilo ou ainda da extensão de sua testa. (em grego, platos significa ―amplitude‖, ―largueza‖,
―extensão‖. O mais genial dos discípulos de Sócrates, de decidida vocação política, depressa se desenganou das
praticas políticas atenienses da sua época, especialmente depois da condenação de Sócrates. A partir de então,
dedicou o seus esforço intelectual a construir e fundamentar teoricamente um modelo ideal de sociedade.
Platão entendia a política como “a arte de governar persuadindo os homens”.
b) Obras importantes: Os escritos em que Platão trata especificamente do problema da política, são ―a
República”, ―o Político” e ―as Leis”. Na República, a obra fundamental de Platão sobre o assunto, traça o seu
estado ideal, o homem ideal, o reino do espírito, da razão, dos filósofos, em chocante contraste com os estados
e a política deste mundo.A República é uma utopia. Utopia significa, etimologicamente, em nenhum lugar.
Platão imagina uma cidade (que não existe), mas que deve ser modelo de todas as cidades terrenas, é a cidade
ideal. Na obra, examina a questão do bom governo e do regime justo. O bom governo depende da virtude dos
bons governantes.
c) A Origem e Finalidade do Estado
O Estado em Platão é convencional (acontece por meio de necessidade), e a finalidade do Estado é
proporcionar o bem do homem na sua plenitude. Um Estado nasce porque cada um de nós não é
―autárquico‖, ou seja, não é auto- suficiente, não se basta a si mesmo e tem necessidade dos serviços de muitos
outros homens. Dai a necessidade dos homens se associarem uns aos outros, em que cada um tem uma função
específica a desempenhar. De facto, ninguém pode ser ao mesmo tempo professor, advogado, mecânico,
técnico de frio, etc. para satisfazer todas as suas necessidades, o homem deve associar-se a outros homens e
dividir com eles as várias ocupações. Dividindo os encargos e o trabalho, poderá ele satisfazer a todas as suas
necessidades do melhor modo possível, porque cada um se torna uma especialista na sua área.
d) Organização Social em Platão

7
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

O projecto de Platão para a construção de uma sociedade perfeita foi apresentado em A República. Tem na sua
base numa concepção particular de justiça, baseada no interesse geral e não no interesse individual.
Sendo a justiça uma qualidade da sociedade perfeita (ideal), Platão propõe uma sociedade dividida em três
classes sociais: classe dos trabalhadores, dos guardas e dos governantes.
i) Classe dos trabalhadores (lavradores, artesãos e comerciante). É a classe dos produtores, responsáveis
pela manutenção das demais. A eles cabe providenciar as necessidades materiais, desde o alimento até às
vestes e à habitação. A temperança é a virtude que neles deve predominar, que consiste numa espécie de
ordem, domínio e disciplina dos prazeres e desejos, supondo também a capacidade de se submeter às classes
superiores de modo conveniente. As riquezas e os bens administrados exclusivamente pelos membros dessa
classe não deverão ser nem muitos nem poucos demais.
ii) Classe dos guardas (vigilantes ou militares). Incumbidos da defesa da cidade e da preservação da ordem,
interna e externa, e cuja virtude é a fortaleza ou a coragem. Esta classe deve ser composta de homens que se
assemelham aos cães de raça, ou seja, dotados ao mesmo tempo de mansidão e ferocidade. Deverão evitar a
primeira classe produza exageradamente riqueza ou desmaiada pobreza, mas que tenha uma vida mínima e
decente.
iii) Classe dos magistrados (arcontes, governantes ou filósofos), aos quais compete o governo da cidade, a
legislação e a educação das outras classes e cujas virtudes são a prudência, sabedoria e a justiça.
À classe dos filósofos cabe dirigir a república. Com efeito, contemplam eles o mundo das ideias, conhecem a
realidade das coisas, a ordem ideal do mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana, e estão,
portanto, à altura de orientar racionalmente o homem e a sociedade para o fim verdadeiro. Tal actividade
política constitui um dever para o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim supremo é unicamente a
contemplação das ideias.
e) Formas de Governo
Na perspectiva platónica, a melhor forma de governo é aquela em que o poder é exercido pelo Rei filósofo
porque só um filósofo pode governar melhor a Cidade e a Filosofia é o caminho seguro de acesso aos
valores de justiça e do bem.
Platão formulou uma tipologia de formas de governo de natureza dinâmica e cíclica. Dinâmica, porque as
formas de governo eram passíveis de se modificarem em consequência das circunstâncias. Cíclica, porque
partia de uma forma perfeita para chegar a uma forma degenerada passível de ser transmutada na forma
perfeita ideal.
Platão classifica as formas de governo em graus de degenerescência. Os regimes vão degenerando de
Aristocracia (sofiocracia que é governo do rei-filósofo) passando para a Timocracia (governo dos ricos), a
Oligarquia (governo de poucos), a Democracia (governo das massas incapazes de actuar de acordo com a
razão) até resultar na forma de Tirania (governo de um só), a pior de todas. Nessa ocasião estariam reunidas
as condições para retomar a sofiocracia através da conversão do tirano pelo filósofo e a sua transformação em
Rei-filósofo.
Ao governante, para Platão, corresponde a função de legislar a favor do bem comum, podendo modificar as leis
segundo as circunstâncias e conforme sua prudência. Para fazer respeitar as leis, o governante deve recorrer a
razão, a qual lhe serve de fundamento. Pois, só ao governante, filósofo, pertence o mais alto grau de
racionalidade e demais virtudes.
Depois de Ter proposto o seu plano de governo na obra A República, Platão escreve ―O Político‖ na qual ele
argumenta que: "Já que é difícil encontrar o rei (governante) ideal, o poder do monarca deve substituir-se pela
ditadura da lei". Mais no final de sua vida Platão abandona um pouco o idealismo e atém-se mais a realidade.
Sua afirmação revela a reflexão que ele faz sobre a função das leis. Diz Platão que: "Um Estado, em que a Lei
depende do capricho do soberano, de por si mesma não tem força, está, a meu juízo, muito próximo da sua

8
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

ruína. Em troca, onde a lei é senhora sobre os senhores, e estes são seus servidores, ali vejo florescer a alegria e
a propriedade que os deuses outorgam ao Estado".

2.2.1.2. Aristóteles (384 – 322 a. C.)


a) Vida: Filosofo grego que influenciou grandemente o pensamento europeu durante a idade Média, nasceu em
Estagira (Trácia), em 384 a.C. e morre em 322 a.C. foi Discípulo de Platão e mestre de Alexandre Magno. Aos
18 anos ingressou na academia platónica, tendo permanecido durante 20 anos. Em 335 a. C., fundou em Atenas
a sua própria escola, o Liceu, onde se dedicou ao ensino e à investigação. Morreu na Ilha de Fubeia aos
sessenta e dois anos de idade.
b) Obras importantes: ―A Constituição de Atenas‖, ― O Económico‖, ― a Ética‖ e ―a Política‖. A sua obra
mais importante que chegou até nós é ―A política‖ onde analisa os elementos que integram a cidade (polis):
território, população e governo.
c) A Origem e Finalidade do Estado
Para Aristóteles, a política é a arte de governar a cidade, a origem do Estado é natural e não convencional
como defendia o seu mestre Platão. O homem é por natureza animal político, um ser que tende a viver em
sociedade. A finalidade do Estado em Aristóteles moral e a felicidade. O que une a ética e a política é a
justiça.
d) Organização social: Aristóteles, séc. IV a.C., defendeu no seu tratado A Política, ― o homem é,
naturalmente, um animal político”, porque é ―feito para viver em sociedade‖ (I, i, 9 e 12). Aquele que não
for assim, ― ou é uma criatura degradada, rebelde à sociabilidade ou é um ente superior, um deus que se basta si
mesmo. Há assim uma tendência natural para uma tal associação. Para Aristóteles a família é célula original; o
conjunto de famílias constitui aldeia e o conjunto de aldeias, a cidade, a polis. O fim da família é assegurar a
procriação e a sobrevivência, e o da polis, bem-estar. A família é imperfeita ou insuficiente, porque nela o
homem não se pode realizar plenamente, o que só ocorre na cidade. A natureza social e política do homem
manifesta-se na linguagem que supõe um interlocutor, a pessoa com quem se fala. O ser político do homem
funda-se, portanto, em sua ―loquência‖, e o homem é político porque é logos, razão palavra e diálogo.
e) Formas de Governo
Ao estudar as formas de governo, Aristóteles identificou três formas de governos rectos, nomeadamente: a
monarquia, aristocracia e politia (república) e três formas de governos corruptos que são: tirania,
oligarquia e democracia. Na perspectiva deste filósofo e do seu mestre Platão, a pior forma de governo é a
democracia, consideram-na de corrupta. Assim como a virtude é o meio-termo, também o melhor regime
será o misto ou temperado, em que as virtudes de uns neutralizam os vícios ou defeitos dos outros.
Aristóteles distingue a monarquia, governo de um só, a aristocracia, governo de uma elite, e a democracia
governo do povo ou da maioria. Essas formas se corrompem quando os governantes sobrepõem seus interesses
particulares ao interesse geral ou colectivo. A monarquia se corrompe em tirania governo de um só homem
que procura o interesse próprio; a aristocracia em oligarquia governo dos ricos, que procuram o bem
económico pessoal e a democracia em demagogia (governo dos falsos). Aristóteles, como o seu professor
Platão, justifica e sistematiza a escravidão, sustentando que os homens são, ―por natureza‖, uns senhores e
outros escravos. O escravo é coisa, instrumento e objecto, e sua única razão de se ser é servir ao senhor, do
qual é propriedade.
Exercícios: 2
1. Segundo Platão, como se constitui o Estado?
Comenta a seguinte frase baseando-se nas teorias platónicas “O homem não é um ser autárquico, isto é,
cada um precisa do outro para garantir a sua existência.” (Platão)

9
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

2. Na perspectiva platónica, a melhor forma de governo é aquela em que o poder é exercido pelo rei
filósofo. Este pensamento é aplicável aos dias de hoje, nos mesmos moldes em que Platão procurou
defender? Porque?
3. Porque é que Aristóteles defende que o Estado surge de forma natural e que o homem é por natureza
um animal político?
4. Aristóteles classifica os deferentes tipos de governo existentes em rectos e corruptos. Na perspectiva
deste filósofo qual é a pior e a melhor forma de governo? Justifica.

2.2.3 A Filosofia Política na Idade Moderna (Machiavelli, Hobbes, Locke e Rosseau e Montesquieu)
A Modernidade tem o seu início no século XV até aos fins do século XVIII. O marco teórico da época
moderna é a exaltação da ciência e política. Na Filosofia política da idade moderna, o pensamento
filosófico caracterizou-se pelo primado da razão humana e desinteresse pela metafísica.

1. Nicolau Maquiavel (1469 – 1527)


Vida: Nicolau Maquiavel, em italiano Niccolò Machiavelli, (Florença, 3 de Maio de 1469 — Florença, 21 de
Junho de 1527) foi um político, escritor, historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É
reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo facto de haver escrito sobre o
Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser. O adjectivo maquiavélico, criado a partir do
seu nome, significa esperteza, astúcia.
Obra: Nicolau Machiavelli escreveu, entre outras as seguintes obras: “O Príncipe”, “História de Florença” e
“Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio”. O objectivo fundamental da sua obra é o Estado sendo,
aliás, Maquiavel o criador deste termo na sua acepção moderna.
- Classificação original e inovadora dos regimes políticos
Maquiavel inova, na classificação dos regimes políticos, ao apresentar uma bipartição que distingue entre
república e monarquia. Assim, a república caracterizar-se-ia por ser dirigida por uma vontade colectiva, e
poderia ser uma república aristocrática ou uma república popular democrática, consoante fosse representada
a vontade de poucos ou de muitos.
- Formas de Governo: Na perspectiva maquiavélica governar é uma grande arte. Maquiavel não distingue
entre formas de governo boas e más, ou sãs e degeneradas. Daqui resulta que, para Maquiavel, todos os
regimes políticos são legítimos. Enquanto, a monarquia seria caracterizada por ser governada pela vontade de
um só individuo, o monarca deve ter, por isso, a sua actuação apreciada em função do êxito político alcançado,
e não de acordo com os critérios éticos. Mas a melhor forma de governo para Maquiavel é a república.
O nome Maquiavel é conhecido universalmente, sendo ―Maquiavélico” sinónimo de um determinado tipo de
comportamento daquele que ―não olha os meios para atingir os fins‖.
- Governante (Príncipe): se governar é uma grande arte, para Maquiavel, o governante deve impor-se pela
força, partindo do pressuposto de que todos os homens são réus. O príncipe, tem por obrigação, como fim da
política, conquistar e manter o poder, nem que para isso se utilize de estratégias pouco convencionais, afinal
“Os fins justificam os meios”. Nestes termos, Maquiavel vai sustentar que qualquer actividade que seja levada
a cabo para manter o poder é justificada, não obstante a apreciação que possa ser feita pela moral. A
estabilidade da sociedade precisa ser conseguida em todo o custo. A finalidade das acções do governante, passa
a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode
ser chamada de boa ou má a não se sob uma perspectiva histórica. A natureza humana, para Maquiavel,
seria essencialmente má e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, por
isso, a concepção política de Maquiavel é consequência da sua concepção antropológica. Por isso, o príncipe
deve ser uma espécie de lobo com pele de cordeiro.

10
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

- Em razão do seu pensamento realista, Maquiavel vai ser um defensor da “razão de Estado”, isto é, da
doutrina segundo a qual o Estado deve obedecer a regras próprias de acção, diferentes das que tradicionalmente
foram ensinadas com regra moral aplicável aos indivíduos. A essência da doutrina de Maquiavel e do
maquiavelismo é, assim, que em política deve praticar-se o bem quando possível, mas fazer o mal sempre que
necessário”.

2.2.3.2. Thomas Hobbes (1588 – 1679)


A. Vida: Filósofo e teorista político inglês (1588 - 1679. foi defensor acérrimo do poder absoluto dos
soberanos. Foi também o primeiro a avançar com a noção de Estado moderno, assente no conceito de soberania
entendido como a capacidade de decidir em última instância. Segundo Hobbes, este poder não é original nem
divino, antes será resultado de um contrato através do qual os súbditos o delegam no Estado, tendo em vista a
harmonia dos interesses da sociedade.
B. Obra: Sua doutrina política encontra-se nas obras De Cive e Leviatã. O leviathan (figura bíblica que
significa ―o Deus mortal‖, poder superior a todos os poderes terrenos.
C. Organização Social em Hobbes
Hobbes começa por defender a existência de dois grandes estados da história da humanidade: o ―Estado de
natureza‖ e o ―Estado de Sociedade‖.
- O estado de natureza (status naturalis): refere-se em geral, ao momento hipotético vivido antes da
organização social em que o homem goza de todos os direitos e que a liberdade é total.
Inicialmente os homens viviam sem leis, sem autoridade e sem Estado. Em Estado. A concepção de Hobbes
(no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente,
vigorando a guerra de todos contra todos (“o homem lobo do homem” ou “homo homini lupus”). Nesse
estado, o homem é mau por natureza, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta.
Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. O
Estado de natureza era, pois, uma situaçao de desordem, de injustiça e de agressao permanente: era de guerra
de todos contra todos (bellum omnium contra omnes).
- Passagem para o Estado de Sociedade
A passagem do estado de natureza para o de sociedade visa obter a ordem, a paz e a justiça. Essa passagem é
feita pelo contrato social, um acto puramente racional e voluntário. Só o Estado permite alcançar a segurança
da vida individual e colectiva. Segundo Hobbes para que o Estado seja capaz de garantir os fins que se propõe
tem de ser um Estado forte, que concentre em si definitivamente o poder supremo (summa potestas imperium
absolutum), ilimitado, mais forte de todas, assim surge o Leviatã, poder superior a todos os poderes terrenos.
O estado de natureza ocorre sempre que o Estado se extingue, ou temporariamente enfraquece, e deixa de
garantir, pela sua presença e pelo seu uso legal da força publica, a segurança dos indivíduos e da sociedade.
Quando isso acontece, imediatamente vem à luz a natureza violenta e agressiva do homem e renasce a guerra
de todos contra todos. Assim o estado de natureza segundo Hobbes é uma permanente ameaça que pesa sobre a
sociedade e que pode irromper sempre que a paixão silenciar a razão ou a autoridade fracassar. Hobbes fundou
no contrato um regime absolutista e é tido como o precursor dos regimes totalitários modernos.

2.2.3.3. John Locke (1632 – 1708)


A. Vida: Igualmente Inglês e contemporâneo de Hobbes, descendente de uma família de burgueses
comerciantes. Depois dos seus estudos em Oxford entrou para a casa do conde Shaftesbury como preceptor
(mestre, educador), médico, secretário e amigo. Esteve refugiado por um tempo na Holanda, por ter-se
envolvido com pessoas acusadas de fazer movimentos contra o rei Carlos II. Preocupou-se também, para além
dos problemas gnoseológicos, pelos problemas políticos.

11
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

B. Obra: As suas principais obras são: ―Ensaio sobre o Entendimento humano‖, ―Pensamentos sobre a
Educação‖ e “Dois tratados sobre o governo civil”.
C. Organização Social em Locke
Tal como Hobbes, Locke concebe a existência inicial de um estado de natureza e a passagem deste para o
estado de sociedade por via contratual com duas diferenças fundamentais:
- O estado de natureza para Locke, era um estado de perfeita liberdade e igualdade segundo a lei natural, pois
que todos os homens nascem livres e iguais; o problema residia apenas em que as diferentes interpretações da
lei natural geravam incerteza, por cada homem ser juiz de causa própria. Dai o pacto social, cuja cláusula
fundamental é a renúncia do direito de reprimir as infracções à lei natural e a sua entrega (delegação) à justiça
do Estado.
A segunda diferença consiste em Hobbes ter fundado no contrato um regime absolutista e, mais do que isso, ser
precursor dos regimes totalistas moderno, ao passo que Locke fundou o liberalismo e a doutrina da limitação
do poder com base nos direitos individuais.
- O estado de sociedade em Locke não substitui o estado de natureza, mas continua-o. Entre a sociedade e a
natureza não existe relação de oposição, mas de progressão: o estado de sociedade é o melhor que o estado de
natureza. Segundo Locke, os homens no estado de natureza são bons; porem facilmente surge entre eles
divergências; é para eliminar estas divergências que eles se constituem sociedade. A sociedade, nascida por
livre contrato, tem por escopo melhorar as relações dos indivíduos, impedindo os abusos dos direitos naturais,
como a liberdade e a propriedade. O estado não pode violar esses direitos naturais, cuja defesa constitui a única
razão da sua existência: neles encontra, portanto, o limite das suas atribuições. O cidadão pode rebelar-se, se
esses limites forem ultrapassados.
Exercício: 3
1. A concepção política de Maquiavel é consequência da sua concepção antropológica.
2. Qual é o fim último do príncipe no Estado para Maquiavel?
3. O que é que significa governar para Maquiavel? Porquê?
4. Diga como Maquiavel concebe o homem e como deve ser o comportamento do príncipe.
Comenta as seguintes expressões maquiavélicas:
5. “Os fins justificam os meios”, “razão de Estado”.
6. O governante deve partir do pressuposto de que todos os homens são réus ou seja, o príncipe deve ser
uma espécie de lobo vestido de cordeiro”
7. Explica porque é que na visão de Thomas Hobbes, no Estado Natural, o homem encontra-se
constantemente numa situação de guerra de todos contra todos, e, por isso, comporta-se, em relação aos
outros, como um verdadeiro lobo (homo homini lupus) foi?
8. “O maior dos poderes é poder do Estado, resultado da soma de poderes de todos os homens na
formação do contrato social” Thomas Hobbes.
a) De que poderes é que se trata na formulação dos poderes de Bobbio?
b) Como é que John Locke se propõe discutir os direitos do homem na sua relação com o Estado?
Porque é que para Locke, a autoridade do Estado só é legítima quando usa o poder para o bem dos
cidadãos.

2.2.3.4. Jean-Jacques Rousseau (28 de Junho de 1712, Genebra, Suíça – 02 de Julho de 1778, 66 anos,
Ermenoville, França)
A. Vida: Jean-Jacques Rousseau, simplesmente Rousseau, foi um importante filósofo, teórico político,
escritor e compositor autodidacta suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um
precursor do romantismo. Amigo de Diderot e Voltaire onde se tornaram enciclopedistas, divulgando ideias
de tolerância religiosa, confiança na razão livre, oposição à autoridade excessiva, naturalismo, entusiasmo
12
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

pelas técnicas e pelo progresso. Os grandes princípios da filosofia rousseaniana são: o estado de natureza,
o estado de sociedade, o contrato social, a teoria da vontade geral e o conceito de soberania popular
B. obras: A sua obra política fundamental é “O Contrato Social” (1762). Outras obras com relevância
política são “Projecto para a Constituição da Córsega” (1765) e “Considerações sobre o Governo da
Polónia e sobre a sua Reforma” (1772).

C: Organização Social em Rousseau: Estado de Natureza e Contrato Social


Rousseau concebe o estado de natureza como um paraíso perfeito e o homem como um bom selvagem.
Rousseau defende que o homem no estado de natureza é bom, puro, são, inocente, sem qualquer tipo de abuso,
sendo que as suas características negativas são resultado de uma corrupção pela sociedade, provocada pelo
processo de civilização.
A transformação do homem tem lugar, em conformidade, com a descoberta da agricultura e da metalúrgica
com o desenvolvimento da propriedade privada. Assim, a propriedade introduz a desigualdade entre os
homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, culminando na
predominância da lei do mais forte. O homem que surge é um homem corrompido pelo poder e esmagado pela
violência. Trata-se de um falso contrato. Há que considerar a possibilidade de um verdadeiro contrato,
legítimo, em que o povo esteja reunido sob uma só vontade.
O nascimento do Estado resultaria da necessidade dos homens se associarem, em vez de se combaterem e se
destruírem mutuamente, através de um contrato social em que cada individuo renúncia ou vai alienar a sua
liberdade, seus direitos ao corpo social em prol da comunidade e do bem comum e torna-se cidadão.
Segundo Rousseau isto não significa deixar de ser livre, na medida em que, quando obedece aos comandos do
poder político, está a obedecer a si próprio, sendo legislador e súbdito ao mesmo tempo.
Vontade Geral: Rousseau defende que o Estado existe não para defender interesses particulares dos
governantes, mas sim para defender a vontade geral. A vontade geral não é consenso, nem vontade da
maioria e muito menos a soma das vontades individuais, é a vontade do corpo político, ou seja, a vontade
do Estado, que é a vontade do ―Todo‖ (a sociedade), considerada como infalível, é auto determinante, não
seria constrangida por nada, tendo o "Todo" (sociedade) se submetendo a ela, recebendo cada um parte
individual do "Todo". Nestes termos, quem não quiser voluntariamente adequar os seus comportamentos à
decisão da maioria deve ser constrangido a fazê-lo pela força. Para atingir a vontade geral é necessário que a
sociedade reduza a desigualdade social, maior educação da sociedade às expensas do Estado, pois assim as
opiniões, as leis deveriam ser aprovadas pela religião, pois "Um bom cidadão será um bom religioso".
Conceitos e principalmente vontades seriam mais próximos e estreitos. Caso haja o descumprimento da
vontade geral ou recusa a aceita-la, o indivíduo será constrangido pelo corpo, ou seja, pelos demais da
sociedade, sendo esse indivíduo forçado a ser livre e independente, sem vínculo com os outros.
O conceito de soberania popular traduz a ideia de que a soberania reside no povo. Com base neste conceito
faz a defesa da democracia direita, considerando que a democracia representativa não é uma verdadeira
democracia. Em conformidade, os projectos de leis que tivessem sido elaborados pelos representantes do
povo, só poderiam ser considerados legítimos se fossem aprovados pelo povo, através de um instrumento
democracia directa: o referendo.

2.2.3.5. Charles de Montesquieu (18 de Janeiro, 1689, – Paris, 10 de Fevereiro de 1755)


A. Vida: foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes,
actualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais, de reconhecido saber
enciclopédico e pai do constitucionalismo liberal moderno.
B. Obras: Hábil escritor concebeu livros importantes e influentes, como: ―Cartas persas (1721),
Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734) e O Espírito das leis
13
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

(1748), a sua mais famosa obra. Contribuiu também para a célebre Enciclopédia, juntamente com Diderot e
D'Alembert.
O Espírito das Leis (L'Esprit des lois, 1748),
É uma obra volumosa, na qual se discute a respeito das instituições e das leis, e busca-se compreender as
diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Esta obra inspirou os redactores da
Constituição de 1791 e tornou-se na fonte das doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação
dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Na obra, analisa de maneira extensa e profunda os fatos
humanos com um rigoroso esboço de interpretação do mundo histórico, social e político.
C. As leis: Montesquieu, na sua obra, ele pretende descobrir as leis naturais da vida social. A lei social
entende-a não como um princípio racional do qual se deve deduzir todo um sistema de normas abstractas, mas
a relação intercorrente dos fenómenos empíricos. Para ele, na sociedade, existem dois tipos de leis: leis da
natureza e leis positivas.
As leis da natureza são: 1ª Lei – igualdade de todos os seres inferiores; 2ª Lei – procura de alimentação; 3ª
Lei – encanto entre seres de sexos diferentes; 4ª Lei – desejo de viver em sociedade (exclusivo ao homem;
provém do conhecimento). Nas leis positivas temos o direito das gentes que são leis regulam a convivência
entre diferentes povos, porque os homens organizados em sociedade, perdem a fraqueza e a igualdade e
instaura-se um estado de guerra entre nações, em virtude de cada uma das nações sentir a sua força; o direito
político que se baseia no princípio de que as diversas nações devem fazer umas às outras, na paz, o maior bem
e, na guerra, o menor mal possível, sem prejudicar os seus verdadeiros interesses; e o direito civil, com
normas que regulam as relações entre os cidadãos, os governados e os governantes.

D. Classificação dos Regimes Políticos e Formas de Governo:


Montesquieu procura determinar os diversos tipos de associação política do Estado tendo em consideração a
natureza do governo e o princípio de sua actuação. Sendo assim, são tipos sociológicos fundamentais de
formas de governo: a Monarquia - soberania nas mãos de uma só pessoa (o monarca), age segundo leis
positivas e o seu princípio de actuação é a honra; Despotismo - soberania nas mãos de uma só pessoa (o
déspota, tirano) age segundo a sua vontade e o seu princípio é o medo; e a República - a soberania está nas
mãos de muitos (de todos = democracia, ou de alguns = aristocracia) e o seu princípio motor é a virtude.
São formas puras de governo a monarquia, a aristocracia e a democracia. As formas impuras do governo
são a tirania corrupção da monarquia, oligarquia corrupção da aristocracia e demagogia corrupção da
democracia.

E. A Teoria da Separação de Poderes:


Em sua filosofia política, na sua obra “O Espírito das leis”, Montesquieu propõe a divisão tripartida da
separação do poder político em poderes legislativo (exercido pelo parlamento), executivo (exercido pelo
governo) e judicial (exercido pelos tribunais), contra o poder despótico, com o fim de estabelecer condições
institucionais de liberdade política através de uma equilibrada divisão de funções entre os órgãos do Estado.
Essa separação, segundo o autor, é essencial para que haja a liberdade do cidadão em se sentir seguro perante
o Estado e perante outro cidadão, pois se fosse dado a mais de um desses poderes o poder de legislar e ao
mesmo tempo julgar essa medida seria extremamente autoritária e arbitrária perante o cidadão que estaria
praticamente indefeso, ou seja, estaria a mercê de um juiz legislador.
Exercícios: 4
1. Rousseau é um dos expoentes do iluminismo francês e autor da obra “O contrato Social”. Quais as
principais ideias expressas nessa obra?
2. “O homem nasce bom mas a sociedade é que lhe o corrompe”.
a) Com esta afirmação, Rousseau pretendia rejeitar a tese defendida por que filósofo? Qual tese é essa?
14
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

b) Caracterize o estado de natureza de Rousseau.


c) Quais são as causas da sua corrupção.
d) Como é que se soluciona o problema da corrupção do homem em Rousseau?
3. Que consequências advém para aqueles que recusarem conformar seus comportamentos à vontade
geral?
4. Moçambique é um Estado de Direito que se enquadra na Teoria de Montesquieu. Apresenta a divisão
tripartida do poder político rousseuniana presentes na organização política da sociedade moçambicana.
5. Qual é o problema que Rousseau pretendia resolver com a sua teoria de separação de poderes?
6. Diferencie o direito das gentes do direito político em Montesquieu.
7. Montesquieu procura determinar os diversos tipos de associação política do Estado. Preenche o
quadro seguinte:
Formas de Governo Titular do poder Formas de actuação Princípio de actuação
Monarquia
Despotismo
República

3. A FILOSOFIA AFRICANA

Entende-se por Filosofia Africana (F.A.) o conjunto de pensamentos relativos à emancipação do negro. A
F.A. tem por objecto de estudo os problemas concernentes a realidade do continente negro ligados à
liberdade, identidade, e autonomia existencial africana. Na preparação da Filosofia africana é importante
destacar um grupo de pensadores (os sábios africanos) cujo trabalho não chega a ser uma Filosofia no
verdadeiro sentido, pois faltava-lhes a sistematização crítica e a escrita. Temos de acolher que a reflexão sobre
a Filosofia Africana expressa-se em três domínios ou correntes da Filosofia Africana, a saber: a Etno-
filosofia, a Filosofia Política e a Filosofia Profissional que nos leva ao debate sobre a existência ou não da
Filosofia Africana e suas implicações.

3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana: Podemos falar de “Filosofia em África ou
Filosofia africana? Que implicações?”
No século XVIII, em um contexto histórico de colonização, aparece na Europa para a Filosofia o seguinte
problema: há ou não uma filosofia africana? A resposta que o debate vai produzir reflecte a visão do mundo
e a compreensão que o colonizador europeu tinha de África e do africano na época. Posteriormente, no século
XX, esse problema será levantado outra vez, graças à obra “La Philosophie Bantoue” do missionário
franciscano Placide Tempels, publicada em 1945. Tal debate ou polémica nos envia desde logo às páginas
da História Geral da África.

3.1.1. Questões históricas


Na filosofia do colonizador os africanos foram identificados como una raça sub-humana. Ora vejamos alguns
argumentos:
A Teologia definiu o negro como descendente de Caim, personagem bíblica que matou seu irmão Abel (Gn
4.15) em que se diz que tenha sido ele o pai da raça negra africana, como descendente de Cã ou Cham (Gn 9,
22 e 25), um sujeito que viu a nudez do pai. Portanto, o negro aparece como símbolo de maldição e
pertenceria a geração dos condenados de Deus.

15
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

No âmbito filo-antropológico e sócio-histórico: Voltaire afirma, na sua obra História do Século XIV, que o
povo mais elevado é o francês e o mais baixo é o africano; Montesquieu afirma que “o negro não tem
alma”; Hume diz-se inclinado a suspeitar que os negros são, por natureza, inferiores aos brancos; Jean
Jacques Rousseau vai dizer que os africanos são bons selvagens; para Hegel, ―a África está fora do
movimento da história universal, porque nela e dela não emergiram nem a razão nem a liberdade. A África ―é
o país da infância‖, é ―um Estado de inocência‖, e o negro “representa a natureza no seu estado mais
selvagem ”; “Quando olhamos para um negro, não vemos nele alguma característica que nos recorde um
homem”. A tese deste pensador é a de que no continente africano não se vislumbram traços da racionalidade,
nem existem instituições políticas consistentes, organizações sócio-políticas complexas para além de
predominar a tradição oral. Por isso que os africanos são povos sem história e, por consequência, desprovidos
de humanidade; Kant chega à conclusão de que os africanos são povos sem interesse por não ter a
racionalidade; Levy Brhul vai dizer que nós os africanos temos uma mentalidade pré-lógica; os antropólogos
Morgan e Tylor vão dizer que a África é uma sociedade morta.
Na área do Direito: Montesquieu afirmou que os africanos são povos sem leis; Luís XIV, considerado ―rei
do sol‖ escreveu O Código Negro, uma espécie de direitos dos senhores sobre os negros. Assim, o ocidente
tinha arrebatado a teoria de dominação e inferiorização dos africanos. Em Panafricanisme ou Commonisme?
George Padmore diz que este facto provocou uma crise no pensamento, na palavra e no agir do homem
africano.
O ocidentalismo promovia, directa ou indirectamente, uma antropologia triunfalista, cujas teorias e doutrina
exaltavam uma classe que se auto proclamava herdeira exclusiva da humanidade e da racionalidade. Por essa
razão, se arrogava o direito de destruir, assumir ou ―esmagar‖ outros povos. Este tipo de antropologia foi
classificado por Lecrec na sua obra ―Crítica da Antropologia‖ como um verdadeiro ―vandalismo‖ cultural,
narcisista, agressivo, destruidor. Mais tarde, as ciências sociais e humanas começaram a fazer novas
abordagens com uma nova visão em relação às outras culturas. Passou-se a reconhecer que toda a cultura
representa uma determinada civilização, independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e
económica. Hoje, o filósofo africano, partindo da sua própria história, tem um papel muito importante de
projectar o futuro homem africano, reabilitando a imagem do negro, reactivando a sua auto-estima e mostrar
que o negro é igual ao branco. Foi para responder a esta preocupação que alguns pensadores africanos
desenvolveram debates acesos sobre a existência ou não da Filosofia Africana.

3.1.2. Filosofia em África ou Filosofia africana (FA)?


O pequeno livro publicado em 1945 por um missionário belga, totalmente desconhecido no mundo dos
africanistas, o Padre Placide Tempels com o título “La Philosophie bantue”1, foi um começo de centenas de
publicações e outros trabalhos científicos – livros, artigos, memórias, teses, comunicações, etc. – Consagrados
seja na definição da FA, ou segundo casos, da filosofia de tal…, ou filosofia de tal nação africana.
Há filósofos académicos em África e fora dela em que os seus relatos foram voluntariamente escondidos dos
livros da história da filosofia, ou quando mencionados são agrupados com os filósofos Greco-Orientais.
Alguns de nós sabem pouco que Plotino, que escreveu obras em filosofia e abriu uma escola em Roma, era de
Lícon no Egipto; não sabem que a primeira mulher filósofa, Hypatia, era de Alexandria e foi morta pelos
cristãos; que nomes como Santo Agostinho, Orígenes, Cirilo e Tertuliano não são estranhos, são africanos.
Assim, começa o debate sobre a existência ou não da filosofia africana ou poderia apenas falar de
filosofia em África e quem seriam os protagonistas desta ou daquela outra filosofia. Seriam os africanos

1
T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra do Padre Tempels e falar do conteúdo da obra “La Philosophie
Bantue”. Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Hypatias, que foi a primeira mulher filósofa africana.
16
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

dentro de África ou fora dela ou ainda incluir-se-iam estrangeiros dentro de África ou ao serviço de
África?
O que é mais pertinente no nosso tema é o facto de que o que chamamos filosofia grega ou ocidental é
copiado de filosofia indígena africana de ―sistemas misteriosos‖. Todos os valores de sistemas misteriosos
foram adoptados pelos gregos jónios que vieram ao Egipto a estudar.
Os sábios africanos do passado definiram as bases culturais para uma Filosofia Africana. O seu esforço na
actividade especial não chegava, no entanto, a ser Filosofia, porque hes faltava o enfoque sistemático e
crítico.
O problema fundamental do debate é antes do objecto de estudo, os problemas concernentes a realidade do
continente negro ligados à liberdade, identidade, e autonomia existencial africana, do que o nome em si.
Até certo ponto, os críticos abrem a possibilidade da existência da filosofia africana, questionando em que
moldes tal filosofia deverá ser feita para que seja chamada filosofia africana. Neste debate sobre a Filosofia
Africana, a questão mais discutida é o estatuto da oralidade tradicional africana, problema este que se
prende-se com falta de escrita. A filosofia etíope é tida como um caso especial pela existência de uma
certa tradição de filosofia escrita.

3.2 As Principais Correntes Filosóficas Africanas: Etno-filosofia, Filosofia Política e a Filosofia


Profissional
3.2.1 A Etnofilosofia. A Oralidade e a Literalidade na Filosofia Africana
A etnofilosofia ou a corrente tradicionalista considera todos os elementos do africano presente nos contos,
lendas, fábulas, mitos, nos provérbios nas tradições africanas como sinais de existência da filosofia
africana. A etnofilosofia deriva da etnologia, que esta por sua vez deriva de etnia. Entende-se etnia ao
conjunto de indivíduos unidos por características somáticas, culturais, linguagens comuns, etc. Os
etnofilósofos são assim chamados por terem feito estudos de etnias africanas. Eles defendem que toda a
filosofia é filosofia cultural, isto é, ninguém faz filosofia sem se basear em alguma cultura. Esta escola
sustenta que a filosofia africana repousa nos provérbios, nas máximas, nos costumes que os africanos de
hoje herdaram dos seus antepassados através da tradição oral. Por isso, a função do filósofo africano no que
se refere à filosofia africana é a de coleccionar, interpretar e difundir os provérbios, contos folclóricos,
mitos e outro material deste tipo. Assim, a etno-filosofia é uma visão do mundo que se baseia em
tradições, rituais, sistemas de crenças, mitos e linguagens africanas, ou seja, é uma filosofia mítica
(existência, origem e finalidade dos africanos), cosmológica, ao debruçar-se dos modos de vida (usos e
costumes do africano) e é subjacente às estruturas linguísticas, isto é, analisa se nas estruturas
linguísticas há um pensamento coerente, lógico, que constitui a base da construção de todo o
pensamento mítico ou cosmológico. O intento dos filósofos desta corrente é provar ao homem branco,
Ocidental que em África existe filosofia. Eles estudavam um aspecto numa tribo ou num grupo étnico
particular. Esses aspectos são: a língua, o mito, a religião, as lendas, a cultura, características somáticas,
psicológicas, etc.

Representantes: Placide Tempels, Aléxis Kagame, John Mbiti, P. Laléyé, Cheik Anta Diop, A. Ndaw,
M. Sylla, M. Griaule; Leopold Senghor, etc.2

2
T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra de Alex Kagame, John Mbiti, Cheik Anta Diop e Leopold Senghor
Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Anyanwu, Franz Crahay, M. Towa, Weredu.

17
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sempre existiu filosofia africana, só que ela é diferente na
forma e no conteúdo da filosofia europeia. O padre Placide Tempels no seu livro intitulado “La Philosophie
bantue”, que sonha com uma cristianização acelerada, tem por objectivo pôr ao lume a sabedoria popular e os
sistemas de pensamento tradicionais e contribuir assim para a edificação de uma Filosofia Africana. Tempels
na sua obra Filosofia Bantu defendeu a ideia de que os Bantu não só têm uma mentalidade lógica, mas
também possuem um sistema lógico, uma filosofia positiva completa do universo, do homem e das coisas
que o rodeiam, da vida, da morte e da sobrevivência. Para Tempels os Bantu possuem uma ontologia, por
conseguinte uma filosofia.
Para Anyanw, a missão do filósofo africano é de compreender e explicar, os princípios sobre os quais se
baseia cada uma das culturas africanas. O método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste na
análise da experiência africana, da sua cultura e princípios que os rege.
Aléxis Kagame, (Padre católico do Ruanda), considerado pai da etno-filosofia por Hountondji, escreveu a
obra ―A Filosofia Bantu Ruandês do ser”, inspirando-se na filosofia aristotélica, onde na sua reflexão
desenvolveu as categorias aristotélicas do ser, através da análise gramatical rigorosa das estruturas
linguísticas. A partir desta obra, vários estudantes africanos defenderam as suas teses, cada um deles com a
filosofia bantu da sua língua vernácula (genuína, nacional ou da pátria).
Cheik Anta Diop (historiador afrocêntrico senegalês) teve como instrumento étnico a cultura. Em ―Nações
Negras e Cultura”, Diop esforça-se em mostrar as influências das culturas africanas na formação da cultura
grega que deu origem à filosofia. Ele recorda que o próprio Tales, Pitágoras, Heródoto fizeram viagens até ao
Egipto. Ele defende que ―a civilização universal foi essencialmente uma civilização africana negra‖, não só,
descobriu muitas semelhanças entre o Antigo Egipto e as culturas africanas, como também, encontra
inclusive, pontos comuns entre as línguas faraónicas antigas e as línguas africanas modernas. Sustenta ainda
que as civilizações europeias derivam do Antigo Egipto.
John Mbiti (teólogo queniano) fala da filosofia africana numa dimensão religiosa do africano, onde diz que o
africano não sabe existir sem religião. No fim ele diz que ―quem quer ser africano deve pertencer à
comunidade e envolver-se na participação das crenças, nos ritos e nas festas africanas‖. Segundo John Mbiti,
a Etnofilosofia pode ser considerada Filosofia porque na tradicão oral subjaz um pensamento
especulativo que está debaixo nos proverbios, nas maximas e nos costumes que os africanos herdaram dos
seus antepassados através da tradição oral.

Criticas: Figuram na lista dos críticos da etnofilosofia: Hountondji, Franz Crahay, E. Boulaga, M. Towa,
Oruka, Weredu, entre outros. A questão que os críticos colocam é: Uma simples catalogação de mitos,
crença e provérbios pode-se considerar filosofia africana? Pode-se falar de Física ou Química Africanas, da
mesma forma que eles falam da Filosofia Africana. Como obviamente a resposta é não, eles negam a ideia da
existência de uma Filosofia Africana.
Paulin Hountondji, ao criticar a etnofilosofia, diz que “A filosofia começa onde a opinião e a sabedoria
popular terminam”, porque ambas são uma concepção acrítica da tradição e da autoridade dos costumes.
As críticas formuladas por P. Hountondji na problemática da existência da Filosofia Africana têm a ver com
a colectividade, misticidade e oralidade dos africanos. Para Hountondji, o termo etnofilosofia significa um
trabalho desenvolvido por etnólogos com pretensão filosófica. Hountondji usou o termo ―etno-filosofia‖ para
reagir à ideia da existência da filosofia africana de Temples, que na visão de Hountondji, Temples parte dos
dados etno-filosóficos concernentes à cultura bantu e se serve do modelo filosófico da Escolástica (Aristóteles
e S. Tomas) cuja finalidade era de evangelizar, libertar teologicamente e civilizar o homem africano; a
intensidade da aspiração da vida dos bantu, a fecundidade, a união constituíra para Temples elementos
fundamentais para aprofundar o seu pensamento para defender a tese de que o comportamento dos bantus
deve ser
18
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e Paulin Hountondji é acerca do papel do estatuto da
oralidade compreendido como um comportamento racional, que se apoia num sistema coerente do
pensamento.

Contra - críticas:
K.C. Anyanwu: começa por atacar o pensamento de Hountondji ao dizer: ―há peritos que acreditam que a
filosofia é a mesma em África, na Ásia, na Europa e afirmando que uma filosofia distintamente africana, não
existe‖. Pelo contrário, toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, é filosofia condicionada e limitada pela
cultura, ou por outras palavras, o universal é sempre particular, local. A filosofia africana tem que partir
do dado concreto, isto é, a vida de cada dia, a prática dos costumes religiosos e morais, o trabalho e o tempo
de lazer.
Na visão de Kwasi Wiredu o pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos, visto
estarem relacionados com o homem e o mundo.
Para Olabiyi Babaida Yai, é necessário fazer uma discussão racional com Hountoundji que, pela sua
definição eurocêntrica da filosofia, nega a filosofia africana. Assim como o mito foi a base da filosofia grega,
pode-se dizer que a base da filosofia africana é a cultura com os seus mitos e crenças.
Segundo A. Ndaw, a Filosofia Africana precisa ter em conta a tradição a fim de que o homem negro
reencontre a sua identidade. O interesse pelos contos, provérbios, ritos de iniciação, pelos mitos deve ser
objecto da ontologia com objectivo claro de “encontrar um pensamento que nos une é comum e evitar uma
confusão entre o que pende ao racismo e um pensamento aberto, sobre o universal”. O autor acrescenta:
através dos mitos negro-africanos, “o que nós queremos atingir não são as ideologias, mas as palavras de
vida que nos permitem compreender a nós mesmos”.

3.2.2 A Filosofia Política em África: Corrente Ideológica.


Considera a filosofia como um saber virado para a libertação buscou sobretudo dar uma resposta à
exigência imediata dos problemas ligados ao colonialismo, da necessidade inadiável de aceder às
independências, assim como, ao fim à escravatura e à exploração do homem africano; à emancipação da
África nos contextos políticos, económico e social. Neste contexto a filosofia africana entende-se como
uma ideologia que acompanha todo o processo histórico e de desenvolvimento das sociedades a nível
universal. Opõe-se diante de todos os prejuízos ou das teorias que justificam o racismo e o colonialismo.
Valoriza o pan – africanismo, a negritude, a filosofia dos movimentos de libertação, O “Black
Renaissance”, “African Renaissance”, a personalidade africana, o consciencismo de Nkrumah, o
humanismo africano e o socialismo africano.

Representantes: William Edward Burghard Dubois, Marcus Garvey, Edward Blyden, Booker
Washington, Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda Eduardo C. Mondlane, Samora M.
Machel, Nelson Mandela, T. Mbeki, M. Kadaf, Albert Luthuli.

A característica fundamental da Filosofia política africana tem a ver com a luta pela liberdade das nações
africanas e a criação de um futuro sócio-económico e político de África. Muitos pensadores africanos optaram
pelo socialismo, como forma conveniente os países africanos, motivados por concepção de que a unidade da
família e da riqueza estão para o povo. A filosofia Politica Africana actualmente está preocupada com: a
independência económica africana, o tribalismo, a ditadura e a democracia.

19
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

A Filosofia política africana está estritamente ligada ao pan-africanismo, a negritude e ao renascimento


africano. Por Filosofia africana, entende-se o conjunto de pensamentos relativos à emancipação e ao
reconhecimento do homem negro, quer dentro do seu continente, quer fora dele. A filosofia política africana
será o pensamento de vários autores com objectivo principal de lutar pela liberdade política das nações
africanas, a libertação do jugo colonial, a libertação física, psíquica, política e económica do continente
africano.
São desafios actuais da Filosofia africana a criação de um futuro sócio-económico, político e o combate ao
tribalismo, a ditadura e amadurecimento da democracia em África.

O nacionalismo pode ser definido como o movimento dos povos colonizados em busca da sua liberdade. O
movimento nacionalista expressou-se de várias formas como: afirmação cultural, desobediência às
autoridades coloniais, não cooperação, criação de partidos políticos e sindicatos e criação de movimentos de
libertação nacional. Nos casos em que o colonizador não quis dar a independência pacificamente, o povo teve
que pegar em armas para conquistá-la. A este fenómeno chamou-se de luta armada.
Os movimentos nacionalistas foram influenciados por vários factores, entre os quais podemos destacar a
Revolução Americana de 1774; A Revolução Socialista de Outubro de 1917, no decurso da I Guerra Mundial;
a II Guerra Mundial; a Fundação das Nações Unidas e a Conferencia Afro-asiática de Bandung.
A filosofia dos movimentos de libertação é um saber virado para a libertação e emancipação da África nos
contextos políticos, económicos e social. Neste contexto, a filosofia política africana entende-se como uma
ideologia que acompanha todo o processo histórico de desenvolvimento das sociedades a nível universal e
opõe-se diante de todos os prejuízos ou das teorias que justificam o racismo e o colonialismo, valoriza o
renascimento do Harlem, “Black Renaissence”, “African Renaissance”, o pan - africanismo, a negritude, a
personalidade africana, o conciencismo de Nkrumah, o humanismo africano e o socialismo africano.
O Harlem Renaissance (Renascimento do Harlem) foi um movimento cultural que se estendeu a década de
1920. Durante o tempo, ele era conhecido como o "New Black Movement" (Novo Movimento Negro), em
homenagem a antologia de 1925 de Alain Locke. Congregavam-se naqueles anos poetas romancistas, artistas,
intelectuais de diversos sectores e, muito especialmente, os primeiros notórios expoentes do jazz. O
Renascimento do Harlem deixou um legado impressionante de arte, música, dança, literatura, o intelecto, a
filosofia, e talvez mais importante, os direitos civis. Embora o Renascimento foi em grande parte, no Harlem,
espalhou-se para áreas urbanas em todo o país. O renascimento negro consistia em incutir no negro a ideia de
que é igual ao branco. As grandes figuras do renascimento negro foram: W.B. Du Bois, Booker Washington
e Eduard Blyden3.

2.4.2 Pan-africanismo vs Negritude


Com o objectivo comum de lutar pela liberdade, estes dois movimentos foram desenvolvidos por estudantes e
académicos africanos residentes em Inglaterra e em França, respectivamente. O primeiro, o pan-africanismo,
lutava pela emancipação política de todos africanos, ao passo que o segundo, a negritude, lutava pela unidade
dos negros sob o ponto de vista cultural, como veremos mais pormenorizadamente na unidade didáctica que
fala sobre a filosofia africana.
O Pan-africanismo
3
Eduard Blyden (Agosto de 1832 – Fevereiro de 1912, em Serra Leo), o considerado pai da Filosofia Africana, o verdadeiro
porta-voz dos povos africanos, descriminado nos E.U.A. por causa da sua raça negra, dizia “orai, e amai a vossa raça…se
abdicardes da vossa personalidade, não havereis deixado nada ao mundo…” concebe como seu objectivo de vida mobilizar
maior número possível de negros para regressar à Libéria e, a partir daqui, espalhar a mensagem de integração assim como a
consciência para o pan-americanismo para o resto da África. As suas ideias foram postas num memorável artigo escrito e
publicado em 1857 na Monróvia com o título “A Vendicatio of Negro Race”.
20
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

O termo Pan-africanismo vem do grego, pan (toda) e africanismo (referindo-se a elementos africanos). A
origem do termo é inserido na corrente filosófica-política historicista do século XIX sobre o destino dos
povos.[2].
É discutido se a autoria da expressão pertence a William Edward Burghardt Du Bois ou Henry Sylvester
Williams.
O aparecimento do movimento pan-africano coincide com dois aspectos históricos inesquecíveis para os
africanos, nomeadamente o fim do comércio dos escravos e o início do colonialismo. A motivação do
surgimento do Pan-africanismo foi de âmbito político.
o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos direitos do povo
africano e da unidade do continente africano no âmbito de um único Estado soberano, para todos os africanos,
tanto na África como em diáspora.
A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos indivíduos na diáspora americana descendentes
de africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William
Edward Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena
política por africanos como Kwame Nkrumah.
O primeiro encontro histórico de africanos (Pan-africanismo) teve como objectivo estruturar a
ideologia necessária para unir os africanos oprimidos e escravizados realizou-se nos EUA, em 1900.
Ainda assim, o movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política
da África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos
os africanos.

A Negritude (Négritude em francês) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros
de países que foram colonizados pela França. Os objectivos da Negritude são a valorização da cultura negra
em países africanos ou com populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão
colonialista.
foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir ("O estudante negro")
e no seu livro de poemas “Cahier d’un retour au pays natal”. Com o conceito pretendia-se em primeiro lugar
reivindicar a identidade negra e sua cultura, perante a cultura francesa dominante e opressora, e que,
ademais, era o instrumento da administração colonial francesa (Discurso sobre o colonialismo, Caderno
dum retorno ao país natal etc.). O conceito foi retomado mais adiante por Leopold Sedar Senghor, que o
aprofunda, opondo a razão helénica à emoção negra. Mais tarde o próprio Césaire admitiu o conceito ser
racista e Senghor dirá, houve, no começo da filosofia da negritude, um racismo anti-racista.
Segundo Senghor, a negritude é o conjunto de valores culturais do mundo negro. Para Césaire, esta palavra
designa em primeiro lugar a repulsa. Repulsa ante a assimilação cultural; repulsa por uma determinada
imagem do negro tranquilo, incapaz de construir uma civilização. O cultural está acima do político. Jean
Paul Sartre definirá a negritude como a negação da negação do homem negro.
O projecto da Negritude resume-se em três conceitos identidade, fidelidade e solidariedade e deveu-se a
personalidades tais como Senghor, Césaire e Damas. A Negritude surge tomando várias formas e
variados nomes como Movimento do renascimento negro, segundo Du Bois; “Regresso a África”, de
Marcus Garvey e “o desenvolvimento segregado” de Booker Washington.

O Renascimento Africana é um conceito de que o povo e as nações da África devem superar os atuais
desafios com que se defronta o continente, promovendo uma renovação cultural, científica e económica. A
noção de Renascimento Africana foi inicialmente formulada pelo antropólogo e historiador senegalês Cheikh
Anta Diop, em 1946, mais tarde popularizado por Nelson Mandela (1994) e Thabo Mbeki (1999 - 2008).
O povo africano conheceu várias humilhações, facto que o levou a sentir-se inferior a outros povos, sobretudo
21
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

os europeus, que o escravizaram durante séculos. Sendo assim, é necessário desenvolver uma ideologia que
levasse o homem africano a renascer e a sentir-se um homem igual aos outros. Renascer significava tornar a
nascer. Depois do nascimento biológico, o africano precisava de voltar a nascer psicologicamente para
recuperar a auto-estima extirpada pelos colonizadores.
Azekiwe dizia ―ensinai o africano que renasce a ser homem‖, pretendendo dizer que o africano tem dignidade,
tem história, uma cultura e devia se orgulhar com isso. Nkrumah assinala que o africano é um ser espiritual,
dotado de dignidade e inteligência, é hospitaleiro, diferente do europeu que é individualista competitivo e
materialista.
Em Abril de 1997, Mbeki articulou os elementos constitutivos do Renascimento Africana como: coesão
social, democracia, reconstrução económica e crescimento e a inserção da África, de forma significativa,
no cenário geopolítico mundial.
Em 11 de Outubro de 1999, foi fundado o African Renaissance Institute (ARI) em Pretória, sediado em
Gaborone, Botswana e suas prioridades incluem o desenvolvimento de recursos humanos, ciência e
tecnologia, agricultura, nutrição e saúde, cultura, comércio, paz e boa governança na África.

Exercícios: 12
1. Qual a característica fundamental da Filosofia política africana?
2. Quais são os desafios actuais da Filosofia política africana? Desenvolva um dele.
3. A que se atribui a expressão: “A condição da libertação de África é o regresso a África”? Fale da sua
Biografia.
4. No 5º Congresso pan-africano, Du Bois passou o testemunho político a Nkrumah.
a) Quem foram Du Bois e Nkrumah na Filosofia Política Africana?
b) Fale do “Consciencismo” de Nkrumah, tendo em conta o seu papel no renascimento africano.
5. Um dos críticos do movimento da Negritude é Jean Pauls Sartre, que diz a negritude é “a negação da
negação do homem negro. Quais são as outras críticas dele e de outros autores sobre esse movimento?

3.2.3 Filosofia Profissional e Académica: a Africanidade da Filosofia


Esta corrente entende que a filosofia existe quando haja filósofos singulares, conscientes da pesquisa
filosófica, pois ser filósofo comporta em lançar-se na pesquisa livre e permanente da verdade que se expressa
e não contemplada, como acontece na religião. A Filosofia Africana como disciplina académica e profissional
tem a função importante de analisar e interpretar a realidade em geral, com relação à realidade africana.
Os críticos da etnofilosofia dizem que não podemos confundir o emprego do termo filosofia usando-o no
sentido ideológico. Filosofia é uma palavra que se usa para designar uma ciência rigorosamente científica.
Reivindicar que os africanos tenham a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem
dar ou manter a desilusão de que os africanos têm a sua filosofia, porque o que nós temos são mitos, crenças e
provérbios. Eles negam, portanto, uma filosofia estritamente africana. A questão da existência de uma
filosofia africana para encontrar solução deve levar em conta o surgimento do desenvolvimento espontâneo e
autónomo da sociedade africana. Dessa forma, os filósofos africanos estão obrigados a inventar sua própria
definição de filosofia em virtude de seu tempo e lugar.

Representantes: Paulin Hountondji, Ngoma Binda, Ntite Mukendi, Eboussi Boulaga, Franz Crahay,
Marcien Towa, Kwasi Wiredu e Odera Oruka, entre outros.
Paulin Hountondji filósofo beniniano (Benin) na sua obra ―African Philosophy, Mythe and Reality de 1974‖
torna-se um dos grandes críticos contra a existência da filosofia africana fazendo-se valer com os seguintes
argumentos:

22
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

Filosofia, no seu sentido restrito, para Hountondji é uma disciplina científica, teorética e individual, assim
como a linguística, a álgebra e, portanto, não se pode substituí-la por crenças populares, práticas
tradicionais, comportamento popular de um povo qualquer. Seria um abuso da palavra filosofia. A filosofia
não se deve identificar com o mito ou com a religião tradicional. A filosofia emerge sempre em oposição ao
mito, às religiões tradicionais e à sua respectivo dogmatismo e conservadorismo. O que é dogmático não pode
ser filosófico. Hountondji enfatiza a importância da escrita na criação de uma Filosofia Africana;
A relação filosófica para com o mito e as religiões tradicionais não é uma relação arquivista ou arqueológica
com função de sistematização e perpetuação dela, nem sequer uma protectora desse passado popular, ao
contrário, a relação da filosofia com o mito e a religião tradicional é de continuidade, transformação
consciente, crítica contínua da tradição do povo perante os desafios encarados pelo povo no presente e no
futuro. Portanto, a filosofia deve abrir os horizontes do povo para enfrentar os desafios do futuro. Querer que a
filosofia africana exista não tem sentido.
Paulin Hountondji,no fim, pensa que a Filosofia Africana deve ser um tipo de literatura produzida por
Africano e que versa sobre os problemas africanos.Todos nós concordamos que a FA não pode nascer ―ex
nihil‖ (do nada), mas que necessariamente parte da herança cultural. Contudo, esta herança cultural não
consiste necessariamente em olhar atrás. A FA deve ser uma confrontação criativa das suas ideias com o
presente e o futuro.
Hountondji afirma que o problema que se coloca é substancialmente a ideia de filosofia quando é qualificada
pela palavra africana, se esta palavra (filosofia) mantém ainda o seu significado original. Na sua opinião, é
que a universalidade da filosofia deve ser conservada. Não é que a filosofia deva tratar necessariamente os
mesmos temas ou fazer as mesmas perguntas, mas porque as diferenças de conteúdos são significativas. É
preciso notar que os primeiros propagandistas da FA foram homens da Igreja, como por exemplo: Tempels
(Belga), Aléxis Kagame (Ruandês), John Mbiti (keniano) Vicente Mulago (congolês). Estes pensadores
queriam somente encontrar bases psicológicas para implantar o Evangelho no terreno africano, sem prejudicar
a ninguém.
Quando a palavra filosofia é qualificada pela palavra africana não tem o mesmo significado que quando se
fala da filosofia ocidental do século XIX. ―Parece-me que uma palavra muda o seu significado se aplicada à
Europa, à América em vez da África. Este é um fenómeno comum, como Odera Oruka (keniano)
humoristicamente comenta: ―o que é superstição é apresentado como religião africana. O Ocidente é esperado
que diga é mesmo assim, religião africana; o que é mito é apresentado pelos africanos como filosofia africana,
e os africanos estão a espera que os ocidentais confirmem que não é mito, mas filosofia africana. O que é
claramente ditadura é considerada como democracia africana e a cultura europeia é esperada a apoiar que é
mesmo assim‖. Nós manipulamos as palavras em nome da cultura africana. O que é pseudodesenvolvimento
(desenvolvimento da elite, favoritismo) é descrito na África como desenvolvimento cultural e esperamos que
o Ocidente aplauda tudo isso como desenvolvimento africano‖. Portanto, segundo Hountondji, as palavras
mudam o seu significado quando passam do contexto europeu ao contexto africano. O papel criador da FA
tem de ser actuado por filósofos africanos que são sujeitos da actividade filosófica como os protagonistas.
A africanidade da FA só emerge a partir duma actividade filosófica de discussão, crítica dos africanos que
são filósofos. A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano. A africanidade não
consiste em falar da África ou em tratar de problemas africanos, ao contrário, consiste na partilha e na
conversa entre africanos que são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de maneira crítica e
criadora.

3.3. Filosofia africana: Que implicações?

23
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

A Filosofia africana existe. Em África há pensadores individuais académicos africanos e não africanos que
procuram livre e continuamente a verdade que se abrem ao universal, entre eles Christian Neugebauer,
Marcien Towa, Severino E. Ngoenha, Henry Odera Oruka (filósofo keniano), e Kwasi Wiredu (Ghana).
A filosofia africana deve estar ao serviço da liberdade, da dignidade humana na sua totalidade; a filosofia
africana deve essencialmente ser destinada como toda a filosofia, ao serviço do homem, homem africano
oferecendo-o possibilidades de saber descobrir pessoalmente a verdade tornando-o autónomo.
Outra das condições para a existência de uma Filosofia Africana é, segundo F. Crahay, a necessidade de
evitar os “curto-circuitos” e o “culto da diferença”. Crahay entende por “curto-circuitos” a pressão
excessiva de adoptar superficialmente os métodos e os sistemas estrangeiros, sem se impor ou tentar dominar.
O “culto da diferença” consiste em afirmar de forma excessiva a sua originalidade correndo o risco à
margem da civilização.
Os filósofos africanos não devem ter como intenção final convencer à Europa sobre a originalidade da
filosofia africana, mas de ajudar os africanos na pesquisa essencial sobre e para a África. Em outras palavras,
cabe aos filósofos africanos a missão de contribuir para a realização existencial dos africanos e de toda a
humanidade seja qual for a sua etnia, nação e continente, como desejam os filósofos profissionais ou
académicos seguintes:
Segundo Wiredu (Ghana), a Filosofia Africana existe porque responde a interrogações fundamentais do
homem. Na opinião do filósofo Keasi Wiredu, estão criadas as condições para a utilização de uma
filosofia africana, no pensamento africano tradicional, pois, encontramos em áfrica elementos que são
filosóficos relacionados com o homem e o mundo. Wiredu pensa como Hountondji que a utilização de uma
filosofia africana ainda constitui um problema, principalmente na maior parte da África Subsahariana
porque ainda há uma fraca tradição de uma filosofia escrita.
Marcien Towa: De acordo com Marcien Towa, a etnofilosofia seria uma construção colonial que possui a
pretensão de julgar a produção de conhecimento de um determinado povo enquanto atrelado à cultura e o
exercício de um pensamento subalterno. entende que “a filosofia começa com a decisão e submeter a
herança filosófica e cultural à uma crítica sem complacência”. Para este filósofo, nenhum dado, nenhuma
ideia tão venerável que seja é receptível antes de ser passada ao crivo do pensamento crítico. Por isso “nós
devemos resolver os problemas filosóficos actuais por um esforço de elucidação da nossa actual relação
com o mundo. O mundo actual não é mais aquele dos nossos antepassados; a sua concepção de mundo não
pode ser a nossa. Nós devemos chegar à uma apreensão e expressão filosófica do nosso estar-no-mundo”.
Segundo Odera Oruka “Os sábios tradicionais vivos estão destinados a converterem-se em filósofos, pois
têm a sua racionalidade elaborada para a defesa das suas doutrinas e seus pontos de vista.”
Christian Neugebauer, filósofo que escreve sobre África, diz que existe três (3) lugares possíveis para a
filosofia e para o filósofo em África: estar no Governo (a defender a política governamental); estar no
estrangeiro (como grande místico); estar no túmulo (como herói morto).
O outro desafio que se coloca é em relação à produtividade, que tem sido o centro das atenções dos povos
africanos. Severino Ngoenha (filósofo e professor moçambicano) que definiu a filosofia como um
instrumento de emancipação que ajuda a resolver os problemas da humanidade, entende que a filosofia
Africana deve ser interventiva (nas questões africanas) influenciado, assim, a política actual moçambicana
centrada no distrito. Ele escreveu, numa das suas obras que, “para se devolver aos homens o direito à
iniciativa, deve começar-se de baixo. Devem ser os distritos a exercerem as funções estatais primordiais e
depois passa para as estâncias superiores”.
Exercícios: Trabalho em grupos de 4 elementos
1. Por que é que o paradigma do pensamento africano em relação a filosofia africana é a liberdade?
2. Define-se Filosofia Africana (F.A.) como o conjunto de pensamentos relativos à emancipação do
negro.
24
ESCOLA SECUNDÁRIA FRANCISCO MANYANGA

a) O que entendes por emancipar o negro?


b) Qual é o objecto de estudo da Filosofia Africana? Justifique.
c) Por que é que se diz que na FA o trabalho dos pensadores (sábios) africanos não chegava a ser uma
filosofia no verdadeiro sentido? Argumente.
3. No debate sobre a filosofia africana, qual é a questão mais discutida? Justifica.
4. Dados os argumentos teológicos argumente concordando ou não a sua posição:
a) O negro é da descendência de Caim. b) O negro é pai da raça negra africana. c) O negro é símbolo de
maldição. d) O negro pertence à geração dos condenados de Deus.
5. A investigação filosófica em África tem três orientações tidas como principais correntes da filosofia.
a) Quais são? O que cada uma delas defende?
b) Por que é que a Filosofia Etíope é considerada um caso especial?
6. Quais são as possibilidades de fazer Filosofia em África segundo Christian Neugebauer?
7. Em que é que consiste o método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste?
8. Com que argumentos os filósofos críticos que negam a existência da Filosofia Africana? Achas
legítimo?
9. Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e Paulin Hountondji é acerca do papel do estatuto da
oralidade. Porquê?
10. Segundo Wiredu, a Filosofia Africana existe. Quais os fundamentos.
11. Por que é que para John Mbiti, a Etnofilosofia pode ser considerada Filosofia?
12. Paulin Hountondji, ao criticar a etnofilosofia, diz que “a filosofia começa onde a opinião e a
sabedoria popular terminam”. Porque?

“Aqueles que passam por nós, não vão sois, deixam um pouco de si, e tomam um pouco de nós”
Saint-Exupery

25

Você também pode gostar