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Poder político (Governantes) é definido como a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade
própria, instituir órgãos que exercem, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um território, nele criando e
executando normas jurídicas usando os necessários meios de coacção. Governante é qualquer funcionário
público que assume cargos de direcção, que dirige uma instituição pública.
c) Território. Geralmente não se concebe Estados sem território, excepcionalmente existiram Estados antes da
definitiva e fixação de fronteiras. Ex. Polónia depois da 1ª grande guerra. O território de um Estado integra o
solo e o subsolo (território terrestre); o espaço aéreo (território aéreo) e o mar território, no caso de se tratar de
um Estado ribeirinha (território marítimo).
d) A Constituição ou Carta Magna é um conjunto de regras de governo que define a política fundamental,
princípios políticos, e estabelece a estrutura, procedimentos, poderes e direitos, de um governo e garante certos
direitos para o povo. A Constituição é a estrutura de uma comunidade política organizada, a ordem necessária
que deriva da designação de um poder soberano e dos órgãos que o exercem. Dito de forma mais simples, a
constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o relacionamento de todos elementos pertencentes a
um mesmo Estado (indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). As outras leis particulares são
elaboradas com o respeito à constituição, que é lei-mãe. Por isso, mesmo os Estados absolutistas do século
XVII e os totalitaristas do século XX tiveram uma constituição. Portanto, a constituição tem a função de
traçar os princípios ideológicos da organização interna (do Estado). Para Aristóteles a constituição é ―a
estrutura que dá ordem à cidade, estabelecendo o funcionamento de todos os cargos, sobretudo da
autoridade soberana”.
A Constituição da república de Moçambique caracteriza-se por reafirmar, desenvolver e aprofundar os
princípios fundamentais do Estado moçambicano, consagrar o carácter soberano do Estado de Direito
Democrático, baseado no pluralismo de expressão, organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e
liberdades fundamentais dos cidadãos; garantir que ninguém está acima da lei e todos cidadãos devem
obedência à lei. As normas constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento
jurídico, nº4 do art. 2 da CRM.
A mudança da constituição implica a mudança de tipo de Estado, por exemplo, a Constituição de 1990 torna o
Estado moçambicano um Estado Democrático, por abrir a possibilidade da participação política através do voto
e a liberdade de reunião de associação e de formação de partidos políticos, entre várias mudanças.
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e) Soberania: De acordo com Jean Bodin, teórico da soberania, define que “A soberania é o poder absoluto e
perpétuo de um Estado ou Nação”. Para Jean Bodin, não existe outra entidade superior a ela tanto na ordem
externa como na ordem interna, é uma autoridade suprema de um país ou nação, pode ser atribuída a um grupo
de pessoas (no nosso caso, artigo 133º da CRM = são órgãos da soberania o Presidente da República, a
Assembleia da República, o Governo, os tribunais e o Conselho Constitucional), ou a um indivíduo (na
monarquia absoluta o monarca é chamado soberano ou a Deus, como no caso do Daesh = Estado Islâmico). Em
Moçambique a soberania reside no povo, Artigo 2, nº 1 da CRM.
Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através da qual as normas e decisões
elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários,
tais como: a família; a escola; a empresa, a igreja, etc. Neste sentido, no âmbito interno, a soberania estatal
traduz a superioridade de suas directrizes na organização da vida comunitária. A soberania se manifesta,
principalmente, através da constituição de um sistema de normas jurídicas capaz de estabelecer as pautas
fundamentais do comportamento humano. No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a ideia de
igualdade de todos os Estados na comunidade internacional. A soberania caracteriza-se por ser una e
indivisível, própria e não delegada, irrevogável, suprema na ordem interna e independente na ordem
internacional.
f) Símbolos Nacionais: são representações visuais, verbais ou icónicas do povo, dos valores, objectivos ou da
história nacional que pretendem unir pessoas e que são frequentemente mobilizados como parte de celebrações
de patriotismo e projectados para ser inclusivos e representativos de todas as pessoas da comunidade nacional.
Os símbolos nacionais constam do Artigo 13 da Constituição da República de Moçambique, nomeadamente: a
Bandeira Nacional; o Emblema de República de Moçambique e o Hino Nacional, Cfr. art. 297 a 299 da
CRM.
com vista à consecução de certos fins políticos ou à eleição de funcionários para o Estado, quer se trate de
órgãos para o Governo central, assembleias provinciais ou para as autarquias locais. Em regimes
democráticos, os partidos políticos sobem ao poder através de eleições. Em Moçambique, a eleição é a
escolha, por meio de sufrágios universal, directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus
representantes, por referendo sobre as grandes questões nacionais e pela permanente participação democrática
dos cidadãos na vida da Nação, Art.73 CRM. Na eleição, o povo escolhe o programa do partido que acha que
resolverá melhor os problemas do seu grupo social. Os sofistas deram um valioso contributo na política, pois,
falavam em espaço público sem reservas, eram os educadores do povo, com o intuito de formar bons cidadãos,
viajavam de cidade em cidade ensinando que a virtude fundava-se no saber e que não era hereditária. Jurgen
Habermas fala do espaço público que é o lugar onde os cidadãos discutem ideias, para o bom funcionamento
da sua sociedade.
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vez, onde não há justiça social não há respeito pelos direitos humanos. Os direitos humanos e justiça social
devem ser vistos como irmão siamês.
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O projecto de Platão para a construção de uma sociedade perfeita foi apresentado em A República. Tem na sua
base numa concepção particular de justiça, baseada no interesse geral e não no interesse individual.
Sendo a justiça uma qualidade da sociedade perfeita (ideal), Platão propõe uma sociedade dividida em três
classes sociais: classe dos trabalhadores, dos guardas e dos governantes.
i) Classe dos trabalhadores (lavradores, artesãos e comerciante). É a classe dos produtores, responsáveis
pela manutenção das demais. A eles cabe providenciar as necessidades materiais, desde o alimento até às
vestes e à habitação. A temperança é a virtude que neles deve predominar, que consiste numa espécie de
ordem, domínio e disciplina dos prazeres e desejos, supondo também a capacidade de se submeter às classes
superiores de modo conveniente. As riquezas e os bens administrados exclusivamente pelos membros dessa
classe não deverão ser nem muitos nem poucos demais.
ii) Classe dos guardas (vigilantes ou militares). Incumbidos da defesa da cidade e da preservação da ordem,
interna e externa, e cuja virtude é a fortaleza ou a coragem. Esta classe deve ser composta de homens que se
assemelham aos cães de raça, ou seja, dotados ao mesmo tempo de mansidão e ferocidade. Deverão evitar a
primeira classe produza exageradamente riqueza ou desmaiada pobreza, mas que tenha uma vida mínima e
decente.
iii) Classe dos magistrados (arcontes, governantes ou filósofos), aos quais compete o governo da cidade, a
legislação e a educação das outras classes e cujas virtudes são a prudência, sabedoria e a justiça.
À classe dos filósofos cabe dirigir a república. Com efeito, contemplam eles o mundo das ideias, conhecem a
realidade das coisas, a ordem ideal do mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana, e estão,
portanto, à altura de orientar racionalmente o homem e a sociedade para o fim verdadeiro. Tal actividade
política constitui um dever para o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim supremo é unicamente a
contemplação das ideias.
e) Formas de Governo
Na perspectiva platónica, a melhor forma de governo é aquela em que o poder é exercido pelo Rei filósofo
porque só um filósofo pode governar melhor a Cidade e a Filosofia é o caminho seguro de acesso aos
valores de justiça e do bem.
Platão formulou uma tipologia de formas de governo de natureza dinâmica e cíclica. Dinâmica, porque as
formas de governo eram passíveis de se modificarem em consequência das circunstâncias. Cíclica, porque
partia de uma forma perfeita para chegar a uma forma degenerada passível de ser transmutada na forma
perfeita ideal.
Platão classifica as formas de governo em graus de degenerescência. Os regimes vão degenerando de
Aristocracia (sofiocracia que é governo do rei-filósofo) passando para a Timocracia (governo dos ricos), a
Oligarquia (governo de poucos), a Democracia (governo das massas incapazes de actuar de acordo com a
razão) até resultar na forma de Tirania (governo de um só), a pior de todas. Nessa ocasião estariam reunidas
as condições para retomar a sofiocracia através da conversão do tirano pelo filósofo e a sua transformação em
Rei-filósofo.
Ao governante, para Platão, corresponde a função de legislar a favor do bem comum, podendo modificar as leis
segundo as circunstâncias e conforme sua prudência. Para fazer respeitar as leis, o governante deve recorrer a
razão, a qual lhe serve de fundamento. Pois, só ao governante, filósofo, pertence o mais alto grau de
racionalidade e demais virtudes.
Depois de Ter proposto o seu plano de governo na obra A República, Platão escreve ―O Político‖ na qual ele
argumenta que: "Já que é difícil encontrar o rei (governante) ideal, o poder do monarca deve substituir-se pela
ditadura da lei". Mais no final de sua vida Platão abandona um pouco o idealismo e atém-se mais a realidade.
Sua afirmação revela a reflexão que ele faz sobre a função das leis. Diz Platão que: "Um Estado, em que a Lei
depende do capricho do soberano, de por si mesma não tem força, está, a meu juízo, muito próximo da sua
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ruína. Em troca, onde a lei é senhora sobre os senhores, e estes são seus servidores, ali vejo florescer a alegria e
a propriedade que os deuses outorgam ao Estado".
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2. Na perspectiva platónica, a melhor forma de governo é aquela em que o poder é exercido pelo rei
filósofo. Este pensamento é aplicável aos dias de hoje, nos mesmos moldes em que Platão procurou
defender? Porque?
3. Porque é que Aristóteles defende que o Estado surge de forma natural e que o homem é por natureza
um animal político?
4. Aristóteles classifica os deferentes tipos de governo existentes em rectos e corruptos. Na perspectiva
deste filósofo qual é a pior e a melhor forma de governo? Justifica.
2.2.3 A Filosofia Política na Idade Moderna (Machiavelli, Hobbes, Locke e Rosseau e Montesquieu)
A Modernidade tem o seu início no século XV até aos fins do século XVIII. O marco teórico da época
moderna é a exaltação da ciência e política. Na Filosofia política da idade moderna, o pensamento
filosófico caracterizou-se pelo primado da razão humana e desinteresse pela metafísica.
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- Em razão do seu pensamento realista, Maquiavel vai ser um defensor da “razão de Estado”, isto é, da
doutrina segundo a qual o Estado deve obedecer a regras próprias de acção, diferentes das que tradicionalmente
foram ensinadas com regra moral aplicável aos indivíduos. A essência da doutrina de Maquiavel e do
maquiavelismo é, assim, que em política deve praticar-se o bem quando possível, mas fazer o mal sempre que
necessário”.
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B. Obra: As suas principais obras são: ―Ensaio sobre o Entendimento humano‖, ―Pensamentos sobre a
Educação‖ e “Dois tratados sobre o governo civil”.
C. Organização Social em Locke
Tal como Hobbes, Locke concebe a existência inicial de um estado de natureza e a passagem deste para o
estado de sociedade por via contratual com duas diferenças fundamentais:
- O estado de natureza para Locke, era um estado de perfeita liberdade e igualdade segundo a lei natural, pois
que todos os homens nascem livres e iguais; o problema residia apenas em que as diferentes interpretações da
lei natural geravam incerteza, por cada homem ser juiz de causa própria. Dai o pacto social, cuja cláusula
fundamental é a renúncia do direito de reprimir as infracções à lei natural e a sua entrega (delegação) à justiça
do Estado.
A segunda diferença consiste em Hobbes ter fundado no contrato um regime absolutista e, mais do que isso, ser
precursor dos regimes totalistas moderno, ao passo que Locke fundou o liberalismo e a doutrina da limitação
do poder com base nos direitos individuais.
- O estado de sociedade em Locke não substitui o estado de natureza, mas continua-o. Entre a sociedade e a
natureza não existe relação de oposição, mas de progressão: o estado de sociedade é o melhor que o estado de
natureza. Segundo Locke, os homens no estado de natureza são bons; porem facilmente surge entre eles
divergências; é para eliminar estas divergências que eles se constituem sociedade. A sociedade, nascida por
livre contrato, tem por escopo melhorar as relações dos indivíduos, impedindo os abusos dos direitos naturais,
como a liberdade e a propriedade. O estado não pode violar esses direitos naturais, cuja defesa constitui a única
razão da sua existência: neles encontra, portanto, o limite das suas atribuições. O cidadão pode rebelar-se, se
esses limites forem ultrapassados.
Exercício: 3
1. A concepção política de Maquiavel é consequência da sua concepção antropológica.
2. Qual é o fim último do príncipe no Estado para Maquiavel?
3. O que é que significa governar para Maquiavel? Porquê?
4. Diga como Maquiavel concebe o homem e como deve ser o comportamento do príncipe.
Comenta as seguintes expressões maquiavélicas:
5. “Os fins justificam os meios”, “razão de Estado”.
6. O governante deve partir do pressuposto de que todos os homens são réus ou seja, o príncipe deve ser
uma espécie de lobo vestido de cordeiro”
7. Explica porque é que na visão de Thomas Hobbes, no Estado Natural, o homem encontra-se
constantemente numa situação de guerra de todos contra todos, e, por isso, comporta-se, em relação aos
outros, como um verdadeiro lobo (homo homini lupus) foi?
8. “O maior dos poderes é poder do Estado, resultado da soma de poderes de todos os homens na
formação do contrato social” Thomas Hobbes.
a) De que poderes é que se trata na formulação dos poderes de Bobbio?
b) Como é que John Locke se propõe discutir os direitos do homem na sua relação com o Estado?
Porque é que para Locke, a autoridade do Estado só é legítima quando usa o poder para o bem dos
cidadãos.
2.2.3.4. Jean-Jacques Rousseau (28 de Junho de 1712, Genebra, Suíça – 02 de Julho de 1778, 66 anos,
Ermenoville, França)
A. Vida: Jean-Jacques Rousseau, simplesmente Rousseau, foi um importante filósofo, teórico político,
escritor e compositor autodidacta suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um
precursor do romantismo. Amigo de Diderot e Voltaire onde se tornaram enciclopedistas, divulgando ideias
de tolerância religiosa, confiança na razão livre, oposição à autoridade excessiva, naturalismo, entusiasmo
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pelas técnicas e pelo progresso. Os grandes princípios da filosofia rousseaniana são: o estado de natureza,
o estado de sociedade, o contrato social, a teoria da vontade geral e o conceito de soberania popular
B. obras: A sua obra política fundamental é “O Contrato Social” (1762). Outras obras com relevância
política são “Projecto para a Constituição da Córsega” (1765) e “Considerações sobre o Governo da
Polónia e sobre a sua Reforma” (1772).
(1748), a sua mais famosa obra. Contribuiu também para a célebre Enciclopédia, juntamente com Diderot e
D'Alembert.
O Espírito das Leis (L'Esprit des lois, 1748),
É uma obra volumosa, na qual se discute a respeito das instituições e das leis, e busca-se compreender as
diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Esta obra inspirou os redactores da
Constituição de 1791 e tornou-se na fonte das doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação
dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Na obra, analisa de maneira extensa e profunda os fatos
humanos com um rigoroso esboço de interpretação do mundo histórico, social e político.
C. As leis: Montesquieu, na sua obra, ele pretende descobrir as leis naturais da vida social. A lei social
entende-a não como um princípio racional do qual se deve deduzir todo um sistema de normas abstractas, mas
a relação intercorrente dos fenómenos empíricos. Para ele, na sociedade, existem dois tipos de leis: leis da
natureza e leis positivas.
As leis da natureza são: 1ª Lei – igualdade de todos os seres inferiores; 2ª Lei – procura de alimentação; 3ª
Lei – encanto entre seres de sexos diferentes; 4ª Lei – desejo de viver em sociedade (exclusivo ao homem;
provém do conhecimento). Nas leis positivas temos o direito das gentes que são leis regulam a convivência
entre diferentes povos, porque os homens organizados em sociedade, perdem a fraqueza e a igualdade e
instaura-se um estado de guerra entre nações, em virtude de cada uma das nações sentir a sua força; o direito
político que se baseia no princípio de que as diversas nações devem fazer umas às outras, na paz, o maior bem
e, na guerra, o menor mal possível, sem prejudicar os seus verdadeiros interesses; e o direito civil, com
normas que regulam as relações entre os cidadãos, os governados e os governantes.
3. A FILOSOFIA AFRICANA
Entende-se por Filosofia Africana (F.A.) o conjunto de pensamentos relativos à emancipação do negro. A
F.A. tem por objecto de estudo os problemas concernentes a realidade do continente negro ligados à
liberdade, identidade, e autonomia existencial africana. Na preparação da Filosofia africana é importante
destacar um grupo de pensadores (os sábios africanos) cujo trabalho não chega a ser uma Filosofia no
verdadeiro sentido, pois faltava-lhes a sistematização crítica e a escrita. Temos de acolher que a reflexão sobre
a Filosofia Africana expressa-se em três domínios ou correntes da Filosofia Africana, a saber: a Etno-
filosofia, a Filosofia Política e a Filosofia Profissional que nos leva ao debate sobre a existência ou não da
Filosofia Africana e suas implicações.
3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana: Podemos falar de “Filosofia em África ou
Filosofia africana? Que implicações?”
No século XVIII, em um contexto histórico de colonização, aparece na Europa para a Filosofia o seguinte
problema: há ou não uma filosofia africana? A resposta que o debate vai produzir reflecte a visão do mundo
e a compreensão que o colonizador europeu tinha de África e do africano na época. Posteriormente, no século
XX, esse problema será levantado outra vez, graças à obra “La Philosophie Bantoue” do missionário
franciscano Placide Tempels, publicada em 1945. Tal debate ou polémica nos envia desde logo às páginas
da História Geral da África.
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No âmbito filo-antropológico e sócio-histórico: Voltaire afirma, na sua obra História do Século XIV, que o
povo mais elevado é o francês e o mais baixo é o africano; Montesquieu afirma que “o negro não tem
alma”; Hume diz-se inclinado a suspeitar que os negros são, por natureza, inferiores aos brancos; Jean
Jacques Rousseau vai dizer que os africanos são bons selvagens; para Hegel, ―a África está fora do
movimento da história universal, porque nela e dela não emergiram nem a razão nem a liberdade. A África ―é
o país da infância‖, é ―um Estado de inocência‖, e o negro “representa a natureza no seu estado mais
selvagem ”; “Quando olhamos para um negro, não vemos nele alguma característica que nos recorde um
homem”. A tese deste pensador é a de que no continente africano não se vislumbram traços da racionalidade,
nem existem instituições políticas consistentes, organizações sócio-políticas complexas para além de
predominar a tradição oral. Por isso que os africanos são povos sem história e, por consequência, desprovidos
de humanidade; Kant chega à conclusão de que os africanos são povos sem interesse por não ter a
racionalidade; Levy Brhul vai dizer que nós os africanos temos uma mentalidade pré-lógica; os antropólogos
Morgan e Tylor vão dizer que a África é uma sociedade morta.
Na área do Direito: Montesquieu afirmou que os africanos são povos sem leis; Luís XIV, considerado ―rei
do sol‖ escreveu O Código Negro, uma espécie de direitos dos senhores sobre os negros. Assim, o ocidente
tinha arrebatado a teoria de dominação e inferiorização dos africanos. Em Panafricanisme ou Commonisme?
George Padmore diz que este facto provocou uma crise no pensamento, na palavra e no agir do homem
africano.
O ocidentalismo promovia, directa ou indirectamente, uma antropologia triunfalista, cujas teorias e doutrina
exaltavam uma classe que se auto proclamava herdeira exclusiva da humanidade e da racionalidade. Por essa
razão, se arrogava o direito de destruir, assumir ou ―esmagar‖ outros povos. Este tipo de antropologia foi
classificado por Lecrec na sua obra ―Crítica da Antropologia‖ como um verdadeiro ―vandalismo‖ cultural,
narcisista, agressivo, destruidor. Mais tarde, as ciências sociais e humanas começaram a fazer novas
abordagens com uma nova visão em relação às outras culturas. Passou-se a reconhecer que toda a cultura
representa uma determinada civilização, independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e
económica. Hoje, o filósofo africano, partindo da sua própria história, tem um papel muito importante de
projectar o futuro homem africano, reabilitando a imagem do negro, reactivando a sua auto-estima e mostrar
que o negro é igual ao branco. Foi para responder a esta preocupação que alguns pensadores africanos
desenvolveram debates acesos sobre a existência ou não da Filosofia Africana.
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T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra do Padre Tempels e falar do conteúdo da obra “La Philosophie
Bantue”. Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Hypatias, que foi a primeira mulher filósofa africana.
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dentro de África ou fora dela ou ainda incluir-se-iam estrangeiros dentro de África ou ao serviço de
África?
O que é mais pertinente no nosso tema é o facto de que o que chamamos filosofia grega ou ocidental é
copiado de filosofia indígena africana de ―sistemas misteriosos‖. Todos os valores de sistemas misteriosos
foram adoptados pelos gregos jónios que vieram ao Egipto a estudar.
Os sábios africanos do passado definiram as bases culturais para uma Filosofia Africana. O seu esforço na
actividade especial não chegava, no entanto, a ser Filosofia, porque hes faltava o enfoque sistemático e
crítico.
O problema fundamental do debate é antes do objecto de estudo, os problemas concernentes a realidade do
continente negro ligados à liberdade, identidade, e autonomia existencial africana, do que o nome em si.
Até certo ponto, os críticos abrem a possibilidade da existência da filosofia africana, questionando em que
moldes tal filosofia deverá ser feita para que seja chamada filosofia africana. Neste debate sobre a Filosofia
Africana, a questão mais discutida é o estatuto da oralidade tradicional africana, problema este que se
prende-se com falta de escrita. A filosofia etíope é tida como um caso especial pela existência de uma
certa tradição de filosofia escrita.
Representantes: Placide Tempels, Aléxis Kagame, John Mbiti, P. Laléyé, Cheik Anta Diop, A. Ndaw,
M. Sylla, M. Griaule; Leopold Senghor, etc.2
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T.P.C. para os voluntários do dia: investigar vida e obra de Alex Kagame, John Mbiti, Cheik Anta Diop e Leopold Senghor
Para os voluntários da próxima aula, pesquisar vida e obra de Anyanwu, Franz Crahay, M. Towa, Weredu.
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Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sempre existiu filosofia africana, só que ela é diferente na
forma e no conteúdo da filosofia europeia. O padre Placide Tempels no seu livro intitulado “La Philosophie
bantue”, que sonha com uma cristianização acelerada, tem por objectivo pôr ao lume a sabedoria popular e os
sistemas de pensamento tradicionais e contribuir assim para a edificação de uma Filosofia Africana. Tempels
na sua obra Filosofia Bantu defendeu a ideia de que os Bantu não só têm uma mentalidade lógica, mas
também possuem um sistema lógico, uma filosofia positiva completa do universo, do homem e das coisas
que o rodeiam, da vida, da morte e da sobrevivência. Para Tempels os Bantu possuem uma ontologia, por
conseguinte uma filosofia.
Para Anyanw, a missão do filósofo africano é de compreender e explicar, os princípios sobre os quais se
baseia cada uma das culturas africanas. O método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste na
análise da experiência africana, da sua cultura e princípios que os rege.
Aléxis Kagame, (Padre católico do Ruanda), considerado pai da etno-filosofia por Hountondji, escreveu a
obra ―A Filosofia Bantu Ruandês do ser”, inspirando-se na filosofia aristotélica, onde na sua reflexão
desenvolveu as categorias aristotélicas do ser, através da análise gramatical rigorosa das estruturas
linguísticas. A partir desta obra, vários estudantes africanos defenderam as suas teses, cada um deles com a
filosofia bantu da sua língua vernácula (genuína, nacional ou da pátria).
Cheik Anta Diop (historiador afrocêntrico senegalês) teve como instrumento étnico a cultura. Em ―Nações
Negras e Cultura”, Diop esforça-se em mostrar as influências das culturas africanas na formação da cultura
grega que deu origem à filosofia. Ele recorda que o próprio Tales, Pitágoras, Heródoto fizeram viagens até ao
Egipto. Ele defende que ―a civilização universal foi essencialmente uma civilização africana negra‖, não só,
descobriu muitas semelhanças entre o Antigo Egipto e as culturas africanas, como também, encontra
inclusive, pontos comuns entre as línguas faraónicas antigas e as línguas africanas modernas. Sustenta ainda
que as civilizações europeias derivam do Antigo Egipto.
John Mbiti (teólogo queniano) fala da filosofia africana numa dimensão religiosa do africano, onde diz que o
africano não sabe existir sem religião. No fim ele diz que ―quem quer ser africano deve pertencer à
comunidade e envolver-se na participação das crenças, nos ritos e nas festas africanas‖. Segundo John Mbiti,
a Etnofilosofia pode ser considerada Filosofia porque na tradicão oral subjaz um pensamento
especulativo que está debaixo nos proverbios, nas maximas e nos costumes que os africanos herdaram dos
seus antepassados através da tradição oral.
Criticas: Figuram na lista dos críticos da etnofilosofia: Hountondji, Franz Crahay, E. Boulaga, M. Towa,
Oruka, Weredu, entre outros. A questão que os críticos colocam é: Uma simples catalogação de mitos,
crença e provérbios pode-se considerar filosofia africana? Pode-se falar de Física ou Química Africanas, da
mesma forma que eles falam da Filosofia Africana. Como obviamente a resposta é não, eles negam a ideia da
existência de uma Filosofia Africana.
Paulin Hountondji, ao criticar a etnofilosofia, diz que “A filosofia começa onde a opinião e a sabedoria
popular terminam”, porque ambas são uma concepção acrítica da tradição e da autoridade dos costumes.
As críticas formuladas por P. Hountondji na problemática da existência da Filosofia Africana têm a ver com
a colectividade, misticidade e oralidade dos africanos. Para Hountondji, o termo etnofilosofia significa um
trabalho desenvolvido por etnólogos com pretensão filosófica. Hountondji usou o termo ―etno-filosofia‖ para
reagir à ideia da existência da filosofia africana de Temples, que na visão de Hountondji, Temples parte dos
dados etno-filosóficos concernentes à cultura bantu e se serve do modelo filosófico da Escolástica (Aristóteles
e S. Tomas) cuja finalidade era de evangelizar, libertar teologicamente e civilizar o homem africano; a
intensidade da aspiração da vida dos bantu, a fecundidade, a união constituíra para Temples elementos
fundamentais para aprofundar o seu pensamento para defender a tese de que o comportamento dos bantus
deve ser
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Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e Paulin Hountondji é acerca do papel do estatuto da
oralidade compreendido como um comportamento racional, que se apoia num sistema coerente do
pensamento.
Contra - críticas:
K.C. Anyanwu: começa por atacar o pensamento de Hountondji ao dizer: ―há peritos que acreditam que a
filosofia é a mesma em África, na Ásia, na Europa e afirmando que uma filosofia distintamente africana, não
existe‖. Pelo contrário, toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, é filosofia condicionada e limitada pela
cultura, ou por outras palavras, o universal é sempre particular, local. A filosofia africana tem que partir
do dado concreto, isto é, a vida de cada dia, a prática dos costumes religiosos e morais, o trabalho e o tempo
de lazer.
Na visão de Kwasi Wiredu o pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos, visto
estarem relacionados com o homem e o mundo.
Para Olabiyi Babaida Yai, é necessário fazer uma discussão racional com Hountoundji que, pela sua
definição eurocêntrica da filosofia, nega a filosofia africana. Assim como o mito foi a base da filosofia grega,
pode-se dizer que a base da filosofia africana é a cultura com os seus mitos e crenças.
Segundo A. Ndaw, a Filosofia Africana precisa ter em conta a tradição a fim de que o homem negro
reencontre a sua identidade. O interesse pelos contos, provérbios, ritos de iniciação, pelos mitos deve ser
objecto da ontologia com objectivo claro de “encontrar um pensamento que nos une é comum e evitar uma
confusão entre o que pende ao racismo e um pensamento aberto, sobre o universal”. O autor acrescenta:
através dos mitos negro-africanos, “o que nós queremos atingir não são as ideologias, mas as palavras de
vida que nos permitem compreender a nós mesmos”.
Representantes: William Edward Burghard Dubois, Marcus Garvey, Edward Blyden, Booker
Washington, Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda Eduardo C. Mondlane, Samora M.
Machel, Nelson Mandela, T. Mbeki, M. Kadaf, Albert Luthuli.
A característica fundamental da Filosofia política africana tem a ver com a luta pela liberdade das nações
africanas e a criação de um futuro sócio-económico e político de África. Muitos pensadores africanos optaram
pelo socialismo, como forma conveniente os países africanos, motivados por concepção de que a unidade da
família e da riqueza estão para o povo. A filosofia Politica Africana actualmente está preocupada com: a
independência económica africana, o tribalismo, a ditadura e a democracia.
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O nacionalismo pode ser definido como o movimento dos povos colonizados em busca da sua liberdade. O
movimento nacionalista expressou-se de várias formas como: afirmação cultural, desobediência às
autoridades coloniais, não cooperação, criação de partidos políticos e sindicatos e criação de movimentos de
libertação nacional. Nos casos em que o colonizador não quis dar a independência pacificamente, o povo teve
que pegar em armas para conquistá-la. A este fenómeno chamou-se de luta armada.
Os movimentos nacionalistas foram influenciados por vários factores, entre os quais podemos destacar a
Revolução Americana de 1774; A Revolução Socialista de Outubro de 1917, no decurso da I Guerra Mundial;
a II Guerra Mundial; a Fundação das Nações Unidas e a Conferencia Afro-asiática de Bandung.
A filosofia dos movimentos de libertação é um saber virado para a libertação e emancipação da África nos
contextos políticos, económicos e social. Neste contexto, a filosofia política africana entende-se como uma
ideologia que acompanha todo o processo histórico de desenvolvimento das sociedades a nível universal e
opõe-se diante de todos os prejuízos ou das teorias que justificam o racismo e o colonialismo, valoriza o
renascimento do Harlem, “Black Renaissence”, “African Renaissance”, o pan - africanismo, a negritude, a
personalidade africana, o conciencismo de Nkrumah, o humanismo africano e o socialismo africano.
O Harlem Renaissance (Renascimento do Harlem) foi um movimento cultural que se estendeu a década de
1920. Durante o tempo, ele era conhecido como o "New Black Movement" (Novo Movimento Negro), em
homenagem a antologia de 1925 de Alain Locke. Congregavam-se naqueles anos poetas romancistas, artistas,
intelectuais de diversos sectores e, muito especialmente, os primeiros notórios expoentes do jazz. O
Renascimento do Harlem deixou um legado impressionante de arte, música, dança, literatura, o intelecto, a
filosofia, e talvez mais importante, os direitos civis. Embora o Renascimento foi em grande parte, no Harlem,
espalhou-se para áreas urbanas em todo o país. O renascimento negro consistia em incutir no negro a ideia de
que é igual ao branco. As grandes figuras do renascimento negro foram: W.B. Du Bois, Booker Washington
e Eduard Blyden3.
O termo Pan-africanismo vem do grego, pan (toda) e africanismo (referindo-se a elementos africanos). A
origem do termo é inserido na corrente filosófica-política historicista do século XIX sobre o destino dos
povos.[2].
É discutido se a autoria da expressão pertence a William Edward Burghardt Du Bois ou Henry Sylvester
Williams.
O aparecimento do movimento pan-africano coincide com dois aspectos históricos inesquecíveis para os
africanos, nomeadamente o fim do comércio dos escravos e o início do colonialismo. A motivação do
surgimento do Pan-africanismo foi de âmbito político.
o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos direitos do povo
africano e da unidade do continente africano no âmbito de um único Estado soberano, para todos os africanos,
tanto na África como em diáspora.
A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos indivíduos na diáspora americana descendentes
de africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William
Edward Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena
política por africanos como Kwame Nkrumah.
O primeiro encontro histórico de africanos (Pan-africanismo) teve como objectivo estruturar a
ideologia necessária para unir os africanos oprimidos e escravizados realizou-se nos EUA, em 1900.
Ainda assim, o movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política
da África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos
os africanos.
A Negritude (Négritude em francês) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros
de países que foram colonizados pela França. Os objectivos da Negritude são a valorização da cultura negra
em países africanos ou com populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão
colonialista.
foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir ("O estudante negro")
e no seu livro de poemas “Cahier d’un retour au pays natal”. Com o conceito pretendia-se em primeiro lugar
reivindicar a identidade negra e sua cultura, perante a cultura francesa dominante e opressora, e que,
ademais, era o instrumento da administração colonial francesa (Discurso sobre o colonialismo, Caderno
dum retorno ao país natal etc.). O conceito foi retomado mais adiante por Leopold Sedar Senghor, que o
aprofunda, opondo a razão helénica à emoção negra. Mais tarde o próprio Césaire admitiu o conceito ser
racista e Senghor dirá, houve, no começo da filosofia da negritude, um racismo anti-racista.
Segundo Senghor, a negritude é o conjunto de valores culturais do mundo negro. Para Césaire, esta palavra
designa em primeiro lugar a repulsa. Repulsa ante a assimilação cultural; repulsa por uma determinada
imagem do negro tranquilo, incapaz de construir uma civilização. O cultural está acima do político. Jean
Paul Sartre definirá a negritude como a negação da negação do homem negro.
O projecto da Negritude resume-se em três conceitos identidade, fidelidade e solidariedade e deveu-se a
personalidades tais como Senghor, Césaire e Damas. A Negritude surge tomando várias formas e
variados nomes como Movimento do renascimento negro, segundo Du Bois; “Regresso a África”, de
Marcus Garvey e “o desenvolvimento segregado” de Booker Washington.
O Renascimento Africana é um conceito de que o povo e as nações da África devem superar os atuais
desafios com que se defronta o continente, promovendo uma renovação cultural, científica e económica. A
noção de Renascimento Africana foi inicialmente formulada pelo antropólogo e historiador senegalês Cheikh
Anta Diop, em 1946, mais tarde popularizado por Nelson Mandela (1994) e Thabo Mbeki (1999 - 2008).
O povo africano conheceu várias humilhações, facto que o levou a sentir-se inferior a outros povos, sobretudo
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os europeus, que o escravizaram durante séculos. Sendo assim, é necessário desenvolver uma ideologia que
levasse o homem africano a renascer e a sentir-se um homem igual aos outros. Renascer significava tornar a
nascer. Depois do nascimento biológico, o africano precisava de voltar a nascer psicologicamente para
recuperar a auto-estima extirpada pelos colonizadores.
Azekiwe dizia ―ensinai o africano que renasce a ser homem‖, pretendendo dizer que o africano tem dignidade,
tem história, uma cultura e devia se orgulhar com isso. Nkrumah assinala que o africano é um ser espiritual,
dotado de dignidade e inteligência, é hospitaleiro, diferente do europeu que é individualista competitivo e
materialista.
Em Abril de 1997, Mbeki articulou os elementos constitutivos do Renascimento Africana como: coesão
social, democracia, reconstrução económica e crescimento e a inserção da África, de forma significativa,
no cenário geopolítico mundial.
Em 11 de Outubro de 1999, foi fundado o African Renaissance Institute (ARI) em Pretória, sediado em
Gaborone, Botswana e suas prioridades incluem o desenvolvimento de recursos humanos, ciência e
tecnologia, agricultura, nutrição e saúde, cultura, comércio, paz e boa governança na África.
Exercícios: 12
1. Qual a característica fundamental da Filosofia política africana?
2. Quais são os desafios actuais da Filosofia política africana? Desenvolva um dele.
3. A que se atribui a expressão: “A condição da libertação de África é o regresso a África”? Fale da sua
Biografia.
4. No 5º Congresso pan-africano, Du Bois passou o testemunho político a Nkrumah.
a) Quem foram Du Bois e Nkrumah na Filosofia Política Africana?
b) Fale do “Consciencismo” de Nkrumah, tendo em conta o seu papel no renascimento africano.
5. Um dos críticos do movimento da Negritude é Jean Pauls Sartre, que diz a negritude é “a negação da
negação do homem negro. Quais são as outras críticas dele e de outros autores sobre esse movimento?
Representantes: Paulin Hountondji, Ngoma Binda, Ntite Mukendi, Eboussi Boulaga, Franz Crahay,
Marcien Towa, Kwasi Wiredu e Odera Oruka, entre outros.
Paulin Hountondji filósofo beniniano (Benin) na sua obra ―African Philosophy, Mythe and Reality de 1974‖
torna-se um dos grandes críticos contra a existência da filosofia africana fazendo-se valer com os seguintes
argumentos:
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Filosofia, no seu sentido restrito, para Hountondji é uma disciplina científica, teorética e individual, assim
como a linguística, a álgebra e, portanto, não se pode substituí-la por crenças populares, práticas
tradicionais, comportamento popular de um povo qualquer. Seria um abuso da palavra filosofia. A filosofia
não se deve identificar com o mito ou com a religião tradicional. A filosofia emerge sempre em oposição ao
mito, às religiões tradicionais e à sua respectivo dogmatismo e conservadorismo. O que é dogmático não pode
ser filosófico. Hountondji enfatiza a importância da escrita na criação de uma Filosofia Africana;
A relação filosófica para com o mito e as religiões tradicionais não é uma relação arquivista ou arqueológica
com função de sistematização e perpetuação dela, nem sequer uma protectora desse passado popular, ao
contrário, a relação da filosofia com o mito e a religião tradicional é de continuidade, transformação
consciente, crítica contínua da tradição do povo perante os desafios encarados pelo povo no presente e no
futuro. Portanto, a filosofia deve abrir os horizontes do povo para enfrentar os desafios do futuro. Querer que a
filosofia africana exista não tem sentido.
Paulin Hountondji,no fim, pensa que a Filosofia Africana deve ser um tipo de literatura produzida por
Africano e que versa sobre os problemas africanos.Todos nós concordamos que a FA não pode nascer ―ex
nihil‖ (do nada), mas que necessariamente parte da herança cultural. Contudo, esta herança cultural não
consiste necessariamente em olhar atrás. A FA deve ser uma confrontação criativa das suas ideias com o
presente e o futuro.
Hountondji afirma que o problema que se coloca é substancialmente a ideia de filosofia quando é qualificada
pela palavra africana, se esta palavra (filosofia) mantém ainda o seu significado original. Na sua opinião, é
que a universalidade da filosofia deve ser conservada. Não é que a filosofia deva tratar necessariamente os
mesmos temas ou fazer as mesmas perguntas, mas porque as diferenças de conteúdos são significativas. É
preciso notar que os primeiros propagandistas da FA foram homens da Igreja, como por exemplo: Tempels
(Belga), Aléxis Kagame (Ruandês), John Mbiti (keniano) Vicente Mulago (congolês). Estes pensadores
queriam somente encontrar bases psicológicas para implantar o Evangelho no terreno africano, sem prejudicar
a ninguém.
Quando a palavra filosofia é qualificada pela palavra africana não tem o mesmo significado que quando se
fala da filosofia ocidental do século XIX. ―Parece-me que uma palavra muda o seu significado se aplicada à
Europa, à América em vez da África. Este é um fenómeno comum, como Odera Oruka (keniano)
humoristicamente comenta: ―o que é superstição é apresentado como religião africana. O Ocidente é esperado
que diga é mesmo assim, religião africana; o que é mito é apresentado pelos africanos como filosofia africana,
e os africanos estão a espera que os ocidentais confirmem que não é mito, mas filosofia africana. O que é
claramente ditadura é considerada como democracia africana e a cultura europeia é esperada a apoiar que é
mesmo assim‖. Nós manipulamos as palavras em nome da cultura africana. O que é pseudodesenvolvimento
(desenvolvimento da elite, favoritismo) é descrito na África como desenvolvimento cultural e esperamos que
o Ocidente aplauda tudo isso como desenvolvimento africano‖. Portanto, segundo Hountondji, as palavras
mudam o seu significado quando passam do contexto europeu ao contexto africano. O papel criador da FA
tem de ser actuado por filósofos africanos que são sujeitos da actividade filosófica como os protagonistas.
A africanidade da FA só emerge a partir duma actividade filosófica de discussão, crítica dos africanos que
são filósofos. A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano. A africanidade não
consiste em falar da África ou em tratar de problemas africanos, ao contrário, consiste na partilha e na
conversa entre africanos que são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de maneira crítica e
criadora.
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A Filosofia africana existe. Em África há pensadores individuais académicos africanos e não africanos que
procuram livre e continuamente a verdade que se abrem ao universal, entre eles Christian Neugebauer,
Marcien Towa, Severino E. Ngoenha, Henry Odera Oruka (filósofo keniano), e Kwasi Wiredu (Ghana).
A filosofia africana deve estar ao serviço da liberdade, da dignidade humana na sua totalidade; a filosofia
africana deve essencialmente ser destinada como toda a filosofia, ao serviço do homem, homem africano
oferecendo-o possibilidades de saber descobrir pessoalmente a verdade tornando-o autónomo.
Outra das condições para a existência de uma Filosofia Africana é, segundo F. Crahay, a necessidade de
evitar os “curto-circuitos” e o “culto da diferença”. Crahay entende por “curto-circuitos” a pressão
excessiva de adoptar superficialmente os métodos e os sistemas estrangeiros, sem se impor ou tentar dominar.
O “culto da diferença” consiste em afirmar de forma excessiva a sua originalidade correndo o risco à
margem da civilização.
Os filósofos africanos não devem ter como intenção final convencer à Europa sobre a originalidade da
filosofia africana, mas de ajudar os africanos na pesquisa essencial sobre e para a África. Em outras palavras,
cabe aos filósofos africanos a missão de contribuir para a realização existencial dos africanos e de toda a
humanidade seja qual for a sua etnia, nação e continente, como desejam os filósofos profissionais ou
académicos seguintes:
Segundo Wiredu (Ghana), a Filosofia Africana existe porque responde a interrogações fundamentais do
homem. Na opinião do filósofo Keasi Wiredu, estão criadas as condições para a utilização de uma
filosofia africana, no pensamento africano tradicional, pois, encontramos em áfrica elementos que são
filosóficos relacionados com o homem e o mundo. Wiredu pensa como Hountondji que a utilização de uma
filosofia africana ainda constitui um problema, principalmente na maior parte da África Subsahariana
porque ainda há uma fraca tradição de uma filosofia escrita.
Marcien Towa: De acordo com Marcien Towa, a etnofilosofia seria uma construção colonial que possui a
pretensão de julgar a produção de conhecimento de um determinado povo enquanto atrelado à cultura e o
exercício de um pensamento subalterno. entende que “a filosofia começa com a decisão e submeter a
herança filosófica e cultural à uma crítica sem complacência”. Para este filósofo, nenhum dado, nenhuma
ideia tão venerável que seja é receptível antes de ser passada ao crivo do pensamento crítico. Por isso “nós
devemos resolver os problemas filosóficos actuais por um esforço de elucidação da nossa actual relação
com o mundo. O mundo actual não é mais aquele dos nossos antepassados; a sua concepção de mundo não
pode ser a nossa. Nós devemos chegar à uma apreensão e expressão filosófica do nosso estar-no-mundo”.
Segundo Odera Oruka “Os sábios tradicionais vivos estão destinados a converterem-se em filósofos, pois
têm a sua racionalidade elaborada para a defesa das suas doutrinas e seus pontos de vista.”
Christian Neugebauer, filósofo que escreve sobre África, diz que existe três (3) lugares possíveis para a
filosofia e para o filósofo em África: estar no Governo (a defender a política governamental); estar no
estrangeiro (como grande místico); estar no túmulo (como herói morto).
O outro desafio que se coloca é em relação à produtividade, que tem sido o centro das atenções dos povos
africanos. Severino Ngoenha (filósofo e professor moçambicano) que definiu a filosofia como um
instrumento de emancipação que ajuda a resolver os problemas da humanidade, entende que a filosofia
Africana deve ser interventiva (nas questões africanas) influenciado, assim, a política actual moçambicana
centrada no distrito. Ele escreveu, numa das suas obras que, “para se devolver aos homens o direito à
iniciativa, deve começar-se de baixo. Devem ser os distritos a exercerem as funções estatais primordiais e
depois passa para as estâncias superiores”.
Exercícios: Trabalho em grupos de 4 elementos
1. Por que é que o paradigma do pensamento africano em relação a filosofia africana é a liberdade?
2. Define-se Filosofia Africana (F.A.) como o conjunto de pensamentos relativos à emancipação do
negro.
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“Aqueles que passam por nós, não vão sois, deixam um pouco de si, e tomam um pouco de nós”
Saint-Exupery
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