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TEXTO DE APOIO 12ª CLASSE II TRIMESTRE

Noções gerais da Filosofia Política

Definição etimológica da política

O conceito «Política» na palavra grega «polis» que significa cidade. Política significa,
etimologicamente, a arte de administrar (governar) a cidade.

O termo «política» foi usado durante séculos para designar principalmente as obras
dedicadas ao estudo das coisas que se referem ao Estado (res publicam – república).
Segundo Aristóteles, política é arte de governar, ou seja a ciência do governo.

O conceito político, entendido como forma de actividade humana, está ligado ao poder.
E segundo Norberdo Bobbio, existem três formas de poder: económico, ideológico e
político.

Poder económico- tem a ver com a posse de bens.

Poder ideológico – baseia-se na influência que os detentores do poder exercem sobre os


demais, determinando-lhes comportamentos.

Neste caso, quando falamos de detentores referimo-nos aos sacerdotes, pastores e


líderes.

Poder político – é a faculdade que um povo possui de, por autoridade própria, instituir
os órgãos que exerçam a governação de um território e nele criem e imponham normas
jurídicas, dispondo de meios de coacção.

Filosofia Política e a sua relação com a Política

A Filosofia é a reflexão e fundamentação dos actos políticos. Cabe à Filosofia


fundamentar e esclarecer os conceitos usados em política tais como justiça, bem
comum, Estado, tolerância, sociedade e até o próprio conceito de política. A Política,
enquanto necessidade humana, tem uma finalidade: discernir os fins sociais
considerados prioritários para a sociedade. Existe um ponto comum entre a política e a
filosofia política. O elemento comum é que tanto a política assim como a filosofia
política tratam da própria política enquanto ciência ou arte de governar.

Porém existem diferenças entre elas: A política enquanto ciência trata das estruturas
políticas, da organização política, da composição dos partidos, das estratégias eleitorais,
estuda a acção governamental (planos estratégicos do governo), estuda as reacções dos
governados perante as entidades governamentais. A passo que a filosofia política ocupa-
se em perceber a essência política, analisa as condições da emergência da coisa pública
(res publica), a melhor forma da comunidade política (Estado), os fundamentos da
justiça social, a justificação e a legitimação do poder e do Estado, a questão da
explicação das desigualdades entre homens na mesma comunidade política.
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Ética política

Em quase todas as sociedades parece haver uma aceitação de que o político deve
comportar-se à margem da moral. O que não é permitido na sociedade em geral, é pelo
menos tolerável quando se trata de um político. Esses comportamentos não podem ser
aceites politicamente. O político deve comportar-se eticamente nas suas acções
políticas; a política deve estar assente em bases morais. Quando se fala da moral em
política refere-se à moral social e não à moral individual; a moral no que concerne às
acções de um indivíduo e que interferem na esfera das actividades de outros indivíduos.
Como vê, os políticos não são autorizados eticamente a fazer aquilo que bem entendem,
mas sim antes de o praticarem devem chamar a voz da razão para julgar primeiro se é
correcto praticar o acto ou não.

Noções básicas sobre Estado/Nação, Elementos do Estado, Símbolos Nacionais

Estado – Estado é a sociedade organizada, dotada de um governo e considerada como


instância moral face às outras sociedades organizadas de modo semelhante. O Estado
implica a existência de instituições políticas, jurídicas, militares, administrativas. O
território do Estado inclui todas as divisões administrativas.

Nação - é a versão moderna da comunidade política (Estado). A Nação ou Estado detém


o princípio de soberania. (absolutamente independente; um povo livre).

Elementos do estado

Governantes - Aqueles que governam.

Governados - O cidadão comum.

Constituição - É a lei fundamental que regula os direitos, deveres e garantias dos


cidadãos em relação ao Estado e a organização política de um país.

Os símbolos nacionais são: Bandeira nacional, Hino Nacional e Emblema da


República.

Governo – é o conjunto de pessoas que detém cargos oficiais e que exercem autoridade
em nome do Estado e que lhe foi conferida pelo povo.

Participação política dos cidadãos

Quando se fala de participação política do cidadão, uma das formas é essa – os debates
públicos. É nos debates públicos onde o cidadão expõe as suas ideias, dá as suas
opiniões com vista ao melhoramento e ao bem-estar da sua sociedade. A outra forma de
participação do cidadão na política é exercendo o seu direito de voto. Portanto, se você
está em idade de votar, tem mais uma oportunidade de participar na política. E mais
ainda, a outra forma de participação na política do cidadão é fazer parte de um partido
político, porque é a partir desse partido que você poderá contribuir com as ideias
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comuns do partido com vista ao melhoramento da sua sociedade. Portanto, caro aluno,
são estas, entre outras, as formas de participação política.

Direitos humanos e justiça social

Direito é tudo aquilo que nos pertence e que precisamos de tê-lo. E portanto os direitos
humanos são um conjunto de princípios essenciais à existência humana condigna e que
apelam a um reconhecimento mútuo entre homens enquanto seres de direito. Entre
tantos direitos humanos que o ser humano tem, os básicos são: direito a vida, a saúde,
boa alimentação, a educação. A declaração universal dos direitos humanos foi adoptada
pela ONU a 10 de Dezembro de 1948.

Justiça social

A Justiça social preconiza a redistribuição equitativa do bem comum, a distribuição


justa do rendimento ou da riqueza de acordo com as necessidades das pessoas. Por isso,
há uma relação estreita entre os direitos humanos e justiça social, uma vez que a justiça
social preconiza criação de condições razoáveis para a existência humana: onde não se
respeitam os direitos humanos não há justiça social e vice-versa.

Estado de direito e suas funções

Um Estado de direito é aquele em que todos os membros dessa sociedade estão


submetidos à mesma lei e ninguém está acima dessa mesma lei. Num Estado de direito,
há respeito pela hierarquia das normas, separação de poderes e por conseguinte há
respeito pelos direitos fundamentais.

Funções do Estado

Uma boa família é aquela em que os pais prestam os cuidados necessários aos filhos e
estes cumprem as orientações dos pais de uma forma crítica. De um modo geral, são
consideradas três funções do Estado: segurança, justiça e bem-estar. Num Estado de
direito todos os membros do Estado são submetidos a mesma lei.

• Num Estado de direito ninguém está acima da lei (a constituição).

• Num Estado de direito existe separação dos poderes.

• A função do Estado é segurança justiça e bem-estar.

Filosofia política na Antiguidade

Os Sofistas

Os sofistas foram os primeiros filósofos que se desviaram da questão tradicional que se


centrava no estudo da natureza, centrando as suas atenções no Homem e nas questões da
moral e da política. Os sofistas eram homens bem preparados, cuja missão era de educar
os jovens de modo a se prepararem melhor e serem capazes de assumir tarefas na
sociedade.
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Na política, foram os primeiros a elaborar o ideal da democracia: todos os cidadãos


devem ter o direito de exercício do poder. Para os sofistas a justiça passa a ser uma das
maiores virtudes.

Os representantes máximos dos sofistas são: Protágoras, Górgias, Trasímaco, Pródico e


Hipódamo.

Platão (428 – 347 a. C.)

Obra com relevância política: A República

Platão defende que o Estado tem uma origem convencional, pois este resulta do facto do
homem não ser auto-suficiente, pois, nenhum homem pode ser, ao mesmo tempo,
professor, médico, mecânico, advogado, etc.). Daí a necessidade de associar-se a outros
homens para com eles dividir as várias tarefas e beneficiar-se do trabalho dos outros.
No Estado ideal de Platão a sociedade divide-se em três classes, cada uma com
respectiva função e virtude, segundo a teoria dos metais das almas dos seus membros.

 Classe dos Magistrados/Filósofos (metal ouro – alma racional ou


intelectual): mente do Estado. Deveriam possuir a virtude da sabedoria.
 Classe dos Guerreiros ou guardas (metal prata - alma irascível ou colérica):
o peito, o coração da sociedade; encarregados da defesa; não teriam direitos
políticos. Deveriam possuir a virtude da fortaleza
 Classe dos trabalhadores (metal bronze – alma concupiscente ou desejante):
encarregados da subsistência, não teriam nenhum direito político. Exercitariam a
virtude da temperança (camponeses, operários, artesãos e comerciantes).

Para Platão a melhor forma de governo é monarquia sob o comando do Filósofo-rei, que
governaria a polis com justiça e preservaria a sua unidade.

Aristóteles Obra com relevância: A Constituição de Atenas

Aristóteles considera o homem como ―animal político‖, animal que tende a viver em
sociedade por sua própria natureza. Aquele que não necessita a vida em sociedade ou é
um Deus, que não depende de ninguém, ou é um animal bestial, isto é, animal
irracional.

Para Aristóteles o Estado tem uma origem natural e este forma-se de modo gradual,
começando pelas uniões civis mais simples (a homem e mulher que formam uma
família) até a das grandes comunidades (aldeias, povoados). Aristóteles distingue as
formas de governos rectos dos corruptos ou degenerados:

Governos ou regimes políticos rectos

Aristocracia Governo de alguns homens, aristocratas, que considera o bem comum.


Monarquia Governo de um só homem, o monarca, que considera o bem comum.
Polítea (governo constitucional) Governo de muitos homens, mas que considera o bem
comum.
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Governos ou regimes degenerados ou corruptos

Tirania Governo de um homem que só considera o bem do governante.

Oligarquia Governo de alguns homens que só considera o bem dos ricos.

Democracia Governo de muitos que só considera o bem dos pobres.

Filosofia Política na Idade Média:

Santo Agostinho Obra com relevância política: A Cidade de Deus/De Civitate Dei
Para Santo Agostinho o mundo divide-se em duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade
terrena. A cidade de Deus caracteriza-se por reunir os eleitos de Deus que vivem na
base dos mandamentos da lei de Deus. A cidade terrena caracteriza-se por conflitos
constantes e injustiças. Nele os homens vivem na base de leis próprias. A Igreja é a
encarnação da cidade de Deus e o Estado é a encarnação da cidade terrena. O Homem
precisa do Estado para obrigar os membros da comunidade ao cumprimento da lei.
Santo Agostinho defende a existência da autoridade política, para que se mantenha a
paz, a justiça, a ordem e a segurança. A autoridade política é entendida como uma
dádiva divina aos seres humanos.

São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino nasce na Itália (Roma). O seu pensamento político centra-se na sua
obra «O Governo dos Príncipes». Nesta, ele fala da origem do Estado, natureza do
Estado, melhor forma de governação e a relação entre o Estado e a Igreja. Ora, você
agora vai começar a aprender cada um destes pontos na perspectiva deste filósofo
cristão.

No que toca a origem do Estado, Tomás não toma a concepção de Santo Agostinho de
que o Estado nasceu do pecado original, mas concorda com Aristóteles ao afirmar que o
Estado nasce da natureza social do homem.

No que diz respeito à natureza do Estado, Tomás Aquino diz que o Estado é uma
sociedade, uma sociedade perfeita. Para ele, o Estado é uma sociedade porque consiste
na reunião de indivíduos que pretendem fazer coisas em comum. E diz que o Estado é
uma sociedade perfeita porque tem um fim próprio – O bem comum. O Estado tem
meios suficientes para proporcionar um modo de vida que permite a todos os cidadãos
ter aquilo que necessitam para viver como homens.

Dois filósofos da idade média, ambos com características similares, apesar de haver um
pequeno ponto de divergência.

• Para Santo Agostinho o Estado tem sua origem no pecado original, enquanto que para
Tomás de Aquino o Estado tem sua origem no facto de o Homem ser social.

• Ambos estão de comum acordo ao afirmarem a superioridade da Igreja perante o


Estado, e que esta está subordinada à Igreja.
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Filosofia política na Idade Moderna

Os filósofos contratualistas

Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau são filósofos contratualistas


porque defendem a origem do Estado na base de um contrato social que permitiu o
homem a sair do estado de natureza para o estado de sociedade.

Os três filósofos contratualistas, todos eles da Idade Moderna. São Chamados


contratualistas porque na concepção deles para termos Estado numa sociedade os
cidadãos estabelecem um contrato entre eles. Por isso para se estabelecer esse contrato
os cidadãos devem sair da condição natural em que se encontravam (Estado natural) e
assumirem certos compromissos para si mesmos e para a sociedade. Portanto, esses
filósofos são Hobbes, Locke e Rousseau.

• Para Hobbes, o contracto surge quando o Homem abandona a sua condição de ter
direitos ilimitados sem no entanto ter nenhum dever; quando sai duma sociedade de
Guerra de todos contra todos e passa a delegar esses seus direitos ilimitados a um único
soberano.

• Para Locke o contracto surge quando o homem delega os direitos a vida, a saúde
propriedade a comunidade. Em Locke os direitos são limitados.

• Para Rousseau o contracto surge `a medida em que o Homem sai da sua condição
degenerada por corrupção de valores, quando ele recupera os valores corrompidos
através da educação, a moral passando a não ser simples indivíduo, mas um cidadão em
é súbdito e legislador ao mesmo tempo.

Nicolau Maquiavel (1469–1527 é o autor da obra O Principe.

Nesta obra, Maquiavel procura traçar as linhas gerais do comportamento de um príncipe


que fosse capaz de unificar a Itália que se encontrava divida em principados e condados.
Para tal, Maquiavel parte do pressuposto de que os homens, em geral, seguem
cegamente as suas paixões, nomeadamente: a cobiça, o desejo de prazeres, a preguiça, a
vileza, a duplicidade e a insolência. Por esta razão, o governante da república prepara as
leis segundo o pressuposto de que todos os homens são réus e agem sempre com malícia
em todas as oportunidades que tiverem.

Maquiavel recomenda ainda que o príncipe, ou seja, o governante deve-se comportar


como um lobo vestido da pele do cordeiro, deve ainda impor-se mais pelo temor do que
pelo amor, para alcançar os seus objectivos, procurando sempre preservar a sua vida e a
do Estado, tendo em conta que em política os fins justificam os meios.

Charles de Montesquieu (1689 –1755) A sua principal obra com relevância política
é O Espírito das Leis.

Montesquieu é conhecido pela sua teoria de separação dos poderes legislativo,


executivo e judicial.
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Legislativo: aprovar, rejeitar e propor emendas as leis; gerir os conflitos entre


indivíduos e os grupos sociais;

Executivo: responsável pela administração; Propõe acções para o desenvolvimento da


comunidade;

Judiciário: verificar a conformidade dos actos às leis estabelecidas; aplicar as punições


em casos de infracção. Esta divisão visão estabelecer condições institucionais de
liberdade política bem como impedir que algum destes poderes actue despoticamente. A
concepção de Montesquieu influenciou a redacção do artigo 16 da declaração dos
direitos do homem e do cidadão de 1789: ―Toda sociedade em que não for assegurada a
garantia dos direitos e determinada a separação dos poderes não tem constituição‖.

Filosofia política na época contemporânea

John Rawls (1921-2002) Autor das obras Uma Teoria da Justiça e O Liberalismo
Político, John Rawls é o teorizador da justiça como equidade. Para o autor todos os
bens sociais primários — liberdades, oportunidades, riqueza, rendimento e as bases
sociais da auto-estima — devem ser distribuídos de maneira igual a menos que uma
distribuição desigual de alguns ou de todos estes bens beneficie os menos favorecidos.
Numa sociedade que se queira justa, dever-se-á encontrar um conjunto de princípios que
favoreçam a equidade, isto é, a igualdade perante a escolha e reduza ao mínimo os
conflitos decorrentes das formas como os diversos sujeitos encaram a distribuição dos
benefícios.

Por isso, Rawls divide a sua concepção geral da justiça em três princípios:

• Princípio da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a máxima liberdade para


cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.

• Princípio da oportunidade justa: As desigualdades económicas e sociais devem


estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade de
oportunidades.

• Princípio da diferença: A sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza,


excepto se a existência de desigualdades económicas e sociais gerar o maior benefício
para os menos favorecidos.

De acordo com John Rawls a função da justiça consiste em definir a atribuição de


direitos e deveres e a de distribuir os encargos e os benefícios da cooperação social. Por
fim, o autor define a sociedade como sendo uma ―Associação de pessoas que
reconhecem carácter vinculativo a um determinado conjunto de regras e actuam de
acordo com elas.‖

Karl Popper (1902–1994) As obras com relevância política de Karl Popper são as
seguintes: A Sociedade Aberta e Os Seus Inimigos e Pobreza do Historicismo.
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Karl Popper distingue dois tipos de sociedades, aberta e fechada. Enquanto a sociedade
fechada é uma sociedade totalitária, concebida organicamente e organizada tribalmente,
segundo normas não modificáveis, a sociedade aberta é aquela que se baseia no
exercício crítico da razão humana, tolera e estimula, no seu interior e por meio de
instituições democráticas, a liberdade dos indivíduos e dos grupos e os governados têm
a possibilidade de criticar os seus governantes e de os substituir sem derramamento de
sangue. Contudo, Karl Popper admite a possibilidade da revolução violenta, a qual só é
justificada se for para derrubar um tirano.

Segundo Popper o historicismo e os regimes totalitaristas são os inimigos da sociedade


aberta por se centrarem na fé em leis que não permitem ao homem sonhos utópicos,
nem planos racionais de construção social, regimes esses idealizados por Platão, Hegel e
Marx.

A filosofia política de Karl Popper resume-se em três ideias fundamentais: A história da


humanidade não tem um sentido concreto que antecipadamente pode ser conhecido O
único sentido que a história da humanidade possui é aquele que os homens lhe dão. O
progresso da humanidade é possível; A razão humana é essencialmente falível, por isso,
o dogmatismo não tem qualquer fundamento.

A única atitude justificável para atingir a verdade é através do diálogo, o confronto de


ideias por meios não violentos. Isto significa: • Aceitar o risco de formular hipóteses
que venham depois a ser refutadas pela experiência (na ciência); • Que cada um deve
aceitar o risco de ver as suas ideias a serem postas em causa ou mesmo recusadas por
outros (na política).

Formas de sistemas políticos

Regimes políticos e sistemas do governo

Sistema político é a maneira como uma comunidade política se estrutura e exerce o


poder político. A estrutura do poder na comunidade é feita de duas maneiras: .

Regime político refere-se às relações que se estabelecem entre o indivíduo e a


sociedade política, cuja ideologia, o poder político têm a missão de implementar no
âmbito Jurídico. Por sua vez, os regimes políticos classificam-se em ditatorial ou
democrático.

O regime ditatorial tem as seguintes características: Presença de uma ideologia


exclusiva ou liderante; Existência de um aparelho (um órgão) para impor a ideologia;
Ausência de efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos; Ausência da livre
participação do cidadão na designação dos governantes; falta de controlo no exercício
das funções dos governantes.

Por sua vez, os regimes ditatoriais subdividem-se em autoritários e totalitários. No


regime ditatorial autoritário é o poder político exerce um certo controlo sobre a
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sociedade civil, sendo, no entanto, possível manter um determinado grau de autonomia.


No regime ditatorial totalitário o poder político subjuga a sociedade civil.

O regime democrático tem as seguintes características: Não existe uma ideologia


dominante; não existe um órgão para impor a ideologia; Há garantia dos direitos
pessoais dos cidadãos; existe livre participação na designação dos governantes; Há
controlo do exercício das funções dos governantes.

Sistema de governo concerne a titularidade e á estruturação do poder político, com a


finalidade de determinar os seus titulares e os órgãos estabelecidos para o seu exercício.
Os sistemas de governo também dividem-se em ditatoriais e democráticos.

O governo ditatorial- é aquele em que o poder político é detido por uma pessoa ou por
um conjunto de pessoas que exercem por direito próprio, sem que haja participação ou
representação da pluralidade dos governados.

O sistema de governo ditatorial subdivide-se em monocrático e autocrático:


Monocrático – Quando o poder é exercido por um órgão singular.

Autocrático - Quando o poder é exercido por órgão colegial, por um grupo ou por um
partido político.

Sistema de governo democrático – classifica-se em directo, semidirecto e


representativo de acordo com a participação dos governados no exercício do poder
político. Democrático directo - A assembleia –geral dos cidadãos exerce integralmente
as suas funções.

Democrático semi - directo – A constituição prevê a existência de órgãos


representativos da soberania popular através de um referendo.

Democrático representativo – o poder político pertence à colectividade e é exercido


por órgãos que actuam por autoridade em nome dele e tendo por titulares indivíduos
escolhidos com intervenção dos cidadãos que a compõem.

Contexto histórico da filosofia africana

O conceito filosofia é o primeiro dos problemas filosóficos. Mas a melhor forma de


abordar a questão é falar de filosofias do que da filosofia, porque existem muitas
filosofias e cada filósofo define-a com base nos problemas do seu tempo. A resposta de
o que é a Filosofia depende dos problemas culturais, sociais, políticos e económicos.
Filosofia é um pensamento especulativo livre, crítico, profundo e autónomo, por isso, a
sua definição não tem um denominador comum como acontece com outras ciências.

O problema aumenta quando queremos definir a Filosofia africana. Filosofia é um


género literário universal. E porque é que queremos particularizar? Existe uma Filosofia
africana?
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Para responder à estas questões é necessário conhecer o ambiente sociopolítico e


cultural em que nasce a filosofia africana. É preciso também conhecer a concepção do
ocidente em relação a África.

África foi definida por pessoas exteriores, com pensamentos pejorativos, motivados por
interesses políticos e económicos. São os europeus em expansão em busca da matéria-
prima que definem a África. Os próprios nativos não sabiam que eram africanos.

A ciência, o poder europeu, começa a denegrir a imagem do africano. Assim:

A Teologia (ciência que estuda Deus), vai dizer que africano é filho de Caim.

A Filosofia do Iluminismo, vai dizer que africano, o negro, não é completo.

Voltaire, na sua obra “ História do século XIV” vai dizer que o povo mais elevado
em termos de evolução e desenvolvimento é francês e o mais baixo é africano.
Jean-Jacques Rousseau afirma que os africanos são bons selvagens.

Hegel considera que o africano é o homem sem História. Para ele, História é a
consciência de um povo, e ao afirmar que africano não tem história quer dizer que o
africano é inconsciente.

Levi-Brhul diz que africano tem mentalidade pré-lógica.

Montesquieu define África como sociedade sem leis.

Nesta concepção não é possível entrar o africano no debate da Filosofia, visto que
pensar que os africanos têm filosofia era sinónimo de considerar-lhes e encarar como
homem igual aos europeus. Afirmar a existência da filosofia africana seria afirmar a
autonomia do homem africano e seria dizer que o africano é um homem completo como
o europeu e implicava exigir a igualdade dos direitos e respeito entre os africanos e
europeus. E por conseguinte, a igualdade dos direitos pede por sua vez a abolição da
escravatura.

Filosofia africana é a resposta que o africano dá `a concepção errada do ocidente.


Filosofia africana é a busca da liberdade, da autonomia, da autodeterminação dos
africanos. Filosofia africana é Filosofia de gente que pensa dos problemas dos africanos.

Principais correntes da filosofia africana

Corrente da Etnofilosofia

Ideias gerais:

Considera todos os elementos da cultura africana como manifestação da existência da


filosofia africana, A Filosofia Africana está presente nos contos, lendas, fábulas, mitos,
provérbios, poesias divulgadas nas culturas tradicionais africanas, Esta Filosofia é uma
visão geral de uma tribo ou grupo étnico particular sobre o mundo. Trata-se de uma
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compilação da história natural do pensamento popular tradicional sobre questões


centrais da vida humana. É uma Filosofia cultural.

O Papel do filósofo: era de Compreender e explicar os princípios sobre os quais se


baseia cada uma das culturas africanas.

Africanidade Consiste no objecto de reflexão, que deve ser a cultura africana ou uma
das culturas africanas ou um dos aspectos dela. A relação com o mito e a religião
tradicional, Arquivista, perpetuação, protectora e conservadora desse passado popular.
Principais representantes (Africanos e africanistas) Bzik Anyanw, Placide Tempels
(A Filosofia Bantu), Alexis Kagame (A Filosofia Bantu Ruandesa de Ser) e John Mbiti
(Religião Tradicional Africana).

Corrente da Filosofia Profissional ou Académica

Ideias gerais

A Filosofia deve ter o mesmo significado em todas as culturas, mesmo que os conteúdos
que aborda e os métodos que usa sejam variados e contextualizados, Não podemos
aceitar que haja uma Filosofia africana que claramente nega a Filosofia em geral,
Filosofia é uma disciplina científica, teorética e individual que emerge em oposição ao
mito, às religiões tradicionais e ao seu respectivo dogmatismo e conservadorismo, A
reflexão, a crítica e a fundamentação são características fundamentais da Filosofia.
Filosofia africana é Filosofia de gente que pensa dos problemas dos africanos.

O Papel do filósofo Analisar, criticar e compreender a racionalidade daqueles aspectos


da sabedoria cultural do povo africano.

Africanidade Consiste na pertença do filósofo ao continente africano; consiste na


partilha e na conversa entre africanos: o filósofo deve ser natural e oriundo de um povo
e cultura africana, A relação com o mito e a religião tradicional É uma relação de
continuidade, transformação consciente, crítica e contínua da tradição do povo face aos
desafios do que o povo tem de presente e do futuro.

Principais críticas à Etnofilosofia • Falta de rigor na terminologia (―Filosofia‖ a visão


do mundo duma dada população); • Os métodos de pesquisa, de análise e de
interpretação desses estudos nem sempre respondem às exigências da disciplina de
Filosofia; • Os etnofilósofos projectam a sua própria filosofia na linguagem bantu.
• A ligação ao passado nos desvia das tarefas actuais: (transformação da cultura para a
adaptá-la às exigências do mundo contemporâneo. Principais representantes
(Africanos) • Paulin Houtoundji, Odera Oruka, Kwasi Wiredu, Mercien Towa,
Serverino Ngoenha e Paulino José Castiano.

Pan-africanismo versus negritude

• O Pan-africanismo e a Negritude permitiram a difusão da mensagem dos mentores dos


movimentos de libertação dos africanos.
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• O pan-africanismo e a negritude são dois movimentos com o objectivo comum de lutar


pela liberdade, mas sob pontos de vistas diferentes: enquanto o Pan-africanismo lutava
pela emancipação política de todos africanos, a Negritude lutava pela unidade dos
negros sob o ponto de vista cultural.

Negritude

Movimentos que originaram a Negritude • Os movimentos que deram origem a


Negritude foram: Black to Movement/regresso à África, de Marcus Garvey;
Desenvolvimento segregado de Booker T. Washington e Black
Renaissance/renascimento negro de William E. Du Bois.

• O marco inicial do Movimento da Negritude foi a publicação da revista Légitime


Défense, em 1932, por um grupo de estudantes africanos, em Paris.

• Precursores da Negritude foram: Léopold Sédar Senghor (senegalês); Aimé Césaire


(martinicano) e Leon Damas (ganês). Estes resumiram o projecto em três conceitos:
identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua condição; fidelidade –
atitude que traduz a ligação do homem negro à terra-mãe; solidariedade – sentimento
que liga secretamente todos os irmãos negros.

• A Negritude pode ser definida como afirmação da personalidade africana e rejeição


da assimilação cultural ocidental; é o conjunto de valores culturais do mundo negro.

• Senghor, o qual define a negritude como "a soma total dos valores culturais do
mundo negro".

• O termo “Negritude‖ aparece pela primeira vez escrito no livro de poemas de Aimé
Cesaire, ―Cahier d´un Retour au Pays Natal‖.

Os fundadores da negritude são:

Leon Damas – A sua doutrina manifestava-se na negação da assimilação e defendia as


qualidades do negro.

Aimé Césaire – Preocupava-se em resolver o problema do regresso e assunção do


destino da raça. Césaire fundou e passou a editar a revista ―L’etudiant noir‖ (O
estudante negro de 1934). É no terceiro número desta revista em que aparece pela
primeira vez a expressão NEGRITUDE, entendido nas palavras de Césaire por ― Nada
além da consciência de ser negro‖. E a tomada da consciência de ser negro significava o
reconhecimento de um facto que implicava aceitação, um assumir do seu próprio
destino, da sua história, da sua cultura. É de salientar que o livro onde aparece a
expressão ―negritude‖ pela primeira vez é ― cahier d’un retour au pais natal‖ , de 1938.

Leopold Sedar Senghor- esforça-se na descoberta, defesa e ilustração do património


racial e do espírito da civilização.
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O Pan - africanismo

O movimento do renascimento negro, passa testemunho ao pan-africanismo. A


negritude e o renascimento negro trazem dentro de si uma questão de identidade:

Os Negros dão-se conta que estão na América, mas também são negros. Portanto, não
só são americanos, mas também são africanos de origem. Por isso são chamados afro-
americanos. O que difere o negro africano do afro-americano somente é uma questão
geográfica.

Du Bois começa a ficar interessado com o mundo negro, isto é, o negro do mundo, o
estatuto do negro de todo o mundo. Daí o termo pan-africanismo.

Movimento do pan-africanismo

Antenor Firmont, negro sociólogo de Haiti, que trabalhou na Etiópia, convoca uma
reunião em Londres, em 1900. Mas os africanos são pouco aceites nesta reunião.

Silvestre williamn encontra-se com Antenor Firmont. Em vez de discutir o problema da


África, vão discutir os problemas da raça. Era o primeiro congresso pan-africano.

O pan-africanismo teve uma palavra de ordem: ―Unir-se para resistir‖. Esta


conferência tinha como secretário Du bois.

O pan-africanismo teve vários congressos, dos quais o 50 congresso esteve sob a


presidência de Du Bois. Neste congresso, ele reivindica a independência dos africanos.
É por isso que ele é considerado pai do pan-africanismo. E ainda neste congresso Du
Bois faz a passagem de liderança do congresso para Kwame Nkrumah (de Ghana). Foi a
passagem de liderança do afro-americano para africano.

O sonho de Nkrumah foi de fazer os EUA (Estados Unidos de África), na sua obra
«África deve unir-se». Para isso significava ter a mesma moeda, ter o mesmo
militarismo.

Quando Ghana fica independente em 1957, neste mesmo ano realiza-se um congresso
em Ácra. Daí, começam as independências da África.

Os filósofos ocuparam-se em busca da identidade africana, outros ainda preocuparam-se


na criação de um futuro socioeconómico e político para África. Fazem parte deles
Kwame Nkrumah, Július Nyerere, Kenneth Kaunda, Leopold Senghor.

Renascimento Negro

O renascimento negro teve como intenção dar a possibilidade aos negros de lutar
arduamente pela sua causa, pôr em causa a alienação do negro.

Du Bois dizia que se o branco mata um negro, o negro deve matar cinco brancos. No
renascimento negro pede-se a igualdade entre o negro e branco; procura-se a
emancipação do negro.
TEXTO DE APOIO 12ª CLASSE II TRIMESTRE

A partir do renascimento negro, todos os poetas, romancistas, historiadores, pintores,


músicos, arquitectos e escultores se inspiram no passado histórico ou pré-histórico dos
africanos para revelar tesouros de arte e de literatura que os investigadores, sociólogos,
filósofos interrogaram as nossas origens, os nossos monumentos, os nossos costumes, a
nossa língua vernacular para explicar a nossa maneira de ser, de crer, a nossa razão e na
nossa esperança.

A negritude, enquanto um manifesto cultural e político mobilizador, transformou a


identidade sócio-cultural dos povos africanos numa arma emancipadora e um projecto
de renascimento. Ela lutou contra o eurocentrismo, o racismo e os preconceitos, a
incompreensão, arrogância das potências coloniais. Ela rejeitou a aculturação, a
assimilação e a alienação. Dessacralizou o paradigma cultural ocidental considerado
como critério referencial e afirmou o direito a diferença e familiarizou os negros com a
noção do relativismo cultural.

Corrente da Filosofia Política Africana

Filosofia política africana está estreitamente ligada ao pan-africanismo, além de lutar


pelo reconhecimento dos negros no mundo, trançou, principalmente com Du Bois,
linhas para uma filosofia política Africana.

Por isso a filosofia Africana entende-se como o conjunto de pensamentos relativos a


emancipação e ao reconhecimento do homem negro, quer dentro do seu continente, quer
fora dele. A filosofia política Africana contém o pensamento de vários autores e tem
como objectivo a libertação física e psíquica do jogo colonial e do continente africano.

Nkrumah e Senghor, lideram dois grupos e dois pontos de vista que não chegaram a
conciliar se: Nkrumah defendia a independência imediata do estados africanos, e
Senghor, acreditava em uma independência gradual dos estados, seria ideal.

É fundamentalmente uma filosofia sociopolítica que inclui dentro de si a negritude, o


pan-africanismo, o socialismo africano, entre outros, e busca, por meio da libertação
mental, um regresso ao verdadeiro humanismo e socialismo africano, uma verdadeira e
significativa liberdade para o africano.

A principal Preocupação Foi:

 Criar um futuro socioeconómico e político para a África independente,

 Responder aos problemas referentes ao colonialismo, às independências, ao fim


da escravatura e exploração do homem africano.

Principais representantes: • Kwame Nkrumah, Léopold Senghor, Julius Nyerere, W.


E. Du Bois, Eduardo Mondlane, Samora Machel. Kenneth Kaunda, Àlbert Lithuli,
Patrice Lumumha.
TEXTO DE APOIO 12ª CLASSE II TRIMESTRE

Integração Político Regional da União Africana

Os líderes africanos cedo tiveram consciência da necessidade de implementar acções


combinadas com a finalidade de proporcionar melhores condições aos novos estados
africanos. Assim, concentraram-se na promoção de instituições capazes de promover o
desenvolvimento económico e de criar condições de vida mais humanas aos africanos.
Este projecto foi animado por uma série de mudanças institucionais, como a criação da
OUA, a UA, a SADC e a NEPAD.

A UA (União africana) pretende continuar com os objectivos da OUA (Organização da


Unidade Africana), mas com uma estrutura mais reduzida: Com um governo central e
um parlamento, `a semelhança do que tinha idealizado Kwame Nkrumah na década
de1960.

Um dos projectos da UA é a NEPAD – a Nova Parceria para o Desenvolvimento de


África – que pretende pôr em prática a visão pan-africanista dos líderes africanos, de
interajuda entre países africanos, com objectivo de promover o desenvolvimento
sustentável de África.

A integração regional em África só seria possível se houvesse estabilidade política e


segurança, permitindo assim a criação de instituições democráticas e a promoção do
desenvolvimento. A NEPAD considerando este facto, condensou as condições
necessárias para o desenvolvimento de África em dois pontos:

 A paz, a segurança, a democracia e a boa governação política.


 A boa governação económica e corporativa.

Referencias. Bibliográficas
GUEQUE, Eduardo, BIRIATE, Manuel. Filosofia 12-Pré-universitária. Editora
Longman Moçambique, Maputo,2010 e Ernesto Daniel Chambisse, Alcido Moniz Godi
Nhumaio.filosofia 12-classe.Texto Editores,Lda,- Moҫambique ,Maputo, 2020

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