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Fundamentos do Direito Público

2. Sociedades politicamente organizadas: natureza e contrato


O direito divide-se em: 
 direito público  
 privado 
O direito público é controlado por um aparelho público, o Estado de direito
democrático. O seu processo de formação iniciou-se com a democracia ateniense.  
  
 
Primeira vez que se usou a palavra "Estado" 
-> todos os Estados, todos os domínios que tiveram um império sobre os humanos, foram e
são ou repúblicas ou principados 
 
O estado é soberano (conceito de Jean Bodin ): 
 Não admite nenhum poder concorrente (a soberania é o poder absoluto e
perpétuo duma república) -> por exemplo, nas monarquias absolutas o poder
concentrava-se nas mãos dos reis 
 
Do estado soberano para o estado de direito é importante o pensamento de Hobbes.  
-> ideia de igualdade (apesar de ainda ser limitada na altura) 
o Todos temos a mesma dignidade apesar de sermos todos diferentes, por isso,
temos todos um estatuto jurídico idêntico 
o Não há estado de direito sem esta noção de igualdade  
o A igualdade reporta-se à dignidade e, consequentemente, em direito 
 

Início do estado de direito


John Locke -> primeiro pilar do Estado de Direito 
O homem viveu, primeiramente, no estado de nsatureza, ou seja, um estado anárquico
e livre.  
O maior objetivo da união do homem em sociedades e de se submeter a governo é
reservar a propriedade (tudo o que me pertence – direitos fundamentais). Para tal era
necessário estabelecer coisas que a Natureza carecia: 
o Lei 
o Juiz imparcial 
o Poder de execução 
O problema do estado natureza revela-se na incapacidade de resolver conflitos
sociais. Forma-se, assim, o primeiro pilar do Estado de direito.  
 
A passagem do estado de natureza para o estado de sociedade implica apenas que o
homem deixe de fazer justiça pelas suas próprias mãos.  
 
Montesquieu (“O espírito das leis”) -> segundo pilar do Estado de direito 
 
Adiciona a ideia da separação de poderes e de que a liberdade política apenas se
verifica quando não há abuso de poder. No entanto, como o homem que tem o poder é levado
à abusar dele, o homem vai até onde houver limites.  
 
A proposta feita á a separação de poderes: 
 Executivo (aplica as leis) -> entregue ao rei 
 Legislativo (faz as leis) -> entregue a uma assembleia 
 Judicial/jurisdicional -> entregue aos tribunais  
O poder judicial/jurisdicional, sendo exercido por um juiz, torna-se imparcial. 
Para Montesquieu o poder legislativo era exercido por duas câmaras, uma eleita outra
hereditária, que se moderavam mutuamente. Além disso, instituiu o poder de veto (se achasse
alguma lei abusiva, o rei poderia vetá-la). Assim, forma-se o segundo pilar do estado de
direito. 
 
Rosseau (“O contrato social”) -> terceiro pilar do Estado de direito 
 
O elemento público que se forma a partir da união de pessoas chama-se Estado
(quando é passivo) e Soberano (quando é ativo). Os seus membros tomam coletivamente o
nome de Povo. 
 
O Povo: 
 Cidadãos: participantes da autoridade soberana (a partir das revoluções liberais) 
 Súbitos: quando submetidos às leis do Estado  
 
Todos os elementos do povo detêm nas suas mãos uma tutela de soberania.  
Os cidadãos exercem o seu poder político através do voto.  
 
Estado de Direito 
Todos os pilares do Estado de Direito foram conjuntamente consideradas pela primeira
vez em julho de 1776, quando foi assinada a Declaração de Independência dos Estados Unidos.
Assim, entende-se que: 
 Todos os homens são iguais 
 Os homens têm direitos inalienáveis (não se podem perder quando se passa do
estado de natureza para o estado de sociedade) 
 Os homens encontram-se em vida, liberdade e busca da felicidade 
 
 
Em 1789, foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
 Artigo 16º - qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia de direitos,
nem estabelecida a separação de poderes, não tem constituição.  
 
 
O Estado de direito tem três pilares: 
 Princípio democrático 
 Separação de poderes 
 Direitos fundamentais 
 (baseado na igualdade, no estado e na soberania) 
 
A ordem jurídica entende-se como uma pirâmide: 
1. Constituição
2. Leis
3. regulamentos

Origem das sociedades politicamente organizadas -> Estado   


 No ocidente: 
o Polis -> império -> reino/feudo -> Estado -> comunidade internacional 
 
Na Grécia Antiga, a pólis (cidade) representava o Estado. A cidade era o conjunto de
cidadãos, uma elite social, que excluía os escravos e tinha o direito e dever de participação
política.
 
Na Roma Antiga, o Império durou séculos.  
 476 -> queda do império romano do ocidente 
 1543 -> queda do império romano do oriente 
 
A extensão territorial do império levanta alguns problemas: 
 Ordem pública 
 Comunicação 
 
O direito romano era aplicado apenas aos cidadãos romanos. 
O direito das gentes para as relações entre os romanos e os restantes (Jus Gentium). 
Os direitos locais para o estrangeiros e pessoas restantes.  
 
Após a queda dos impérios, a Europa organizava-se em reinos. Dentro dos reinos
(espaço de domínio de um rei) existiam instituições de poder menores (feudos). O rei
era primus  inter  pares,  apenas tinha um exército maior e mais algum poder.  Os senhores
feudais tinham os mesmos poderes que o rei, aplicavam impostos, julgavam e cunhavam a
moeda, entre outros. 
 
O conceito de Estado surgiu na época do renascimento, tendo sido enunciado
primeiramente por Maquiavel, consolidado durante o Absolutismo e fundamentado por outro
autores. Apesar de se achar que o Estado vai desaparecer, tem-se notado um aumento dos
movimentos nacionalistas. 
 
Por que é que precisamos de sociedades politicamente organizadas? 
A função de poder político é garantir um mínimo de confiança e estabilidade para as
relações sociais e para a vivência. A vida em sociedade resulta da confiança e acordo entre
governantes e governados.  
Apesar de haverem quebras nesta confiança, existem mecanismos sociais que dão
ferramentas para a resolução dos conflitos.  As sociedades politicamente organizadas dão-nos
segurança e possibilidade de convivência social.
 

Existem diversas teorias sobre a origem das sociedades politicamente organizadas.


Duas grandes teses: 
 Naturalistas: defendem que o homem é naturalmente um animal político e,
inevitavelmente, vive em sociedade (Aristóteles, S. Tomás de Aquino)
 Contratualistas: entendem que o contrato social foi decidido livremente pelos
homens, pois estes percebem que há vantagens em viver numa sociedade
politicamente organizada (Hobbes, Locke, Rosseau, Rawls, Pufendorf) 
Aristóteles
- a sua obra mais importante chama-se «A Política»
- devido à observação da realidade, defende a existência dum conjunto de comunidades de
dimensão crescente:
 A família surgiu primeiro 
 A aldeia é a primeira comunidade formada por várias famílias  
 A cidade é a primeira comunidade completa, formada a partir de várias aldeias (é
uma polis se for autossuficiente)
 Assim, toda a cidade existe por natureza, sendo formada com o princípio de
preservar a vida e assegurar uma vida boa (vivida com virtudes)
 
O homem é, por natureza, um animal político. Aquele que não tiver cidade será um
decaído. O homem distingue-se dos outros animais, pois tem o poder da palavra e tem a
capacidade de discernir entre o bem e o justo.  
Não há poder que se consiga impor pela força, tem de ter alguma legitimidade, aos
olhos dos governados. É inevitável que o homem viva em sociedade, pois é um ser social. 
Aristóteles procura criar uma sociedade politicamente organizada que permita uma
organização justa das relações entre os diferentes tipos de membros da sociedade.
 
São Tomás de Aquino
A tese de Aristóteles vai durar 2 mil anos, mas S. Tomás de Aquino faz algumas
alterações. É necessário alguém ao "leme" para orientar.  Nas comunidades humanas é
necessário haver poder político para governar os povos, pensando no bem comum.  
 
 A "natureza", que determina a socialidade/politicidade do homem, é obra de deus
 A sujeição dos homens a um poder não é um castigo pelo pecado original  
 O conjunto das "leis da natureza" cria o Direito Natural, que está inscrito no
espírito humano  
 O bem comum, que é o fim último da sociedade, também é o bem individual de
cada homem, pois o homem não pode pensar no bem comum sem ter uma vida
digna 
 
Todo o poder vem de Deus (non est potedas nisi a Deo) e, por isso, quem tem o poder
foi escolhido por Deus. Quem tem o poder e o exerce de forma despótica, terá o seu
julgamento no juízo final.  
 Doutrina da mediação popular: o poder tem origem divina, passa pelo povo (per
populum) e é entregue ao rei. Ou seja, o rei tem deveres com Deus e com o
povo.  Além disso, uma vez que o poder passa primeiramente pelo o povo, o povo
decide a quem dar o poder legitimamente, como o soberano o vai usar e eu
critérios devem ser aplicados ao poder.
 
 
Os contratualistas representam no seu conjunto a ideia de que homens racionais
decidem livremente constituir uma sociedade e instituir nessa sociedade o poder político. Têm
em comum a ideia de que uma sociedade politicamente organizada decorre da compreensão
que os homens têm da necessidade de se organizar. Assim, a sociedade resulta dum pacto ou
dum contrato que faz transitar os homens do estado de natureza para o estado sociedade.
Além disso, está em causa um tratado celebrado entre homens iguais, igualmente racionais e
igualmente livres.
 

O que separa os contratualistas é a conceção que têm sobre a natureza humana e sobre o
homem.  
 
Hobbes
 o homem vive dominado por emoções (grandes paixões e medo de morte
violenta) 
 No estado de natureza as pessoas morriam pelas mãos dos outros 
 O estado de natureza era uma guerra de todos contra todos 
 
Rosseau 
 Defendia o "bom selvagem", no estado de natureza os homens viviam felizes 
 Os homens nasciam bons, mas eram corrompidos pela sociedade, pois esta
desponta propriedade e, por sua vez, egoísmo (ao surgir a propriedade privada
agrícola, surge a ideia do egoísmo)
 Este estado apenas se transformou quando foi descoberta a agricultura e a
metalurgia (fabrico de instrumentos para a agricultura e de armas) 
 Os homens são obrigados a deixar o estado de natureza e a celebrar o contrato
social 
 O estado de natureza acaba por ser um paraíso
 
Locke 
 Tem de haver um terceiro imparcial que seja capaz de julgar de acordo com a lei
natural (no estado de natureza cada um é juiz em causa própria e o homem não é
bom para julgar os seus interesses)
 No estado de natureza o homem faz justiça por si próprio (governava a lei do mais
forte) 
 Pela necessidade de haver uma autoridade imparcial, o homem é obrigado a
passar do estado de natureza para o estado de sociedade
 

As diferentes conceções sobre o estado de natureza influenciam as teorias sobre o contrato


social de cada um. 
 Hobbes pretende garantir a segurança e a integridade física das pessoas. Quer um
poder forte e firme que tenha força suficiente para evitar o caos ou o retorno do
caos, mesmo que isso implique que o homem perca alguma liberdade individual
 Rosseau quer o regresso ao "paraíso perdido" em que todos são irmãos, não
havendo egoísmo há liberdade e as pessoas vivem em autogoverno (através de
leis aprovadas pela maioria). É defensor da soberania popular. 
 Locke procura um poder para resolver os litígios, tornando o poder tão limitado
quanto possível (ideia de poder fraco) e preservador máximo das liberdades
individuais. O importante é o poder ser consentido, apesar das funções apenas
poderem ser exercidas por autoridades políticas.  
 
*o pensamento de Locke influenciou e ainda influencia bastante o sistema norte-americano 
 
Os três contratos são diferentes também devido a quem os contratualistas escolhem
para celebrar o contrato: 
 Hobbes: membros da comunidade – decidem em conjunto entregar o poder a um
soberano. O governante torna-se amovível . Os direitos naturais podem ser
alienados.  
 Rosseau: o contrato é multilateral (entre todos os membros da sociedade).
Entregam os seus direitos naturais ao todo, mas retornam-lhes direitos de
participação política. O cargo de soberania pode ser revogável, se a sociedade
decidir que a confiança foi quebrada.  
 Locke: o contrato é bilateral entre governantes e governados (se os governantes
não cumprem a sua parte do contrato, os governados podem também não o
cumprir e afastar os governantes) 
 
Pufendorf 
 As pessoas vivem em sociedade, pois isso decorre da lei natural. No entanto, esta
vivência não é um facto é um dever, ou seja, as pessoas têm o dever de
sociabilidade.  
 Deste dever de socializar deriva o cumprimento de algumas obrigações para
consigo próprio, para com Deus e para com os outros (o respeito pelos outros
resulta no aparecimento do conceito de responsabilidade civil)
 Dois contratos e um decreto
o Entre cada um dos membros da comunidade, através do qual eles
constituem a sociedade (união) - Pacto de Associação 
o Decreto no qual a sociedade decide que governo quer ter: monarquia,
república, tirania, etc
o Após a celebração do anterior, celebra-se outro contrato entre a
sociedade e aqueles que vão assumir o poder – Pacto de sujeição 

Rawls 
 Justiça social (igualdade, repartição, redistribuição da riqueza) - em que medida é
que as desigualdades sociais são admissíveis? 
 Qual deve ser o modelo de organização social no que diz respeito à redistribuição
de riqueza? Propõe uma situação hipotética, em que as pessoas são colocadas sob
um véu de ignorância, desconhecendo as suas condições de vida, precisamente
para ajudar as pessoas a decidir sobre qual é o melhor critério para os princípios
de organização justa da sociedade. Cada pessoa desconhece-se a si própria e
ignora a posição que a lotaria social lhe reserva, permitindo que seja tomada uma
decisão mais racional, O véu de ignorância garante, assim, que as pessoas decidem
o que é bom para a sociedade sem terem em conta as circunstâncias individuais,
mas também sem assumirem grandes riscos, pois se uma pessoa se desconhece,
escolherá uma solução que o beneficie em qualquer situação. Nesta condição,
Rawls aponta três princípios que as pessoas poderiam escolher.
 1º princípio: igualdade – cada pessoa deve ter um máximo acervo de direitos,
desde que sejam compatíveis com os direitos de todos 
 2º princípio: igualdade de oportunidades - Para aceitar a desigualdade económica
tem-se de garantir a igualdade de oportunidades ao mesmos cargos.  Assim,
ninguém pode ter uma posição desigual ou privilegiada relativamente às restantes
pessoas e o lugar que ocupa não for um lugar de acesso aberto
o Lotaria social: o processo de adquirir um cargo ou uma vantagem,
pode depender da lotaria social. A família é um elemento essencial da
lotaria social, também.  
 3º princípio: diferença - as desigualdades económicas e sociais que se criam,
traduzem-se em maiores vantagens para os membros da sociedade menos
favorecidos. Não existe à partida um limite máximo para a acumulação de riqueza,
no entanto, os ricos só podem enriquecer se isso representar para os mais pobres
uma benefício ou uma subida do seu nível de vida. O «gap» é admissível.
 A teoria de Rawls não procura propriamente explicar a origem das sociedades
politicamente organizadas, mas sim uma forma de decidir os princípios duma
sociedade justa
A comunidade internacional
É importante considerar a comunidade internacional enquanto instância de poder
político, sobretudo, como um poder político que está acima de Estados, ou, pelo menos,
procura estar.
Durante a Idade Média, a comunidade internacional identificava-se sobretudo com a
Cristandade e, por isso, o Papa funcionava como uma autoridade política, sendo muitas vezes
chamado a resolver conflitos. Para além do Papa, sucederam-se no centro europeu vários
imperadores de sucessão cristã do Sacro Império Romano-Germânico. No entanto, os seus
domínios territoriais eram muito restritos e heterogéneos.
A partir do Renascimento, a comunidade internacional passou a ser um conjunto de
Estados cujos monarcas não obedeciam a ninguém, não reconhecendo a existência dum poder
acima de si. Além disso, são Estados que estão permanentemente em conflito entre si. Assim,
com o objetivo de criar alguma paz, surgiu o Direito Internacional. A obra fundadora deste
direito «De Jure Belli ac Pacis», de Hugo Grócio, publicado em 1625, refere-se às normas que
regem a conduta dos Estados em tempo de guerra e em tempo de paz. Desde a sua origem, o
Direito Internacional tem, portanto, duas divisões: direito de guerra e direito de paz. O jus belli
(direito de recorrer à guerra), era entendido como algo comum a todos os soberanos, a que
podiam recorrer como forma de resolver um conflito ou de expandir o seu território.
Em 1795, Immanuel Kant escreve «Sobre a Paz Perpétua», defendendo que a
comunidade internacional como um todo se deve organizar em ordem à paz e à manutenção
recorrente dessa paz. Assim, propõe a criação de uma organização internacional com funções
de preservação da paz, o que apenas aconteceu no século XX (Sociedade e das Nações, após a I
Guerra Mundial; Organização das Nações Unidas, após a II Guerra Mundial).
Após a II Guerra Mundial, foi instituída, com a Carta das Nações Unidas, a ONU, uma
organização com autoridade internacional, com competência para assegurar a manutenção da
paz à escala mundial. Na Carta das Nações Unidas está expressamente proibida a guerra: um
estado apenas pode recorrer à guerra em legítima defesa ou se estiver em iminência de ser
atacado. Assim, o monopólio de guerra pertence apenas à ONU. O Conselho de Segurança é o
órgão encarregado de decidir sobre a guerra, havendo, assim, um poder político que se
sobrepõe aos Estados.

As sociedades virtuais
Hoje em dia as sociedades virtuais multiplicam-se, sendo constituídas por amplos
conjuntos de pessoas ligadas por várias afinidades, mas que não habitam um espaço
delimitado. O maior exemplo destas sociedades são as redes sociais.
Estas redes sociais não são Estados, não têm território e os utilizadores não estão
vinculados a estatutos jurídicos, apenas a contratos com estas empresas. As redes sociais são,
verdadeiramente, superpotências, tendo imenso poder, tanto económico, como de influência
na política dos países em que operam e nos seus clientes, os anunciantes.
Até há pouco tempo, as redes sociais pareciam incluir-se num estado de natureza uma
vez que nelas não havia qualquer tipo de autoridade. Atualmente, existem «termos e
condições», por exemplo, que regulam aquilo que é admissível na empresa, definindo o que
pode ser partilhado, em que condições uma pessoa é expulsa duma rede social, etc.
Um dos desafios que se enfrenta hoje é o da regulação das redes sociais e, mais
amplamente, de todo o ciberespaço. Calcula-se que em poucos anos o espaço digital irá
evoluir para experiências 3D, de imersão total.
Fins do Estado
Fins do Estado de Grécia Antiga   
 O homem é um animal político e social 
 Movimento de manutenção 
 
Fins do Estado de Roma Antiga 
 Movimento de transformação 
 Expansão territorial e assimilação de outros povos 
 
Fins da Idade Média 
 Privatização do poder público 
 Monarquia feudal 
 Divisão do território em feudos, com pequenas administrações de poder (dum
feudo para outro o poder pode mudar) 
 Relações feudo-vassálicas 
 O fim desta sociedade era a garantia e segurança  
 
Fins da Sociedade Renascentista 
 Descobertas científicas, desenvolvimento das rotas marítimas, educação  
 O fim da sociedade era o progresso 
 
Fins do Estado Liberal 
 Tem uma intervenção mínima, despreocupada com a transformação da sociedade 
 
Fins do Estado Social 
 Garantir uma vida digna aos cidadãos  
 O problema do estado social é o seu financiamento 
 
Fins do Estado Regulador 
 Em vez do Estado prestar serviços , torna-se mediador desta prestação 
 
Qual é o fim do Estado Português? 
Garantir o Estado de Direito Democrático (Art.º 2º)  
 Rege-se pelas leis, pelo que recusa: 
o Regimes anárquicos ou arbitrários (p.e: monarquia absoluta) 

Platão 
 O fim da sociedade é a justiça, uma justiça utilitarista -> como deve ser 
 Idealmente há uma sociedade e o homem deve fazer de tudo para se aproximar da
mesma 
 Sociedade fechada -> falta de liberdade e de direitos fundamentais 
 
Aristóteles 
 O homem vive por base nas virtudes e nas relações sociais 
 O Estado tem um fim virtuoso e bom – aquilo que as pessoas merecem 
 
Hobbes 
 O fim do Estado é assegurar a segurança individual e sobrevivência 
 
Locke 
 O fim do Estado é garantir a aplicação de justiça e garantir a liberdade (através
dum juiz imparcial, por exemplo, pois o problema do homem é não ser bom para
julgar-se a si próprio) 

3. Duas divisões da Polis: democracia e ditadura


 
No século V A.C havia um confronto ideológico, sobre qual é a melhor maneira de governar.  

Péricles e Xenofonte
Péricles: a defesa da democracia 
"História da Guerra do Peloponeso" -> discurso feito por Péricles sobre as virtudes da
sua cidade (Atenas).  
 A regra de decisão é a vontade da maioria, não do líder 
 Todos os cidadãos são iguais; apenas são permitidas distinções para o acesso a cargos
públicos, com base no critério do mérito 
 A sociedade ateniense era "aberta" ao exterior, tinha um governo livre (aceitava
estrangeiros, p.e) 
 As leis tinham de ser respeitadas  
 Na sociedade ateniense cultivavam-se as artes, a filosofia e o saber e a cidade estimula
a participação cívica dos seus cidadãos (reservada a pessoas com o estatuto de
cidadania) -> a democracia ateniense era restrita a um conjunto de pessoas, os
cidadãos, que excluía os estrangeiros e os escravos 
 Em Atenas, as decisões são tomadas após debate público -> reunião na Ágora 

Xenofonte: o elogio da ditadura 


Sociedade ideal: espartana 
 Educação: disciplina, obediência 
 Intervenção do estado: casamentos, vida conjugal 
 Proibição do luxo 
 Encerramento das fronteiras 
 Economia estatizada: o dever do cidadão é assegurar a independência do Estado 
 
Poder e chefe 
 O poder é exercido pelos "mais capazes" (poder, segundo Xenofonte: capacidade
de mandar e de se fazer obedecer) 
 O chefe tem aptidão natural, superioridade e carisma 
 A sociedade deve ser governada da mesma maneira que o exército. O segredo da boa
governação é a obediência cega. 
 

A utopia de Platão
 
Platão era um cidadão ateniense e, deste modo, participava na vida política na cidade
de Atenas.
A visão de Platão é uma utopia (método utópico – idealizar a cidade perfeita desde o
zero), no sentido em que mesmo que fosse possível deveríamos nós, cidadãos, esforçarmo-nos
para transformar a sociedade? 
 
Platão baseia a sua tese da sociedade no valor da Justiça. Se pensarmos no conjunto da
sociedade cada um tem a sua função e só assim é que esta pode ser unida e harmoniosa.  
Platão ignora a realidade, criando um cenário utópico.  
 Defendia a sofiocracia (poder da sabedoria – governo do rei filósofo) 
 O que procura é a justiça e um modelo de organização social que seja
justo (conceção holística)
o Cada um faz aquilo que lhe compete e que lhe está predestinado
[sociedade fechada] -> forma de garantir a harmonia do conjunto
 Desenha um modelo de educação destinado a identificar as qualidades de cada
uma das pessoas 
o A cidade é como a alma humana e todos os homens são compostos
por: um elemento racional (a razão trabalha as ideias), elemento
irascível (virtude da coragem) e o elemento sensível (necessidades
básicas das pessoas) 
o A sociedade tem três classes de pessoas: magistrados (elemento
racional mais forte -> governa a cidade), guardas (elemento irascível
mais forte -> protege a cidade) e artífices e camponeses (elemento
sensível mais forte -> garantem a sustentabilidade de todos) 
 
Qual é o domínio predominante em cada pessoa? [teoria dos metais]-> cada pessoa
tem um pelo menos um metal predominante na sua alma. Há quem tenha alma de ouro, de
prata ou de ferro/bronze. A solução para esta teoria passa por criar um sistema de educação
que permita distinguir as crianças consoante o seu elemento predominante.
- 1º lugar: retirar todas as crianças aos pais para que possam ser educadas por todos
nas escolas públicas. Nestas escolas as crianças são selecionadas para descobrir o seu
elemento. Quando essa determinação for feita, sabe-se quem ocupa que posição (ensino
totalmente meritocrático).
- Platão defendia um ensino meritocrático e um programa educativo com música,
artes, educação física, etc, partilhado por homens e mulheres. Além disso, tal como hoje,
divide-se em ensino básico, secundário e superior. Assim:
- a 1ª fase é frequentada por todos
- a 2ª fase é apenas para as almas de prata e ouro, que mostram ter mais
capacidades além dos artífices e camponeses
- a 3ª fase é apenas frequentada pelas almas de ouro, os futuros magistrados

A este sistema político chama-se sofiocracia, porque são os magistrados, sábios e educados
que vão exercer o poder. Aliás, apenas aos 50 anos podem exercer a função de magistratura.

Platão defende:
- abolição da propriedade privada entre a classe dos guardas e dos magistrados -> a
propriedade privada desponta o egoísmo (p.e: em caso de ataque externo e havendo
propriedade privada, os guardas defenderiam primeiro o que lhes pertencesse) ->
desaparecimento da corrupção
- abolição da família -> defendia a igualdade entre homens e mulheres no acesso à
educação e a cargos públicos, mas acredita que os vínculos familiares afastam as pessoas do
interesse público e levam-nas a importar-se mais com as relações afetivas, pois quem faz parte
duma família tende sempre a beneficiá-la
- abolição do casamento e da filiação -> as crianças deviam ser retiradas dos pais à
nascença e institucionalizadas à guarda da cidade. Além disso, os encontros sexuais deviam ser
esporádicos e sem relações estáveis
- exposição dos recém-nascidos com deficiência à morte, por serem considerados
cidadãos inválidos
  
Platão começa por esta conceção tripartida dos regimes político:
- monarquias (governo de um só):
- sofiocracia (poder do rei filósofo)
- tirania (um só governa pela força duma sociedade injusta)
- oligarquias (governo de um grupo/classe)
- timocracia (governo de militares)
- plutocracia (governo de uma elite abastada, que governa em seu favor)
- democracia (governo de todos) 

Platão também teoriza sobre o ciclo dos regimes políticos:


- a sofiocracia pode rapidamente degenerar-se numa timocracia -> os guardas vão-se
revoltar contra os magistrados e, como detêm a força, vão passar a governar a sociedade
 
Diferenças entre o pensamento de Platão e o comunismo atual 
 O comunismo moderno direciona-se para a abolição das classes, enquanto Platão
defende um sistema bastante rígido.   
 Platão defende a abolição da família enquanto na atualidade há uma pluralidade de
modelos familiares. A discussão hoje centra-se nas responsabilidade do Estado e dos
pais na educação das crianças, ou seja, qual é o papel das famílias na escolha da
educação nas escolas públicas.  
 
O realismo de Aristóteles
O objetivo de Aristóteles é que os cidadãos fossem virtuosos, ou seja, não olha para a
sociedade como um todo, mas olha para as relações entre as pessoas (perspetiva micro).
Defende que a sociedade deve acomodar os desejos das pessoas.  

A cidade-estado é uma associação feita através de várias famílias, que formam uma
aldeia e, por sua vez, o conjunto de aldeias forma a cidade. A cidade forma-se com o intuito de
dar uma vida boa e feliz aos cidadãos. Aristóteles defende o pluralismo social e político, pelo
que uma sociedade deve ser diversa. Assim, defende a liberdade individual desde que cada um
aja em conformidade com as virtudes, mas, também, com liberdade para reger a sua vida de
acordo com as suas preferências.

Família
- é crucial para a felicidade individual e é a base institucional da sociedade -> não é
possível retirar um filho a uma mãe, pois isso seria uma crueldade para ambos. Surgem dois
problemas:
- prático: mesmo que sejam separados, os pais, mais tarde, podem reconhecer
os filhos, uma vez que têm semelhanças físicas e, depois, vão procurar favorecê-los
- moral: generalização do incesto

Propriedade privada
- nada se degrada mais do que a propriedade pública, num sentido em que ninguém a
estima e não é zelada da mesma forma que a propriedade privada. Além disso, a propriedade
pública gera conflitos.  A propriedade privada é uma oportunidade para se ser generoso com
aqueles que têm mais necessidade. A possibilidade de ter propriedade é igualmente
gratificante, pois dá a ideia de concretização dum objetivo, se o fizermos pelo nosso trabalho.
 
Classes sociais
- três classes sociais, com base num critério económico
- classe alta – ricos, insubordinados e tendem a excluir-se das obrigações
sociais, achando-se melhores que os outros
- classe média – entre os pobres e ricos, deve ser a classe mais alargada e
ampla, pois é o que garante a estabilidade social
- classe baixa – são pouco críticos do poder e tendem a aceitar mais facilmente
as decisões desse poder, pois a sua única preocupação é a subsistência

Tal como Platão, Aristóteles tem uma classificação das formas políticas: 
- regimes sãos - governam sempre em benefício da sociedade como um todo
- monarquias (governo de um só em benefício dos outros)
- aristocracias (governo de uma parte em benefício dos outros)
- república( governo de todos em benefício de todos) 
- regimes degenerados - o benefício é de quem governa
- Tirania - governo de um só em benefício de si próprio,
- Oligarquia - governo dos oligarcas em benefício deles próprios, 
- Democracia - governo do povo apenas em benefício do povo, ou seja,
descriminaria as classes mais elevadas
 
Aristóteles defende uma república mista, ou seja, é uma mistura das três formas de
governo são. No entanto, reconhece que um regime ideal para uma sociedade pode não o ser
para outra, sendo que este depende da natureza dos seus habitantes, das características
climáticas e demográficas.

4. A civilização romana e a construção do direito


Três pilares de direito: 
 Grécia é importante, pois criou a filosofia.  
 Roma e a cidade são fundamentais, pois foi com ela que o Direito foi criado. ->
Direito enquanto "ciência". O direito romano perdurou, em alguns casos, na
Europa até ao século XIX.  
 O pensamento cristão também foi importante para esta época.  
 
Expecta-se que Roma foi fundada em 753 a.C. e foi criada progressivamente. A sua
primeira fase de construção foi a de realeza (até 509 a.C), depois evoluiu para uma república
governada por cônsules e pelo senado (até 27 a.C), finalmente, para o império (dividido em
principado e dominado). O Império vai ser dividido em dois, primeiro com o imperador
Diocleciano (em 286) e definitivamente com o imperador Teodósio (em 395) -> Império
Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente.
O Império Romano do Ocidente cai em 476, com a queda de Roma em 410 e o Império
Romano do Oriente cai em 1453, com a queda de Constantinopla.
 
Em 534 (criado no Império Romano do Oriente) -> corpus  iuris  civilis  – código que compila
todo o direito romano
 Instituições 
 Digesto (Pandectas) – distingue direito privado e público, dedica-se ao direito civil 
 Codex – decretos dos imperadores 
 novelas 
 
Foi com o direito romano que surgiu a distinção entre direito público e direito privado.
O Direito Romano criou conceitos jurídicos que ainda hoje se usam. 
 
Ubi societas ubi ius
Aforismo deixado pelos romanos que estabelece a relação entre a sociedade e o
Direito, retratando a necessidade das normas jurídicas como instrumento para a regulação
social. Onde há sociedade há direito, pelo que este se torna inevitável. O Direito é uma das
várias alternativas que se podem utilizar para regular a sociedade, apesar de a regular
consoante princípios de justiça.
Além disso, os jurisconsultos romanos deixaram clara a autonomização do Direito,
enquanto norma e enquanto ciência:
 autonomizar enquanto ordem normativa -> separá-la da moral, dos cânones
religiosos e do trato social
 autonomizar enquanto ciência social e humana -> desenvolvimento de
metodologias de interpretação e aplicação dessas normas na resolução de casos
concretos da vida

Cícero – Lei natural e Lei positiva (lei superior não escrita v. lei humana escrita)

Lei natural – jusnaturalismo 


 Há um padrão de justiça acima das leis ordinárias que regulam a sociedade 
 A lei é eterna e imutável, sendo atingível através da razão – através da razão é possível
discernir sobre o que está certo e o que está errado
 É boa, decorre da natureza
 O acesso à lei natural faz com que esta seja incerta, até pois o acesso depende da
capacidade de discernimento de cada um. Além disso, é normal que as pessoas não
cheguem às mesmas conclusões sobre o certo e o errado, pelo que é necessária a lei
positiva, acessível a todos através da sua leitura e interpretação apenas
 É desvantajosa na medida em que, quanto mais complexas forem as matérias, mais
insuficiente se torna a lei natural
 *se o direito positivo não corresponder ao direito natural, a lei torna-se injusta  
 Se considerar a lei injusta, pode-se desobedecer à lei 

Lei positiva – positivismo 


 O direito resulta apenas  da autoridade legitimamente constituída  
 Obediência à lei 
 É vantajosa relativamente à lei natural, pois é segura
 É sempre uma aproximação ao padrão de justiça superior que a lei natural cria
 As leis positivas, ao serem criadas pelo homem, podem ser imperfeitas, nunca sendo
possível corresponderem ao parâmetro de justiça de lei natural
 
Princípio da lei injusta -> desconformidade entre o direito natural e o direito positivo 
 Qual é o nível da desconformidade? 
o Se for pequena, é preferível obedecer à lei 
o Se for grande, há um direito de desobedecer a lei injusta e é possível
destituir quem fez a lei injusta 
 

 
Direito Privado e Direito Público
- Ulpiano 
 «os princípios basilares do direito são: viver honestamente; não lesar outrem; e dar a
cada um aquilo que é seu» (Jusnaturalista) 
 «o direito é a arte do bom e do justo» (Jusnaturalista) 
 «a lei é dura, mas é a lei» (Positivo) 
 «o que agrada ao príncipe, vigora por lei» (Positivo) 
 «o príncipe está livre da lei» (Positivo) 
 Lei + jurisprudência + doutrina -> fontes do direito romano
o Lei: decreto emanado por quem tinha autoridade formal para tanto
o Jurisprudência: as decisões dos tribunais que colocam fim ao litígios entre
particulares ou sancionam aqueles que cometem crimes
o Doutrina: aquilo que os jurisconsultores escrevem
 
  
corpus  iuris  civilis  - digesto 
 Direito Público - respeita ao estado do sistema romano e à organização de Roma
enquanto sociedade politicamente organizada
o Consiste no ordenamento de sacerdotes e magistrados 
 Direito Privado – trata o interesse dos indivíduos que vivem na cidade
o É tripartido, porque é composto pelo direito natural, pelo direito das gentes e
pelo direito civil 
 Direito natural – partilhado por todos os seres, é inerente à natureza.  
o Um direito natural aplicado a todos os seres, não deixa de distingui-los
(só os homens tinham a capacidade de discernir sobre o justo e o
injusto) 
 
Critérios de distinção entre Direito Público e Direito Privado 
 fonte (normas jurídicas) - quem emana as regras? -  é uma autoridade pública (Direito
Público) ou sujeitos privados (Direito Privado) 
 Interesse (protegido sobre esses mesmas normas) - qual é o interesse em causa? -
satisfazer uma necessidade coletiva ou garantir a efetividade do poder político (direito
público) ou garantir que na relação entre privados se aplicam padrões de justiça
(direito privado) 
 Disponibilidade (ou indisponibilidade das normas em causa) - as ordens de direito
público são indisponíveis (imperativas em qualquer situação), mesmo que se incluam
em ramos de direito privado, enquanto as ordens de direito privado são supletivas,
podendo ser alteradas ou afastadas 

As relações regidas pelo Direito Público são verticais, pois uma das partes está dotada
de poder de autoridade (ius imperii). Por outro lado, as relações regidas pelo Direito Privado
são, do ponto de vista jurídico, horizontais, pois ninguém tem uma posição genérica de
supremacia (-> a horizontalidade destas relações não significa que não hajam desigualdades).
Nos contratos celebrados pelo Estado com sujeitos privados, tanto se podem
encontrar regimes de Direito Público como de Direito Privado. O Estado pode contratar com os
privados de duas maneiras diferentes:
- contrata precisamente como se fosse um privado pelo que, se houver litígio, ele é
resolvido pelo Direito Civil
- celebra contratos em regimes especiais, que lhe conferem certas prerrogativas (p.e:
alterar o conteúdo dos contratos durante a sua execução -> o exercício do poder de
modificação unilateral obriga o Estado a proceder ao reequilíbrio financeiro do contrato,
compensado o seu contraente privado)

Seguindo os critérios anteriores, pode-se encontrar no Direito Público três níveis


diferentes de sistemas jurídicos relativamente autónomos:
- Direito Internacional
- trata das relações entre os Estados, das organizações internacionais e do seu
funcionamento e da proteção dos direitos humanos dos indivíduos
- Direito da União Europeia
- há constitucional, administrativo, financeiro, etc, tal como há direito privado
da União Europeia
- Direito Interno (ou Direito Nacional)
- direito de cada país, constitucional, administrativo, financeiro, ordenamento
de território, ambiental

Já o núcleo do Direito Privado é o Direito Civil, que inclui obrigações, família, reais e
sucessões. No entanto, há outros ramos do direito privado como trabalho, bancário, autor,
comercial, etc. Há uma pequena exceção no Direito Internacional Privado, pois baseia-se na
aplicação da lei numa relação privada plurinacional ou plurilocalizada, pelo que faz respeito
tanto ao Direito Privado como ao Direito Público.
 

Tanto o Direito Público como o Direito Privado podem ter fontes internacionais. 
 
Para resolver os conflitos entre os critérios de classificação, usam-se vários critérios: 
 Critério temporal: uma norma posterior prevalece sobre uma norma anterior 
 Critério da especialidade: uma lei especial prevalece sobre uma lei geral 
 Critério da hierarquia: numa dada ordem jurídica, havendo conflito normativo,
esse conflito pode ser resolvido através duma hierarquia 

[gera] lDireito constitucional > Direito Internacional > Direito ordinário interno

O Direito Internacional (jus  cogens) prevalece acima do Direito da


União Europeia (direito federal – primado do Direito Europeu -> o
direito da UE prevalece sobre o direito dos estados-membros) e do
Direito Constitucional.
 
 
 

Corpus Iuris Civilis  
 Jus civile 
 Jus gentium 
 Direitos locais (dos povos do império) -> os
romanos toleravam que os povos do império se
regessem pelas suas próprias regras  

Ius Civile
- direito privado que regula as relações privadas entre
cidadãos romanos
- conjunto de normas jurídicas aplicáveis a uma elite,
constituída por aqueles que têm o status de cidadania
romana
- aplicável aos cidadãos quer eles estejam em Roma ou noutra cidade do Império Romano
- os cidadãos romanos tinham a garantida aplicação do Ius Civile onde quer que estivessem

Ius Gentium
- aplicado nas relações entre os cidadãos romanos e os outros habitantes do império
- antecedente do Direito Internacional Privado

Direitos locais
- às relações entre os indivíduos não romanos aplicavam-se os direitos locais
- os romanos reconheciam a extensão do Império e por isso permitiam a aplicação de outros
direitos e normas jurídicas que não o direito romano
 
Exemplo: três julgamentos de Jesus Cristo 
1º - no Sinédrio (perante sacerdote Caifás) 
2º - na Judeia (perante Pilatos) 
3º - na Galileia (perante Herodes) 

1. Jesus Cristo foi preso segundo a denúncia de soldados romanos e é entregue, primeiramente, a Caifás e é
julgado no Sinédrio (órgão político-religioso de Israel, que funcionava com a lei mosaica). É acusado de heresia, de
se afirmar Messias e capaz de fazer milagres (blasfémia). Foi condenado à pena de morte, mas os romanos
reservavam ara si o poder de aplicar a pena de morte.  
 
2. Jesus cristo é levado para a Judeia, para ser julgado por Pilatos, consoante o direito romano, logo os
crimes teriam de mudar e ter relevância política. É acusado de afirmar que era rei dos judeus, perturbação da
ordem pública. Permissão da condenação à pena de morte -> cruxificação.  
 
Neste caso foi aplicado, primeiramente, o direito judaico e depois o direito romano 

 
Conflitos de jurisdição: 
 Conflitos positivos: quando duas autoridades (administrativas ou jurisdicionais) se
consideram competentes para decidir determinado caso  
 Conflitos negativos: duas autoridades (administrativa ou jurisdicionais) não se
consideram competentes para decidir determinado caso 

O império romano   
Dividido em Oriente e Ocidente (cai em 476), degenera em vários reinos que se vão
alterando, expandindo e formando ao longo dos anos.  

5. O período medieval: bem comum e justiça

A Idade Média   
 Tentativa de reconstrução do Império Romano do Ocidente 
 O melhor foi conseguido foi o do Imperador Carlos Magno (800) 
 Sacro Império Romano-Germânico - cujo território está dividido em reinos (onde
vigoravam os príncipes eleitores) 
 Subordinação dos reis/senhores ao Imperador 
 Estabelecimento duma nova relação entre os súbitos, reis e imperadores - relação
sucessiva de fidelidade  
 Dentro dos reinos, havia os feudos 
 Relação feudal - princípio da fidelidade 
 Conceção patrimonial do poder 
 
A principal característica da Idade Média é a pulverização do poder. Com a queda do
Império, o território dividiu-se em vários reinos. Houve várias tentativas de reconstruir o
Império, a maior tentativa foi feita por Carlos Magno. Além disso, do ponto de vista espiritual,
foi construído o Sacro Império Romano-Germânico.
Estes reinos eram constituídos por feudos. Além disso, existiam as comunas
(especialmente em Itália), que eram cidades independentes.
 
Relação feudal - princípio da fidelidade (espécie da pacto social)
 Entre os súbditos e o senhor – quem está na terra do senhor deve-lhe obediência
 Entre os senhores e os reis – a fidelidade dos senhores feudais ao rei não era
garantida, pois o rei podia depender destes para alargar o seu exército ou custear
uma guerra proveniente duma ameaça externa
 Os senhores feudais tinham tantos poderes quanto os dos reis, à exceção de matar

A sociedade era altamente estruturada e mesmo dentro das classes, havia diferenças abissais
de estatuto:
- clero
- nobreza
- povo
 

Princípio da conservação
 deixar à geração seguinte aquilo que se recebe da geração anterior (p.e: o filho de
camponês seria camponês)
 os filhos sucediam aos pais no cultivo das mesmas terras, nos vínculos de obediência
aos senhores, assim como nos ofícios e estatuto social
 

Conceção patrimonial do poder 


 o poder exerce-se sobre as pessoas através do espaço físico onde elas vivem
 os cargos públicos eram dados ou transmitidos pelas mesmas formas que a
propriedade (p.E: alguém que tivesse dinheiro ou ens, podia aduirir uma função
pública e muitas vezes era o rei que dava um cargo público)
 quando eram necessários recursos financeiros, o rei vendia ofícios públicos ou títulos
nobiliárquicos a quem estivesse disposto a pagar por eles

O que unia o país era a religião, tanto o rei, como o clero e o povo partilhavam o
cristianismo: todos estavam sujeitos ao juízo final e faziam todos parte do mesmo domínio
espiritual e material que era a Igreja Católica. A ação da Igreja não se limitava ao domínio
religioso, até porque muitos bispos e arcebispos eram senhores feudais, detentores de riqueza
e de território. A cabeça desta comunidade era o Papa, também a única autoridade
internacional, e que os reis reconheciam estar acima de si.
No período da Idade Média os reis vão estar limitados duplamente, acima e abaixo: por um
lado, pelos senhores feudais, por outro, pelo Papa e por imperadores. No plano interno, diz-se
que o rei é primus inter pares, um senhor entre senhores.

 
3 visões diferentes sobre o direito
 Germânica
 Igreja Católica
 Renascimento do Direito Romano
 
Visão germânica
 O direito era, essencialmente, costume (conjunto de normas consuetudinárias) ->
normas de direito privado
 Ex. norma consuetudinária -> a capital de Portugal é Lisboa
 As comunidades eram regidas por práticas sociais reiteradas
o Costume: corpus (prática reiterada) animus (convicção de que a prática é
obrigatória)
 Limitação do poder
o a função do rei e dos senhores não é a de legisladores, mas de juízes, ou
seja, não criam o Direito, aplicam-no
o Os senhores não eram juízes supremos
 Todos devem obediência ao Direito
o A vantagem da lei relativamente ao costume, é que apenas é necessário
interpretá-la uma vez que é direito positivo, está escrito
o As normas consuetudinárias, muitas vezes, implicam tentar provar a sua
existência e mostrar que a prática existe
 
 
*Hoje em dia o costume é usado apenas e maioritariamente no Direito Internacional Público, uma vez que
não há um legislador internacional. Os tratados internacionais e os costumes regem as relações dos Estados entre
si.  

Visão da Igreja Católica - pensamento cristão


 Resulta dos doutores da Igreja
 Todos são filhos de Deus e, por isso, todos têm uma dignidade inerente a essa
origem. Por todos terem dignidade são iguais, também
 O poder tem origem divina e pertence a Deus, ainda que na prática tenha de ser
exercido por homens
o Santo Agostinho - o homem está marcado pelo pecado original e por isso a
vida na terra está cheia de sofrimento
o S .Tomás de Aquino - doutrina da mediação popular: o poder tem origem
em Deus mas é entregue ao rei através do povo. Esta doutrina relembra o
rei do seu papel
 Distinção entre a lei natural e a lei humana
 Subordinação da governação ao bem comum: o bem de todos, mas com respeito
pelo bem individual de cada um
 
Visão do Renascimento do Direito Romano
 Começam a surgir as primeiras universidades europeias (séc. XI e XII): estudava-se
teologia e direito (romano imperial)
o Da Universidade, o direito romano vai chegar às cortes -> rei como
legislador
 Surge o rei legislador, que faz uma reforma do seu reino através de novos regimes
jurídicos. O rei legislador vai uniformizar o seu reino através da obediência a uma
única lei
 Vai ser dado ao direito romano uma segunda vigência supletiva, o direito romano
vai, até ao séc. XIX, predominar sobre o direito nacional
 
Organização Política Medieval (resumo)
 O poder está pulverizado
 O poder está privatizado
 A função do rei é a de juiz supremo
 Não há imediação entre o rei e os súbitos
 Não existe administração pública centralizada
 O poder do rei está limitado interna (senhores feudais) e externamente
(Papa/Imperador)

6. Estado Moderno, soberania e absolutismo


Fatores de evolução (Idade Média -> Estado Moderno, de matriz europeia)
 Abertura económica, cultural e religiosa própria do Renascimento (laicização do
poder): aumento das relações comerciais, dinamismo económico, contatos entre
diferentes povos, progresso cultural nas universidades, mas também nas cidades
(sobretudo italianas) e novo clima religioso de mais abertura e alguma laicização da
vida política
 Despontar de sentimentos nacionalistas: formam-se nações (uma comunidade
histórica de cultura, unidas por um projeto comum) que se querem organizar
politicamente -> tradução jurídica no princípio da nacionalidade (direito a uma nação
organizar-se como Estado independente). Os sentimentos nacionalistas vão ser
aproveitados pelos reis para expandir território
 Receção do Direito Romano imperial no ocidente (Corpus Iuris Civilis) - lei como
fonte de Direito: o direito que o Imperador Justiniano organizou no Corpus Iuris Civilis.
Passa a ser cultivado novamente nas universidades, especialmente Bolonha, passando
então por todos. Chega aos reis a ideia de que o costume pode ser abandonado e que
a lei pode ser usada para unificar todo o reino, submetendo todos os súbditos aos
mesmos princípios. Os reis assumem-se como legisladores e, por isso, o direito passa a
ser comum
 Novo pensamento político, centrado nas ideias de Estado e de soberania: Maquiavel
e Bodin («O Príncipe» e «Os 6 livros da república»)
 
 
Maquiavel
 Era um alto funcionário público, tendo tido algumas funções diplomáticas
 Escreve «O Príncipe» como se fosse um manual de como fazer política
 
1. Rotura com tradição grega (virtudes) e cristã (bem comum)
2. Idealismo ético/realismo político
3. Bases da ciência política e das suas leis
4. Conceito de estado
5. Monarquia e república
6. Amoralismo político
 
O que caracteriza a política é o facto de ser uma ordem diferente da moral, da filosofia. A
política tem as suas próprias leis e critérios de aferição sobre qual é a conduta certa/errada do
príncipe. Esta visão cria uma conceção fria da política, criando a ciência política. A ciência
política propõe o ser da política e não o dever ser.
 
Na obra de Maquiavel, o mais importante é o conceito de Estado.
 "Todos os estados que tiveram ou têm domínio sobre os homens são repúblicas ou
principados". -> nova realidade política: Estado (moderno de matriz europeia)
 Repúblicas vs principados (ou monarquias) - corta com o passado, pois no passado as
tipologias das diferentes formas políticas eram tripartidas
o República: não há transmissão hereditária do poder, havendo várias formas de
adquirir o poder
o Monarquia: a chefia do Estado transmite-se de forma hereditária
 Tem um conceção do poder político firme, desvinculado da moral
 

Amoralismo político
Maquiavel autonomiza a política, separando-a da moral e da religião, criando "leis
próprias" da mesma:
 Os fins justificam os meios - o príncipe pode usar discricionariamente todos os meios
para obter o que quer
 As formas políticas não são boas nem más - o que se pode distinguir é a eficácia do
príncipe
 O móbil da ação política é a "razão de Estado" (não o bem comum)
 O poder justifica-se pela sua eficácia - o que importa é saber se o príncipe é eficaz na
sua ação e se o Estado que governa é sólido e se afirma nas relações internacionais e
nas relações com os súbditos
 
Maquiavel dá conselhos aos príncipes:
 Fazer o bem sempre que possível e o mau sempre que necessário
 Fazer o mal de uma só vez e o bem aos poucos: fazendo o mal, as pessoas hão de
esquecer mais tarde ou mais cedo, enquanto a manutenção do bem permite a
resposta positiva do povo
 O recurso à guerra é uma boa forma de reforçar o poder: uma das pregorrativas do
Estado era o recurso à guerra. Há 3 prerrogativas das relações internacionais: Ius
legaciones - direito a enviar e receber embaixadores; Ius tractum - direito a assinar
tratados internacionais, Ius belli - direito a fazer a guerra
o Para Maquiavel o recurso à guerra é outra forma de fazer política
 Antes ser temido do que amado: dá mais garantias ao príncipe de que se vai manter
 É preferível o apoio do povo do que o apoio dos grandes
 
Jean Bodin
 Estado: «o governo reto de várias famílias e daquilo que lhes é comum, com poder
soberano»
o Governo reto - o poder está subordinado à justiça, à moral e ao direito natural
o De várias famílias - a base da sociedade é a família, assemelhando-se ao poder
doméstico (poder político vs. Pater familias))
o Do que lhes é comum - o poder do Estado limita-se aquilo que é comum a
todos, não transgredindo as vidas familiares e a propriedade privada
o Com poder soberano
 
 Soberania: «o poder absoluto e perpétuo de uma República»
o Poder - capacidade de impor comandos a que todos os súbditos devem
obediência
o Perpétuo - contínuo sem fim, a perpetuidade tem que ver com a colocação da
soberania no rei (a soberania continua na sucessão dos diferentes reis)
o Absoluto - simultaneamente absoluto e sujeito a limites. Quando diz que o
poder é absoluto, significa que o poder é isolado, sem relação. Não admite
poder acima de si nem abaixo. Fundamento para que os reis se libertem dos
poderes superiores (Papa, imperadores) e inferiores (senhores feudais). Não
admite concorrência
 
 Atributos da soberania:
o Una e indivisível - está nas mãos de uma só pessoa, não está dividida pela
sociedade -> está concentrada nas mãos dos reis
o Própria e não delegável - os reis são soberanos por direito próprio e não
porque lhes tenha sido delegada a soberania
o Irrevogável - é para sempre. Está excluída a hipótese de deposição do rei, não
podendo ser tirado do poder.
o Suprema (ordem interna) - não há nenhum poder dentro do Estado que possa
rivalizar com o poder soberano do monarca
o Independente (ordem externa) - cada Estado participa por si na comunidade
internacional
A lista de atributos dada à soberania serviam, conjuntamente, para libertar o rei dos
poderes que o podiam constranger.
 
 Atributos do rei:
o Legislar - o rei detinha o poder legislativo, o poder de fazer livremente regras e
de revogá-las (a lei prevalecia sobre o costume como fonte de direito)
o Fazer guerra e paz
o Julgar em última instância
o Perdoar os condenados
o Cunhar moeda
o Lançar impostos
 
 Limites ao poder do rei (para evitar um governo injusto e arbitrário):
o Moral e leis divinas e naturais - governo reto que respeite a moral e as leis
divinas
o Propriedade e família - o rei só se deve ocupar de encargos públicos,
afastando-se da propriedade privada dos súbditos e do governo das famílias
o Leis humanas comuns a todos os povos - o rei tem de respeitas as leis
humanas comuns
o Leis fundamentais do reino - o rei tem de respeitar as regras fundamentais do
reino (sobretudo as de sucessão ao trono e as de assembleias representativas
(p.e: estados gerais)
o Pluralismo social - o rei deve respeitar a autonomia das corporações e das
instituições sociais, etc
o Estas regras não implicam a existência dum mecanismo efetivo de controlo do
rei (que não havia), não havendo sanções ao rei caso ele não as cumpra,
quanto muito existiria o juízo final perante Deus
 
Bodin também se pronuncia sobre a origem do poder e apresenta uma complexa
classificação das formas de Estado (titularidade de soberania), das formas de governo
(exercício de soberania) e dos regimes políticos (respeito dos direitos dos súbditos).
Além disso, Bodin escolhe a monarquia como regime político ideal, rejeitando a tirania.
Escolhe a «monarquia real», pois é a forma de governo que assegura a unidade da soberania,
na pessoa do rei.
 

Tanto o pensamento de Maquiavel como o de Bodin contribuíram para consolidar o


conceito de absolutismo monárquico.

É importante distinguir dentro do Estado moderno três fases:


 Estado Estamental – período de transição
 Estado Absoluto – tem duas fases por sua vez: monarquia de direito divino e
despotismo esclarecido
 Estados Constitucionais/Estados de Direito – aparecem com as revoluções liberais

Estado Estamental
 Forma política de transição que assenta na dualidade rei/reino (próprio da Idade
Média) e rei/classes sociais (estamentos)
 As assembleias estamentais eram muito importantes nesta altura, pois eram uma
forma de o rei dialogar com, ou apenas ouvir a sociedade, que continuava
evidentemente estratificada em classes e subclasses (p.e: França – Estados Gerais;
Portugal – Cortes)
 Quando começamos a entrar no Estado Absoluto, verificamos que o rei vai deixando
gradualmente de reunir estes órgãos representativos da comunidade ou reúne-os
apenas em circunstâncias muito particulares. Em alguns casos, o Rei recusava-se
mesmo a reunir estes órgãos e começava a tomar as decisões políticas sozinho,
ouvindo apenas os seus conselheiros de confiança

Estado Absoluto
 nesta época o rei dita o Direito, governando por direito próprio e à margem da
sociedade
 isto não significa que deixassem de haver regras jurídicas aplicáveis ao exercício de
poder e que a vontade arbitrária do rei se confunda com o Direito. No mínimo,
existiam leis constitucionais régias sobre a sucessão após a morte do rei, que eram
bastante importantes do ponto de vista da estabilidade política e, por isso, nos
diferentes reinos sempre estiveram nas leis fundamentais
 não existe poder político sem um mínimo de institucionalização, o que apenas as
regras jurídicas podem garantir, sendo que o Estado Absoluto não implica ausência
destas regras, mesmo sendo estas bastante elementares

 máxima concentração de poder nas mãos do rei: tinha o poder judicial e legislativo,
passa a ter também o executivo
 durante a época absolutista, os reis começaram a governar e a exercer políticas
públicas:
o desenvolvimento económico
o obras públicas
o fomento do comércio e das indústrias
o educação (que antes era uma tarefa da Igreja)

Neste período, é importante considerar duas fases:


 monarquia de direito divino
 despotismo esclarecido

Monarquias de direito divino


 fundam-se na ideia de que os reis receberam diretamente o poder de Deus , que lhes
confiou uma missão e, por isso, também só podem responder a Deus
 há um distanciamento da doutrina de mediação popular defendida por S. Tomás de
Aquino, deixando, por sua vez, de haver reconhecimento ao direito de resistência do
povo -> se houver direito de resistência contra o monarca ou contra a lei injusta, o
poder não é verdadeiramente absoluto

Despotismo esclarecido
 a justificação arranjada para o poder régio vai ser destruída no Iluminismo. Os
primeiros autores iluministas justificam o poder absoluto como portador de razão,
afastando a sua ligação com Deus.
 A razão diz que o Estado deve estar ao serviço do interesse público, pelo que o rei
deve ter a máxima liberdade de meios para realizar o interesse público
 O rei deve governar para a comunidade mas sem a participação da comunidade,
porque não precisa dela
 Esclarecido e dotado de razão o rei usa esse esclarecimento para transformar as
estruturas sociais em diversos domínios
 O que norteia a ação régia é a razão do Estado, não a religião, moral e filosofia
(recuperação da ideia de razão de Estado, proposta por Maquiavel)
 Para alcançar os objetivos reformistas, os monarcas criaram, pela primeira vez, um
órgão de administração interna -> através dos oficiais régios (nomeados), cobre a
totalidade do território, anulando possíveis resistências que pudessem existir
 O papel do déspota esclarecido era justificado pela ideia de progresso
 Em Portugal – o despotismo esclarecido corresponde ao reinado de D. José I, com a
particularidade de ter sido o Marquês de Pombal o verdadeiro governante que
introduziu profundas reformas nas estruturas sociais, no comércio, nas obras públicas,
na educação, etc.

Influência iluminista
 O Iluminismo acabou por levar os pensadores a colocar em causa o absolutismo e a
concentração de poder. Aliás, três das medidas que os iluministas propõem são a
limitação do poder régio, a participação da comunidade no exercício do poder e o fim
de alguns privilégios sociais.
 Os desenvolvimentos económicos nos reinos levaram à ascensão da burguesia, que
começa a competir com a aristocracia, quer em riqueza, como em instrução e prestígio
social -> vai surgir uma subclasse social forte, que recusa o predomínio da aristocracia
tradicional e que vai reivindicar reconhecimento social e político
 Em larga medida as revoluções liberais são revoluções burguesas, promovidas pela
burguesia contra a aristocracia. Claro, também contra o poder absoluto do monarca,
mas também contra os privilégios das classes superiores
 A natureza burguesa das revoluções liberais revela-se, mais tarde, na sobrevalorização
dos direitos que vão ser reconhecidos nas primeiras declarações de diretos: direito à
propriedade, a liberdade contratual, voto censitário, etc.

7. A caminho das revoluções liberais: os pilares do Estado de Direito


1º pilar – igualdade e direitos fundamentais
2º pilar – separação de poderes e lei como expressão da vontade geral
3º pilar – soberania popular, cidadania e consentimento popular, representação política

A ideia de igualdade na altura não era a mesma que temos hoje. Não havia a noção de
igualdade em critérios materiais, por exemplo. No entanto, interpretou-se a igualdade como
algo comum a todos, a «igualdade perante a lei», que não aboliu as classes sociais, mas definiu
que a lei se aplica a todos.
Assim, os direitos fundamentais resultaram da convicção de que os homens nascem
dotados dum conjunto de direitos dos quais o homem não pode ser privado na transição do
estado natureza para o estado sociedade – estes direitos são considerados inalienáveis. No
entanto, isto não significa que estes direitos sejam absolutos, insuscetíveis de restrições,
simplesmente o homem não pode perder estes direitos na sua relação com o Estado. Aliás,
estes direitos devem constituir um limite ao exercício do poder político.

 Thomas Hobbes e John Locke – liberdades fundamentais


 Montesquieu – separação de poderes
 Rosseau – soberania popular

Comparativamente, o estado de natureza é semelhante ao Estado Absoluto, enquanto o


estado sociedade é similar ao Estado Constitucional. O Estado Absoluto associa-se à lei do mais
forte, no caso o monarca, enquanto o Estado Constitucional é associado à sujeição do poder ao
Direito. A ideia de Constituição associa-se à ideia de contrato social.
No que diz respeito à separação de poderes, é importante distinguir os três, tal como é
importante distinguir que autoridades exercem cada um.
 Poder legislativo -> parlamento
 Poder executivo -> rei e governo
 Poder judicial -> tribunais
Esta separação não é equilibrada, na medida em que o poder legislativo se encontra
num plano superior e os restantes estão subordinados ao legislativo. A lei é aplicada pela
administração de forma parcial e pelos tribunais de forma imparcial. A lei constitui a garantia
de que a vontade do legislador – do legislador popular, reunido no parlamento que representa
a comunidade – vai prevalecer sobre o elemento monárquico como sobre o elemento
jurisdicional-aristocrático.
O modelo da separação de poderes está associado ao princípio da legalidade – um
princípio básico do Direito Público. A administração e os tribunais estão vinculados à lei: a lei
não é só um limite externo da ação de poderes públicos, como acontece com os particulares,
mas o fundamento interno e medida de ação dos poderes públicos. Os sujeitos privados
podem fazer tudo aquilo que não é proibido por lei, enquanto os poderes públicos só podem
agir com base numa lei que lhe atribua competência para o efeito e, na sua ação, têm de
respeitar os parâmetros fixados por essa lei. -> diferença entre princípio da liberdade e
princípio da competência.
O princípio da legalidade não significa só que o poder no seu conjunto deve ser
submetido, mas também que o poder executivo e o poder jurisdicional estão subordinados ao
Parlamento, porque é este o órgão que expressa a vontade geral.

Para Montesquieu a separação de poderes era também uma forma e repartir o poder
entre o rei, o povo e a aristocracia.

A ideia de soberania popular foi introduzida por Rosseau. Apesar de as revoluções


liberais se terem baseado neste princípio, não se concretizaram nele integralmente. Rosseau
defendia uma democracia direta e um autogoverno, o que em muitos países era impraticável,
daí a ideia de soberania popular se ter concretizado de mão dada com a teoria da
representação política. O povo participava democraticamente, de forma indireta, elegendo
representantes para o parlamento. A representação política tinha ainda a vantagem de
permitir que fossem escolhidas para as funções governativas as pessoas mais ilustradas da
sociedade, com especial conhecimento dos negócios públicos. -> p.e: o sistema de eleições
para o presidente norte-americano foi pensado para que os cidadãos americanos não
escolhessem diretamente os seus presidentes, mas elegem um colégio eleitoral presidencial
(«grandes eleitores»). Hoje o sistema americano de eleição do presidente permanece idêntico,
mas, à partida, no dia em que se elege o colégio eleitoral sabe-se qual será o presidente.
Esta ideia de representatividade política era defendida por Monstesquieu, mas
Rosseau recusava-a, uma vez que acreditava que a soberania não era algo representável. Cada
cidadão detém uma pequena parcela de soberania não representada.

Hobbes e Locke foram os grandes teóricos dos direitos fundamentais, que são
inalienáveis e, na passagem para o estado sociedade, estes não devem ser perdidos em prol do
poder. No entanto, têm algumas diferenças:
 Hobbes
o A principal ameaça para o homem era os outros homens e, portanto, ao
estabelecerem relações sociais, deviam ser protegidos do outro
o A função do contrato social é garantir a segurança e estabilidade
 Locke
o O problema residia na instituição do poder político, pelo contrato social, que
podia repercutir-se na a dos homens
o O Estado devia limitar-se a cumprir funções soberanas: administrar a justiça,
assegurar a defesa externa (recorrendo à guerra se fosse necessário), garantir
a segurança interna e cobrar impostos para poder cumprir essas tarefas
públicas -> Estado forte
o O estado devia, no entanto, devia ser tão pequeno e fraco quanto possível, na
medida em que menor seria a probabilidade de restringir os direitos dos
cidadãos
o Os atos de autoridade do Estado devem ser pontuais, limitados e incisivos

Por outro lado, Rosseau foi um teórico paradoxal, na medida em que teorizou o
conceito de soberania popular, mas afirmou, também que esta tem alguns limites, uma vez
que um povo sem limites colocaria em causa a separação de poderes. Se o povo puder tudo,
não podem haver direitos fundamentais, pois esses devem estará cima da maioria. Os direitos
fundamentais têm uma função de resistência aquilo que é a vontade da maioria, pois as
maiorias são voláteis, mas os direitos fundamentais devem permanecer.
Estas três ideias iluministas foram recolhidas em Declarações de Direito e em
Constituições.
 Europa – primeiramente, as Constituições vão ser vistas como um documento
de natureza política ou uma mera declaração de princípios
 Nos EUA, a Constituição vai ser vista como um documento jurídico e como
uma lei hierarquicamente acima das outras

Muitos autores refletiram sobre a relação entre a Constituição e as restantes leis:


abade Emmanuel Joseph Sieyès, Alexander Hamilton, James Madison e John May, que
escreverem em conjunto o The Federalist, no qual avançam a ideia de que a Constituição não
só é uma lei, como é uma lei superior às restantes, explicando também que o incumprimento
da Constituição implica a invalidade das restantes leis.
O The Federalist é um conjunto de artigos de jornais, publicado em Nova Iorque, com o
objetivo de convencer os respetivos cidadãos a votarem a favor da ratificação da Constituição
federal redigida em Filadélfia, pelos representantes dos 13 estados americanos. Neste
observou-se a defesa de que há uma separação entre o poder constituinte e os restantes
poderes separados por Monstesquieu, que são apenas poderes constituídos de segunda linha
e que sempre estarão subordinados ao poder constituinte.
Esta ideia dá origem ao princípio da constitucionalidade -> a não conformidade da leis
e dos demais atos públicos com a Constituição pode incorrer na invalidade e impossibilidade
de prática dos mesmos. Assim, conclui-se que os três pilares do Estado de Direito não se
suportam sem uma Constituição e, em adição, esta Constituição também se deve assumir
como superior às restantes leis.
É importante, também, destacar que as revoluções liberais não foram sinónimo de
revoluções democráticas. Na verdade, a instituição de democracias foi feita progressivamente.
Uma vez que as revoluções lideradas foram motivadas e moldadas pelos interesses burgueses,
é claro que os seus interesses vão estar representados no parlamento, especialmente, porque
era quem detinha sabedoria e, segundamente, o voto era censitário (ou seja, só quem tinha
certa capacidade económica ou certo nível de instrução podia votar).

Thomas Hobbes
 Igualdade entre os homens: a natureza fez os homens todos iguais e é importante que
cada homem reconheça os outros como iguais. Esta igualdade básica na estrutura do
homem deve dar a esperança de todos atingirem os mesmos fins
 Preservação/alienação de direitos na transição para o estado sociedade: há direitos
que é impossível admitir que algum homem possa abandonar ou transferir
 Soberano como legislador: o rei decide o melhor para todos, a propriedade (de
direitos)
 Direito de resistência: há coisas que os súbditos se podem recusar a fazer, tendo a
liberdade de desobedecer ao soberano se este ordena que não se exerça legítima
defesa. Além disso, os súbditos não têm de confessar crimes, mesmo cometendo-os.
Defende, também, a objeção de consciência.
 Espaço de legalidade: há três esferas – 1) coberta por lei, em que os homens devem
total obediência pelo estabelecido no contrato social; 2) diametralmente oposta, em
que os homens gozam de plena liberdade, 3) espaço de legalidade, em que a lei existe,
mas tanto os súbditos como o soberano estão subordinados à lei (p.e: um súbdito que
tenha uma controvérsia com o rei tem o direito a defender-se em tribunal, mesmo
contra o soberano). Trata-se duma zona de legalidade na qual os tribunais são
chamados a aplicar a lei
 Poder soberano, mas não absoluto: à semelhança de Bodin, defende um Estado
dotado de soberania, que não admita concorrência, sendo forte
 Reciprocidade na relação entre soberano e súbditos: os súbditos devem ser fieis na
sua obediência, mas essa fidelidade só se mantém quando o rei cumpre as suas
obrigações. Ninguém pode ser obrigado a cumprir uma lei se essa lei não for acessível
aos seus destinatários e se não for dela dado conhecimento público. Além disso, a falta
de meios para conhecer a lei desculpa a infração e explica que não há crime sem lei
prévia (nullum crimen sine lege), ou seja, nenhuma lei feita depois de praticado um
ato, pode transformar esse ato num crime.
 Função de segurança do Estado: a função do soberano é proteger os súbditos,
proteger a vida e a integridade física
 Direitos fundamentais nas relações entre sujeitos privados: regula as relações das
pessoas entre si trata dos direitos das fundamentais dos súbditos perante o Estado. A
proteção dos direitos fundamentais nas duas vertentes é importante para impedir
abuso de poder

John Locke – “pai” dos direitos fundamentais (quando os homens nascem são dotados de
vários direitos que não podem perder na passagem do estado natureza para o estado
sociedade) – vertente contratualista
 Igualdade entre os homens: os homens são iguais por natureza e esta igualdade não
impede que se reconheça a existência de determinadas diferenças relevantes como a
idade e as virtudes (quanto mais velhas/virtuosas as pessoas forem, maior
consideração se deve ter por elas -> têm reconhecimento especial pela sociedade, têm
«justa precedência»)
 Onde não há lei não há liberdade: a liberdade não é sinónimo de anarquia, é ordeira
sobre a lei. A lei e o respeito pela lei é condição do exercício de liberdade pelos
membros da sociedade
 Propriedade como conjunto de direitos fundamentais: a liberdade é o conjunto dos
direitos de cada pessoa, tornando-se propriedade das mesmas. A propriedade é o que
faz os homens aceitarem sair do estado natureza e passar para o estado sociedade.
 Preservação da propriedade como fim da sujeição dos homens a um governo: o
objetivo da passagem do estado natureza para o estado sociedade é proteger a
propriedade privada (tanto física como os direitos)
 Proibição de justiça privada: a passagem do estado de natureza para o estado de
sociedade não permite que os homens continuem a fazer justiça pelas próprias mãos
 Poder limitado: quanto mais limitado for o poder público, menores são os riscos para
a propriedade privada e maior o espaço para as pessoas exercerem as suas liberdades
 Consentimento (da maioria) dos governados, através da lei: o governo deve ser
representativo e consentido pela maioria dos membros da sociedade
 Separação de poderes: chega a defender a separação de poderes, mas a sua ideia não
foi levada a cabo, por ser insuficiente, tendo sido mais tarde aprofundada por
Monstesquieu. A separação de Locke divide o poder legislativo, e o poder executivo –
aplicar as leis – e o poder federativo – conduzir as leis nacionais. No entanto, faltou-lhe
o poder judicial independente para que as sua conceção de separação de poderes
prevalecesse.

Hobbes Locke
Objetivo Garantir a segurança dos Preservação das propriedade
cidadãos
Como deve ser o Estado forte Estado fraco
Estado?
Poder do estado Garantia da paz social, Ideia de consentimento
legitimado aos proveniente do respeito
olhos da recíproco dos direitos
comunidade individuais

Montesquieu (“Espírito das Leis” – livro 11º)


 Adversário do absolutismo, mas não um democrata: apesar de acreditar na limitação
do poder, recusa a democracia, na medida em que defende que o Parlamento tem
necessariamente de ser bicamaral (tem de ter duas câmaras separadas – uma câmara
alta e uma câmara baixa)
 Liberdade vs. Abuso de poder: acaba por defender a separação de poderes como
modo de preservar as liberdades -> só há liberdade onde não há abuso de poder e
para o evitar é necessário limitá-lo (colocando os diferentes poderem em diferentes
órgãos e a controlarem-se reciprocamente)
 República vs. Monarquia: entre monarquia e república prefere a monarquia, pois é
mais moderada, na medida em que mantém o respeito pelas tradições
 Separação vertical/horizontal de poderes: a única maneira de limitar o poder é
dividindo-o. Divide-se em três poderes (legislativo, executivo e jurisdicional –
separação horizontal) e cada um é entregue a um órgão diferente. Diferentes níveis de
administração, cada um com o seu poder – separação vertical (p.e: modelos federais
como o norte-americano).
 Legislativo, executivo e judicial – desequilíbrio: apesar dos poderes estarem divididos,
não têm todos a mesma relevância. Para Montesquieu o poder legislativo é superior,
pois os outros dois poderes apenas aplicam a lei, estando subordinados ao legislador
(poder primário: poder legislativo/poderes secundários: poderes judicial e executivo)
 Legislativo bicameral (RU e EUA): a separação é aplicável dentro do poder legislativo,
que deve estar separado em duas câmaras, para evitar abusos de poder (as leis tinham
de ser aprovadas em ambas as câmaras sucessivamente). Além disso, há uma
separação para que os aristocratas não estejam misturados com o povo (desigualdade)
 Judicial como “boca que pronuncia palavras da lei”: tem uma liberdade de manobra
da lei e sem esta muitas vezes não consegue resolver os casos, uma vez que o
legislador não consegue prever todas as leis
 Faculdade de estatuir e de impedir - veto e checks and balances: uma vez que o
poder legislativo e o poder executivo se regulam mutuamente (o poder jurisdicional
excluí-se porque é fraco). Como é que se controlam reciprocamente? Em primeiro
lugar, o poder de veto, detido pelo rei sobre as leis do parlamento. Apesar de
Monstesquieu não ter falado nisto, na Constituição do EUA permite-se que por votos,
o parlamento anule o veto – checks and balances.
 Governo misto, que contempla os 3 princípios de legitimidade:
o Monárquico, aristocrático e democrático [princípio monárquico – preservava e
atribuía ao rei o poder executivo; princípio democrático – o povo têm o seu
lugar próprio no poder legislativo, poder aristocrático – que reservava à
aristocracia tanto um poder legislativo como o judicial]
o governo em que todas as forças tradicionais têm um espaço, logo há uma
aristocracia que está na câmara alta do Parlamento, o povo que está na
câmara baixa do parlamento, alguém que seja rei (pois Monstesquieu é adepto
da monarquia) e uma aristocracia literada que exerça o poder jurisdicional
o *câmara baixa – quem é lá deve estar? A representação política: o povo não
pode estar todo na câmara baixa, tendo de ser representado, mas os
representantes devem ser ilustres e sábios, ou sejam, melhores que o povo
que representam. Ou seja, a câmara baixa não representa espelhadamente o
terceiro estado (“uma elite retirada do seio do povo”)

Era jurista, tendo refletido sobre o poder. Há duas maneiras de aplicar a lei:
 Forma típica do poder executivo
 Forma típica do poder jurisdicional -> aqui o juiz é indiferente e imparcial aos
interesses colocados em causa, além disso é independente em relação ao poder
legislativo e ao executivo

Considerado sociólogo, pois tinha interesse em conhecer a realidade e descrevê-la,


acreditava que o bom num país pode não o ser noutro e, por isso, as leis têm de ser
disciplinadas consoante a necessidade. O bom legislador contraria as más tendências dum
povo. Particularmente, gostava de estudar a realidade britânica. Aliás, inspira-se nela para
teorizar a separação de poderes. Além disso, faz uma descrição daquilo que era a separação de
poderes em Inglaterra, através do estudo da Constituição Britânica consuetudinária, e propõe
um modelo semelhante para ser aplicado em França. Não chega a ser totalmente aplicado em
França, mas é base da Constituição Americana.

Nos EUA, a ideia de separação ideológica do poder vai ser afastada, pois não havia classes
e o princípio legítimo só podia ser o democrático. No entanto, a separação horizontal dos três
poderes vai ser complementada pela ideia de divisão do poder em três níveis diferentes:
1. Poder federal (a Federação ou União)
2. Os poderes federados (os Estados Federados, que ao início eram 13)
3. Poderes dos condados
Ou seja, a ideia de separação sociológica é substituída pela estrutura federal do Estado
(separação vertical do poder político).

Três visões diferentes da separação de poderes


 Reino Unido
 Estados Unidos da América
 França
 

Reino Unido
 Modelo inspirador do Montesquieu
 A separação de poderes aqui nunca foi tão importante quando Montesquieu
defendeu, pois entre o poder legislativo e o poder executivo há uma grande
comunicação: no sistema de governo britânica, o governo sai da câmara (na altura saía
de ambas as câmaras, hoje sai da câmara dos comuns) e o rei escolhia os seus
ministros através das duas. A separação foi-se atenuando com o tempo, flexibilizando
de forma progressiva
 Uma vez que o rei não respondia perante as câmaras, a responsabilidade era assumida
pelos ministros, havendo uma grande dependência do poder executivo face ao poder
legislativo. Os ministros eram escolhidos pelo rei, de acordo com a sua confiança:
tanto podiam ser da Câmara dos Lordes como da Câmara dos Comuns
 A câmara dos comuns é dominada pelo programa político do governo
 A verdadeira independência é do poder judicial, pela não interferência do rei na
nomeação de juízes e pela independência dos Law Lords, como supremo tribunal de
recurso do reino
 É comum dizer que a diferença no Reino Unido é entre governo/oposição
 Ao longo da história, assiste-se à transferência do poder real/efetivo entre órgãos
o Rei -> Câmara dos lordes -> Câmara dos comuns -> governo -> núcleo
(Gabinete - senior ministers)
 Um salto na autonomia do governo relativamente ao rei manifesta-se com o
aparecimento do primeiro-ministro, que vai cortar o contacto regular entre o rei e o
governo
o Isto levou a que o rei se torna-se progressivamente uma figura simbólica: a
governação passou a ser assumida pelo primeiro-ministro e pelos ministros,
extraídos dos membros do Parlamento e responsáveis perante este
 Os órgãos que existiam nos séculos XVII e XVIII, mantém-se (monarquia e Câmara dos
Lordes)
o Antes havia os Lordes hereditários (o cargo passava de pais para filhos)
 Existem dois sistemas de governo:
o Aparente: rei, câmara dos lordes, chanceleres
o Real: o poder pertence ao povo, representado na Câmara dos Comuns, e o
povo elege o governo
 O Reino Unido tem duas Constituições
o Simbólica: figuram o rei, a Câmara do Lordes e as instituições tradicionais
o Real e efetiva: atuam politicamente os comuns, o primeiro-ministro e os
ministros
 Formalmente, o rei tem poder de veto e de nomeação do primeiro-ministro, no
entanto, mas recentemente nenhuma lei foi vetada e o primeiro-ministro é o líder do
partido eleito pela Câmara dos Comuns. Formalmente, também é o rei que dissolve a
Câmara dos Comuns, no entanto, é o primeiro-ministro que decide se há dissolução e
eleições antecipadas
 
Estados Unidos da América
 A Constituição americana é feita à imagem do que Monstequieu defendeu
o Originariamente tem sete artigos (1º poder legislativo, 2º poder executivo e 3º
poder jurisdicional)
o No entanto, não foi uma cópia literal, devido Às circunstâncias em que a
mesma foi criada
 O presidente norte-americano concentra em sim todo o poder executivo (inicialmente,
os americanos queriam uma monarquia)
 Não havia aristocracia, pelo que não era possível criar a Câmara dos Lordes, sendo
necessário arranjar pessoas para ocupar a câmara superior, uma vez que a Consituição
proíbe os títulos nobilárquicos (as câmaras são ambas eleitas)
o Senado (câmara alta) - representantes dos Estado -> cada Estado elege 2
senadores, independentemente da extenção ou população do Estado (hoje em
dia o Senado tem 100 senadores) [combinação de representação popular]. O
Senado não deve ser considerado um órgão democrático, pois há uma
desigualdade entre o número de senadores eleitos e a população de cada
Estado (a população dos Estados mais pequenos está sobrerepresentada e a
população dos Estados maiores está subrepresentada e, por isso, o voto dos
americanos ao elegerem os senadores não tem o mesmo peso: o sufrágio é
universal, mas não é igual -> os voto de uns valem mais que os votos de
outros)
o Câmara dos representantes (câmara baixa)
o Em conjunto o Congresso (bicamaral), que exerce o poder legislativo (as leis
têm de ser aprovadas pelas duas câmaras e apenas depois são transmitidas ao
presidente para a promulgar ou vetar)
 A obra base chama-se "The Federalist" (Hamilton, Madison, Jay)
o Conjunto de artigos do jornal que foi publicado para convencerem os eleitores
em Nova Iorque para ratificarem a Constituição
o A Constituição é vista, também, como um acordo internacional, uma vez que
reuniu os 13 Estados
 Checks and balances - faculdade de estatuir (legislar - poder legislativo) e a faculdade
de impedir (executar - poder executivo)
o Impeachement - o poder legislativo pode destituir o presidente se este for
acusado de crimes graves
o Veto - o poder executivo pode vetar as leis vindas do poder legislativo
 Nova separação de poderes
o Separação horizontal - legislativo, executivo e jurisdicional
o [adição da] Separação vertical - os 13 estados aceitam unir-se para
conseguirem derrotar Inglaterra. Aceitam que há funções que podem ser
melhor desempenhadas em conjunto (defesa, negócios estrangeiros),
mantendo no mesmo a independência naquilo que podem fazer sozinhos. Por
isso, os Estados têm competências que a Constituição Federal não atribui
individualmente (há estados com pena de morte e estados sem pena de morte
-> competência dos estados federados: os estados federais podem decidir
sobre alguns temas independentemente). Princípio geral: as matérias que não
tenham sido atribuídas expressamente pela Constituição são por defeito
competência dos Estados federais
 O presidente norte americano é eleito através de 50 leis eleitorais diferentes
 O que são matérias de federação não são competências dos estados federais e vice-
versa
 Tocheville "Da democracia na América" - obra sobre a essência da democracia
americana
o Fiscalização da constitucionalidade das leis: no constitucionalismo norte
americano, desde cedo se reconhece que os tribunais têm a capacidade de
fiscalizar a constitucionalidade das leis. Admitindo-se a fiscalização da
constitucionalidade das leis, significa que os tribunais, que em princípio
aplicam essas leis, podem recusar-se a aplicar essas leis, fundamentando com
inconstitucionalidade. Surge, então, uma nova separação de poderes:
 Poderes constituinte: está acima dos outros poderes
 Poderes constituídos: legislativo, executivo e jurisdicional
 

França
 Alguns autores imprimiram à separação de poderes em França, um conjunto de
elementos particulares:
o [Rosseau] Sobrevalorização do poder legislativo - a lei é a primeira
manifestação da vontade soberana do povo e, por isso, não devia ser posta em
causa de maneira alguma
o Contrário à separação de poderes, pois entendia que não havia ninguém
melhor que o legislador para saber como interpretar e aplicar a lei aos casos
concretos
 Esta ideia dificultou a ideia de separação de poderes proposta por
Montesquieu
o A ideia de sobrevalorização da lei impediu a fiscalização jurisidicional da
constitucionalidade das leis
 Benjamim Constant
o Em bom rigor, não devem haver três poderes, mas quatro, pois há
determinadas funções que o rei desempenha e que não são qualificadas como
aplicação da lei, ou seja, como poder executivo em sentido próprio: poder
legislativo, poder executivo, poder jurisdicional, poder moderador (o rei era
especialmente encarregado de zelar para que os três poderes restantes
funcionassem em harmonia)
o Apenas no século XX com a atua Constituição da V República é que se ensaiou
um modelo original de fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis, a
cargo dum órgão que se assemelha a um tribunal: o Conselho Constitucional.
Até esse momento, o controlo de constitucionalidade apenas podia ser feito
no plano político, pelo próprio Parlamento
o O poder moderador foi importante no constitucionalismo português: na
primeira Constituição, o rei não tinha grandes poderes além da governação.
Assim, na Carta Constitucional este poder foi instituído: o rei passa a ter poder
de veto, por exemplo.
o Na Constituição portuguesa atual, a função do presidente da república não é
explicável à luz da separação de poderes proposta por Monstesquieu, tem
uma quarta função, herdeira da identificada por Constant
 Abadade Sieyès
o Já tinha defendido a superioridade do poder constituinte, que é o poder do
povo fazer uma Constituição para si próprio

Funções do Estado Português/Separação de poderes em Portugal

Todas as Constituições portuguesas consagram o princípio da separação de poderes. A


Constituição de 1933, porém, não foi genuína na sua concretização, na medida em que o poder
foi concentrado no cargo do Presidente do Conselho por mais de 40 anos.
As Constituições de 1822, 1838 e 1911 adotaram essencialmente a conceção tripartida
dos poderes. Por outro lado, a Carta Constitucional portuguesa de 1826 adota o princípio de
separação de poderes proposta por Benjamim Constant, ou seja, atribui ainda o poder
moderador.
A Constituição de 1976 atribui ao Presidente da República funções que não estão
expressamente designadas em nenhuma das três funções tradicionais do Estado e que, por
isso, apenas se podem juntar em um quarto poder, o poder moderador ou a função política.

O sistema de separação de poderes em Portugal é flexível e não é tão estrito quanto


Montesquieu definiu.

 Função legislativa
 Função política
 Função administrativa
 Função jurisdicional

 As funções são agrupadas consoante:


 Primárias: são exercidas apenas com base na Constituição (função legislativa e função
política) – legislativa e política
 Secundárias: não deixando de se fundar na Constituição, traduzem-se essencialmente
na aplicação da lei ordinária (função administrativa e função jurisdicional) –
administrativa e judicial

Função legislativa:
 Repartida (não em partes iguais) entre a Assembleia da República, o Governo e as
assembleias legislativas regionais dos Açores e da Madeira / a Assembleia da República
continua a ter o primado da competência legislativa, que se reflete nas reservas
absoluta e relativa (Artigos 164º e 165º CRP)
 A competência do Governo está definida no Art.198º CRP
 Competência concorrencial
 Atos em que se traduz o exercício legislativo (AR - lei; governo - decretos-leis; ALR -
decretos-regionais)
 Tipos de lei:
o Leis de revisão constitucional (apenas podem ser feitas pela AR e têm um
regime especial)
o Leis ordinárias (lei, decreto-lei, decreto--regional) - previstos no ART. 112º
 As leis ordinárias têm todas o mesmo valor hierárquico, pelo que existe entre elas
mútua revogabilidade
 Funções - órgãos - atos

Função política
 Função do Presidente da República (única função dele)
 Assembleia da República, Governo: têm funções além desta, sendo que a função
política não é a mais importante - têm algumas competências que não têm
especificidade, pelo que se integram na função político (COMPETÊNCIA POLÍTICA -
ART.197º CRP)

 Dimensão externa: todos os Estados têm uma política externa, que passa por relações
diplomáticas e pela vinculação do Estado a convenções internacionais. Mantêm
relações internacionais, o que implica a prática de um conjunto de atos e, em
particular, a celebração de tratados e acordos internacionais. A vinculação do Estado
Português faz-se através da negociação das convenções internacionais: se forem
tratados, são vistos pela AR, se forem acordos internacionais são vistos pelo governo; a
ratificação final é feita pelo Presidente da República (ratificação - o presidente da
República certifica a vinculação de Portugal à convenção internacional)
 
 Dimensão interna: atos políticos (há mais)
o Dissolução da AR: (Ato do PR) ato político de grande impacto, que conduz a
eleições a seguir. Juridicamente, o presidente pode dissolver sempre, exceto
nos 6 primeiros meses do mandato de deputados e nos últimos 6 meses do
seu mandato. Além disso, também não pode dissolver a AR se o país estiver
em estado de sítio ou de emergência
o Veto: (ato do PR) veto das leis da AR (veto suspensivo - a assembleia pode
voltar a aprovar, precisando duma maioria superior), vetos dos decretos-leis
do governo (veto definitivo)
o Nomeação do primeiro-ministro: se os resultados eleitorais forem claros, a
decisão costuma ser fácil. Se os resultados não forem claros, o presidente tem
uma margem de decisão
o Moção de censura: (ato da AR) a AR vota uma moção de censura para o
governo, se for aprovada o governo cai e são precisas novas eleições
o Voto de confiança: (Ato do AR, solicitado pelo governo) - se houver
contestação popular, o governo pode pedir um voto de confiança para saber
se tem o apoio da Assembleia. Se o voto não for aprovado, o governo cai
o Presidente
 Marcar as eleições
 Convocar extraordinariamente a AR
 Dirigir mensagens à AR
 Nomear e exonerar os restantes membros do governo
 Convocar referendos
 Atos políticos internacionais: nomeação de embaixadores, ratificação
dos tratados, declaração da guerra e da paz
o Assembleia da República
 funções legislativas (Art. 161º CRP a, b, c, d, e, f, g, h) e política
 Autorização
o Governo - ART. 197º CRP (Governo - competência política)
 Apresentação do programa na AR
 Aprovar acordos internacionais
 Propor ao PR um referendo
 Declarar estado de sítio e estado de emergência
 
 Amnistia - determinados crimes deixam de o ser num determinado período/leis da AR
que suspendem uma lei penal em vigor por um determinado tempo
 Poder do PR de cumular penas - perdão de penas por motivos humanitários
 
 
Função administrativa (ou executiva) - O Estado Português, sendo descentralizado, implica que
a função administrativa esteja repartida
 O poder administrativo traduz-se na aplicação da lei
 Lei habilitante -> princípio da legalidade (a administração não pode agir se não com
base numa lei e na Constituição) - vale para todas as administrações
 Governo, Regiões Autónomas, Autarquias Locais (câmaras municipais, assembleias
municipais, juntas de freguesia e assembleias de freguesia)
 As autarquias locais distinguem-se do governo
 ART. 199º CRP (Governo - competência administrativa)
 
 Atividade não jurídica:
o Atuações / prestações materiais de satisfação -> a administração está
constantemente na rua a exercer funções básicas de manutenção da vida
 Atividade jurídica - atos administrativos
o Normativa (atos normativos) - as leis precisam de ser regulamentadas
 Regulamentos
 Decretos regulamentares Portarias
 Despachos normativos
o Não normativa (atos não normativos) -
 Atos administrativos (à partida, são individuais e concretos). Podem
ser escritos, mas podem ser orais e são unilaterais.
 Externos -
 Internos - praticados dentro da própria administração
 Contratos administrativos: os contratos de direito administrativo não
são rigorosamente iguais aos contratos de direito privado, apesar de a
administração poder fazer contratos privados. Quando o interesse
público está em causa, há um regime especial de condução do
contrato e, por vezes, de modificação unilateral dos termos desse
contrato
 Planos: ordenamento do território, desenvolvimento económico,
preservação ambiental - atos administrativos complexos que procuram
planificar o território com interesse público
 Atos de direito privado (contratos)
 Um dos direitos fundamentais dos administrados (pessoas singulares ou coletivos) é a
possibilidade de impugnarem atos administrativos se estes forem ilegais

Função jurisdicional (desempenhada pelos tribunais)


 Atos normativos (só em alguns casos do T. Constitucional com declaração de
inconstitucionalidade e força obrigatória geral / e jurisprudência)
 Atos não normativos (maior parte dos atos)
o Acórdãos: decisões finais de um tribunal coletivo
o Sentenças: decisões finais de um tribunal singular
 Atos da função jurisdicional que põem fim ao processo, pois até ao
final o juiz tem de tomar várias decisões no seu decorrer - despachos:
(p.e: de pronúncia, o juiz decide que uma pessoa acusada da prática
dum crime vai a julgamento)

Rosseau
 Contratualista
 Republicano e democrata: Rosseau recusa a monarquia na medida em que acredita
que a soberania, na verdade, pertence ao povo.

 Soberania popular - a sua principal contribuição para o pensamento político foi a da


soberania popular. A soberania reside no povo e não no rei. Isto significa que, tal como
Bodin, Rosseau concorda com a ideia de que a soberania se traduza na faculdade de
fazer as leis. No entanto, enquanto Bodin dizia que o poder de legislar estava nas mãos
do rei, Rosseau defendia que este estava dividida por todos os membros da
comunidade, ou seja, todas as pessoa tem uma pequena tutela de soberania

 Liberdade individual e autogoverno – objetivo fundamental do contrato social, na


medida em que Rosseau deseja o regresso ao paraíso perdido e ao estado de natureza
no qual o homem não vivia rodeado de egoísmo

 Lei (geral e abstrata) como expressão da vontade geral - Se a soberania estiver numa
pequena parcela nas mão de cada um dos membros da comunidade, surge a ideia de
sufrágio universal, ou seja, todos têm poder de voto. -> Rosseau é o fundador da
democracia moderna. Assim, o objetivo era que, todos votando, todos contribuíssem
para a feitura das leis («a lei é a expressão da vontade geral»). A generalidade e
abstração da lei levam à igualdade, pois a lei passa a ser aplicável a todos os membros
da sociedade

 Regra da maioria: se todos têm uma parcela da soberania, todos participam na criação
da lei. No entanto, isto não significa que toda a gente vá estar de acordo, sendo que
vão existir pessoas a votar a favor duma lei e o resto a votar contra a mesma. Por isso,
Rosseau propôs a regra da maioria. Rosseau acreditava que a regra da maioria era uma
regra de verdade. Todos aqueles que usassem a razão e que se afastassem de
interesses pessoais, votariam no mesmo sentido, formando uma maioria. A minoria
era composta por aqueles que estavam mentalmente desviados e somente
interessados em si próprios, daí a maioria ter sempre razão. Consequentemente, «a
minoria quando obrigada a conformar-se com a vontade da maioria está apenas a ser
obrigada a ser livre».
 Esta regra conduz à ideia de ditadura da maioria: se acharmos que a
maioria tem sempre razão e representa a liberdade, impõe-se essa ideia na
minoria, deixando de haver respeito pela vontade da minoria

 Democracia direta: a soberania exerce-se e, como tal, todos os que detêm uma tutela
soberana tem de a exercer diretamente. Não se pode confiar o exercício de soberania
a outrem

 Concentração de poderes: defende que não é necessária a separação de poderes, pois


a maioria tem sempre razão, não sendo necessário limitar os poderes. Os direitos
fundamentais também não são importantes, na medida em que estes são definidos,
também, pela maioria. A maioria corresponde à decisão da verdade, quem segue a
verdade é livre /a minoria vive em erro, logo vive em escravidão e deve ser
reconduzida à vontade da maioria.
 Este modelo de Rosseau resulta no governo de assembleia

 Igualitarista e, consequentemente, defensor da república: acreditava na igualdade


entre todos, mas criticava vivamente a estratificação social. Queria, assim, abolir as
classes sociais e preocupa-se com a distinção entre pobres e ricos e as desigualdades
que desta situação vêm
 Separação entre a Igreja e o Estado: Rosseau defende a laicidade do Estado e tem uma
verdadeira atitude anticlerical que vai ser seguida por um dos partidos da revolução
francesa. Na Revolução Francesa havia dois partidos principais, os girondinos e os
jacobinos, os segundos mais radicais e inspiraram-se claramente em Rosseau. O
anticlericalismo em França manteve-se até aos dias de hoje, ao contrário de Portugal,
Reino Unido, Estados Unidos da América, Alemanha, entre outros
  
O problema era o de o homem estar constantemente submetido e preso a regras que não
tinham sido aceites. Portanto, o que quer do contrato social é um sistema de autogoverno, em
que cada pessoa seja responsável por si própria. Esta foi a forma que Rosseau encontrou para
garantir que as pessoas tinham os mesmos direitos que tinham no estado de natureza, até
chegar a propriedade privada e o egoísmo que dela vem.

Por que é que Rosseau pode ser considerado um inimigo da liberdade e um defensor do
totalitarismo?
 Não há separação de poderes, pois o poder está todo concentrado na maioria
 Não aceita a limitação do poder da maioria e, sendo assim, não pode aceitar
verdadeiramente a existência de direitos fundamentais, pois o que caracteriza os
direitos fundamentais é eles estarem acima da maioria
 Se a maioria tem sempre razão, então a regra da maioria torna-se a regra de
verdade

A maioria decide com verdade e isso permite às pessoas viver em liberdade. A minoria está
sempre em erro, estando a ser afastada por interesses pessoais.  
 
Crítica de Isaiah Berlin:
 Se a vontade da maioria prevalece e se apenas há uma conclusão verdadeira, basta
que alguém iluminado interprete a vontade de todos (há sempre alguém que se acha
capaz de interpretar a vontade do povo) -> princípio de todas as tiranias
 O princípio de que toda a gente pode ser obrigada a ser livre -> princípio de todas as
tiranias
 A tese de que a minoria não tem direitos porque está em erro e vive em escravidão é o
mesmo que dizer a todas as pessoas da minoria que estão enganadas e, portanto,
outros decidirão melhor por elas

8. Constitucionalismo: evolução e comparação


Direitos fundamentais - Locke
 Evolução geracional
 Evolução funcional
 

Separação de poderes – Montesquieu


 Interdependência (e 4º poder)
 (des)Valorização dos diferentes poderes
 Horizontal, vertical, temporal
 
Princípio democrático - Rosseau
 Democracia representativa, direta e participativa
 Alargamento do sufrágio
 Representação política
 
 Todos os constitucionalismos evoluíram.
 
Direitos fundamentais
Os catálogos de direitos fundamentais foram-se alargando, continuando a basear-se na
dignidade. Foram incluídos direitos novos e com origens diferentes.
Evolução geracional:
 1ª geração - direitos civis: direito à vida, direito à liberdade religiosa, direito à
propriedade, liberdade de iniciativa económica
 2ª geração - direitos políticos: direito a voto, direito a ser eleito, direito a criar e
associar-se a partidos políticos (o direito de voto apenas se tornou verdadeiramente
um direito quando se universalizou – antes o voto era censitário, sendo um privilégio,
não um direito fundamental)
 3ª geração - direitos sociais (CRP- económicos, sociais e culturais): começam por ser
direitos dos trabalhadores (descanso semanal, férias, condições de trabalho dignas,
greve, liberdade sindical) e, após a II Guerra Mundial, direito à educação, segurança
social e habitação
 4ª geração: começa com o direito ao ambiente e progride, com a era tecnológica, para
direito ao esquecimento, o direito à decisão humana, direito da proteção de dados,
direito à genética
 Há direitos antigos que ganham novo conteúdo com a evolução (p.e: sigilo da
correspondência -> inicialmente foi pensando para envelopes, atualmente continua a
ser importante para emails, mensagens, etc)
Evolução funcional
 Segundo a visão de Locke, os direitos protegem as pessoas do poder público.
Atualmente, os direitos não podem apenas defender as pessoas dos poderes públicos
e devem também proteger as pessoas de sujeitos privados (empregador -
empregador/estabelecimento de serviços - consumidor)
 Os direitos sociais passaram a ser um crédito para com o Estado: os cidadãos têm de
exigir prestações materiais como a educação, saúde (direitos prestacionais)
 

Separação de poderes
 Hoje não se fala apenas de separação, fala-se também de interdependência: a
separação não é radical e há instrumentos de comunicação entre todos os poderes
 É incontornável a existência de um 4º poder: todos os países democráticos têm um
órgão de soberania cuja função não se reconduz inteiramente à divisão tripartida feita
pro Montesquieu
 Os três poderes originais vêm o seu peso relativo ser alterado. No esquema de
Montesquieu o poder legislativo devia ser o mais importante, de seguida, o executivo
e depois o jurisdicional, que era considerado nulo. A Constituição americana baseia-se
nisto. Valorizou-se também nas emendas constitucionais os direitos fundamentais: não
podem ser feitas leis que ponham em causa estas emendas.
 Nós votamos para o Parlamento a pensar quem vai ser o primeiro-ministro, mas na
verdade estamos a eleger os deputados. A relação de forças alterou-se em vez de
termos um governo independente do parlamento, o parlamento é dominado pelo
governo e pela maioria que o elege. Quem controla a máquina administrativa do
Estado é o governo: faz o OE e controla-o, por exemplo.
o Atualmente, o poder executivo tem mais poder que o legislativo
 O poder jurisdicional tem vindo a ganhar mais importância do que aquela que foi
atribuída por Montesquieu -> a jurisprudência é bastante importante e, por outro
lado, não há nenhuma lei que não tenha de ser interpretada
 A separação agora é:
o Horizontal: 4 poderes (legislativo, executivo, jurisdicional, político)
o Vertical: descentralização do poder
o Temporal: quanto mais tempo alguém está no poder, mais são as ferramentas
que tem para consolidar esse poder. Por isso, os mandatos no poder são
limitados (CRP - o presidente da república só pode fazer dois mandatos, cada
um com 5 anos)
o Pessoal: três figuras -> incompatibilidades (uma pessoa não pode ter dois
cargos públicos simultaneamente - Art. 269 CRP, nº 4 e 5), impedimentos (os
titulares de cargos públicos não podem tomar decisões relativamente a
pessoas com as quais estejam proximamente conectadas), exclusividade (há
pessoas que ocupam cargos de exclusividade, não podendo ter qualquer outro
trabalho)
 
Princípio democrático
 Principal evolução: universalização do sufrágio
 O modelo democrático que vigora é o da democracia representativa: os cidadãos
elegem representantes para o parlamento
 As razões que justificaram a representação política são pragmáticas, mas também
razões não dispensam a população como fator importante
 A representação política é tão mais perfeita, quanto mais o parlamento espelhar o
povo -> representação espelhamento
 A ideia de Rosseau não ficou totalmente esquecida, foi importante na Revolução
francesa e, atualmente, é usada nos referendos (quando o povo é chamado a tomar
decisões substituindo-se ao parlamento)
 A questão da democracia direta tem sido retomada nos últimos tempos, pois a
revolução tecnológica permitiria novas formas de exercício do voto. O debate é
complexo, porque mesmo nos países em que são feitos referendos, não é fácil fazer
perguntas ao eleitorado (é complicado fazer perguntas sobre minorias, impostos).
 
Constituição em sentido histórico ou institucional
 Descrição da organização do poder (p.e: nas cidades gregas)
 [Idade Média/Estado Absoluto] Leis fundamentais dos reinos (muitas vezes
consuetudinárias, diziam respeito à sucessão ao trono e à reunião de cortes)
 Todos os Estados que existem e existiram têm uma Constituição
 
Constituição em sentido moderno
 Material (conteúdo): em substância, o conteúdo da constituição -> direitos
fundamentais, separação de poderes, princípio democrático
 Formal (hierarquia): as normas constitucionais são superiores às leis ordinárias, sendo
que as segundas devem obediências às primeiras sob pena de invalidade (Tocheville ->
fiscalização de constitucionalidade)
 Instrumental (texto): há países em que os direitos fundamentais se encontram fora do
texto constitucional (p.e: França)
 Todas positivadas, à exceção da britânica
 No século XX, deu-se uma generalização do conceito Constituição
o Constituições nominais: apenas têm o nome de Constituição, tentativa de
limitação do poder político sem resultado
o Constituições normativas: limitam o poder político
o Constituições semânticas: escondem um poder absoluto ou totalitário

o Constituições estatutárias: originais que desempenham as duas funções de estabelecer


os direitos fundamentais e as separação de poderes. Podem conter também norma
instrumentais sobre revisão constitucional e sobre fiscalização da constitucionalidade
o Constituições programáticas: estabelecem fins para o exercício do poder político,
encerrando um projeto de transformação social (p.e: portuguesa, brasileira -> impõe
ao poder político a correção das desigualdades sociais)

Em Portugal, há coincidência entre Constituição em sentido formal e instrumental.


Os constitucionalismo britânico, americano e francês têm a mesma base, mas concretizam-
se de maneiras diferentes.

Constitucionalismo britânico Constitucionalismo Constitucionalismo francês


americano
Não escrita Escrita Escritas
Material Formal Formais
Flexível Rígida Rígidas
Monarquia República Monarquias/repúblicas
União real Federalismo Estado unitário
Parlamentar Presidencialismo Semipresidencialismo
Costume Jurisprudência Lei
Separação não escrita Separação escrita Separação quadripartida
Inexistência Fiscalização constitucional Fiscalização política
jurisdicional constante
Direitos “históricos” Separação escrita Declarações de direitos
União Igreja-Estado Separação igreja-estado Laicismo

Reino Unido (revelar a constituição)


 Tem uma Constituição não escrita
 É um conjunto de textos (Magna Carta, Human Rights Act, Bill of Rights)
 Um conjunto de regras consuetudinárias – incorpora em sucessivos momentos aquilo
que resulta de um consenso social relativamente alargado
 Evolução progressiva
 Constituição em sentido material -> há normas jurídicas que elencam os direitos, mas
não há um conjunto de normas com valor constitucional que esteja acima das leis
ordinárias aprovadas como leis no Parlamento
 Flexível -> pode ser alterada pelo Parlamento, seguindo as regras comuns do
procedimento legislativo (apenas é necessária uma maioria simples
 Monarquia
 União Real entre Grã-Bretanha e a Irlanda, sendo que a Grã-Bretanha é composta pela
Inglaterra, pela Escócia e pelo País de Gales
 Estrutura de fusão: Coroa (ocupada pelo rei – constitui a chefia de Estado comum) e
Parlamento
 Parlamentarismo: relação entre o Governo (primeiro-ministro e Gabinete) e o
Parlamento / o órgão executivo e o órgão legislativo são muito próximos
 Costume como fonte de direito mais relevante
 
EUA (estabelecer a Constituição)
 Apenas teve uma constituição
 10 primeiras emendas, em 1789 -> Bill of Rights americano
 Atualmente, 27 emendas
 Constituição em sentido formal -> prevê os mecanismos de garantia, a revisão
constitucional e a fiscalização de constitucionalidade, uma vez que se garante que a
Constituição tem um valor hierárquico superior às leis ordinárias
 Rígida -> Constituições cujas revisão implica o cumprimento de exigências (tempo,
iniciativa, maioria, referendo) superiores àquelas que são necessárias para a
aprovação de uma lei ordinária
 Para aprovar uma emenda na Constiuição americana é necessária uma maioria de dois
terços de ambas as câmaras do Congresso, seguida da ratificação por três quartos dos
Estados federados
 República
 Sobreposição: o Estado Federal sobrepõe-se aos 50 Estados federados, logo há dois
níveis diferentes de governação (nível federal e o nível federado)
 Presidencialismo: o órgão executivo e o órgão legislativo funcionam autonomamente,
uma vez que tanto o Presidente como o Congresso são eleitos de formas diferentes
 Jurisprudência como fonte de direito mais importante
 
França (criar a Constituição)
 Já teve 15 constituições, elas mudam consoante a vontade do povo
 Constituição em sentido formal, apesar de nem sempre terem sido assistidas por
mecanismos adequados de garantia
 Vários regimes políticos ao longo dos anos
 Estado unitário – o povo e o território sempre estiveram unidos, resultando num único
poder constituinte, numa única Constituição de cada vez e num único sistema de
órgãos de soberania (chefe de Estado e Parlamento)
 Semipresidencialismo
 Lei como fonte de direito mais importante

Portugal
 Rígida (revisão/alteração):
o Tempo: cinco anos sobre a última revisão
o Maioria de dois terços dos deputados em efetividade de funções
o Limites materiais: há matérias insuscetíveis de revisão

9. A questão social e o princípio da solidariedade

Liberalismo e desigualdade
Após as revoluções liberais, o liberalismo viu-se sobretudo no domínio económico:
 Fisiocratas franceses
 “mão invisível” -> Adam Smith
No domínio político:
 Estruturado para proteger as liberdades individuais

O liberalismo económico e político traduziu-se na vida social, por exemplo, com o


aparecimento de partidos políticos que passam a ter assento nos parlamentos nacionais,
apesar de não terem grande implementação nacional. Surgem, essencialmente, dois grupos:
 Conservadores: respeitadores das instituições características do período anterior
 Liberais: mais progressistas e empenhados na remoção das instituições do passado

Estado Liberal como Estado mínimo -> o ideário individualista vai reduzir o Estado ao essencial
das suas funções soberanas
 Administração de justiça
 Garantia de segurança interna e da paz pública
 Condução das relações internacionais
 Defesa em face dos inimigos externos
 Cobrança de impostos -> o Estado cobra impostos aos cidadãos para assegurar os
recursos financeiros necessários para garantir o conjunto relativamente limitado de
funções que assumia
 Quanto menos Estado maior o espaço de liberdade individual que é deixado para os
cidadãos
 As intervenções administrativas são invariavelmente agressivas

Liberalismo político
 Sobrevalorização das chamadas liberdades económicas ou dos direitos com conteúdo
económico (direito à propriedade, liberdade de iniciativa económica privada, liberdade
contratual,…)
 Os direitos políticos (1ª geração) são moldados na perspetiva de valorização
económica das pessoas e, por isso, o sufrágio era censitário (atribuído a quem declara
uma certa quantia anual e paga o correspondente censo, ou a quem tinha um certo
nível de instrução) -> o universo real de eleitores correspondia a uma pequena parte
da população
 Votava sobretudo a burguesia e as classes sociais superiores
 François Guizot – o sufrágio universal deveria acontecer como consequência de um
processo de enriquecimento e de elevação do grau de instrução de toda a população
 Do ponto de vista jurídico, os direitos fundamentais da 1ª geração são direitos
negativos:
o Direitos dos indivíduos a serem deixados em paz pelo Estado
o Direito à não invasão pelo Estado da sua esfera de autonomia individual

A lei como um mediador de conflitos


 A lei define:
o Quando é que o Estado e a sua administração têm autorização para intervir na
esfera jurídica dos cidadãos;
o A criação de impostos e a fixação do seu valor;
o Os crimes e em que circunstâncias um cidadão pode ser preso e investigado,…
 Só a lei, aprovada pelo Parlamento e pelos deputados que representam o povo, é que
pode consentir nas agressões aos direitos básicos que integram a esfera jurídica dos
particulares

Questão social
O liberalismo económico e o liberalismo económico culminaram num estado de
miséria generalizado. Nas periferias das cidades assistiu-se ao aparecimento de uma subclasse
social, o proletariado, que vivia em condições indignas e moralmente contrastantes com o
estilo de vida da burguesia, que a indústria e o comércio enriqueceram.

 Crítica forte às condições de vida do proletariado – Karl Marx


 A Questão Judaica
 O Manifesto do Partido Comunista
 Socialista utópicos – Saint-Simon, Robert Owen…
O ponto que une estes autores é a crítica ao capitalismo (exploração, ociosidade,
egoísmo). No entanto, as suas obras defendem aspetos como os direitos das mulheres, os
direitos dos trabalhadores, a intervenção do Estado na economia, a efetividade da igualdade
social, as formas cooperativas de produção,…
 Proudhon: crítica agressiva à propriedade privada, cujo derrube defendia através de
uma revolução proletária, com o intuito de instaurar o socialismo. Defendeu um
modelo anárquico de sociedade, autogerido por operários e camponeses que
permitiria dispensar o Estado e o Direito, considerados elementos típicos de repressão

Apesar da consistência teórica de algumas ideias, o liberalismo económico ou,


comumente, «capitalismo selvagem» conduziu uma parte muito significativa da população a
condições de vida absolutamente deploráveis. A este estado de coisas, que levava largas faixas
da população a viver em condições degradantes, dá-se o nome de «questão social».
As ideias críticas do modelo capitalista levaram ao aparecimento de partidos socialista e
comunistas, mas no caso britânico, unidos ao movimento sindical, os partidos trabalhistas. Os
partidos trabalhistas eram considerados partidos de massas, na medida em que aproveitaram
o alargamento dos sufrágios para apelar aos que viviam em condições mínimas.
 Caso britânico: as reformas eleitorais do século XIX levaram à constituição do Partido
Trabalhista, com o apoio dos sindicatos que entretanto se tinham formado

Doutrina Social da Igreja

A Doutrina Social da Igreja é um conjunto de sucessivos documentos. Esta doutrina


teve um papel de base para o aparecimento de alguns partidos democratas cristãos (p.e: CDS-
PP). Deu origem às democracias sociais: era reformista (não revolucionária), criando uma
terceira alternativa entre o capitalismo desenfreado e os projetos sociais socialistas e
comunistas.
A Doutrina Social da Igreja é composta por um conjunto de encíclica que sucessivos
Papas têm publicado. No domínio das relações entre o capital e o trabalho, as duas mais
importantes foram a Rerum Novarum, publicada pelo Papa Leão XIII e a Quadragesimo Anno,
aprovada pelo Papa Pio XI.
Em 1891, alguns países já tinham adotado medidas pontuais para proteger os
trabalhadores na sua relação com os empregadores e os próprios trabalhadores começaram a
organizar sistemas de proteção social, através das suas associações.

Rerum Novarum -> 1891


 Critica a relação entre o capital e o trabalho que leva à acumulação de riqueza (riqueza
nas mãos de um pequeno grupo / multidão que gera essa riqueza -> oposição)
 Rejeição da luta de classes e das abordagens coletivistas
 “inviolabilidade da propriedade particular»
 Salários justos para os trabalhadores, para estes viverem condignamente
 Reclamação das condições de vida dignas para os trabalhadores, tanto no local de
trabalho como nas suas vidas pessoais
 Não deve ser exigida às mulheres e muito menos a crianças que tenham a mesma
força de trabalho que os homens
 O Estado não pode assistir a estas injustiças sociais: tem de intervir na regulação das
atividades económicas e das relações sociais
 O Estado tem a obrigação de fazer uma repartição equitativa dos encargos públicos,
promover a justiça distributiva e melhorar a sorte da classe operária
 Defesa da liberdade de associação sindical dos trabalhadores, para fazer valer os seus
direitos nas relações com os empregadores
Esta encíclica foi importante, pois foi um impulso muito significativo para a transformação
progressiva do Estado Liberal para o Estado Social

Quadragesimo Anno -> 1931, após a Grande Depressão


 Direito a um salário justo
 A propriedade pode e deve ser regulada pela lei e colocada ao serviço do bem
comum
 Defesa da repartição da riqueza -> as desigualdades enormes entre pobres e ricos
não são moralmente aceitáveis
 Princípio da subsidiariedade, o Estado não se deve substituir às estruturas
intermédias (corpos sociais de menor dimensão e família), mas antes funcionar
num plano intermédio, no caso daquelas falharem
 O Estado deve intervir na educação e na saúde

Estado Social
O Estado Social nasce das progressivas reformas ao Estado Liberal.

Marcos do Estado Social


 Constituição mexicana – 1917 e Constituição alemã de Weimar – 1919 -> acrescentam
aos conteúdos próprios do liberalismo uns novos, como a preocupação com a
regulação não automática da economia, o acesso de toda a população à educação, a
consagração de direitos dos trabalhadores, etc
 Grande Depressão -> novas políticas públicas implementadas pelos Estados (p.e: new
deal)
 Reconstrução europeia após a II Guerra Mundial -> ajuda do Plano Marshall

A conversão progressiva do Estado Liberal em Estado Social refletiu-se, primeiramente, no


aparecimento de uma nova geração de direitos. À 1º geração (direitos civis) e à 2ª geração
(direitos políticos), juntou-se a 3ª, dos direitos sociais.
Os direitos sociais tiveram, também dois momentos históricos diferentes:
 Direitos sociais como direitos dos trabalhadores: categoria específica de
trabalhadores
 Direitos sociais como direitos positivos de todas as pessoas a ter acesso a
prestações na área da educação, saúde, segurança social ou habitação:
correspondem a direitos prestacionais, a direitos de crédito sobre o Estado
relativamente aos benefícios das suas políticas públicas. Depois, os direitos sociais
são universalizados, passando a ser direitos de cidadania

Os direitos sociais nasceram para proteger os trabalhadores na relação desigual que


têm inevitavelmente com os empregadores. Assim, os direitos sociais visam reforçar a posição
jurídica dos trabalhadores. Visam, também, obrigar o Estado a adotar políticas destinadas a
melhorar as condições de vida dos trabalhadores.

No Estado Social desaparece a ideia de igualdade formal e transita-se para a igualdade


material.
 Igualdade formal: resulta da lei geral e abstrata, da lei que não escolhe as pessoas e se
aplica todos da mesma maneira
 Igualdade material: deve ser promovida pela lei, para corrigir as desigualdades que
não são moralmente aceitáveis
Funções do Estado Social:
 Crescimento significativo do poder executivo e da administração pública, que lhe está
subordinada
 No Estado Liberal apenas eram exigidos os magistrados, os militares, os diplomatas e
os cobradores de impostos -> no Estado Social são exigidos progressivamente e em
grande número professores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, arquitetos e
engenheiros, tal como uma estrutura humana e material de suporte
 O Estado vai-se tornar o maior empregador da economia e vai consumir elevadas
riquezas nacionais

Mudança na administração pública


 Antes agressiva, agora prestadora
 Os cidadãos dirigem-se à administração para receber algo: um serviço, uma pensão,
um apoio social, um subsídio ou um incentivo financeiro

Estado Providência
O crescimento progressivo do Estado Social vai eclodir no Estado Providência.

O Estado Providência fez com que o Estado se torna-se omnipresente na vida das
pessoas, estando presente desde o nascimento até à morte:
 O Estado garante aos pais uma licença de maternidade e paternidade
 As licenças são acompanhadas por subsídios e, possivelmente, prestações financeiras
adicionais
 As crianças crescem e têm acesso ao ensino gratuito, que se pode estender até ao
ensino superior
 Sempre que adoecem, os cidadãos podem recorrer a serviços públicos de saúde
 Quando é necessário começar a trabalhar, o Estado apoia com os seus serviços
 Se uma pessoa entra no desemprego, o Estado paga um subsídio e, possivelmente,
paga um curso que permita a reintegração social do desempregado
 As pessoas com mais necessidades podem candidatar-se à habitação social ou apoio
financeiro para pagar a renda
 Se por doença ou invalidez as pessoas ficarem sem poder trabalhar e não se
conseguirem subsistir, o Estado paga pensões de doença ou invalidez
 Quando as pessoas atingem a idade de reforma, os sistemas de segurança social
garantem uma reforma até à morte
 Quando uma pessoa morre, a família recebe um subsídio de funeral, para ajudar nas
despesas

O Estado Providência acompanha as pessoas a sua vida inteira, enquanto o Estado Social
apenas amparava as pessoas em situações graves.
O Estado Providência tem três dimensões estruturais:
 Ideia de pleno emprego -> vinda do Keynesianismo e aplicada com o New Deal:
criação de um plano público de estímulos à economia e de grande obras públicas,
destinadas a dar emprego às pessoas e, assim, garantir-lhes um rendimento e
melhores condições de vida
 Universalidade dos direitos sociais -> Lord William Beveridge elaborou em 1942 um
plano de reformas: o Estado deve assegurar a todos os cidadãos um conjunto de
direitos sociais como a educação, a saúde, a segurança social e aa habitação. Esta ideia
esteve na origem dos sistemas de educação, de saúde e de segurança sociais
universais
o O objetivo deste universalização é tornar os direitos sociais verdadeiros
direitos de cidadania, evitando o efeito estigmatizante que os critérios de
acesso aos apoios sociais sempre tiveram sobre os respetivos beneficiários
(p.e: «leis dos pobres»)
 O Plano Beveridge defende também que os direitos sociais devem ser
complementados por um sistema de assistência aos mais desfavorecidos, ou seja, às
pessoas que carecem de um apoio especial do Estado para ter acesso a um nível
mínimo de condições de vida (p.e: habitação)

A crise do Estado Providência


O Estado Providência alcançou o seu auge em 1975. Nesse período registou-se um
crescimento económico significativo e uma explosão demográfica. No entanto, por volta de
1975 surgiram os primeiros indícios de crise, fruto do choque petrolífero de 1973

Primeira crise petrolífera – 1973


 O modelo de desenvolvimento económico repousava num preço de petróleo muito
baixo
 As indústrias de consumo massivo do petróleo ressentiram quando o preço do barril
quadruplicou
 O aumento do preço da energia conduziu ao aumento do preço dos produtos e a
inflação instalou-se

O problema de financiamento do Estado Providência


 Assentava no paradigma de pleno emprego
 Assim que o desemprego se tornou crónico nas economias ocidentais, há uma dupla
perda:
o As pessoas desempregadas não pagam impostos
o As pessoas desempregada passam a representar uma despesa para a
segurança social, que tem de pagar um subsídio de desemprego
 Redução significativa das receitas do Estado

Progressiva inversão da pirâmide demográfica


 Entre 1950 e 1975 há um grande crescimento populacional
 A partir de 1970 a natalidade começa a diminuir e a esperança de vida aumenta
 Quanto maior a esperança de vida maior o tempo que as pessoas ficam na
dependência dos sistemas de segurança social
 As pessoas começam a trabalhar mais tarde por causa da educação
 O número de pessoas ativas reduz-se significativamente e o número de dependentes
aumenta
 Diminui o rácio entre cidadãos ativos e cidadãos dependentes
 Com o aumento de pessoas a estudar e o aumento de reformados, a pressão fiscal
sobre os trabalhadores no ativo dispara
Crise de eficácia
 O crescimento desmesurado do Estado Providência conduziu à burocratização,
tornando-se um aparelho de Estado enorme, que procura estar presente em todo o
lado
 Não consegue responder rapidamente às exigências dos cidadãos, não se traduzindo
em prestações concretas com impacto positivo na vida das pessoas

Crise de legitimidade:
 Alteração do contexto económico
 Inversão da pirâmide demográfica
 Crise de financiamento
 Crise de eficácia

Neoliberalismo
Surgiu como uma reação ideológica ao Estado Providência. Pretende retomar as ideias que
inspiraram os economista liberais clássicos, como Adam Smith:
 Friedrich Hayek
 Milton Friedman

Do ponto de vista político, os primeiros estadistas a aplicar medidas neoliberais:


 Ronald Reagan
 Margaret Thatcher

Neoliberalismo:
 Abandono das políticas keynesianas de promoção do pleno emprego
 Controlo apertado da inflação
 Restrição dos serviços sociais universais -> porque a universalidade impõe ao Estado o
dever de contribuir com os seus recursos para a totalidades dos cidadãos, quer eles
precisem ou não
 Princípio da seletividade -> o Estado deve garantir a todas as pessoas um patamar
mínimo de oportunidades
 Os direitos universais criam dependência

Friedrich Hayek:
 Há um nível mínimo de bem-estar abaixo no qual a sociedade não pode deixar as
pessoas cair, mas daí para cima cada um é responsável por si e por garantir a sua
própria qualidade de vida

No entanto, o Estado Social não foi abolido e o Estado Liberal não regressou, uma vez que
os principais beneficiários dos serviços universais são as pessoas da classe média. São as
classes médias que fazem ganhar ou perder eleições. Assim, ainda que tenham sido reprimidas
algumas políticas sociais, o princípio da universalidade nunca foi inteiramente substituído pelo
princípio da seletividade.
Por outro lado, foram feitos cortes significativos no financiamento de programas de
assistência social destinados aos mais desfavorecidos. Estes cortes são relativamente
populares entre as classes médias, que se sentem sufocadas com impostos e contribuições e
tendem a culpar os mais pobres pela situação.

Redução substancial de impostos


 Os impostos privam os empresários e os trabalhadores da recompensa pelo seu
esforço
 Se os impostos forem elevados, desincentivam a iniciativa privada, reduzem o
investimento e impedem a poupança
 Robert Nozick – libertário -> os impostos são uma forma de roubo, de tirar a uma
pessoa sem o seu consentimento, para dar a outro quer este mereça ou não
 Maior parte dos liberais limita-se a pensar que a diminuição dos impostos aumenta a
disponibilidade das empresas e das pessoas para investir e para comprar bens e
serviços, dinamizando a economia e gerando crescimento económico

Apesar de o neoliberalismo não ter sido aplicado integralmente, algumas medidas foram
aplicadas ao longo do tempo para reequilibrar as finanças públicas (p.e: Cavaco Silva, quando
foi primeiro-ministro).
Objetivos das políticas neoliberais:
 Redução do peso do Estado na economia
o Redução drástica do setor empresarial do Estado, devolvendo ao mercado
muitas empresas que tinham sido nacionalizadas nos anos 60 e 70, em setores
como a energia, a indústria pesada, a indústria automóvel, a banca,…
 Contenção da despesa orçamental, garantido a sustentabilidade dos serviços públicos
o O Estado deixa de produzir bens e serviços, assumindo a função de regulação
de mercados com uma forte dinâmica capitalista e onde atuam empresas mais
fortes

10.O Estado comprometido: União Europeia e Ordem Internacional


Depois da II Guerra, os Estados foram obrigados a uma conversão profunda.
 Plano interno: reconhecimento de diversidades, processos de descentralização (Itália),
federalização (Alemanha)
 Plano externo: desaparecimento da ideia do Estado como autossuficiente, partilha,
interdependência entre Estados
O que é que se tem passado com o Estado, nos últimos 50 a 70 anos?
 Os Estados iniciaram um processo de cooperação com os outros, quer a nível global
quer a nível regional
o Paz
o Direitos humanos
o Desenvolvimento económico
o Ambiente

União Europeia – realidade política supranacional


 [inicia-se] Jean Monnet e Rober Shuman -> Declaração Schuman
 Tratado de Paris (1951), institui - Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
 Comunidade Económica Europeia - fundado com o Tratado de Roma (1957)
 O Tratado de Roma fundou também a Comunidade Europeia da Energia Atómica

A União Europeia é o resultado de dois elementos:


 Alargamento: aos Estados originais que fundaram a EU foram-se juntando outros
 Aprofundamento: os tratados originais foram sendo revistos para intensificar o modo
como os Estados operam

Aprofundamento
 Tratado da União Europeia 1992 (Maastricht)-> passa-se da cooperação económica
para a cooperação política, cria-se a União Europeia
o Política de justiça, defesa e cidadania comum (cidadania secundária -> os
cidadãos europeus têm antes a cidadania do seu Estado-Membro)
 Extinção das três comunidades anteriores -> União Europeia
 Tratado de Maastricht, Ato Europeu, Tratado de Amesterdão, Tratado de Lisboa ->
aproximam o funcionamento dos órgãos da EU e dos estados

Os tratados anteriores foram, com o Tratado de Lisboa (2007) substituidos por dois novos
textos básicos: Tratado da União Europeia e Tratado sobre o Funcionamento da União
Europeia
Chegou a haver um Tratado Constitucional, mas em 2004 foi esquecido
 Atualmente: serão o Tratado da União Europeia e o Tratado do funcionamento da
União Europeia uma Constituição?
o Se olharmos para a essência da Constituição e para o que está escrito nos
tratados, encontram-se os dois pilares das constituições: direitos
fundamentais e separação de poderes
 Depois do Tratado de Lisboa, a União Europeia começou a ter a sua própria carta de
direitos fundamentais (Carta dos Direitos Humanos da União Europeia)
o Os Tratados incorporaram esta Carta
o Os direitos vinculam os órgãos da União e os Estados-Membros sempre que
apliquem direito da União Europeia (se os estados-membros não utilizarem
direito da União, vinculam-se aos seus direitos internos)

 Alargamento
 1958 – os “Seis” – França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo
 1973 – Dinamarca, Irlanda, Reino Unido
 1981 – Grécia
 1986 – Portugal e Espanha
 1995 – Áustria, Finlândia e Suécia
 2004 – República Checa, Hungria, Polónia, Eslováquia, Eslovénia, Chipre, Malta,
Estónia, Letónia e Lituânia
 2007 – Bulgária, Roménia
 2013 – Croácia

No entanto, há um número de candidatos, como a Turquia, a Sérvia e a Macedónia, entre


outros.

Atualmente, agravaram-se as discrepâncias entre Estados-Membros, o que pode levar


a União Europeia a ter dois ou mais níveis de andamento.
Para o Direito Público a União Europeia levanta dois problemas: qual a natureza dos
dois tratados fundamentais (TUE E TFUE)? E em que medida pode a União Europeia tornar-se
um exemplo de federalismo?

Natureza Constitucional dos Tratados


Sentido Material
 Separação de poderes
o Tribunal de Justiça - função jurisdicional (os tribunais dos estados-mebros
fazem parte da arquitetura funcionária da União Europeia)
o Função legislativa – Parlamento e Conselho
o Função executiva - Comissão (tem iniciativa legislativa e pode colocar em
tribunal os estados-membros por incumprimento do direito da União
Europeia)
o Função jurisdicional – tribunais (Tribunal de Justiça da União Europeia)

- Conselho Europeu
 Representação de todos os Estados-Membros
 1ª formulação: Chefes de Estado/executivos
 2ª formulação: Ministros setoriais
- Parlamento Europeu
 Tem vindo a ganhar importância legislativa
 Deliberação legislativa conjunta com o Conselho
 Aprovação da maioria dos tratados
 Eleito por sufrágio direto de todos os cidadãos europeus
- Comissão
 Presidente e comissários (dos diferentes estados, mas que devem atuar de forma
independente, ou seja, não representando)
 

A repartição de competências tem-se vindo a alterar, com as revisões de tratados:


 Reforço dos poderes do Parlamento Europeu (partilha do poder legislativo com o
Conselho)
 Formação e responsabilidade do Conselho
 Cargos novos: Presidente do Conselho Europeu e Alto Representante para os Negócios
Estrangeiros

Assim, não é possível reconduzir o sistema de governo da União Europeia a um sistema


presidencialista, parlamentar ou semipresidencialista.

A garantia dos direitos fundamentais constitui um pilar básico da Europa -> Convenção
Europeia dos Direitos Humanos. Dentro da União Europeia, vigora a Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia, que foi adquirindo valor jurídico, vinculando os Estados-
Membros ao direito da União e a um conjunto de ideais chave (dignidade, liberdade,
igualdade, cidadania, justiça, solidariedade).

Sentido formal
As normas dos Tratados têm um valor hierárquico superior aos demais atos praticados
pelas instituições.
 Direito originário vs. Direito derivado -> a validade do direito originário depende da
sua conformidade com o direito derivado

A maior dificuldade de qualificar os Tratados como Constituição é o seu facto de origem,


ou seja, não terem sido feitos por vontade e primeira manifestação do poder soberano de um
único povo. Não existe um povo europeu, mas sim um conjunto de povos europeus e a
cidadania europeia é uma cidadania de segundo grau, pois os cidadãos europeus são todos os
cidadãos dos Estados-Membros.

Assim:
 Constituição em sentido material (separação de poderes, direitos fundamentais e
princípio democrático)
 Constituição em sentido formal (o direito da União Europeia prima sobre o direito
interno dos estados-membros -> se o direitos dos estados-membros foram
desconformes ao da União Europeia, os tribunais nacionais têm o dever de aplicar o da
União Europeia - valor hierárquico superior)

 
Federalismo europeu
 EUA vs. União Europeia
 EUA:
o No federalismo norte-americano os estados federados são soberanos na
ordem interna (fazem as constituições e têm ordem jurídica própria), mas não
o são na ordem externa (não têm política de defesa ou segurança externa)
o O direito federal prevalece sobre o direito federado
 União Europeia:
o Na União Europeia a política externa é partilhada entre a União e os Estados-
membros -> os Estados que pertencem à União são soberanos interna e
externamente
o A União Europeia, no domínio jurídico, é parecido ao federalismo (federalismo
jurídico) -> o direito derivado prima sobre o direito interno dos estados
o O Direito da União Europeia produz efeitos na esfera jurídica dos particulares,
ou seja, as normas jurídicas deste Direito não só vinculam as próprias
instituições europeias e os Estados-Membros, mas estabelecem igualmente
obrigações e direitos no âmbito das relações jurídicas internas dos Estados-
Membros
 
Características federais da União Europeia:
 Princípio do primado
 Efeito direto do Direito da União Europeia
 Existência de critérios de delimitação da competência de matéria da União Europeia e
das matérias pertencentes aos Estados-Membros
 O princípio da atribuição está consagrado no artigo 5º do TUE, mas é secundado por
outros dois:
o Princípio da subsidiariedade: transposto para as relações entre os níveis
nacionais e europeu de governação
o Princípio da proporcionalidade: transposto para as relações entre entidades
públicas

Um projeto de paz universal


Foram feitos esforços para reconciliar o mundo:
 Pós I Guerra – Sociedade das Nações
 Pós II Guerra – Organização das Nações Unidas – nova ordem mundial

Organização das Nações Unidas


 Assenta sobre dois pilares
o Carta das Nações Unidas: tratado internacional, assinado em 1945, em São
Francisco
o Declaração Universal dos Direitos do Homem: aprovada em 1948 pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, apesar de na altura não ter caráter
vinculativo ou jurídico
 Posteriormente, é concretizada através de dois importantes tratados internacionais:
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos – 1966
o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais – 1966
 Esta ideia de cooperação mundial já tinha sido desenvolvida por Kant que escreveu
“Sobre a Paz Perpétua”, no qual propõe a criação de uma organização mundial
dedicada à manutenção da paz 

A evolução do Direito Internacional


O Direito Internacional Público nasce com Hugo Grócio e a sua publicação, em 1625, da
obra De Jure Belli ac Pacis. Assim, divide a atividade dos Estados: em contexto de guerra e em
contexto de paz.

Direito Internacional Público


 Conjunto globalmente coerente de regras e princípios que regem a sociedade
internacional
 Fontes: não há leis internacionais, não há um órgão legislador internacional
o Costume
o Tratados
o Princípios jurídicos
o Equidade
 A ONU tem sido fundamental para o desenvolvimento do direito internacional público
o Os violadores do direito internacional demasiado poderosos não são
facilmente punidos, ao contrário dos violadores do direito interno
 
Fases da história do Direito Internacional Público
 Formação -> até 1648 - Tratado de Vestefália, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos
o A comunidade internacional era um conjunto de estados soberanos,
autónomos nas suas decisões e cujos interesses confrontavam-se
reciprocamente. No entanto, os Estados atuavam sob um princípio de
igualdade formal
 Consolidação -> de 1648 a 1789 - Revolução Francesa: sociedade internacional como
sistema atomizado de Estados soberanos e iguais
 Desenvolvimento -> de 1789 até hoje:
o Princípio da nacionalidade
o Estados socialistas
o Pretensões hegemónicas das superpotências
o Regionalismo

- princípio da nacionalidade: cada nação tem o direito a transformar-se num Estado


- nascimento de blocos de Estados, unidos do ponto de vista ideológico
 Organização do Tratado Atlântico Norte, Pacto de Varsóvia e Movimento dos Não
Alinhados
- blocos regionais mais coesos -> União Europeia, MERCOSUL,… - promovem a integração dos
Estados-Membros em mercados económicos mais amplos, mas reforçam, também, a
cooperação noutros domínios como o político e militar

A ordem das Nações Unidas


A ONU constitui um ponto de viragem no processo de desenvolvimento do Direito
Internacional por quatro motivos:
 Estrutura orgânica bem desenvolvida
o Assembleia Geral na qual estão representados todos os Estados-Membros
representados, cada um com um voto
o Conselho de Segurança – 5 membros permanentes (Rússia, China, EUA, Reino
Unido e França) e 10 membros temporários eleitos de dois em dois anos
 Órgão mais importante pois exerce funções de manutenção de paz
o Tribunal Internacional de Justiça – órgão jurisdicional com competência para
resolver litígios entre os Estados (não confundir com o Tribunal Penal
Internacional, que julga e condena pessoas que foram responsáveis por crimes
de guerra, genocídios, etc)
o Conselho Económico e Social – promoção do desenvolvimento económico,
social e ambiental dos Estados-Membros
o Secretário-Geral – implementação das decisões do Conselho e da Assembleia
Geral e gestão da máquina administrativa, composta por órgãos secundários
 Desenvolvimento normativo promovida pela ONU
o A insegurança de o costume ser uma das principais fontes do Direito
Internacional, levou a que a ONU desenvolvesse ações de codificação em
tratados de vários costumes internacionais
 Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas – 1961
 Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados – 1969
o Normas consuetudinárias trabalhadas por juristas
o Estabelecimento de princípios comuns do Direito Internacional
 Pacta sunt servanda – um Estado vinculado a um tratado
internacional, tem de cumprir aquilo a que se compromete
 Igualdade entre estados – (igualdade formal, uma vez que a
superpotências com maior domínio que condiciona muitos processos
decisórios)
 Boa vizinhança – os Estados não podem permitir que a partir do seu
território se causem danos do outro lado das suas fronteiras
 Venire contra factum proprium – o Estado não pode tirar proveito de
uma situação ilegítima que ele próprio criou
 Resolução pacífica dos conflitos
 Não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados
 Indemnização integral dos prejuízos, em caso de responsabilidade
internacional dos Estados
 Princípio da confiança e da boa-fé
 Liberdade dos mares
 Princípio da proporcionalidade
 Proteção internacional dos direitos humanos

 Primazia do tratado constitutivo – Carta das Nações Unidas


o Representa o mais próximo que existe de uma Constituição universal
o As obrigações decorrentes deste tratado estão hierarquicamente acima da
outras obrigações dos Estados
o A Carta das Nações Unidas tem primazia sobre as restantes fontes do Direito
Internacional

Artigo 103º da Carta da ONU – “No caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas em
virtude da presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as
obrigações assumidas em virtude da presente Carta.”

 Posição hierárquica do Direito Internacional Público


1. Ius cogens
2. Direito constitucional
3. Direito Internacional
4. Leis ordinárias
5. Regulamentos

 O Conselho de Segurança enquanto órgão com o poder de tomar decisões vinculativas


para todos os Estados-Membros
o Decisões em matéria de segurança internacional e de respeito pelos direitos
humanos
o Deliberações tomadas pelo voto afirmativo de 9 membros relativamente a
questões procedimentais
o Deliberações de natureza substantiva – os 9 votos têm de incluir o voto
afirmativo dos 5 membros permanentes
o Os membros permanentes têm sempre poder de veto

Princípios básicos da Carta das Nações Unidas


 Nº3, artigo 2º - os membros devem resolver as suas controvérsias internacionais por
meios pacíficos, abstendo-se de recorrer à força, mas também coibindo-se de
interferências ilegítimas nos assuntos internos de outros Estados
o Vias de resolução pacífica: negociação, inquérito, mediação, conciliação,
arbitragem, via judicial (através do Tribunal Internacional de Justiça) e o
recurso a organizações e acordos regionais
o O recurso à guerra apenas é admitido em legítima defesa, que pode ser
exercida individual ou coletivamente (o Estado que está a ser agredido pode
defender-se sozinho ou com a ajuda de terceiros)
o O Conselho de Segurança pode intervir com sanções económicas ou com a
interrupção de relações diplomáticas. No entanto, o Conselho pode também
intervir militarmente, recorrendo a forças aéreas, navais ou terrestres,
desenvolvendo todas ações que julgue necessárias para manter ou
restabelecer a paz
o O veto dos membros permanentes e a ausência de forças militares próprias
das Nações Unidas é mais uma dificuldade relevante que coloca em causa a
capacidade de resposta rápida e eficaz do Conselho de Segurança em caso de
rotura da paz

As lacunas da Carta das Nações Unidas


1. Lacuna entre o Capítulo VI – sobre resolução pacífica de conflitos – e o Capítulo VII –
sobre ações armadas
a. Primeiro tenta-se uma solução pacífica para o conflito
b. Não havendo possibilidade de uma solução pacífica, toma-se uma decisão e
executa-se uma ação armada
i. Esta barreira entre a solução pacífica e a ação armada tem-se vindo a
diluir
2. Para preencher a lacuna, a doutrina propôs um capítulo VI – BIS, que compreende dois
novos conceitos de segurança
a. Operações de manutenção de paz
b. Direito de ingerência humanitária

Operações de manutenção de paz


 Agenda para a Paz – 1992
o Desenvolvida no Brahimi Report – 2000
o Desenvolvida através da Capstone Doctrine – 2008
 “capacetes azuis” – forças militares enviadas para locais de conflito (tomando como
partida o cessar-fogo), à partida enviadas com o consentimento das partes envolvidas
no conflito
Ingerência humanitária
 Doutrina fundamentada por Mário Bettati – 1987
o Depois, fundamentada pela política The Responsibility to Protect – 2001
 Formalmente adotada por uma resolução da Assembleia Geral das
Nações Unidas – 2005
 Derrogação ao princípio da não interferência nos assuntos internos dos Estados com
fundamento na necessidade de proteção de populações vítimas de violações em larga
escala dos direitos humanos
o Intervenção aliada no Iraque (Provide confort), em defesa das populações
curda e xiita, após o fim da Guerra do Golfo – 1991
o Intervenção americana na Somália (Restore hope), após o fracasso das
operações de peacemaking – 1992

Proteção internacional dos direitos do homem


A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi ganhado força jurídica, fruto do
reconhecimento que lhe foi dado pelos Estados. Além disso, começou a incluir os homens e
mulheres enquanto sujeitos pertencentes ao Estado e portadores de relações privadas com
este.
 Sistema da ONU
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - 1966
o Pacto dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais - 1996
 Sistema do Conselho da Europa (sistema regional)
o Convenção Europeia dos Direitos do Homem - 1950
o Carta Social Europeia - 1961/ revisão 1996
 Sistema garantido fruto do assento num verdadeiro poder
jurisidicional – Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
A duplicidade de tratados refletiu-se na divisão entre o Bloco Ocidental e o Bloco Soviético.
 
A Convenção Europeia dos Direitos do Homem foi feita pelo Conselho da Europa! Não
confundir com a Carta dos Direitos do Homem feita pela União Europeia e instituída pelo
Tratado de Lisboa, em 2007 (quando se tornou juridicamente vinculativa).
 
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos pode sancionar e condenar países se
desrespeitarem o que está estipulado na Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Portugal:
o Condenado por violações à liberdade de expressão e pela decisão célebre dos tribunais
 
11.O fim da história: sociedade de risco e responsabilidade para com o
futuro

Nos finais do século XX, parecia evidente que o mundo estava a evoluir positivamente.
Tinham ocorrido diferentes vagas de democratização: uma após a II Guerra, depois nos anos
60 e 70, Portugal e Espanha e, após a queda do muro de Berlim, os países de Leste
democratizaram-se também.
 
No cenário de democratização, apareceu um filósofo, Francis Fukuyama. Defendia que
a democracia se iria generalizar. As vagas de democratização foram culminaram em
retrocessos em alguns países.
O fim da guerra fria e a queda do Muro de Berlim foram vistos como algo positivos, criando
esperança.
 
Antes da queda do Muro de Berlim e o risco de um conflito nuclear à escala mundial. O
objetivo das armas nucleares não era serem utilizadas, mas tinham o poder de dissuasão.
 
O risco atenuou-se de guerra nuclear atenuou-se e foi substituído por outros:
 Ulrich Beck
o Ambiente - significativos desastres ecológicos
o Tecnologia - novas tecnologias cuja consequências a longo prazo são
indetermináveis
o Terrorismo - antes do 11 de setembro o terrorismo era motivado por questões
políticas internas. Fora isso, o terrorismo internacional era essencialmente
sobre a independência da Palestina. Atualmente, o terrorismo é
internacionalmente organizado, tendo como foco principal o ódio ao ocidente
-> choque de civilizações
o Mercados - «fragilidade dos Estados face aos mercados financeiros mundiais
o Choque de civilizações - ocidente vs. Oriente
 
Problemas ambientais
 Surgiram na década de 70 do século XX
 Revolução Ética "O princípio da responsabilidade" - Hans Jonas
o Antecipação
o Inclusão da natureza
o Da reciprocidade à responsabilidade
o Do presente para o futuro
o "age de tal modo que a máxima da tua ação seja compatível com a
permanência de uma vida na terra"
 Hans Jonas põe em causa a ideia de que o mundo foi criado por Deus para servir o
homem
o Defende uma ética que incorpora a natureza - é necessário fazer recuar a ética
uma vez que não está garantida a permanência de uma vida humana digna na
terra
o Não é lícito eticamente que arrisquemos a vida dos outros e, por isso, em
situação de incerteza temos de dar preferência aos prognósticos maus
o Justiça intergeracional
o Os sistemas políticos passam a ter de tomar uma decisão relativamente ao
problema
 

12.A democracia sob ameaça

Populismo - uma ideologia de baixa intensidade (à esquerda e à direita)


 Soluções fáceis para problemas difíceis -> invariavelmente erradas
o Muro - não resolve o problema da imigração
o Desemprego -> não se resolve a expulsar os imigrantes (é uma questão de
qualificação e de dinamização da economia)
o Pena de morte - não resolve a criminalidade (as pessoas cometem menos
crimes ao saberem que há uma máquina estatal que resolve e julga os crimes)
 Dicotomias radicais
o Nacionais e imigrantes
o Puros e corruptos
o Povo e elite
 Retroutopia: desejo de voltar ao passado
o Make America Great Again
o Taking back control
 Acesso direto aos eleitores
o Redes sociais - até ao seu aparecimento, as informações eram editadas,
constituindo um filtro para a mensagem (mainstream media)
 Dissolução da fronteira entre verdade e mentira
o Fake news e pós-verdade
o Emoção vs. Factos
 
 Ideologia de baixa intensidade: não tem um conjunto de ideias fortes acerca de como
a sociedade se deve organizar, sendo, sobretudo, uma estratégia de acesso ao poder.
o Por ter uma baixa intensidade, não há um conjunto de ideias sobre à
organização social, sendo compatível com ideias de direita e de esquerda

Parte II: Estado de Direito


 
O conceito de "Estado" foi usado pela primeira vez por Maquiavel, no Renascimento ->
início da criação do Estado Moderno de matriz europeia
 
O que é o Estado?
 Explicação de um fenómeno difícil de compreender
 Manifestações concretas do Estado
 Isto não dá uma definição concreta
 
Estado - três elementos necessários
 Povo: conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo da cidadania e jurídico
 Território: os cidadãos precisam de estar sediados num espaço (sedentário - não tendo
os cidadãos de estar todos nele)
 Poder político: para no território conduzir a vida da comunidade
 
 
Povo:
 Conjunto de cidadãos (v. estrangeiros): cidadania ou nacionalidade -> opõe-se aos
estrangeiros
 Cidadania -> sangue (as pessoas que descendem dos cidadãos do Estado) e sol (quem
nasce no Estado)
 Lei e convenção internacional - para definir quem são os cidadãos (normalmente
através duma lei ordinária)
 Direitos políticos - Cidadãos vs. Estrangeiros: os cidadãos têm direitos políticos
enquanto os estrangeiros ou não os têm ou têm menos
 
Território:
 Terrestre, marítimo e aéreo
 Fronteiras - os Estados têm o direito e o dever de controlar as respetivas fronteiras
(quem e o que entra e sai - razões fiscais, criminais)
o Quem tem um princípio de liberdade com o Estados são os cidadãos, que
podem entrar no seu Estado e sair dele quando entenderem (oposição aos
estrangeiros, que entram dentro de outro Estado mediante consentimento
desse mesmo Estado)
o Delimitam a jurisdição
 Jurisdição - os Estados têm uma máquina administrativa e jurisdicional que exerce as
suas funções dentro do espaço delimitado pelas fronteiras (o exercer de funções é
para os cidadãos e para os estrangeiros que residem em Portugal, do mesmo modo, os
portugueses fora do país estão sobre jurisdição portuguesa)
 Residência/sede - os órgãos de soberania residem no território do Estado
 
Poder político:
 Modalidade de poder, que consiste na possibilidade/capacidade de uma pessoa
(isolada ou inserida numa instituição) limitar a liberdade de outras
 Uso legítimo da força
 
Estado
 Fins: segurança, justiça, bem-estar -> mudam consoante a ideologia política
 Soberania (característica imaterial)
o Interna: um povo pode fazer a sua Constituição (criar as regras básicas pelas
quais a comunidade se vai reger)
o Externa: os Estados fazem parte da comunidade internacional e relacionam-se
com os outros (formas de relação: envio e recebimento de embaixadores - ius
legaciones, celebração de tratados internacionais - ius tractum, participação
em organizações internacionais…)
 
O poder é uma forma interrelacional.
 
Poder de injunção: pode fazer cumprir as suas ordens pela força
 Político
 De facto
 Quem tem poder de injunção?
Poder de influência: pressupõe o consentimento do destinatário do poder
 Persuasão
 Manipulação (ex: propaganda política)
 Autoridade (o destinatário reconhece autoridade)
o Carisma
o Competência
o Legitimidade simbólica/legal-racional (reconhecida pelos destinatários)
 Quem tem poder de influência? Titulares de poder político
 
 
O poder político recorre à influência que tem, para evitar o uso da força para garantir o
cumprimento das suas ordens.
 
Tripla personalidade do Estado
Direito Internacional
 Soberano na ordem externa
 Participação na Comunidade internacional
 *a alteração de regimes políticos dentro do Estado não altera as suas obrigações
internacionais
 
Direito Constitucional
 Soberano na ordem interna
 Poder constituinte
 Sistema de governo
 *pensa-se no conjunto de instituições políticas moldadas pela Constituição
 
Direito Administrativo
 Não soberano
 Poder constituído
 *o Estado é uma pessoa coletiva pública a par de outras pessoas coletivas
 *o Estado está subordinado à lei
 
O conceito de Estado muda consoante o texto interpretado (Direito Internacional, Direito
Constitucional, Direito Administrativo)
 
Estado - triplo sentido (perspetiva como olhamos para o Estado)
 
Estado - comunidade
 Povo
 População
 Nação
 
Estado - território
 Terrestre
 Aéreo
 Nação
 
Estado - poder
 Funções do Estado
 Regime político
 Sistema de governo
 Formas de estado
 Forma institucional
 
 
I.Estado comunidade
 Povo vs. População
o Povo: conjunto dos cidadãos (pessoas com vínculo jurídico que as liga ao
Estado) - têm direitos políticos de cidadania
o População: conceito geográfico e económico: pessoas que num dado
momento vivem no território do Estado
o Emigrantes - cidadãos fora do Estado
o Imigrantes - não cidadãos dentro do Estado (para entrarem no Estado
legalmente, têm de ter um visto - de trabalho, visita, permanência,
habitação…)
 Refugiado vs. Imigrante:
o Refugiado: forçado a sair do seu Estado, por motivos de proteção dos seus
direitos
 Podem procurar um Estado que não o seu e pedir asilo político -
requisição do estatuto de refugiados
 Atualmente, o problema dos refugiados é grande, pois há uma
crescente de pedidos não só motivados por questões políticas como
por questões económicas
o Os imigrantes para entrarem noutro território precisam de um visto
 Apátridas: pessoas sem cidadania, ou seja, não têm um Estado onde tenham o direito
de estar e possam exercer direitos políticos (-> conflitos negativos de cidadania)
 Povo vs. Nação
o Estados nacionais - foram construídos à medida de uma nação (comunidade
histórica de cultura - partilha de valores, culturas, religião e língua)
o Estados plurinacionais - têm no seu território diferentes nações (comunidade
com diferentes culturas, etnias, religiões, línguas)
o Nações pluriestaduais - nações divididas por vários Estados, os territórios em
que vivem estas nações estão divididos por fronteiras estaduais
 
Art.4º da CRP - a cidadania portuguesa é definida por lei ou convenção internacional - Lei da
Nacionalidade
Art. 26º da CRP - a cidadania é um direito fundamental (em duas perspetivas: direito que os
cidadãos têm de não perderem a cidadania e direito de estrangeiros adquirirem cidadania
portuguesa) - direito à cidadania enquanto possibilidade de aquisição de outros direitos
Art. 164º, alínea f) da CRP - a lei que regula esta matéria é da reserva absoluta da competência
legislativa da AR
Art. 14º da CRP - direitos dos portugueses no estrangeiro
Art. 15º da CRP - estatuto dos estrangeiros no Estado português - princípio da equiparação
Art. 33º da CRP - direito de asilo, extradição, expulsão, relação dos cidadãos com o território
Art. 44º da CRP - liberdade de circulação - garante aos cidadãos o direito de emigrar e de
regressarem quando o entenderem
 
 
Cidadania - quem define quem são os cidadãos de um Estado?
 Estado
o Lei da cidadania
o Convenção internacional
o Cidadanias de 2º grau ou de sobreposição - estatutos jurídicos a que se acede
quando se é cidadão de determinado Estado (15º nº3 e 5 da CRP, 20º TFUE)
 Direito internacional
o Jurisdição interna exclusiva dos Estados (Haia 1930)
o Direito à cidadania: 15º da DUDH - todas as pessoas têm direito de cidadania e
as situações de apatridia são excecionais
o Princípio da ligação efetiva (e genuína) - para serem reconhecidas as
cidadanias pelos outros Estados, tem de ser respeitado este princípio, que é
definido por cada Estado
o Resolução de conflitos: positivos (pluri-cidadania), mas sobretudo negativos
(apatridia)
o Tradicionalmente, o direito internacional manda resolver os conflitos de
cidadania
o Os Estados não extraditam os seus cidadãos mesmo que tenham cometido um
crime
 

Conflitos positivos
 Prevenção: Haia 1930
 Resolução: Estrasburgo 1963
 Protocolo nº2 - 1933
 
Conflitos negativos
 Direito à cidadania: 15º DUDH, 24º PIDCP, 3º D.D Criança
 Convenção das Nações Unidos sobre redução da apatridia
 Convenção CE 1997 sobre nacionalidade
 
Quais são os critérios de definição de cidadania?
 Originária (atribuída no momento do nascimento ou em momento posterior por
referência ao momento do nascimento)
o Ius sanguinis - nascer e ser filho de cidadãos portugueses
o Ius soli - nascer em solo português
o Automática - resultar da aplicação da lei - ope legis
o Manifestação da vontade - há situações em que estão preenchidos alguns
requisitos mas é necessária esta manifestação (p.e: filhos de estrangeiros que
residem em Portugal)
 Derivada (adquirida)
o Casamento / união de facto
o Filiação
o Adoção
o Residência: naturalização (art.6º da lei da nacionalidade)
A cidadania não é apenas um estatuto, é também um direito.
 
Art.26º - estabelece o direito à cidadania, sendo-lhe aplicável o artigo 18º
 Dimensão positiva: quem é estrangeiro pode ter direito a ser português (o legislador
não é livre de decidir quem é cidadão português)
o Nascimento (sangue e solo)
o Posteriormente (casamento/filiação/adoção/ligação + efetiva)
 Dimensão negativa: aplica-se a quem já tem a cidadania portuguesa (quem a tem, tem
o direito de não a perder ou ser privado - nº4 - dela arbitrariamente - artigo 8º Lei da
Nacionalidade)
 
 
*Lei da Nacionalidade (Lei Nº37/81)
Art. 15º CRP - estrangeiros -> princípio da equiparação (complemente o princípio da igualdade
estabelecido no art. 13º)
1. Os estrangeiros e apátridas que se encontrem ou residam em Portugal gozam de
direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português
 
2. Excetuam-se do disposto no número anterior os direitos políticos, o exercício das
funções públicas que não tenham caráter predominantemente técnico e os direitos e
deveres reservados pela Constituição e pela lei exclusivamente aos cidadãos
portugueses
 
 O legislador não tem livre vontade para definir quais são os direitos e deveres que
pertencem apenas aos cidadãos
 Direitos políticos: voto, a ser candidato, a constituir partidos políticos
 Exercício de funções públicas que não tenham caráter predominantemente técnico
o Há funções públicas que estão associadas a funções de soberania, estando
estas reservadas aos cidadãos - o resto das profissões não são exclusivas
o Direitos exclusivos dos cidadãos portugueses - art. 33º, direito à defesa da
pátria (art. 70 e tal, que pode geral serviço militar obrigatório)
o Direitos exclusivos as estrangeiros - p.e: direito ao asilo
3. Aos cidadãos dos estados de línguas portuguesa com residência permanente em
Portugal são reconhecidos nos termos da lei e em condições de reciprocidade, direitos
não conferidos a estrangeiros, salvo
a. O acesso aos cargos de Presidente da República, Presidente da Assembleia da
República, Primeiro-Ministro, Presidentes dos tribunais supremos
b. Serviço nas Forças Armadas e na carreira diplomática
4. A lei pode atribuir a estrangeiros residentes no território nacional, em condições de
reciprocidade, capacidade eleitoral ativa e passava para a eleição dos titulares de
órgãos de autarquias locais
5. A lei pode ainda atribuir em condições de reciprocidade, aos cidadãos dos Estados
membros da União Europeia residentes em Portugal o direito de elegerem e serem
eleitos Deputados ao Parlamento Europeu
 
Lei Nº27/2012 - regime de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros
 
Art. 14º - portugueses no estrangeiro
 Os cidadãos portugueses que se encontrem ou residam no estrangeiro gozam da
proteção do Estado (o Estado mantém a obrigação de ajudar os cidadãos que se
encontrem fora) para o exercício dos direitos e estão sujeitos aos deveres que não
sejam incompatíveis com a ausência do país
 
 
O princípio da equiparação também se aplica aos estrangeiros em situação irregular?
 Irregularidade: as pessoas entram em território nacional com o visto de turista e
depois ficam (entram legalmente e permanecem mais tempo do que está definido no
visto)
 Sim. A todos os direitos? Alguns direitos têm de ser reconhecidos às pessoas apesarem
de estarem em situação irregular
 Não. Então não tem direitos?
 
Qual é a mais valia de ser cidadão?
 Direitos reservados pelo nº2 do artigo 15º da CRP
 Razões simbólicas: o facto de se ser estrangeiro pode ser um motivo de discriminação
 Relação de liberdade com o território
 Cidadania europeia
 
 

II. Estado - território (terrestre, marítimo, aéreo)


 Sedentário
 Fronteiras (definidas)
o Indivisibilidade
o Inalienabilidade
o Exclusividade - jurisdição
 Reconhecimento de Estados
 Espaço máximo proteção dos cidadãos
 Limite do poder coercivo
 Sede dos órgãos do poder
 Princípio da territorialidade: ordem jurídica vigora no território do Estado
 Princípio da extraterritorialidade: excecionalmente, a ordem jurídica vigora fora do
território (embaixadas, navios, aeronaves)
 Jurisdição
 Território marítimo: águas interiores territorial, zona contígua e ZEE (zona económica
exclusiva)
 Convecção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar: permite aos Estados requerer a
expansão da sua plataforma continental, fazendo nela exploração de recursos

Portugal
 Delimitação de fronteiras concisa (apenas duas questões: Olivença e Ilhas Selvagens)
 Expansão da ZEE para aumentar a exploração de recursos – se Portugal expandir a sua
ZEE ficará com território marítimo muito superior ao terrestre

III. Poder político


Fundamento
 Soberania
 Poder constituinte
Fins
 Segurança
 Justiça
 Bem-estar
Poder
 Político
 Legislativo
 Judicial
 Administrativo

Regimes políticos
 Abertos
o Democracias liberais
o Democracias populistas (tendem a degenerar em regimes autoritário –
instrumentalizam o voto popular, as eleições nem sempre acontecem de
acordo com a liberdade, não se costuma verificar pluralismo -> as eleições
acabam por ser no intuito de legitimar o líder)
 Fechados
o Regimes autoritários (supressão de direitos políticos)
o Regimes totalitários (supressão da maior parte dos direitos civis, como –
direito à vida, direito à escolha da profissão, direito à constituição de família e
contração do casamento)
o Teocracia
 Pressupostos
o Igualdade
o Soberania popular
 Instituições
o Eleições
o Regra da maioria
o Representação política
o Partidos políticos
o Liberdade de expressão
o Estado de Direito

Sistemas de governo (quantos órgãos de soberania existem, como se relacionam, como são
criados – nomeação ou eleição – etc)

Conceitos e espécies: entre o Direito e a Ciência Política


 O modo como o poder se estrutura e desenvolve pode variar em função de sistemas
partidos, cultura política, entre outros)

Estruturas parlamentares: monarquia e república


 Estrutura parlamentar monárquica
o Chefe de estado: rei
o Três órgãos de soberania: rei, governo, parlamento
o Apenas existem eleições para o parlamento
o O governo forma-se a partir dos resultados das eleições legislativas (o Governo
é uma consequência do resultado das eleições
legislativas)
o O parlamento pode retirar a sua confiança ao
governo, colocando em causa a
responsabilidade
o Dissolução do parlamento: poder que pertence
ao rei, no entanto, a decisão de dissolução
pertence ao primeiro-ministro
o Nomeação do primeiro ministro: poder que
pertence ao rei -> poder vazio, porque o
primeiro ministro é nomeado consoante o
partido que ganha as eleições legislativas

 Estrutura parlamentar republicana:


o Três órgãos de soberania: dois politicamente
ativos (parlamento e governo -> governação) e
o chefe de estado (presidente)
o Apenas existem eleições para o parlamento
o Dissolução do parlamento: poder que pertence
ao presidente
o Eleição do presidente: parlamento bicamaral -> decisão pelas duas câmaras
o Diarquia: a chefia do Estado e do Governo é entregue a pessoas diferentes
(chefe de Estado – presidente, rei- /chefe de governo – chanceler e primeiro
ministro)

Estruturas presidencialistas
 Duas eleições paralelas (Presidente e Congresso)
 O chefe de estado – presidente – tem simultaneamente o poder executivo
 Não existe um governo enquanto órgão autónomo -> existe um conjunto de
secretários de Estado nos quais o presidente delega as suas competências
o Não respondem perante o Congresso
o O presidente tem competência independente
 Os secretários de Estado são nomeados pelo Presidente e respondem ao mesmo
 Checks and balances
o O presidente veta as leis do congresso
o O congresso supero o veto através da maioria
qualificada
 É comum a meio dos mandatos os presidentes perderem
apoio no Congresso
 Juntamente com a eleição do presidente é eleita a
Câmara dos Representantes e é renovado 1/3 do Senado
 Nas midterms é renovado o 2/3 do senado (de dois em
dois anos)

Estruturas semipresidencialistas
 Tem alguns antecedentes históricos, mas foi criado na transição da quarta para a
quinta república francesa -> evolução do sistema parlamentar republicano, em que a
eleição do presidente pelo parlamento é substituída pela eleição direta pelo povo
 O presidente não é um símbolo, tendo alguns poderes substanciais e pode tomar
algumas decisões importantes sobre o funcionamento do sistema político
 Dupla eleição: Parlamento e Presidente
 O governo é formado em função dos resultados
eleitorais e quando se forma passa a responder
politicamente perante o Parlamento
o O Parlamento pode e deve fazer perguntas ao
Governo
o O Parlamento pode determinar a queda do
Governo
 Três institutos para a queda do governo:
moção de censura, voto de confiança,
voto do programa político do governo
 Veto e superação do veto
 Confiança e responsabilidade
 O que é que diferencia este sistema de governo?
o [dupla responsabilidade] O governo não é apenas responsável perante o
Parlamento, também o sendo perante o Presidente -> isto inicia-se com a
nomeação do Governo
o O presidente pode ter alguma margem de manobra na escolha do Primeiro-
Ministro, bastando que os resultados não sejam certos, daí a nomeação do
mesmo eclodir na sua responsabilidade para com quem o nomeia
o O presidente pode demitir o primeiro-ministro
 O que é que diferencia este sistema de governo? Dissolução do parlamento
o Nos restantes sistemas, não se dissolve o parlamento, sendo que o parlamento
e o presidente funcionam conjuntamente
o (o presidente não pode dissolver o parlamento e este não pode destituir o
presidente) *excetua-se o impeachment – o presidente cometer um delito
grave e, assim, pode ser destituído
o **No sistema parlamentar republicano a dissolução não é decidida pelo chefe
de Estado, pois a decisão sobre a dissolução cabe ao primeiro-ministro (vs.
Sistema semipresidencialista)

Estruturas diretoriais – adotado na Suíça


 Eleição para o parlamento e a partir dessa eleição forma-se um governo (um
diretório)
 Por quê diretório? A composição do governo é heterogénea espelhando a
constituição do parlamento
 Não tem necessariamente um chefe do Estado -> os diretores vão assumindo
rotatoriamente a chefia do Estado

Estruturas convencionais
 Inspirado na Assembleia francesa
 Eleição de um comité executivo -> não tem competências
autónomas
 A Assembleia pode substituir a convenção
 A convenção não é dependente, estando na alçada do poder de
autoridade
 Adotado por autarquias locais de menor dimensão (p.e:
freguesias)

Sistema de Governo Português


Componente parlamentar
 Formação do Governo em função dos resultados das eleições parlamentares (depois
das eleições o PR nomeia o PM -> critérios de nomeação: audição dos partidos
representados na Assembleia e consideração dos resultados eleitorais)
o Não havendo maioria absoluta, podem ser feitas coligações
o Depois da nomeação do PM, este indica quais os ministros, para o PR os
nomear
 Responsabilidade política do Governo perante a AR
o Programa do governo: Depois de tomar posse, o Governo tem 10 dias para
apresentar o seu programa à AR, sendo que esta tem três dias para o apreciar
-> isto não implica a aprovação do mesmo, apesar de os partidos poderem
propor a rejeição do mesmo (o programa político apenas é votado para ser
rejeitado). Se o programa político não for rejeitado com maioria absoluta, o
Governo assume funções
o Moção de censura: os partidos podem propor esta moção para haver a
demissão do Governo, se entenderem que não estão a cumprir o seu
programa político. Se a moção for aceite -> demissão do governo -> o PR
nomeia outro PM ou o PR dissolve a AR. Se o Governo tem maioria absoluta no
Parlamento, tem imunidade à moção de censura, na medida em que esta é
votada e, assim, o Governo não cairia
o Voto de confiança: contrário da moção de censura – forma de o governo
reforçar a sua legitimidade. O Governo pode apresentar à AR uma moção de
confiança, para trazer alguma clareza à vida política nacional. Pode ser usado
quando o Governo quer fazer uma inversão política ou quando quer
reinstaurar confiança. Se o voto de confiança não for aprovado, o Governo cai
o Controlo da atividade: a AR controla a subsistência do Governo e a sua
atividade. Este controlo é feito através de vários institutos: perguntas ao
Governo (os deputados, individualmente, podem fazer perguntas ao Governo
por escrito), interpelações e debates parlamentares e comissões
parlamentares (permanentes ou eventuais – de inquérito)
o *o controlo da atividade é o elemento mais importante, pois se no Parlamento
houver maioria absoluta, o programa político, a moção de censura e o voto de
confiança são meramente formais
 Diarquia no executivo: duas figuras diferentes – PR e PM (o chefe de Estado e o chefe
do executivo são pessoas diferentes)
o O PR não tem funções executivas, praticando atos da função política
o Não tem de haver sintonia entre o PR e PM, tendo, no entanto, de haver
respeito institucional
o O PR tem funções em duas áreas: negócios estrangeiros e defesa nacional
 Negócios estrangeiros: o PR representa o país fora do Estado
português, sendo assim uma figura importante da diplomacia ->
nomeia os diplomatas, ratifica as convenções internacionais,…
 Defesa nacional: o chefe de Estado é o comandante supremo das
Forças Armadas -> nomeia as chefias militares

Componente presidencialista
 Eleição do PR por sufrágio direto e universal
o Se não houver um candidato, na primeira volta, com mais de 50% dos votos,
vão à segunda volta os dois candidatos com mais votos na primeira
 Veto presidencial e superação parlamentar do veto
o Promulgação dos diplomas, para depois entrarem em vigor
o Veto político -> o PR fundamenta livremente
o Se o PR entender que o diploma é inconstitucional, envia-o para o TC para ser
feita uma fiscalização preventiva, que lhe deve responder em 25 dias
 Se for inconstitucional, o PR é obrigado a vetar o diploma -> veto
inconstitucional
o Os vetos do PR em relação aos diplomas do governo são definitivos. Em
relação às leis, são suspensivos, pelo que a AR pode superar o veto através de
uma nova deliberação. Esta superação tem de ser feita por uma maioria
superior à inicial
o A fiscalização de inconstitucionalidade tem precedência relativamente ao veto
político

Componente específica (semipresidencialista)


 Poder autónomo do PR de dissolução da AR
o O PM pode pedir a dissolução e o PR não dissolve
o O PR pode dissolver mesmo que o PM não queira
o Limites de dissolução: não há limites materiais, apenas circunstanciais
 Não pode dissolver nos primeiros seis meses após as eleições
legislativas
 não pode dissolver nos últimos seis meses do seu próprio mandato
presidencial
 não pode dissolver em estado de sítio ou de emergência
o a rejeição do Orçamento de Estado não tem constitucionalmente qualquer
relação com o exercício de funções -> o orçamento do ano anterior volta a
aplicar-se em duo decimo e o governo fica com a função de voltar a apresentar
um novo orçamento (o orçamento de Estado é aprovado por maioria simples)
 Responsabilidade (institucional) do Governo perante o PR
o Demissão do Governo: o PR pode demitir o Governo, sem dissolver a AR,
quando estiver em causa “o regular funcionamento das instituições
democráticas”. Porém, não é um poder tão livre quanto o de dissolução, pois o
Governo não tem responsabilidade perante o PR.
 Colocar em causa o regular funcionamento das instituições
democráticas: se o governo violar diversos princípios constitucionais e
institucionais do funcionamento das diversas instituições
 Este poder nunca foi exercido, pois se o Governo for demitido, à
partida a Assembleia não aceitará outro
o Dever de informação: o PM deve informar o PR de todos os assuntos de
política interna e externa
o Controlo da atividade:
 Veto: todas as decisões legislativas do Governo têm de passar pelo
Chefe de Estado
 O Chefe de Estado controla o trabalho do Governo

Estrutura semipresidencialista na CRP (após a 1º revisão)

Aprovada uma lei pela AR, o Presidente da AR envia-a para o PR para promulgação. O pR
deve adotar uma das três atitudes seguintes:
1. Promulgar -> referenda-> publicação -> entrada em vigor
2. Vetar politicamente, solicitando à AR nova apreciação do diploma em mensagem
fundamentada. A AR, por sua vez, pode:
a. Aceitar o veto do PR
b. Confirmar o diploma vetado (por maioria absoluta ou de 2/3) -> promulgação
obrigatória
c. Reformar o diploma -> o processo inicia-se de novo
3. Enviar para o TC para fiscalização preventiva de constitucionalidade. Duas alternativas:
a. O TC pronuncia-se pela não inconstitucionalidade do diploma. O PR pode:
i. Promulgar
ii. Vetar politicamente
b. O TC pronuncia-se pela inconstitucionalidade do diploma -> O PR é obrigado a
vetar por inconstitucionalidade, devolvendo o diploma à AR. A AR, por sua vez,
pode:
i. Aceitar o veto por inconstitucionalidade do PR
ii. Confirmar o diploma vetado (por maioria de 2/3) -> o PR pode
promulgar, mas não é obrigado a fazê-lo
iii. Expurgar as normas consideradas inconstitucionais. Neste caso o PR
pode:
1. Promulgar
2. Vetar politicamente
iv. Reformular o diploma -> o processo inicia-se novamente

Aprovado um decreto-lei pelo conselho de ministros, é este enviado ao PR para


promulgação. O PR deve adotar uma das três atitudes seguintes.
1. Promulgar -> referenda -> publicação -> entrada em vigor
2. Vetar politicamente, comunicando por escrito o sentido do veto. O governo poderá
então:
a. Aceitar o veto do PR
b. Enviar o diploma à AR como proposta de lei (no exercício do respeito poder de
iniciativa legislativa)
c. Reformular o diploma -> o processo inicia-se de novo
3. Enviar ao TC para fiscalização preventiva de constitucionalidade. Duas alternativas
principais se colocam:
a. O TC pronuncia-se pela não inconstitucionalidade do diploma. O PR pode
então:
i. Promulgar ->
ii. Vetar politicamente ->
b. O TC pronuncia-se pela inconstitucionalidade do diploma -> o PR é obrigado a
vetar por inconstitucionalidade, devolvendo o diploma ao Governo. Este, por
sua vez, pode:
i. Aceitar o veto por inconstitucionalidade do PR
ii. Expurgar as normas consideras inconstitucionais. Neste caso, o PR
pode:
1. Promulgar ->
2. Vetar ->
iii. Reformular o diploma -< o processo inicia-se de novo

Interpretação estratégica do Sistema de Governo Português Modelos I, II, III, IV


O mesmo sistema de governo pode funcionar de maneira diferente consoante as
relações políticas que se estabelecem entre PR, GOV e AR.
Classificação dos sistemas semipresidenciais (segundo os poderes do presidente) – 1976/1982
 Comparação do modelo constitucional com as práticas constitucionais
o P.e: na Constituição francesa não são atribuídos vários poderes ao presidente,
mas na verdade ele detém bastante poder
 A quantidade de poder nem sempre corresponde aos poderes constituídos na
Constituição

Gralha das relações Presidente /Maioria


 Quando há uma maioria monolítico -> há um chefe da maioria
 À medida que a maioria diminui, menos poder o chefe tem
 O presidente opositor é contrário ao partido do governo -> torna o presidente um
árbitro
 As diferentes combinações explica por que é que os sistemas presidencialistas, na
prática, se afastam das normas constitucionais

O sistema de governo português foi desenhado à semelhança do francês.


Quorum e Maioria

 Quorum-regra: 116 deputados presentes


 Maioria:
o Simples: mais votos a favor do que contra, as abstenções não contam (Regra
Artigo 116, nº3)
o Absoluta: mais de metade dos votos expressos a favor -> refere-se sempre aos
deputados em efetividade de funções – 116 deputados
o Qualificada: dois terços ou quatro quintos

Sistemas de partidos e sistemas eleitorais

Sistemas de partidos

 Monopartidários (sistemas ditatoriais)


 Bipartidários (sistema britânico – conservadores e trabalhistas – e sistema americano
– democratas e republicanos) -> há dois partidos relevantes, mas podem haver outros
o Perfeitos
o Imperfeitos – quando em vez de dois partidos há dois blocos partidários
 Multipartidários (cinco a vinte partidos)
o Perfeitos – quanto mais partidos houver, mais perfeito se torna o sistema
multipartidário
o Imperfeitos

Sistemas eleitorais

 O bipartidarismo ou o multipartidarismo são o resultado do sistema eleitoral


 Conduz ao bipartidarismo, pois os eleitores votam nas duas listas com mais
probabilidades de ganhar -> voto útil
 Maioritários – quem ganha num determinado círculo elege, quem não ganha não
elege – resulta num sistema bipartidário
o Círculos uninominais – cada círculo só elege um deputado -> dos vários
candidatos o que tiver mais votos ganha (RU e eleições colegiais EUA)
o Círculos plurinominais – o círculo elege vários deputados -> a lista que ganha
elege todos os deputados
o Duas voltas
 Proporcionais – resulta num sistema multipartidário
o Círculos plurinominais parciais
o Círculo nacional único
 Mistos ou combinados – aproveita as vantagens de ambos os sistemas eleitorais
o Sistemas maioritários
 estabilidade governativa, pois havendo dois partidos há maioria
absoluta
 dá menos escolhas ao eleitorado
 quando funcionam com círculos uninominais – proximidade entre
eleitores e eleitos
o sistema proporcional
 maior liberdade de escolha para o eleitorado
 maior representatividade no parlamento – mais espelhamento
 havendo multipartidarismo, é mais difícil um partido ter maioria
absoluta -> maior risco de instabilidade governativa
o quando criados, são bastante complexos

Sistema colegial americano [exemplo] – sistema


bipartidário e plurinominal

 a minoria pode vencer facilmente, pois são


contabilizados os votos na totalidade dos
Estados -> Trump vence Clinton, apesar de ter
milhões de votos a menos
 os resultados dependem dos círculos eleitorais
 repartição entre áreas rurais maioritariamente
republicanas e áreas urbanas maioritariamente democratas

Olhando para o mapa português pode


acontecer o mesmo, pois os pequenos partidos
apenas elegem em círculos grandes.

Assim, os sistemas mais proporcionais são


os sistemas de círculo nacional único [por
exemplo -> Israel].

Sistema português – multipartidário perfeito


Qual é a crítica a este sistema? Distância entre eleitores e eleitos.

Quem escolhe os candidatos aos diferentes círculos são as lideranças partidárias.

Como é que se pode manter a proporcionalidade?

 A redução do número de deputados implica a perda de poder de eleição dos partidos


mais pequenos
 O aumento dos círculos aumenta a proporcionalidade
 Sistema alemão -> metade do parlamento é eleita por círculos uninominais e a outra
metade é eleita por círculos plurinominais
o Neste sistema cada eleitor tem direito a dois votos
 Primeiro voto – candidato uninominal
 Problema: quem ganha tem de ter lugar garantido
 Segundo voto – no partido que quer ver a formar governo
 Problema: pode haver dissonância entre os dois votos -> no
final o que prevalece? -> voto esquizofrénico
Este sistema tem sido proposto para Portugal e, inclusivamente, a Constituição está preparada
para esta eventualidade -> artigo 149º CRP.

Porém, a hipótese mais forte não é a transposição do sistema alemão.

 Solução em que os círculos uninominais são recortados dentro de círculos


plurinominais – combinação da maioria com a proporcionalidade
o Problema: deputados eleitos “acima da corda”

Até 1975, o sistema eleitoral tem-se mantido inalterado.

Método de Hondt -> adotado para a eleição dos deputados na AR

 Simples, evita alguns problemas que


outros métodos têm
 Valorização do partido mais votado
 O partido com mais votos ganha
facilmente maioria absoluta no
parlamento
 Contribui para a estabilidade
governativa
 Beneficiado pelo voto útil
 O que conta neste sistema (maioritário) é ganhar o maior número de círculos
 Quanto maior for o círculo (Lisboa e Porto – maiores), mais proporcional é – índice
elevado de proporcionalidade

Formas de Estado – separação vertical do poder à luz do critério da “soberania na ordem


interna”

 Compostos ou complexos – costumam ser federações, sendo que a União Real apenas
se encontra efetivamente
o Uniões reais (Reino Unido) – estrutura de fusão -> há órgãos comuns (chefe de
Estado, Parlamento e Governo), mas também há órgãos de governo próprios
 Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte
o Federações – estrutura de participação e sobreposição
 O federalismo começa nos EUA, e depois da Declaração da
Independência as 13 colónias britânicas tornam-se Estados
independentes. Devido à sua necessidade de defesa, as 13 colónias
formaram uma confederação e, depois da Constituição, tornaram-se
uma Federação – Estados independentes unem-se e tornam-se uma
federal. Sobreposição: a Constituição Federal sobrepões às
constituições federais -> os Estados são soberanos na ordem interna.
Igualdade entre todos os Estados: todos têm o mesmo estatuto
jurídico e são representados por dois senadores no Senado,
independentemente da sua dimensão e todos participam no processo
e revisão da Constituição Federal. Repartição de competências entre a
Federação e os Estados federados: tudo o que não estiver reservado
pela constituição federal ao Estado federal, sobre para os Estados
federais (exemplo: interrupção voluntária da gravidez, pena de morte,
casamento homossexual). Os Estados não se dissolvem no conjunto
dos cidadãos -> os cidadãos elegem através do Estado (importa a
totalidade de voto do Estado – republicano/democrata)
 De tipo clássico (EUA)
 De tipo cooperativo (RFA)
 Imperfeitas (França)
 De tipo invertido (União Europeia) – contraposição ao federalismo
americano. A União Europeia pode ter um modelo federal, porém os
diversos Estados-Membros permanecem soberanos na ordem externa
 Simples ou unitários (exemplos: Portugal, Espanha, França, Itália, Dinamarca)
o Centralizados
 Concentrados (serviços de administração direta)
 Desconcentrados (serviços periféricos de administração direta)
o Descentralizados
 Administrativamente
 Territorialmente: divisão do território em diferentes
categorias - autarquias locais [em Portugal: freguesias,
municípios]
 Funcional: criação pelo Estado de outras pessoas coletivas
públicas, cujo objetivo é a satisfação das necessidades
coletivas). Diferente do próprio Estado e estão sujeitos a um
poder mais fraco sob propriedade da administração estadual
interna – o Governo tem poder de superintendência (pode dar
orientações às pessoas coletivas). X Associações
profissionais/públicas – têm administração autónoma e estão
sujeitas a um poder de tutela de legalidade, tal como as
autarquias locais -> o governo não pode controlar a atividade
das associações profissionais e autarquias locais, apenas pode
controlar o cumprimento da lei
 Política e administrativamente (territorial) – regiões autónomas
 Pressupõe um órgão legislativo
 As regiões autónomas têm autonomia, mas estão vinculadas
ao poder legislativo, não tendo soberania externa ou interna
(artigo 226º CRP)
 Integrais (Espanha/Itália) todo o território está dividido em
regiões autónomas / parciais (Portugal/Dinamarca)
 Homogéneos – todas as regiões autónomas têm o mesmo
estatuto (Portugal) / heterogéneos
(Espanha/Itália/Dinamarca)

Princípios jurídicos do direito público

 Princípios fundamentais
o Atividade
 Dignidade da pessoa
 Igualdade
 Democrático
 Estado de direito
 Constitucionalidade – todos os atos do poder público têm de
ser conformes à Constituição, sob pena de invalidade e não
produzirem efeitos
 Proporcionalidade – (18º, nº2/ 19º, nº4/266º, nº2/272, nº2)
 Acesso ao Direito e aos Tribunais – (20º / 268º nº 4 e 5)
 Responsabilidade – (22º /117º/271º)
 Segurança jurídica – proteção da confiança (2º/18º,
nº3/29ª/103º)
 Transparência – fundamentação das decisões dos tribunais,
segredos de e«Estado e Justiça são exceções ao principio geral
de liberdade de acesso e informação)
 Legalidade / prossecução do interesse público / imparcialidade / boa-
fé – direito administrativo
 Independência nacional /autodeterminação dos povos / não
ingerência /solução pacífica dos conflitos – direito internacional
público
 Sustentabilidade / prevenção / precaução – direito do ambiente
 Legalidade tributária / capacidade contributiva / anualidade e
equilíbrio orçamental – direito financeiro e fiscal
 Nullum crimen-poen sin lege / irretroatividade da lei incriminadora / in
dúbio pro reo – direito penal e processo penal
 proibição de autodefesa / pedido / igualdade das partes – direito
processual civil
o Organização
 Separação (e interdependência de poderes) – procura que os poderes
sejam atribuídos a órgãos diferentes do Estado
 Estado unitário regional
 Subsidiariedade – repartição das competências entre o Estado e as
outras pessoas coletivas públicas (autarquias locais, regiões
autónomas)
 Descentralização e desconcentração administrativa
 Hierarquia dos tribunais
 Princípios instrumentais
o Tipicidade dos atos legislativos – é a Constituição que define quais são os atos
legislativos -> daqui retiram-se outros formulários (artigo 112, nº1)
o Publicidade dos atos jurídicos – cruza-se com o princípio da transparência
o Fixação constitucional da competência – as competências são fixadas
constitucionalmente (artigo 110º)
o Solidariedade governamental – o governo tem de funcionar unitariamente, os
ministros não podem desrespeitar o programa do governo, hierarquia de
responsabilidade… (artigo 189º)
o Especialização dos tribunais – sem prejuízo da sua hierarquia, os tribunais
estão divididos consoantes as matérias a que são chamados a decidir (artigos
211, nº2 e 212º, nº3)
o Desburocratização – princípio da atividade administrativa
Teoria constitucional [ de um alemão ]

 a generalidade dos direitos fundamentais correspondem a princípios


 os princípios têm de ser pesados consoante o caso

Regras vs. Princípios (ambas normas jurídicas)

 As regras mudam com alguma velocidade


 Aquilo que é mais importante são os princípios, pois são o fundamento para a
produção de regras e, por outro lado, ajudam na interpretação de regras
 Nem todas regras são jurígenas ou têm uma função interpretativa, enquanto os
princípios ajudam na resolução dos casos
 Metodologicamente, os princípios não são suficientemente concretos para nos dar de
forma clara e imediata a resolução dos casos -> é necessária uma metodologia de
resolução que varia de caso para caso
 O princípio pode ser o resultado da conjugação de várias normas
 Há princípios com níveis de abstração grandes
 Há normas difíceis de qualificar

Referências bibliográficas – curso de direito constitucional volume II. Pgs. 9-55 e 76-126

Semipresidencialismo reis nubais – pgs. 59- ///// 141-151

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