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INTRODUÇÃO AO

DIREITO BRASILEIRO
E TEORIA DO ESTADO

Nuno Miguel
Instituições de Direito
Público: da teoria do Estado
e do Estado brasileiro
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as principais instituições de Direito Público.


 Explicar a teoria do Estado.
 Distinguir a teoria do Estado da teoria do Estado brasileiro.

Introdução
Você já deve ter ouvido falar no conceito de sociedade como soma de
indivíduos, de forma que se torna necessária a força de um Estado reco-
nhecido e legitimado para gerenciar essa sociedade. Portanto, identificar o
conceito de Estado é premissa para o estudo do Direito Público, da mesma
forma como identificar o conceito de Direito Público é fundamental para
que possamos entender a concepção do Estado.
Neste capítulo, você vai ler sobre as instituições de Direito Público e
as suas implicações na organização de um Estado.

Principais instituições de Direito Público


A relação do indivíduo com o Estado é relativamente recente nas sociedades
humanas, advindo especialmente dos conceitos iluministas dos séculos XVII
e XVIII. Nos países organizados de forma democrática, com a divisão de
poderes, a lei emana do Estado, via Poder Legislativo, com representantes
do povo — portanto, em última análise, da vontade do próprio povo. Tal
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sistemática dá aparente legitimidade aos atos praticados pelo Estado. Assim,


tanto as leis relacionadas ao Direito Público quanto aquelas relacionadas ao
Direito Privado advêm do Estado, mas têm focos distintos. Daí a necessidade
de que identifiquemos quais são as instituições de Direito Público, de forma
que possamos avaliar o poder estatal.
As instituições de Direito Público e Direito Privado são o conjunto de
normas emanadas pelo Estado com fins de disciplinar as relações dos in-
divíduos inseridos em determinada sociedade. Nessa perspectiva, Direito
Público pode ser definido como o tronco do ordenamento jurídico que
se ocupa da afetação coletiva, enquanto o Direito Privado se ocupa dos
interesses individuais.

Por coexistirem em uma mesma sociedade, o contato entre o Direito Público e o Privado
é comum — porém, os princípios jurídicos e sociais que os norteiam são distintos.

O campo individual concerne ao Direito Privado, pois diz respeito apenas


ao indivíduo, não ao Estado. Por exemplo:

 a escolha da profissão;
 a compra de um eletrodoméstico;
 o casamento;
 o modo de se expressar socialmente.

Ou seja, em Estados democráticos e livres, não faz sentido o Estado definir


a profissão do indivíduo, determinar que ele adquira algum eletrodoméstico,
case-se e assim por diante.
Já o campo coletivo concerne ao Direito Público, pois diz respeito a toda
a coletividade, não às escolhas de cada indivíduo. Por exemplo:

 a prática de um crime, por essência, é contra toda a sociedade, não


apenas contra a vítima e a família da vítima;
 a obrigação de pagar tributo serve para manutenção da máquina pública
e promoção do equilíbrio social;
 a administração do patrimônio público pertence a toda a sociedade.
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A origem do Direito advém da necessidade de estabelecermos ordem no convívio


social, nem sempre pacífico. Daí dizemos que o Direito só existirá se existir sociedade,
pois, caso não haja sociedade, não haverá a necessidade de estabelecermos tratos
(pacto) de convívio social, simplesmente pela inexistência do próprio convívio. Ou
seja, caso o ser humano vivesse sozinho, não em sociedade, ele estaria livre para fazer
aquilo que bem entendesse, pois não haveria a presença de outros seres humanos,
os quais ele teria que respeitar de alguma forma.
Portanto, a origem do Direito está atrelada ao agrupamento dos seres humanos,
e a sua finalidade é regular as relações desses agrupamentos, de forma a tornar a
convivência dos seus indivíduos pacífica.

Teoria do Estado
Exatamente por ser a sociedade composta pela soma de indivíduos, a sua maior
participação política legitima as ações daqueles escolhidos para exercerem
o poder em nome de todos. A expressão Estado é utilizada para se referir a
Estado-nação. A sociedade humana, com a estrutura de poderes composta
para o povo e pelo povo, partindo do pressuposto que o poder emana deste, é
um conceito contemporâneo, remetido à Revolução Francesa e às conquistas
democráticas ocorridas ao longo da segunda metade do século XX. Assim,
o conceito de Estado-nação é relativamente novo na organização humana.
Tal perspectiva pretende a proteção do indivíduo inserido em sociedade, mas
concede poderes a alguém que o governa com tal chancela popular. Nessa linha,
limitar o poder do detentor do poder (governante) e proteger o ausente de poder
(governado) é prioridade na esquematização desse sistema. Por consequência,
retirar o poder absoluto e dar abertura para se chegar ao poder faz parte do pro-
cesso. Decorre daí a disposição do Estado em três poderes e o sufrágio universal.

A divisão dos poderes visa inibir as chances de abuso do poder por parte do seu
detentor. Já o sufrágio universal visa que qualquer indivíduo possa ocupar o poder,
seja por meio do voto, seja por meio de concurso público.
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O Estado nasce da necessidade de existência de um poder maior, capaz


de organizar os indivíduos em sociedade. A sua origem pode ser justificada
pela essência sociável do ser humano.

Elementos da teoria do Estado


Para constituir um Estado-Nação, são necessários três elementos:

 povo;
 território;
 soberania.

A soma dos três elementos viabiliza a existência de um Estado. Basta não


haver um desses elementos para que não haja Estado constituído.
O povo é o conjunto de pessoas que se unem por identidade cultural e
valores compartilhados. Aqui, o sentido é amplo, então englobará a população
limitada por uma fronteira, mesmo que não haja identidade cultural. Já o
território é o limite fronteiriço tomado para si por um povo, sendo exigido
por este o respeito de todos aos marcos estabelecidos e, em contrapartida,
respeito ao marco fronteiriço dos outros povos.
A soberania, de forma singela, é a condição de um povo governar a si
mesmo, sem aceitar ou permitir interferência de outros povos nos assuntos
internos e dentro dos seus limites territoriais. A soberania é:

 uma, por existir apenas um único país com aquele determinado povo
naquele determinado território;
 indivisível, pois a soberania pertence a determinado povo em determi-
nado território, não podendo ser compartilhada, sob pena de perder-se
a própria soberania;
 indelegável, pois a soberania pertence a determinado povo em deter-
minado território, não podendo ser franqueada, sob pena de perder-se
a própria soberania;
 imprescritível, pois, enquanto existir aquele povo naquele território,
a soberania existirá de forma eterna, acompanhando a existência do
próprio Estado.
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Teoria do Estado e organização administrativa


Os Estados são organizados de forma a viabilizar a administração do seu
povo e do seu território. Assim, é comum a divisão interna, concedendo
apenas autonomia. Tal prática não coloca em risco a soberania, pois os Estados
reservam para si poderes estratégicos (forças armadas, banco central, reserva
cambial, exploração do subsolo, entre outros). Portanto, é comum a subdivisão
em cidades, municípios, distritos, regiões, Estados-membros da União (países
com vasta área territorial), condados, entre outras.
Os Estados organizam:

 a sua forma de governo (monarquia, república, anarquia);


 o seu sistema de governo (presidencialista ou parlamentarista);
 a sua forma de Estado (federação ou confederação);
 o seu regime de governo (democracia, absolutismo, ditadura);
 o seu sistema econômico (capitalismo, socialismo, comunismo, bem-
-estar social).

A única exigência para o ingresso na Organização das Nações Unidas (ONU) é exata-
mente a existência de Estado-nação soberano. Portanto, sem povo, território e sobe-
rania, não haverá acesso de determinada população à ONU (por exemplo, aborígenes,
índios brasileiros, entre outros).

Teoria do Estado brasileiro


Seguindo a orientação do estudo clássico do Brasil, este foi descoberto em 1500.
Nessa oportunidade, o Brasil tinha povos e terras, mas não tinha soberania,
pois passou a ser colônia de Portugal.
Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de reino, sendo Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves. A partir desse marco, o Brasil pode ser considerado
Estado, pois tinha povo, território e soberania, embora a sede de governo fosse
em Portugal — ou seja, o Brasil era governado por portugueses.
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Em 1822, foi declarada a independência do Brasil. A partir desse momento,


o Brasil passou a ser Estado independente, portanto, soberano. Organizado
como monarquia, o Brasil apresentava quatro poderes (Executivo, Legislativo,
Judiciário e Moderador). Internamente, dividiu-se em províncias e, posterior-
mente, em estados.
Proclamada a República em 1889, o Brasil assumiu a sua organização atual:

 república;
 federação;
 presidencialismo;
 democracia;
 dividido em Estados-membros da União;
 três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).

Organização do Estado brasileiro


A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel de
estados, municípios e Distrito Federal (art. 1º da Constituição Federal)
(BRASIL, 1988).
Portanto, os entes da organização político-administrativa do Brasil são,
segundo o art.18 da Constituição Federal (BRASIL, 1988):

 a União (Governo Federal);


 os Estados;
 o Distrito Federal;
 os municípios.

Cada ente é dotado de autonomias (política, administrativa, financeira,


tributária, entre outras), tendo como premissa que a União tratará dos assuntos
de interesse nacional e interesse comum, enquanto estados e municípios
tratarão dos assuntos de interesse localizado e adaptado aos hábitos e cos-
tumes regionais.

União: resultado federativo

A União, representada pelo Governo Federal, é formada pela soma dos estados-
-membros que aderem ao poder central, detentor das grandes diretrizes, capaz
de exercer sobre eles poder de manutenção da própria unidade.
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A União é pessoa jurídica de Direito Internacional, sendo ela a representar


o povo brasileiro nas relações entre nações. Lado outro, a União é pessoa
jurídica de Direito Interno, pois tem competências para atuação na temática
interna, organizando o próprio Estado e a sua população.

União: poderes da União

São poderes da União, independentes e harmônicos entre si (art. 2º da Cons-


tituição Federal) (BRASIL, 1988):

 Legislativo;
 Executivo;
 Judiciário.

O Poder Legislativo é composto, no âmbito federal, pelo Senado Federal


e pela Câmara de Deputados (ver Quadro 1). A soma dos dois forma o
chamado Congresso Nacional, portanto, organização bicameral (art. 44 da
Constituição Federal). Tem como competências típicas legislar e fiscalizar
o Poder Executivo.
O Poder Executivo é do Presidente da República, auxiliado pelos seus
ministros (art. 76 da Constituição Federal). Tem como competência típica a
administração do Estado (BRASIL, 1988).
Já o Poder Judiciário é composto de vários tribunais, sendo o Supremo
Tribunal Federal a mais alta corte. Tem como função típica solucionar os
atritos sociais.

Quadro 1. Senador e Deputado Federal: quadro comparativo.

Senador da República Deputado Federal

Representa uma unidade Representa a população de um


da Federação, um estado- estado-membro da União.
membro da União.

Oito anos de mandato. Quatro anos de mandato.

Eleição majoritária. Eleição proporcional.

Eleito com suplente. Eleito sem suplente.


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Para mais informações sobre o assunto tratado neste capítulo, consulte os links a seguir:
 Constituição civil:

https://goo.gl/HwJ1Q

 Veja — Por que ditaduras gostam de ter “Democrática” no nome oficial?

https://goo.gl/iX8xWG

 Jusbrasil: Formas de estado, sistema, forma e regime de governo:

https://goo.gl/mrDXnr

 Unicef Brasil — Declaração Universal dos Direitos Humanos:

https://goo.gl/CquRab

Referência

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 7 mar. 2018.

Leituras recomendadas
BRANCATO, R. T. Instituições de Direito Público e Privado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
CASTILHO, R. Direitos humanos, processo histórico: evolução no mundo, direitos. In:
CARVALHO, K. G. Direito constitucional, teoria geral do Estado e da Constituição. 21. ed.
Belo Horizonte: Del Rey, 2014.
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
MARTINS, S. P. Instituições de Direito Público e Privado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
REBELO, N. M. B. de S. V. Civilizado homem selvagem, um passeio pela história e pelo
Direito. 2. ed. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2016.

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