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NATUREZA, ELEMENTOS E FORMAS DE ESTADO

Direito e poder político


A sociabilidade (transição do estado de natureza para o estado social) é fruto da
deliberação consciente, o contrato social e postula a existência de regras de conduta
social , entre as quais se constam as normas jurídicas , destinadas a disciplinar os
egoísmos individuais e , assim assegurar a convivência pacifica. É a Ordem Social que
caracteriza pelo ajustamento, ou conformidade (normalmente espontânea) da conduta
humana, a modelos ou padrões de comportamento (normas ou regras socias). O Direito
participa de forma decisiva na ordem social , é um segmento da ordem social, da qual
fazem parte as normas morais, de trato social, etc… Pode afirmar se que a Ordem
Jurídica (Direito) é aquela que condiciona , de modo mais forte e extenso a vida social.
A relação existente entre o direito e o poder político é estreita e complexa. Porquê?
A necessidade de normas ou regras que possam ser utilizadas como padrões de
conduta pelos indivíduos são produzidas através dos mecanismos de Direito que são
detidos e exercidos pelo poder político. Razões:
o A organização do grupo humano que subjaz a uma determinada
comunidade é o resultado do exercício do poder político
o Nos grupos humanos que se pretendem organizados, existe a necessidade
de normas ou regras que possam ser utilizadas como padrões de conduta
pelos indivíduos que os compõem, sendo estes produzidos através de
mecanismos do Direito que são detidos e exercidos pelo poder politico
O poder político como uma das formas de poder societário
O poder do Homem sobre o Homem pressupõe a existência de uma relação entre
seres humanos, na medida em que se traduz na potencialidade de alguém impor aos
outros um determinado comportamento.
O poder politico é um “poder de injunção dotado de coercibilidade material”, ou
seja, “um poder de natureza vinculativa marcado pela suscetibilidade de , quer no uso da
força física, que da supressão , não resistível , de recursos vitais”
O fundamento para a existência e para o exercício do poder político pode ser
encontrado na necessidade de encontrar mecanismos destinados à resolução dos
conflitos de interesses resultantes do acesso aos bens finitos.

O Estado e a organização do poder político


O Estado como uma espécie de sociedade politicamente organizada
O Estado apresenta-se como a “forma jurídica” da sociedade, um instrumento de
centralização, estabilização e racionalização das forças políticas. Um sistema altamente
estruturado, que se diferencia e especializa pelo exercício de determinadas funções, entre estas o
monopólio do uso da força pública. Neste sentido, o Estado designa um sistema de controle e de
ordem que regula as relações ou conduta externa dos homens na sociedade.
Tipos fundamentais de Estado em sentido histórico
- Estado Oriental (…)
- Estado Grego (…)
- Estado Romano (…)
- Estado Medieval
Estado Moderno
Características:
- Estado nacional
- Secularização ou laicidade
- Soberania
Surge com a crise do sistema político medieval a partir dos séculos XIII – XIV. Na
base do Estado moderno vai estar o conceito de soberania.
O processo de criação do Estado moderno vai implicar:
1. a centralização do poder;
2. a emancipação política em relação ao Papa e ao Imperador;
3. ligação direta entre o Estado e o individuo;
4. um poder concentrado e centralizada

Na evolução do Estado Moderno os autores fazem ainda algumas distinções, a saber:


- Estado Estamental
Neste tipo de Estado existe uma dualidade política entre o Rei e os
Estamentos (corpos organizados ou ordens vindas da Idade Média). O Rei e as ordens criam a
comunidade política.
- Estado Absoluto
Máxima concentração de poder no Rei – a vontade do Rei é lei. Dois subperíodos:
1º até inícios do séc. XVIII – a monarquia afirma-se de “direito divino”;
2º Posteriormente entramos no Estado de polícia – o Estado é tido como
uma associação para a prossecução do interesse público, devendo o príncipe, seu órgão máximo,
ter plena liberdade de meios para o alcançar.
- Estado Constitucional, representativo ou de direito.
o Constitucional.
o De Governo representativo .
o De Direito

Dentro do Estado Constitucional poderemos considerar duas fases:


- ESTADO DE DIREITO LIBERAL
A principal e única função do Estado passaria por assegurar a garantia
da paz social e da segurança dos bens e das vidas, de forma a permitir o pleno desenvolvimento
da sociedade civil de acordo com as suas próprias leis naturais.
- ESTADO SOCIAL DE DIREITO
Reconduz-se a um esforço de aprofundamento e de alargamento
simultâneo da liberdade e da igualdade em sentido social, com a integração política de todas as
classes sociais.

Elementos do Estado .
Delimitação do conceito jurídico de ESTADO:
1. o POVO
= coletividade humana que a fim de realizar um ideal próprio de justiça,
segurança e bem-estar, reivindica a instituição de um poder político privativo
que lhe garanta o direito adequado às suas necessidades e aspirações dentro de
um território que reclama como seu. Encontram-se ligados ao Estado através de
um particular vínculo jurídico, designado de (A) “cidadania” ou
“nacionalidade”.
Condição dos estrangeiros e apátridas na ordem constitucional portuguesa -A
principal diferença para com os cidadãos nacionais prende-se com o facto de
estes não terem, em principio, o gozo de direitos políticos, na medida em que
devem ter um tratamento compatível com a dignidade da pessoa humana. Ex.:
capacidade

2. o TERRITÓRIO
= formado por um certo solo e toda a altura do espaço aéreo que lhe
corresponder, mais as águas territoriais e plataforma submarina. O poder do
Estado sobre o seu território há-de ser:  indivisível  inalienável  exclusivo

3. o PODER POLITICO
= reveste-se das seguintes características próprias:
É um poder constituinte = originário e que tem um fundamento
próprio;
É um poder de auto-organização = tem por objetivo permanente a
criação de condições para a manutenção da segurança, administração da justiça
e promoção do bem-estar da comunidade política;
É um poder de decisão = através da criação de normas jurídicas
consideradas adequadas à organização da vida da comunidade política;
Deve assim ser entendido como um poder supremo e independente, não estando
limitado por qualquer outro poder, a não ser pelo DIREITO, devendo aquele
atuar na estrita observância das competências previstas na LEI.

O conjunto de governantes e governados formam a população do Estado que vive num


determinado território, segundo regras de conduta, definidas pelos órgãos do poder e
salvaguardadas pelas autoridades públicas (POVO; TERRITÓRIO; PODER POLITICO)
ESTADO SOBERANO E COLETIVIDADES NÃO ESTADUAIS
Poder político soberano- poder supremo e independente
Estados não soberanos Estados com soberania limitada

São todos aqueles que não Estados com soberania


dispõem de soberania limitada são todos aqueles
externa (Ex.: Estados que têm ius imperium, mas
Federados) delegam uma parte das suas
competências externas (Ex.:
Estado exíguo ou
microestado; Estado
protegido; Estado vassalo;
Estado confederado

- Estados e Comunidades políticas não estaduais


Para além dos Estados, sociedades políticas organizadas, temos de ter em
consideração outros modos de convivência social:
- Associações (resultantes da vontade orientada que leva os indivíduos a
juntarem-se para compensar os seus interesses ou para alcançarem um determinado fim);
- Comunidades (resultante de um sentimento subjetivo que os indivíduos
têm para se constituírem como um todo).

FORMAS DE ESTADO.
O Estado e a sua organização territorial
No caso português a organização territorial prevista na CRP prevê a existência de
regiões autónomas (Açores e Madeira) e autarquias locais (municípios e freguesias espalhadas
pelo território nacional). Prevê-se ainda a constituição legal de regiões administrativas, o que
nunca chegou a ser efetivado. –
A forma do Estado Português: um Estado Unitário com regionalização periférica
Portugal é um Estado unitário pois todos os cidadãos se encontram submetidos a
um mesmo e único poder. No entanto, é um Estado unitário que tem duas regiões políticas
embora apenas perifericamente (Açores e Madeira), daí a classificação de Estado unitário com
regionalização periférica.
– A organização do poder político
- Regimes Políticos e Sistemas de Governo
O que são formas de Governo?
Formas de Governo corresponde ao conjunto das instituições politicas na
sua morfologia interna; compreende o conjunto das normas que disciplinam a atividade dos
órgãos superiores do Estado, ou seja, o modo como em cada sociedade política se estrutura e
exerce o poder político. –
O regime político traduz basicamente a forma de articulação entre os órgãos
superiores do Estado e a sociedade.
Monarquia - traduz um regime político em que a designação do chefe de Estado
se faz por herança
República - traduz um regime político em que a designação do chefe de Estado se
faz por formas diversas da herança

- Regime político ditatorial -Regime político democrático

o poder político é detido por uma pessoa ou conjunto de O regime é democrático quando o
pessoas que o exercem por direito próprio, sem que haja poder político é exercido pela
representação ou participação da pluralidade dos governados. comunidade, através da delegação
Podem ser: autoritários (não obstante o controlo que é do seu exercício a um conjunto de
exercido pelo poder político, existe uma relativa margem de órgãos, com a participação efetiva
autonomia no âmbito da sociedade civil), ou totalitários (a ou a representação da pluralidade
extensão e intensidade do controlo que o poder politico dos governados
exerce é tal que absorve a sociedade civil)

Poder de separação e divisão de poderes – princípio institucional


Como princípio de construção, racionalização e limitação de poder, a separação de poderes
apresenta-se como um postulado fundamental de organização dos poderes do Estado,
pressupondo, nestes termos uma certa igualdade e colaboração entre os diferentes órgãos e
poderes do Estado.
Poder legislativo – poder de criar as leis, regras gerais e abstratas, dotadas de relativa
permanência, editadas pela Assembleia representativa dos cidadãos no Estado. Assembleia da
República e Governo.
Poder executivo- poder de executar as leis estando o Governo encarregue dessa função.
Poder judicial – compete aos Tribunais cuja principal função se traduz na
administração da justiça em nome do povo

-SISTEMA DE GOVERNO PORTUGUÊS

Semipresidencialista: Existe um chefe de Estado detentor de poderes políticos eleito


por sufrágio direto; tem o poder de dissolução do Parlamento, o poder de nomeação do
primeiro-ministro, a promulgação das leis, nomeação de titulares de outros órgãos, possibilidade
de suscitar a fiscalização da constitucionalidade, poder de destituir o PM e de desencadear o
processo de referendo nacional.
Existe dependência política que sujeita o Governo ao Parlamento, e que em ultima
análise, possibilita ao Parlamento a retirada da confiança política ao Governo, provocando
assim, a sua queda.

A TEORIA DO PODER CONSTITUINTE


Uma Constituição, pressupõe, “antes de mais, um poder constituinte.”
Este não é assim um dado da natureza, mas sim um produto da intervenção criativa do
Homem. Coloca a questão da “legitimidade” do poder, de este se “dar” a si próprio uma
Constituição. Esta é essencialmente fruto de uma decisão soberana do povo, tomada por si ou
através dos seus representantes eleitos, com mandato explicito de redigir uma Constituição,
donde conste a organização dos podres no Estado e os direitos e liberdades jusfundamentais do
cidadão.
Corresponde ao Poder Constituinte, a competência de criar a Constituição, de engendrá-la.
Mediante um ato do poder constituinte nasce o direito, o direito constitucional. A esta luz, toda
a constituição pressupõe um ato do poder constituinte. Os conceitos de “constituição” e de
“poder constituinte” aparecem interligados. O poder constituinte, todavia, não é deduzível
juridicamente. Não se apresenta como um poder vinculado juridicamente, antes como um poder
constituído de acordo com a constituição. Em termos breves, um poder conforme a uma
conceção “pré-constitucional”: o poder dos poderes.
Neste sentido, o poder constituinte representa o ponto mais evidente no qual a política Esta
“aceitação” é algo que tem de produzir-se.
Constituição
A constituição é aquilo que resulta normado pela vontade constituinte, o que resulta
reconhecido como vinculante pelos que se submetem à sua autoridade. O decisivo nesse
processo continua a ser aclarar como se processa essa transição de um “acto de vontade”
transmutado em “autoridade”, ou melhor, como resulta interpretada essa transição de um “acto
politico” para uma “norma jurídica”.
TITULARIDADE
A constituição de 1976 resolveu o problema da titularidade do poder constituinte,
afirmando, de um lado, que “o poder politico pertence ao povo”, e, do outro, que este deveria
ser exercido “nos termos da constituição”, o que significa , que o povo é titular do poder
constituinte, sendo este exercido nas formas previstas pela constituição, isto é, basicamente, nos
termos do disposto nos artigos 284º e SS. da Lei Fundamental.
FORMAS DE EXERCICIO
1) Originário
O exercício do poder constituinte requer um procedimento que lhe determine as formas
do respetivo exercício. Este procedimento para muitos não existe, já que a acção do
poder constituinte se mostra jurídica, correspondendo ao exercício de uma vontade
politica não vinculada juridicamente. O poder constituinte pode estabelecer regras
mediante as quais se vincula a si próprio. Ex. Artº 288 da CRP.
No entanto, estas disposições continuam, em larga medida, desprovidas se sanção
jurídica.
O poder constituinte pode passar por cima delas. Ele é o poder originário, primário, isto é,
independente, das normas positivas existentes e que se determina de modo imediato a si próprio.
A esta luz, a “legitimidade” da constituição não pode fazer referência ao facto de que o poder
constituinte atuou “constitucionalmente”, no sentido de uma constituição anterior. A
“legitimidade” distingue-se da “legalidade”.
Se na constituição vigente a legalidade se apresenta como indicação da legitimidade, no caso do
poder constituinte é a legitimidade que cria a sua própria legalidade, já que o direito não pré-
existe ao respetivo exercício.
 A legitimidade coloca a questão dos fundamentos últimos da obrigação política;
 A legalidade estabelece uma obrigação jurídica de agir em conformidade com a
constituição.

O PODER CONSTITUINTE reside no POVO, como se transforma em normatividade


jurídica. No entanto, essa vontade só poderá converter-se em direito se for reconhecida e
seguida, isto é, se for aceite como algo que deve ter vigência. Todos os poderes decorrem do
povo como consequência de uma decisão do poder constituinte, tal como este se encontra
formulado na Constituição.
Por isso a Constituição de 1976, distingue, cuidadosamente, no preâmbulo, o poder constituinte
do povo, que criou a constituição, e no artigo 108º afirma, de modo claro, que todo o poder
constituído, incluindo o poder de revisão, procede do povo e é exercido nas formas nela
previstas. Num caso o povo é criador da constituição, no outro destinatário da constituição.
O poder constituinte não está vinculado à constituição. Precede originariamente a constituição
de que se apresenta como o criador. Daí que os poderes por ele criados encontram-se vinculados
à constituição. São poderes constituídos, poderes atribuídos pela constituição, “constituídos” por
essa mesma constituição

2) derivado
A constituição de 1976 distingue claramente o “poder constituído” do “poder constituinte” ,
ou numa outra terminologia, o poder constituinte “derivado” do poder constituinte “originário”.
Este último permanece “fora” da Constituição. O primeiro é instituído pela própria Lei
Fundamental.
O estabelecimento de regras sobre o procedimento de revisão traduzse no reconhecimento de
que a Constituição não é “eterna”, antes necessita de ser revista no decurso do tempo. Daí a
necessidade da institucionalização de regras sobre o procedimento de revisão.
É o poder de revisão que se apresenta verdadeiramente como forma de “institucionalização” do
poder constituinte. (art. 284º e SS. CRP).

DIREITOS FUNDAMENTAIS
• A raiz antropológica do Estado de Direito, reconduz-nos à natureza do Estado como forma de
garantia do Homem enquanto pessoa, como cidadão, como trabalhador e como administrado.
Daqui vem a natural integração de um sistema de reconhecimento e proteção de direitos
fundamentais do ser humano na própria Constituição:
 Através da afirmação da integridade física e espiritual do Homem como dimensão
irrenunciável da sua individualidade autonomamente responsável (art.º 24, 25º e 26º
CRP); .
 Através da garantia da identidade e integridade da pessoa mediante o livre
desenvolvimento da sua personalidade (art.º 26 CRP);
 Com o imperativo social de direito aponta-se para a libertação da angústia da existência
da pessoa mediante mecanismos de socialidade (possibilidade de emprego e
qualificação profissional e garantia de condições mínimas de existência através do
subsídio de desemprego e do rendimento mínimo – artºs 53, 58º, 63º e 64º CRP);
 Garantia e defesa da autonomia individual através da vinculação dos poderes públicos a
conteúdos, formas e procedimentos do Estado de Direito;
 Dimensão igualdade-justiça dos cidadãos expressa na mesma dignidade social e na
igualdade de tratamento normativo (art.º 13 da CRP – igualdade perante a lei e através
da lei).
O que são Direitos Fundamentais?
São os direitos ou posição jurídica subjetiva das pessoas enquanto tais, individual ou
institucionalmente consideradas, assentes na Constituição, quer seja esta formal ou material. Daí
que se possa falar em direitos fundamentais em sentido formal ou em sentido material
REGIME JURIDICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
A Constituição não consagra um regime unitário dos direitos fundamentais, mas ao contrário
ela estabelece um regime geral dos direitos fundamentais, aplicável a todos os direitos
fundamentais, quer sejam consagrados como Direitos, Liberdades ou Garantias, quer como
direitos económicos, sociais e culturais, ou se encontrem no catálogo constitucional ou fora
dele. Consagra ainda um regime específico dos Direitos, Liberdades e Garantias, aplicável a
estes e a direitos de natureza análoga.
N.B. Estes dois regimes não se excluem. O que acontece é que o regime geral, é aplicável a
todos, e o regime específico, acresce para alguns deles (Direitos, Liberdades e Garantias e
direitos de natureza análoga) ao primeiro regime.
Regime Geral dos Direitos Fundamentais aplicável a todos os direitos fundamentais, quer se
encontrem no “catálogo dos direitos fundamentais” ou fora dele, dispersos pela Constituição, ou
ainda em outras fontes de direito reconhecidas pela Constituição – art.º 16 CRP.
Regime Específico dos Direitos, Liberdades e Garantias consagrado nas normas constitucionais
para aplicação exclusiva aos designados “direitos, liberdades e garantias e aos direitos de
natureza análoga”. são aqueles que, embora não venham referidos no catálogo, beneficiam de
um regime idêntico aos Direitos, Liberdades e Garantias. Aqueles tanto podem encontrar-se
entre os direitos económicos, sociais e culturais, como dispersos na CRP. Regime dos Direitos
Económicos, Sociais e Culturais não tendo normas de regulação especifica, e aplicando-se o
regime geral dos Direitos Fundamentais, pela natureza das suas normas e preceitos é possível
caracterizar um “regime” próprio que lhes é implícito.
REGIME GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Âmbito da titularidade dos direitos fundamentais:
1) Pr. da Universalidade – art.º 12 CRP
CRP Naturalmente que há direitos fundamentais, que pela sua natureza, são exclusivos de
determinadas pessoas:
 Dos cidadãos portugueses – art.º 15/2; 121º/1; 122º; 275º/2 CRP.
 Dos cidadãos europeus – art.º 20 do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia.
 Dos cidadãos da CPLP – art.º 15/3 CRP.
 Dos estrangeiros em geral – art.º 33/8
Fala-se ainda de Direitos Fundamentais de Pessoas Coletivas – art.º 12/2 – na medida em que
estes sejam “compatíveis com a sua natureza”. Os direitos fundamentais são direitos de todos,
são direitos humanos e não só dos cidadãos portugueses, exceto quando a Constituição, ou a lei
(com autorização constitucional), estabelecer uma reserva de direitos para os cidadãos
portugueses. Este princípio, embora inseparável do princípio da igualdade, não se confunde com
ele. O princípio da universalidade tem a ver com os destinatários das normas, enquanto o
princípio da igualdade, tem a ver com o conteúdo dos direitos. O primeiro terá assim uma
dimensão quantitativa, enquanto o segundo terá uma dimensão qualitativa.
2) Pr. da Igualdade – art.º 13 CRP
CRP
 igualdade na aplicação do direito e igualdade na criação do direito – art.º 13/1 CRP;
 pr. da justiça social, de igualdade de oportunidades – realização do Estado de Direito –
art.º 58/2; 73º; 74º; 78º CRP
 pr. da igualdade perante os encargos públicos – art.º 22; 62º/2; 103º e 104º.
 a CRP concretiza diversos princípios de igualdade – artºs 29/4; 36º/4; 37º; 40º; 41º; 47º;
50º; 58º; 113º/3 b) CRP.
 dimensão objetiva do pr. da igualdade: para além das diversas normas em que o
princípio da igualdade está consagrado na Constituição, este vale, acima de tudo como
principio informador de toda a ordem jurídica-constitucional. O pr. da Igualdade
desdobra-se em 4 pontos:
1.Pr. da igualdade na aplicação e na criação do direito (art.º 13 CRP)
a) igualdade na aplicação do direito ao cidadão - são iguais perante a lei (esta
aplicação é dividida pelos órgãos da administração publica ou pelos tribunais).
b) igualdade quanto à criação do direito – a lei (o legislador) trata de forma igual o
que é igual, e de forma diferenciada o que é desigual. Este conceito corresponde a uma ideia de
igualdade justa, de proibição do arbítrio. (ou seja, as diferenciações de tratamento que não
tenham fundamento material suficientemente razoável). Proíbe, também, a discriminação em
função dos critérios referidos no art.º 13 da CRP, e proíbe, ainda, que se dê igual tratamento a
situações essencialmente desiguais.
2. Princípio de igualdade de oportunidade
Pretende concretizar uma política de justiça social através da concretização dos
direitos económicos, sociais e culturais.
3. Igualdade perante encargos públicos
Devem ser repartidos de forma igual por todos os cidadãos (ex.: impostos e
restrições ao direito de propriedade). No caso de existir um sacrifício especial de um individuo
ou de um grupo de pessoas haverá que os indemnizar ou compensar.
4.Direitos especiais da igualdade
Para além dos já referidos (art.º 13), a CRP concretiza o direito da igualdade em
muitos outros preceitos (art.ºs 29/4; 36º/4; 37º;40º; 41º; 47º; 50º; 113º/3b) e 269º/2) . Estes são
casos de direitos especiais de igualdade. Relativamente a estes, o art.º 13 vale como princípio
geral, o que significa que eles se sobrepõem, ou têm preferência como lei especial, em
detrimento da lei geral. N.B. O pr. da igualdade é um princípio informador de toda a ordem
jurídica constitucional e anda associado ao princípio da não discriminação social.
3) Pr. do acesso ao direito e da garantia da tutela jurisdicional efetiva – art.º 20 CRP
Reconduz-se fundamentalmente ao direito a uma solução jurídica de atos e relações jurídicas
controvertidas a que se deve chegar num prazo razoável e com garantias de imparcialidade e
independência.
Regime Específico dos Direitos, Liberdades e Garantias e dos Direitos de Natureza
Análoga: Direitos Análogos aos Direitos, Liberdades e Garantias
1. O direito de acesso ao direito e aos Tribunais (artigo 20º)
2. O direito de resistência (artigo 21º)
3. O direito de recorrer ao Provedor da Justiça (artigo 23º)
4. O direito a retribuição do trabalho, ao limite máximo da jornada de trabalho, ao
descanso semanal, a ferias periódicas pagas, ao subsídio de desemprego e salário (artigo
59º)
5. O direito a propriedade privada (artigo 62º)
6. O direito das mulheres a dispensa de trabalho, por parto (artigo 68º, n. 3)
7. O direito ao ensino básico (artigo 74º, n. 2,a))
8. O direito de indemnização e de reserva dos proprietários, fundiários expropriados
(artigo 94º, n. 1)
9. O direito de apresentar candidaturas (artigo 122º/1 e 239º/4)
10. O direito de participação direta em órgãos do poder local (artigo 246º e 264º)
11. O direito de participação na administração da Justiça (artigo 207º)
12. O direito de recurso contencioso e demais direitos perante a administração publica
(artigo 268º)
13. O Direito dos funcionários públicos (artigo 269º)
Nos termos do art.º 17, os direitos, liberdades e garantias, e os direitos de natureza análoga, têm
um regime específico, cujos traços caracterizadores estão contidos nos artigos 18º, 19º, 21º, 22º,
165º/1b), 272º e 288º:
a) aplicabilidade direta das normas que os reconheçam, consagram ou garantam (art.º
18/1)
b) vinculatividade de entidades públicas e privadas (art.º 18/1)
c) reserva da lei, para a sua restrição (art.º 18/2; 165º/1b))
d) Pr. da autorização constitucional expressa para a sua restrição (art.º 18/2)
e) Pr. da proporcionalidade, como principio informador das leis restritivas (art.º 18/2)
f) Pr. da generalidade e da abstração das leis restritivas (art.º 18/3)
g) Pr. da não retroatividade das leis restritivas (art.º 18/3)
h) Pr. da salvaguarda do seu núcleo essencial /art.º 18/3)
i) Limitação da possibilidade de suspensão, nos casos de estado de sítio ou emergência
(art.º 19/1)
j) Garantia do direito de resistência (art.º 21)
k) Garantia da responsabilidade do Estado e de maioria das pessoas coletivas públicas
(art.º 22)
l) Garantia perante o exercício da ação penal e da adoção de medidas de polícia (art.º
272/3)
m) Garantia contra leis de revisão constitucional que restringem o seu conteúdo (art.º 288
d)
REGIME DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS
1) Aplicabilidade direta – art.º 18/1
São regras e princípios imediatamente eficazes e atuais por via direta da Constituição, ou seja,
são normas diretamente reguladoras de relações jurídico-materiais. Não precisam de mediação
de outras normas criadas para os concretizar. Portanto, esses princípios (DLG), aplicam-se
mesmo na ausência de lei ordinária concretizadora, e são inválidas as leis que violem os
preceitos constitucionais dos DLG. O que não significa que, em certos casos, não necessitem de
uma concretização legislativa, mas nestes, o legislador está vinculado não só à realização do
conteúdo material objetivo consagrado constitucionalmente, como está vinculado a legislar –
art.º 35/2; 36º/2; 38º/3; 39º/2 CRP
2)Vinculação de entidades públicas e privadas – art.º 18/1
 Entidades públicas: legislador, tribunais, administração e todos os órgãos do Estado.
 Entidades privadas: pessoas singulares e coletivas, comerciais ou civis.
A vinculação abrange todos os âmbitos funcionais dos sujeitos públicos e é independente da
forma jurídica através da qual as entidades praticam os seus atos.
3) Reserva de lei para a sua restrição – art.º 1
Apenas existe quando há uma efetiva limitação do âmbito de proteção desses direitos, e não
quando a lei vem apenas regular, regulamentar ou mesmo alargar o seu conteúdo. Há 3 tipos de
restrições de direito:
 As restrições constitucionais diretas (ex. art.º 45/1 CRP – proíbe de uma forma tácita
reuniões violentas).
 Restrições feitas por lei, mas expressamente autorizadas pela CRP: a Constituição
autoriza a lei a estabelecer as restrições ao direito (art.º 27/3).
 Restrições que são operadas através da lei, mas sem autorização expressa da
Constituição. Há quem chame a estes casos limites imanentes.
As leis restritivas dos DLG estão sujeitas a uma série de requisitos limitativos, tratando-se,
portanto, de restrições às restrições, ou limites dos limites.
Regime Jurídico das Leis Restritivas
a) Formais Exigência de lei da AR ou de um decreto-lei autorizado (art.º 18/2; 165º/1b) e nº 2;
198º/1
b). Só nos casos expressamente previstos na CRP podem os DLG ser restringidos, e só a lei os
pode restringir exigindo a intervenção de um ato legislativo (e não qualquer outro ato do
normativo), e com a forma de lei da AR (165º/1b)). Essa ideia explica também a corrente
jurisprudencial do Tribunal Constitucional expressa em vários acórdãos, onde se refere que as
restrições dos DLG não fazem parte da competência normal do Governo, dos órgãos das regiões
autónomas e das autarquias locais. Quando a restrição aos DLG for feita através de decreto-lei
autorizado, este terá de estar em conformidade com a lei de autorização (art.º 165/2). Há certos
DLG que só podem ser restringidos por lei da AR – reserva absoluta – art.º 164/f), h), i), j), l) e
o)).
Exigência de autorização de restrição expressa (art.º 18/2) – tem de existir uma autorização de
restrição expressa na Constituição. Esta individualiza expressamente os DLG que podem ficar
no âmbito de uma reserva de lei restritiva. Quer isto dizer que não há uma autorização geral de
restrição dos DLG na nossa Constituição.
b) materiais
Pr. da Proporcionalidade – art.º 18/2 – proibição do excesso. Significa que no âmbito das leis
que restringem os DLG, essa restrição terá que ser adequada (em conformidade com os fins);
necessária ou exigível (não existir outro meio igualmente eficaz e menos coativo).
Pr. da Generalidade e abstração – art.º 18/3 – limites dos limites. Isto significa a produção de
leis de natureza individual e concreta no que diz respeito a restrições dos DLG
Pr. da não retroatividade – art.º 18/3 – de acordo com este princípio, uma lei que restrinja os
DLG e se aplique a factos pertencentes ao passado, será inconstitucional. Ex.: será
inconstitucional uma lei que sujeita a imposto o rendimento recebido antes da sua entrada em
vigor, e que face a uma legislação anterior estavam isentos da tributação fiscal (art.º 103/3).
Pr. da Salvaguarda do núcleo essencial – art.º 18/3 – as leis restritivas dos DLG não podem
diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos seus preceitos constitucionais.
Regime dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais
Estão consagrados no titulo III, na parte I da CRP (art.º 58 a 79º). Estes direitos e a sua proteção
andam ligados a certos pressupostos que são formados por múltiplos fatores, tais como, a
capacidade económica do Estado, o desenvolvimento económico, a distribuição dos bens e da
riqueza, etc. Estes direitos reconhecem ao cidadão o direito a uma ação ou a uma prestação do
Estado.
Ex.: o direito ao trabalho – este direito não confere um direito subjetivo a obter um posto de
trabalho. No entanto, não é um direito sem efeitos jurídicos, pois ele obriga o Estado a definir
políticas de emprego, formação profissional, etc, ou a atribuir certas prestações.
Estes direitos devem ser entendidos como uma verdadeira imposição da Constituição,
legitimadora das transformações económicas e sociais, na medida em que estas sejam para a
concretização desses direitos. Além disso, a inércia do Estado quanto à criação de condições da
concretização dessas medidas, pode levar o Estado à inconstitucionalidade das normas por
omissão (art.º 283). Não podem os poderes públicos eliminar sem qualquer compensação ou
alternativa o núcleo essencial destes direitos, já concretizado nos direitos fundamentais -Pr. da
proibição do retrocesso social.
Não têm normas específicas para os regulares, mas é possível caracterizar um “regime” próprio
que lhes é implícito: a sua exequibilidade está dependente de elementos estruturais do Estado e
da sociedade.
Nota: A violação destas normas constitucionais pela inércia, quando delas resulte um dever do
Estado de efetivação destes direitos pela sua regulamentação ou criação de instituição, pode dar
lugar a uma inconstitucionalidade por omissão
Problemática dos Direitos Derivados
Progresso Económico  Maior capacidade financeira do Estado Mais e melhores serviços
públicos Melhor realização dos princípios da igualdade e universalidade
A este processo, criação de novas prestações sociais do Estado, chamamos direitos derivados, os
quais se vão consolidando na esfera jurídica dos cidadãos. Logo, enquanto realização dos
preceitos constitucionais, estes direitos derivados são também formas de garantia de
concretização já obtida, entendendo alguns autores que já não podem ser eliminados ou
restringidos livremente Princípio da proibição do retrocesso social.
Princípio da socialidade ou Princípio do Estado Social
O Estado social traduz-se essencialmente na responsabilidade pública pela promoção do
desenvolvimento económico, social e cultural, na satisfação dos níveis básicos de prestações
sociais para todos e na correção das desigualdades sociais.
Este princípio é um objetivo a realizar mediante a observação do princípio democrático e o
princípio do Estado de Direito.
 A democracia económica é referida nos artigos 80º a 89º CRP.
 A democracia social é referida nos artigos 63º a 72º CRP.
 A democracia cultural é referida nos artigos 73º a 79º CRP.
A CRP refere no artigo 1º a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. No artigo 2º
refere claramente que visa a democracia económica, social e cultural. Assume, igualmente, o
princípio ou direito à igualdade social.
A relevância do chamado Estado social é que a sua realização é um processo, um caminhar no
sentido de um crescente de justiça social, constituindo cada avanço nessa direção um
aperfeiçoamento do Estado de direito democrático e cada progresso vai-se radicando com um
elemento adquirido desse Estado. Por isso, qualquer retrocesso no caminho percorrido não se
limita a contrariar o princípio constitucional da democracia económica, social e cultural, mas
infringe também diretamente o princípio do Estado de direito democrático. Assim, o princípio
do Estado social constitui uma diretiva constitucional, e a sua sistemática desconsideração pode
resultar em situações de incumprimento da Constituição que afirma o princípio do não
retrocesso social
O princípio pode formular-se do seguinte modo:
O núcleo essencial dos direitos sociais, já realizado e efetivado através de medidas
legislativas (ex.: lei do serviço nacional de saúde, lei da segurança social e desemprego), deve
considerar-se constitucionalmente garantido, devendo, por isso, entender-se como
inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, não criando outros esquemas alternativos ou
compensatórios, se traduzam na prática na anulação, revogação ou aniquilação pura e simples
daquele núcleo essencial.
O princípio da democracia económica e social aponta para a proibição do retrocesso social.
Isto quer dizer que os direitos sociais e económicos (direitos dos trabalhadores, direito à
assistência, direito à educação), atingindo um determinado grau de realização, passam a
constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjetivo.
O princípio da proibição do retrocesso social limita a reversibilidade dos direitos adquiridos
(ex.: segurança social, subsídio de desemprego, prestações de saúde), sob pena de que se assim
não fosse, existiria uma clara violação do principio da proteção da confiança e da segurança dos
cidadãos no âmbito económico, social e cultural e do núcleo essencial da existência mínima que
é inerente ao respeito pelo principio da dignidade da pessoa humana.
A violação deste núcleo essencial efetivado, justificará a sanção da inconstitucionalidade
relativamente a normas que manifestamente aniquilem a chamada “justiça social”. Ex.: Será
inconstitucional uma lei que extinga o subsídio de desemprego ou que pretenda alargar
excessivamente o tempo de serviço necessário para a aquisição do direito à reforma.
O princípio da proibição do retrocesso social pode formular-se da seguinte forma: O núcleo
essencial dos direito sociais já realizado e efetivado através de medidas legislativas (lei da
segurança social; lei do subsidio de desemprego; lei do serviço nacional de saúde), deve
considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas
estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na
prática numa anulação, revogação ou aniquilação pura e simples desse núcleo essencial.
A liberdade de conformação do legislador e inerente auto-reversibilidade têm como limite o
núcleo essencial já realizado.
DEVERES FUNDAMENTAIS art.º 12 - princípio da universalidade dos direitos e deveres
Deveres conexos com os direitos fundamentais:
o Dever cívico de voto (49º/2) - Dever de educação dos filhos (36º/5)
o Dever de proteção e defesa do ambiente (66º/1)
o Dever de defesa e promoção na saúde (64º/1)

Deveres autónomos (em relação aos direitos fundamentais):


o Dever de pagar impostos (103º)
o Dever de recenseamento (113º/2)
o Dever de exploração da terra (88º/2)
o Dever de defesa da Pátria (276º)

Nota: As normas da CRP que consagram deveres fundamentais só excecionalmente tem a


natureza de deveres diretamente exigíveis, pois a generalidade desses deveres precisa de
mediação legisla
O Controlo da Constitucionalidade

Inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade é a desconformidade de uma norma ou de um ato praticado por um
órgão do poder político com o texto da Constituição
TIPOS
POR ACÇÃO:
Há inconstitucionalidade por ação quando a violação resulta de uma atuação de um
órgão do poder
Exemplo: Aprovação de uma lei que permite o recurso à tortura por agentes de
autoridade para obtenção de confissão de crime, viola ativamente o disposto no artigo 25º nº 2
da CRP.
o Direta (Há quando ela resulta da violação da Constituição ou dos seus
princípios (artigo 277º da CRP). Exemplo: Quando um decreto-lei viola um
“Direito, Liberdade e Garantia” previsto num artigo da Constituição) ou
Indireta ((ou da legalidade) quando uma norma viola normas interpostas, ou
seja, normas às quais a CRP atribui um valor superior ao da primeira, à violação
da hierarquização constitucional das normas – 280º nº 2 Exemplo: Quando um
decreto-lei autorizado viola os termos da lei de autorização respetiva
o Material (ou substancial que ocorre quando resulta da contradição entre um ato
normativo e o conteúdo de uma norma ou princípio constitucional – quando o
mesmo não é “conforme a Constituição”.  Exemplo:  Aprovação de uma lei
que permite o recurso à tortura por agentes de autoridade para obtenção de
confissão de crime, viola ativamente o disposto no artigo 25º nº 2 da CRP),
formal (quando o ato normativo adota uma forma ou processo diferente dos
constitucionalmente prescritos.  Exemplo:  A aprovação de uma Lei
Orgânica por uma maioria inferior à maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções, viola o formalismo imposto no artigo 168º nº 4 da CRP
para a aprovação de normas desta natureza) ou orgânica (quando o ato
normativo provém de um órgão constitucionalmente incompetente para o efeito
 Exemplo:  Quando o Governo aprova um Decreto-Lei sobre uma matéria da
reserva absoluta da Assembleia da República (art.º 164º da CRP))
o Total (é a que abrange todo o ato normativo  Exemplo:  Quando o Governo
aprova um Decreto-Lei autorizado em violação de uma Lei de Autorização
Legislativa, todo o Decreto-Lei é inconstitucional) e Parcial (se abrange apenas
parte do ato normativo, algum ou alguns artigos  Exemplo:  No caso de
aprovação da lei que aprova o novo Código do Trabalho, o Tribunal
Constitucional considerou que apenas alguns dos artigos violavam a
Constituição e que tal não afetava a validade dos demais artigos do Código,
logo, apenas parte do ato normativo é inconstitucional.)
o Originária (quando uma norma ordinária contraria uma norma constitucional
que lhe é anterior no tempo.  Exemplo:  Quando um ato normativo viola uma
norma constitucional que já se encontrava em vigor à data da sua aprovação) e
superveniente (quando uma norma ordinária, inicialmente conforme à
constituição, passa a ser inconstitucional por entretanto entrar em vigor uma
norma constitucional que a contraria (apenas é relevante no caso de a
inconstitucionalidade ser material).  Exemplo.  A aprovação de uma revisão
constitucional, vem introduzir na Constituição alterações que entram em
contradição com normas ordinárias em vigor; face à superioridade hierárquica
das normas constitucionais, as normas ordinárias em vigor com a nova norma
constitucional passam a ser inconstitucionais)
POR OMISSÃO
Há inconstitucionalidade por omissão quando a desconformidade resulta da não
atuação de um órgão legislativo ou uma atuação insuficiente no desenvolvimento das normas
constitucionais não exequíveis por si próprias.

Exemplo:  A omissão da aprovação de legislação que defina o conceito dos dados


pessoais para os efeitos do artigo 35º nº 2 da CRP, viola a obrigação que a constituição impõe
ao legislador de legislar sobre esta matéria.

Tipos processuais de fiscalização


 A fiscalização abstrata destina-se a verificar da conformidade formal, orgânica e
material de normas jurídicas face à Constituição sem considerar nenhuma situação real
concreta.
Por ação:
 Abstrata preventiva – artigos 278º e 279º da CRP
Abstrata sucessiva – artigos 281º e 282º da CRP
Por omissão é sempre abstrata (artigo 283º da CRP)
 A fiscalização concreta destina-se a apreciar da inconstitucionalidade de determinada
norma com pertinência para uma causa concreta colocada perante um Tribunal.
Por ação:
Concreta sucessiva – artigo 280º da CRP
 Diz-se preventivo o processo destinado a verificar da constitucionalidade de
determinados projetos de norma jurídica antes dos mesmos se tornarem num acto
perfeito e definitivo, no caso dos atos legislativos antes de serem promulgados.
 Diz-se sucessivo o processo destinado a verificar da constitucionalidade de normas
jurídicas já promulgadas, independentemente de já terem sido publicadas ou de terem
entrado em vigor.
Fiscalização abstrata preventiva
a) Objeto – 278º nº 1 e 2 CRP

 Normas constantes de Tratados Internacionais antes de ratificados pelo Presidente da


República (nº1)
 Decretos para promulgação como lei ou decreto-lei pelo Presidente da República (nº 1)
 Decretos legislativos regionais e decretos regulamentares regionais antes de assinados
pelos Representantes da República (nº2)
b) Legitimidade – 278º, nº 1 e 2 CRP

 Presidente da República no caso dos Tratados e Decretos sujeitos à sua ratificação e


promulgação – 278º nº 1
 Representantes da República no caso dos decretos legislativos e regulamentos regionais
– 278º nº 2
 Primeiro Mdos deputados em efetividade inistro ou de 1/5 de funções no caso de se
tratar de decretos para serem promulgados como Leis Orgânicas – 278º nº4 11
c) Processo

 O Presidente de República e os Representantes da República têm 8 dias a contar da


receção do diploma para requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação da sua
constitucionalidade – 278º nº 3
 O primeiro-ministro ou 1/5 dos deputados em efetividade de funções no prazo de 8 dias
da notificação feita pelo Presidente da Assembleia da República do envio do decreto ao
Presidente da República dos decretos destinados a serem promulgados como Leis
orgânicas – 278º nº 5 e 6
d) Efeitos – 279º

 Se o Tribunal Constitucional não se pronunciar pela inconstitucionalidade, o Presidente


da República ou os Representantes da República deverão promulgar ou assinar tais
decretos, sem embargo de continuarem a poder exercer o respetivo veto político dentro
do prazo legal – artigo 36º nº 1 e 233º nº 2
 Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade deve o Presidente
da República ou o Representante da República, não ratificar o tratado, ou vetar o
decreto e devolvê-lo ao órgão que o aprovou – 279º nº 1
 Processo subsequente ao veto por inconstitucionalidade: Neste caso o decreto não pode
ser promulgado ou assinado sem que o órgão que o tenha aprovado expurgue a norma
julgada inconstitucional, ou no caso das leis, tratados e decretos legislativos regionais,
sem que o mesmo seja confirmado por maioria de dois terços dos deputados presentes
desde que superior à maioria absoluta, da Assembleia da República ou da Assembleia
Legislativa Regional respetivamente – 279º nº 2 e 4
 Se o diploma for reformulado pode ser sujeito a nova apreciação da constitucionalidade
– 279º nº 3 13
Fiscalização abstrata sucessiva
A) Objeto – 281 nº 1

 Apreciação da constitucionalidade de quaisquer normas jurídicas já promulgadas ou


assinadas;
 Apreciação da ilegalidade resultante da violação de normas de hierarquia superior por
normas de valor inferior – 281º nº 1, b), c), e d)

B) Legitimidade os constantes do nº 2 do artigo 282º no âmbito das suas competências.

Oficiosamente no caso de o Tribunal Constitucional já ter julgado a mesma norma


inconstitucional em 3 casos concretos 14

C) Processo

O requerimento pode ser efetuado a todo o tempo e a apreciação da inconstitucionalidade


abstrata sucessiva não determinam a suspensão da vigência ou aplicação da norma, ou sequer
a suspensão da sua eventual publicação caso ainda não se tenha verificado, pois o Tribunal
Constitucional não pode adotar providências cautelares

D) Efeitos - força obrigatória geral – 281º nº1 ,2 e 3

 Tratando-se de inconstitucionalidade originária, produz efeitos desde a entrada em


vigor da norma declarada inconstitucional, retroativamente, e determinada a
repristinação das normas por ela revogadas – 282º, nº 1.
 Tratando-se de inconstitucionalidade superveniente, apenas produz efeitos após a
entrada em vigor da norma constitucional ou legal posterior, retroativamente, e não
produz a repristinação das normas por esta revogadas – 282º nº 2 15
 Exceções à força obrigatória da declaração de inconstitucionalidade em fiscalização
abstrata sucessiva

Não há retroatividade dos efeitos quanto a casos julgados, salvo decisão em contrário do
Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria penal, disciplinar, de mera
ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido – 282º nº 3

A retroatividade definida nos números 1 e 2 pode ser restringida quando o Tribunal


Constitucional entender ser justificado por razões de segurança jurídica, equidade ou interesse
público de excecional relevo – 282º nº 4 16

e) Passagem da fiscalização concreta à fiscalização abstrata  Quanto ao objeto:

 Nos termos do artigo 281º nº 3 , o Tribunal Constitucional também aprecia em


abstrato e com força obrigatória geral as normas que haja julgado inconstitucional em
três casos de fiscalização concreta.
 O relevante nas 3 situações de fiscalização concreta é a identidade da norma ordinária
julgada inconstitucional e não da norma constitucional violada.
 Quanto à legitimidade A Iniciativa é dos próprios juízes do tribunal Constitucional ou
do Ministério Público – Lei do Tribunal Constitucional

Fiscalização concreta sucessiva


a) Objeto

 apenas no âmbito de decisões dos Tribunais e nunca de qualquer órgão de soberania –


280º, nº 1,2, e 5 

 O objeto do recurso é só da constitucionalidade direta ou indireta (ilegalidade) da norma e


não do mérito da decisão do caso concreto – 280º nº 6

Restringe-se às normas aplicáveis a um caso concreto submetido a julgamento em Tribunal


Comum – 280º nº 1,2 e 5:

 Decisões judicias que recusem aplicar normas com fundamento em


inconstitucionalidade direta ou indireta (ilegalidade),
 Decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade direta ou indireta
(ilegalidade) haja sido suscitada durante o processo. 
 Decisões que apliquem normas anteriormente julgadas inconstitucionais pelo próprio
Tribunal Constitucional – 280º nº 5 18

b) Legitimidade

 A parte que alegou a inconstitucionalidade no caso de aplicação da norma ordinária –


280º nº 4 – sendo que esta deverá ter sido suscitada em primeira instância ou em fase
de recurso para os Tribunais comuns superiores, e não apenas no recurso para o
Tribunal Constitucional – 280º nº 1, b) e 2, d).
 Qualquer parte, desde que tenha interesse e legitimidade processual para isso, no caso
de recusa de aplicação com fundamento em inconstitucionalidade – artigo 280º nº 4 (à
contrário)
 O Ministério Público é obrigado a recorrer de recusa de aplicação de norma constante
de convenção internacional, de ato legislativo ou de decreto regulamentar, e nos casos
de aplicação de norma anteriormente julgada inconstitucional pelo próprio Tribunal
constitucional – artigo 280º nº 3 e 5. 19

c) Processo

Segue a tramitação prevista no processo dos Tribunais Comuns e do próprio Tribunal


Constitucional.

d) Efeitos

Faz caso julgado apenas no âmbito do processo judicial em que foi suscitada a
inconstitucionalidade. Apenas se debruça sobre a constitucionalidade da norma, e não sobre a
decisão da questão concreta em juízo.

Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão

a) Objeto – 283 nº 1

 São pressupostos da inconstitucionalidade por omissão:  Que o não cumprimento da


CRP derive da violação de certa e determinada norma;
 Que se trate de norma constitucional não exequível por si mesma;  Que, nas
circunstâncias concretas da prática legislativa, faltem as medidas legislativas
necessárias para tornar exequível aquela norma.

b) Legitimidade – 283º nº 1
O Presidente da República e o Provedor de Justiça, e no caso de “violação dos direitos das
regiões autónomas, os presidentes das assembleias legislativas das regiões autónomas.

c) Processo – 283º nº 1

A requerimento a todo o tempo de qualquer das pessoas com legitimidade

d) Efeitos – 283º nº 2

 O Tribunal Constitucional dá conhecimento dessa omissão ao órgão legislativo


competente, mas a CRP é omissa quanto à consequência da manutenção da omissão,
após esta comunicação.
 Admite-se que seja requerido novo processo de fiscalização por omissão se esta se
mantiver.

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