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Direito Constitucional I- José Melo Alexandrino

Enquadramento histórico

7.1. Tipos históricos anteriores ao Estado Moderno


Comecemos por referir os tipos históricos anteriores ao Estado Moderno:
i) Estado Oriental
ii) Estado Grego
iii) Estado Romano
iv) Estado Medieval

7.2.O surgimento do Estado Moderno

 Com a desagregação do sistema medieval, sucede o Estado Moderno como resultado:


-Dos processos de centralização do poder político;
-Da supressão dos privilégios feudais de que gozavam os diversos grupos;
-Da mudança de relação do Rei para com o súbdito: a relação passa a ser direta.
Três características básicas do Estado Moderno:
i) O facto do Estado corresponder a uma Nação, ou seja, a uma comunidade ligada por laços
culturais e históricos;
ii) A progressiva secularização, devendo a comunidade política estar separada da esfera
religiosa;
iii) A afirmação da soberania como poder supremo e ilimitado.

A primeira manifestação do Estado Moderno é o Estado absoluto.

Estado absoluto

Pode distinguir-se em 2 fases:


1. A fase patrimonial
-O Estado é considerado um bem que integra o
património do príncipe e o poder real é justificado
como tendo origem divina.

2. A fase do Estado de polícia


-Tem o seu apogeu no século XVIII
-O Monarca já não é dono do Estado e a origem do seu poder já não é divina, mas racional.
-O rei tem o direito de “intervir, em nome da Razão, em todos os domínios da vida política, cultural,
económica, social ou mesmo privada, com vista à prossecução do interesse e bem publicos.”

 O Estado absoluto é um Estado que, quanto ao fundamental:


o não está limitado pelo Direito (está acima do Direito),
o nem pela separação de poderes (há uma concentração de poderes no Rei),
o nem pelos direitos (já não existem os antigos privilégios, e ainda não foram
reconhecidos novos direitos do homem)

 Como síntese, no Estado Absoluto:


1. Há uma concentração máxima de poderes no Rei;
2. O critério de ação política passa a ser a “razão de Estado” (teorizada por Maquiavel), ou
seja, a de conveniência, e não a de legalidade;
3. Dá-se a prevalência da lei sobre o costume;
4. A intervenção do Estado alarga-se à cultura, à assistência social etc…
5. As antigas Cortes deixam definitivamente de reunir.
 É neste contexto de um Estado acima do Direito que surge o constitucionalismo das revoluções
(pela pena dos filósofos) e a Revolução Americana e Francesa. Vêm inaugurar a era das
constituições escritas ou do Estado constitucional em sentido amplo (um Estado limitado pela
constituição).
 É afirmado o seguinte: “Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos
direitos, nem estabelecida a separação de poderes não tem Constituição.” Artigo 16º da
Declaração dos DDHC de 1789.

7.3. Formas históricas do Estado Constitucional


Desde o século XVIII até hoje, o Estado constitucional em sentido amplo já passou por diversas formas
históricas.
Duas fases do constitucionalismo:
 1.O constitucionalismo liberal:
Corresponde ao Estado liberal de Direito.

Algumas notas acerca do Estado liberal de Direito:


1. -Tal como sucedeu com a liberdade e com a democracia, o ELD chega primeiro à Inglaterra do
que no resto da Europa (chega no século XVII);
-Os EUA incorporaram-no nas suas instituições constitucionais após a Revolução Americana;
-Na França e na Europa Continental, o processo só se vem a consolidar no século XIX.

2. A sua designação é variável:


-Inglaterra: Império da lei;
-Alemanha: Estado de Direito;
-França: Estado constitucional.

3. Em contraponto ao Estado de Polícia (2ª fase do Estado Absoluto), o Estado de Direito pode
definir-se genericamente como:
Um Estado limitado e organizado juridicamente com vista à garantia dos direitos fundamentais
dos cidadãos”
Consolida-se a ideia de “governo representativo”, que passa pela separação entre a titularidade
do poder político (que pertence agora ao Povo ou à Nação) e o exercício do poder político (que
é confiado a representantes do Povo ou da Nação.)

4. O ELD é um Estado em que se dá a afirmação da burguesia como classe dominante.


Assenta nos seguintes elementos:
-Numa separação clara entre a sociedade e o Estado;
-Numa redução de intervenção do Estado ao mínimo;
-Numa preocupação em que a atuação do Estado seja regulada pelo Direito.

 Esta submissão do Estado ao Direito exige:


1. Que o Estado venha a ser concebido como pessoa jurídica;
2. A repartição das funções do Estado em vários órgãos;
3. A supremacia da lei geral e abstrata.

 Os direitos fundamentais e a divisão de poderes são elementos essenciais do Estado de Direito.


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 2.O constitucionalismo da democracia constitucional:


Corresponde ao Estado social e democrático do Direito.

 Depois das experiências que constituíram os Estados anti-liberais do século XX (O Estado


fascista, o Estado soviético e o Estado nacional-socialista), após a II Guerra Mundial, com o
constitucionalismo da democracia constitucional, o Estado de Direito assume uma nova forma
histórica:
 O Estado social e democrático de Direito.

o É social pois o estado está agora empenhado na realização do bem-estar social e da


justiça social e na prossecução da igualdade material- É um Estado que intervém na
sociedade com vista a assegurar condições mínimas de existência à pessoa e a
redistribuir a riqueza; (dif. do ELD, que não intervinha)
o É democrático, porque durante o séc. XX, o constitucionalismo incorporou
decididamente a democracia, quer ao nível do fundamento e organização do poder,
quer pela universalização do sufrágio e pelo alargamento dos mecanismos de
representação e participação política;
o É Estado de Direito pois a garantia dos direitos e a limitação do poder é preservada.

Esta nova forma histórica de Estado constitucional vem trazer igualmente transformações no plano dos
direitos fundamentais e no plano da divisão de poderes:

i)Quanto aos direitos fundamentais: verifica-se a constitucionalização de direitos sociais, conjuntamente


com o alargamento dos direitos políticos e de uma reinterpretação dos direitos de liberdade.
ii) Quanto à divisão de poderes: a tónica é agora de racionalização e eficiência da atuação estatal, tudo
de forma a garantir a supremacia da Constituição e o primado dos direitos fundamentais.
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 Hoje em dia estaremos provavelmente já num outro momento, que corresponde
eventualmente a um “Estado pós-social e democrático de Direito.” É um estado limitado
pelo Direito, menos intervencionista e com um poder político cada vez mais diluído e
fragmentado, por fatores externos e internos.
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Ordem de advento (surgimento) de tipos históricos de Estado:

1.Estados anteriores ao Estado moderno (tecnicamente não são Estados)


2.Estado Moderno-1ª manifestação: Estado Absoluto
3.Ao Estado absoluto sucede, por reação, o Estado liberal de Direito
4.O Estado liberal de Direito é, por sua vez, interrompido ou suspenso na Europa Continental pelo
Estado anti-liberal
5.Depois desta suspensão, ao Estado liberal de Direito sucede o Estado social e democrático de Direito
6.Nos dias de hoje está a emergir um “Estado pós-social e democrático de Direito”.

Conceito de Estado
 Conceito jurídico de Estado: uma associação formada por um povo, dotada de um poder
político originário e fixada num determinado território.

Três elementos do Estado

Elementos essenciais:

Povo, Território e Poder Político

Elementos formais:

Nome (designação dada ao Estado, que lhe confere individualidade), o reconhecimento do Estado e os
símbolos nacionais (especialmente a bandeira e o hino)

8.2. Povo
 O povo pode ser definido como o conjunto de cidadãos do Estado, ou seja, como o conjunto das
pessoas que se encontram ligadas ao Estado através de um vínculo jurídico de cidadania ou
nacionalidade.
Distinção entre: povo, população e nação

 A população corresponde ao conjunto de pessoas, sejam ou não nacionais, que residam


habitualmente no território do Estado.
 Não há coincidência entre povo e população, na medida em que nem todos os residentes são
cidadãos e nem todos os cidadãos de um Estado se podem contar entre a população residente
(teríamos que descontar aí pelo menos os imigrantes.)

 A nação corresponde a uma coletividade identificada pela comunhão de laços culturais ou


espirituais e histórico-geográficos entre os seus membros, permitindo recortar uma alma
comum ou um espírito comum.

 Mais uma vez, também não há coincidência entre o conceito de nação e povo na medida em
que:

1.Há nações não organizadas em Estados. (Ex: Catalunha e Curdistão iraquiano)


2.Há nações que estão repartidas em mais do que um Estado. (Ex: Coreia do Sul e Coreia do
Norte)
3.Há Estados multinacionais (Ex: Rússia, China, India ou a própria Espanha)
4.Há Estados que se formaram sem que preexistisse uma nação (como sucede habitualmente
com Estados recém-independentes)

 No Direito Constitucional, a nação tem relevância a três níveis:


-No respeito devido a certas tradições religiosas da comunidade, mesmo num Estado laico (feriados,
descanso semanal);
-Na proteção devida ao património cultural ou à defesa da língua;
-Na fortificação (reduto) que deve constituir a defesa da identidade nacional.

8.2.3. Cidadania
 A cidadania ou nacionalidade é o vínculo jurídico que liga uma pessoa a um determinado
Estado, não estando, todavia, excluída a possibilidade de alguém ter mais do que uma
cidadania (pluricidadania) ou não ter nenhuma (apatridia)

 A atribuição da cidadania é uma prerrogativa (regalia) do Estado soberano, com base em dois
critérios nacionais:
1.O ius sanguini- O vínculo determinado pela filiação. (Mais privilegiado tendencialmente por
Estados mais antigos);
2. O ius soli- O vínculo é determinado pelo local de nascimento. (Mais privilegiado tendencialmente
por Estados mais recentes).

 O Direito português regressou novamente a um sistema misto de ius soli e ius sanguini após
terem reduzido o peso do ius soli.
 A cidadania portuguesa pode ser originária ou não originária (derivada ou adquirida)
i)A cidadania originária:
-É atribuída por lei;
-Decorre do nascimento ou de ato ou de facto que se reporte ao nascimento (art.1º LN);
-É insuscetível de oposição (art.9ºLN);
-Produz efeitos desde o nascimento (art.11ºLN).

ii)A cidadania não originária:


-Não se reporta ao nascimento, mas sim da vontade (arts. 2º, 3º e 4º LF), da adoção (art.5º) ou
da naturalização (art.6ºLN);
-É suscetível de oposição por parte do Ministério Público (arts. 9º e 10º LN);
-Produz efeitos em momento posterior ao nascimento (art.12ºLN)
-Não garante plenitude de direitos (o cargo de PR está reservado a portugueses de origem,
maiores de 35 anos (art.122º CRP))
 Uma vez que a cidadania é um direito passivo da pessoa (ou seja, um direito que não pressupõe
exercício), qualificável como situação jurídica, do mesmo decorrem outros direitos, que não são
extensíveis a estrangeiros (art.15º,n2,CRP), assim como decorrem deveres exclusivos dos
cidadãos portugueses (art.276º,n1,CRP).

8.2.4. Regime jurídico dos estrangeiros e dos apátridas

O regime jurídico dos estrangeiros e dos apátridas tem a sua sede, o nosso sistema, no art.15º da CRP,
que começa por estabelecer a seguinte regra geral:
“Os estrangeiros que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos
aos mesmos deveres do cidadão português” (art.15º,n1,CRP)

Daqui resulta o princípio da equiparação, princípio este que corresponde a uma expressão de
“universalismo dos direitos característico da igualdade em Estado de Direito.”
Este princípio da universalidade, deve ser lido como uma “regra de interpretação”: Na dúvida sobre a
atribuição de um direito ou imposição de um dever a um estrangeiro ou a um apátrida, o intérprete
deve partir do princípio que o direito ou dever imposto foi atribuído a todos os estrangeiros e apátridas
que se encontrem ou residam em Portugal.
Contudo, existem exceções e desvios ao princípio da equiparação consagradas no art.15 da CRP. -
Art.15º, n2 da CRP (A ascensão a cargos públicos está reservada a cidadãos portugueses).

8.3. Território
 Não se pode conceber um Estado nómada ou sem território, desta forma, o território
apresenta-se como um pressuposto existencial do Estado.
 Existe o território terrestre (i), aéreo (ii)e marítimo (iii).

i) Abrange o solo e o subsolo correspondente à superfície da crosta terrestre demarcada pelas


fronteiras;

ii)Abarca o espaço aéreo compreendido entre as verticais traçadas a partir das fronteiras terrestres e do
limite do mar territorial;

iii)Corresponde ao mar territorial, que tem a largura de 12 milhas náuticas.

No âmbito do território marítimo vale ressaltar três importantes conceitos, que já não integram o
território onde o Estado exerce uma soberania plena, mas concedem direitos e permitem o exercício de
diversos poderes territoriais pelo Estado:

Zona Contígua:
-Estende-se até ás 24 milhas contadas desde a linha da costa;
-O Estado Costeiro exerce poderes de fiscalização necessários para reprimir ou prevenir violações a
normas aduaneiras, fiscais, de imigração ou sanitárias.

Zona económica exclusiva:


-Estende-se até às 200 milhas;
-O Estado exerce poderes relativos aos recursos naturais, ao aproveitamento económico, á investigação
científica.

Conceito de plataforma continental:


-Abrange o leito do mar e o subsolo das regiões submarinas adjacentes ás costas até uma profundidade
de 200 metros ou até onde a profundidade das águas permita a exploração de recursos naturais.

A relevância do território é múltipla:


1. É um primeiro dado definidor da Nação, verdadeiro aglutinador e unificador do Povo;
2. É um pressuposto do exercício de determinados poderes ou da presença de certas atribuições.
3. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o território é: i) condição de independência nacional, ii)
circunscreve o âmbito do poder soberano do Estado e iii) representa um meio de atuação jurídico-
política do Estado.

Princípio da territorialidade: As leis e o Direito do Estado são aplicáveis em princípio dentro das
fronteiras do Estado e àqueles que nele se encontram.

8.4. Poder Político

 É o terceiro elemento do Estado e é, porventura, o mais difícil de definir.


 Surge definido como a faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria (não
recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem
e imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação.
 Notas:
1. O poder político estadual é uma faculdade que o povo exerce por direito próprio.
2. O poder político exprime uma autoridade constituinte (originária e subordinante), o que
permite facilmente distinguir esta autoridade do exercício dos demais poderes políticos
(que são constituídos, derivados e subordinados)
3. Esta autoridade constituinte traduz-se não só na instituição dos órgãos de governo, mas
também na correspondente instituição e definição da ordem jurídica da coletividade
4. O poder político, além da autoridade de que se reveste, implica a suscetibilidade do uso da
força, estando tradicionalmente reservado ao Estado o monopólio do uso da força.

8.5. Estado soberano e outras comunidades políticas

 Uma vez que o poder político, enquanto elemento do Estado, não se confunde com as demais
formas de poder político (designadamente da autonomia local ou autonomia política),
podemos admitir que há uma aproximação tendencial ao conceito de soberania- O Estado
soberano apresenta-se como a comunidade política cujo poder político reveste a forma de
soberania.
 A soberania consiste numa qualidade identitária do poder político do Estado e traduz-se:
o na faculdade de este se poder livremente auto-organizar no plano jurídico;
o na liberdade de tomar decisões obrigatórias para os cidadãos e para outros entes
públicos e privados;
o na capacidade de representar internacionalmente os interesses externos.

Desta definição decorrem três dimensões: A da soberania constitucional, a da soberania interna, e da


soberania externa.

Porém, ao lado dos Estados soberanos podemos encontrar-» Estados que não dispõem de soberania
(Estados não soberanos e semi-soberanos) e outras comunidades políticas territoriais que não são
Estados. (como a UE, as regiões políticas ou as autarquias locais).

8.5.1. Estados soberanos e Estados não soberanos

 Estados não soberanos:


-» Estados protegidos- o poder político é tutelado pelo Estado protetor, que orienta as relações
internacionais ou mesmo a política interna.
-» Estados federados- o poder político encontra-se subordinado ao poder político da Federação
(a única que dispõe de soberania plena, especialmente no plano internacional)
Estados Soberanos (i), não soberanos (ii) e semi-soberanos (iii)

(i) Um estado é soberano quando é titular dos seguintes direitos:


1. O direito de celebrar tratados;
2. O direito de receber e enviar diplomáticos;
3. O direito de fazer guerra;
4. O direito de reclamação internacional;
5. O direito de participação em organizações internacionais.

(ii) Os Estados não soberanos não gozam de soberania no plano internacional (Ex: Estados
membros de uma união real e os estados federados)

(iii) Os Estados semi-soberanos são Estados que gozam de soberania do plano internacional,
mas a mesma está reduzida ou limitada por fatores jurídicos, políticos ou materiais. (Ex:
Estados protegidos, Estados vassalos, Estados exíguos e Estados confederados)

 Estado protegido
Tendo personalidade internacional, só pode exercer os correspondentes direitos através de
outros estados (ditos protetores), que se comprometem a protege-lo.

 Estado vassalo
Tendo personalidade internacional, está ligado por certas obrigações a um estado suserano- O
exercício de uma competência internacional depende de uma autorização do suserano.

 Estado exíguo
Devido à sua diminuta extensão do território ou escassez de população, não está em condições
de exercer plenamente a soberania.

 Estado confederado
É aquele que, por ser membro de uma confederação, fica com uma soberania no plano
internacional limitado ao que tiver sido estabelecido no tratado.

8.6. Fragmentação do poder político do Estado

 O Estado, está hoje submetido a certas regras de Direito Comum constitucional que o
transcendem. Tal tem levado a uma verdadeira fragmentação do poder político do Estado:

1. A internacionalização: Certos assuntos deixam de ser do domínio dos Estados e passam a


ser atribuições da comunidade internacional (a começar pelo direito para fazer guerra e a
determinar nos direitos do homem) - Aquilo que era entendido como sendo do domínio
reservado dos Estados tem sofrido uma séria erosão;
2. A globalização: A existência de questões cuja resolução só pode ser encarada à escala
mundial deixa o Estado numa situação de impotência para lidar com esses problemas
isoladamente;
3. A integração europeia: Os Estados membros da UE, ao transferirem parte da sua soberania
para a UE (art.7, nº6 da CRP) e ao admitirem que o Direito da EU vigore diretamente na
respetiva ordem interna, fragmentarem de facto a sua autoridade;
4. Neofeudalização interna: Há diversos centros de poder que rivalizam e disputam com o
Estado parcelas relevantes do poder político.

 A soberania deixou de ser entendida como realidade imutável (inalterável), para ser concebida
como um processo dinâmico.
 Hoje em dia, o Estado apresenta-se reconhecidamente com uma soberania fragmentada e
“diminuída”
Formas de Estado

9.1. Conceito de forma de Estado

 A forma de Estado consiste no modelo inerente ao tipo de relações estabelecidas entre o poder
político estadual e o território.

9.2. Tipologia das formas de Estado

Há duas formas de Estado básicas

a) O Estado simples (ou unitário)


b) O Estado composto (ou complexo)

o A confederação não é uma forma de Estado, mas uma mera associação de Estados
para fins determinados no tratado constitutivo. Tão pouco é a união pessoal, que se
traduz apenas na existência de um único Chefe de Estado comum a dois territórios.

a) Existe apenas um poder político dotado de autoridade constituinte em todo o território (poder
que revestirá necessariamente a qualidade de poder soberano e que se exprime na existência
de uma única Constituição.)

 Pode ser centralizado, descentralizado ou regional

 Na sua versão centralizada, o Estado unitário significa um monopólio de decisões por parte do
poder político central (Ex: Angola.)
 Na sua versão descentralizada; existem outras pessoas coletivas públicas territoriais para além
do Estado (sejam elas regiões administrativas, entes metropolitanos, municípios ou freguesias)
a quem são atribuídos poderes que normalmente competiriam ao Estado. (Até ao séc. XX,
Portugal foi um Estado unitário descentralizado)
 O Estado unitário regional (designado igualmente de Estado Regional), encontra a
descentralização política na sua base, ou seja, verifica-se a atribuição de poderes políticos
autónomos, designadamente poderes legislativos e governativos, a certas pessoas coletivas
territoriais. (as regiões políticas ou autónomas)

 Existem vários tipos de Estado regional:


-». Integral, parcial ou periférico (respetivamente o caso da Itália, do RU, e de
Portugal)
-». Pode haver Estado Regional com prevalência de Direito do Estado (que é a regra
geral), ou com sistemas jurídicos derrogatórios do Direito do Estado (regiões especiais
de Hong Kong e Macau)

b) Há vários poderes políticos dotados de autoridade constituinte no território (poderes esses que
se articulam em distintos níveis territoriais e que se exprimem pela existência de diversas
Constituições)

 As duas formas de Estado composto são o Estado Federal e a União Real.

Estado Federal
-Os primeiros afirmaram-se fora da Europa, tendo como base republicana.
-As principais experiências federais regem-se pelo princípio de igualdade dos estados federados.
-Vários ordenamentos federais admitem a possibilidade de secessão (divisão/separação)
Os traços fundamentais da forma de Estado federal:

1. O federalismo pressupõe uma dualidade ou sobreposição de Constituições, de estruturas


estaduais, e de ordens jurídicas, devendo cada estado federado elaborar a sua Constituição e
organizar os respetivos poderes, no respeito pela Constituição federal;
2. Os estados federados intervêm na vontade política federal, quer na Câmara que especialmente
os representa, quer na revisão da Constituição federal;
3. Só o estado federal dispõe de soberania no plano internacional (Estados federados não gozam
de autonomia no plano internacional, pelo que são não soberanos)

Federalismo perfeito (originário ou centrípeto) e federalismo imperfeito (derivado ou centrífugo)

 No federalismo perfeito, são os Estados independentes que decidem criar uma realidade
político-constitucional superior (a federação), razão pela qual a fundação é originária e não
superveniente. (Ex: EUA, Canadá, Suíça.)
 No federalismo imperfeito, parte-se originariamente de um estado unitário para a respetiva
transformação em Estado federal, por mera conveniência de descentralização política. (Ex:
Brasil, + recente ainda é a Bélgica).

Diferenças entre o Estado Federal e o Estado Regional


a) No EF, cada estado federado elabora livremente a sua constituição; no ER, as regiões
autónomas elaboram o seu estatuto político-administrativo (não poderiam elaborar uma
Constituição porque o ER é um EU), mas este tem de ser aprovado pelos órgãos centrais do
poder político.
b) No EF, os Estados federados participam na elaboração e revisão da Constituição federal; no ER
não está prevista este tipo de participação por parte das regiões autónomas.
c) No EF existe uma segunda Camara Parlamentar; no ER, não existe qualquer segunda Câmara
parlamentar

União Real

 É uma forma de Estado composto (ou complexo) em que dois ou mais Estados adotam uma
constituição comum, prevendo a existência de órgãos também comuns, a par de órgãos
particulados inerentes a cada qual e, portanto, a UR é formada por dois ou mais Estados que
abdicam da sua independência para formar um novo Estado comum independente (a União)

o Ao passo que na federação existe um fenómeno de sobreposição, na união real


verifica-se uma fusão. Na federação criam-se sempre órgãos novos e estruturas novas
enquanto que na união real aproveitam-se sempre órgãos já existentes nos Estados
membros. A união real tem sempre uma forma monárquica e a federação nem sempre
tem uma forma monárquica.

9.3. As formas de Estado nos diversos sistemas constitucionais

 No RU, a forma de Estado é, em 1º grau, a do Estado unitário regional parcial, uma vez que não
foi instituída nenhuma região política no território da Inglaterra; em 2º grau, subsiste ainda
numa parte do território uma união real (já muito esbatida).

 Nos EUA, a forma de Estado é desde o início, a do Estado federal, um federalismo perfeito, que
exclui o direito de secessão.

 Na França, a forma de Estado é o Estado unitário descentralizado, que se reduz à forma de


Estado típica da Europa continental.
 Em Portugal, a forma de Estado é a do Estado unitário regional periférico.

Fins e Funções do Estado

São duas as questões em análise: Para que existe o Estado? (Quais os fins para que foi criado?)
Como é que realiza ele esses fins? (Através de que atividades?)

10.1. Os fins do Estado

 Filósofos como Hobbes e Locke, que defendiam que a razão de ser do Estado residia na
garantia da segurança (Hobbes) e na garantia da vida, liberdade e propriedade (Locke),
identificaram perfeitamente a primeira necessidade do homem e o primeiro interesse que ele
pretende prosseguir com a criação do Estado: “viver”.

 Razão pela qual o primeiro fim da comunidade política é a segurança.

 É assim que vem caber ao Estado:


i)proteger o homem contra a natureza;
ii)proteger o homem contra violências de outros membros da comunidade e contra inimigos
externos;
iii)proteger o homem contra a incerteza e o arbítrio.

o A segurança como fim do Estado envolve:


-A proteção dos interesses vitais da pessoa humana e da comunidade,
-A organização da força coletiva
-A determinação jurídica dos direitos e deveres de cada um.

 A paz entre as pessoas e os grupos só será firme e durável se assentar em relações de mútuo
respeito e de equidade, pelo que o segundo fim do Estado há de ser a manutenção da justiça.

O que é a justiça?

 Esta análise pressupõe uma referência aos clássicos, particularmente a Aristóteles, que vem
relacionar justiça com os conceitos de lei, de igualdade e de ordem.

 Aristóteles trata dos conceitos de justiça como lei e como igualdade, entre as quais as mais
importantes são a justiça distributiva e a justiça corretiva, e vem distinguir justiça estrita de
equidade. Para Aristóteles, um dos significados de justo é a conformidade com a lei, sendo
justa a ação conforme à lei.

 “Pessoa justa é tanto aquela que respeita a lei como aquela que distribui imparcialmente os
bens” – Neste sentido, a noção de justiça reclama a de igualdade.

Justiça distributiva: É a forma como a justiça permite estabelecer distinções entre diferentes
pessoas, sendo proporcional aos contributos de cada um. Esta atende à específica situação da pessoa.

Justiça corretiva (designada justiça comutativa quando respeite a relações voluntárias): É a forma
como as pessoas envolvidas são tratadas por igual. Nesta não há consideração da pessoa.

Mas qual a diferença entre justiça estrita e equidade?


 A equidade tem uma função retificadora da justiça legal. Apresenta-se como “justa, não de
acordo com a lei”.

 O terceiro fim do Estado vem a ser a realização do bem-estar, isto é, a promoção das condições
materiais de acesso a bens e serviços necessários à vida em coletividade.

 Apesar de habitualmente se referir que o bem-estar só ter surgido nos textos constitucionais do
séc. XX (Na Constituição Mexicana de 1917 e na Constituição Alemã de 1919), a verdade é que
em todas as épocas e em todas as formas da sociedade política aparece, a par da Justiça e da
Segurança, esta finalidade a cumprir, da promoção do bem-estar espiritual e material da
coletividade”.

 Não parece haver hoje dúvida de que a sustentabilidade se deve perfilar como um novo fim do
Estado, na medida em que, tem de caber ao Estado, na sua qualidade de principal ator na
esfera internacional, uma clara responsabilidade pela continuidade da vida no planeta.

 Há pelo menos 3 factos históricos que associam o ano de 2015 à tomada de consciência da
humanidade relativamente a esta nova situação do mundo:

 A publicação em 14 de maio de 2015, sobre o cuidado da casa comum, neste caso, a


partir de um ponto de vista religioso;
 O lançamento pelas NU, em setembro de 2015, da “Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável”;
 A assinatura do “Acordo de Paris”, em dezembro de 2015, sobre as alterações
climáticas, feita por 195 Estados.

 Se o Estado se desvinculasse deste fim, é ele próprio que colocaria em risco sério, na parte da
responsabilidade que lhe cabe, a realização dos interesses primários compreendidos nos três
clássicos fins do Estado (segurança, justiça e bem-estar).

10.2. As funções do Estado

 Por funções do Estado devemos entender as atividades desenvolvidas de forma permanente


pelos órgãos do poder político do Estado, tendo em vista a realização dos próprios fins.
(Mencionados a cima)

A melhor perspetiva para o professor Paulo Otero:


1. Funções do estado que são jurídicas→ Têm em vista fazer uma lei: emanar um ato jurídico.
Podem subdividir-se entre funções constituintes (atividade de fazer ou modificar a
Constituição) ou as funções constituídas (atividades desenvolvidas ao abrigo da CRP)
Exemplos: função legislativa, administrativa e jurisdicional. Como se diferenciam?

 Função Legislativa: Envolve a elaboração de normas que substanciam opções políticas


de natureza constituída, ou seja, as leis ordinárias. Têm fundamento na CRP, sempre.

 Função Jurisdicional: Envolve a garantia através da intervenção dos tribunais, órgãos


independentes ao litígio que opõe A e B, sendo um terceiro relativamente aos
interesses que estão em jogo.

 Função Administrativa: Consubstancia toda atividade jurídica desenvolvida pelo


Estado, que não origina a criação de leis. É tudo aquilo que o estado delibera menos a
parte legislativa e judicial.
2. Funções do Estado que não são jurídicas→ Por exemplo: realizar uma intervenção cirúrgica
é uma intervenção do Estado, mas não é jurídica. Traduzem-se na prática de atos não
jurídicos. Diferenciamos estas funções em duas:

• Função Política: Define as linhas de orientação sobre as opções essenciais da sociedade. Têm,
por isso mesmo, este cunho não jurídico, que se substância (sintetiza), por exemplo, na
organização de eleições.

• Função Técnica: Apela a conhecimentos de natureza especializada, em termos científicos que


se permite exercer atividades pelo Estado: dar uma aula, construção de uma ponte, consulta
médica.

10.4. As funções do Estado nos diversos sistemas constitucionais

 No sistema constitucional britânico:


-Verifica-se uma inexistência de uma Constituição em sentido formal e da correspondente
inaplicabilidade do conceito de revisão constitucional.
-Pode-se falar em sentido próprio de uma “função constituinte”, que compete
primordialmente ao Parlamento, sem prejuízo do costume e da prática ou do papel reservado
aos tribunais.
-Quanto às demais funções:
-Função política: confiada ao Parlamento e ao monarca (neste caso, apenas formalmente (só
em texto, acho eu)
-Função legislativa: Parlamento (com um primado absoluto da Câmara dos Comuns), no
entanto, o Governo está autorizado a produzir legislação delegada ou complementar;
-Função administrativa: Governo;
-Função jurisdicional: Tribunais. (Exclusão recente da Câmara dos Lordes)

 Em virtude da forma de Estado regional, os parlamentos e os governos regionais (da


Escócia, de Gales e da Irlanda do Norte) também desenvolvem funções política,
legislativa e administrativa.

 No sistema constitucional norte-americano


-Existe, (ao contrário do constitucionalismo Britânico), revisão constitucional.
-Função de revisão constitucional: Entregue ao Congresso (ou a uma convenção nacional
proposta por 2/3 dos estados por intermédio dos respetivos parlamentos), bem como aos
parlamentos dos Estados federados. Na prática, o supremo tribunal também tem tido papel
neste âmbito.
-Quanto às demais funções:
-Função política: Entregue ao Presidente, ao Congresso, bem como aos órgãos políticos e
legislativos dos Estados;
-Função legislativa: Congresso;
-Função administrativa: Cabe ao Presidente e aos órgãos das demais administrações públicas;
-Função jurisdicional: Confiada aos tribunais e residualmente ao Congresso (no impeachment).

 Em virtude da forma de Estado federal, todo este esquema de funções do Estado,


incluindo as que se situam no plano constitucional, projeta-se em termos paralelos no
interior de cada estado federado.

 No sistema constitucional francês


-Função de revisão constitucional: Compete ao Parlamento e ao Povo francês, mediante
referendo;
-Quanto às demais funções:
-Função política: Confiada ao PR, ao Parlamento e ao Governo;
-Função legislativa: Parlamento
-Função administrativa: Governo e aos órgãos das demais administrações públicas;
-Função jurisdicional: Tribunais e ao Conselho Constitucional.
Contraste da matriz Francesa com a Norte-Americana
 Esta ideia de separação com interdependência dos EUA, opõe-se ao modelo rígido de
separação de poderes da matriz francesa.
No caso Norte-Americano→ Há uma conjugação entre os diferentes poderes para a realização
da mesma função. Os tribunais podem fazer cessar a vigência de uma lei que é inconstitucional
por exemplo. Quer os tribunais, quer o PR, quer o Congresso tem diferentes poderes
associados ao poder legislativo. Não há nenhum poder sem interdependência, um órgão tem o
poder de estatuir, no entanto, os restantes órgãos têm o poder de limitar e condicionar essa
mesma deliberação/estatuição.

No caso Francês→ Rousseau: oposto (concentração de poderes). Ao longo do sec. XIX foi se
desenvolvendo a ideia de separação de poderes, com a atribuição sempre, e em exclusivo do
poder judicial. Paulo Otero: “Não há estado de direito se os tribunais não tiveram o monopólio
da decisão jurisdicional”. Existe uma divisão temporal do poder e uma divisão política do poder.

10.5. As funções do Estado na Constituição de 1976 (portuguesa)


-Função de revisão constitucional: Pertence, em exclusivo, à AR, não podendo o PR recusar a
promulgação da lei de revisão;
-Quanto às demais funções:
-Função política: PR, AR, e Governo, cabendo ainda ao colégio eleitoral;
-Função legislativa: AR, Governo, bem como às Assembleias Legislativas Regionais.
-Função administrativa: Está, antes de mais, confiada ao Governo e, depois, à restante
administração pública.
-Função jurisdicional: Tribunais, tanto estaduais como arbitrais.

Órgãos do Estado

 Este tema é importante porque as pessoas coletivas – regiões autónomas, o Estado, as


universidades públicas- precisam de órgãos para expressar uma vontade, enquanto a pessoa
singular expressa-a por si só.

→ O que é o órgão? É um centro institucionalizado que expressa uma vontade e, essa vontade,
é imputada à pessoa coletiva. É de frisar a importância da noção de órgão e da sua distinção de
outras designações:
→ O que distingue órgão de titular? O titular é a pessoa física que empresta a sua vontade a
um determinado órgão para que ele se possa exprimir. O órgão permanece mesmo com a
sucessão de titulares, como pode acontecer perfeitamente que um órgão não esteja provido de
um titular sem que isso signifique o desaparecimento do órgão.
→ O que distingue órgão de agente? O agente ajuda à formação da vontade, é no fundo,
alguém que colabora previamente ou posteriormente à função do órgão.

 O Órgão envolve 5 ideias:


-A ideia de instituição – ou seja, uma realidade cultural moldada pelas normas, que se
perpetua (dura muito tempo, eterno) e realiza no tempo (como o Parlamento, o Governo, o
Conselho do Estado, o tribunal constutucional…)
-A ideia de competência – ou seja, o conjunto de poderes funcionais que a lei confere a
determinado órgão para o desempenho de uma função. É através dos poderes funcionais que a pessoa
coletiva realiza as suas atribuições. No caso do Estado, além dos interesses primários (segurança, justiça,
bem-estar e sustentabilidade), há uma infinidade de outros interesses públicos que as diversas normas
jurídicas (de dto. Interno, Internacional e Europeu) cometem ao Estado. O Estado é por isso uma pessoa
coletiva de fins múltiplos.
-A ideia de titular- é a pessoa física que empresta a sua vontade ao órgão para que ele se possa
exprimir;
-A ideia de cargo/mandato – traduz o papel institucionalizado em que está investido um
determinado titular, exprimindo a função ou magistratura específica que lhe foi conferida;
-A ideia de imputação – trata-se do mecanismo jurídico através do qual a vontade manifestada
pelo titular ou titulares, nos termos da norma, é atribuída a determinado órgão do Estado;

2 Fenómenos: O titular empresta uma vontade ao órgão, mas este ao manifestar


essa vontade, ela é imputada à pessoa jurídica, na qual se integra o órgão.

Competência expressa→ resultam direta/imediatamente das normas jurídicas;


Competências implícitas→ que se extraem de outras competências. Se a lei atribui competência
para revogar, implícita também competência para suspender. Porque quem pode revogar,
pode também suspender (menor efeito)

Regras básicas dos órgãos colegiais:


• Um órgão colegial só pode começar a funcionar se estiver presente o co-órgão. O que é? É
metade + 1 dos seus membros. (51 de 100)
• Qual é a maioria exigida para deliberar? A regra no direito português é a de maioria simples: é
obtida através da proposta que tem o maior número de votos. Opõe-se à maioria absoluta. No
caso de aprovação da constituição é a maioria reforçada que se verifica em pelo menos 2/3;
• Todos os órgãos colegiais têm o poder de auto-organização interna. Ou seja, todos os O.C.
podem elaborar normas que disciplinem o seu funcionamento interno;

• A diferença entre o voto de desempate e o voto de qualidade –


o No voto de desempate significa que o presidente do órgão só vota quando há
empate, sempre fundamentando a sua decisão.

o No caso do voto de qualidade, o presidente do O.C. vota conjuntamente com


os outros, em caso de empate, ganha a que o presidente votou;

Os órgãos (colegiais e singulares) podem ter vicissitudes que têm a ver com a competência do
órgão (ampliada ou restringida). As vicissitudes do titular podem resultar na sua destituição ou
dissolução. Nestes casos, o Direito conta sempre com mecanismos de substituição, para evitar
vazio político.

Como é que os titulares podem ser designados?


Processo jurídicos:
❖1-A herança: há uma transmissão de poder, segundo regras legais de sucessão
(familiar, típicas da monarquia);
❖ 2-A cooptação: quando um titular de um órgão é escolhido pelos titulares desse
mesmo órgão;
❖ 3-A nomeação: há a designação de um titular de um órgão, por outro órgão;
❖ 4-A inerência: alguém é titular de um órgão, pela simples circunstância de ser
titular de outro órgão;
❖ 5-A eleição: processo de designação dos governantes através da expressão do
voto de uma pluralidade de pessoas:

Sistema maioritário X sistema proporcional:


No sistema maioritário→ quem ganha, esgota a representação;
No sistema proporcional→ a conversão dos votos em mandatos, é de algum
modo correlativa a esses mesmos votos.

Processos não jurídicos: decorrem à margem do direito.


❖ 1-O Golpe de Estado: alteração das regras da designação dos governantes;
❖ 2-A Revolta: leva à substituição dos titulares do poder;
❖ 3-A Revolução: ação violenta contra os titulares do poder vigente e às normas
constitucionais.

Sistemas Eleitorais e sistemas de partidos

15.1. Conceito e tipologia dos sistemas eleitorais

 O sistema eleitoral: (normas que disciplinam os atos eleitorais) o conjunto de regras que
definem a forma de expressão da vontade eleitoral, particularmente as que respeitam à
delimitação das circunscrições eleitorais e à definição do modo de escrutínio. (urna onde são
depositados os votos).

 Circunscrições eleitorais (ou círculos eleitorais): são as parcelas do território do Estado no seio
das quais são apurados os mandatos, podendo haver:
o Vários círculos de diversa dimensão (como é habitual);
o Um único círculo (como sucede em Portugal nas eleições para o Parlamento Europeu).

Mais, existe:
o Sufrágio uninominal (Círculo uninominal): Quando em cada círculo apenas é eleito um
representante. (caso dos 3 sistemas apresentados)
o Sufrágio plurinominal (Círculo plurinominal): Quando em cada círculo são eleitos
vários representantes. (caso português e norte americano (nas eleições do
Presidente))

 Quais os principais sistemas eleitorais?


a) Maioritário; b) Proporcional; c) Misto.

a) Sistema maioritário- O candidato ou a lista que vence numa determinada circunscrição


eleitoral leva à totalidade dos representantes dessa circunscrição- A lista mais votada é a única
que vai ter representantes daquela circunscrição.
-Determina a reduzida representatividade partidária parlamentar- não prevê a representação
das minorias e dos vencidos.
Há duas modalidades:

(i) Sistema maioritário com sufrágio uninominal- Existe um deputado por cada círculo, só uma pessoa
pode ser eleita. (RU, o que determina o bipartidarismo e a dificuldade da representação parlamentar de
outros partidos.)
(ii) Sistema maioritário plurinominal- Há vários deputados por cada círculo. Pode conduzir à diminuição
do bipartidarismo. Não é proporcional!!! É maioritário com vários grandes eleitores- colégio eleitoral,
constituído pelo número de senadores de cada estado (sempre 2) + x representantes, em
função da dimensão territorial e populacional do estado. Mas o winner takes it all- USA (mas é
tradicionalmente, uninominal), com exceção de alguns estados federados (que apresentam um sistema
não maioritário, mas sim proporcional).
O sistema maioritário pode ser maioritário:

-A uma volta →é eleito o candidato com maioria simples, ganha quem tiver mais votos (caso do
RU e, tradicionalmente, dos EUA) – basta a maioria simples.
-A duas voltas→ é eleito o candidato que na primeira volta obtiver maioria absoluta dos votos
(50%+1), e, se tal maioria não tiver sido alcançada, deve realizar-se nova eleição para os
candidatos mais votados na primeira volta, sendo eleito o que obtiver maioria relativa (maioria
simples) - Caso de França.

_____________________________________________________________________________
(Por exemplo, caso o quórum máximo seja de 100 pessoas e haja apenas 60, na maioria
simples exige-se que se obtenha, de votos, o primeiro número inteiro superior à metade dos
presentes, ou seja, 31. Difere da maioria absoluta por essa exigir a metade do quórum
máximo, ou seja, 51.)

b) Sistema proporcional: Corresponde necessariamente a um sufrágio plurinominal, na medida


em que a representação de cada partido deve ser proporcional ao nº de votos que lhe
couberam na eleição. Desta forma, garante a representação dos vencidos e das minorias, e
pressupõe a possibilidade de existir um multipartidarismo assente numa múltipla e pluripartida
representação parlamentar. Este sistema só existe vigorando sistemas plurinominais.

o O risco é a condução ao multipartidarismo. Enquanto que o sistema maioritário é perigoso


por não representar as minorias o sistema proporcional conduz a instabilidade governativa
devido ao multipartidarismo, que pode levar a uma instabilidade governativa e bloqueios à
ação do governo por via legislativa.
o O sistema eleitoral Português é plurinominal, pressupõe a concorrência de diversos
deputados a uma mesma circunscrição eleitoral e é um sistema proporcional já que
garante a representação dos vencidos e das minorias, pois o winner doesn’t take it all, ao
contrário do sistema maioritário, havendo neste caso uma correspondência entre o voto
popular e a eleição, segundo o método de representação proporcional de Hondt.
o É hoje o dominante na Europa Continental.
º
c) Sistema Misto: Consubstancia-se um duplo voto-
o Com um dos votos, vota-se no deputado que servirá para uma circunscrição eleitoral
(é um círculo uninominal).
o Noutro voto, a nível nacional, é plurinominal.

o É o caso do sistema alemão. Há uma complementaridade entre características do


sistema maioritário e do sistema proporcional. Prevê também a representação das
minorias e dos vencidos.

o O sistema eleitoral determina o sistema partidário existente. Por exemplo, repare-se


no caso britânico, preponderantemente bipartidário- Conservadores e Trabalhistas, devido ao
sistema eleitoral a uma volta, de eleição direta de 1 deputado por cada circunscrição eleitoral.
Cria pouco espaço para a representação parlamentar de partidos não tradicionais.
o O sistema eleitoral português, baseado na eleição de listas à AR, com vários deputados
por cada circunscrição, eleitos com representatividade nacional, segundo o método de
Hondt, determina um pluralismo partidário.
o O sistema eleitoral norte-americano, para o presidente, por via do colégio eleitoral,
determina uma competição entre Democratas e Republicanos para esse cargo,
verificando-se que os third party candidates usualmente não têm representatividade
no colégio eleitoral já que não há proporcionalidade entre o voto popular e o número
de delegados eleitos, verificando-se que esses candidatos por não terem nunca a
maioria de votos num estado não terão representação no colégio eleitoral.

Limites ao Poder do Estado

12.1. Limitações jurídicas e não jurídicas ao poder do Estado

 Começando no Estado Liberal:

o Limitações jurídicas ao poder do Estado (5): As declarações de direitos, a Constituição


escrita e a separação de poderes, o direito de resistência e o princípio da legalidade.

o Limitações não jurídicas ao poder do Estado (2): Sistema do Direito natural e


sobretudo a ideia de separação entre o Estado e a sociedade.

 Mas e no nosso contexto de Estado social (ou pós-social) e democrático de Direito, como é que
podemos sistematizar as limitações jurídicas e não jurídicas ao poder do Estado?
o Limitações jurídicas (5): Normas do ius cogens, a Constituição, o Direito Internacional Público, o
Direito da UE e a lei ordinária.
o Limitações não jurídicas (4): A moral, o pluralismo de organização política, a opinião pública e
os meios de comunicação social.

Iremo-nos cingir essencialmente às limitações jurídicas.

12.1. A ideia do ius cogens

 O ius cogens corresponde ao conjunto de normas imperativas de Direito Internacional às quais


não é possível qualquer derrogação, sendo inválidos os atos dos sujeitos que com elas colidam.

Mas qual o grande problema colocado pelo ius cogens?


 Reside na identificação dessas regras.
o Para uma corrente ampliativa: As normas de direitos humanos universais seriam todas
elas normas de ius cogens (a começar pelas normas previstas na DUDH de 1948);
o Para uma corrente restritiva: São relativamente poucas as verdadeiras normas de ius
cogens, de entre as quais se destacam:
-A igualdade jurídica dos Estados,
-A liberdade interior de pensamento,
-A proibição da escravatura, do genocídio e da discriminação racial.

 Teremos ainda que referir uma corrente doutrinária, defensora do Direito natural, que invoca o
Direito suprapositivo como limitação ao poder do Estado. Para os defensores, o poder político
estaria vinculado por um conjunto de princípios fundamentais de Direito, que correspondem a
à natureza sagrada da dignidade humana- Esta ordem gozaria de uma força prevalecente
relativamente a todas as outras forças, provando também que a maioria não é o critério da
verdade.

 Paulo Otero vem dar uma nota relativa à subordinação do poder político à ordem referida (Do
direito natural) através de 5 postulados:
-O respeito e o dever da proteção da vida humana;
-A proibição da utilização da pessoa como meio;
-O direito ao livre desenvolvimento da personalidade;
-A proibição do arbítrio,
-O direito de recusar cometer uma injustiça.
12.2. A Constituição e os direitos fundamentais

 A Constituição é, sem dúvida, O PRINCIPAL LIMITE ao poder político do Estado, sobretudo a


partir do momento em que passou a ser considerada verdadeira norma jurídica, a ter
prevalência sobre a lei e a constituir um padrão de regulação e de controlo efetivo da vida
política do Estado.
 É de facto, dentro da Constituição, que estão previstas as principais estruturas em que se
traduz essa limitação: A começar pelos direitos fundamentais, a passar pelos diversos
mecanismos de controlo do poder do Estado e a terminar numa série de princípios como os
seguintes: (7)
o
o O princípio da dignidade da pessoa humana,
o O princípio do pluralismo de organização política,
o O princípio da separação e interdependência dos poderes políticos,
o O princípio da constitucionalidade das leis dos demais atos do Estado,
o O princípio da subsidiariedade,
o O princípio da RC das entidades públicas,
o Os princípios fundamentais que estão subordinados aos órgãos de administração
publica.

 Os direitos fundamentais ocupam um lugar de destaque na Constituição. Os primeiros foram a


garantia do habeas corpus (é uma medida judicial que tem como objetivo a proteção da
liberdade de locomoção do indivíduo, quando esta se encontra ameaçada ou restringida de
forma direta ou indireta) e a liberdade religiosa, que nasceram historicamente como armas que
protegem as pessoas contra as intromissões do Estado. - A sua principal função era a de criar
distancia entre o Estado e a pessoa.
o Todavia, com o Estado social, surgiram igualmente direitos fundamentais sociais:
direitos de liberdade, direitos que pressupõem a colaboração entre o Estado a
sociedade (e não a distancia). Estes não constituem limites em sentido próprio, mas
deveres e incumbências do Estado na promoção de certas tarefas orientadas ao
bem-estar e à igualdade material.

12.4. O Direito Internacional Público

 As normas do DIP desempenham hoje, ao lado da Constituição, uma relevantíssima função de


limitação ao Estado.
 Com a internacionalização de direitos do homem após a 2º Guerra Mundial, as normas de
direito internacional que asseguram a proteção da pessoa humana passaram a constituir
verdadeiros limites ao poder político do Estado, ficando este vinculado a específicos deveres de
respeito, proteção e promoção desses direitos.

12.5. O Direito da União Europeia

 Os Estados membros, ao transferirem e partilharem a sua soberania com a União Europeia,


limitam o seu poder político. Tal pode se verificar facilmente na perda absoluta pelos Estados
membros integrados no Euro dos instrumentos de política monetária.

12.6. A lei ordinária


 Por um lado, a ideia de submissão dos decisores políticos à lei é muito antiga, sendo que ela
está na origem da ideia de império de direito ou da de Estado de Direito.

 Por outro lado, foi isto que os ingleses alcançaram primeiro do que todos os outros povos.

o Os órgãos do Estado estão submetidos não só à Constituição, mas também à lei,


enquanto a mesma vigorar. Nem sempre o legislador tem plena liberdade para a
revogar ou modificar.

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