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Enquadramento histórico
Estado absoluto
3. Em contraponto ao Estado de Polícia (2ª fase do Estado Absoluto), o Estado de Direito pode
definir-se genericamente como:
Um Estado limitado e organizado juridicamente com vista à garantia dos direitos fundamentais
dos cidadãos”
Consolida-se a ideia de “governo representativo”, que passa pela separação entre a titularidade
do poder político (que pertence agora ao Povo ou à Nação) e o exercício do poder político (que
é confiado a representantes do Povo ou da Nação.)
Esta nova forma histórica de Estado constitucional vem trazer igualmente transformações no plano dos
direitos fundamentais e no plano da divisão de poderes:
Conceito de Estado
Conceito jurídico de Estado: uma associação formada por um povo, dotada de um poder
político originário e fixada num determinado território.
Elementos essenciais:
Elementos formais:
Nome (designação dada ao Estado, que lhe confere individualidade), o reconhecimento do Estado e os
símbolos nacionais (especialmente a bandeira e o hino)
8.2. Povo
O povo pode ser definido como o conjunto de cidadãos do Estado, ou seja, como o conjunto das
pessoas que se encontram ligadas ao Estado através de um vínculo jurídico de cidadania ou
nacionalidade.
Distinção entre: povo, população e nação
Mais uma vez, também não há coincidência entre o conceito de nação e povo na medida em
que:
8.2.3. Cidadania
A cidadania ou nacionalidade é o vínculo jurídico que liga uma pessoa a um determinado
Estado, não estando, todavia, excluída a possibilidade de alguém ter mais do que uma
cidadania (pluricidadania) ou não ter nenhuma (apatridia)
A atribuição da cidadania é uma prerrogativa (regalia) do Estado soberano, com base em dois
critérios nacionais:
1.O ius sanguini- O vínculo determinado pela filiação. (Mais privilegiado tendencialmente por
Estados mais antigos);
2. O ius soli- O vínculo é determinado pelo local de nascimento. (Mais privilegiado tendencialmente
por Estados mais recentes).
O Direito português regressou novamente a um sistema misto de ius soli e ius sanguini após
terem reduzido o peso do ius soli.
A cidadania portuguesa pode ser originária ou não originária (derivada ou adquirida)
i)A cidadania originária:
-É atribuída por lei;
-Decorre do nascimento ou de ato ou de facto que se reporte ao nascimento (art.1º LN);
-É insuscetível de oposição (art.9ºLN);
-Produz efeitos desde o nascimento (art.11ºLN).
O regime jurídico dos estrangeiros e dos apátridas tem a sua sede, o nosso sistema, no art.15º da CRP,
que começa por estabelecer a seguinte regra geral:
“Os estrangeiros que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos
aos mesmos deveres do cidadão português” (art.15º,n1,CRP)
Daqui resulta o princípio da equiparação, princípio este que corresponde a uma expressão de
“universalismo dos direitos característico da igualdade em Estado de Direito.”
Este princípio da universalidade, deve ser lido como uma “regra de interpretação”: Na dúvida sobre a
atribuição de um direito ou imposição de um dever a um estrangeiro ou a um apátrida, o intérprete
deve partir do princípio que o direito ou dever imposto foi atribuído a todos os estrangeiros e apátridas
que se encontrem ou residam em Portugal.
Contudo, existem exceções e desvios ao princípio da equiparação consagradas no art.15 da CRP. -
Art.15º, n2 da CRP (A ascensão a cargos públicos está reservada a cidadãos portugueses).
8.3. Território
Não se pode conceber um Estado nómada ou sem território, desta forma, o território
apresenta-se como um pressuposto existencial do Estado.
Existe o território terrestre (i), aéreo (ii)e marítimo (iii).
ii)Abarca o espaço aéreo compreendido entre as verticais traçadas a partir das fronteiras terrestres e do
limite do mar territorial;
No âmbito do território marítimo vale ressaltar três importantes conceitos, que já não integram o
território onde o Estado exerce uma soberania plena, mas concedem direitos e permitem o exercício de
diversos poderes territoriais pelo Estado:
Zona Contígua:
-Estende-se até ás 24 milhas contadas desde a linha da costa;
-O Estado Costeiro exerce poderes de fiscalização necessários para reprimir ou prevenir violações a
normas aduaneiras, fiscais, de imigração ou sanitárias.
Princípio da territorialidade: As leis e o Direito do Estado são aplicáveis em princípio dentro das
fronteiras do Estado e àqueles que nele se encontram.
Uma vez que o poder político, enquanto elemento do Estado, não se confunde com as demais
formas de poder político (designadamente da autonomia local ou autonomia política),
podemos admitir que há uma aproximação tendencial ao conceito de soberania- O Estado
soberano apresenta-se como a comunidade política cujo poder político reveste a forma de
soberania.
A soberania consiste numa qualidade identitária do poder político do Estado e traduz-se:
o na faculdade de este se poder livremente auto-organizar no plano jurídico;
o na liberdade de tomar decisões obrigatórias para os cidadãos e para outros entes
públicos e privados;
o na capacidade de representar internacionalmente os interesses externos.
Porém, ao lado dos Estados soberanos podemos encontrar-» Estados que não dispõem de soberania
(Estados não soberanos e semi-soberanos) e outras comunidades políticas territoriais que não são
Estados. (como a UE, as regiões políticas ou as autarquias locais).
(ii) Os Estados não soberanos não gozam de soberania no plano internacional (Ex: Estados
membros de uma união real e os estados federados)
(iii) Os Estados semi-soberanos são Estados que gozam de soberania do plano internacional,
mas a mesma está reduzida ou limitada por fatores jurídicos, políticos ou materiais. (Ex:
Estados protegidos, Estados vassalos, Estados exíguos e Estados confederados)
Estado protegido
Tendo personalidade internacional, só pode exercer os correspondentes direitos através de
outros estados (ditos protetores), que se comprometem a protege-lo.
Estado vassalo
Tendo personalidade internacional, está ligado por certas obrigações a um estado suserano- O
exercício de uma competência internacional depende de uma autorização do suserano.
Estado exíguo
Devido à sua diminuta extensão do território ou escassez de população, não está em condições
de exercer plenamente a soberania.
Estado confederado
É aquele que, por ser membro de uma confederação, fica com uma soberania no plano
internacional limitado ao que tiver sido estabelecido no tratado.
O Estado, está hoje submetido a certas regras de Direito Comum constitucional que o
transcendem. Tal tem levado a uma verdadeira fragmentação do poder político do Estado:
A soberania deixou de ser entendida como realidade imutável (inalterável), para ser concebida
como um processo dinâmico.
Hoje em dia, o Estado apresenta-se reconhecidamente com uma soberania fragmentada e
“diminuída”
Formas de Estado
A forma de Estado consiste no modelo inerente ao tipo de relações estabelecidas entre o poder
político estadual e o território.
o A confederação não é uma forma de Estado, mas uma mera associação de Estados
para fins determinados no tratado constitutivo. Tão pouco é a união pessoal, que se
traduz apenas na existência de um único Chefe de Estado comum a dois territórios.
a) Existe apenas um poder político dotado de autoridade constituinte em todo o território (poder
que revestirá necessariamente a qualidade de poder soberano e que se exprime na existência
de uma única Constituição.)
Na sua versão centralizada, o Estado unitário significa um monopólio de decisões por parte do
poder político central (Ex: Angola.)
Na sua versão descentralizada; existem outras pessoas coletivas públicas territoriais para além
do Estado (sejam elas regiões administrativas, entes metropolitanos, municípios ou freguesias)
a quem são atribuídos poderes que normalmente competiriam ao Estado. (Até ao séc. XX,
Portugal foi um Estado unitário descentralizado)
O Estado unitário regional (designado igualmente de Estado Regional), encontra a
descentralização política na sua base, ou seja, verifica-se a atribuição de poderes políticos
autónomos, designadamente poderes legislativos e governativos, a certas pessoas coletivas
territoriais. (as regiões políticas ou autónomas)
b) Há vários poderes políticos dotados de autoridade constituinte no território (poderes esses que
se articulam em distintos níveis territoriais e que se exprimem pela existência de diversas
Constituições)
Estado Federal
-Os primeiros afirmaram-se fora da Europa, tendo como base republicana.
-As principais experiências federais regem-se pelo princípio de igualdade dos estados federados.
-Vários ordenamentos federais admitem a possibilidade de secessão (divisão/separação)
Os traços fundamentais da forma de Estado federal:
No federalismo perfeito, são os Estados independentes que decidem criar uma realidade
político-constitucional superior (a federação), razão pela qual a fundação é originária e não
superveniente. (Ex: EUA, Canadá, Suíça.)
No federalismo imperfeito, parte-se originariamente de um estado unitário para a respetiva
transformação em Estado federal, por mera conveniência de descentralização política. (Ex:
Brasil, + recente ainda é a Bélgica).
União Real
É uma forma de Estado composto (ou complexo) em que dois ou mais Estados adotam uma
constituição comum, prevendo a existência de órgãos também comuns, a par de órgãos
particulados inerentes a cada qual e, portanto, a UR é formada por dois ou mais Estados que
abdicam da sua independência para formar um novo Estado comum independente (a União)
No RU, a forma de Estado é, em 1º grau, a do Estado unitário regional parcial, uma vez que não
foi instituída nenhuma região política no território da Inglaterra; em 2º grau, subsiste ainda
numa parte do território uma união real (já muito esbatida).
Nos EUA, a forma de Estado é desde o início, a do Estado federal, um federalismo perfeito, que
exclui o direito de secessão.
São duas as questões em análise: Para que existe o Estado? (Quais os fins para que foi criado?)
Como é que realiza ele esses fins? (Através de que atividades?)
Filósofos como Hobbes e Locke, que defendiam que a razão de ser do Estado residia na
garantia da segurança (Hobbes) e na garantia da vida, liberdade e propriedade (Locke),
identificaram perfeitamente a primeira necessidade do homem e o primeiro interesse que ele
pretende prosseguir com a criação do Estado: “viver”.
A paz entre as pessoas e os grupos só será firme e durável se assentar em relações de mútuo
respeito e de equidade, pelo que o segundo fim do Estado há de ser a manutenção da justiça.
O que é a justiça?
Esta análise pressupõe uma referência aos clássicos, particularmente a Aristóteles, que vem
relacionar justiça com os conceitos de lei, de igualdade e de ordem.
Aristóteles trata dos conceitos de justiça como lei e como igualdade, entre as quais as mais
importantes são a justiça distributiva e a justiça corretiva, e vem distinguir justiça estrita de
equidade. Para Aristóteles, um dos significados de justo é a conformidade com a lei, sendo
justa a ação conforme à lei.
“Pessoa justa é tanto aquela que respeita a lei como aquela que distribui imparcialmente os
bens” – Neste sentido, a noção de justiça reclama a de igualdade.
Justiça distributiva: É a forma como a justiça permite estabelecer distinções entre diferentes
pessoas, sendo proporcional aos contributos de cada um. Esta atende à específica situação da pessoa.
Justiça corretiva (designada justiça comutativa quando respeite a relações voluntárias): É a forma
como as pessoas envolvidas são tratadas por igual. Nesta não há consideração da pessoa.
O terceiro fim do Estado vem a ser a realização do bem-estar, isto é, a promoção das condições
materiais de acesso a bens e serviços necessários à vida em coletividade.
Apesar de habitualmente se referir que o bem-estar só ter surgido nos textos constitucionais do
séc. XX (Na Constituição Mexicana de 1917 e na Constituição Alemã de 1919), a verdade é que
em todas as épocas e em todas as formas da sociedade política aparece, a par da Justiça e da
Segurança, esta finalidade a cumprir, da promoção do bem-estar espiritual e material da
coletividade”.
Não parece haver hoje dúvida de que a sustentabilidade se deve perfilar como um novo fim do
Estado, na medida em que, tem de caber ao Estado, na sua qualidade de principal ator na
esfera internacional, uma clara responsabilidade pela continuidade da vida no planeta.
Há pelo menos 3 factos históricos que associam o ano de 2015 à tomada de consciência da
humanidade relativamente a esta nova situação do mundo:
Se o Estado se desvinculasse deste fim, é ele próprio que colocaria em risco sério, na parte da
responsabilidade que lhe cabe, a realização dos interesses primários compreendidos nos três
clássicos fins do Estado (segurança, justiça e bem-estar).
• Função Política: Define as linhas de orientação sobre as opções essenciais da sociedade. Têm,
por isso mesmo, este cunho não jurídico, que se substância (sintetiza), por exemplo, na
organização de eleições.
No caso Francês→ Rousseau: oposto (concentração de poderes). Ao longo do sec. XIX foi se
desenvolvendo a ideia de separação de poderes, com a atribuição sempre, e em exclusivo do
poder judicial. Paulo Otero: “Não há estado de direito se os tribunais não tiveram o monopólio
da decisão jurisdicional”. Existe uma divisão temporal do poder e uma divisão política do poder.
Órgãos do Estado
→ O que é o órgão? É um centro institucionalizado que expressa uma vontade e, essa vontade,
é imputada à pessoa coletiva. É de frisar a importância da noção de órgão e da sua distinção de
outras designações:
→ O que distingue órgão de titular? O titular é a pessoa física que empresta a sua vontade a
um determinado órgão para que ele se possa exprimir. O órgão permanece mesmo com a
sucessão de titulares, como pode acontecer perfeitamente que um órgão não esteja provido de
um titular sem que isso signifique o desaparecimento do órgão.
→ O que distingue órgão de agente? O agente ajuda à formação da vontade, é no fundo,
alguém que colabora previamente ou posteriormente à função do órgão.
Os órgãos (colegiais e singulares) podem ter vicissitudes que têm a ver com a competência do
órgão (ampliada ou restringida). As vicissitudes do titular podem resultar na sua destituição ou
dissolução. Nestes casos, o Direito conta sempre com mecanismos de substituição, para evitar
vazio político.
O sistema eleitoral: (normas que disciplinam os atos eleitorais) o conjunto de regras que
definem a forma de expressão da vontade eleitoral, particularmente as que respeitam à
delimitação das circunscrições eleitorais e à definição do modo de escrutínio. (urna onde são
depositados os votos).
Circunscrições eleitorais (ou círculos eleitorais): são as parcelas do território do Estado no seio
das quais são apurados os mandatos, podendo haver:
o Vários círculos de diversa dimensão (como é habitual);
o Um único círculo (como sucede em Portugal nas eleições para o Parlamento Europeu).
Mais, existe:
o Sufrágio uninominal (Círculo uninominal): Quando em cada círculo apenas é eleito um
representante. (caso dos 3 sistemas apresentados)
o Sufrágio plurinominal (Círculo plurinominal): Quando em cada círculo são eleitos
vários representantes. (caso português e norte americano (nas eleições do
Presidente))
(i) Sistema maioritário com sufrágio uninominal- Existe um deputado por cada círculo, só uma pessoa
pode ser eleita. (RU, o que determina o bipartidarismo e a dificuldade da representação parlamentar de
outros partidos.)
(ii) Sistema maioritário plurinominal- Há vários deputados por cada círculo. Pode conduzir à diminuição
do bipartidarismo. Não é proporcional!!! É maioritário com vários grandes eleitores- colégio eleitoral,
constituído pelo número de senadores de cada estado (sempre 2) + x representantes, em
função da dimensão territorial e populacional do estado. Mas o winner takes it all- USA (mas é
tradicionalmente, uninominal), com exceção de alguns estados federados (que apresentam um sistema
não maioritário, mas sim proporcional).
O sistema maioritário pode ser maioritário:
-A uma volta →é eleito o candidato com maioria simples, ganha quem tiver mais votos (caso do
RU e, tradicionalmente, dos EUA) – basta a maioria simples.
-A duas voltas→ é eleito o candidato que na primeira volta obtiver maioria absoluta dos votos
(50%+1), e, se tal maioria não tiver sido alcançada, deve realizar-se nova eleição para os
candidatos mais votados na primeira volta, sendo eleito o que obtiver maioria relativa (maioria
simples) - Caso de França.
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(Por exemplo, caso o quórum máximo seja de 100 pessoas e haja apenas 60, na maioria
simples exige-se que se obtenha, de votos, o primeiro número inteiro superior à metade dos
presentes, ou seja, 31. Difere da maioria absoluta por essa exigir a metade do quórum
máximo, ou seja, 51.)
Mas e no nosso contexto de Estado social (ou pós-social) e democrático de Direito, como é que
podemos sistematizar as limitações jurídicas e não jurídicas ao poder do Estado?
o Limitações jurídicas (5): Normas do ius cogens, a Constituição, o Direito Internacional Público, o
Direito da UE e a lei ordinária.
o Limitações não jurídicas (4): A moral, o pluralismo de organização política, a opinião pública e
os meios de comunicação social.
Teremos ainda que referir uma corrente doutrinária, defensora do Direito natural, que invoca o
Direito suprapositivo como limitação ao poder do Estado. Para os defensores, o poder político
estaria vinculado por um conjunto de princípios fundamentais de Direito, que correspondem a
à natureza sagrada da dignidade humana- Esta ordem gozaria de uma força prevalecente
relativamente a todas as outras forças, provando também que a maioria não é o critério da
verdade.
Paulo Otero vem dar uma nota relativa à subordinação do poder político à ordem referida (Do
direito natural) através de 5 postulados:
-O respeito e o dever da proteção da vida humana;
-A proibição da utilização da pessoa como meio;
-O direito ao livre desenvolvimento da personalidade;
-A proibição do arbítrio,
-O direito de recusar cometer uma injustiça.
12.2. A Constituição e os direitos fundamentais