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Ciência

Política
1º Semestre

III – TEORIA GERAL DO ESTADO


O Estado é a manifestação por excelência do poder político. O Estado é a organização político-jurídica de
uma sociedade, dispondo de órgãos próprios que exercem o poder sobre determinado território. Este é um
fenómeno histórico, ou seja, não existiu sempre, nem é garantido que exista sempre.

O Estado é uma pessoa coletiva, com personalidade jurídica e que se apresenta com uma comunidade
política soberana na ordem interna e independente na ordem internacional.

O conceito de Estado caracteriza-se pela sua natureza atemporal, ou seja, pela sua permanência,
independentemente da mudança dos governantes.

É ainda uma sociedade política de fins gerais, ou seja, procura na sua essência, satisfazer toda e qualquer
necessidade coletiva, contrariando o princípio de especialidade.

O Estado pode ser compreendido de duas maneiras distintas:

1. Enquanto comunidade ou sociedade, de que fazemos parte e em que se exerce um poder para a
realização de fins comuns;

2. Enquanto poder, enquanto forma de regulação das relações entre as várias entidades e o poder
supremo estadual: poder político manifestado através de órgãos, serviços e relações de autoridade.

A palavra Estado, tal como a conhecemos hoje, foi utilizada pela primeira vez na obra de Maquiavel, “O
Príncipe”.

Esta é originária do verbo latino “sto, stas… statum” (estar/permanecer), que aponta para uma das suas
características, a institucionalização.

Características do Estado
 Institucionalização: Duração, permanência do poder, independentemente da mudança de titulares
ou governantes. O Estado é uma realidade que permanece, é uma realidade atemporal, que resulta
de uma necessidade coletiva, sentida ao longo dos séculos. O que garante que o Estado permaneça
é a Constituição.
 Territorialidade/Sedentariedade: O Estado necessita de um espaço físico para exercer o seu poder.
Há sociedades políticas nómadas. Não há Estados nómadas, estando sempre associados a um
elemento físico/territorial.

 Autonomia: A esfera do Estado (poder político) é completamente independente perante a esfera


social (sociedade civil).

 Complexidade: O Estado constitui uma entidade de fins gerais (satisfação de toda e qualquer
necessidade coletiva), contrariando, assim, o princípio da especialidade. Com efeito, este está
associado a uma enorme complexidade, sendo esta visível quer na organização, quer de funções.

 Coercibilidade: Suscetibilidade ou possibilidade de o direito estadual ser imposto pela força, isto é,
caso as normas não sejam cumpridas, há instrumentos que permitem a sua aplicação.

Nota: é preferível falar em coercibilidade e não em coação para acentuar a ideia de mera suscetibilidade
ou possibilidade de vindicação normativa pela força.

Localização histórica do Estado


Jellinek, na sua obra Teoria Geral do Estado, apresenta a categorização de tipos fundamentais de Estado:

1- Estado Oriental
4- Estado Medieval
2- Estado Grego
5- Estado Moderno
3- Estado Romano

Ao contrário de Jellinek, Jorge Miranda defende uma classificação de tipos históricos de Estado e não de
tipos fundamentais de Estado, já que estes tipos não coexistem realmente.

Jorge Miranda discorda ainda com o facto de Jellinek considerar que existiu um Estado Medieval. Segundo
este, neste período, verificou-se a existência de uma sociedade política medieval, uma vez não se
constatava a identificação do poder estadual como poder supremo nem a característica da coercibilidade,
antes existindo uma fragmentação do poder político decorrente da organização feudal da sociedade.

Caracterização dos tipos históricos de Estado

Estado Oriental

 Forma monárquica (combinada com a teocracia, porque o monarca é adorado como um Deus);

 Teocracia – o poder político e o poder religioso encontravam-se muito próximos;

 Ordem desigualitária e hierárquica da sociedade;


 Reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos.

Estado Grego

 Prevalência do fator pessoal – o Estado é a comunidade dos cidadãos, embora estes não sejam os
seus únicos habitantes –, em detrimento do fator territorial, sendo este de pouca dimensão;

 Fundamento da comunidade dos cidadãos: a comunidade religiosa, unida no culto de


antepassados;

 Redução da liberdade individual à participação no governo da cidade;

 Diversidade de formas de governo, sendo relevante destacar a democracia ateniense, como aquela
que mais se destacou, apesar de ser bastante diferente da atual;

 O poder podia interferir na esfera pública e privada.

Estado Romano

 Desenvolvimento da noção de poder político, como poder supremo e uno, cuja plenitude pode ou
deve ser reservada a uma única origem ou único detentor;

 Consciência da separação entre o poder público (Estado) e poder privado (paterfamilias) e a


distinção entre direito público e direito privado;

 Atribuição de direitos básicos ao cidadão romano: direito de eleger, direito de acesso às


magistraturas, direito de casamento legítimo, direito de celebração de atos jurídicos;

 Progressiva atribuição de direitos aos estrangeiros e formação do ius gentium;

 Expansão da cidadania (Édito de Caracala, em 212).

Estado Medieval

 Jorge Miranda considera que não houve Estado Medieval pelas razões referidas anteriormente;

 Freitas do Amaral refere que houve Estado, uma vez que não se destruiu a autoridade real. Existe
Estado, mas descentralizado, em que há partilha de poderes com os senhores;

 Predomina a forma monárquica, começando a desenvolver-se a soberania popular e a limitação dos


poderes do rei;

 A cristandade envolve toda a vida medieval e projeta-se no plano político como exigência de
limitação do poder – poder que vem de Deus e deve ser usado para o bem comum;
 Sociedade altamente hierarquizada e assente em relações de vassalagem entre suseranos e
vassalos;

 Avultado papel da Igreja, em comparação com o papel do Estado.

Estado Moderno

Se os primeiros tipos de Estado têm localizações espácio-temporais bem definidas, já o Estado Moderno:

 Pode ter surgido no século XIV (Inglaterra e Portugal);

 Surge essencialmente nos séculos XV e XVI com o Renascimento e com os Descobrimentos;

 Resulta de uma centralização do poder por reação à fase anterior.

Além das cinco características comuns a todos os Estados, o Estado Moderno conta com mais três
características que marcam a rutura com as anteriores formas de Estado:

 Soberania do poder político;

 Estado como Nação;

 Laicidade do Estado.

1 – Soberania do poder político

O poder político centralizado evita a desagregação do Estado em pequenas unidades territoriais e é o


garante da unidade política estadual, surgindo:

 Como uma necessidade de afirmação para com outros Estados europeus;

 Como uma necessidade de comunicação com Estados mais longínquos.

Atendendo à ideia de soberania o poder político pode ser apreciado:

 Esfera interna – como poder supremo: na esfera interna não há poderes acima do poder
político/há um plano de subordinação de todos os poderes em relação ao poder político.

 Esfera externa – como poder independente: na esfera externa o Estado não recebe diretrizes de
outros Estados / há uma coordenação com os restantes Estados.

2 – Estado como Nação

Noutros tipos anteriores de Estados, o fator de união entre um determinado número de pessoas havia sido
por exemplo o fator religioso (Estado Oriental, Grego e Romano).

No Estado Moderno o fator de coesão é a Nação, que corresponde a um vínculo objetivo / emocional que
resulta de vivências históricas e que promove a coesão de determinadas comunidades humanas.
Podemos encontrar num Estado uma só Nação ou várias Nações, assim como podemos encontrar uma
Nação dividida em vários Estados. Mas no Estado Moderno a um Estado corresponde tendencialmente
uma Nação, e a Nação define-se por relação e em relação com o Estado.

3 – Estado laico

O Estado Moderno de tipo europeu é um Estado que deixa de prosseguir fins religiosos. Mesmo que não
tenha sido imediata a separação em termos jurídicos (ex: em Portugal só ocorre com a Constituição de
1911), havia uma separação no plano dos princípios entre fins religiosos e fins políticos.

Fases do Estado Moderno de Tipo Europeu

Primeira fase – Estado Estamental (Séculos XIV/XV/XVI) Estamental - estamentos - assembleias deliberativas

É considerada uma fase de transição, isto é, ainda são notáveis elementos do período de organização
medieval, bem como, elementos do Estado Moderno de Tipo Europeu, nomeadamente, a centralização do
poder político (ideia de soberania).

Apesar de haver uma centralização muito maior do que na organização política medieval, o Estado está
limitado por assembleias consultivas ou deliberativas – assembleias Estamentais.

Segunda fase – Estado absoluto

O Estado Absoluto caracteriza-se, essencialmente, pela total centralização do poder político na figura do
Rei. Nesta evolução do absolutismo podemos distinguir duas fases:

 Monarquia de Direito Divino (século XVII) – justificação divina para a centralização e exercício do
poder político: o monarca foi escolhido por Deus, ou seja, Deus fundamenta o seu poder absoluto.

 Despotismo Esclarecido (século XVIII) – surgindo com o Iluminismo, estabelece que a justificação
para a centralização e exercício do poder político é a razão.

Terceira fase – Estado Constitucional, Representativo e de Direito

Surge após as revoluções liberais e influenciado pelas correntes contratualistas e pelo iluminismo. Este
nasce em reação ao Estado absoluto.

Por Estado Constitucional se pretende significar a explosão do movimento constitucionalista: qualquer


Estado encontra-se assente numa Constituição.

Por Estado Representativo falamos da forma como o poder é exercido. Por via das revoluções liberais a
soberania pertence ao povo. Por ser impossível o exercício direto do poder por todo o povo e injusto o
exercício apenas pelo monarca, encontra-se uma via média: o povo elege os seus representantes, sendo
que estes exercem poder em seu nome.
Com o Estado Representativo surge o conceito de cidadão, aquele que participa e intervém na vida política.

Por Estado de Direito se quer fazer expressar que o único critério de atuação possível é o critério legal, o
critério do Direito, a Lei.

Esta ideia de Direito implica:

• Separação e interdependência de poderes;

• Respeito pelos Direitos Fundamentais;

• Cumprimento da legalidade.

Estado de legalidade Estado de Direito

Cumpre-se a lei seja ela qual for. É mais do que um estado de legalidade, uma vez
que, para alem de cumprir a lei, considera os valores
subjacentes a determinada lei.

Fases do Estado Constitucional, Representativo e de Direito:

 Estado Liberal – corresponde ao século XIX e ao Estado não intervencionista e abstencionista do


“laissez faire, laissez passer”.

 Estado Social de Direito – acentua questões sociais que reclamam intervenção do Estado em todas
as esferas da vida em comunidade.

Apesar de tudo, refiram-se hoje algumas correntes neoliberais.

Elementos do Estado
Os três elementos que nos permitem caracterizar o Estado enquanto Estado, partindo do princípio de que
são cumpridas todas as características já enunciadas, são os seguintes:

1. Elemento humano: povo

2. Elemento físico: território

3. Elemento institucional: poder político

Elemento humano: povo

O Povo corresponde ao conjunto de indivíduos que possui um vínculo de ligação ao Estado – a cidadania.

A cidadania é o vínculo jurídico que une uma pessoa ao Estado. É através deste vínculo que o Estado
reconhece direitos e impõe deveres.

Expressões afins:

 População – Atende-se a um ponto de vista socioeconómico / estatístico – Conjunto de residentes


em certo território, sejam cidadãos ou estrangeiros.

 Nação (Nacionalidade) – Vínculos de natureza histórica e emocional – Conjunto de pessoas que


estão ligadas entre si por vínculos históricos, culturais e sociais.

O povo titular do poder político e destinatário das normas jurídicas da ordem jurídica estadual pode então
incluir pessoas que estão fora do território português. Logo, o elemento humano é mais condicionante do
que o elemento físico (território).

Conceções de povo:

 Democrático-liberal – o que interessa é o vínculo jurídico;

 Marxista – o povo equivale ao povo trabalhador;

 Nacional-Socialista e Fascista – o povo terá a ver com a raça ou com as noções de Pátria e Nação;

 Fundamentalismo islâmico – o fator de identificação de povo é de ordem religiosa.

Podemos observar duas situações distintas relativamente à cidadania:

 Pluricidadania (conflitos positivos de cidadania): um cidadão possui mais do que uma cidadania,
pelo que, merece proteção de mais do que um Estado ao qual se encontra ligado pelo vínculo
jurídico.

 Apatridia (conflitos negativos de cidadania): uma pessoa não é cidadã de nenhum Estado, logo, não
lhe é garantida a segurança por nenhum Estado.
Critérios de aquisição de cidadania:

 ius sanguinis (direito que vem do sangue) - adquirem a cidadania aqueles que forem filhos de pai
ou mãe cidadãos desse Estado, independentemente do sítio onde nasceram.

 ius soli (direito do solo) – adquire a cidadania aquele que nascer em território desse Estado.

Em Portugal, apesar do critério definido ser o ius sanguinis, tem se verificado, com o passar do tempo, o
reconhecimento de mais exceções de ius soli.

A aquisição da cidadania pode ainda ser:

 originária – nascimento;

 derivada ou superveniente, por atribuição – casamento, naturalização ou adoção.

Nota: cidadania europeia – cidadania de segundo grau, complementar, não estadual, mas que está
associada a um conjunto de direitos.

Elemento físico: território

O território de um Estado é constituído por território terrestre e aéreo, e em alguns por território
marítimo.

A delimitação do território é feita tendo em consideração normas de Direito Interno e de Direito


Internacional.

O território é o espaço jurídico próprio do Estado. É fundamental para delimitar o espaço em que o Estado
pode exercer o seu poder soberano e qual o âmbito espacial de aplicação das normas jurídicas que são
emitidas pelo poder político. Manifestações da relevância do território:

 Só existe poder do Estado quando ele consegue impor a sua autoridade sobre certo território;

 Atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado ou o seu reconhecimento por outros


Estados depende da efetividade desse poder;

 Os órgãos do Estado encontram-se sediados, salvo em situações de necessidade, no seu território;

 No seu território, cada Estado tem o direito de excluir poderes concorrentes de outros Estados;

 No seu território, cada Estado só pode admitir o exercício de poderes de outro Estado sobre
quaisquer pessoas com a sua autorização;
 Os cidadãos só podem beneficiar da plenitude da proteção dos seus direitos pelo respetivo Estado
no território deste.

Segundo o professor Marcelo Rebelo de Sousa, “a função do território é tripla: constitui uma condição de
independência nacional, circunscreve o âmbito do poder soberano do Estado, representa um meio de
atuação jurídico-política do Estado”.

Elemento institucional: poder político

No Estado Moderno de tipo europeu, o poder político corresponde à ideia de soberania. A organização
estadual apenas é conseguida através da subordinação do poder político ao Direito. A soberania, por sua
vez, implica a subordinação na ordem interna e a coordenação na ordem externa.

O que caracteriza o Estado enquanto poder político soberano?

NA ORDEM INTERNA a soberania caracteriza-se por:

 Poder originário – estado tem poder originário que vem de si próprio e não é um poder delegado
por uma entidade externa.

 Poder supremo – não há poder superior ao do Estado.

 Poder constituinte – o estado faz para si próprio uma constituição (ou seja, autodota-se de uma
Constituição). Mesmo os Estados federados têm poder constituinte.

 Estado detém todos os poderes – executivo, jurisdicional e legislativo.

 Delegação de poderes, através da:

o Desconcentração – o Estado atribui poderes a outras entidades, mas elas existem dentro da
pessoa coletiva Estado.

o Descentralização – o Estado atribui poderes, mas cria outras / novas pessoas coletivas.

Esta descentralização pode ser:

 Administrativa: se os poderes que se entregam a essas pessoas coletivas são poder administrativos;

o Territorial – atribui poderes tendo em conta a delimitação de um determinado território –


dá origem às autarquias locais: Freguesias, Municípios, Regiões Administrativas.

o Institucional – critério de distribuição em função da matéria – dá origem a institutos


públicos.
 Política – dá origem a regiões políticas – órgãos de governo próprio com poder legislativo (Açores,
Madeira).
Comum: criação de pessoas coletivas.

Diferença: na descentralização política, ao


contrário da administrativa, é possível fazer leis.

NA ORDEM EXTERNA, a soberania caracteriza-se por:

Na ordem externa, caracteriza-se como poder independente e relaciona-se com os demais poderes de
outros estados numa perspetiva de coordenação.

Tradicionalmente e desde 1648 e do Tratado de Vestefália:

 ius tractuum – direito de celebrar tratados;

 ius legationis – direito de ter legações diplomáticas;

 ius belli – direito de fazer a guerra.

Os ius tractum e ius legationis mantêm-se, mas o ius belli desaparece e é substituído pelo direito de utilizar
a força apenas em legítima defesa (Carta de São Francisco, 1945).

Hoje ainda se acrescentam:

 Direito de fazer parte de organizações internacionais (regionais, para universais e setoriais);

 Direito de reclamação internacional perante tribunais internacionais.

Tipologias Políticas

Formas de Estado – diz respeito à articulação entre os três elementos (povo, poder político e
território).

Estados soberanos

 Estados unitários: há um único centro de impulsão do poder.

Regionais – todo o território se divide em regiões


o Regionais
autónomas.
Parcialmente regionais – encontram-se regiões politicamente

o Não regionais autónomas e regiões ou circunscrições só com


descentralização administrativa.

Quando falamos em estados soberanos unitários regionais e não regionais falamos de regiões políticas e
não administrativas, ou seja, estão em causa regiões que contam com órgãos do governo. Significa isto que
Portugal é um Estado soberano unitário e parcialmente regional.
 Estados compostos: são Estados com mais do que um centro de impulsão do poder.

o Confederação – conjunto de vários Estados que se associam entre si, nomeadamente para
efeitos de exercício da soberania na ordem externa (partilha horizontal do poder). Estados
confederados são estados semi-soberanos.

o Federação – associação de vários estados, mas criando uma terceira entidade à qual dão
poder (há uma partilha horizontal e vertical dos poderes). Estados federados são estados
não soberanos.

o União pessoal – união casual na mesma pessoa da titularidade de dois cargos distintos em
dois Estados.

o União real – estrutura de fusão ou comunhão institucional, com o registo de uma associação
ou união de Estados, dando origem a um novo Estado que os vai englobar ou integrar.

Estados semi-soberanos

 Confederados: compõem a confederação. Têm pouca autonomia na esfera internacional.

 Exíguos: estados que têm um território diminuto e que, para efeitos de entrada na ordem externa,
têm que se associar a outros Estados.

 Vassalos: ligados à época medieval.

 Protegidos: estados em que as colónias detinham representação na cena internacional através da


potência colonial.

Estados não soberanos

 Federados: fazem parte de uma federação.

Sistemas de Governo – analisam o modo como os órgãos políticos se relacionam entre si.

 Presidencialismo: Dois órgãos de poder político ativo – Chefe de Estado e Parlamento. Não há
Governo enquanto órgão autónomo, mas apenas um conjunto de secretários que auxiliam o Chefe
de Estado que é também Chefe do executivo;

 Parlamentarismo: Dois órgãos de poder político ativo – Governo e Parlamento. O Governo é única
e exclusivamente responsável perante o Parlamento;
 Semipresidencialismo: Três órgãos de poder político ativo – Chefe de Estado, Governo e
Parlamento. O Governo é duplamente responsável perante o Parlamento e o Chefe de Estado.

Regimes Políticos – corresponde à ideia de direito existente num determinado Estado, ou seja, à forma
como o poder é exercido.

É possível distinguir a democracia, o totalitarismo e a autocracia. A distinção assenta: na fonte de

legitimidade do poder e no maior ou menor respeito pelos direitos dos cidadãos.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a distinção assenta na existência ou não de filosofia ou ideologia
exclusiva ou liderante, de aparelho destinado a impô-la, de efetiva garantia dos direitos pessoais dos
cidadãos e de livre participação na designação dos governantes e no controlo do exercício das suas
funções.

Segundo este a democracia baseia-se no pluralismo ideológico, na garantia dos direitos e liberdades dos
cidadãos e na livre participação dos mesmos na vida política. Já nos regimes ditatoriais, verifica-se a
existência de uma ideologia forte e liderante, bem como de um aparelho organizado destinado a impô-la a
todos os cidadãos, cujos direitos fundamentais não são respeitados. Acresce ainda a impossibilidade de
estes participarem ativamente na vida política.

Segundo Freitas do Amaral, a distinção entre democracia e ditadura está associada à legitimidade do
poder e à atitude do poder em relação aos cidadãos.

Com efeito, enquanto que na democracia a legitimidade consiste na soberania popular apurada através de
eleições, nos regimes ditatoriais o poder é tomado de forma ilegítima e exercido como coisa própria. Em
democracia, o poder é limitado pelos direitos e liberdades dos cidadãos. Já em regimes autoritários e
totalitários, o poder não aceita limites à sua atuação, por considerar que os interesse do estado são mais
importantes que os interesses dos cidadãos.

Jorge Miranda apresenta uma distinção entre regimes autoritários e totalitários. Nos totalitarismos
verifica-se um domínio total por parte do Estado da vida económica, social, política e cultural – domínio
total por parte do Estado. Já nos regimes autoritários, este domínio não é total.

Enquanto que o totalitarismo elimina a liberdade humana, ou seja, o Estado absorve a sociedade, o
autoritarismo restringe, limita, mas não aniquila por completo as liberdades.

Em ambos os casos o pluralismo ideológico é negado, mas nos regimes totalitários esta situação é ainda
pior. Acresce ainda que nos totalitarismos se verifica uma mobilização das massas e existência de uma
ideologia forte. Contrariamente, nos autoritarismos, esta mobilização não é tao intensa, e não se fala de
uma ideologia forte, mas sim de um conjunto de crenças e valores, que orientam a comunidade, de modo
a alcançar a ordem e a estabilidade.

Linz constata que nos regimes autoritários não existe propiamente uma ideologia, mas sim uma
mentalidade – um conjunto de crenças e valores, que orientam a vida em comunidade. Já nos regimes
totalitários, o conceito de ideologia é bastante mais forte. Este também afirma que nos autoritarismos o
papel do líder é muito importante. Este é alguém com carisma e que exerce o poder de forma arbitrária.
Nos totalitarismos, para além do líder, o partido único tem uma enorme relevância.

Democracia

A democracia corresponde a um regime que assenta na soberania popular, na eleição como forma de
designação dos governantes, no pluralismo ideológico, na separação de poderes, na garantia de liberdades
e direitos e no cumprimento dos princípios do Estado de Direito.

A fórmula de Popper afirma que a democracia é simplesmente o regime no qual os governantes podem ser
substituídos sem derramamento de sangue.

Robert Dahl entende que a democracia assenta na participação efetiva dos cidadãos, na igualdade de voto,
no controlo de poder e na informação.

Segundo Jurgen, a democracia é um sistema que permite a negociação e comunicação de perspetivas


diferentes – deliberação e discussão pública.

Segundo Samuel Huntington, desde o século XIX houve várias vagas de democratização

 1ª vaga: 1828-1926

 2ª vaga: 1943-1962

 3ª vaga: Transição democrática portuguesa e espanhola – atualidade

No século XXI, verifica-se o surgimento de regimes híbridos – semidemocracias (autocracia e democracia).


É ainda de referir a pós-democracia – o poder é exercido por elites político-económicas.

A democracia pode assumir várias formas:

 Democracia Direta – o povo, titular do poder, exerce o poder diretamente;

 Democracia Semidireta – o povo, titular do poder, não governa diretamente, mas existem
mecanismos que o permitem intervir na vida política, como é o caso dos referendos.

 Democracia Representativa – o povo, titular do poder, elege os seus representantes que o


representa e exercem poder em seu nome.
 Democracia Participativa – assenta na mesma ideia de participação política, mas esta deve ser mais
intensa e deve ir para além do voto periódico (ex: orçamentos participativos, documentos
colocados em discussão pública).

Desafios à Democracia:

 Elevadas taxas de abstenção – crise da democracia.

 Populismo – prática que procura obter o apoio popular através de medidas aparentemente
favoráveis às massas. O povo tem uma vontade única e o populista interpreta-a, opondo-se ao
pluralismo e ao elitismo.

Formas de Governo – relação entre governantes e governados.

Tradicionalmente, a Monarquia é o governo de um só. O monarca é designado por via hereditária,


governando por longos períodos, de forma absoluta, com o apoio das classes privilegiadas.

As monarquias evoluíram e na atualidade, esta forma de governo é compatível com a democracia, uma
vez que, apesar de o monarca ser designado por via hereditária, o seu poder é limitado e, por vezes,
simbólico. Este é o caso do Reino Unido, onde a rainha, apesar de acompanhar os assuntos do Estado, não
interfere nos mesmos. Atualmente, as monarquias estão, muitas vezes, relacionadas com o sistema
parlamentar.

A monarquia parte de uma lógica de tradição multisecular, na medida em que se verifica uma forte
presença da tradição quer no exercício, quer na transição do poder, de um carisma funcional do monarca,
que é considerado um fator unidade nacional e tem independência face aos partidos políticos. O monarca
não se intromete nos assuntos no Parlamento e do Governo.

A República é uma forma de governo em que o chefe de estado é designado através de eleições, ou seja,
através do voto popular. Contudo, existem Repúblicas em que a eleição é indireta, feita pelo Parlamento,
como é o caso da Alemanha.

Apesar de existirem repúblicas não democráticas, por norma esta segue uma forma democrática e está
associada a um caráter igualitário, já que podem ser eleitos todos os cidadãos com mais de 35 anos e que
recolham as assinaturas necessárias. Este caráter igualitário é reforçado pelas eleições.

O Presidente da República, ao contrário do Rei, pode ser destituído. Nos sistemas presidencialistas,
verifica-se a existência do impeachement. Este também não pode permanecer no cargo até à sua morte,
sendo eleito por mandatos.

Fins e Funções do Estado


Fins do Estado – objetivos prosseguidos pelo poder político do Estado.

1. Segurança:
o Segurança interna ou ordem interna;

o Segurança externa ou defesa da coletividade perante o exterior;

o Segurança individual, proporcionada pela definição dos direitos e deveres reconhecidos a


dado cidadão;

o Segurança coletiva, enquanto realidade que envolve toda a comunidade considerada.

2. Justiça – visa a substituição, nas relações entre os homens, do arbítrio por um conjunto de regras
capaz de estabelecer uma nova ordem, satisfazendo uma aspiração por todos sentida.

o Justiça comutativa – parte de uma ideia de igualdade abstrata e formal que em paridade de
circunstâncias, exige igualdade de tratamento e equivalência de prestações e contraprestações;

o Justiça distributiva – parte de uma ideia de igualdade material, o que implica que “se forem
desiguais as circunstâncias ou a situação em que cada um se encontra, a igualdade terá de ser
resposta pelo recurso à proporcionalidade ou a critérios de equitativa compensação, pois nada
há de mais justo, acentuava-o já Aristóteles, do que tratar como igual o que é desigual”.

3. Bem-estar – entendido como bem-estar económico, social e cultural. Consiste na promoção das
condições de vida dos cidadãos, a fim de garantir o acesso a bens e serviços considerados
fundamentais pela coletividade.

Nota: O Estado liberal prioriza a segurança e a justiça comutativa. O Estado social prioriza a justiça
distributiva e o bem-estar.

Funções do Estado – atividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político do Estado, tendo em vista a
realização dos objetivos que lhes são designados.

Teorias sobre as funções do Estado – diferentes autores apresentam diferentes perspetivas.

John Locke teoriza a divisão e a separação dos poderes. Mais tarde, Montesquieu desenvolve-a, sendo
que, para além da separação, destaca a necessidade de interdependência dos poderes.

Kelsen interveio na Constituição austríaca e defendia uma jurisdição constitucional concentrada: a


fiscalização da validade das leis representava uma tarefa especial, que devia ser desenvolvida
autonomamente. Sob influência dessa corrente, foi criado o Tribunal Austríaco, com a função exclusiva de
realizar o controlo da constitucionalidade. O autor positivista acredita não haver uma distinção entre
funções ou poderes do Estado.

Jellinek, responsável pela obra Teoria Geral do Estado, utiliza dois critérios: fins do Estado e meios de que
o Estado segue. A função legislativa prossegue qualquer tipo de fins, mas utiliza sempre regras abstratas.
Já a função jurisdicional usa atos concretos (aplicação no caso concreto), enquanto a função executiva
prossegue fins culturais.

Loewenstein, autor da distinção de constituições normativas, normais e semânticas, distingue também


três planos ao nível das funções do Estado: decisão (poder legislativo), execução (poder executivo) e
fiscalização (poder jurisdicional). Neste sistema há controlos horizontais (entre diferentes órgãos) e
controlos verticais (entre diferentes níveis de poder).

O professor Marcelo Rebelo de Sousa distingue quatro modalidades de funções do Estado:

 Função constituinte – “o poder político define as regras essenciais da existência coletiva, criando a
lei das leis, a Constituição”;

 Função de revisão constitucional – “vai revendo a Constituição para adaptar ao dever coletivo”;

 Funções independentes, principais ou primárias:

o função política – “definição e prossecução pelos órgãos do poder político dos interesses
essenciais da coletividade”;
o função legislativa – “corresponde à prática de atos provenientes de órgãos constitucionalmente
competentes e que revestem a forma externa da lei”.

 Funções dependentes, subordinadas ou secundárias:

o função jurisdicional – “julgamento de litígios, resultantes de conflitos de interesses”);

o função administrativa – “satisfação das necessidades coletivas (…) encontrando-se tal tarefa
cometida a órgãos independentes, dotados de iniciativa e de parcialidade”

Jorge Miranda propõe uma distinção entre funções fundamentais, complementares, acessórias e atípicas.
Segundo este, as funções do estado têm elementos materiais (causas e resultados que produz), formais
(trâmites e formalidades que exige) e orgânicos (agentes por onde ocorre).

Funções fundamentais
 Função política (legislativa e governativa ou política stricto sensu):

o Critério material – interpretação dos fins do Estado e escolha dos meios adequados para os
atingir em cada conjuntura; direção do Estado;

o Critério formal – liberdade ou discricionariedade máxima; liberdade de escolha;

o Critério orgânico – órgãos e colégios em conexão direta com forma e o sistema de governo;
pluralidade de órgãos, ausência de hierarquia e apenas relações de responsabilidade jurídica.

 Função administrativa:

o Critério material – satisfação constante e quotidiana das necessidades coletivas; prestação de


bens e serviços;

o Critério formal – iniciativa (indo ao encontro das necessidades); imparcialidade (na prossecução
do interesse público);

o Citério orgânico – dependência funcional; coordenação e subordinação.

 Função jurisdicional:

o Critério material – declaração do direito; decisão de questões jurídicas;

o Critério formal – passividade e imparcialidade;

o Critério orgânico – independência de cada órgão e atribuição a órgãos específicos.

Funções complementares, acessórias e atípicas – Atos ou atividades do Estado, de caráter residual, que
não se reconduzem às funções fundamentais ou clássicas (ex: atividade do Ministério Publico em processo
penal, atuação dos órgãos independentes da administração).

Jorge Miranda ainda faz referência a funções primárias e secundárias – as primárias antecedem as
secundárias, por razões lógicas e cronológicas. As funções primárias (função governativa e legislativa) são
anteriores as secundárias (função administrativa e jurisdicional), uma vez que necessitam de leis para agir,
sendo estas elaboradas pelas funções primárias.

Separação de poderes
A divisão e separação de poderes correspondem a formas de limitar os abusos de poder e garantir os
direitos e liberdades dos cidadãos.
Esta doutrina difundiu-se no iluminismo, sendo relevante destacar o contributo de John Locke e de
Montesquieu, que a desenvolveu, fazendo referência também à necessidade de interdependência dos
poderes. Pelo contrário, Rosseau defendia a sua concentração, através do sistema convencional.

De seguida, com as duas grandes revoluções, a separação de poderes foi consagrada e adotada por um
grande e crescente número de Estados. Por outro lado, surgiram algumas experiências totalitárias e
autoritárias, que negaram a mesma, como forma de manter a ordem e estabilidade.

Contributos do princípio de separação de poderes:

 Como contributo da vertente jurídica, o princípio da supremacia e da primazia da lei, que exigia
uma separação entre funções legislativa, executiva e jurisdicional;

 Como contributo da vertente política, a limitação interna do poder do Estado pela sua distribuição
equilibrante e estruturação plural através de mecanismos de controlo e contrapeso.

Com a passagem para o Estado social de Direito, o Estado começa a intervir em todos os aspetos da vida
dos cidadãos, acentuando a vertente social. Com efeito, começa a desvanecer-se a ideia de que cada
função corresponde a um poder, afastando-se a conceção mais rígida e mecânica proposta por
Montesquieu.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, no Estado social de Direito as funções podem e devem ser separadas,
mas já não se pode dizer que cada função seja exercida por um órgão e só por um órgão do Estado.

Antes, cada função ou faculdade da soberania encontra-se distribuída por vários tipos de órgãos do poder
político do Estado. Passa, portanto, a deixar de fazer sentido falar-se na separação dos poderes, e ganha
curso a expressão divisão de poderes do Estado, no sentido de colaboração entre os poderes do Estado e
repartição de cada uma das funções por vários órgãos do poder político.

O Estado como pessoa coletiva – órgão, titular e cargo


Segundo Jorge Miranda, um órgão corresponde a uma “instituição, tornada efetiva através de uma ou mais
pessoa física, de que o Estado carece para agir”. Cada órgão possui um conjunto de competências (poderes
atribuídos aos órgãos), sendo estas designadas pela Constituição.

O titular corresponde à pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que encarnam a instituição e formam a
vontade que há-de corresponder ao órgão. O cargo é a função do titular, “papel institucionalizado” lhe é
atribuído.
Classificação dos órgãos do Estado – classificações estruturais, funcionais e estruturais-
funcionais:

Classificações estruturais – relativas à instituição e aos titulares dos cargos:

 Órgãos singulares (PR) ou colegiais (AR) – consoante têm um ou mais titulares;

 Órgãos simples ou complexos:

o Simples – os que apenas formem uma vontade unitária;

o Complexos – os que se desdobram ou multipliquem, para efeito de formação de vontade,


em 2 ou mais órgãos, uns singulares e outros colegiais.

 Órgãos eletivos ou não eletivos – consoante a eleição é ou não o modo de designação de titulares;

 Órgãos representativos (AR) ou não representativos (Governo, Tribunais):

o Representativos – aqueles em que a eleição constitui vínculo de representação política;

o Não representativos – órgãos não eletivos ou órgãos eletivos sem representação política;

 Órgãos constitucionais ou não constitucionais, conforme estejam ou não previstos na Constituição.

 Órgãos de existência obrigatória (previstos na lei) ou de existência facultativa (não previstos na lei,
ou previstos apenas como uma possibilidade);

 Órgãos permanentes ou não permanentes.

Classificações funcionais – relativas à competência:

 Órgãos deliberativos (AR) ou consultivos (Conselho de Estado) – consoante tomam decisões ou


deliberações ou atos consultivos ou pareceres;

 Órgãos de competência originária ou derivada – conforme possuem competência originária,


diretamente provinda da norma jurídica, ou competência delegada por outro órgão;

 Órgãos legislativos (AR), governativos (Governo), administrativos (direções gerais que o Estado vai
criando) ou jurisdicionais (Tribunal constitucional e tribunais) – em razão das funções do Estado
que desempenham ou em que intervêm;

 Órgãos de decisão ou órgãos de controlo, fiscalização e garantia (Tribunal Constitucional).

Classificações estruturais-funcionais – conjugam as características estruturais e funcionais:


 Órgãos externos ou internos, conforme os atos são feitos para a sua própria organização ou têm
efeitos para o exterior;

 Órgãos políticos ou não políticos – consoante se movam segundos critérios políticos ou segundo
outros critérios (tribunais);

 Órgãos primários ou vicários:

o Primários – os que têm competência em condições de normalidade institucional ou para


períodos normais de funcionamento;

o Vicários – os que têm competências de substituição.

 Órgãos centrais ou locais – consoante a sua competência abrange todo o território do Estado ou
parte dele;

 Órgãos hierarquizados (Governo) ou não hierarquizados (AR), conforme estejam ou não integrados
em estruturas hierarquizadas de decisão;

 Órgãos de soberania e órgãos de regiões autónomas.

Designação dos titulares


O titular do órgão é, pela própria natureza humana, precário e temporário. Existe um conjunto variado de
formas de designação dos titulares dos órgãos do poder político.

No que concerne aos titulares dos órgãos governativos, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa distingue as
formas constitucionais de designação e as formas de designação com rutura na ordem constitucionais.

Formas constitucionais de designação dos governantes

São aquelas que têm na sua origem o Direito vigente, nomeadamente as previstas na Constituição:

 Herança/Sucessão hereditária – forma de designação que tem na sua base a transmissão


hereditária de funções, isto é, em que o titular do órgão vai desempenhar o cargo em resultado da
aplicação das regras da sucessão numa mesma família;

 Sorteio – as regras do acaso determinam quem será o titular do órgão;

 Rotação – forma de designação que resulta de sequência temporal de pessoas. No momento em


que a pessoa anterior deixa de exercer o cargo, é chamada a suceder a pessoa que lhe segue de
acordo com a ordem da rotação. Exemplo: presidência rotativa;
 Antiguidade – o titular é escolhido consoante a idade ou o tempo de exercício de funções;

 Cooptação – escolha do titular de um órgão por outros titulares do mesmo órgão. Pode ser
sucessiva (quando o titular de um órgão escolhe o seu sucessor) ou simultânea (quando num órgão
colegial os titulares em exercício têm o direito de escolher as pessoas que irão ocupar as vagas
disponíveis);

 Nomeação – designação do titular de um órgão pelo titular de um órgão diferente;

 Inerência – quando o desempenho de funções num órgão implica o desempenho de funções num
órgão distinto;

 Aclamação – escolha de alguém para a titularidade de um órgão por efeito de manifestação


coletiva de vontade em público (ex: a aclamação dos reis, vontade coletiva publicamente expressa
para a titularidade do órgão);

 Eleição – escolha dos governantes feita através de votos de uma pluralidade de pessoas.

Formas de designação dos governantes com rutura na ordem constitucional

São aquelas em que o acesso dos titulares aos cargos ocorre através da violação do Direito vigente,
nomeadamente das regras previstas na Constituição.

 Golpe de Estado – situação em que os governantes atuam, através da utilização da força e violação
da legalidade vigente, com o objetivo de manter-se no poder;

 Insurreição – manifestação das forças armadas, apoiadas ou não noutras forças sociais, contra o
governo constituído, a fim de lhe imporem certa orientação ou mudarem os governantes;

 Revolução – manifestação violenta de forças sociais estranhas à organização do Estado, apoiadas


ou não pelas forças armadas, com o fim de mudar bruscamente o regime político, a ideologia
dominante, as leis e instituições fundamentais e os titulares governativos.

Segundo o professor Marcelo Caetano “enquanto pelo golpe de Estado os governantes querem conservar-
se no poder, a revolta ou a revolução tem por fim substitui-los por outros”.

Tipos de sufrágio
A determinação do colégio eleitoral é fundamental para se saber quem é que pode exercer o sufrágio. O
direito de voto pode ser, com efeito, atribuído a grupos restritos ou à totalidade da população.

Até ao início do século XX, o direito de voto só era reconhecido àqueles que eram considerados como
sendo os mais capazes de proceder às escolhas de natureza política.

Na atualidade, verifica-se o sufrágio universal – atribuição do direito de voto a todas as pessoas, a partir
de uma certa idade, independentemente do sexo ou do preenchimento de determinados pressupostos,
como o rendimento ou as habilitações literárias.

O sufrágio pode ser:

 Direito ou indireto – consoante os eleitores escolham imediatamente os seus representantes ou


vão escolher pessoas que procedem a essa escolha por eles;

 Restrito (censitário ou capacitário) ou universal – consoante o direito de voto seja reconhecido a


um grupo limitado de cidadãos ou à generalidade dos cidadãos a partir de um certo limite de idade;

o Censitário – se a atribuição do direito de voto depende dos meios de fortuna;

o Capacitário – se a atribuição do direito de voto implica um determinado grau de instrução;

 Inorgânico (ou sufrágio de base territorial) ou orgânico (sufrágio de base corporativa):

o Inorgânico – o direito de voto é exercido pelo cidadão, pelo simples facto de reunir os
requisitos legais de sufrágio, os votos são recolhidos por circunscrições territoriais cuja
delimitação é mais ou menos arbitrária;

o Orgânico – o cidadão dá a sua contribuição efetiva para a coletividade (como chefe de uma
família domiciliada numa freguesia ou elemento ativo de uma associação ou instituição
privada de utilidade pública).

 Plural, múltiplo ou simples – formas de sufrágio que têm como critério distintivo o número de
votos que são atribuídos a cada eleitor para uma mesma eleição:

o Sufrágio plural – direito dado a certos eleitores de votarem uma vez só, mas com mais de
um voto e tem sido defendido sobretudo sob a forma de voto familiar;

o Sufrágio múltiplo – direito dado ao mesmo eleitor de votar, embora só com um voto de
cada vez, em diversas qualidades, na mesma eleição;

o Sufrágio simples – atribuição de um único voto a cada eleitor.


 Público ou secreto – consoante a votação se faça em termos do sentido do voto de um eleitor
poder ser ou não do conhecimento dos restantes;

 Facultativo ou obrigatório – consoante o exercício do Direito do voto seja, ou não, deixada à


vontade dos eleitores e possa haver, no segundo caso, a aplicação de sansões aos não votantes;

 Individual ou por listas:

o Individual – caso o sufrágio tenha para escolha apenas indivíduos;

o Por listas – caso o sufrágio se destine a designar o partido ou a orientação política, e então o
voto incide sobre uma lista preparada pelas organizações políticas;

 Uninominal ou plurinominal – consoante o eleitor só possa votar, em cada divisão eleitoral, em


um, ou em mais do que um, candidato.

Sistemas eleitorais
O sistema eleitoral corresponde ao conjunto de regras estabelecidas pela lei para determinar o método
para converter em cada eleição o número de votos em mandatos.

Sistema Maioritário

 Sistema maioritário a uma volta – consagra a eleição do candidato com mais votos – maioria
relativa. Este é o caso britânico – “race of horses”, isto é, o cavalo que chegar primeiro, é aquele
que é eleito.

 Sistema maioritário a duas voltas – é necessária maioria absoluta. Caso esta não seja alcançada,
verifica-se uma segunda volta, com os dois partidos mais votados. É o caso de França e Portugal.

Vantagens – estabilidade política, contacto mais direto entre eleitores e eleitos.

Desvantagens – falta de representatividade.

Sistema Proporcional – existe uma conversão de votos em mandatos de acordo com uma forma de
natureza matemática, que no caso de Portugal é o método de Hondt. É um sistema que dá grande
importância aos círculos eleitorais.

Vantagens – maior representatividade.

Desvantagens – multiplicação e fragmentação partidária, o que pode gerar uma certa instabilidade
política; dificuldade em formar maiorias.
Sistemas Mistos

 Sistema proporcional com liberdade de escolha – o eleitor pode escolher tanto a lista em que
pretende votar como a ordem dos deputados dessa mesma lista. Cria-se uma lógica dupla, de
representação e de maior proximidade entre o eleito e o eleitor. Este sistema implica um ato de
votar mais demorado e consciente.

 Sistema proporcional bloqueado – sistema proporcional com listas bloqueadas. Este vigorava em
Portugal até ao 25 de abril: existiam listas, mas todas elas estavam bloqueadas – nunca existia a
possibilidade dos partidos da oposição se coligarem.

 Sistema misto maioritário e proporcional – existem dois boletins de voto: um para o cidadão
escolher o deputado do seu círculo, outro onde escolhe o partido que considera que melhor o vai
representar no Parlamento. Deste modo, os partidos nunca podem ter no Parlamento menos
deputados do que aquilo que lhe dá o resultado da eleição do segundo boletim. Verifica-se na
Alemanha nas eleições legislativas.

Leis Duverget – Estas não devem ser encaradas como lei, mas sim como uma tendência com exceções.

1. O sistema eleitoral maioritário a uma volta tende para o bipartidarismo;

2. O sistema eleitoral proporcional tende para o multipartidarismo;

3. O sistema eleitoral maioritário a duas voltas tende para o multipartidarismo temperado.

Sistema Eleitoral Português

É utilizado, para a eleição do Presidente da Républica, o sistema maioritário a duas voltas.

Nas eleições legislativas, legislativas regionais, autárquicas e Parlamento europeu é utilizado o sistema
proporcional. Utiliza-se o método de Hondt para apurar o número dos mandatos.
Referendo
O referendo corresponde a um mecanismo de democracia semidireta.

Podem votar nos referendos todos os cidadãos que estejam recenseados no território nacional.

Para que o referendo seja juridicamente vinculativo, o número de votantes ter de ser superior à metade
dos cidadãos recenseados. Caso isto não se verifique o referendo não é juridicamente vinculativo, mas é
politicamente vinculativo.

A decisão de convocar o referendo é do Presidente da Républica, mediante proposta da Assembleia da


República ou do Governo. Pode ainda resultar da iniciativa dos cidadãos.

O referendo só pode ter por objeto questões de relevância nacional. As matérias excluídas são:

 As alterações à Constituição;

 As questões e os atos de conteúdo orçamental, tributário ou financeiro;

 As matérias previstas no artigo 161º da Constituição;

 As matérias previstas no artigo 164º da Constituição, com exceção do disposto na alínea i).

Cada referendo recairá sobre uma só matéria, devendo as questões ser formuladas com objetividade,
clareza e precisão e para respostas de sim ou não.

Não podem ser convocados ou realizados referendos entre a data da convocação e a da realização de
eleições gerais para os órgãos de soberania, de governo próprio das regiões autónomas e do poder local,
bem como de Deputados ao Parlamento Europeu.

As propostas de referendo recusadas pelo Presidente da República ou objeto de resposta negativa do


eleitorado não podem ser renovadas na mesma sessão legislativa.

Existe um referendo obrigatório na nossa Constituição – regionalização.

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