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Ema Glória

Princípios do Direito Público

1. O Estado, referente do Direito Público:

ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ESTADO

 O conceito de Estado começou quando Nicolau Maquiavel utilizou pela


primeira vez a expressão “lo Stato” para se referir ao “estado das
coisas”, para designar a comunidade política em geral ou uma certa
espécie de comunidade política.

Comunidade ou sociedade política:

 Fenómeno humano-universal;
 Societas perfecta ou communitas perfecta: sociedsde ou comunidade
perfeita, maior, completa, autossuficiente.

Caraterísticas do Estado (2º JBG):

 Complexidade organizatória e funcional;


 Autonomia dos fins;
 Originariedade do poder originário;
 Coercibilidade dos meios

Processo de diferenciação do poder político:

 Comunidades acéfalas;
 Estado Ocidental;
 Estado Oriental.

 Chama-se Estado às sociedades complexas pelas questões de chefia,


organização social, territorial, entre outros.

Emergência do poder político:

1. Politicidade difusa/poder político disperso;

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2. Diferenciação de um poder político;


3. Poder político exercido pelos titulares de funções religiosas ou
económicas;
4. Especialização do poder político.

Comunidades humanas:

 Pré-história: Paleolítico Inferior (500 mil a.C.); Paleolítico Superior (30


mil a.C.) (nomadismo); Neolítico (10 mil a.C.) Revolução Neolítica,
sedentarização, Idade dos Metais (6 mil a 4 mil a.C.), cristalização de
núcleos urbanos submetidos à autoridade dos chefes
 Mesolítico ou Idade Média da Pedra (9 mil a 5 mil a.C.): existiu em
algumas partes do mundo (caçadores recolectores especializados;
armazenamento de bens; existência de hierarquias).

Dá sentido à diferença entre governantes e governados

Pois Na sociedade política há sempre 2 ingredientes de representação:

o Representação Existencial- qualquer sociedade política precisa de


um poder que a unifique e que lhe permita atuar como uma unidade
na história, por exemplo o Rei, precisa de saber o que é mais valioso
para o grupo que é.
o Representação Transcendental- mito político, visão do mundo ou
do homem.

Aspetos muito importantes para a evolução da sociedade política


(Religião Política)

Grandes Tipos Históricos de Estado:

 Estado Oriental- Antiguidade Oriental, Mesopotâmia; (3º ao 1º milénio


a.C.);
 Estado Grego- Cidades estado gregas, a polis grega/poleis gregas, não
muito largo alcance e não muito larga população; (VI a III a.C.);
 Estado Romano- (II a.C. a IV d.C.);

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 Estado Medieval/Comunidade Política Medieval- Idade Média,


fragmentação do poder político; (V a XV);
 Estado Moderno (Estado Absoluto) - Centralização do poder,
comunidade política (comunitas perfecta), matriz da soberania; (XV a
XVI);
 Estado Contemporâneo- (finais do séc. XVIII)
 Estado Liberal- (finais séc. XVIII e séc. XIX) após a Revolução
Gloriosa, Americana e Derrube do Antigo Regime;
 Estado Democrático e Social- (séc. XX e XXI) desde a
Constituição de 1976;
 Estado Socialista- (séc. XX a XXI) modelo soviético, sociedade
comunista;
 Estado Nacionalista- (séc. XX a XXI)

Estado Oriental:

 Grandes Impérios do Oriente na Idade Antiga, por exemplo, Antigo Egipto,


Impérios Mesopotâmicos;
 Caraterísticas:
o Conceção teocrática do poder- governos que se dizem basear no divino.
Teocracia- Theo (Deus)
Kratos (Poder)
o Conceção cosmológica- viam-se como representantes da ordem do
cosmos/sem ideia de um deus criador, o divino faz parte do cosmos.
o Ideia de despotismo oriental
o Sociedades fortemente hierarquizadas e não igualitárias – nalguns
destes impérios já começamos a ver burocracias com alguma
complexidade como no primeiro império Persa

Estado Grego:

 Cidade estado grega


o Comunidades de território e população reduzidos

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 Um mundo horizontal e compacto- na medida em que é menos nítida a


distinção entre governantes e governados
 Certa confusão entre o político e religioso, a religião era intrinsecamente
civil, deuses e ritos da cidade- natureza compacta da comunidade
 Grande diversidade de regimes políticos.
 Igualdade cívica e liberdade política- ideia de participação política e
igualdade em termos de cidadania para esses.

O Estado Romano:

 “Civitas” romana – a cidade estado romana que vira império


o Monarquia -> República -> Império com um prínceps simbólico
 Organização jurídica e hierárquica
 Distinção entre direito publico e privado
 Noção de cidadania- como pertença ao corpo político, progressiva
extensão de direitos e na fase final uma universalização desses direitos de
cidadania- construção de uma categoria esquematizada e refletida da
cidadania na normatividade jurídica
 Jus gentium- normas reguladoras das relações em que intervêm
estrangeiros.

O Estado Medieval:

 Cristandade medieval:
o Um mundo mais fragmentado em relação ao carácter solido do mundo
romano ou do estado moderno do ponto de vista da concentração
política- fragmentação do poder
o Dispersão do poder
 Estruturação do poder político em carisma e não em regras estipuladas do
poder político- personalização e individualização do poder
 Ideia de governo limitada e com uma dimensão representativa – é
sobretudo religiosa, ética e costumeira
o Bem comum- com uma relação de bem e mal religiosa

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 Dimensão representativa mais complexa- primeiro pelos “privilegiados” a


nobreza e mais tarde o clero e uma assembleia burguesia
o Universaliza-se o sufrágio
 Costume- como fonte do direito.
o Poder central ainda era fraco

Emergência do Estado Moderno:

 A ideia de soberania: "uma comunidade política cujo poder político


reveste a forma de soberania, entendida esta (a soberania) como o poder
político supremo na ordem interna independente na ordem internacional –
na conhecida fórmula de Jean Bodin" - Melo Alexandrino, 2015
 Centraliza e concentra o poder - no centro político nas instituições
monárquicas, territorializa o poder e por fim institucionaliza o poder
o Passamos do cenário de fragmentação do estado medieval para uma
concentração do poder em primeiro caso nas monarquias europeias
 Com o arranque de construção do estado moderno tende-se para a
construção de aparelhos de poder únicos, para a formação de exércitos
estatais, um corpo de funcionários estatais dirigidos pelo príncipe e depois
tendemos também para a construção de uma ordem jurídica una
o O direito romano e o direito canónico o direito comum – passam a ser
as bases para a edificação de uma ordem jurídica una
 Passamos de um poder personalizado para um estado de territorialização
do poder - a aplicação do direito já não vive tanto em função de
particularidades costumeiras, as leis aplicam-se de forma uniforme no
território porque os estados foram criando nações e homogeneizando as
populações
o Território como património do corpo político - princípio da territorialidade
na aplicação do direito
 Da individualização do poder à institucionalização do poder - o poder
agora tende a localizar-se em instituições e as pessoas são meros
titulares de órgãos e não pessoas com poder apenas elas. As regras
vigentes ganham continuidade e há uma maior estabilidade da liderança.

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Por fim há uma diferenciação do património do Estado face ao património


pessoal do príncipe.

Evolução do Estado Moderno:

1ª 1. Estamental/Monarquias corporativas/Patrimonial (séc. XV, XVI e início


modalidade do séc, XVII)
o Realidade entre a comunidade política medieval e o pleno
desenvolvimento do Estado Modero
o Estado Estamental - os estamentos (clero, nobreza e povo) tomam
assento nas cortes e condicionam o poder real
o Estado Patrimonial- o território e os bens públicos ainda são
concebidos como património do rei
2ª 2. Absoluto/Monarquias Absolutistas (séc. XVII e XVIII-versão direito divino
modalidade dos reis ou "iluminada")
o Continuação do processo de concentração do poder na instituição real
o O Rei, convergindo com a burguesia, "desvitaliza" os poderes
concorrentes (clero e nobreza), tendendo a igualizar os súbditos. O
poder do rei deixa de estar limitado - pretensa submissão à Razão (no
Estado de Polícia - governação da polis)
o Esfera de intervenção pública alarga-se, por exemplo, à atividade
económica (mercantilismo)
o Distingue-se o estado absoluto que se reclama de uma doutrina do
direito divino dos reis de uma legitimidade teológica - de um estado
absoluto que se justifica mais em termos de conceções
tendencialmente laicas/seculares do poder.

Estado Contemporâneo/Constitucional:

 Liberal
 Génese Histórica - revolução americana (1776) e francesa (1789) -
revolução liberal portuguesa (1820)

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 Soberania passa do rei para a nação (soberania nacional e


concretamente burguesa)
o A soberania reside essencialmente na nação - o conjunto dos
cidadãos (livres e iguais)
 Parlamento eleito "veicula" a soberania nacional
o A instância maior do governo dito agora representativo
 Pretende pôr fim aos abusos de poder:
o Técnica da constituição escrita - no sentido de uma lei fundamental,
formal, escrita com um autor e uma data de uma nação reconhecíveis
e que tende para organizar os órgãos superiores do poder político e
as relações entre a comunidade política e os seus membros (a mais
visível foi a constituição americana e depois disso a francesa)
o Separação de poderes - Locke e Montesquieu
o Submissão do estado ao direito
 Princípio da legalidade – o poder executivo/administrativo não pode
violar a lei e em direitos, liberdades e garantias não pode ser
restritivo, não ser que devidamente fundamentados na lei, etc.
o Reconhecimento dos direitos fundamentais – declaração de 1789 -
direitos como homem e como cidadão
 No primeiro momento são representados como se fossem direitos
naturais - superiores ao poder político, depois no séc. XIX surge o
positivismo que diz que o direito é criado pelo homem – que não
existe uma lei natural
 Estes direitos depois vão ser vistos como emanações de algo
politicamente decidido – uma autolimitação do estado consagrado
em vários documentos que traz consigo problemas de poder ser
alterado visto que é criação do estado)
 Liberalismo económico

 Democrático e Social
 Evolução histórica
o "questão social": industrialização > proletariado
o Falhas do capitalismo

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o "questão do sufrágio universal"


o Evento da 10 GM
 Estado de Direito Social:
o Evolução do estado de direito liberal
o Alargamento do direito de voto a toda a população
o Intervenção estatal na economia para atenuar as desigualdades e
"moldar" o ciclo económico
o Em alguns estados nacionalizações e regulação detalhada da
atividade económica

 (Totalitário) Socialista
 Rutura (quase) total com o liberalismo
 Negação da separação entre o estado e a sociedade (civil, económica,
religiosa, familiar)
 Negação dos direitos fundamentais liberais
o Moldar os direitos individuais em nome do interesse coletivo - uma
finalidade exterior à individual
 Unificação do poder partido único (a vontade do líder = direito)
 Controlo total da esfera económica - coletivismo
o Tendência para abolição da esfera privada
 Estado omnipotente e omnicompetente
 Deificação da "sociedade sem classes"

 (Totalitário) Fascista
 rutura (quase) total com o liberalismo
 negação da separação entre o estado e a sociedade (civil, económica,
religiosa, familiar)
 recusa dos direitos fundamentais liberais
 unificação do poder partido único (vontade do líder = fonte de direito)
 estado omnipotente e omnicompetente
 deificação da comunidade política (estado, nação, comunidade nacional-
popular)

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o elevação da comunidade política a um estatuto de realidade divina na


terra

Estado Totalitário:

 Rutura total com o liberalismo


 Negação da separação entre o estado e a sociedade (civil, económica,
religiosa, familiar)
 Abolição prática dos direitos fundamentais liberais
 Unificação do poder - um partido único (vontade do líder = direito)
 Controlo da atividade económica
 Estado omnipotente e omnicompetente

Estado Autoritário:

 Rutura parcial com o liberalismo: sistema económico capitalista, por exp.


 Ausência de democracia - sistema de partido único (de facto)
 Estados nacionalistas do entre guerras
 Estados resultantes da descolonização
 Estados comunistas que liberalizam a economia
 De "direita" ou de "esquerda"

CONCEÇÕES SOBRE O ESTADO

Na época moderna, o poder político assumiu a forma dominante de "Estado


soberano", A partir da segunda metade do século XX, surgem novas formas de
organização política transnacional (ONU e a UE, são exemplos
paradigmáticos), superadoras do modelo estatal e que, requerem uma reflexão
autónoma quanto à origem do seu poder. No entanto, o poder que as mesmas
possuem ainda resulta e depende dos Estados que delas fazem parte.

Nenhum regime político, ainda que não democrático, pode subsistir


duradouramente sem a obediência e aceitação, da maior parte da população. A
relação de poder é sempre, de algum modo, consentida. Esse consentimento
pode exprimir-se em eleições ou na não revolta contra um regime autocrático.

Max Weber tem 3 modos de distinguir o poder, sendo eles:

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o Poder Carismático- um conjunto de qualidades pessoais do governante (o


carisma), que implicam a sua aceitação;
o Poder Tradicional- resulta, da tradição: os governados aceitam obedecer
aos comandos do governante na medida em que o mesmo foi designado e
exerce o poder pela forma costumeira.
o Poder Legal-racional- existência de leis que atribuem competências a
órgãos determinados, o ato deve ser praticado pelo legítimo titular do órgão.

Ao longo da história, foram propostos vários princípios normativos de


justificação do poder: legitimidade divina (Deus) ou democrática, legitimidade
dinástica (tradição) ou revolucionária (progresso), ou ainda legitimidade da
natureza.

Autores da origem contratual da sociedade política (consentimento originário):


Thomas Hobbe, Bento Espinoza, John Locke, Immanuel Kante e Jean-Jacques
Rousseau, propuseram uma conceção diferente.

 Aristóteles - séc. IV A.C.


o O homem é um animal político. Só é legítimo o poder político que
prossiga o bem comum;
o Incute a ideia da natural participação do ser humano na sociedade e da
submissão do homem aos detentores do poder político - origem natural da
sociedade política;
o Um homem que viva separado da sociedade ‘’é um deus ou um bicho’’.

 S. Tomás - séc. XIII


o Conjuga a visão naturalista e a visão contratualista do poder político;
o O homem é um animal social e político;
o Só é legítimo o poder político que prossiga o bem comum;
o ‘’aquilo que é necessário para que os homens não apenas vivam, mas vivam
bem’’.

 Hobbes - 1588 a 1679


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o Monarquia Autoritária;
o Se todos os homens fossem libertados das amarras do poder político,
cair-se-ia num estado de natureza primordial: ‘’um estado de natureza de
guerra de todos contra todos’’, ‘’o homem é o lobo do homem’’;
o Contratualista do tipo absolutista (justificado pela necessidade de evitar o
summum malum);
o A mera existência de um poder que garanta a sua vida e segurança basta
para legitimar a respetiva existência.

 John Locke - 1632 a 1704


o Democracia Liberal;
o Se todos os homens fossem libertados das amarras do poder político,
cair-se-ia num estado de natureza primordial: ‘’um estado de natureza de
relativa cooperação e comércio com reconhecimento de certos direitos
naturais’’.
o A sujeição ao poder do estado apenas se justifica desde que o mesmo
respeite e garanta o respeito pelos direitos naturais de cada um.

 Jean-Jacques Rousseau - 1712 a 1778


o Democracia Totalitária;
o ‘’o homem nasceu livre e em toda a parte vive aprisionado. [...] como é
que se deu esta modificação? Ignoro-o. O que pode torná-la legítima?
Creio poder resolver este problema.’’- o contrato social.
o Quando o autor afirma que os seres humanos vivem aprisionados, refere-
se à sujeição dos seres humanos ao poder político.
o Não se trata de libertar o homem, mas de justificar o poder político.
o O soberano é democraticamente eleito pelos cidadãos, pelo que ‘’não tem
qualquer interesse contrário aos deles’’, não sendo necessário
estabelecer-se limites a sua atuação (está aqui presente a ilusão de que
os abusos de poder verificados em regimes monárquicos serão
prevenidos nos regimes democráticos). No entanto, nada impede uma
maioria de violar os direitos de uma minoria.

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2. Os elementos, as funções e as finalidades do Estado

FINS DO PODER POLÍTICO

O poder político existe porque se verificou ser historicamente indispensável à


imposição e manutenção da paz em sociedade.

Assim sendo, os fins do Estado são:


o Garantia da paz- cujo não cumprimento acarreta a própria destruição do
Estado.
o Administração da Justiça- os tribunais do estado, surgem historicamente
como alternativa à realização da justiça “pelas próprias mãos”. Estes podem
colocar em causa a ordem pública e a paz social.
o Bem-Estar- os Estados tentam assegurar a prestação de serviços de saúde
e de educação, garantindo a segurança no desemprego e na velhice.

 A justiça: John Rawls


o Se os cidadãos forem colocados numa ‘’posição original’’ em que deveriam
escolher os princípios de justiça fundamentais que passariam a reger a
distribuição dos bens, sobre os cidadãos cairia um ‘’véu da ignorância’’ que
os impediria de conhecer a respetiva posição social, de modo a impedir que
a sua escolha tivesse em conta essa posição.

Os princípios que seriam escolhidos seriam os seguintes:


o Princípio da Liberdade- impõe uma distribuição igual do bem liberdade;
o Princípio da Igualdade Equitativa de Oportunidades- postula uma
intervenção estatal corretiva das desigualdades iniciais de oportunidades;
o Princípio da Diferença- prescreve que qualquer desigualdade económica é
apenas justificada se acabar por beneficiar os mais desfavorecidos.

Deste modo, uma das origens do poder político é esta: a existência de


interesses públicos.

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A legitimação do poder político depende, da legitimidade e da eficácia do


exercício do poder. O poder político legitima-se pela designação dos seus
titulares através de eleições, pelo respeito dos princípios do estado de direito e
pela garantia mínima da paz social, da administração da justiça e do bem-estar
da população.

ELEMENTOS DO ESTADO

Estado (comunidade política) - consiste num povo fixado num determinado


território que institui vontade própria dentro do mesmo, poder político
relativamente autónomo.

 Quando o professor fala de ESTADO refere-se aos sentidos fundamentais


(comunidade política), fenómeno universal da comunidade política, evolução
e caraterização das sociedades mais complexas.

Estado- uma comunidade composta por um povo, sediado num território,


exercido por um poder político.

o Elementos do Estado:
 Povo;
 Território;
 Poder Político.

 Povo

Conjunto de pessoas ligadas ao Estado pelos laços da cidadania ou da


nacionalidade.

Conjunto de pessoas que estão vinculadas ao Estado por um estatuto de


cidadania. A cidadania confere-lhes direitos e deveres perante a sociedade.

O povo é um conjunto de pessoas que estão vinculados ao Estado por um


estatuto de cidadania. A cidadania confere-lhes direitos e deveres perante a
sociedade.

Dentro do conceito de povo existem alguns conceitos, a saber:

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População- abrange, para além dos cidadãos residentes em território nacional,


também os estrangeiros e apátridas aí residentes, assim como a designada
população flutuante, composta por turistas e visitantes (demográfica e
económica).

Povo- conjunto dos cidadãos, independentemente do local de residência, quer


residam em território nacional ou no estrangeiro (cfr.Art.14º CRP).

Nação- Conjunto de pessoas que partilham o sentimento de pertença a uma


comunidade, à qual pretende constituir-se em estado, onde partilham religião,
língua, etnia, tradições ou costumes (cultural).

Pátria- terra natal ou adotiva do Homem, que se sente ligado por vínculos
afetivos, culturais, entre outros.

Relativamente à aquisição da cidadania depende da verificação de uma


conexão relevante entre um cidadão e um estado.

Destacam-se dois critérios de atribuição de Cidadania:

 Ius Sanguinis- critério associado à filiação;


 Ius Soli- critério associado ao local do nascimento.

O art.4º da CRP, prescreve que são cidadãos portugueses todos aqueles que
como tal sejam considerados pela lei ou por convenção internacional.

A nacionalidade portuguesa pode ser adquirida por:

o Originária- A nacionalidade advém de ato ou facto jurídico reportado ao


momento do nascimento. Produz efeitos desde o nascimento (art.11º LN), ou
seja, ainda que um indivíduo tenha manifestado a vontade de ser português
num período posterior ao do seu nascimento, os efeitos da aquisição da
nacionalidade portuguesa retroagem ao momento em que nasceu. Esta
subdivide-se em dois modos:

 Por mero efeito da lei (automaticamente)- este modo prescinde de uma


manifestação de uma vontade por parte do indivíduo, tendo lugar de
forma direta e imediata, após o preenchimento dos requisitos plasmados

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na Lei da Nacionalidade. Podemos destacar quatro fundamentos de


aquisição da nacionalidade:
 Combinando os critérios do ius sanguinis e do ius soli: são portugueses
de origem “os filhos de mãe portuguesa ou de pai português nascidos
no território nacional” (art.1º al. a), da LN).
 Realçando o critério do ius sanguinis e a especial ligação do progenitor
ao Estado português, a LN considera portugueses de origem “os filhos
de mãe ou pai português nascidos no estrangeiro se o progenitor aí se
encontrar ao serviço do Estado português.” (art.1º al. b) da LN).
 Usando o critério duplo ius soli, são, igualmente, portugueses de
origem “os indivíduos nascidos no território português, filhos de
estrangeiros, se pelo menos um dos progenitores também aqui tiver
nascido e aqui tiver residência, independentemente de título, ao tempo
do nascimento.” (art.1º al. e) da LN), isto é, exige-se o nascimento em
território português do interessado em adquirir a nacionalidade
portuguesa e do próprio progenitor. Esta disposição pretende promover
a integração no Estados português dos “imigrantes de terceira
geração.”.
 Baseando-nos numa “cláusula antiapatridia”, são portugueses de
origem “os indivíduos nascidos no território português e que não
possuam outra nacionalidade.” (art.1º al. g) da LN). Este critério
procura evitar a situação de apatridia, isto é, de ausência de
nacionalidade.

 Por efeito da lei e da vontade- este modo exige, não só o


preenchimento dos requisitos plasmados na lei da nacionalidade, mas
também a manifestação de vontade do indivíduo na aquisição da
nacionalidade portuguesa. De acordo com este critério, serão cidadãos
portugueses originários:
 “Os filhos de mão portuguesa ou de pai português nascidos no
estrangeiro se tiverem o seu nascimento inscrito no registo civil
português ou se declararem que querem ser portugueses.” (art.1º al. c)
da LN). Além de atestar a concretização do critério do ius sanguini, é
clara a incidência da lei e da vontade. Em especial, a vontade pode ser

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expressa ou tática. É considerada expressa quando o indivíduo declare


que quer ser português, e será tático quando o individuo, caso tenha
havido uma inscrição do interessado no registo civil português, isto é,
do facto da inscrição no registo deduz-se a vontade de ser português.
 “Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros
que não se encontrem ao serviço do respetivo Estado, se declarem que
querem ser portugueses e desde que, no momento do nascimento, um
dos progenitores aqui resida legalmente há pelo menos cinco anos.”
(art.1º al. f) da LN). Manifesta-se ainda o critério do ius soli, na
referência direta ao nascimento no território português e o princípio da
vontade pode ser encontrado no facto de se exigir uma declaração de
vontade de adquirir a nacionalidade portuguesa.

o Derivada- Nacionalidade adquire-se por ato ou facto jurídico que se reporta


ao momento ulterior ao nascimento. Produz efeitos a partir da data do
registo dos atos ou factos de que dependem (art.12º LN), sendo
consequentemente, efeitos prospetivos, isto é, produzem apenas para o
futuro. Assim sendo, a aquisição derivada de nacionalidade subdivide-se em
aquisição:
 Por efeito da vontade- exige-se, a acrescer ao cumprimento de
determinados requisitos legais, uma declaração de vontade de adquirir a
nacionalidade portuguesa. Podem então adquirir nacionalidade
portuguesa:
 “Os filhos menores ou incapazes de pai ou mão que adquira a
nacionalidade portuguesa podem também a adquirir, mediante
declaração.” (art.2º da LN).
 “O estrangeiro casado há mais de três anos com nacional português
pode adquirir a nacionalidade portuguesa mediante declaração feita na
constância do matrimónio.” (art.3º, nº1 da LN). Aplica-se de igual modo
às uniões de facto, desde que esta situação seja reconhecida mediante
uma ação interposta no tribunal civil. (art.3º, nº3 da LN).
 Os incapazes que tenham perdido a nacionalidade portuguesa durante
o período de incapacidade poderão adquiri-la de novo, mediante

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declaração, assim que adquirirem ou recuperarem capacidade. (art.4º


da LN).
 Pela adoção- de acordo com o art.5º da LN aquele que seja adotado por
um nacional português, desde que tenha sido uma adoção plena, pode
adquirir nacionalidade portuguesa. Trata-se de uma aquisição que
prescinde de qualquer declaração de vontade, produzindo-se por um
mero efeito da lei.
 Por naturalização- a naturalização é concedida, a requerimento do
interessado, por decisão do Ministro da Justiça (art.7º, nº1 da LN), e não,
como anteriormente, pelo ministro da administração interna. Este constitui
o único método que resulta de uma decisão de um órgão da
Administração Pública, pelo que se pode dizer que está aqui em causa a
aquisição por efeito da lei, da vontade e de ato administrativo. A redação
atual da Lei da Nacionalidade permite-nos propugnar a existência de um
direito de naturalização, na medida em que a nacionalidade portuguesa
terá, por força da lei, de ser concedida a estrangeiros que preencham os
requisitos exigidos no art.6º, nº1 da lei referida e o mesmo acontece se
preencherem os requisitos impostos nos nº 2, 3 ou 4 do mesmo art.

Apenas podem perder a nacionalidade portuguesa aqueles que, possuindo


outra nacionalidade além da portuguesa, declararem que a desejam perder
(art.8º LN). Sendo assim, a perda da nacionalidade portuguesa assenta em
duas premissas cumulativas:

o É necessário um ato voluntário do nacional português;


o Só poderá ter lugar na hipótese de este ser nacional de outro Estado, ou
seja, possuir dupla nacionalidade, de modo a impossibilitar a situação de
apatridia.

 Território

O território consiste no espaço geográfico, onde o poder soberano se faz


exercer.

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O território é um elemento intrínseco da noção de Estado, uma vez que é


impossível pensar num Estado sem território; apresenta-se como um elemento
fundamental na construção do Estado, podendo dizer-se que a configuração
política do mundo assenta no princípio territorial. O território, por sua vez, é
quem estabelece as fronteiras de ação estadual.
Podemos definir território como o espaço onde o Estado exerce o poder
soberano, no que diz respeito às pessoas que nele se encontram.
Os territórios dos diversos Estados são delimitados pelas linhas de fronteiras,
as quais constituem linhas contínuas e fechadas, apesar de que nem sempre
foi necessária esta condição para definir fronteira. O território, sendo fechado
pela linha de fronteira, não tem de ser contínuo, podendo ser constituído por
parcelas territoriais separadas, como ilhas ou enclaves no território de outros
Estados, nomeadamente, o território português (Açores e Madeira) que é
descontínuo.
O território pode ser adquirido por:

Via Originária- O território não pertencia a nenhum Estado. Assumindo-se que


à data da aquisição, não é exercido sobre este território um poder estadual,
correspondendo este a uma res nullius (“coisa de ninguém”).

A aquisição originária pode ter lugar mediante:


 Ocupação- quando o território adquirido já tinha existência física, mas o
Estado que o ocupa será o primeiro a ter jurisdição sobre ele.
 Acessão- resulta de um acréscimo do território de um Estado, provocado
por factos naturais ou por intervenção humana.

Modo Derivado- Anteriormente era exercido um poder soberano sobre o


território adquirido, ou seja, se o território em causa tiver pertencido a um outro
Estado.
A aquisição derivada pode ocorrer mediante:
 Cessão- traduz-se na transferência consensual de uma parcela de território
de um Estado para outro, consagrada num acordo internacional,
denominado acordo de paz.
 Sucessão de Estados- pode resultar de uma fusão de dois ou mais Estados
ou da secessão de um Estado.

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Existem três modalidades de território:

 Domínio Terrestre: corresponde à parte do território constituído por terras


emersas (contínuas ou descontínuas); massa de terra seca, continental ou
insular, onde o Estado, os seus órgãos e os cidadãos desenvolvem a sua
atividade.
O domínio terrestre inclui ainda, as águas interiores (situadas no interior da
linha de baixa-mar), o domínio fluvial (constituído por cursos de água dentro
das fronteiras de um Estado) e o domínio lacustre (abarca lagos, baías
interiores).
 Domínio Marítimo: abrange a porção de água salgada que circunda o
espaço terrestre podendo, em alguns casos, abranger o solo e o subsolo
marítimos.
O domínio marítimo de cada Estado costeiro é composto por diferentes
áreas, sendo elas, o mar territorial (porção de água salgada entre a linha de
baixa-mar e o limite exterior de 12 milhas, a partir do limite exterior das
águas interiores), zona contígua (espaço delimitado entre as 12 e as 24
milhas a seguir ao mar territorial em que o Estado costeiro, tem o poder de
exercer poderes de fiscalização com vista a evitar ou reprimir violações às
suas leis e regulamentos internos) e a zona económica exclusiva (espaço
marítimo delimitado entre as 12 e as 200 milhas, a seguir ao mar territorial,
em que o Estado exerce direitos preferenciais de aproveitamento dos
recursos biológicos vivos aí existentes, para além dos poderes de jurisdição
e fiscalização) e plataforma continental.
 Domínio Aéreo: espaço sobrejacente ao território terrestre e ao mar
territorial. Este domínio tem como limite a atmosfera. É importante referir que
o espaço exterior da atmosfera (para além), de acordo com a Resolução
XVIII, de 1962, é património da humanidade.

 Poder Político

O poder soberano é um poder político.

19
Ema Glória

O poder político consiste, originariamente, na capacidade de impor pela força,


aos indivíduos membros de um grupo social, a adoção de um determinado
comportamento.

O poder político, está dividido em órgãos de soberania e estes devem


encontrar-se separados e organizados para evitar que o mesmo Homem
integre dois poderes do Estado (separação pessoal de poderes). Com isto,
existem os órgãos do poder político, sendo eles, o Presidente da República
(PR), a Assembleia da República (AR), o Governo e os Tribunais (Art.110º, nº1
CRP).
A formação, a composição, a competência e o funcionamento dos órgãos de
soberania encontram-se plasmados na CRP, cfr Art.110º, nº2.
Assim, ir-se-á abordar alguns aspetos que se consideram relevantes, acerca de
cada órgão de soberania.

Presidente da República (cfr.Art.120º-146º CRP)


 Representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a
unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas
e é, por inerência, o Comandante Supremo das Forças Armadas
(cfr.Art.120º CRP).
 Eleito por sufrágio universal direto e secreto dos cidadãos portugueses
eleitores recenseados no território nacional, bem como os cidadãos
portugueses residentes no estrangeiro (cfr.Art.121º CRP).
 São elegíveis os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35
anos (cfr.Art.122º CRP).
 As candidaturas são propostas por um mínimo de 7 500 e um máximo de 15
000 cidadãos eleitores e as mesmas devem ser apresentadas até trinta dias
antes da data marcada para a eleição, perante o Tribunal Constitucional
(cfr.Art.124º CRP).
 É eleito candidato quem obtiver mais de metade dos votos validamente
expressos, não se considerando como tal os votos em branco (cfr.Art.126º
CRP).
 O Presidente eleito toma posse perante a Assembleia da República e efetua-
se no último dia do mandato do Presidente cessante (cfr.Art.127º CRP).

20
Ema Glória

 O mandato do Presidente da República tem a duração de cinco anos e


termina com a posse do novo Presidente eleito (cfr.Art.128º CRP).
 As competências do PR, que se circunscrevem apenas à função política do
Estado, estão definidas na CRP segundo um critério que distingue entre
competência quanto a outros órgãos (cfr.Art.133º), competência para a
prática de atos próprios (cfr.Art.134º) e competência nas relações
internacionais (cfr.Art.135º).
 O órgão político de consulta do PR é o Conselho de Estado (cfr.141º CRP).

Assembleia da República (cfr.Art.147º-181º CRP)


 Representa todos os cidadãos portugueses (cfr.Art.147º CRP).
 Mínimo: 180 deputados
Máximo: 230 deputados
 Os deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos
na lei e o número de deputados por cada círculo plurinominal do território
nacional, excetuando o círculo nacional, quando exista, é proporcional ao
número de cidadãos eleitores nele inscritos (cfr.Art.149º CRP).
 São elegíveis os cidadãos portugueses eleitores (cfr.Art.150º CRP).
 A apresentação de candidaturas está reservada aos partidos políticos que
podem concorrer isoladamente ou em coligação e pode ainda incluir
cidadãos independentes nas suas listas (cfr.Art.151º CRP).
 Os deputados representam todo o país e não os círculos porque são eleitos
(cfr.Art.152º CRP).
 O mandato dos Deputados inicia-se com a primeira reunião da Assembleia
da República após eleições e cessa com a primeira reunião após as eleições
subsequentes (cfr.Art.153º CRP).
 A AR é titular de competências próprias das funções legislativa, que abrange
todas as matérias, salvo as reservadas pela CRP ao Governo (cfr.Art.161º,
164º e 165º CRP); política (cfr.Art.161º CRP) e de fiscalização (cfr.Art.162º
CRP).
 A AR é um órgão complexo, pois comporta vários órgãos internos: o PR
(cfr.Art.175º e 176º CRP), Mesa da Assembleia da República (Art.175º
CRP), Comissão Permanente (Art.179º CRP), Comissões Parlamentares-
comissões especializadas permanentes (Art.178º, nº1 CRP), comissões

21
Ema Glória

eventuais de inquérito (cfr.Art.178º, nº1, 4, 5 CRP) e outras comissões


eventuais (cfr.Art.178º, nº1 CRP) - Grupos Parlamentares (cfr.Art.180º CRP)
e a Conferência de Líderes dos Grupos Parlamentares (cfr.Art.20º RegAR).

Governo (cfr.Art.182º- 201º CRP)


 Órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da
administração pública (cfr.Art.182º CRqa1P).
 É constituído por: Primeiro-Ministro, Ministros, Secretários de Estado,
Subsecretários de Estado e ainda pode incluir 1 ou mais Vice-Primeiros-
Ministros (cfr.Art.183º CRP).
 Os membros do Governo são designados por um procedimento complexo
que comporta as seguintes fases: nomeação pelo PR (cfr.Art.187º CRP),
apresentação do Programa do Governo à AR (cfr.Art.188º CRP) e
apreciação do mesmo (cfr.Art.192º CRP).
 O Governo é também um órgão colegial e complexo que comporta no seu
interior os seguintes órgãos internos: o Conselho de Ministros (cfr.Art.184º -
200º CRP), Primeiro-Ministro (cfr.Art.200º CRP), Ministros (incluindo os
eventuais Vice-Primeiros-Ministros, cfr.Art.201º CRP), Secretários e
Subsecretários de Estado, Conselho de Ministros especializados em razão
da matéria e a Reunião de Secretários de Estado.
 O Governo (colegialmente) é titular de competência política (cfr.Art.197º
CRP), de competência legislativa (cfr.Art.198º CRP) e de competência
administrativa (cfr.Art.198º CRP), enquanto que os membros do Governo
(individualmente) são titulares apenas de competências políticas e
administrativas (cfr.Art.200º CRP).

Tribunais (cfr.Art.202º - 224º CRP)


 Têm competência para administrar a justiça em nome do povo; na
administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos
direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação
da legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e
privados (cfr.Art.202º CRP).
 Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei (cfr.Art.203º
CRP).

22
Ema Glória

 Existem diversas categorias de tribunais (cfr.Art.209º CRP):


- Tribunal Constitucional;
- Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de 1ª/2ª instância;
- Supremo Tribunal Administrativo e os demais tribunais administrativos e
fiscais;
- Tribunal de Contas;
- Podem existir, ainda tribunais marítimos, arbitrais e julgados de paz.
 Os tribunais têm três instâncias, cfr.Art.210ºCRP:
- 1ª Instância: Tribunais de Comarca;
- 2ª Instância: Tribunais da Relação;
- 3ª Instância: Supremo Tribunal de Justiça.
 Quem nomeia, promove, transfere e coloca os juízes é uma entidade
independente dos juízes, ou seja, o Conselho Superior de Magistratura
(cfr.Art.217º CRP).
 O Conselho Superior de Justiça é presidido pelo Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça e pelos seguintes vogais (cfr.Art.218º CRP):
- 2 designados pelo PR;
- 7 eleitos pela AR;
- 7 juízes eleitos pelos seus pares.

FUNÇÕES DO ESTADO

Entende-se por “funções” do Estado, os diferentes tipos de atividades


através das quais os órgãos estatais prosseguem os fins (paz e ordem social,
administração da justiça e garantia do bem-estar). Os tipos de atividades a que
se referem as funções do Estado são variados. O Estado exerce duas funções,
a Função Constituinte (que diz respeito à Constituição) e a Função Constituída
(o que a Constituição permite fazer). A Função Constituída é formada pelas
funções política, administrativa, legislativa e jurisdicional.
A função política (em sentido amplo, incluindo a governativa e a legislativa),
é função primária do estado e impõe o cumprimento das leis e os interesses
públicos (votar; que a Assembleia aprove o Governo, etc.). Existem diferentes
sistemas políticos, de entre os quais o presidencial, o semipresidencial e o
parlamentar.

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Ema Glória

A função administrativa, função secundária do estado, visa o quotidiano e a


satisfação das necessidades da população num plano de segurança, cultura e
bem-estar, através, por exemplo, de serviços públicos para isso dotados. Existe
administração direta e indireta do estado, bem como a autónoma. Pelo artigo
182º da CRP o governo é o órgão de condução da política geral do país e o
órgão superior da administração pública.
A função jurisdicional, uma outra função secundária do estado, trata da solução
de litígios para garantir a paz nacional. Há quem saliente mais essa função de
construção da paz social outros o aspeto da justiça, de determinar e dar a cada
um o que é seu.
As funções legislativas políticas (funções primárias e independentes) definem o
interesse público. As funções administrativas jurisdicionais (funções
secundárias e dependentes) realizam o interesse público.

FINS DO ESTADO

O Estado tem um mínimo teleológico de três fins, três finalidades que guiam a
sua atuação, sendo elas a Paz e Ordem social, a Administração da Justiça e a
Garantia do Bem-Estar. A saber – a garantia de paz e ordem social são
essenciais, caso não se observe o cumprimento das normas que garantem
estes fins, estes acarretam a própria destruição do Estado. A administração da
justiça, em que ser justo é dar a cada um o que lhe pertence, ou seja, traduz-se
no seguinte: justo é que cada um receba o que lhe compete (sanções para os
culpados, entre outros). Os tribunais do Estado, surgem historicamente como
alternativa à realização da justiça “pelas próprias mãos”. Estes podem colocar
em causa a ordem pública e a paz social. A garantia do bem-estar, os Estados
tentam assegurar a prestação de serviços de saúde e de educação, garantindo
a segurança no desemprego e na velhice. O poder político existe porque se
verificou ser historicamente indispensável à imposição e manutenção da paz
em sociedade.

3. As Formas de Estado

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Ema Glória

ORGANIZAÇÕES DE ESTADOS

- Organizações permanentes fundadas por Estados

- Institucionalização da cooperação entre os Estados, em determinados


domínios

Manifestam vontade própria, distinta da de cada um dos Estados-membros.


São criadas por convenção internacional: órgãos, modo de funcionamento,
competências.

Tipos de Organizações internacionais

- Gerais/Especiais (fins delimitados):

- Universais/Regionais

- Intergovernamentais ou de cooperação/supranacionais ou de subordinação


Intergovernamentais - as decisões destas organizações requerem, para serem
adotadas, o voto unânime dos Estados membros;
Supranacionais – estas organizações acham-se em condições de poder adotar
atos que vinculam juridicamente os Estados-membros, ainda que algum ou
alguns destes se tenham oposto à sua adoção.

União Europeia

União Europeia: organização internacional de caráter supranacional,


confederação, Federação “clássica”, Federação de Estados Soberanos?
Atribuições em contínuo alargamento…

Instituições da União Europeia

Art. 13.º TUE

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Ema Glória

- Conselho Europeu (art. 15.º TUE)

- Conselho de Ministros ou Conselho da União Europeia (art. 16.º TUE)

- Parlamento Europeu (art. 14.º TUE)

- Comissão Europeia (arts. 17.º e 18.º TUE)

- Tribunal de Justiça da União Europeia (art. 19.º TUE)

- Banco Central Europeu (282.º e 283.º TFUE)

- Tribunal de Contas (arts. 285.º a 287.º TFUE).

FORMAS DE ESTADO

Estado Unitário

No Estado Unitário existe apenas um poder soberano e apenas uma


Constituição (artigo 110° nº1).
Conforme tenham sofrido uma descentralização ou não, podem surgir dois
tipos de Estado. Caso tenha sofrido uma descentralização falamos em Estado
Regional, caso não tenha sofrido uma descentralização falamos em Estado
Centralizado.
No Estado Regional existem regiões que exercem funções politico-legislativas,
podendo emanar atos com força de lei em determinadas matérias, para além
de exercerem igualmente funções administrativas. O Estado Regional pode
ainda ser:
 Parcial: situação em que o Estado apenas concede a autonomia regional à
comunidade que vive nessa parte.
 Integral: situação em que todo o território está dividido por regiões
autónomas.

Ainda quanto ao Estado Regional, as regiões autónomas que fazem parte de


um Estado podem ter sido dotadas dos mesmos poderes, falando-se assim de
um Estado Regional homogéneo, caso exercem poderes distintos, falamos de
um Estado Regional heterogéneo. No Estado Centralizado, a totalidade das
funções políticas estão concentradas no Estado. No entanto, pode existir uma
descentralização meramente administrativa.

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Ema Glória

A Forma Unitária do Estado Português

Segundo o artigo 6º da CRP, Portugal é declarado como um Estado Unitário.


No sistema político português existe um único Estado, uma Constituição e um
sistema de órgãos políticos para todo o território nacional, sendo por isso
considerado um Estado Unitário Regional parcial e homogéneo, que está
integrado numa federação de Estados, a União Europeia.
A unidade do Estado está prevista no artigo 2889º da CRP a partir dos limites
materiais da revisão.
Esta unidade do Estado não pode ser afetada pelas alterações que se
introduzem na Constituição.
Estado Federal

O Estado Federal é um Estado composto por vários Estados.


Os Estados Federais são o resultado da agregação de Estados, que até aí
eram independentes. Mais tarde surgiram casos inversos, ou seja, a
transformação de um Estado Unitário num Estado Federal.
Os Estados Federais caracterizam-se por, ao contrário das confederações,
possuírem poderes soberanos que lhes foram entregues pelos Estados
Federados através de uma Constituição Federal.
Existem dois tipos de níveis estatais. O nível superior do Estado Federal e o
nível inferior dos Estados Federados. Ambos os níveis de Estados têm a sua
própria Constituição e em ambos os níveis se encontram conjuntos de órgãos
aptos a desempenharem as funções governativa, legislativa, administrativa, …

Os estados compostos

O Estado federal é Estado composto por vários Estados. O Estado federal não
é a única categoria do Estado composto: há também a união real e união
pessoal. A primeira união é quando um território adquire órgãos de governo
próprios e consegue ser levado juridicamente à categoria de Reino mas a
coroa continua a ser uma instituição comum aos vários Estados e diversos
domínios da governação continuam a ser regidos de maneira igual para ambos
os Estados e a segunda união é quando em dois Estados há uma pessoa física
simultaneamente titular da coroa de cada um desses Estados mas os orgãos
mantêm-se separados.
27
Ema Glória

O surgimento dos Estados federais: as confederações

Inicialmente, os Estados federais resultaram da agregação de Estados até ai


independentes. Depois surgiram casos do inverso: a transformação de um
Estado unitário num Estado federal.
Quanto às confederações, não se trata de Estados, mas de associações de
Estados. Não possuem poderes soberanos- estes permanecem todos nas
mãos dos Estados membros.
As alterações têm de ter necessariamente uma decisão unitária de todos os
Estados-membros. As confederações são um estádio intermédio na evolução,
entre a total independência de certos Estados e a sua junção num Estado
federal ou num Estado unitário. Noutra hipótese, trata-se de um estádio
intermedio no caminho de dissolução de um Estado federal num conjunto de
Estados independentes. A figura da confederação permanece por dois motivos.
Primeiro, porque constitui uma hipótese qualificativa da União Europeia e de
todos os fenómenos de integração supranacional que já não possam ser
qualificados como organizações internacionais e ainda não possam ser
qualificados de Estados federais. Segundo, porque permite melhor entender a
figura de Estado
federal.

Características do Estado Federal

Ao contrário das confederações, o Estado federal possui poderes soberanos,


que lhes foram entregues pelos Estados federados através de uma constituição
federal. Ao contrário das confederações, as alterações a esta apenas
necessitam de ser aceites pela maioria.
No Estado federal, existem dois níveis estatais: o nível superior do Estado
federal e o nível inferior dos Estados federados. Quer o Estado federal quer os
Estados federados possuem a sua própria constituição – ambos têm órgãos
aptos a desempenhar as funções governativa, legislativa, administrativa e
instrumentos fácticos do poder, típicas do Estado soberano – estão assim,
todas as pessoas desse território, sujeitas simultaneamente aos dois aparelhos
estatais de poder.

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Ema Glória

Os dois tipos e estados são detentores da soberania. Se isso não acontecesse


terias duas ocasiões: a primeira se apenas os Estados federados fossem
soberanos, poderiam sair da associação quando quisessem e ter-se-ia uma
confederação ou uma organização internacional. A segunda se apenas os
Estados federais (centrais) tivessem a soberania:
poderia alterar a constituição federal quando quisesse e poderia extinguir
certos poderes dos outros, passando a existir um Estado unitário.
Num Estado federal, ao invés, a própria Constituição federal garante os direitos
e poderes dos Estados federados; em como estes têm de dar consentimento á
alteração da mesma.

Diferenças entre o Estado Federal e o Estado Regional

O Estado Regional integral é constituído por regiões que são criadas e podem
ser extintas pelo Estado Central, que elabora os seus estatutos fundamentais.
Os Estados Federados precedem e criam nos casos típicos, o Estado Federal,
sendo soberano na elaboração dos seus estatutos jurídicos fundamentais, ou
seja, a Constituição.

A FORMA DO ESTADO PORTUGUÊS

Portugal é um Estado unitário regional (parcial e homogéneo), onde a


constituição proíbe a transformação de Portugal num Estado federal –
existência de um “regime autonómico insular”. Mas a proibição não significa
que não se possa integrar numa realidade “proto-federal” como a União
Europeia. Portugal é um Estado unitário (regional parcial e homogéneo)
integrado numa federação de Estados (a União Europeia).

4. Direito Público: conceito e princípios

CONCEITO DE DIREITO PÚBLICO

O Direito Público é, antes de mais, Direito. Trata-se, portanto, de uma parte da


ordem jurídica, sistema complexo constituído por normas que visam conformar
o comportamento das pessoas e que são interpretadas e aplicadas
quotidianamente pelos seus destinatários (tribunais e outras entidades

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Ema Glória

públicas). O Direito Público não é um ramo do direito, mas sim um agregado de


vários ramos do ordenamento jurídico. Existe ao lado do Direito Privado que
também agrupa diversos ramos jurídicos.

A bipartição do Direito, em privado e público, pode ser entendida como uma


diferenciação estrutural na ordenação normativa da sociedade. Os princípios
fundamentais do direito privado, a igualdade e a liberdade (a chamada
“autonomia privada”), não desempenham o mesmo papel no direito público.
Pelo facto de existirem certas organizações, que historicamente, assumiram
consideráveis poderes sobre os indivíduos e as suas associações, surgem
normas jurídicas destinadas a essas específicas organizações e não a todos os
indivíduos e associações- normas de Direito Público. Estas normas visam
limitar e dirigir o poder detido por essas organizações, impedindo o seu
exercício livre, arbitrário.

Enquanto o direito privado reconhece a todas as pessoas a mesma capacidade


jurídica e lhes confere em geral um igual tratamento (princípio da igualdade), o
direito público concede às entidades públicas poderes de autoridade sobre
sujeitos privados ou entidades públicas (princípio da supra infra ordenação).

O direito privado permite que os respetivos destinatários façam tudo o que não
for proibido (princípio da autonomia privada); o direito público proíbe às
entidades públicas todas as atuações que não sejam permitidas (princípio da
legalidade).

Direito Privado: dirige-se a sujeito específicos, permitindo-lhes exercício de


poderes específicos para a prossecução de interesses específicos (da
comunidade).

Direito Público: dirige-se a sujeitos comuns, reconhecendo-lhes poderes


comuns para a prossecução dos seus próprios interesses.

O Direito Público é, desta forma, um Direito autónomo em relação ao Direito


Privado, por tratar de forma especial determinadas entidades (pessoas
coletivas públicas), concedendo-lhes poderes de autoridade e impondo-lhes
deveres especiais de atuação, tendo em vista a prossecução dos interesses
públicos.

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Ema Glória

DIREITO PÚBLICO

 É um dos “hemisférios” do Direito  O outro sendo constituído pelo Direito


Privado.
 Ramos do Direito, que são Direito Público:
o Direito Constitucional
o Direito Administrativo
o Direito Penal
o Direitos processuais (civil, penal, etc.)
o E ainda, em grande medida: o Direito Internacional Público e o Direito da
União Europeia

Direito Público (noção sintética)

 Direito que se diferencia do Direito Privado,


 por tratar de forma especial determinadas entidades (as pessoas coletivas
públicas),
 concedendo-lhes poderes de autoridade e
 impondo-lhes deveres especiais de atuação,
 tendo em vista a prossecução dos interesses públicos.

Direito Público/Direito Privado: Critérios de distinção

 Critério do Interesse: as normas de direito público protegem diretamente


interesses públicos: respeitantes, designadamente, à existência, à
conservação e ao desenvolvimento da sociedade política.
 Critério do Sujeito da Relação Jurídica: o direito público refere-se a relações
tendo como sujeito o Estado ou outra pessoa coletiva dotada de autoridade
(política/pública).
 Critério da Posição dos Sujeitos na Relação Jurídica: o direito público refere-
se a relações jurídicas tendo como sujeito o Estado ou outra pessoa coletiva
dotada de autoridade (política/pública) e intervindo estes enquanto munidos
dessa autoridade.

31
Ema Glória

Direito Público versus Direito Privado

 Às pessoas privadas o Direito atribui poderes comuns, para a prossecução


dos seus interesses privados. As pessoas coletivas públicas não são
consideradas iguais às pessoas privadas: princípio da supra-infra
ordenação.
 Ao contrário das pessoas privadas, livres à partida, as pessoas coletivas
públicas não são consideradas “livres”: princípio da legalidade (precedência
- e primazia - de lei).
 Mas: entidades públicas devem respeitar a liberdade dos cidadãos e tratá-
los de acordo com o princípio da igualdade.

A RELAÇÃO JURÍDICO-PÚBLICA- ESPECIFICIDADES DAS RELAÇÕES DEE


DIREITO PÚBLICO

As relações de Direito Público não são tipicamente relações entre indivíduos,


mas uma vez que o objetivo deste não corresponde à vida em comunidade, a
referência ainda é a mesma.
A relação jurídica pública traduz o interagir entre diferentes sujeitos de Direito.
No contexto da relação jurídica nascem, modificam-se ou extinguem-se direitos
ou obrigações, com a particularidade de, por regra, uma das partes na relação
revestir o papel de autoridade pública e, sobretudo, a satisfação de
necessidades públicas ser o objetivo daquele interagir – ou pelo menos, a
realização harmoniosa de interesses públicos e privados contrapostos.
Sobretudo, a relação jurídica pública permite explicar a evolução dos vínculos
que se estabelecem entre certos sujeitos de Direito, fruto da passagem do
tempo e da consequente necessidade de adaptação dos vínculos inicialmente
firmados. A generalidade destas relações é constituída ou conformada por atos
jurídicos de eficácia duradoura ou de execução continuada.

Conceito de relação jurídico-pública

32
Ema Glória

Corresponde ao interagir entre dois ou mais sujeitos de Direito, em que elo


menos um deles é pessoa coletiva pública ou dispõe de poderes públicos,
disciplinado pelo Direito Público mediante a atribuição de posições jurídicas
subjetivas aos diferentes sujeitos envolvidos. As relações inter-orgânicas são
relações que se estabelecem entre órgãos dentro de uma mesma pessoa
coletiva pública.
Aos sujeitos o Direito reconhece posições jurídicas subjetivas que se
apresentam geralmente em contraposição: poder/estado de sujeição ou
direito/dever.
As posições jurídicas subjetivas, ativas e passivas, são constituídas,
modificadas ou extintas por atos jurídicos. Envolvem manifestação de
auctoritas ou visam realizar o bem da comunidade. Os atos normativos
relevantes ou são abstratos e de modo genérico a produção de efeitos jurídicos
ou definindo em concreto efeitos jurídicos que se projetam na esfera de
indivíduos determinados ou determináveis. Tais atos correspondem ao facto
(jurídico).
Classificação das relações de direito público

Relação jurídica bipolar (ou bilateral) / relação jurídica multipolar (ou


multilateral)

 R. Jurídica bipolar - corresponde a interação entre dois sujeitos; podem ser


r.j simples (opõem-se um direito e um dever) ou r.j. complexas (os sujeitos
envolvidos são simultaneamente titulares de poderes/direitos e de deveres)
 R. Jurídica Multipolar - envolve mais do que dois sujeitos; podem ocorrer
situações em que haja apenas um sujeito do lado ativo e vários do lado
passivo (p.ex: a proibição de uma manifestação em que constitui indivíduos
interessados no dever de não se manifestarem) ou o inverso (p.ex: António
tem direito a vida e por isso está em relação com todas as outras pessoas, e
como tal António não pode fazer nada que ponha em causa esse direito)

Relações de Dto Constitucional/Dto Internacional/ Dto da UE/ Dto


Administrativo

ATOS JURÍDICO-PÚBLICOS

33
Ema Glória

Conceito
Declarações que produzem ou visam produzir um efeito jurídico, emitidas por
entes públicos, manifestando a sua autoridade e tendo em vista a
determinação ou realização do interesse público. Impõem-se aos respetivos
destinatários.

- Podem estar em causa atos normativos ou atos não normativos

[Norma: generalidade (pluralidade de destinatários) e abstração (uma ou mais


situações definidas por elementos típicos constantes da previsão normativa);
conceitos ou categorias universais, em ambos os planos.]

Classificação:
Atos normativos: contêm normas jurídicas e apresentam como caraterísticas a
generalidade e a abstração. São emitidos por entes públicas e impõe-se aos
respetivos destinatários que podem ser particulares ou entidades públicas.
Atos não normativos: abarcam um conjunto de atuações concretas dos entes
públicos, e, assumem uma especial relevância na vida dos particulares.

Atos normativos

i) Atos Unilaterais – declaração de um poder público:

 Constituição- declaração de princípios e regras que configura o estatuto


fundamental de uma comunidade politicamente organizada. Define a
organização política dessa comunidade, os princípios pelos quais se rege e
os direitos fundamentais dos cidadãos.
 Atos legislativos (nacionais ou da UE) - Nacionais: declarações de normas
jurídicas que traduzem a manifestação de opções políticas primárias.
Podem revestir forma de lei, decreto-lei ou decreto legislativo regional.
UE: embora sejam emitidos por órgãos exteriores ao Estado Português,
produzem efeitos jurídicos sobre a nossa ordem jurídica.
 Regulamentos- são declarações de normas jurídicas emitidas pela
administração pública, no exercício da função administrativa. Funcionam
como uma instância normativa intermediária entre os atos legislativos e as
decisões concretas da A Pública.

34
Ema Glória

ii) Atos Bi ou Plurilaterais – conjunção de declarações de vários poderes


públicos

 Convenções Internacionais- acordos entre sujeitos de Direito Internacional


destinados a produzir efeitos jurídicos em conformidade com as regras do
D. Internacional.

Os principais atos não normativos

 Atos políticos- são decisões concretas que manifestam o exercício da função


governativa ou política em sentido estrito, seja no plano externo ou interno.
P.ex: declaração do estado sítio, declaração de guerra e paz.
 Atos jurisdicionais- são expressão do exercício da função jurisdicional,
definindo com força vinculativa para os interessados a solução que resulta
da lei ou de outras fontes jurídicas para uma situação concreta.
Normalmente estão em causa litígios que opõem pessoas singulares ou
coletivas.
 Atos jurídicos concretos da Administração Pública:
o Atos administrativos- são decisões administrativas unilaterais dirigidas à
produção de efeitos jurídicos numa situação individual e concreta.
o Contratos administrativos (caráter bi ou plurilateral) - possuem carater
bilateral. Constituem acordos de vontade entre entidades públicas ou
particulares, que conformam uma relação jurídica de direito
administrativo. P.ex: uma ponte sobre o rio Douro.

A hierarquia dos atos normativos


1. Princípios jurídicos fundamentais
2. Jus cogens internacional
3. Direito da UE (tratados, regulamentos, diretivas)
4. Constituição da Rep. Portuguesa
5. Convenções internacionais de que PT é parte
6. Leis, decretos-leis e decretos legislativos regionais
7. Regulamento administrativos

35
Ema Glória

O procedimento de formação dos atos jurídicos públicos

Conceito de procedimento

O procedimento, da formação dos atos jurídico-público, corresponde à


tramitação de atos e formalidades adotadas pelas entidades ou pelos órgãos
públicos no exercício da função governativa e legislativa, e da função
administrativa.

Razões justificativas da imposição do procedimento

A imposição de uma específica sequência de atos e formalidades tendentes à


emissão de um ato jurídico-público justifica-se, essencialmente, por duas
razões: a garantia de que todas as diligências necessárias têm lugar, à
descoberta da realidade sobre que vão incidir os efeitos jurídicos do ato público
a praticar; E a permissão da participação dos potenciais afetados pelos efeitos
jurídicos em preparação.

Consequências do incumprimento do procedimento

No procedimento de formação de atos jurídico-públicos, a específica tramitação


(procedimentos e ações necessárias para que haja o desenvolvimento de um
determinado processo) imposta tem uma importância enorme em que a
omissão de certos procedimentos ou formalidades pode implicar a invalidade
ou irregularidade do ato final do procedimento. A omissão de algum deles e,
por vezes, a sua realização extemporânea tem reflexos na validade do cato
jurídico final, inquinando-o com uma ilegalidade procedimental.
Verifica-se uma ilegalidade material quando uma invalidade de um dos atos
prévios vai depois refletir-se também no ato final, que, na medida em que se
assenta naquele ou o integra no seu conteúdo vai também ser inválido.

A omissão de atos jurídico-públicos

As omissões relevam apenas se corresponderem ao incumprimento de um


dever de atuar. E mesmo assim não terão sempre a uma relevância jurídica,
isto é, a ordem jurídica não atribui sempre as mesmas consequências jurídicas
a tais omissões – ato silente.

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Ema Glória

Certos atos jurídico-públicos formam-se por força do silêncio ou omissão de


decisão administrativa expressa.
No entanto, no plano dos atos jurídico-públicos normativos, a ausência de
declaração expressa de produção de feitos jurídicos não implica a imputação a
tal inércia ou silêncio de um determinado sentido ou vontade de produção de
certos efeitos. Embora, a ordem jurídica faça decorrer dessas omissões
determinadas consequências, como seja o eventual dever de indemnização
pelos danos causados.

As posições jurídicas subjetivas-públicas

Quando se fala em posições jurídicas subjetivas pensa-se em posições de


vantagem e de desvantagem que o ordenamento jurídico reconhece a um
determinado sujeito de Direito, por regra, na relação com outros sujeitos de
direito, de tal forma que a uma posição jurídica ativa contrapor-se-á uma ou
mais posições jurídicas passivas.

Ativas:
Correspondem a posições de vantagem e que se traduzem em faculdades ou
poderes de disposição sobre bens ou valores determinados para realização
efetiva de interesses reconhecidos por ato-jurídico-público. Normalmente, uma
relação entre entidades privadas e públicas, em que as primeiras têm
vantagens sobre as últimas.

1. Direitos subjetivos públicos: classificação

Os direitos subjetivos públicos consistem nas vantagens conferidas a um


sujeito que se traduzem em faculdades ou poderes de exigir determinados
comportamentos, positivos ou negativos, ou de produzir efeitos jurídicos, para
satisfação do interesse do próprio titular do direito, mas têm de específico o
facto de serem direitos afirmados perante entidades públicas e de só serem
atribuídos porque o interesse do titular do direito há-de coincidir ou estar ainda
ao serviço de um determinado interesse da comunidade em que este se insere
– são direitos dotados de uma “intenção específica”.

Estes direitos têm intensidade e natureza diferente. Existem os direitos


absolutos, os direitos obrigacionais ou transitivos e os direitos potestativos.

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Ema Glória

Noutra perspetiva, os direitos fundamentais diferenciam-se dos direitos


subjetivos em sentido estrito.

 Direitos Absolutos: deveres gerais de abstenção e de respeito (exemplos no


catálogo de direitos fundamentais – direito á vida ou da liberdade de
expressão; direitos sobre bens do domínio público, etc). Direitos em que o
Estado deve garantir o seu gozo sem perturbação de terceiros e têm um
carácter de obrigação universal.
 Direitos de Natureza Obrigacional: decorre para a outra parte da relação
uma obrigação de fazer ou prestar, ou abster-se ou tolerar – sobretudo na
atividade pública de prestação social. Consideram-se aqui os direitos sociais
consagrados na constituição, cujo conteúdo é determinado na lei, como seja
o direito a prestações da segurança social.
 Direitos Potestativos: poderes de unilateral e inelutavelmente provocar a
constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas, e imprivam do
lado passivo um estado de sujeição.
 Direitos fundamentais: estão dotados de uma especial dimensão ética e
força jurídica, por ser expressão ou concretização da dignidade da pessoa
humana ou pela importância que revestem para o desenvolvimento desta –
encontram-se na constituição, legislação ordinária e em convenções
internacionais.

2. Poderes jurídico-públicos

Outra categoria dentro das posições jurídicas subjetivas públicas. São posições
jurídicas subjetivas ativas, tituladas por pessoas coletivas de Direito público e
exercidas pelos órgãos que as integram, e que lhes conferem a capacidade de
em concreto desencadear certos efeitos jurídicos na esfera jurídica de terceiros
para a definição e prossecução do interesse público, encontrando-se aqueles
num estado de sujeição.

Distinguem-se dos direitos potestativos pela natureza – a natureza destes


poderes é geral, verifica-se em todos os sujeitos que se encontrem em
determinadas circunstâncias: as circunstâncias destes poderes.

Passivas:

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Ema Glória

Constituem posições de desvantagem que na maior parte das vezes


correspondem direitos ou poderes da parte ativa na relação.

1. Deveres

Dentro desta categoria há as obrigações e os deveres em sentido estrito. Às


primeiras correspondem, do lado da relação, aos direitos de natureza
obrigacional, ou seja, as obrigações reportam-se ainda a um bem determinado
(concreto). Aos segundos não corresponde um Direito específico. Em regra, os
deveres são a consequência do exercício de um poder público a um direito
absoluto.

2. Estados de sujeição

Correspondem aos direitos potestativos ou aos poderes e traduzem uma


necessidade de suportar certos efeitos jurídicos decorrentes daqueles direitos
ou poderes.

O estatuto jurídico

O estatuto jurídico corresponde a um pressuposto ou qualidade (um estado)


estável, a que se ligam certos deveres ou direitos, que podem sofrer variações,
sem que aquela qualidade se perca.

5. As Formas Políticas

REGIMES POLÍTICOS

Democracia

Define-se democracia como o regime político que assenta na dupla ideia de


que, pertencendo o poder ao povo, a escolha dos governantes é feita por
eleições e o exercício do poder é limitado pelos direitos humanos de cada
pessoa. Existem três tipos de democracia:

 Democracia Direta: regime em que todo o povo governa.

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Ema Glória

 Democracia Representativa: regime em que o povo elege os seus


representantes.
 Democracia Semidireta: regime em que os assuntos normais da governação
são decididos pelos representantes eleitos do povo.

Ditadura

Define-se ditadura como o regime que assenta na dupla ideia de que,


independentemente da forma de cesso ao poder, cabe apenas aos respetivos
titulares governar o país, sem eleições livres de que há sempre supremacia dos
interesses nacionais sobre os direitos individuais de cada pessoa. Existem
três tipos de ditaduras:

 Ditadura Monárquica: corresponde à sobrevivência de monarquias


absolutas, ou monarquias governantes.
 Ditadura de Partido Único: regime onde um partido conquista o poder,
elimina os outros e governa sozinho sem fazer eleições e desrespeitando
todos ou muitos direitos fundamentais dos respetivos cidadãos.
 Ditadura Militar: regime que decorre de um golpe de Estado bem-sucedido.
Ditaduras Autoritárias e Ditaduras Totalitárias

 As Ditaduras Autoritárias correspondem ao regime ditatorial que, sem pôr


em causa as liberdades essenciais do ser humano. No entanto, impõe
proibições ou limites severos ao exercício dos chamados direitos políticos.
 As Ditaduras Totalitárias correspondem ao regime político que além de
recusar os direitos políticos fundamentais, a ausência de qualquer oposição
legitima, a censura, a polícia política contra as adversidades do Governo
como criminosos, também viola sistematicamente as liberdades essenciais
do ser humano.

SISTEMAS ELEITORAIS

Define-se sistema eleitoral como o conjunto de regras estabelecidas por lei


com vista à definição do método a utilizar, em cada tipo de eleição, com o
objetivo de converter o número de votos em mandatos.

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Ema Glória

Sistema Maioritário

Este sistema eleitoral tem como objetivo facilitar a formação de maiorias


parlamentares, assegurando uma relação direta entre os eleitores e os eleitos,
e uma grande independência dos deputados face às direções dos seus
partidos. Este sistema eleitoral divide-se em dois tipos de sistemas maioritários:

 Sistema Maioritário de Uma Volta: sistema em que o território é dividido em


círculos eleitorais individuais, por onde é eleito apenas um deputado,
havendo tantos círculos quantos os lugares a preencher no Parlamento. Em
cada círculo eleitoral, considera-se eleito, na primeira e única volta, o
candidato que obtiver maior número de votos, mesmo que só tenha tido a
seu favor uma maioria relativa.
 Sistema Maioritário de Duas Voltas: sistema em que na primeira volta,
apenas são eleitos os candidatos que obtiverem mais de metade dos votos
válidos. A segunda volta, podendo concorrer os dois candidatos mais
votados na primeira, ganha o mais votado, que terá, em princípio, mais de
metade dos votos.

Sistema de Representação Proporcional

Este sistema eleitoral tem como objetivo garantir uma representação


multifacetada das concorrentes de opinião, ainda que sejam minoritárias,
embora torne os candidatos e deputados mais dependentes das direções dos
partidos e dificulte a formação de maiorias. Neste sistema o país é dividido em
distritos, há só uma volta, e cada partido apresenta a sua lita de candidatos. A
conversão dos votos em mantados é feita segundo a proporção de votos de
cada partido no total. Os mais votados entram todos no Parlamento

Sistema Misto

Este tipo de sistema eleitoral divide-se em três sistemas:

 Sistema Proporcional com Liberdade de Escolha: sistema de representação


proporcional por listas, em que a lei, de forma a aumentar o poder dos
eleitores e diminuindo o das direções partidárias, permite a cada votante
modificar o ordenamento sucessivo dos candidatos ou, mesmo, eliminar
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Ema Glória

alguns nomes. O inconveniente é o de poder dificultar a presença de


especialistas de cada partido em todas as comissões parlamentares.
 Sistema Proporcional Bloqueado: segundo este sistema, o país é dividido
em distritos, apenas existia uma volta. Em cada círculo, cada um dos
partidos, associações ou movimentos autorizados a concorrer apresentava
uma lista com vários candidatos. As listas estavam bloqueadas por lei, ou
seja, os eleitores ou aceitavam toda a lista ou rejeitavam-na, desta forma,
apenas de podia votar numa lista, e apenas a mais votada mesmo sem
maioria absoluta, ganhava.
 Sistema Alemão: com o objetivo de estabelecer uma relação direta de
confiança entre os eleitores e os eleitos, sem ignorar as diferentes
sensibilidades políticas proporcionais, e também garantir a presença no
Parlamento de reputados especialistas em todas as áreas da governação,
escolhidos pelas direções partidárias, a República Federal Alemã concebeu
um sistema eleitoral que se pode chamar sistema misto
maioritário/proporcional. Este sistema consistia no seguinte:
o O país é dividido num determinado número de círculos uninominais,
através dos quais se elege metade do número global de deputados
previsto na Constituição, através de um sistema uninominal em uma volta.
o Cada eleitor tem um boletim com dois votos: o primeiro serve para
escolher o nome preferido de entre os candidatos locais, o segundo
destina-se a escolher a lista nacional do partido preferido.
o A percentagem obtida pela lista nacional é que determina a composição
final do Parlamento, pelo que o número de lugares de deputados
aumentará ou diminuirá conforme as diferentes votações nas listas
nacionais
o Os partidos que não atinjam o mínimo de 5% dos votos, nas suas listas
nacionais, não podem ter representação parlamentar.

SISTEMAS DE GOVERNO

 Parlamentarismo: O parlamentarismo caracteriza-se por ser um sistema de


governo em que o poder legislativo oferece a sustentação política ao poder

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Ema Glória

executivo. Assim, o poder executivo necessita do poder do parlamento para


ser formado e também para governar.
 Presidencialismo: O presidencialismo é um sistema de governo em que o
poder executivo é chefiado pelo presidente da República.
 Semipresidencialismo: O sistema semipresidencialista é um modo de
organização da estrutura política de um país que possui do parlamentarismo
e presidencialismo.

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