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Jara Thomann

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz De Direito Da ____º Vara Especializada Em Fazenda


Pública Da Comarca De Cuiabá – MT

Kerolayne Cristina Freitas Vaes, brasileira, analista de sistemas, convivente,


portador do R.G sob o n.º 21226792 SSP/MT, inscrito no C.P.F/M.F sob o
n.º 880.186.602-04, residente e domiciliada na Rua Regis Bitencourt, 92,
apartamento 203, Bloco A, Centro Sul, em Cuiabá - MT, e-mail:
kerolaynecfv@hotmail.com, por seu advogado que esta subscreve, com
endereço profissional no rodapé desta, vem, com lhaneza e acatamento,
perante a ilustre presença de Vossa Excelência, impetrar o presente

Mandado De Segurança Preventivo Com Pedido De Concessão De Medida Liminar


Inaudita Altera Parte

contra ato do Diretor Executivo De Administração Tributária Da Secretaria Estadual


De Fazenda Pública De Mato Grosso, inscrito no CNPJ sob o nº
03.507.415/0005-78, com endereço à Avenida Rubens de Mendonça, nº
3415, Centro Político Administrativo, CEP 78050-903, Cuiabá-MT. Fone:
(65)3617-2900, expondo para tanto as razões fáticas, embebidas pelos
sustentáculos, secundados pelos pedidos que darão azo ao requerimento
final.
Das aligeiras Sinopses Fáticas

O Impetrante é pessoa física possuidor de imóvel localizado


neste Estado e paga regularmente todos os seus tributos conforme os
preceitos legais.
Jara Thomann

Desta forma, torna-se despiciente esclarecer que utilizando deste


imóvel, a idoneidade foi atributo indispensável da parte autora, de forma
que o mesmo sempre se preocupou em manter suas atividades alinhadas
aos ditames legais, respeitando, portanto, todas as normas editadas e
fiscalizadas pelo Estado Réu.

Vale destacar que a parte autora consome considerável


quantidade de energia elétrica.

Por tal razão, o Autor averiguou que o Impetrado está exigindo


ICMS sobre base de cálculo superior àquela legal e constitucionalmente
prevista, vez que o tributo não está sendo cobrado tão somente sobre o
valor da mercadoria (energia elétrica), mas também, sobre as tarifas de
uso do sistema de transmissão e distribuição de energia elétrica
proveniente da rede básica de transmissão as chamadas TARIFAS DE
USO DO SISTEMA ELÉTRICO DE TRANSMISSÃO TUST e TARIFA DE
USO DO SISTMA ELÉTRICO DE DISTRIBUIÇÃO - TUSD) bem como
qualquer outros ENCARGOS SETORIAIS que não representem efetivo
fornecimento de consumo de energia.

Neste Estado, a base de calculo para incidência do ICMS é


REALIZADA somando-se os valores da TUST, aqui chamada somente de
Transmissão, da TUSD, aqui chamada somente de Distribuição, e dos
ENCARGOS, esses compreendidos come ENCARGOS SETORIAIS que estão
muito bem explicados no sítio da ANEEL (vww.aneel.g-ov.br/area.cfm.?
idArea=527), e que, da mesma forma, não representam consumo efetivo
de energia.

Deste modo, conforme as razões de fato e de direito a seguir


explanadas, o Impetrante pretende ver declarada a ilegalidade da
cobrança do ICMS que incide sobre o consumo TUSD e TUST,
restringindo a respectiva base de cálculo, portanto, aos valores
pagos a título de efetivo fornecimento e consumo de energia
elétrica, consoante jurisprudência pacifica do Superior Tribunal de Justiça
e do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso.
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Da Legitimidade Ativa Do Impetrante

No que tange à legitimidade do Impetrante, na qualidade de


consumidor da energia elétrica, para compor o polo ativo do litígio, a
questão restou pacificada no âmbito do Colendo Superior Tribunal de
Justiça, quando do julgamento do Recurso Especial n° 1.299.303/5C,
julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, reconhecendo a
legitimidade do usuário para pleitear a restituição do ICMS incidente sobre
energia elétrica.

Confira-se o teor da ementa do mencionado acórdão, proferido


pelo colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

RECURSO ESPECIAL. REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART.


543-C CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO DE SERVIÇO
PÚBLICO. ENERGIA ELÉTRICA. INCIDÊNCIA DO ICMS SOBRE A
DEMANDA "CONTRATADA E NÃO UTILIZADA". LEGITIMIDADE DO
CONSUMIDOR PARA PROPOR AÇÃO DECLARATÓRIA C/C
REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
- Diante do que dispõe a legislação que disciplina as concessões de
serviço público e da peculiar relação envolvendo o Estado-
concedente, a concessionária e o consumidor, esse último tem
legitimidade para propor ação declaratória c/c repetição de
indébito na qual se busca afastar, no tocante ao fornecimento de
energia elétrica, a incidência do ICMS sobre a demanda contratada
e não utilizada.
- O acórdão proferido no REsp 903.394/AL (repetitivo), da Primeira
Seção, Ministro Luiz Fux, DJe de 26.4.2010, dizendo respeito a
distribuidores de bebidas, não se aplica ao casos de fornecimento
de energia elétrica.
Recurso especial improvido. Acórdão proferido sob o rito do art.
543-C do Código de Processo Civil.
(REsp 1299303/SC, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 08/08/2012, DJe 14/08/2012)

Assim, é certo que o usuário, no caso o mpetrante, tem


legitimidade para propor demanda objetivando a declaração de
inexistência de relação jurídica que lhe obrigue a recolher ICMS.

A concessionária de serviço público como bem acentuado pelo E.


STJ, apenas repassa os valores a serem pagos para os contribuintes, não
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lhe sendo interessante demandar contra o Estado, que é o titular do
serviço público, para buscar a declaração de ilegalidade de determinadas
cobranças.

Isto posto, resta demonstrada a legitimidade do Impetrante para


propor a presente demanda.

Do Direito Liquido e Certo

Da Natureza Jurídica Da Tust E Tusd – Remuneração A Disponibilização Do Uso Dos


Sistemas De Transmissão, E Não A Comercialização De Energia Elétrica

Antes de adentrar no mérito do direito pleiteado nesta demanda,


convém antes, esclarecer alguns pontos relacionados às tarifas
denominadas TUST e TUSD.

A Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de Distribuição (TUSD) é


um encargo legal do setor elétrico brasileiro que incide sobre os
consumidores conectados aos sistemas elétricos das concessionárias de
distribuição. A TUSD é um dos componentes do preço nos contratos de
energia elétrica de grandes consumidores de energia elétrica (eletro-
intensivos), especificamente no que diz respeito ao transporte desta
energia no Sistema Interligado Nacional e foi criada pelo §6º do artigo 15
da Lei nº 9.074/951.

§6º - É assegurado aos fornecedores e respectivos consumidores


livre acesso aos sistemas de distribuição e transmissão de
concessionário e permissionário de serviço público, mediante
ressarcimento do custo de transporte envolvido, calculado com
base em critérios fixados pelo poder concedente.

A própria ANEEL, define a TUSD, como valor criado e utilizado


para custear os sistemas de distribuição da energia elétrica, consoante
abaixo transcrito http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=96:

As tarifas de uso do sistema de distribuição – TUSD possuem a


função precípua de recuperar a receita definida pela ANEEL, e
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devem fornecer sinal econômico adequado para utilização racional
dos sistemas de distribuição.

Atualmente a TUSD é utilizada para os seguintes fins:

Faturamento de encargos de uso dos sistemas de distribuição de


consumidores livres; faturamento de encargos de uso dos sistemas
de distribuição de unidades geradoras conectadas ao sistema de
distribuição; faturamente de encargos de uso dos sistemas de
distribuição de distribuidoras que acessam os sistemas de
distribuição de outra distribuidora; abertura das tarifas de
fornecimento dos consumidores cativos para fins de realinhamento
tarifário, conforme o disposto no Decreto 4.667/2003.

O sistema de distribuição é composto por postes, cruzetas,


isoladores, fios, transformadores e demais equipamentos (não
pertencentes à rede básica) que operam em tensões baixas, de
propriedade das distribuidoras, e cujo acesso também é livre a todos. A
sua utilização, no caso da contratação no mercado livre, se dá mediante
celebração de contrato de uso dos sistemas de distribuição (CUSD) ou, no
mercado cativo, mediante contratação do fornecimento de energia
elétrica, em ambos os casos se remunerando o uso da rede mediante
recolhimento Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD).

Enquanto a TUSD se refere aos custos relativos ao uso do


sistema de distribuição, a TUST se refere aos custos inerentes ao uso do
sistema de transmissão, como serviço de transporte de grandes quantias
de energia elétrica por longas distancias, o qual, no Brasil, é feito
utilizando-se de rede de linhas de transmissão e subestações em tensão
igual ou superior a 230 kV, denominada Rede Básica.

Explicação gráfica sobre duas subcomponentes tarifárias (TUSD e


TUST):
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Fixadas tais premissas, o que se busca repelir através dessa


ação é afastar a exigência do ICMS, sobre a TUSD e TUST, repassada ao
autor, paga em razão da utilização do sistema de distribuição, pela
absoluta falta de previsão expressa na Lei Complementar nº 87 de 1996,
da EXCLUSÃO das mencionadas tarifas na base de cálculo da exação
Estadual, o que afronta de modo claro e inaceitável o artigo 150, I, do
Texto Constitucional e art. 97, IV do Código Tributário Nacional.

Icms Incide Sobre O Fornecimento/Consumo De Energia – Montantes De Uso Não


Refletem O Consumo, E Sim A Disponibilização Do Uso Da Rede

Como relatado anteriormente, as cobranças ora questionadas se


referem à conjeturada responsabilidade do Impetrante pelo recolhimento
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do ICMS sobre as tarifas (TUST/TUSD) pagas em razão do uso do sistema
de distribuição e do sistema de transmissão na entrada de energia elétrica
em seus estabelecimentos localizados neste Estado.

A par de sua singularidade, para fins jurídico-tributários, a


energia elétrica sempre foi considerada como mercadoria, sujeita,
portanto, à incidência do ICMS. Quanto à energia elétrica disse o Superior
Tribunal de Justiça que “é produzida para ser alienada (operação de
mercancia), sem impeço para ser identificada como mercadoria,
conceituação privada, admitida pela lei tributária” (Resp 38344/PR –
1ª turma, DJ de 31/10/1994).

Ao definir as hipóteses de incidência do ICMS, a lei


complementar 87/96 cuidou de abranger, conforme o previsto no artigo
155, inciso II da CF, tão somente as operações relativas à circulação de
mercadorias. Esta é a expressa determinação do artigo 2º da referida Lei
Complementar, conforme abaixo:

Art. 2º - o imposto incide sobre: I – operações relativas à


circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de alimentação
e bebidas em bares, restaurantes e estabelecimentos similares;
(...)
Art. 155 – Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre: (...)
II – operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se
iniciem no exterior; (...)

No entanto, em decorrência de sua natureza e características, a


energia elétrica encontra-se em constante movimento nos fios de
transmissão da concessionária, sendo que ela somente será
individualizada, ou seja, só terá caracterizado e definido seu usuário, no
momento em que for utilizada, pois, até então, consiste numa massa
única de energia passível de utilização por qualquer um que dela
necessite.
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Por conseguinte, o fato gerador do imposto só pode ocorrer, in
caso, pela entrega da energia ao consumidor, não sendo outra a
disposição constante do art. 12, inciso I da Lei Complementar nº 87/96:

Art. 12 – ocorre o fato gerador do imposto no momento:


I – da saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte,
ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular.

Assim, da leitura do dispositivo retro transcrito, nota-se que o


fato gerador do imposto estadual ocorre no momento da efetiva entrega
da energia elétrica ao consumidor, que se completa com a “entrada” da
energia no seu estabelecimento.

No que tange ao momento em que ocorre a transferência da


mercadoria (energia elétrica) para o consumidor, a Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL, partilha deste entendimento, esboçado em sua
Resolução nº 414/2010, esclarecendo, para fins de responsabilidade, in
verbis:

Art. 14. O ponto de entrega é a conexão do sistema elétrico da


distribuição com a unidade consumidora e situa-se no limite da via
pública com a propriedade onde esteja localizada a unidade
consumidora, exceto quando:
Art. 15. A distribuidora deve adotar todas as providências com
vistas a viabilizar o fornecimento, operar e manter o seu sistema
elétrico até o ponto de entrega, caracterizado como o limite de sua
responsabilidade, observada as condições estabelecidas na
legislação e regulamentos aplicáveis”.

O ponto de entrega de energia elétrica é o relógio medidor, de


modo que a energia só será individualizada ao consumidor, caracterizando
sua circulação e dando ensejo à cobrança do imposto (pois só a partir daí
é determinado o sujeito passivo da obrigação tributária), no momento em
que passar por este relógio, e ingressar no estabelecimento da empresa,
vindo a ser efetivamente consumida.

Com efeito, exigir o ICMS sobre as tarifas que remuneram a


transmissão e a distribuição da energia elétrica, é fazer incidir o tributo
sobre o fato gerador não previsto pela legislação regente (CF e Lei
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Complementar 87/96), o que viola frontalmente o princípio constitucional
da reserva legal previsto no art. 150, inciso I da CF e art. 97, IV do CTN,
segundo o qual é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios exigir ou aumentar tributos sem lei que o estabeleça.

Não por outra razão, o próprio CONFAZ enviou ao Congresso


Nacional o Projeto de Lei Complementar nº 352/02, que, através da
sugestão de inclusão da letra “C” no §1º do artigo 13 da LC 87/96,
pretendeu incluir na base de cálculo do ICMS “todos os encargos cobrados
do adquirente, no fornecimento da energia elétrica”.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (...).

Ao tentar reparar a nítida impossibilidade de incidência da


exação estadual sobre operações claramente diversas daquelas que se
identificam com o respectivo fato gerador, até mesmo porque todas as
hipóteses que comtemplaram a inclusão de encargos semelhantes tiveram
previsões específicas autorizando (incisos I e II do mesmo §1º), restou
evidente que até o presente momento, não existe a autorização para tal
incidência, resultando no reconhecimento indubitável sobre a
improcedência da cobrança discutida.

E exatamente pelas razões já expostas, a Camara dos Deputados


excluiu tal iniciativa do texto finalmente aprovado (Lei Complementar nº
38/2010), prevalecendo apenas a prorrogação de creditamento do art. 33
da Lei Complementar nº 87/96, o que mais uma vez demonstra a
incongruência de se incluir as tarifas TUST/TUSD na base de cálculo do
ICMS.

Portanto, a cobrança do ICMS nas faturas de energia elétrica


feita pelo Réu, incluindo sem qualquer previsão legal os encargos como o
TUST/TUSD, na base de cálculo do referido imposto estadual atenta
frontalmente contra o disposto no art. 97, IV do CTN.

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:


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IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo,
ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

Como não poderia deixar de ser, ambas as Turmas de Direito


Público do Superior Tribunal de Justiça, que decidem sobre a matéria
tributária e compõem a Primeira Seção dessa Corte Superior, se
manifestam de forma reiterada em favor do direito pleiteado pelo
AImpetrante, como se infere das seguintes ementas:

TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


LEGITIMIDADE ATIVA DO CONTRIBUINTE DE FATO. UTILIZAÇÃO
DE LINHA DE TRANSMISSÃO E DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA. ICMS SOBRE TARIFA DE USO DOS SISTEMA DE
DISTRIBUIÇÃO (TUSD). IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
OPERAÇÃO MERCANTIL.
1. O ICMS sobre energia elétrica tem como fato gerador a
circulação da mercadoria, e não do serviço de transporte de
transmissão e distribuição de energia elétrica, incidindo, in casu, a
Súmula 166/STJ. Dentre os precedentes mais recentes: AgRg nos
EDcl no REsp 1267162/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 24/08/2012.
2. A Primeira Seção/STJ, ao apreciar o REsp 1.299.303/SC, Rel.
Min.
Cesar Asfor Rocha, DJe de 14.8.2012, na sistemática prevista no
art.
543-C do CPC, pacificou entendimento no sentido de que o usuário
do serviço de energia elétrica (consumidor em operação interna),
na condição de contribuinte de fato, é parte legítima para discutir a
incidência do ICMS sobre a demanda contratada de energia
elétrica ou para pleitear a repetição do tributo mencionado, não
sendo aplicável à hipótese a orientação firmada no julgamento do
REsp 903.394/AL (1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 26.4.2010
- recurso submetido à sistemática prevista no art. 543-C do CPC).
3. No ponto, não há falar em ofensa à cláusula de reserva de
plenário (art. 97 da Constituição Federal), tampouco em
infringência da Súmula Vinculante nº 10, considerando que o STJ,
o apreciar o REsp 1.299.303/SC, interpretou a legislação ordinária
(art. 4º da Lei Complementar nº 87/96).
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1278024/MG, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 14/02/2013)
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PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ICMS. TRANSMISSÃO E
DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. SÚMULA 166/STJ.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. O ICMS sobre energia elétrica tem como fato gerador a
circulação da mercadoria, e não do serviço de transporte de
transmissão e distribuição de energia elétrica. Desse modo, incide
a Súmula 166/STJ.
2. Ademais, o STJ possui entendimento no sentido de que a Taxa
de Uso do Sistema de Transmissão de Energia Elétrica - TUST e a
Taxa de Uso do Sistema de Distribuição de Energia Elétrica - TUSD
não fazem parte da base de cálculo do ICMS .
3. A discussão sobre o montante arbitrado a título de verba
honorária está, em regra, indissociável do contexto fático-
probatório dos autos, o que obsta o revolvimento do quantum
adotado nas instâncias ordinárias pelo STJ, por força do disposto
em sua Súmula 7.
4. Ressalto que tratam os autos de Ação Declaratória em que a
autora pleiteia somente o direito de não pagar tributo. Desse
modo, os honorários advocatícios fixados estão condizentes com o
valor da causa estabelecido pela própria empresa.
5. Conforme orientação pacífica no STJ, excepcionalmente se
admite o exame de questão afeta à verba honorária para adequar,
em Recurso Especial, a quantia ajustada na instância ordinária ao
critério de equidade estipulado na lei, quando o valor indicado for
exorbitante ou irrisório.
6. A agravante reitera, em seus memoriais, as razões do Agravo
Regimental, não apresentando nenhum argumento novo.
7. Agravos Regimentais do Estado de Minas Gerais e da empresa
não providos.
(AgRg nos EDcl no REsp 1267162/MG, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/08/2012, DJe
24/08/2012)

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. OMISSÃO INEXISTENTE.


LEGITIMIDADE ATIVA. ICMS SOBRE "TUSD" E "TUST". NÃO
INCIDÊNCIA. SÚMULA 83/STJ.
1. Não há a alegada violação do art. 535 do CPC, ante a efetiva
abordagem das questões suscitadas no processo, quais seja,
ilegitimidade passiva e ativa ad causam, bem como a matéria
de mérito atinente à incidência de ICMS.
2. Entendimento contrário ao interesse da parte e omissão no
julgado são conceitos que não se confundem.
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3. O STJ reconhece ao consumidor, contribuinte de fato,
legitimidade para propor ação fundada na inexigibilidade de
tributo que entenda indevido.
4. "(...) o STJ possui entendimento no sentido de que a Taxa de
Uso do Sistema de Transmissão de Energia Elétrica - TUST e a
Taxa de Uso do Sistema de Distribuição de Energia Elétrica -
TUSD não fazem parte da base de cálculo do ICMS" (AgRg
nos EDcl no REsp 1.267.162/MG, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/08/2012, DJe
24/08/2012.).
Agravo regimental improvido.
(AgRg no AREsp 845.353/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 13/04/2016)

Como não poderia deixar de ser igual, os Tribunais Estaduais


estão seguindo o mesmo entendimento. Nesse sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação declaratória cc Repetição de


indébito. ICMS – tutela antecipada. Pretensão de que a requerida
se abstenha de cobrar ICMS sobre os valores devidos a título de
Tarifas de Uso do Sistema de Transmissão (TUST) ou Distribuição
(TUSD). Possibilidade. Não inclusão na base de cálculo do ICMS
sobre os valores das referidas tarifas. Precedentes do Superior
Tribunal de Justiça e desta Corte Requisitos do art. 273 do CPC
preenchidos. Recurso provido. (TJ-SP – Ag nº 2197935-
29.2014.8.26.0000 – Rel. Luis Francisco Aguiar Cortez).

Desta forma, estando claro que os valores pagos a título de


TUST e TUSD tem natureza meramente tarifaria, por conta do uso das
redes de transmissão e distribuição, constata-se que o imposto só pode
ser cobrado sobre a energia elétrica quando esta circular juridicamente na
condição de mercadoria.

Vale frisar, ainda que, nas análogas hipóteses de exigência de


ICMS sobre a demanda reservada de energia elétrica, a 1ª Seção do STJ
consolidou, através da sistemática dos recursos repetitivos, disposta no
art. 543-C do antigo CPC, que “a só formalização desse tipo de contrato
de compra ou fornecimento futuro de energia elétrica não caracteriza
circulação de mercadoria”, bem como, que o ICMS só deve “incidir sobre o
valor da energia elétrica efetivamente consumida, isto é, a que for
entregue ao consumidor, a que tenha saído da linha de transmissão e
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entrado no estabelecimento da empresa”, como se ve da seguinte
ementa:

TRIBUTÁRIO. ICMS. ENERGIA ELÉTRICA. DEMANDA DE POTÊNCIA.


NÃO INCIDÊNCIA SOBRE TARIFA CALCULADA COM BASE EM
DEMANDA CONTRATADA E NÃO UTILIZADA. INCIDÊNCIA SOBRE
TARIFA CALCULADA COM BASE NA DEMANDA DE POTÊNCIA
ELÉTRICA EFETIVAMENTE UTILIZADA.
1. A jurisprudência assentada pelo STJ, a partir do julgamento do
REsp 222.810/MG (1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de
15.05.2000), é no sentido de que "o ICMS não é imposto incidente
sobre tráfico jurídico, não sendo cobrado, por não haver
incidência, pelo fato de celebração de contratos", razão pela qual,
no que se refere à contratação de demanda de potência elétrica, "a
só formalização desse tipo de contrato de compra ou fornecimento
futuro de energia elétrica não caracteriza circulação de
mercadoria". Afirma-se, assim, que "o ICMS deve incidir sobre o
valor da energia elétrica efetivamente consumida, isto é, a que for
entregue ao consumidor, a que tenha saído da linha de
transmissão e entrado no estabelecimento da empresa".
2. Na linha dessa jurisprudência, é certo que "não há hipótese de
incidência do ICMS sobre o valor do contrato referente à garantia
de demanda reservada de potência". Todavia, nessa mesma linha
jurisprudencial, também é certo afirmar, a contrario sensu, que há
hipótese de incidência de ICMS sobre a demanda de potência
elétrica efetivamente utilizada pelo consumidor.
3. Assim, para efeito de base de cálculo de ICMS (tributo cujo fato
gerador supõe o efetivo consumo de energia), o valor da tarifa a
ser levado em conta é o correspondente à demanda de potência
efetivamente utilizada no período de faturamento, como tal
considerada a demanda medida, segundo os métodos de medição
a que se refere o art. 2º, XII, da Resolução ANEEL 456/2000,
independentemente de ser ela menor, igual ou maior que a
demanda contratada.
4. No caso, o pedido deve ser acolhido em parte, para reconhecer
indevida a incidência do ICMS sobre o valor correspondente à
demanda de potência elétrica contratada mas não utilizada.
5. Recurso especial parcialmente provido. Acórdão sujeito ao
regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/08.
(REsp 960.476/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/03/2009, DJe 13/05/2009)
Jara Thomann
Portanto, evidencia-se que, também sob o rito dos recursos
repetitivos, há posição jurisprudencial superior consolidada quanto à
matéria ora debatida, já que no presente caso se discute, de forma
idêntica à discussão relativa à demanda reservada de energia elétrica, a
não incidência do ICMS quanto a valores que não correspondem ao efetivo
consumo de energia elétrica, e sim, tão somente, à viabilização para o seu
fornecimento, justificando-se a extensão, à presente hipótese, dos amplos
efeitos decorrentes do julgado acima colacionado.

Como se não bastasse, há ainda, entendimento do STJ, também


exarado sob a sistemática dos recursos repetitivos e consolidado pela
Súmula 166, que veda tal tributação sobre valores que não decorram da
circulação jurídica de mercadoria, isto é, de um ato de mercancia
propriamente dito, de forma a não possuírem qualquer identidade com o
fato gerador do ICMS, nesses termos:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC.
ICMS. TRANSFERÊNCIA DE MERCADORIA ENTRE
ESTABELECIMENTOS DE UMA MESMA EMPRESA. INOCORRÊNCIA
DO FATO GERADOR PELA INEXISTÊNCIA DE ATO DE MERCANCIA.
SÚMULA 166/STJ.
DESLOCAMENTO DE BENS DO ATIVO FIXO. UBI EADEM RATIO, IBI
EADEM LEGIS DISPOSITIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO
CONFIGURADA.
1. O deslocamento de bens ou mercadorias entre estabelecimentos
de uma mesma empresa, por si, não se subsume à hipótese de
incidência do ICMS, porquanto, para a ocorrência do fato imponível
é imprescindível a circulação jurídica da mercadoria com a
transferência da propriedade. (Precedentes do STF: AI 618947
AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado
em 02/03/2010, DJe-055 DIVULG 25-03-2010 PUBLIC 26-03-2010
EMENT VOL-02395-07 PP-01589; AI 693714 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em
30/06/2009, DJe-157 DIVULG 20-08-2009 PUBLIC 21-08-2009
EMENT VOL-02370-13 PP-02783.
Precedentes do STJ: AgRg nos EDcl no REsp 1127106/RJ, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/05/2010, DJe 17/05/2010; AgRg no Ag 1068651/SC, Rel.
Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/03/2009, DJe 02/04/2009; AgRg no AgRg no Ag 992.603/RJ,
Jara Thomann
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 17/02/2009, DJe 04/03/2009; AgRg no REsp 809.752/RJ, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 04/09/2008, DJe 06/10/2008; REsp 919.363/DF, Rel. Ministro
LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe
07/08/2008) 2. "Não constitui fato gerador de ICMS o simples
deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do
mesmo contribuinte." (Súmula 166 do STJ).
3. A regra-matriz do ICMS sobre as operações mercantis encontra-
se insculpida na Constituição Federal de 1988, in verbis: "Art. 155.
Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se
iniciem no exterior;" 4. A circulação de mercadorias versada no
dispositivo constitucional refere-se à circulação jurídica, que
pressupõe efetivo ato de mercancia, para o qual concorrem a
finalidade de obtenção de lucro e a transferência de titularidade.
5. "Este tributo, como vemos, incide sobre a realização de
operações relativas à circulação de mercadorias. A lei que veicular
sua hipótese de incidência só será válida se descrever uma
operação relativa à circulação de mercadorias.
É bom esclarecermos, desde logo, que tal circulação só pode ser
jurídica (e não meramente física). A circulação jurídica pressupõe a
transferência (de uma pessoa para outra) da posse ou da
propriedade da mercadoria. Sem mudança de titularidade da
mercadoria, não há falar em tributação por meio de ICMS.
(...) O ICMS só pode incidir sobre operações que conduzem
mercadorias, mediante sucessivos contratos mercantis, dos
produtores originários aos consumidores finais." (Roque Antonio
Carrazza, in ICMS, 10ª ed., Ed. Malheiros, p.36/37) 6. In casu,
consoante assentado no voto condutor do acórdão recorrido,
houve remessa de bens de ativo imobilizado da fábrica da
recorrente, em Sumaré para outro estabelecimento seu situado em
estado diverso, devendo-se-lhe aplicar o mesmo regime jurídico da
transferência de mercadorias entre estabelecimentos do mesmo
titular, porquanto ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio.
(Precedentes: REsp 77048/SP, Rel. Ministro MILTON LUIZ
PEREIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/12/1995, DJ
11/03/1996; REsp 43057/SP, Rel. Ministro DEMÓCRITO
REINALDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/06/1994, DJ
27/06/1994) 7. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de
origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e
suficiente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado
não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos
Jara Thomann
pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido
suficientes para embasar a decisão.
8. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art.
543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 1125133/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 25/08/2010, DJe 10/09/2010)

Sendo assim, como se não fossem suficientes os precedentes


específicos relacionados a esta hipótese, se conclui que, por não
pressuporem qualquer ato de mercancia ou a circulação jurídica de
mercadorias, e sim mera autorização para a utilização da rede de energia
elétrica, demonstra-se, mais uma vez, a necessidade de afastamento da
cobrança debatida e, assim, de se declarar a impossibilidade de incidência
do ICMS sobre os encargos de transmissão ou distribuição pagos pelo
Impetrante, notadamente a título de TUST e TUSD.

Conclusão

Excelência, várias são as razões da impetração deste mandamus,


a não permitir a incidência de ICMS sobre a TUSD e TUST, vejamos:

I. Não existe previsão legal para a incidência de ICMS sobre


o serviço de distribuição de energia elétrica, a chamada
TUSD (Taxa de Uso do Sistema de Distribuição de Energia
Elétrica) e TUST (Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de
Transmissão).

II. O consumo de energia elétrica é peculiar, quando a energia


elétrica é colocada no sistema de distribuição e é
consumida é que ocorre o fato gerador do ICMS, assim,
não podemos falar de tributação das operações anteriores
ao consumo, como a distribuição, pois ela é a maneira
única de chegada da energia ao consumidor, nas palavras
do Ministro LUIZ FUX, “Não se cogita acerca de tributação
das operações anteriores, quais sejam, as de produção e
distribuição da energia, porquanto estas representam
meios necessários à prestação desse serviço público.”
(grifo nosso) (AgRg no REsp 797.826/MT, Rel. Min. Luiz
Jara Thomann
Fux, Primeira Turma, julgado em 3.5.2007, DJ 21.6.2007,
p.283)”.

III. Além disso, o ICMS incide quando a energia elétrica


(mercadoria) circula, esse é o fato gerador do tributo, não
sendo fato gerador do ICMS o serviço de transporte da
energia.

Excelência, como é de sabença, existem três seções


especializadas de julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Cada
seção é formada por duas turmas especializadas, e cada uma é integrada
por cinco ministros.

Pois bem, a primeira Seção é composta por ministros da Primeira


Turma e da Segunda Turma. Cabe, somente a primeira e segunda turma
do STJ, apreciar matérias de direito tributário, como o caso da incidência
do ICMS sobre a TUSD e a TUST.

Assim, diante de todo o ponderado e provado pede-se que seja


barrada a ilegalidade de incluir valores do tributo ICMS na cobrança
mensal de energia elétrica sobre a tarifa chamada de TUSD (tarifa de uso
dos sistemas de distribuição de energia elétrica) e TUST (Tarifa de Uso
dos Sistemas Elétricos de Transmissão), posto que, é ilegal essa inclusão.

Jurisprudência Domestica

Também a nossa corte estadual, com a lucidez que lhe é


peculiar, manifestou-se acerca do tema e consagrou a postura adotada
pela doutrina e jurisprudência.

“As Impetrantes demonstraram com as faturas de energia elétrica


juntadas com a inicial (fls. 25/27-TJ), referentes às Unidades
Consumidoras de sua responsabilidade, que o ICMS está incidindo
sobre o valor total da fatura, inclusive sobre o valor cobrado a
título de “TUSD” (Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de
Distribuição). Considerando que os custos com a utilização de
linhas de transmissão de energia elétrica não integram a
mercadoria comercializada, e que o ICMS sobre energia elétrica
tem como fato gerador a circulação da mercadoria, ou seja, a
Jara Thomann
energia elétrica efetivamente consumida, e não os serviços de
distribuição e transmissão, vislumbro o pressuposto do relevante
fundamento exigido pela Lei nº 12.016/2009, necessário para
ensejar o deferimento da liminar pleiteada. (MANDADO DE
SEGURANÇA, Numeração do Protocolo: 109379 Ano: 2013, julgado
na TURMA DE CÂMERAS CÍVEIS REUNIDAS DE DIREITO PÚBLICO
E COLETIVO, Relatora: DRA. VAMDYMARA G. R. P. ZANOLO,
disponibilizada no Diário da Justiça Eletrônico/TJMT, edição nº
9149, em 03/10/2013 a r. Decisão do Relator, do processo nº
109379/2013).”

Nesse mesmo sentido invoca-se ainda o Mandado de Segurança


cujo Número do Protocolo é 79807/2013, que teve a liminar deferida,
exatamente nos termos aqui postulado, pela TURMA DE CÂMARAS CÍVEIS
REUNIDAS DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO do TJMT, cujo Relator é o
Exmo. Dr. Sebastião Barbosa Farias.

Fortes na jurisprudência acima declinada, do TJ/MT, bem como


no decidido fartamente pelo STJ, impõe-se, então que seja barrada a
ilegalidade, que consiste na cobrança de ICMS sobre a tarifa chamada de
TUSD, que é o que se persegue aqui.

Da Prova Pré-Constituida

A fatura de energia anexa é por excelência o documento que


comprova as assertivas do Impetrante. NELA CONSTAM TODAS AS
INFORMAÇÕES DA UNIDADE CONSUMIDORA (UC) e, inclusive, que o
ICMS incide (ilegalmente) sobre o total da fatura (soma da TE e da TUSD
e TUST).

Assim, não há necessidade de trazer aos autos qualquer outra


documentação que comprove o pagamento irregular do ICMS, pois o
imposto em tela vem discriminado na fatura, sendo bem clara sua
incidência sobre a fatura toda, sem que dá conta seja excluído o valor
sobre o qual o ICMS não deveria incidir, como dito o ICMS sobre a TUSD e
TUST, objeto desta ação.

Por outro lado, TODAS as informações acerca do consumidor e


da sua unidade de consumo constam na fatura. Assim, dados como:
Jara Thomann
tensão contratado, demanda de contratada, localização da UC, titular da
UC, entre outras informações do consumidor estão descritos na fatura de
energia.

Dessa maneira a Fatura de Energia é documento que forma a


prova pré-constituída, exigida no Mandado de Segurança, pois contém
todos os dados do consumo e do consumidor.

Do Pedido Liminar

Cabe ao magistrado ao despachar a inicial, suspender "o ato


que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e
do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida" (art. 7º,
III, da Lei 12.016/2009)

Não obstante a existência de um incidente de resolução de


demandas repetitivas em tramite no egrégio Superior Tribunal de justiça
em que, inclusive, houve o deferimento da suspensão dos andamentos
dos processos que discutem o mesmo assunto (Tema 956) nada obsta a
apreciação do pedido liminar aqui pleiteado.

Sabe-se que o IRRD no e. STJ está tramitando desde o ano de


2017, havendo, pois, demora na prestação jurisdicional, e ainda “em
prestigio ao principio da segurança jurídica, deve prevalecer a
orientação jurisprudencial1” em sede de liminar, até que o IRRD seja
julgado.

Com essas palavras o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


a juíza Carolina Martins Cardoso deferiu a liminar pleiteada e logo após
determinou a suspensão dos andamentos dos autos do processo em
consonância com a decisão do Superior Tribunal de Justiça.

Com as devidas vênias, a suspensão não impede a analise do


pedido liminar pleiteada, sob o prisma de possível lesão ao direito liquido
e certo.

1
Decisão Liminar concedida pela Juiza Carolina Martins Clemencio Dupart Cardoso, processo:1025642-
66.2018.8.26.0053 - TJSP
Jara Thomann

No presente caso Excelência, estão presentes os requisitos


ensejadores da concessão da medida liminar, qual seja o (i) fundamento
relevante e (ii) o perigo na demora na prestação jurisdicional.

Justifica-se a concessão da medida liminar tendo em vista a


evidente relevância dos fundamentos apresentados pelas Impetrantes na
presente inicial, haja vista que o Tribunal de Justiça do Estado de Mato
Grosso e o próprio Superior Tribunal de Justiça já alinharam os seus
respectivos repertórios jurisprudenciais a fim de declarar a ilegalidade da
inclusão das tarifas de TUSD e TUST da base de cálculo do ICMS.

Note Excelência, não há, na jurisprudência, qualquer dúvida


acerca da tese de direito envergada na presente impetração: a iterativa
jurisprudência do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e do Superior
Tribunal de Justiça, inclusive mediante pronunciamento de sua Corte
Especial, já assentaram a ilegalidade da inclusão das tarifas TUSD e TUST
na base de cálculo do ICMS incidente na saída das mercadorias.

Dessa forma, demonstrando de forma cristalina o fumus boni


iuris da Impetrante.

1. Do Periculum In Mora

O perigo na demora da concessão da medida liminar está


presente de forma clara e nítida, na medida em que a sua não concessão
implicará que as Impetrantes, na condição de contribuintes de fato,
permaneçam sofrendo o ônus econômico de valores de ICMS superiores
aos efetivamente devidos, aumentando, assim, o custo de seus serviços,
além de acarretar a necessidade de ingressar com novas ações judiciais
para pleitear a restituição dos futuros recolhimentos indevidos de ICMS.

Vale dizer que no caso presente existe mais do que o simples


perigo de dano. Caso não concedida a medida liminar pretendida, é certo
os danos a serem suportados pelas Impetrantes, que se verão coagidas a
suportar o ônus econômico da tributação indevida sobre o fornecimento
da energia elétrica que consomem em seus estabelecimentos, perdendo a
Jara Thomann
oportunidade de aplicar a parte comprometida de seu patrimônio na
geração de qualquer valor, e devendo, ainda, arcar com todos os custos
do procedimento necessário à recuperação dos valores recolhidos
indevidamente

A esse respeito, deve-se dizer que já há muito entende o Egrégio


Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que há pressupostos para a
concessão de tutelas de urgência (ex vi medida liminar) em casos como o
presente, em ações judiciais aforadas para afastar a cobrança do ICMS
sobre as tarifas “TUSD” e “TUST”. Nesse sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – TRIBUTÁRIO – ICMS – TARIFAS DE


USO DOS SISTEMAS DE TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
ENERGIA ELETRICA – TUST E TUSD – Decisão interlocutória que
indeferiu a liminar para exclusão do TUST e do TUSD da base de
cálculo do ICMS – Precedente do STJ – Decisão reformada –
Recurso Provido (TJ-SP 22150583520178260000 SP 2215058-
35.2017.8.26.0000, Relator: Maurício Fiorito, Data de Julgamento:
20/02/2018, 3ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação:
20/02/2018)

Desta feita Excelência, ante a existência de dano de difícil


reparação ao direito das Impetrantes, somadas à demonstração dos
direitos que se pretendem salvaguardar, bastam para justificar a
concessão da ordem liminar.

Assim, a Impetrante busca a concessão da medida liminar,


para que as autoridades coatoras sejam intimadas para se
absterem da exigência de ICMS sobre valores de TUST e TUSD nas
contas de energia elétrica consumida em todos os
estabelecimentos da Impetrante, uma vez que os mesmos não
correspondem ao efetivo consumo de energia elétrica.

Cabe ressaltar que a Impetrantes não ignora a determinação


apresentada pelo STJ no tema 956, quanto a suspensão de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos que discutam sobre o tema
aqui debatido, qual seja, a exclusão da TUST e TUSD da base de cálculo
do ICMS, que tramitam no Estado de Mato Grosso.
Jara Thomann
Todavia, se analisarmos conjuntamente os artigos 314 e
982, § 2º, ambos no NCPC, conclui-se que a suspensão do
processo deve ocorrer apenas e tão somente, após a apreciação do
pedido liminar pelo magistrado de primeira instância, a fim de se
evitar danos irreparáveis., veja:

Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer


ato processual, podendo o juiz, todavia, determinar a
realização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável,
salvo no caso de arguição de impedimento e de suspeição.
Art. 982. Admitido o incidente, o relator: § 2o Durante a
suspensão, o pedido de tutela de urgência deverá ser
dirigido ao juízo onde tramita o processo suspenso.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo possui


entendimento no sentido de que a pendência de julgamento do IRDR não
impede a análise do pedido liminar. Nesse sentido, confira-se:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO V. acórdão que deferiu a medida


liminar, suspendendo a exigibilidade do ICMS sobre valores
devidos a título de TUST e TUSD Pretensão da agravante de que
seja suspenso o agravo de instrumento, em razão do IRDR n.º
226948-16.2016.8.26.0000 Suspensão que se dará no juízo de
primeira instância Liminar que pode ser apreciada
Inteligência do art. 982, § 2º, do NCPC. Decisão do C. STJ
suscitada pela agravante, que não foi proferido em recurso
repetitivo, motivo pelo qual não tem o condão de afastar o
entendimento desta Eg. 6ª Câmara Embargos rejeitados. (...) Isto
porque a determinação de suspensão de todas as ações que
versem sobre esta matéria, emanada do IRDR nº. 2246948-
26.2016.8.26.0000, não impede a análise do pedido liminar.
É o que se extrai do § 2º do artigo 982 do NCPC, in verbis:
(...) Some-se a este dispositivo, o previsto no artigo 314 do
mesmo codex, que determina que “durante a suspensão é
vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz,
todavia, determinar a realização de atos urgentes a fim de
evitar dano irreparável, salvo no caso de arguição de
impedimento e de suspeição.”. (g.m.) Sob este prisma,
pode-se concluir que, havendo urgência na apreciação do
pedido de tutela, a suspensão deve se concretizar após a
fase de apreciação desta, o que ocorre no juízo de primeiro
grau. (...) (TJSP, Embargos de Declaração n. 2244730-
Jara Thomann
88.2017.8.26.0000/5000, Desembargadora Relatora Silvia
Meirelles, 6ª Câmara de Direito Público, Data do Julgamento: 17
de maio de 2018 – grifo nosso)

Caso este Juízo se exima de apreciar o pedido liminar pleiteado e


suspenda o processo, acabará prejudicando a Impetrante, na medida em
que a negativa da devida prestação jurisdicional, fere incisivamente o
princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, insculpido no
artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal.

Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça, publicou uma nota


em seu próprio site, na data de 19.05.2017 (Doc. 04 – Notícia STJ)
orientando que, apesar da suspensão processual prevista pelo
Código de Processo Civil em virtude de determinação de
julgamento de ação sob o rito dos recursos repetitivos, não há
impedimento para a concessão de tutelas provisórias urgentes,
caso o magistrado entenda estarem cumpridos os requisitos de
urgência e de risco irreparável (artigo 300 do CPC). A decisão que
deu ensejo a notícia foi proferida pela 1ª Turma do STJ no REsp n.
1.657.156.

Outrossim, vale ressaltar que a discussão acerca da exclusão do


TUSD e TUST da base de cálculo do ICMS encontra “placar” favorável aos
contribuintes no próprio STJ. Na Segunda Turma, por exemplo, cinco
Ministros já manifestaram entendimento favorável à exclusão do TUSD e
TUST da base de cálculo do imposto estadual.

Assim, o fato da matéria estar submetida ao rito do IRDR


perante o STJ não impede o exame do pedido liminar por este i. Juízo.

Por fim Excelência, para o cumprimento da medida liminar,


requer seja expedido ofício às concessionárias das quais a Impetrante
adquire energia elétrica, determinando que deixem de efetuar a incidência
do ICMS referente à tarifa de uso do sistema de distribuição e transmissão
de energia, TUSD e TUST, incidindo o imposto apenas sobre o valor da
energia elétrica efetivamente consumida.
Jara Thomann
Caso, no entanto, não seja possível a intimação das fornecedoras
de energia elétrica pela serventia desse i. Juízo, requer a Impetrante que
seus patronos sejam investidos dos poderes de Oficial de Justiça para fins
de intimação das empresas concessionárias acerca das decisões proferidas
nestes autos, mediante o envio de carta registrada, visando a melhor
eficiência e celeridade processual.

Do Requerimento Final

Diante do exposto, a Impetrante requer a Vossa Excelência:

1. O recebimento do presente mandado de segurança e, ato


contínuo, resguardado o direito fiscalizatório do Fisco, a
concessão de medida liminar inaudita altera parte, para o fim
de determinar às D. Autoridades Coatoras que se abstenham
da exigência de ICMS sobre valores de TUST e TUSD uma vez
que os mesmos não correspondem ao efetivo consumo de
energia elétrica, declarando-se, ainda, a suspensão da
exigibilidade dos valores eventualmente não recolhidos, nos
termos do artigo 151, inciso IV do Código Tributário Nacional,
até julgamento final da presente demanda;

2. O afastamento da prática de quaisquer atos tendentes à


exigência em foco, tais como, negativa de emissão de
certidões de regularidade fiscal, inclusão do nome da
Impetrante em órgãos de proteção ao crédito, inscrição em
dívida ativa, ajuizamento de execução fiscal, dentre outros;

3. Concedida a liminar e, por questão de celeridade e efetividade


processual, requer-se a expedição de ofício às concessionárias
que fornecem energia elétrica às Impetrantes, determinando
a exclusão da TUST e da TUSD da base de cálculo do ICMS,
por meio de Oficial de Justiça, ou que o i. Juízo invista os
patronos das Impetrantes dos poderes de oficial de justiça a
fim de cumprir, perante a concessionária e as autoridades
impetradas, o teor das decisões emanadas, sejam de
natureza liminar ou natureza definitiva;
Jara Thomann

4. A notificação da D. Autoridade Coatora ora impetrada, no


prazo legal, para, querendo, apresentar informações, e a
intimação do Estado de Mato Grosso, representada pela
Procuradoria-Geral do Estado de Mato Grosso, na forma da lei
de regência;

5. A intimação do ilustre representante do Ministério Público do


Estado de São Mato Grosso, atendendo ao que determina a
Lei n.º 12.016/2009;

Concedida a liminar, por fim, a concessão, ao final, da segurança


definitiva, julgando totalmente PROCEDENTE o presente mandado de
segurança, para o fim de:

6. Determinar em definitivo à D. Autoridade Coatora que se


abstenha da exigência de ICMS sobre os valores de TUST e
TUSD uma vez que os mesmos não correspondam ao efetivo
consumo de energia elétrica;

7. A declaração do direito da Impetrante, na qualidade de


contribuinte de fato, de viabilizar, perante a Fiscalização
Estadual, o pedido de compensação dos valores pagos
indevidamente a título de ICMS, nos 5 (cinco) anos anteriores
ao ajuizamento do presente writ, compensação essa, repita-
se, que será posteriormente reivindicada em via
administrativa própria, devido a vedação da Súmula 271 do
STF em restituir os créditos através do Mandado de
Segurança;

8. Que os efeitos da concessão da segurança retroajam a data


da impetração, não se aplicando as restrições do art. 170-A
do CTN aos valores que vierem a ser acumulados durante o
curso do processo;

9. Subsidiariamente, caso o pedido de compensação não seja


acolhido, que esse i. Juízo declare a interrupção do prazo
Jara Thomann
prescricional para o posterior ajuizamento de ação de
repetição de indébito, visando a restituição dos valores
recolhidos indevidamente;

10. Em qualquer caso, a condenação da Impetrada ao


pagamento das custas judiciais;

11. Requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita


nos termos do Art. 10 da Constituição do Estado de Mato
Grosso.

12. Os patronos da Impetrante declaram que as cópias


acostadas à presente são cópias fiéis dos originais.

13. Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais)


meramente para fins de alçada.

Requer que todas as intimações sejam feitas


exclusivamente e em conjunto para os Drs. HERBERT COSTA
THOMANN, OAB/MT 20.709-e e UBENIS PEREIRA JARA, OAB/MT
15.967-o, sob pena de nulidade absoluta.

Nesses termos,
Pede Deferimento.

Cuiabá – MT, 26 de January de 2022.

Ubenis Jara Herbert Thomann


OAB/MT 15.967-o OAB/MT 20.709-e

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