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Revista do Curso de Direito Brazcubas

V2 N1: Dezembro de 2018

INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA DE ICMS NA TARIFA


DE ENERGIA ELÉTRICA - TUST/TUSD1
Weverton Augusto da Silva Quintairos; Allan Yukio Nakano; Ramon da Silva Ribeiro; Lucas de
Moraes; Alexsandro Braz2; Adilsen Claudia Martinez3; Ana Maria de Sant’ana4

RESUMO
O presente artigo pretende trazer a luz o debate a respeito da incidência de ICMS nas tarifas de Energia Elétrica.
De um lado o consumidor pede a restituição dos valores pagos nos últimos cinco anos de contribuição,
juntamente com a imediata suspenção da cobrança do ICMS em ambas as taxas, alegando que a tust e a tusd não
devem fazer parte da base de cálculo do ICMS. Do outro lado temos os Estados como pólo passivo da ação,
alegando, por sua vez que a restituição não é devida, pois a transmissão e a distribuição fazem parte do processo
de fornecimento não podendo o mesmo ser dividido em etapas.
Palavras-chave: cobrança do ICMS; legalidade; energia elétrica

ABSTRACT
The present article intends to bring to light the debate regarding the incidence of ICMS in Electric Energy tariffs
On the one hand, the consumer asks for the restitution of the amounts paid in the last five years of contribution,
together with the immediate suspension of the ICMS collection in both rates, arguing that TUST and TUSD
should not be part of the ICMS calculation base. On the other side we have the states as the passive pole of the
action; in turn claims that the refund is not due, since the transmission and distribution are part of the supply
process and cannot be divided into stages.

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO. 2. DA INCIDÊNCIA NAS TARIFAS DE ENERGIA. 3. TESE FAVORÁVEL AO ICMS –
ENERGIA ELÉTRICA “POSICIONAMENTO DA 1ª TURMA STJ”. 4. ASPECTO PROCESSUAL. 5.
POSICIONAMENTO DO STF. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 7. REFERÊNCIAS.

1 Projeto de pesquisa exigido pela Faculdade de Direito do Centro Universitário Braz Cubas, como
requisito para aprovação do 10º semestre na disciplina Projeto Integrador X. Professores orientadores:
Adilsen Claudia Martinez e Ana Maria de Sant’ana.
2 Graduandos pelo Curso de Direito do Centro Universitário Brazcubas
3 Mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil(2002). Professor
Associado I, Centro Universitário Brazcubas, Mogi das Cruzes, Brasil.
4Procuradora do Estado de São Paulo, atuano na área tributária e administrativa. Juíza do Tribunal de
Impostos e Taxas do Estado de São Paulo. Possui graduação em Direito pela Universidade Braz Cubas
(1985). Especialista em Processo Civil pela PUC/SP e Mestrado em Direito do Estado pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (2004). Professora junto ao Curso de Direito do Centro
Universitário Braz Cubas, e integrante do NDE (Núcleo Docente Estruturante) e Coordenado do Núcleo
de Iniciação.
1 INTRODUÇÃO
Ganha cada vez mais destaque no restrito mundo do direito tributário uma possível restituição
de ICMS pago indevidamente na tust e na tusd, ambas relacionadas ao fornecimento de
energia elétrica nos Estados brasileiros, visando o aprofundamento do tema proposto, será
utilizado o método de coleta de jurisprudências, análises bibliográficas, comparativo de
artigos científicos, pesquisas de sítios acadêmicos, no caminhar da pesquisa entenderemos a
relevancias do tema, visto que a exclusão da tust e da tusd da base de cálculo do ICMS pode
significar uma redução de até 15% na conta de energia elétrica do brasileiro, razão pela qual é
interessante explorar o reservado mundo do direito tributário, além de ser uma problemática,
se bem trabalhada pode ser também muito rentável.

2 DA INCIDÊNCIA NAS TARIFAS DE ENERGIA

A principal regra ao se falar de ICMS está prevista no artigo 155, inciso II, paragráfo 3º, da
constituição federal, que deixa claro a legalidade na cobrança do ICMS, sendo necessário
somente a ocorrêcia do fato gerador.
Isto posto, temos como aspecto material do icms- energia elétrica o ato de praticar operações
relativas a circulação de energia, como aspecto temporal o momento em que se deve reputar
consumada a operação de circulação.
Ao se falar de ICMS devemos primeiramente entender a acepção do termo “circulação”, que
em um aspecto jurídico, se trata do ato de transferência da propriedade de uma determinada
mercadoria, sem a qual não haveria incidência de ICMS, portato o fato que gera o ICMS é a
circulação propriamente dita. Trazendo esse entendimento para a esfera do tema proposto,
entende-se que a ocorrência do fato gerador, ou seja, a efetivação da circulação somente vai
ocorrer quando hover a saída da energia contratada da distribuidora para o estabelecimento do
consumidor.
Em mesmo sentido temos o artigo 2º, parágrafo 1°, inciso III e artigo 12, incisos I e XII, da lei
complementar 87/ 1996, mais conhecida como lei Kandir.
Orientação esta seguida pela doutrina, como ensina Luciana Goulart F.Saliba e João Dácio
Rolim, em seus comentários aos dispositivos correspodentes da então revodada REN aneel
456/200 pela REN Anel 414/2010, a circulção de energia, para efeitos de ICMS, ocorre
quando a energia passa pelo ponto de entrega, que nesse caso é o relógio de medidor de
energia. 5
O art 34, parágrafo 9°, do ato das disposicões constitucionais transitórias, deixa claro que as
empresas distribuidoras de energia elétrica, na condição de contribuintes ou de substitutos
tributários, serão as responsáveis, por ocasião da saída do produto de seus estabelecimentos,
ainda que destinado à outra unidade da Federação, pelo pagamento do imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias incidente sobre energia elétrica, desde a
produção ou importação, até a última operação, calculada o imposto sobre o preço então
praticado na operação final e assegurado seu recolhimento ao Estado ou ao Distrito Federal,
conforme o local onde deva ocorrer essa operação.
EM outras palavras, a Constituição Federal e a Lei Kandir determinam que apenas o preço da
operação de fornecimento de energia elétrica poderá integrar a base de cálculo do ICMS.
Com o feito, os ditames constitucionais e infraconstitucionais são taxativos: somente a
operação da qual decorrer a saída de energia elétrica poderá servir de base de cálculo do
ICMS-energia.
É importante frisar que a inclusão de atividades autônomas à operação tributada na base de
cálculo do ICMS, tal como a inclusão das parcelas estranhas à remuneração de energia
elétrica ao “valor de fornecimento” de energia deverá ocorrer mediante expressa previsão
legal.
É o caso, por exemplo, dos valores relativos aos seguros, juros e frete, parcelas estas
autônomas, por excelência, da atividade principal, mas componentes da base de cálculo do
ICMS, nos termos do artigo 13, § 1º, inciso II, alíneas “a” e “b”, da Lei Kandir.
Em observância ao dispositivo citado anteriormente, o Conselho Nacional de Política
Fazendária (Confaz) enviou ao Congresso Nacional, o Projeto de Lei Complementar 352/02,
para incluir a letra ‘c’ no § 1º do artigo 13 da Lei Complementar 87/96, pretendendo incluir
na base de cálculo do ICMS “todos os encargos cobrados do adquirente, no fornecimento da
energia elétrica”.
Ou seja, o Projeto de Lei Complementar apresentado pelo Confaz demonstra de forma nítida
uma forma de reparar a clara e categórica impossibilidade de incidência da exação estadual

5 SALIBA, Luciana Goulart F. Saliba; ROLIM, João Dácio. Não-incidência do ICMS sobre as
Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD) e de Transmissão (TUST) de Energia
Elétrica. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n.122, p. 50-66, nov./2005).
“Destaquei”.
sobre operações diversas daquelas que se identificam com o respectivo fato gerador (os
montantes relativos à energia elétrica efetivamente consumida – tão somente), resultando no
reconhecimento indubitável sobre a improcedência da cobrança discutida.
E, exatamente pelos argumentos ora apresentados, que o Congresso Nacional excluiu tal
iniciativa do texto finalmente aprovado (Lei Complementar 38/2010), o que, demonstra à
ilegalidade de se entender a incidência do ICMS em parcelas estranhas à remuneração da
energia elétrica (TUSD demanda encargos, contribuições e tributos e demais parcelas da TE -
perdas, transporte e encargos).
O principal precedente da tese favorável a não incidência do ICMS na TUST E TUSD,
segundo esclarece o professor Cleber Barros, é o Recurso Especial: 1.359.399 de MG, que
teve comorelator o Ministro HUMBERTO MARTINS como passaremos a observar:6
processo Edcl no Agrg no Resp:1359399, MG 2012/0269472-0, tendo como órgão julgador a
segunda turma e sendo publicado no Dje 06/09/2013, com o julgamento tendo ocorrido em
27 de Agosto de 2013 na relatoria do Ministro HUMBERTO MARTINS, e sendo a ementa
assim construída

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ICMS. EMPRESA CONCESSIONÁRIA


DE ENERGIA ELÉTRICA. ILEGITIMIDADE. PRECEDENTES. CONSUMIDOR
FINAL. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. ESPECIAL EFICÁCIA
VINCULATIVA DO ACÓRDÃO PROFERIDO NO RESP 1.299.303/SC.
TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (TUST E TUSD).
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 166/STJ. PRECEDENTES.
1. Discute-se nos autos a possibilidade de o contribuinte pagar ICMS sobre os
valores cobrados pela transmissão e distribuição de energia elétrica,
denominados no Estado de Minas Gerais de TUST (Taxa de Uso do Sistema
de Transmissão de Energia Elétrica) e TUSD (Taxa de Uso do Sistema de
Distribuição de Energia Elétrica).
2. Esta Corte firmou orientação, sob o rito dos recursos repetitivos (REsp
1.299.303-SC, DJe 14/8/2012) que o consumidor final de energia elétrica tem
legitimidade ativa para propor ação declaratória cumulada com repetição de
indébito que tenha por escopo afastar a incidência de ICMS sobre a demanda
contratada e não utilizada de energia elétrica.
3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de
que, nos casos de discussão sobre a cobrança de ICMS, a legitimidade
passiva é do Estado, e não da concessionária de energia elétrica. Precedentes.
4. A Súmula 166/STJ reconhece que "não constitui fato gerador do ICMS o
simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do
mesmo contribuinte". Assim, por evidente, não fazem parte da base de

6 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo:


https://www.youtube.com/user/FTCARIBE/feed
https://www.youtube.com/channel/UCQqLcn7m-NYUd8qWw8DNaMQ
https://www.youtube.com/watch?v=AyHyjoVEdm4&t=735s
cálculo do ICMS a TUST (Taxa de Uso do Sistema de Transmissão de
Energia Elétrica) e a TUSD (Taxa de Uso do Sistema de Distribuição de
Energia Elétrica). Precedentes. Embargos de declaração acolhidos em parte,
sem efeitos infringentes, tão somente para reconhecer a legitimidade ativa ad
causam do consumidor final. Acordão Vistos, relatados e discutidos os autos
em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA
Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, acolheu
em parte os embargos de declaração sem efeitos modificativos, nos termos do
voto do (a) Sr (a). Ministro (a) -Relator (a), sem destaque e em bloco." Os
Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon
e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.7

3 TESE FAVORÁVEL AO ICMS – ENERGIA ELÉTRICA “POSICIONAMENTO DA


1ª TURMA STJ”

Em um momento em que se fala com veemência na interferencia do judiciário em outros


poderes da república, ocorreu exatamente o oposto quando a 1º turma do superior tribunal de
justiça, desgraçadamente decidiu pela legalidade da incidência do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços nas parcelas estranhas à remuneração da energia elétrica. “Vale
lembrar que essa decisão reflete somente os grandes consumidores”
Resp: Nº 1.163.020 - RS (2009⁄0205525-4) RELATOR: MINISTRO GURGEL
DE FARIA TRIBUTÁRIO. ICMS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA.
BASE DE CÁLCULO. TARIFA DE USO DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO
(TUSD). INCLUSÃO.
1. O ICMS incide sobre todo o processo de fornecimento de energia elétrica,
tendo em vista a indissociabilidade das suas fases de geração, transmissão e
distribuição, sendo que o custo inerente a cada uma dessas etapas – entre elas
a referente à Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) – compõe o
preço final da operação e, consequentemente, a base de cálculo do imposto,
nos termos do art. 13, I, da Lei Complementar n. 87⁄1996.
2. A peculiar realidade física do fornecimento de energia elétrica revela que a
geração, a transmissão e a distribuição formam o conjunto dos elementos
essenciais que compõem o aspecto material do fato gerador, integrando o
preço total da operação mercantil, não podendo qualquer um deles ser
decotado da sua base de cálculo, sendo certo que a etapa de
transmissão⁄distribuição não cuida de atividade meio, mas sim de atividade
inerente ao próprio fornecimento de energia elétrica, sendo dele
indissociável.
3. A abertura do mercado de energia elétrica, disciplinada pela Lei n.
9.074⁄1995 (que veio a segmentar o setor), não infirma a regra matriz de
incidência do tributo, nem tampouco repercute na sua base de cálculo, pois o
referido diploma legal, de cunho eminentemente administrativo e
concorrencial, apenas permite a atuação de mais de um agente econômico
numa determinada fase do processo de circulação da energia elétrica
(geração). A partir dessa norma, o que se tem, na realidade, é uma mera
divisão de tarefas – de geração, transmissão e distribuição – entre os agentes
econômicos responsáveis por cada uma dessas etapas, para a concretização

7 Disponível em http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ
do negócio jurídico tributável pelo ICMS, qual seja o fornecimento de
energia elétrica ao consumidor final.
4. Por outro lado, o mercado livre de energia elétrica está disponibilizado
apenas para os grandes consumidores, o que evidencia que a exclusão do
custo referente à transmissão⁄distribuição da base de cálculo do ICMS
representa uma vantagem econômica desarrazoada em relação às empresas
menores (consumidores cativos), que arcam com o tributo sobre o "preço
cheio" constante de sua conta de energia, subvertendo-se, assim, os
postulados da livre concorrência e da capacidade contributiva.
5. Recurso especial desprovido. 8 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos
os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo o julgamento,
após o voto-vista do Sr. Ministro Benedito Gonçalves, por maioria, vencidos
os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho e Regina Helena Costa (voto-
vista), negar provimento ao recurso especial nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves (voto-vista), e Sérgio
Kukina (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 21 de
março de 2017 (Data do julgamento). MINISTRO GURGEL DE FARIA
Vale frizar que a decisão não reflete as disposições constitucionais e legais sobre o tema, além
de não observar os precedentes estabelecidos pelas Súmulas 166 e 391 do STJ.
Além da repentina mudança de entendimento, a 1ª Turma do STJ determinou a suspensão de
todos os processos no território nacional, para que o tema seja julgado sob o regime dos
recursos repetitivos.
Em resumo a 1ª Turma do STJ, fundamenta a legalidade da incidência do ICMS sob os
seguintes argumentos:
a) indivisibilidade: não é possível fazer a divisão de etapas do fornecimento (geração,
transmissão e distribuição) de energia para fins de incidência do ICMS;
b) modelo tradicional: a incidência do ICMS sobre todo o processo de fornecimento de
energia é a regra para o consumidor simples. Ou seja, somente os consumidores livres são
beneficiários da discussão judicial, ocorre que, o referido entendimento não é correto, pois
ambos os consumidores podem ser beneficiários da discussão; e
c) impacto financeiro: a exclusão da TUSD da base de cálculo do ICMS causará impacto
financeiro aos cofres dos Estados.
Conforme será demonstrado a seguir, o entendimento aplicado pela 1ª Tuma do STJ não
reflete as disposições do direito processual e tributário brasileiro.

4 ASPECTO PROCESSUAL
O primeiro ponto que merece destaque é a instauração de Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas (IRDR) disciplinado no artigo 976 do novo Código de Processo Civil,
8 Disponível em http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ
O incidente é claro ao exigir efetiva repetição de processos envolvendo a mesma questão de
direito de modo que o potencial para multiplicação de processos envolvendo a mesma questão
de direito não é suficiente para a instauração do incidente (AMARAL Guilherme Rizzo. C
omentários às alterações do novo CPC São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015),
“Destaquei”.9
Em que pese o IRDR tenha sido admitido pelo STJ e alguns tribunais estaduais (por
exemplo, TJ-SP e TJ-MG), carece de requisitos legais.Segundo a disposição prevista no § 4º
do artigo 976 do CPC, será incabível a instauração de IRDR, nos casos em que já houver
recurso afetado sobre a matéria.Portanto, além de não observar os requisitos essenciais para
instauração do IRDR, a decisão que reconhece a incidência do ICMS em parcelas estranhas à
remuneração de energia elétrica não observa o sistema de precedentes implementado pelo
NCPC.
O novo CPC é um marco processual para os precedentes dos Tribunais Superiores. Com a
recente reforma, o sistema processual brasileiro tem se aproximado cada vez mais ao modelo
Common Law, valorizando a utilização de precedentes, com objetivo de uniformizar a
jurisprudência em todo país.
Portanto, a incidência de ICMS em parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica
contraria nuclearmente as disposições contidas tanto na Súmula 166 quanto na Súmula 391,
todas editadas pelo STJ, a saber: “Súmula 166 – Não constitui fato gerador do ICMS o
simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo
contribuinte.” E a “Súmula 391 – O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica
correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada.”
Destaca-se que a justificativa da 1ª Turma do STJ de que está aplicando uma nova
interpretação às súmulas não merece prosperar, pois essas súmulas foram editadas com base
em decisões judiciais que afastam a incidência da TUSD/TUST na base de cálculo do ICMS.

5 POSICIONAMENTO DO STF
O supremo tribunal federal declara não ter compêtencia para julgar a demanda prosposta,
visto que incluir os valores tarifários da TUST e da TUSD na base de cálculo do ICMS
incidente sobre a circulação da energia elétrica não possui estatura constitucional, ressalta
ainda que o entendimento dos tribunais de origem tem embasamento na legislação
9 AMARAL Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015, “Destaquei”.
infraconstitucional, de modo que não se depreende da decisão recorrida ofensa direta ao Texto
Constitucional e por fim nega provimento AO RE 1041816 RG / SP , como podemos
observar no julgado abaixo exposto:
RE: 1041816 REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. EDSON FACHIN - Julgamento: 04/08/2017 - Órgão Julgador:
Tribunal Pleno - meio eletrônico - DJe-180 DIVULG 16-08-2017 PUBLIC 17-08-
2017 Parte(s): RECTE.: ESTADO DE SÃO PAULO - PROC.(A/S)(ES):
PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO - RECDO.(A/S):
OSCAR DA SILVA ADV.(A/S): ELTON GUILHERME DA SILVA - ADV.(A/S):
EDUARDO GALANTE LOPES DA CUNHA10 Ementa: RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO.
IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS - ICMS.
ENERGIA ELÉTRICA. BASE DE CÁLCULO. TARIFA DE USO DO SISTEMA
DE TRANSMISSÃO - TUST. TARIFA DE USO DO SISTEMA DE
DISTRIBUIÇÃO - TUSD. VALOR FINAL DA OPERAÇÃO. QUESTÃO
INFRACONSTITUCIONAL. LEGISLAÇÃO FEDERAL. 1. A correção jurídica da
conduta de incluir os valores tarifários da TUST e da TUSD na base de cálculo do
ICMS incidente sobre a circulação da energia elétrica é controvérsia que não possui
estatura constitucional. 2. Os juízos de origem formaram convicção com esteio na
legislação infraconstitucional, notadamente o Código Tributário Nacional, Lei
Complementar 87/1996, Leis federais 9.074/1995 e 10.848/2004, bem como
Convênios CONFAZ 117/2004 e 95/2005, com posteriores alterações, e Resoluções
da ANEEL, de modo que não se depreende da decisão recorrida ofensa direta ao
Texto Constitucional. 3. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Decisão:
O Tribunal, por maioria, reconheceu a inexistência de repercussão geral da questão,
por não se tratar de matéria constitucional, vencido o Ministro Marco Aurélio.
Ministro Relator: EDSON FACHIN - Tema: 956 - Inclusão da Tarifa de Uso do
Sistema de Transmissão (TUST) e da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição
(TUSD) na base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS)
incidente sobre energia elétrica.
Vale lembrar, tal posição não é unanime, em seu voto no plenário virtual, o Ministro Marco
Aurélio afirmou que se prevalecer o entendimento do Ministro Fachin, ele irá submeter outro
caso sobre a mesma matéria ao plenário virtual, como uma segunda chance para que a
repercussão do tema seja reconhecida.
“Desde logo assento que, ultrapassado esse incidente, vindo a prevalecer à óptica do Relator,
promoverei a inserção de outro caso no Plenário Virtual, tendo em conta a importância maior
da questão, considerado não interesse secundário do Estado, mas o primário, de toda a
sociedade, no que envolve o próprio sistema tributário”, afirmou o ministro no voto.
Segundo o Ministro Marco Aurélio, ao negar que existe discussão constitucional no litígio
sobre a inclusão de certas parcelas na base de cálculo do ICMS, a Corte corre o risco da
“generalização”. O ministro ressaltou também que a matéria “tem assento primeiro” na
Constituição Federal que define o ICMS.

10 Disponível em “http://portal.stf.jus.br/ “
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face do exposto, conclui-se pela ilegalidade da incidência do ICMS das parcelas estranhas
à remuneração de energia elétrica (ex. TUSD e TUST).
A expectativa é que a questão seja julgada de acordo com as disposições legais, pois nesse
cenário será confirmada a aplicação das Súmulas 166 e 391 do
STJ, visto que a decisão da primeira turma do STJ foi totalmente política e não merece
prosperar pelos fatos já expostos, devendo assim ser afastada a ilegalidade do ICMS das
parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica.
Por fim, vale salientar que todos os consumidores podem pleitear judicialmente a incidência
do ICMS somente na parcela relativa à remuneração de energia elétrica, sendo necessário
somente a comprovação de que o titular da ação é o consumidor final, no caso das empresas,
segundo o art.166 do código tributário nacional, deve ser comprovado que não foi feito o
repasse do valor cobrado a título de ICMS nas taxas de transmissão e distribuição de energia
elétrica, se caso o repasse for feito, o consumidor passa a ser o titular do direito, por se tratar
quem suportou o peso do imposto, fato confirmado pelo resp1.993.303/SC. Tendo
comprovado ser o consumidor final, o contribuinte tem direito a restituição dos valores
cobrados indevidamente nos últimos cinco anos.

7 REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 8. ed. rev., atual. e ampl. RJ:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.
AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas
SALIBA, Luciana Goulart F. Saliba; ROLIM, João Dácio.
Não-incidência do ICMS sobre as Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD) e de
Transmissão (TUST) de Energia Elétrica. Revista Dialética de Direito Tributário, São
Paulo, nov./2005).
SHIMENTI, Ricardo Cunha & Cia.Teoria e prática do direito tribuário /Chimenti Andréa
de Toledo Pierri, - 3. ed. rev. e atual. De acordo com as Leis Complementares n. 139/2011 e
141/2012 - São Paulo: Saraiva, 2012.
Sites
http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ
https://www.conjur.com.br/2018-jan-04/urias-neto-incidencia-icms-tarifa-energia-ilegal
https://www.youtube.com/user/FTCARIBE/feed
https://www.youtube.com/channel/UCQqLcn7m-NYUd8qWw8DNaMQ
https://www.youtube.com/watch?v=AyHyjoVEdm4&t=735s
https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/899/Erga-omnes - Dicionário Jurídico.

Legislação
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 24 de setembro de 2018;
BRASIL, Lei 5.172, de 25 de Outubro de 1966, Código de Tributário Nacional. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm. Acesso em: 24 de setembro de
2018;
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº166, Não constitui fato gerador do ICMS
o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo
contribuinte. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-
sumulas-2010_12_capSumula166.pdf. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº O ICMS incide sobre o valor da tarifa de
energia elétrica correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
2013_36_capSumula391.pdf. Acesso em 24 de Setembro de 2018;
BRASIL, Lei 13.105, de 16 de Março de 2015, Código de Processo Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm. Acesso em: 24
de Setembro de 2018;
BRASIL, Senado Federal, Projeto de Lei Complementar 352/02, Altera a Lei
Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, que dispõe sobre o imposto dos Estados e
do Distrito Federal sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações
de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=101666. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;
BRASIL, Lei complementar nº 87, de 13 de Setembro de 1996, Lei Kandir. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp87.htm. Acesso em: 24 de Setembro de
2018;
BRASIL, Conselho Nacional de Política Fazendária, Convênio ICMS nº 38, de 26 de Março
de 2010. Dispõe sobre o compartilhamento de informações controladas pela Secretaria da
Receita Federal do Brasil sobre produção de bebidas e as Secretarias de Fazenda, Finanças,
Receita ou Tributação das Unidades da Federação e altera o Convênio ICMS nº 69/2006, que
isenta do ICMS a saída de equipamentos que compõem o Sistema de Medição de Vazão.
Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=16722. Acesso em: 24 de
Setembro de 2018;
BRASIL, Agência Nacional de Energia Elétrica, Resolução Normativa nº 414, de 09 de
Setembro de 2010, Estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de
forma atualizada e consolidada. Disponível em:
http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010414.pdf. Acesso em: 24 de Setembro de 2018.

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