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TRANSNACIONALIDADE DA LEI DE DROGAS

Disciplina: Direito Penal Extravagante


Professor: Glebson Bezerra
Nome: Lyssandra Teti - 202051925591
Marcely Barbosa - 202051513268

Recife, 2022
- Lei de Drogas (Lei nº11.343/2006)

O problema social das Drogas sempre foi matéria de discussões na evolução da sociedade,
chegando o Estado a conclusão de que apenas leis mais severas não inibem o uso e o
tráfico de drogas. Alguns doutrinadores acreditam que somente com políticas públicas
voltadas para o social, principalmente para a educação, que as drogas poderão ser
reduzidas. Por outro lado, leis menos severas incentivam a criminalidade, que acreditam
na impunidade.

A atual Lei de Drogas trouxe uma modernização das normas do direito penal, acarretando
mudanças significativas e criando um novo sistema que tem como objeto jurídico a saúde
pública, ou seja, a saúde de toda a coletividade, além de trazer a nítida distinção entre
usuários e traficantes de drogas.

- Majorantes e Competência

As hipóteses de majorantes no Direto Penal, são causas de aumento de pena, aplicando-


se uma fração a sanção estabelecida no tipo penal e devendo ser consequentemente levada
em consideração na terceira fase da dosimetria da pena. Ao contrário das qualificadoras,
as majorantes não estabelecem novos elementos no tipo penal, apenas trazem algumas
circunstâncias que implicam no aumento da pena.

As majorantes da Lei de Drogas estão positivadas em seu art.40, trazendo um aumento


de um sexto a dois terços nas penas dos crimes referentes aos art. 33 ao 37. Dentre as
majorantes previstas nessa lei, podemos destacar as hipóteses do inciso I, que aborda o
tráfico internacional de drogas (transnacionalidade do delito) e a do inciso V, que traz o
tráfico interestadual de drogas (tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal).

As causas de aumento de pena trazidas por este dispositivo estão relacionadas ao crime
de tráfico e aos conexos. Elas não se aplicam aos crimes relacionados ao consumo de
drogas e à posse para uso pessoal.

Na hipótese de tráfico internacional (inciso I), para caracterizar sua conduta basta que o
agente tenha a intenção de praticar o delito com caráter transnacional, não sendo
necessário que ele efetivamente consiga entrar no país ou dele sair com a droga, sendo
esta tese defendida pela Súmula 607, que deixa clara a desnecessidade de transposição de
fronteiras para que incida a majorante. “Súmula 607 do STJ - A majorante do tráfico
transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006) configura-se com a prova da
destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de
fronteiras. (Súmula 607, Terceira Seção, julgado em 11/04/2018, DJe 17/04/2018)”.

A respeito do tráfico internacional, é importante também conhecer a Súmula 528 do STJ,


segundo a qual, nos casos de apreensão de droga que seria remetida ao exterior, a
competência para julgar o réu será do Juiz Federal do local da apreensão. “Súmula 528
do STJ - Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela
via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional. Terceira Seção, aprovada
em 13/5/2015, DJe 18/5/2015”.

A pena também é aumentada quando houver tráfico interestadual (inciso V), e neste caso
também não é necessário que as fronteiras estaduais sejam efetivamente transpostas,
conforme a jurisprudência do STJ, hoje consolidada na Súmula 587. “Súmula 587 do STJ
Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é desnecessária
a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a
demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual”.

A competência para processar e julgar os crimes de tráfico de drogas, inclusive quando


ultrapassarem os limites dos estados, é da Justiça Comum Estadual. Essa regra, porém,
encontra algumas exceções. Uma delas, como já citada acima, foi explicitada em julgado
do STJ que considerou a Justiça Federal competente para julgar caso em que as drogas
foram enviadas por via postal.

“Na hipótese em que drogas enviadas via postal do exterior tenham sido apreendidas na alfândega,
competirá ao juízo federal do local da apreensão da substância processar e julgar o crime de tráfico de
drogas, ainda que a correspondência seja endereçada a pessoa não identificada residente em outra
localidade. Isso porque a conduta prevista no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 constitui delito formal,
multinuclear, que, para a consumação, basta a execução de qualquer das condutas previstas no dispositivo
legal, dentre elas o verbo “importar”, que carrega a seguinte definição: fazer vir de outro país, estado ou
município; trazer para dentro. Logo, ainda que desconhecido o autor, despiciendo é o seu reconhecimento,
podendo-se afirmar que o delito se consumou no instante em que tocou o território nacional, entrada essa
consubstanciada na apreensão da droga. Ressalte-se, por oportuno, que é firme o entendimento da Terceira
Seção do STJ no sentido de ser desnecessário, para que ocorra a consumação da prática delituosa, a
correspondência chegar ao destinatário final, por configurar mero exaurimento da conduta. Dessa forma,
em não havendo dúvidas acerca do lugar da consumação do delito, da leitura do caput do art. 70 do CPP,
torna-se óbvia a definição da competência para o processamento e julgamento do feito, uma vez que é
irrelevante o fato da droga estar endereçada a destinatário em outra localidade. CC 132.897-PR, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/5/2014.”

O Superior Tribunal de Justiça possui ampla jurisprudência sobre o tema. Trazendo vários
julgados que defendem a tese da competência Federal nos casos de transnacionalidade. A
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou-se no sentido de que a
competência para processar e julgar os crimes previstos na Lei de Drogas é da Justiça
Federal quando restar demonstrada a transnacionalidade da ação, sendo insuficiente a
suspeita da origem estrangeira das substâncias entorpecentes.

“AGRAVO REGIMENTAL NOS NO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


DECISÃO MONOCRÁTICA. TRÁFICO DE DROGAS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
AFASTAMENTO DA TRANSNACIONALIDADE. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME FÁTICO-
PROBATÓRIO. AUSÊNCIA DE NOVOS ARGUMETNOS APTOS A DESCONSTITUIR A DECISÃO
AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I – É assente nesta Corte Superior de Justiça
que o agravo regimental deve trazer novos argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente
firmado, sob pena de ser mantida a r. decisão vergastada pelos próprios fundamentos. II – “para a incidência
da causa especial de aumento de pena prevista no inciso I do art. 40 da Lei de Drogas, é irrelevante que
haja a efetiva transposição das fronteiras nacionais, sendo suficiente, para a configuração da
transnacionalidade do delito, que haja a comprovação de que a substância tinha como destino/origem
localidade em outro País” (REsp n. 1.302.515/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe de
17/5/2016). III – Nos termos do artigo 70 da Lei n. 11.343/2006, “o processo e o julgamento dos crimes
previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça
Federal”. A jurisprudência desta Corte, na interpretação do referido dispositivo legal, firmou-se no sentido
de que a competência para processar e julgar os crimes previstos na Lei de Drogas é da Justiça Federal
quando restar demonstrada a transnacionalidade da ação, sendo insuficiente a suspeita da origem estrangeira
das substâncias entorpecentes. Nesse sentido: (CC n. 136.975/MT, Terceira Seção, Rel. Min. Ericson
Maranho – Desembargador convocado do TJ/SP, DJe de 19/12/2014). IV – Certificada pelo Tribunal de
origem, soberano na análise dos fatos, a procedência estrangeira das drogas apreendidas, a alteração desse
entendimento – a fim de afastar a competência da Justiça Federal – demandaria em incursão nos elementos
fático-probatórios dos autos, o que é inviável na via eleita. V – A toda evidência, o decisum agravado, ao
confirmar o aresto impugnado, rechaçou as pretensões da defesa por meio de judiciosos argumentos, os
quais encontram amparo na jurisprudência deste Sodalício. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC
689.586/MS, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (desembargador convocado do TJDFT), quinta turma,
julgado em 28/09/2021, DJe 05/10/2021).”

Diante dessas súmulas e julgados podemos perceber claramente que compete a justiça
comum estadual julgar os casos de tráfico interestadual e à justiça Federal julgar os crimes
de tráfico internacional de drogas, tendo o STJ já estabelecido essa competência em
diversas sentenças e não restando dúvidas quanto ao juízo.

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