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ANOTAÇÕES DE PROCESSO PENAL II

Profª Maria da Penha Meirelles Almeida Costa


APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS
I - EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO
ESPAÇO

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em


território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional. Vigora o princípio da absoluta territorialidade, ou seja, aos
processos e julgamentos realizados no território brasileiro, aplica-se à lei
processual penal nacional. Justifica-se por ser a função jurisdicional a
manifestação de uma parcela da soberania nacional, podendo ser exercida
apenas nos limites do respectivo território.

A territorialidade vem consagrada no art. 1º do Código de Processo Penal:

Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por


este Código, ressalvados:

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos


ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e
dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, parágrafo 2º, e 100);

III - os processos da competência da Justiça Militar;

IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art.


122, nº 17);

V - os processos por crimes de imprensa;

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos


referidos nos ns. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não
dispuserem de modo diverso.

As ressalvas mencionadas neste artigo não são, como podem parecer, exceções à
territorialidade da lei processual penal brasileira, mas apenas à territorialidade do Código de
Processo Penal. Impõem, tendo em vista as peculiaridades do direito, a aplicação de outras
normas processuais positivas na Constituição Federal e em leis extravagantes, v.g., nos casos
de crimes de militares, eleitorais, falimentares, de entorpecentes, nas contravenções do jogo do
bicho, nas infrações de menor potencial ofensivo etc. O inciso I contempla verdadeiras
hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira, isto é, os crimes serão apreciados por
tribunais estrangeiros segundo suas próprias regras processuais, v.g., casos de imunidades
diplomáticas, de crimes cometidos por estrangeiros a bordo de embarcações públicas
estrangeiras em águas territoriais e espaço aéreo brasileiro etc.

Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo resultado,
no todo ou em parte, ocorreu em território nacional. Considera-se como extensão do território
nacional, para efeitos penais, as embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo
brasileiro, onde quer que se encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se
acharem em espaço aéreo ou marítimo brasileiro, ou em alto-mar ou espaço aéreo
correspondente.

A lei penal aplica-se aos crimes cometidos fora do território nacional que estejam sujeitos à lei
penal nacional. É a chamada extraterritorialidade da Lei penal. Contudo, é preciso que se
frise: a lei processual brasileira só vale dentro dos limites territoriais nacionais. Se o processo
tiver tramitação no estrangeiro, aplicar-se-á a lei do país em que os atos processuais forem
praticados.

A legislação processual brasileira também se aplica aos atos referentes às relações


jurisdicionais com autoridades estrangeiras que devem ser praticados em nosso país, tais
como o cumprimento de rogatória etc.
II - EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO
TEMPO

Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Percebe-se, desde logo, que o legislador pátrio adotou o princípio da aplicação


imediata das normas processuais, sem efeito retroativo, uma vez que, se
tivesse, a retroatividade anularia os atos anteriores, o que não ocorre.

Dessa forma, sem a sua retroatividade, os atos processuais realizados sob a


égide da lei anterior são considerados válidos e as normas processuais
têm aplicação imediata, regulando o desenrolar do processo.

Todavia, embora a lei processual não seja retroativa, há que se atentar quanto
às normas jurídicas que possuem natureza mista, ou seja, serem dotadas de
natureza processual e material, concomitantemente, atribuindo-lhe, assim,
efeito retroativo ao dispositivo que for mais favorável ao réu.
III - PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

1. Verdade real
No processo penal, o juiz tem o dever de investigar como os fatos se passaram na realidade,
não se conformando com a verdade formal constante dos autos, como acontece no processo
civil. Desse modo, se o juiz não estiver ainda convencido da autoria, ou necessitar de outras
provas, poderá requisitá-las para esclarecer eventuais dúvidas sobre pontos relevantes. No
processo penal, o juiz não representa mero espectador, mas deverá esgotar todos os meios
para satisfazer o princípio maior do processo penal que é à busca da verdade real.

2. Legalidade (art. 28, do CPP)


Os órgãos incumbidos da persecução penal não podem possuir poderes discricionários para
apreciar a conveniência ou oportunidade da instauração do processo ou do inquérito.

Assim, a autoridade policial, nos crimes de ação pública, tem o dever de determinar a
instauração do inquérito policial, e o órgão do Ministério Público é obrigado a apresentar a
respectiva denúncia, desde que o fato seja delituoso.

3. Oficiosidade
Os órgãos incumbidos da persecução penal devem proceder ex officio, não devendo aguardar
provocação, ressalvados os casos de ação penal privada e ação penal pública condicionada à
representação do ofendido. (CPP, artigo 5º §§ 4º e 5º, e artigo 24)

4. Autoritariedade
Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas (delegado de polícia e
promotor ou procurador de justiça). Exceção à esta regra é a ação penal privada.

5. Indisponibilidade (CPP, arts. 17, 42 e 576)


A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial (CPP,
art. 17).

O Ministério Público não pode desistir da ação penal pública, nem do recurso interposto
(CPP, arts. 42 e 576).
6. Princípio do juiz natural (CF, art. 5º, incisos XXXVII e LIII).
A Constituição Federal proíbe a criação de tribunais de exceção, e, ligado à proibição dos
tribunais de exceção está o princípio do juiz natural ao expressar “Ninguém será processado
nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Não se devem confundir as justiças especiais com os chamados tribunais de exceção. As


justiças especiais são as previstas na própria Constituição para o julgamento de determinadas
causas, como a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e a Justiça Militar. A proibição dos
juizes de exceção refere-se à eventual criação de órgão específico para a decisão civil ou penal
de determinados casos, fora da estrutura do Poder Judiciário. Os tribunais de exceção
normalmente são instituídos em período revolucionário, para o julgamento de fatos políticos, e
estão afastados pelo texto constitucional.

7. Publicidade (CPP, art. 792 e CF, arts. 5º, LX, e 93, IX, parte
final).
Em regra, os atos processuais são públicos e as audiências são franqueadas ao público em
geral (CPP, art. 792). Contudo, segundo o parágrafo 1º do art. supra, “se da publicidade da
audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou
perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou tribunal, câmara ou turma, poderá, de ofício ou a
requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas
fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes”.

8. Contraditório e ampla defesa (CF, art. 5º, LV).


O réu deve conhecer a acusação que se lhe imputa para poder contrariá-la, ou, ainda, dela se
defender, posto que nenhum acusado será processado ou julgado sem defensor constituído ou
nomeado, evitando possa ser condenado sem ser ouvido.

Por isso, é essencial que o acusador, ao formular a denúncia ou queixa-crime, narre


claramente os fatos que está a imputar ao futuro réu, a fim de que este tenha pleno
conhecimento da acusação, podendo elaborar sua defesa e produzir provas, sob pena de
inépcia da inicial.

9. Iniciativa das partes (“ne procedat judex ex officio”) - (CF,


art. 5º, LIX e art. 129, I, e CPP, arts. 29 e 30).

O juiz depende da provocação da parte. Cabe ao Ministério Público promover privativamente a


ação penal pública e ao ofendido, a ação penal privada.

Se o juiz der início a uma ação penal ele perderá sua imparcialidade.
10. Ne eat judex ultra petita partium (arts. 383 e 384 do CPP).
O juiz deve pronunciar-se sobre aquilo que lhe foi pedido. O que efetivamente vincula o juiz
criminal, definindo a extensão do provimento jurisdicional, são os fatos submetidos à sua
apreciação. Se o promotor, na denúncia, imputa ao réu um crime de furto, e, ao final, apura-se
que o crime cometido foi o de estupro, não pode o juiz proferir condenação, ainda que o outro
crime esteja caracterizado.

11. Devido processo legal (CF, art. 5º, LIV).


Consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens,
sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a lei. (CF, art. 5º, LIV).

12. Presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII).


Nossa Constituição Federal consagra o princípio de que ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Porém, convém lembrar a Súmula 9 do
Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual a prisão processual não viola o princípio do
estado de inocência.

Entretanto, o art. 594 do nosso diploma processual impõe que o réu não poderá apelar sem
recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim
reconhecido na sentença penal condenatória, ou condenado por crime que se livre solto.

Nesse sentido, há muita discussão doutrinária à respeito de flagrante inconstitucionalidade.

13. Favor rei (CF, art. 5º, XL e CPP, art. 617).


A dúvida sempre beneficia o acusado. Se houver duas interpretações, deve-se optar pela
mais benéfica; na dúvida, absolve-se o réu, por insuficiência de provas; só a defesa possui
certos recursos, como o protesto por novo júri e os embargos infringentes; só cabe ação
rescisória penal em favor do réu (revisão criminal).

14. Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos

(CF, art. 5º, LVI).


Todas as provas obtidas por meios ilícitos são inadmissíveis no processo, visto constituírem
espécie de provas chamadas vedadas (CF, art.5º, LVI).

São consideradas provas vedadas àquelas produzidas em contrariedade a uma norma legal
específica, podendo ser imposta por norma de direito processual ou material. Conforme a
natureza, pode a prova vedada ser descrita como ilícita ou ilegítima, sendo, em qualquer
hipótese, proibidas pela Constituição.

São consideradas provas ilícitas, aquelas produzidas com violação às regras de direito
material, onde são praticados ilícitos de ordem penal, civil ou administrativa.
Exemplos:

diligência de busca e apreensão sem prévia autorização judicial ou


durante o período noturno;

confissão obtida mediante prática de tortura;

interceptação telefônica sem autorização judicial (violação de sigilo


telefônico);

interceptação de cartas particulares (violação de correspondência).

Já as provas ilegítimas são aquelas produzidas com violação às regras de


natureza meramente processual.
INQUÉRITO POLICIAL

TERMO CIRCUNSTANCIADO
INQUÉRITO POLICIAL

1. Competência e atribuição
A atribuição para presidir o inquérito policial é outorgada aos delegados de
polícia de carreira, conforme as normas de organização policial dos Estados. Essa
atribuição pode ser fixada, quer pelo lugar da consumação da infração (ratione loci),
quer pela natureza da mesma (ratione materiae).

A atribuição para a lavratura do auto de prisão em flagrante é da autoridade do


lugar em que se efetivou a prisão, devendo os atos subseqüentes ser praticados pela
autoridade do local em que o crime se consumou.

2) Características: * inquisitivo

* escrito

* sigiloso

* não-contraditório

* dispensável

* indisponibilidade

3. Valor probatório
O inquérito policial, além de seu conteúdo informativo, tem valor probatório, embora
relativo, haja vista que os elementos de informação não são colhidos sob a égide do
contraditório e da ampla defesa, nem tampouco na presença do juiz de direito.

4. Dispensabilidade
O inquérito policial não é fase obrigatória da persecução penal, podendo ser
dispensado caso o Ministério Público ou ofendido já disponha de suficientes elementos
para a propositura da ação penal (CPP, arts. 12, 27, 39, parágrafo 5º, e 46, parágrafo
1º).
5. Incomunicabilidade
Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a prejudicar o
desenvolvimento da investigação. Esta incomunicabilidade não excederá de 3(três)
dias e será decretada por despacho fundamentado do juiz a requerimento da
autoridade policial ou do órgão do Ministério Público, respeitadas as prerrogativas do
advogado.

6. Formas de instauração:

* portaria(ex oficio)

* representação = 6 meses
O prazo começa a ser contado a partir da data do
fato, da data que souber quem é o autor do fato,
ou da data que tomar conhecimento do fato.

a vítima poderá se retratar do direito de


representação oferecida, desde que o faça antes
do MP oferecer a denúncia.

* requerimento = 6 meses (regra) –


não só para requerer a instauração do IP como
para, no mesmo prazo ingressar com a Queixa-
Crime.

* requisição

* flagrante = 24 hs comunicação ao juiz

24 hs nota culpa ao acusado


7. Prazos: * réu solto = regra 30 dias
Exceção: Lei 11.343/06 = 90 dias, prorrogáveis
por igual prazo.

* réu preso = regra 10 dias contados da data da


efetivação da prisão, podendo ser
prorrogado por mais 15 (quinze) dias,
uma única vez, pelo juiz das garantias.

Exceções:

 Justiça Federal (art. 66, Lei 5.010/66) = 15 dias,


podendo ser prorrogado por mais 15.

 Lei de tóxicos (11.343/06 = 30 dias, podendo ser


prorrogado por mais 30 dias.

 Lei dos Crimes Contra a Economia Popular


(1.521/51) = 10 dias, indiferente se réu preso ou
solto.

8. Diligências que podem ser determinadas no curso da


Investigação Policial
Sempre que a autoridade policial tiver notícia a respeito de uma infração penal, cuja
ação penal seja pública, pouco importando se crime ou contravenção deverá ela
determinar a instauração do inquérito.

Tratando-se de infração de menor potencial ofensivo, assim consideradas as


contravenções, pouco importando a quantidade de pena cominada, e os crimes
apenados no máximo com 02 (dois) anos, ressalvados aqueles subordinados a
procedimento especial, cumpre a autoridade policial limitar-se a proceder a um Termo
Circunstanciado, registrando o tipo de ocorrência, dia, local, súmula da versão do
pretenso autor do fato, da pretensa vítima e de eventuais testemunhas,
encaminhando-o, à seguir, à sede do Juizado Especial Criminal, onde houver. Não
havendo, deverá encaminhá-lo ao Fórum Criminal.

Se o crime for de ação penal privada - e quando o é a própria lei penal o diz,
esclarecendo que “somente se procede mediante queixa” - ou de crime de ação penal
pública condicionada, isto é, subordinada à representação do ofendido, o inquérito
somente poderá ser instaurado se a pessoa legitimada a ofertar queixa ou a fazer
representação, der a devida autorização, seja requerendo, seja representando.
De qualquer sorte, instaurado o inquérito, a autoridade policial deve determinar uma
série de diligências visando ao esclarecimento do fato e à descoberta da autoria,
observada a regra programática prevista no art. 6º do CPP. Muito embora o referido
artigo determine que a autoridade policial deve “dirigir-se ao local, providenciando para
que se não alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais”, é evidente que o Delegado de Polícia não tomará tal providência em
qualquer crime. Se houver um crime de calúnia, de sedução, de lesão corporal, por
exemplo, não será realizada aquela diligência. E as razões são óbvias...

De regra, a autoridade policial toma as seguintes providências:

a) procura ouvir a vítima, as testemunhas que assistiram ao fato ou que dele têm
ciência;

b) determina a realização de exame de corpo de delito ou outro exame qualquer


(ex. exame grafológico, exame dos instrumentos etc.);

c) avaliação do produto do crime;

d) procura ouvir o pretenso culpado;

e) procede ao auto de reconhecimento de pessoas ou coisas;

f) procede ao auto de acareação;

g) procede à reconstituição do crime, se necessário, por meio da reprodução


simulada, a fim de verificar a possibilidade de haver a infração sida praticada
de determinado modo, caso haja contradições. A reprodução simulada pode
ser feita tanto pelo indiciado, caso queira, como pela vítima;

h) proceder à identificação dactiloscópica, quando houver fundada suspeita


quanto a identidade do indiciado, ou quando não identificado civilmente;

i) proceder à averiguação da vida pregressa do indiciado;

j) dirigir-se, a autoridade policial, ao local do crime, providenciando para que se


não alterem o estado e a conservação das coisas e pessoas, enquanto
necessários, até que cheguem os peritos para a elaboração dos exames
pertinentes;

l) apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato,


depois de liberados pelos peritos;

m) colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas


circunstâncias;

n) proceder à busca e a apreensão, cf. art. 6º, II, do CPP:


I) no local do crime;

II) em domicílio: CF, art. 5º, XI.

1) no período noturno: - com assentimento do morador

- em flagrante delito

- no caso de desastre

- para prestar socorro

2) durante o dia: - nos casos acima

- por ordem judicial

III) na própria pessoa, que independerá de mandado, no caso de prisão ou


havendo fundada suspeita.

9. Encerramento do Inquérito Policial


Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do
que tiver sido apurado no inquérito policial (art. 10, parágrafo 1º), sem, contudo,
expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo de valor, devendo, ainda, indicar as
testemunhas que não foram ouvidas (CPP, art. 10, parágrafo 2º), bem como as
diligências não realizadas. Encerrado o inquérito, os autos serão remetidos ao juiz
competente, acompanhados dos instrumentos do crime e dos objetos que
interessarem à prova (CPP, art. 11), oficiando a autoridade, ao Instituto de
Identificação e Estatística, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos e os
dados relativos à infração e ao indiciado (CPP, art. 23). Do juízo, os autos devem ser
remetidos ao órgão do Ministério Público, para que este adote as medidas cabíveis.
10. A autoridade policial pode deixar de instaurar o inquérito, mas, uma vez feito, o
arquivamento só se dá mediante decisão do Ministério Público, e de forma
fundamentada, em face do princípio da obrigatoriedade da ação penal (art. 28).

Art. 28 - Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer


elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público
comunicará ao juiz, à vítima, ao investigado e à autoridade policial e
encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de
homologação, na forma da lei.

§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o


arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do
recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância
competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei
orgânica.

Este parágrafo ainda que sugira uma incongruência com o caput, entendemos
que o legislador quis privilegiar a vítima, no sentido de que esta tenha a
oportunidade de oferecer suas razões fáticas e jurídicas contrárias ao
arquivamento.

§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da


União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito
policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial.”

Ex. estelionato contra a previdência (INSS) e o prejuízo seja de R$.10.000,00 e o


procurador da república entenda que, embora tenha ocorrido o crime, seja de
valor insignificante, a qual não deve ser aplicada a administração pública. Nesse
caso a AGU 30 dias após, poderá arrazoar seu inconformismo, em recurso,
contra o arquivamento.

Nos casos de ação penal privada, informada pelo princípio da oportunidade, não há
necessidade do ofendido solicitar o arquivamento do inquérito; se, porventura,
entender que não há elementos para dar início ao processo, basta deixar que o prazo
decadencial do art. 38 do CPP flua sem o oferecimento da queixa-crime.
TERMO CIRCUNTANCIADO (Lei 9.099/95)

Aplicabilidade: Crimes de menor potencial ofensivo, cuja


pena máxima for = ou < a 2 anos.

Critérios: Informalidade, celeridade, oralidade e


economia processual.

art.74-composição art.76-transação OD

Benefícios: ___/_____________/______________/____

Audiência Preliminar

OBS:- 1) Para se compor com a vítima, o Autor do Fato não precisa


preencher nenhum requisito subjetivo, como: ser primário e ter
bons antecedentes, além do que poderá fazer composição se
compor a cada semana, sem qualquer empecilho e sem qualquer
registro na sua ficha criminal.

Importante ressaltar que a vítima não precisa comprovar eventuais


gastos, como na esfera cível, basta o Autor do Fato aceitar a
proposta. Além do mais, o pagamento acertado pode ser
parcelado, o que, depois de homologada o acordo, se não
cumprido, a vítima deverá executar na esfera cível, pois já tem um
título executivo.

2) Se não for possível a composição, representando a vítima, ou


caso o crime não compreenda o benefício da composição, o
benefício seguinte é o da transação penal, cujos requisitos
subjetivos requeridos pela lei são: primariedade, bons
antecedentes e não ter feito uso desse benefícios nos últimos 5
anos.

Feita a proposta pelo Ministério Público, que não poderá se furtar


caso presentes os requisitos (na omissão poderá ser interposto
MS), o Autor do Fato poderá recusar ou aceitar a proposta, que
implica em aplicação de pena antecipada, que no caso não pena de
prisão, mas pena de multa, a qual poderá ser recolhida aos cofres
públicos ou convertida na compra de cestas básicas, as quais
deverão ser entregues em Instituição já determinada pelo
Judiciário. Caso o acusado não reúna condições econômicas para
pagamento em dinheiro, a pena de multa poderá ser convertida em
prestação de serviços a comunidade por um período não superior
a 3 ou 4 finais de semana.

Uma vez cumpridas as obrigações, o Juiz homologará o acordo,


extinguindo-se o feito, apenas com o prejuízo de o Autor do Fato
não poder fazer uso do benefício nos próximos 5 anos.

3) No caso de o Autor do Fato não preencher os requistos


subjetivos para a concessão da transação penal, ou caso
recusada, imediatamente o MP oferecerá a denúncia oralmente,
finalizando a audiência.

MUITO IMPORTANTE:
 Não se aplica os benefícios da Lei 9.099/95 aos crimes de
menor potencial ofensivo praticados no âmbito das
relações domésticas.

 Lesões corporais praticadas no âmbito das relações


domésticas, ainda que leves, são de ação penal pública
incondicionada e, por isso, não comporta juízo de
retratação.
DENÚNCIA

QUEIXA-CRIME

AÇÃO PENAL

ACÃO CIVIL

JURISDIÇÃO
Acordo de não Persecução Penal
Lei 13.964/19

Art. 28-A - Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado


formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público
poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes
condições ajustadas cumulativa e alternativamente:

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de


fazê-lo;

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público


como instrumentos, produto ou proveito do crime;

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período


correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois
terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do
Código Penal;

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do


Código Penal , a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério


Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere


o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e
diminuição aplicáveis ao caso concreto.

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes


hipóteses:

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais


Criminais, nos termos da lei;

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios


que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto
se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao
cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação
penal ou suspensão condicional do processo; e

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar,


ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino,
em favor do agressor.

§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será


firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu
defensor.

§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada


audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da
oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.

§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições


dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério
Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do
investigado e seu defensor.

§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz


devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante
o juízo de execução penal.

§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos


requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o §
5º deste artigo.

§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público


para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o
oferecimento da denúncia.

§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução


penal e de seu descumprimento.

§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de


não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo,
para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.

§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo


investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como
justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional
do processo.
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal
não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins
previstos no inciso III do § 2º deste artigo.

§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo


competente decretará a extinção de punibilidade.

§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o


acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a
remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.”

Comentários:

Instituto este semelhante a Suspensão Condicional do Processo, art. 89, da Lei


9.099/95, com o benefício de que o acusado, mediante sua confissão, sequer
será denunciado, desde que concorde com todas as obrigações impostas e as
cumpra.

O acordo de não persecução penal atinge um grande número de crimes, já que


a pena mínima seja inferior a 4 (quatro) anos, enquanto a Suspensão
Condicional do Processo só cabe quando a pena mínima da infração seja igual
ou inferior a 1(um) ano.

O legislador salienta que não caberá o acordo se o acusado já se beneficiou


deste instituto, da transação ou da suspensão condicional do processo nos
últimos 5(cinco) anos.

Em hipótese alguma se aplica aos crimes de violência doméstica


DENÚNCIA/QUEIXA-CRIME

1)Forma Técnica: * clara, precisa, escrita no nosso


vernáculo

* identificar pessoa do acusado

* narrar os fatos e todas as


circunstâncias

* enquadrar os fatos no tipo penal

* rol das testemunhas de acusação

2) Arquivamento: * ausência de materialidade e indícios


suficientes de autoria.

Obs: Caso haja pedido de arquivamento, não


cabe ação penal privada subsidiária da
pública.

3) Rejeição D/Q * por inépcia, por falta de


pressupostos (art. 41 c/c 395, I)
Obs: em regra cabe RESE, 581, I.

Exceção : Lei 9.099/95 = apelação

4) Recebimento D/Q * Despacho determinando a citação p/Defesa


Escrita ou Resposta a Acusação, no prazo
de 10 dias.

* Com o recebimento da denúncia/queixa


está instaurada a ação penal.
AÇÃO PENAL

1. Condições da ação:

Genéricas 1) possibilidade jurídica do pedido


(o fato descrito deve ser típico)

2) interesse de agir
(não pode ter havido a extinção da punibilidade)

3) legitimidade ad causam no polo


ativo e passivo
(quem acusa deve ser o titular da ação e o
acusado deve ter 18 anos ou mais)

4) legitimidade ad processum
(o querelante deve ter 18 anos ou mais, se
menor deverá ser representado pelo
representante legal)

OBS:- 1) No caso de querelante menor de 18 anos, por lhe faltar


legitimidade ad processum, o direito de queixa será exercido
pelo seu representante legal, que não o tendo, ou havendo
colidência de interesses, será nomeado um procurador
especial

2)Para o oferecimento de queixa- crime é indispensável


capacidade postulatória, devendo o querelante ou seu
representante legal outorgar procuração com poderes
específicos, relatando de forma sintética os fatos com a
respectiva tipificação legal violada. No caso de omissão,
levará o juiz a rejeitá-la, por falta de formalidade essencial
exigida em lei.

Específicas 1) representação(ausência leva a nulidade


absoluta, por ilegitimidade de parte)

2)ingresso do agente no território


brasileiro

3)trânsito em julgado da sentença que, por


impedimento, anule o casamento, no
crime do art. 136 do CP.

Autor

Ministério Público

Denúncia

Princípios

2. Espécies : Pública . Incondicionada . obrigatoridade

. Condicionada . indisponibilidad

. indivisibilidade

Autor

Querelante

Queixa-Crime
Princípios

Privada * propriamente dita .oportunidade

.disponibilidade

* personalíssima .indivisibilidade

* subsidiária da pública

2.1. Ação Penal Pública incondicionada e condicionada à


representação

OBS: 1) Na APP vigora o princípio da Obrigatoriedade = MP não


pode deixar de oferecer a denúncia, caso presentes os seus
requisitos.

2) Na APP vigora o princípio da Indisponibilidade, porque uma vez


iniciada o MP dela não poderá desistir, levando-a até o fim, ainda que
seja para pleitear pela absolvição.

2.2. Ação Penal Privada propriamente dita ou exclusiva

OBS: a) Na APPrivada propriamente dita e na personalíssima vigora o


princípio da oportunidade/conveniência, onde o querelante poderá
renunciar o direito de queixa, basta não oferecê-la, ou se oferecida,
poderá dela desistir, renunciando de forma expressa ou tácita.
Lembrando que a renúncia é ato unilateral e se renunciado em relação
a um dos querelados, todos os demais aproveitarão.

b) Na APPrivada propriamente dita e na personalíssima vigora o


princípio da disponibilidade. Assim, está autorizado o querelante a
conceder o perdão, porém, sendo ato bilateral, o querelado será
intimado a responder em 3 dias se o aceita ou não. Na não aceitação o
processo continua, mas se ficar silente significa que o aceitou. O
perdão concedido a um dos querelantes estenderá aos demais, que
aceitarão ou não. Por outro lado, o querelante que não ofereceu o
perdão, prossegue no direito de ação.

c) Havendo divergência na concessão do perdão, entre o querelante e


seu representante legal, ao querelante fica resguardado o direito de
dar prosseguimento a ação quando completar 18 anos.

d) A perempção ocorrerá na APPrivada, quando o querelante deixar


de comparecer a qualquer ato processual sem motivo justo, ou
quando intimado, deixar de movimentar por mais de 30 dias.

e) Observa-se que a RENÚNCIA, o PERDÂO e a PEREMPÇÃO são


institutos exclusivas dos crimes de Ação Penal Privada.

2.3. Ação Penal Privada personalíssima

OBS.: a) Na ação penal privada personalíssima também vigoram os


princípios da oportunidade e conveniência, podendo ocorrer, portanto a
renúncia. Porém, como se trata de uma ação personalíssima, a Queixa
não poderá ser exercida pelo representante legal, caso a vítima seja
menor de 18 anos, devendo o prazo decadencial de seis meses iniciar a
sua contagem a partir da data em que a ofendida completar 18 anos.
Tampouco poderá ser nomeado curador especial, ainda que acometida
de doença mental, aguardando-se o seu restabelecimento, que se não
acontecer antes do prazo prescricional, o acusado terá extinta a sua
punibilidade.

b) Nessa espécie de ação penal também vigora o princípio da


disponibilidade, podendo conceder o perdão, nos moldes do anterior e a
perempção.

c) Importante ressaltar que o único crime que ocupa a ação penal


personalíssima é o previsto no art 236 do Código Penal, e cujo prazo
decadencial inicia sua contagem a partir da data que transitar em
julgado a decisão do juiz do cível que concluir pela anulação do
casamento.
2.4. Ação Penal Privada subsidiária da pública

OBS:- a) O legislador previu a possibilidade de a vítima, no caso de


inércia do MP promover o andamento da ação penal, por isso, como a
vítima não pode oferecer denúncia nos crimes de AAP, converteu-a em
privada, possibilitando então a vítima dar andamento ao processo no
caso de total negligência por parte do membro do Parquet.

b) Isso posto, claro é que os princípios e os institutos que norteiam a


ação penal privada subsidiária são os mesmos da pública, pois não
pretendendo o querelante dar continuidade, deverá o MP retomar a
ação penal como parte principal e levá-la até o fim.

Assim, não cabem nessa ação a renúncia, o perdão e a perempção.

c) Importante ressaltar que o prazo que a vítima tem para fazer a


conversão é de 6 meses, que deverá ser contado a partir do 16º dia,
quando esgotado o prazo para o MP oferecer a denúncia contra réu
solto que é de 15 dias. Apos transcorridos os seis meses, a vítima
perde seu direito de agir(ocorrendo a decadência) e, portanto, só
poderá agora aguardar a manifestação do MP, ainda que tardia.

LEMBRETES:

 Mesmo nas ações penais privadas, o MP funciona como


custus legis, devendo fiscalizar e acompanhar todos os atos
processuais.

 Nos crimes contra a honra de funcionário público, no


exercício da função pública, entendeu o STF que a
legitimidade é concorrente, devendo o funcionário público
optar pela representação ao MP, para exercer o jus
persequendi em seu nome, ou mover Queixa-Crime.
 Nos crimes de lesão corporal praticados na direção de
veículo automotor, atendendo as modificações da Lei
11.705/08, a ação penal será pública incondicionada se:

1. O condutor encontrava-se comprovadamente


embriagado;
2. O condutor participava de racha;
3. O condutor dirigia a 50 km/h acima da velocidade
permitida na via dos fatos.
ACTIO CIVILIS EX DELICTO

A ninguém é lícito causar lesão ao direito de outrem, conforme


dispositivos do Código Civil, em vigor.

Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,


nos casos especificados em lei, ou quando a a vidade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza risco para os direitos de outrem.

Exemplo: Se alguém efetua uma venda e não recebe o preço, pode o


credor ingressar com a competente ação no juízo cível, a fim de
receber o que lhe é devido.

Até aí, estamos exclusivamente no domínio do Direito Civil.

Pode acontecer, entretanto, que o prejuízo sofrido seja resultado não de um


ilícito civil, mas de um ilícito penal. Nesse caso, a ação que o prejudicado
pode intentar, visando à satisfação do dano é denominada actio civilis es
delicto, porque a causa petendi é o fato criminoso.

1. Pretensão punitiva e pretensão de ressarcimento.

Quando alguém transgride a norma penal, em regra, surgem duas pretenções:


a civil e a penal.
No entanto, há infrações penais que originam tão somente a pretensão
punitiva. Exemplo: uso de substância tóxica.

2. Ação penal e acitio civilis ex delicto

As duas ações não se confundem. A primeira tem por escopo realizar o


Direito Penal objetivo, visa a aplicação de uma pena ou medida de segurança,
enquanto a Segunda tem por objetivo a satisfação do dano produzido pela
infração.

O Estado, ao cuidar da actio civilis ex delicito, no processo penal, procurou


exercer verdadeira tutela administrativa dos interesses privados atingidos pelo
crime (arts. 63 a 68 do CPP).

3. Relação de independência entre a ação penal e a ação civil.

No Direito pátrio, o sistema adotado é o de total independência entre a ação


penal e a ação civil, ou seja, a parte interessada, se quiser, somente poderá
promover a ação para satisfação do dano na sede civil. Por outro lado, se
houver sentença penal condenatória com trânsito em julgado, será ela
exequível na jurisdição civil, onde não mais se discutirá o an debeatur (se
deve) e sim o quantum debeatur (quanto é devido). Mas se, proposta a ação
civil, estiver em curso a ação penal, deverá o juiz do cível sobrestar o
andamento da primeira, a fim de evitar decisões conflitantes.

Todavia, a demonstrar verdadeiro excesso de zelo, o legislador, na Lei


11.719/2008, fez acrescentar parágrafo único no art. 63, determinando que
transitada em julgada a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do artigo 387 do
CPP, sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente
sofrido.

Todavia, nada impede que a satisfação do dano ocorra na esfera penal.


Exemplos:

1. O CPP prevê, nos artigos 118 a 120, a restituição ao lesado de coisas


apreendidas no juízo criminal e até mesmo na fase investigatória;

2. Lei 9.099/95 c/c Lei 10.259/98 – crime de menor potencial ofensivo, onde a
reparação do dano se dá na presença do juízo penal (artigos 72 a 74 da lei).

4. Responsabilidade civil e responsabilidade penal

A responsabilidade penal é sempre pessoal, o resultado de que depende a


existência do crime somente é imputável a quem lhe deu causa, não podendo
nenhuma pena ultrapassar da pessoa do delinquente. Já a responsabilidade
civil se-lo-á, às vezes, dos seus representantes legais, conforme artigo 932,
incisos I a V e artigo 933, ambos do novo Código Civil.

5. Quantificação
 Lesão corporal – arts. 949 e 950, parágrafo único, do CC.
 Crimes contra a honra – art. 953 e parágrafo único do CC.
 Cárcere privado em prisão ilegal – art. 954, parágrafo único, incisos I a III.
 Crimes contra o patrimônio – parágrafo único do art. 952.

Não se cuidando de nenhum desses crimes, a satisfação do dano far-se-á por


arbitramento, nos termos do art. 946 do novo Código Civil.

6. Dano Moral

A lei não estabelece um quantum a título de indenização por dano moral,


somente o direito à sua indenização, caso violado, nos termos dos artigos 186
c/c 927 do novo Código Civil.

O artigo 946 do Código Civil deixa entrever que a quantificação dos prejuízos
em outras hipóteses que não as previstas nos artigos 948 a 954,
principalmente dos danos morais, deve ser estabelecida mercê de
arbitramento, ficando a aferição do montante devido ao arbítrio do julgador em
cada caso concreto, pesadas as circunstâncias e conseqüências do agravo
moral, o que, se não é por si um vetor negativo, por outro lado gera
insegurança e perplexidade às partes, à falta de previsão normativa desses
limites indenizatórios. Nosso legislador não estabeleceu um mínimo nem um
máximo, cabendo ao juiz a dosimetria mais correta do quantum devido.

7. Execução

Transitada em julgado a sentença penal condenatória, esta valerá, por força


de lei, como título certo e ilíquido, em favor do titular do direito à indenização.
Deverá extrair carta de sentença no processo condenatório, a qual será o
instrumento formal do título executório e deverá conter:

a) autuação;
b) denúncia ou queixa;
c) sentença condenatória;
d) certidão de que passou em julgado a sentença condenatória;
e) assinatura do juiz e do escrivão

8. Sentença penal absolutória (art. 66).

A circunstância de a sentença penal ser absolutória, em princípio, não é a


causa impeditiva da ação civil, a não ser quando se proclame que o fato não
houve ou se ocorrer uma causa de exclusão de ilicitude, como legítima defesa,
por exemplo.

9. Arquivamento de inquérito e extinção da punibilidade.

Se houver arquivamento, este somente impedirá a propositura da ação civil se


a causa alegada for por inexistência do fato ou uma causa de excludente de
ilicitude. No que tange à extinção da punibilidade, depende do motivo que a
ensejou: somente o casamento do agente com a ofendida impedirá.

10. Atividade do Ministério Público


O artigo 68 do CPP, de acordo com a nossa Carta Magna, ficou sem
aplicação, posto que, em face do instituto da justiça gratuita, não haveria
necessidade de se incumbir o Ministério Público de semelhante tarefa,
incumbindo então a Defensoria Pública.
COMPETÊNCIA

1. Conceito de jurisdição

Jurisdição é a função estatal exercida com exclusividade pelo Poder Judiciário,


consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso concreto, com
a conseqüente solução do litígio. É o poder de julgar um caso concreto, de
acordo com o ordenamento jurídico, por meio do processo.

2. Características da jurisdição

a) Substitutividade: a função jurisdicional apresenta uma função


substitutiva ou secundária, ou seja, o juiz substitui a atividade do
particular pela sua própria, em vez de os interessados fazerem justiça
por conta própria, quem a faz é o juiz, representante da vontade estatal.
O juiz é o terceiro imparcial, desinteressado, situado fora do conflito.

Todavia, os órgãos jurisdicionais precisam ser provocados para atuar.


Dai dizer-se que a atividade jurisdicional não pode se automovimentar,
ou seja, ne procedat judex ex officio. Dessa forma, quando as partes
não obtiverem êxito numa composição extrajudicial, não lhes resta
alternativa senão buscar o órgão jurisdicional, invocando a tutela estatal.

Assim, o juiz diz o direito somente após provocação da parte e depois de


ouvir a parte contrária (contraditório), recolhendo provas e as razões dos
conflitantes. Ação é, pois, invocação da prestação jurisdicional.

b) Definitividade: ao se encerrar o processo, a manifestação do juiz torna-


se imutável.
3. Princípios da jurisdição

3.1. Princípio do juiz natural: ninguém será processado nem sentenciado


senão pela autoridade competente, que é aquela cujo poder jurisdicional vem
fixado em regras predeterminadas (CF, art. 5º, LIII); do mesmo modo, não
haverá juízo ou tribunal de exceção (CF, art. 5º, XXXVII).

3.2. Princípio da investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem


tenha sido regularmente investido no cargo de juiz e esteja no exercício de
suas funções.

3.3. Princípio do devido processo legal: ninguém será privado da liberdade


ou de seus bens sem o devido processo legal (CF, art. 5º, LIV).

3.4. Princípio da indeclinabilidade da prestação jurisdicional: nenhum juiz


pode subtrair-se do exercício da função jurisdicional, nem “a lei excluirá da
apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito” (CF, art. 5º, XXXV).

3.5. Princípio da indelegabilidade: nenhum juiz pode delegar sua jurisdição a


outro órgão, pois estaria, por via indireta, violando a garantia do juiz natural.

3.6. Princípio da improrrogabilidade: um juiz não pode invadir a competência


de outro, mesmo que haja concordância das partes. Excepcionalmente,
admite-se a prorrogação da competência.

3.7. Princípio da inevitabilidade ou irrecusabilidade: as partes não podem


recusar o juiz, salvo nos casos de suspeição, impedimento e incompetência.

3.8. Princípio da correlação ou da relatividade: a sentença deve


corresponder ao pedido. Não pode haver julgamento extra ou ultra petita.
3.9. Princípio da titularidade ou da inércia: ne procedat judex ex officio. O
órgão jurisdicional não pode dar início à ação, ficando subordinado, portanto, à
iniciativa das partes.

4. Divisão da Jurisdição e competência

Como poder soberano do Estado, a jurisdição é una. Dentre as várias funções


estatais, encontra-se a de aplicar o direito ao caso concreto para a solução de
litígios.

É evidente, porém, que um juiz apenas não tem condições físicas e materiais
de julgar todas as causas, diante do que a lei distribui a jurisdição por vários
órgãos do Poder Judiciário. Dessa forma, cada órgão jurisdicional somente
poderá aplicar o direito dentro dos limites que lhe foram conferidos nessa
distribuição.

Assim, a competência é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o


órgão judicial poderá dizer o direito.

Essa delimitação do Poder Jurisdicional é feita em vários planos e levando em


conta a natureza da lide (ratione materiae), o território (ratione loci) e a função
que certas pessoas exercem (ratione personae).

5. Espécies de competência

a) “ratione materiae”: estabelecida em razão da natureza do crime


praticado;

b) “ratione personae”: de acordo com a qualidade das pessoas


incriminadas;

c) “ratione loci”: de acordo com o local em que foi praticado ou


consumou-se o crime, ou o local da residência do seu autor.
6. Como localizar qual o juízo competente

Antes de tudo, cumpre determinar qual o juízo competente em razão da


matéria, isto é, em razão da natureza da infração penal.

I - Competência ra one materiae: (verificar a quem compete o julgamento)

1) à jurisdição especial

2) à jurisdição comum

3) Jurisdições especiais

a) Justiça Eleitoral: para o julgamento de infrações penais dessa natureza


(arts. 118 a 121 da CF);

b) Justiça Militar: para processar e julgar os crimes militares definidos em


lei (art. 124 da CF);

c) Competência política do Senado Federal (atividade jurisdicional


atípica): para processar e julgar o presidente da República, o vice, o
procurador-geral da República, os ministros do STF e o advogado-geral da
União, nos crimes de responsabilidade, e os ministros de Estado nestes
mesmos crimes, desde que conexos aos do presidente ou do vice (art. 52, I
e II da CF).
II) Jurisdição comum (federal ou estadual)

a) à justiça federal (art. 109, IV da CF) compete processar e julgar os


crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções penais de qualquer natureza
(que sempre serão da competência da justiça estadual, nos exatos termos
da Súmula 38 do STJ: “compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da
Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades”);

b) à justiça comum estadual compete tudo o que não for de competência


das jurisdições especiais e federais.

c) ao Tribunal do Júri compete o julgamento dos crimes dolosos contra a


vida.

* Verificar quadro demonstra vo na página seguinte


1. DIVISÃO DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA
MATÉRIA
I - JURISDIÇÃO COMUM II - JURISDIÇÃO ESPECIAL

1. Justiça Federal 1. Justiça Eleitoral

TRF – 2ª instância
.

Juízes Federais – 1ª instância Juízes eleitorais – 1ª instância

Tribunal do Júri Federal

2. Justiça Estadual 2. Justiça Militar Estadual


2ª instância

TJ - 2ª instância

Tribunal do Júri Federal 3. Justiça Militar Federal


Fixada a competência em razão da matéria, cumpre verificar o grau do órgão
jurisdicional competente, ou seja, se o órgão incumbido do julgamento é juiz,
tribunal ou tribunal superior.

Cumpre observar que no território nacional há certas pessoas que, pelo fato de
desempenharem funções de relevo, são processadas e julgadas por órgão
superiores. É o que se denomina foro pela prerrogativa de função, que é
chamada competência ratione personae.

Essa delimitação de competência é feita pela Constituição


Federal, e visa preservar a independência do agente político
no exercício de sua função, e garantir o princípio da
hierarquia, não podendo ser tratado como se fosse um simples
privilégio estabelecido em razão da pessoa. Senão vejamos:

II - Competência ratione personae: está assim distribuída

1) Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, b e c): compete processar e


julgar, originariamente, nas infrações penais comuns, seus próprios ministros, o
presidente da República, o vice, os membros do Congresso Nacional e o
procurador-geral da República; nas infrações penais comuns e nos crimes de
responsabilidade, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União, os chefes de missão diplomática de caráter permanente e os
ministros de Estado (salvo se o crime em que a competência será do Senado
Federal).

2) Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, a): compete processar e


julgar, originariamente, nos crimes comuns, os governadores dos Estados e do
Distrito Federal; nos crimes comuns e nos de responsabilidade, os
desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e Distrito Federal, os
membros dos Tribunais de Contas dos Estados e Distrito Federal, os membros
dos Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os
membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.

3) Tribunais Regionais Federais (CF, art. 108, I, a): compete processar e


julgar, originariamente, os juízes federais, da justiça militar e do trabalho, da
sua área de jurisdição, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os
membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da justiça
eleitoral.

4) Tribunal de Justiça de São Paulo (CF, art. 74, I e II): compete processar e
julgar, originariamente, nas infrações penais comuns, o vice-governador, os
secretários de Estado, os deputados estaduais, o procurador-geral de justiça, o
procurador-geral do Estado, o defensor público geral e os prefeitos municipais
(CF, art. 29, X); nas infrações penais comuns e de responsabilidade, os juízes
dos Tribunais de Alçada e de justiça militar, os juízes de Direito e os juízes
auditores da justiça militar, os membros do Ministério Publico, o delegado-geral
de polícia e o comandante geral da polícia militar.

Verificada a competência ratione materiae e personae, cabe, agora, fixar a


competência em razão do lugar (ratione loci), porque é necessário saber qual
o juízo eleitoral, militar, federal ou estadual dotado de competência em razão
do território, principalmente considerando a vasta extensão territorial brasileira.
2. DIVISÃO DA
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PESSOA

Há algumas pessoas que, pelo fato de desempenharem funções de relevo,


são processadas e julgadas por órgãos superiores.

É o que se denomina foro pela prerrogativa de função, chamada


competência ratione personae.

Essa delimitação é feita pela Constituição Federal, e tentaremos


simplificar as explicações, observando a espiinha dorsal da hierarquia
desses órgãos jurisdicionais:

Legislativo Judiciário Executivo

STF

Dep./Senadores Ministros e Presidente

STJ TSE

TRF TJ TRE Gov. Estado (crimes eleitorais) = TSE

comarca JF JE JE Pref. Município- crimes eleitorais=TRE

Obs: 1) Os membros do Poder Judiciário, só saem de sua linha vertical, se praticar crime
eleitoral, respondendo sempre junto ao órgão jurisdicional do Estado em que está lotado.
Nem mesmo os crimes de competência da Justiça Federal lá serão julgados.

2) Os membros do Poder Executivo obedecem a mesma hierarquia dos membros do


judiciários, excepcionando quando o crime for da competência da Justiça federal e da
Justiça Eleitoral.

3) Porém, esses membros do Poder Executivo sujeitar-se-ão a competência política do senado


quando se tratar de crimes de responsabilidades, como já mencionada.
III - Competência ratione loci:

Em cada Estado da Federação e Distrito Federal há órgãos representativos das


jurisdições comum e especial. É a delimitação ratione loci do plano superior e
inferior. Assim, se o crime eleitoral ocorre no Estado de Sergipe é a Justiça
Eleitoral sediada em Sergipe a competente. Se um policial militar comete um
crime militar em São Paulo, será julgado pela Justiça Militar de São Paulo, e
assim por diante.

Mas por outro lado, cada Estado é dividido em pequenas áreas territoriais
denominadas comarcas. Em cada comarca o Estado-Membro mantém certo
número de juízes para solucionarem as lides de sua alçada, que ali ocorreram,
sendo que em cada uma delas também funciona o Tribunal do Júri.

Vejamos onde a causa penal deve ser julgada:

1)A competência de foro é estabelecida, de modo geral, em


atenção ao lugar onde ocorreu o delito:

“A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a


infração penal, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução (CPP, art. 70). Entretanto, se a infração ocorrer nas
divisas de duas ou mais comarcas, ou quando incerto quanto aos limites, a
competência será do juízo que primeiro tomou conhecimento do feito (art. 83).
Por outro lado, tratando-se de crime continuado praticado no território de
diversas comarcas, aplica-se o estabelecido no art, 71, CPP (firma-se pela
prevenção)”.

2)Essa competência é firmada subsidiariamente pelo domicílio


ou residência do réu, quando desconhecido o lugar da
infração:
“Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo
domicílio ou residência do réu” (CPP, art. 72, caput). “Nos casos de exclusiva
ação privada, o querelante poderá preferir o foro do domicílio ou da residência
do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração” (CPP, art. 73).

3) Estabelecida à competência de foro, pelo lugar da infração


ou pelo domicílio do réu,

é por distribuição entre os juízes da jurisdição que se fixa à competência


concreta daquele perante o qual se movimentará a ação penal (CPP, art. 75).
Não se procede à distribuição, quando:

a) em razão da matéria, pela natureza do crime, se for crime de competência


do júri popular, o processo não poderá ser distribuído normalmente entre os
juízes do local, pois o julgamento fica afeto a um órgão jurisdicional especial
(cf. CPP, art. 74, parágrafo 1º);

b) em razão da conexão ou continência, as infrações devem ser apuradas em


processo já afeto à autoridade judiciária prevalente (CPP, arts. 76 a 78);

c) em razão da prevenção, deve a ação penal ser submetida à apreciação de


autoridade judiciária, que já tenha, de algum modo, tomado conhecimento do
caso (CPP, art. 83).

Quando desconhecido o lugar onde ocorreu a infração, e o réu tiver mais de


uma residência, a competência, entre os juízes das respectivas jurisdições, se
estabelecerá por prevenção. Assim, “se o réu tiver mais de uma residência, a
competência firmar-se-á pela prevenção” (CPP, art. 72, parágrafo 1º).

No caso de além de desconhecido o lugar da infração, não se conhecer a


residência do réu, que não é encontrado, a competência se determinará pela
prevenção de qualquer juiz, que seja o primeiro a tomar conhecimento do fato:
“se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato” (CPP, art. 72,
parágrafo 2º).
4) Foro competente nos delitos qualificados pelo resultado:

Nos delitos qualificados pelo resultado a consumação se dá quando ocorre um


dos eventos que majoram a pena.

Exemplos: ar gos 127; 129, § 3º; 133, § 1º e 2º; 135 parágrafo único; 136, § 1º e 2º; 148. § 2º;
157, § 3º; 159, § 2º e 3º etc.

IV – Competência nos delitos plurilocais ou de distância


mínima:

Nos delitos plurilocais a ação ocorre em determinado local e o


resultado em outro, devendo prevalecer à regra contida no artigo
70 do CPP, ou seja, a competência será sempre do juiz que tem
competência no local onde o crime se consumou.

Exemplo: Se um motorista, na cidade de Araraquara, por imprudência, negligência ou imperícia, vem a


produzir lesões corporais em alguém, o crime de lesão corporal consumou-se naquela cidade e, portanto,
o juiz de Araraquara será competente para a ação penal. Entretanto, no mesmo exemplo, se a vítima é
levada a cidade de São Paulo em busca de melhores recursos médicos e nesta cidade vem a falecer, a
consumação do crime de homicídio culposo ocorreu em São Paulo, e, portanto, da competência do juiz
de São Paulo, porque o evento necessário indispensável a configuração do homicídio culposo, verificou-
se em São Paulo

V - Competência por distribuição

Havendo mais de um juiz competente no foro do processo, a competência será


determinada pelo critério da distribuição. Nesse caso, existem dois ou mais
juízes igualmente competentes, por qualquer dos critérios, para o julgamento
da causa. A distribuição do inquérito policial e a decretação de prisão
preventiva, a concessão de fiança ou a determinação de qualquer diligência
(por exemplo: busca e apreensão), antes mesmo da distribuição do inquérito,
torna o juízo competente para a futura ação penal.

VI - Competência por conexão

Conexão é o nexo, a dependência recíproca que os fatos guardam entre si. A


conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um
vínculo, um nexo, um liame que aconselha a junção dos processos,
propiciando, assim, ao julgador perfeita visão do quadro probatório.

São efeitos da conexão: a reunião das ações penais em um mesmo processo e


a prorrogação de competência.

Exemplos: falso e estelionato

roubo e receptação

As hipóteses de conexão estão previstas no art. 76, I, II e III, do CPP.


Prevalecerá sempre a competência do crime mais grave, ou seja, haverá
prorrogação de competência (art. 79, CPP).

VII - Competência por continência

Na con nência deve haver também um só processo, mesmo porque a causa de pedir é
a mesma. Há con nência em duas hipóteses:
a) No concurso de pessoas: quando duas ou mais pessoas forem
acusadas pela mesma infração (art. 77, I); é a hipótese do concurso de
agentes.

b) Nos casos de concurso formal (CP, art. 70), aberratio ictus - erro de
execução - o sujeito ativo, além de atingir a pessoa que visou, fere um
terceiro e aberratio delicti, quando uma pessoa lança uma pedra contra
uma vitrina e vai alcançar também um transeunte, praticando com ação
única lesões a objetividades jurídicas diversas.

Exemplos: 1) Se B e C furtam A, haverá um só processo contra ambos.

2) Se B atira em C e, além de atingi-lo, também fere A, instaura-


se um só processo.

VIII - Competência por prevenção

Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que houver dois ou mais
juízes igualmente competentes, em todos os critérios, para o julgamento da
causa. Neste caso, a prevenção surge como uma solução para determinar qual
o juízo competente.

Trata-se de uma pré-fixação da competência, que ocorre quando o juíz toma


conhecimento da prática de uma infração penal antes de qualquer outro
igualmente competente, sendo necessário que determine alguma medida ou
pratique algum ato no processo ou inquérito.

Exemplos de prevenção: decretação da prisão preventiva, concessão da


fiança, pedido de explicações em juízo, diligência de busca e apreensão no
processo dos crimes contra a propriedade imaterial, distribuição de inquérito
policial para concessão ou denegação de pedido de liberdade provisória etc...
Casos em que não ocorre a prevenção : pedido de habeas corpus, remessa
de cópia de auto de prisão em flagrante, decisão do tribunal que anula
processo etc...

IX - Regras para se fixar o foro de atração (art. 78).

1ª regra - No concurso entre a competência do júri e a de outro órgão de


jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;

2ª regra - No concurso de jurisdição da mesma categoria, observar-se-á o


seguinte:

a) prevalecerá a do lugar da infração à qual for cominada a pena


mais grave (exemplo: furto e artigo 16, da Lei n. 6.368/76);

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número


de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade
(exemplo: crime continuado);

c) Firmar-se-á a competência por prevenção nos demais casos;

3ª regra - No concurso de jurisdição de diversas categorias predominará a de


maior graduação;

A jurisdição do Tribunal de Justiça é superior à do juiz de direito.


Desse modo, se um Promotor de Justiça e um advogado, na
comarca, forem acusados pela prática de estelionato (co-autores),
será evidente a continência, devendo haver um só processo
perante um único órgão jurisdicional, ou seja, Tribunal de Justiça
(art. 78, III).
4ª regra - No concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá
esta.

Exemplo: crime eleitoral (compra de votos (corrupção) e bando ou quadrilha (art.


28))

X – Exceções às regras

1ª exceção - Concurso entre a jurisdição comum e a militar. Se houver uma


infração de competência da Justiça Comum e outra da
competência da Justiça Militar, interligadas pela conexão em
continência, haverá separação dos processos.

2ª exceção - Concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.


Separação dos processos, até porque o menor de 18 anos é
penalmente inimputável, estando assim, sujeitos às
providências de que trata o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente).

3ª exceção - Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em


relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art.152.

Exemplo: A praticou um crime em concurso com B. A, em decorrência da prisão,


tornou-se doente mental. Neste caso, separam-se os processos, até porque o
processo em relação ao insano ficará paralisado até que ele recupere sua saúde
mental.
4ª exceção - A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver
co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer à
hipótese do 461.

Exemplos :

 Se um dos acusados não for encontrado para ser citado, ou não responder a
citação por edital, haverá separação.

 No júri, quando tiver mais de um réu com defensores diferentes, ou seja, um


escolhe a testemunha A e o outro a recusa.

3. DIVISÃO DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO


LOCAL

1. LOCAL DA CONSUMAÇÂO

 A competência será determinada pelo local onde o crime se


consumou.

 A competência será determinada pelo domicílio do réu, se


desconhecido o lugar da infração.
2. PREVENÇÂO

 A competência será determinada pela prevenção quando o crime


ocorrer nas divisas de duas ou mais comarcas, ou quando incerto
quanto aos limites (juiz que primeiro tomou conhecimento)

 Tratando-se de crime continuado, praticado no território de


diversas comarcas, aplica-se o art. 71, firmando-se pela
prevenção.

 Quando desconhecido o local da infração, e o réu tiver mais de


uma residência, estabelecerá a competência pela prevenção (art.
72, § 1º)

3. DISTRIBUIÇÃO

 Quando existir mais de um juiz na mesma circunscrição judiciária


igualmente competentes.(art. 75)

Exceção:

1) quando se tratar de crime doloso, cuja competência será


do juiz que atua na vara do júri. (art. 74, § 1º)
2) quando houver conexão ou continência, as infrações
deverão ser apuradas pelo juiz prevalente.(art. 76 a 78)

3) em razão da prevenção, deve a ação penal ser submetida


a apreciação do juiz que já tenha, de algum modo, tomado
conhecimento do caso. (art. 83)

4. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO

 Nos delitos qualificados pelo resultado a consumação se dá


quando ocorre um dos eventos que majoram a pena.

5. CRIMES PLURILOCAI OU DE DISTÂNCIA MÍNIMA


 Nos delitos plurilocais a ação ocorre em um local e o resultado em
outro, devendo obedecer a regra do art. 70, ou seja do local onde o
crime se consumou.

6. REGRAS PARA SE FIXAR O FORO DE ATRAÇÃO (ART. 78)

1ª regra: concurso entre competência do júri e a de outro órgão,


prevalecerá a do júri.

2ª regra: no concurso de jurisdição da mesma categoria,


observar-se-á o seguinte:

prevalecerá do lugar da infração mais grave.

prevalecerá a do lugar onde houver ocorrido maior número


de infrações (crime continuado).

firmar-se-á por prevenção nos demais casos.

3ª regra: no concurso de jurisdição de diversas categorias,


predominará a de maior graduação (art. 78, III).

4ª regra: no concurso entre jurisdição comum e especial,


prevalecerá a especial .
7. EXCEÇÕES AS REGRAS

1ª exceção: concurso entre jurisdição comum e militar.

2ª exceção: concurso entre jurisdição comum e a do juízo de


menores.
3ª exceção: cessará a unidade do processo, se em relação a algum
co-réu, sobrevier doença mental (art. 152).

4ª exceção: a unidade do processo não impedirá o julgamento, se


houver co-réu foragido, que não possa ser julgado a
revelia.

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