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Fala galerinha do Brasil.

Hoje iremos estudar um assunto de grande importância no seu edital


da matéria de Direito processual penal, que é o Disposições
preliminares do Código de Processo Penal. Vamos lá?!
Professor Rodolfo Souza
#DesistirJamais!

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO CPP

Aplicação da Lei Processual no Espaço

1. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE (ART. 1° CPP)

Quanto à aplicação da lei processual penal no espaço, vale, como regra geral, o princípio da
territorialidade (locus regit actum), consagrado no art. 1º, caput, do CPP, segundo o qual é aplicada
a lei processual penal brasileira a todo crime ocorrido em território nacional, da mesma forma com
que ocorre no Direito Penal (art. 5° CP). A esse respeito, entende-se como lei processual penal
brasileira, também como regra, o Código de Processo Penal, que, no entanto, não se aplica para os
crimes processados no Brasil nas hipóteses previstas nos incisos I a V do art.1º do CPP.

Justifica-se a adoção do princípio da territorialidade como regra geral tendo em vista que ele assegura
a soberania nacional, pois "não teria sentido aplicar normas procedimentais estrangeiras para apurar
e punir um delito ocorrido dentro do território brasileiro" (NUCCI, 2008, p. 130).

Observação:

A lei penal brasileira é também aplicada para os casos de extraterritorialidade previstos no art. 7° do
Código Penal (crimes praticados fora do território nacional, mas para os quais há a aplicação da lei
brasileira).

Entretanto, ao contrário do que ocorre com a lei penal, a lei processual penal brasileira não possui
extraterritorialidade, salvo nas seguintes hipóteses: a) aplicação da lei processual penal brasileira em
território nullius; b) se houver autorização de um determinado país, para que o ato processual seja
praticado em seu território de acordo com a lei processual penal brasileira; c) se houver território
ocupado em tempo de guerra (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 44).

Atenção:
O art. 2° da Lei n° 9.455/97 apresenta uma exceção ao princípio da territorialidade, ao afirmar que
"O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional,
sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob a jurisdição brasileira".

Como esse assunto foi cobrado em concurso?

No concurso do MP/BA, em 2008, promovido pela Fesmip, cobrou-se justamente o princípio regente
da aplicação da lei processual penal no espaço. Nesse sentido, a assertiva "No tocante à aplicação da
lei processual penal no espaço, é aplicado, em regra, o princípio da nacionalidade" (destacada) foi
considerada incorreta.

2. CONCEITO DE TERRITÓRIO

Em sentido estrito, território implica no "solo (e subsolo) sem solução de continuidade e com limites
reconhecidos, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma continental e o espaço aéreo"
(MIRABETE, 2004, p. 63). Por extensão, ele implica nas embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como nas
aeronaves e nas embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto mar (art. 5°, § 1º, CP).

3 . EXCEÇÕES À REGRA DA TERRITORIALIDADE

São situações em que, na verdade, continuará sendo aplicada a lei processual penal brasileira, mas
não o Código de Processo Penal e sim outros instrumentos normativos.

3.1. Tratados, convenções e regras de direito internacional (art. 1º, I, CPP)

Em firmando o Brasil um tratado ou uma convenção ou ainda participando o país de uma organização
mundial regida por regras internacionais, não há de ser aplicado o Código de Processo Penal ao caso
concreto, incidindo a lei material do respectivo país e, via de consequência, tramitando o processo
penal em tal localidade.

Exemplo dessa exceção são os casos de imunidades diplomáticas: agentes diplomáticos, que
possuem imunidade em território nacional, quando estiverem a serviço de seu país de origem, tais
como embaixadores, secretários de embaixada, bem como seus familiares, além de funcionários de
organizações internacionais (exemplo: ONU), se praticarem algum crime em território nacional, não
serão processados no Brasil, por força da Convenção de Viena, de 1961, referendada pelo Decreto n°
56.435/65; o mesmo ocorre com o cônsul, desde que cometa infração no exercício de suas funções
e no território do seu consulado, consoante previsto na Convenção de Viena, de 1963, ratificada pelo
Decreto n° 61.078/67.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?


No concurso de Delegado de Polícia do Estado do Pará, em 2013, UEPA, dentre outros aspectos
relevantes da aplicação da lei processual penal no tempo e no espaço, indagou-se sobre a imunidade
dos diplomatas, a saber: "Sobre a eficácia da lei processual penal é correto afirmar que: A) se
trabalhadores são aliciados no Município de Guaribas (Piaui) e reduzidos à condição análoga à de
escravo em uma fazenda de Redenção (Pará), considera-se o crime praticado exclusivamente no
Pará, porquanto foi onde se deu o ataque ao bem jurídico tutelado. B) homem flagrado dirigindo
veículo automotor sob embriaguez intensa não pode ser preso nem processado no Brasil, caso se
comprove a sua condição de diplomata de outro país, em exercício no Brasil. C) uma lei que reduza
o prazo para a interposição de recurso não pode ser aplicada aos processos em andamento, haja vista
que, em se tratando de norma mais gravosa, não pode retroagir para alcançar processos iniciados
antes de sua vigência. D) deputado federal que acabou de alvejar, dolosamente, com dois tiros a
própria esposa não pode ser preso em flagrante porque a imunidade parlamentar de que goza só
permite a prisão após autorização da casa legislativa a que sirva. E) a superveniência de lei alterando
o procedimento da ação penal surte efeitos imediatos sobre os processos em andamento,
determinando a renovação dos atos já praticados que com ela sejam incompatíveis.". A resposta da
questão foi a letra B.

Há ainda outros exemplos desta exceção: o cumprimento de cartas rogatórias (embora dependentes
do exequatur do STJ); a homolo gação de sentença estrangeira (também feita pelo STJ); o processo
de extradição (feito pelo STF), que visa encaminhar agente que cometeu crime no exterior para este
país.

Noutro giro, insta salientar que o art. 5°, § 4°, da Constituição Federal, com a redação dada pela
Emenda Constitucional n° 45/04, ainda menciona que "O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão". A esse respeito, registre-se que o
Tribunal Penal Internacional (TPI), criado pelo Estatuto de Roma de 17 de julho de 1998, foi aprovado
no Brasil pelo Decreto Legislativo n° 112/2002 e promulgado pelo Decreto Presidencial no
4.388/2002. Este Tribunal tem jurisdição subsidiária. no sentido de que deve atuar "apenas quando
o país competente não faça valer a lei penal, especialmente nos crimes de guerra e contra a
humanidade" (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 42).

É preciso esclarecer que o TPI integra a própria jurisdição brasileira, é verdadeiro órgão especial do
Judiciário nacional, em sua última instância, embora atue na órbita internacional. Essa constatação é
de extrema relevância, pois permitirá a entrega pelo Brasil de nacionais ou estrangeiros ao Tribunal
Penal Internacional sem que isso implique em extradição e, consequentemente, em violação ao
artigo 5°, incisos LI ("nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei") e Lll ("não será concedida extradição de estrangeiro
por crime político ou de opinião") da Constituição Federal (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 42-43).

A Emenda Constitucional nº 45/04 reforçou esse caráter, ao estipular no art. 5°, § 3°, da Carta Magna
Federal que "Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais". Se, entretanto, o tratado e a convenção
que versem sobre direitos humanos forem anteriores à Emenda Constitucional nº 45/04 ou ainda
não preencherem os requisitos formais exigidos pelo art. 5°, § 3°, da Constituição, a exemplo do que
ocorre com o Pacto de São josé da Costa Rica, terão caráter supralegal, superiores à lei ordinária, mas
devendo respeito ao Texto Constitucional, conforme entendimento do STF exarado nos julgamentos
do RE nº 466.343/SP e HC nº 87-585/TO (Informativo nº 531).

3.2. Jurisdição política (art. 1º, II, CPP)

Em certos crimes de responsabilidade (em verdade, infrações político-administrativas), não será o


Judiciário que julgará o fato delitivo, mas sim determinado órgão do Poder Legislativo. Assim, no
âmbito federal, o Senado Federal tem competência para o julgamento dos crimes de
responsabilidade praticados pelas autoridades mencionadas no art. 52, incisos I ("Compete
privativamente ao Senado Federal processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República
nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles") e lI ("Compete
privativamente ao Senado Federal processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os
membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o
Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade"), da
Constituição Federal. Quanto ao seu processamento, os crimes de responsabilidade são regidos pela
Lei nº 1.079/50.

No âmbito estadual, o julgamento é feito por um Tribunal Especial, de acordo com o previsto no art.
78, § 3°, da Lei n° 1.079/50, que dispõe: "Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o
processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei,
devendo, porém, o julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do
Legislativo e de cinco desembargadores sob a presidência do Presidente do Tribunal de justiça local,
que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita - a dos membros dos
membros (sic) do legislativo, mediante eleição pela Assembleia; a dos desembargadores, mediante
sorteio".

No âmbito municipal, o regramento é feito pelo Decreto-Lei n° 201/67 e o julgamento competirá à


Câmara de Vereadores (art. 4° do Decreto-Lei n° 201/67).

3.3. Justiça Militar (art. 1, III, CPP)

A justiça Militar é considerada justiça especial, possuindo regras próprias, motivo pelo qual a ela não
se aplica o Código de Processo Penal, mas sim o Código Penal Militar (define os crimes militares) e o
Código de Processo Penal Militar (define os procedimentos de tais crimes).

Embora não haja previsão expressa neste dispositivo legal, impende relembrar que a justiça Eleitoral
é também uma justiça especial, tendo competência para o processamento e julgamento dos crimes
eleitorais e conexos ou continentes, devendo ser aplicado em tal órgão jurisdicional o Código
Eleitoral, ocorrendo, porém, a aplicação subsidiária do CPP (art. 364 do Código Eleitoral).

3.4. Tribunal de Segurança Nacional (art. 1º, IV, CPP)


O Tribunal de Segurança Nacional, instituído pelo art. 122, no 17, da Constituição Federal de 1937,
não mais existe no ordenamento, tendo sido extinto pela Lei Constitucional n° 14/45. Hoje os crimes
contra a segurança nacional, que eram julgados pelo referido Tribunal, estão previstos na Lei n°
7.170/83 e são, em regra, julgados pela justiça Federal (art. 109, inciso IV, da Constituição Federal),
pois são delitos políticos.

3.5. Lei de Imprensa (art. 1º, V, CPP)

Os crimes de imprensa são julgados pela Justiça Comum. Afirma o CPP, no art. 1º, V, que, para esses
crimes, deveria ser respeitado o procedimento da Lei de Imprensa (Lei n° 5.250/67). Entretanto, o
STF, no julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 130/DF, julgou
pela não recepção ou revogação de toda essa lei, daí porque, para esses casos, deve haver a aplicação
direta do procedimento previsto no CPP.

3.6. Legislação especial (art. 1º, parágrafo único, CPP)

O art. 1°, parágrafo único, do CPP assevera expressamente o seguinte: "Aplicar-se-á, entretanto, este
Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não
dispuserem de modo diverso".

É certo que os incisos IV e V do art. 1º estão prejudicados, como visto alhures. No entanto, o
dispositivo legal em comento ainda possui importância, devendo ser interpretado de forma a
permitir a aplicação subsidiária do CPP às leis especiais em geral, caso não dispuserem de modo
contrário. É o que ocorre, por exemplo, com a Lei de Tóxicos (Lei n° 11.343/06), Lei de Abuso de
Autoridade (Lei n° 13.869/19) etc.

Aplicação da Lei Processual no tempo

1. REGRA GERAL (ART. 2° CPP) - PRINCÍPIO DO EFEITO IMEDIATO OU PRINCÍPIO DA APLICAÇÃO


IMEDIATA OU SISTEMA DO ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS

Quanto à aplicação da lei processual penal no tempo, vale, como regra geral, o princípio do efeito
imediato ou da aplicação imediata (tempus regit actum) ou sistema do isolamento dos atos
processuais, consagrado expressamente no art. 2° do CPP, segundo o qual a norma processual penal
entra em vigor imediatamente, pouco importa se mais gravosa ou não ao réu, atingindo inclusive
processos em curso, sem necessidade de vacatio legis, embora os atos processuais praticados na
vigência da lei anterior sejam absolutamente válidos, o que vai ao encontro ao imperativo
constitucional de respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada (art. 5°,
XXXVI, CF).

Justifica-se esse princípio porque se presume que a lei nova é "mais ágil, mais adequada aos fins do
processo, mais técnica, mais receptiva das novas e avançadas correntes do pensamento jurídico"
(MIRABETE, 2004, p. 60). Ademais, a norma processual penal não cria nenhuma conduta penal típica,
apenas trata de processo, não necessitando, por isso, um tempo maior para que a sociedade tome
conhecimento da mesma.

O princípio em comento também se aplica à "matéria de competência, seja ela regulada por leis de
processo, seja pelas normas de organização judiciária. Mesmo que a lei nova venha criar ou suprimir
uma ordem de jurisdição, substituir juízes, modificar composição de tribunais etc., deve ser ela
aplicada aos processos em curso" (MIRA BETE, 2004, p. 60).

2. EXCEÇÃO (ART. 3º LICPP)

Exceção ao princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata vem prevista no art. 3° da Lei de
Introdução ao Código de Processo Penal, segundo o qual "O prazo já iniciado, inclusive o estabelecido
para a interposição de recurso, será regulado pela lei anterior, se esta não prescrever prazo menor
do que o fixado no Código de Processo Penal". Assim, se um determinado prazo já estiver andamento,
incluindo prazo recursal, valerá o prazo da lei anterior se o prazo da nova lei for menor do que aquele
outro. Exemplo: certo prazo recursal, na lei anterior, era de 5 (cinco) dias; esse prazo começa a
transcorrer; no curso do prazo, começa a viger uma nova lei que reduz o prazo recursal para 2 (dois)
dias; nessa hipótese, continua sendo aplicado o prazo recursal anterior de 5 (cinco) dias.

3. NORMAS PROCESSUAIS PENAIS MATERIAIS OU MISTAS OU HÍBRIDAS (ART. 2° LICPP)

Normas processuais penais materiais ou mistas ou híbridas são aquelas que, "apesar de estarem no
contexto do processo penal, regendo atos praticados pelas partes durante a investigação policial ou
durante o trâmite processual, têm forte conteúdo de Direito Penal" (NUCCI, 2008, p. 139).

São normas, portanto, que envolvem institutos mistos, previstos muitas vezes tanto no Código de
Processo Penal como no Código Penal, a exemplo do perdão, da perempção, renúncia, decadência
etc, que promovem a extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 107, incisos IV e V, do
Código Penal.

Ademais, é também considerada norma processual penal mista aquela que diz respeito à prisão do
réu, pois ela envolve o direito material de liberdade. A prisão preventiva, por exemplo, está
diretamente ligada ao direito de liberdade do réu (somente pode ser decretada se houver motivo
suficiente para superar tal direito).

Em havendo hipótese de incidência de norma processual penal material, segundo entendimento


doutrinário prevalecente, embora haja posicionamentos em sentido contrário (TÁVORA; ALENCAR,
2009, p. 40-41), não deve haver cisão da norma entre a parte penal e a parte processual penal. Nesse
trilhar, é aplicado, para a norma como um todo (e não apenas para a parte penal), o princípio típico
do Direito Penal da retroatividade da lei mais benéfica (consagrado no artigo 5°, XL, da Constituição
Federal e no artigo 2° do Código Penal), se efetivamente a lei desta natureza for mais benéfica ao
réu. Nesse sentido é o art. 2° da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal, que determina que
sejam aplicados os dispositivos mais favoráveis ao réu, no que concerne à prisão preventiva e à
fiança, quando houver a edição de lei nova que colha situação processual em desenvolvimento.
Exemplos de normas processuais penais mistas: a Lei n° 8.884/94, que alterou o art. 312 do CPP,
possibilitando a prisão preventiva como garantia da ordem econômica; a Lei n° 9.271/96, que alterou
o art. 366 do CPP, permitindo a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, bem como
a prisão preventiva do acusado e a produção antecipada de provas, caso o réu citado por edital não
compareça ao feito nem constitua procurador; a Lei n° 12.403/11, que, dentre tantos outros aspectos
relevantes, trouxe a previsão de medidas cautelares diversas da prisão no art. 319 do CPP, o que fez
com que a prisão preventiva se tornasse medida de extrema ou ultima ratio (art. 282, § 6°, CPP),
exigindo assim a revisão judicial de todas as prisões desta natureza decretadas até o advento da lei
em tela, as quais somente poderiam ser mantidas se não fosse cabível a sua substituição por outra
medida cautelar; qualquer norma que diga respeito à prisão do agente delitivo; a Lei n° 12.015/09,
que alterou o art. 225 do Código Penal, estabelecendo como regra geral a ação penal pública
condicionada à representação do ofendido nos crimes contra a dignidade sexual; qualquer norma
relacionada à legitimidade na ação penal privada e na ação penal pública condicionada à
representação (o mesmo não pode ser dito para a norma que altere a legitimidade na ação penal
pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça, pois este último instituto não promove a
extinção da punibilidade do agente).

4. VIGÊNCIA, REVOGAÇÃO E REPRISTINAÇÃO

4.1. Vigência

A vigência é o marco a partir do qual a lei processual já pode ser aplicada no país. Em regra, a lei
processual tem vigência indeterminada. Ao período compreendido entre a publicação da norma e a
sua vigência, destinado para permitir que os cidadãos tomem conhecimento da mesma, dá-se o
nome de vacatio legis, que, se a norma não disser nada a respeito, será de 45 (quarenta e cinco) dias
ou de 3 (três) meses para a sua aplicação nos Estados estrangeiros, quando esta é admitida (art. 1°,
caput e § 1°, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro - Decreto-Lei no 4.657/1942).

Entretanto, a lei nova pode dispor sobre o início de sua vigência de forma diversa - exemplo: o Código
de Processo Penal foi publicado em 13.10.41 e somente teve vigência em 01.01.42.

A Lei Complementar n° 95/98 (art. 8°) e o Decreto n° 4.176/02 (art. 19) determinam que toda e
qualquer norma legal deverá ter um período de vacatio legis correspondente ao número de dias
necessários para que todos dela tomem conhecimento, somente podendo entrar em vigor na data
da sua publicação as "leis de pequena repercussão". Além disso, segundo tais legislações, a contagem
do prazo para entrada em vigor das leis que estabelecem vacatio legis far-se-á com a inclusão da data
da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação
integral.

4.2. Revogação

É instituto que encerra a vigência da lei. Pode ser expressa (quando a revogação é declarada na lei
revogadora) ou tácita (quando a lei posterior regulamenta de modo diverso a matéria disciplinada
pela lei antiga). Pode ser ainda parcial (derrogação) ou total (ab-rogação). Existe ainda a
autorrevogação, que ocorre "quando cessa a situação de emergência na lei excepcional ou se esgota
o prazo da lei temporária" (MIRABETE, 2004, p. 62).

É de se salientar que uma determinada norma pode ser revogada ainda no período da vacatio legis,
como ocorreu com o Código Penal de 1969, que foi revogado antes de entrar em vigor (TÁVORA;
ALENCAR, 2009, p. 41).

Como esse assunto foi cobrado em concurso?

No concurso do MP/BA, em 2008, promovido pela Fesmip, foi cobrada a diferença entre ab-rogação
e derrogação. Nesse sentido, a assertiva "A revogação de uma lei processual penal pode ocorrer de
forma parcial, denominada ab-rogação, ou de forma total, denominada derrogação" (destacada) foi
considerada incorreta.

4.3. Repristinação

É instituto "pelo qual a lei revogada volta a viger quando a lei revogadora perdeu a vigência"
(MIRABETE, 2004, p. 63). Nos termos do art. 20, § 3°, da Lei de Introdução às normas do Direito
Brasileiro (Decreto-Lei n° 4.657/1942), salvo disposição em contrario, a lei revogada não se restaura
por ter a lei revogadora perdido a vigência. Desse modo, só há que se falar em repristinação "se a lei
nova dispuser nesse sentido ou se, mesmo não o fazendo, da interpretação da nova lei se conclui que
foi essa, implicitamente, sua intenção" (MIRABETE, 2004, p. 63).

Interpretação da Lei processual penal

1. NOÇÕES GERAIS

Interpretar a lei é "atividade inerente a todo operador do direito, especialmente pelo fato de que o
legislador nem sempre é feliz ao editar normas, valendo-se de termos dúbios, contraditórios,
obscuros e incompletos. Não se trata de processo de criação de norma, nem de singelo suprimento
de lacuna, mas de dar o real significado a uma lei (NUCCI, 2008, p. i28).

É, portanto, a extração do real conteúdo da norma, buscando dar sentido lógico à sua aplicação.
Interpretar é descobrir o verdadeiro conteúdo da norma jurídica, precedendo sempre à aplicação,
processo pelo qual se submete o caso concreto à norma geral (MIRA BETE, 2004, p. 74). Segundo
Mirabete, é necessária a interpretação para alcançar o sentido léxico das palavras utilizadas pelo
legislador, para alcançar a vontade da lei, que não necessariamente é a vontade do legislador
(MIRABETE, 2004, p. 74).

2. ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

2.1. Quanto ao sujeito que a realiza ou à origem


É critério que leva em consideração o sujeito que realiza a interpretação da norma processual penal,
a sua origem. Divide-se em:

Autêntica ou legislativa: É aquela que "procede da mesma origem da lei e tem força obrigatória"
(MIRABETE, 2004, p. 75).

Caso ela venha inserida na própria legislação interpretada, é também conhecida como contextual.
Exemplo: o conceito de flagrante delito vem previsto no próprio CPP, nos seus artigos 302 e 303. Mas
a interpretação pode advir também de lei posterior, criada para esclarecer ponto controverso de lei
anterior, hipótese em que terá efeito retroativo.

Jurisprudencial ou judicial: Trata-se do "conjunto de manifestações judiciais sobre determinado


assunto legal, exaradas num sentido razoavelmente constante" (MIRABETE, 2004, p. 75). É, pois, "a
orientação que os juízos e tribunais vêm dando à norma" (MIRABETE, 2004, p. 75), em regra sem
força obrigatória. Entretanto, as súmulas vinculantes do STF (art. 103-A da Constituição Federal,
disciplinado pela Lei n° 11.417/2006) e as decisões proferidas em controle concentrado de
constitucionalidade têm força obrigatória, constituindo-se assim em verdadeiras fontes do Direito.
São exemplos de interpreta ção jurisprudencial assúmulas do STF e do STJ e as decisões de
uniformização de jurisprudência dos tribunais.

Doutrinária ou científica: É espécie de interpretação tida como "o entendimento dado aos
dispositivos legais pelos escritores ou comentadores do direito" (MIRABETE, 2004, p. 75), ou, em
outros termos, é a communis opinio doctorum. A exposição de motivos do Código é exemplo desta
interpre tação, pois ela não tem conteúdo de lei. Prevalece o enten dimento de que a modalidade de
interpretação em comento não tem força obrigatória.

2.2. Quanto aos meios empregados ou ao modo

Gramatical ou literal ou sintática: É aquela que se espelha "no exato significado das palavras
constantes do texto legal" (NUCCI, 2008, p. 128). Por meio dela, "busca-se fixar o sentido das palavras
ou expressões empregadas pelo legislador. Examina-se a 'letra fria da lei', em sua função gramatical
[...)" (MIRABETE, 2004, p. 75).

Sistemática: Sendo a interpretação gramatical insuficiente, deve-se fazer um confronto lógico entre
os dispositivos da lei, o que resulta em uma interpretação sistemática.

Exemplo: a palavra "autoridade" empregada no art. 10, §§ 1°, 2° e 3°, do CPP implica em "autoridade
policial", conforme artigos 4°, caput, e 6° do próprio CPP. Nesse sentido é que se tem a regra
hermenêutica de que o parágrafo único de uma norma somente deve ser entendido com base no seu
respectivo caput.

Lógica: É aquela que se vale "das regras de raciocínio e conclusão para compreender o espírito da lei"
(TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 39).
Histórica: É aquela que "analisa o contexto da votação do diploma legislativo, os debates, as emendas
propostas, etc" (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 39).

Teleológica: É aquela por meio da qual se procura o sentido e o alcance da norma. A esse respeito, é
fundamental relembrar que o art. 5° da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-
Lei n° 4.657/1942) assevera que a interpretação deve atender "aos fins sociais a que ela se dirige e
às exigências do bem comum".

2.3. Quanto aos resultados

Declarativa: É a espécie de interpretação que "ocorre quando o texto examinado não é ampliado
nem reduzido, encontrando-se apenas o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei"
(MIRABETE, 2004, p. 76). Exemplo: o art. 248 CPP, ao falar de casa habitada, apenas quer se referir a
casa com uma ou mais pessoas.

Restritiva: É espécie de interpretação que procura restringir "o alcance dos termos utilizados na lei
para atingir seu real significado" (NUCCI, 2008, p. 128). Nesse sentido, deve ser relembrada a regra
de hermenêutica segundo a qual toda exceção deve ser interpretada de forma restritiva.

Extensiva ou ampliativa : É modalidade de interpretação por meio da qual se alarga "o sentido dos
termos legais para dar eficiência à norma" (NUCCI, 2008, p. 128), pois o legislador disse menos do
que queria ou deveria dizer. Exemplo: no art. 254, o CPP, tratando da suspeição, fala apenas em juiz,
mas, por interpretação extensiva, a causa se aplica também ao jurado, que é juiz de fato no Tribunal
do Júri.

Analógica: É espécie de interpretação mediante a qual o intérprete se vale "de um processo de


semelhança com outros termos constantes na mesma norma para analisar o conteúdo de algum
termo duvidoso ou aberto" (NUCCI, 2008, p. 128). Em outras palavras, ocorre quando "fórmulas
casuísticas inscritas em um dispositivo são seguidas de expressões genéricas, abertas, utilizando-se
a semelhança (analogia) para uma correta interpretação destas últimas" (MIRABETE, 2004, p. 77).
Mirabete menciona ainda exemplos de interpretação analógica: "Quando a lei se refere a 'quaisquer
outros elementos' no artigo 6°, IX, do CPP, está mencionado outros dados referentes à 'vida pregressa
do indiciado'. Quando menciona 'repartição congênere', refere-se a órgãos que atuem com o objetivo
de identificação e estatística. Quando contém a expressão 'fato análogo', como no artigo 254, inclui
no rol crimes previstos no mesmo capítulo da lei penal" (MIRABETE, 2004, p. 77). Ela também vem
prevista expressamente no art. 3° do CPP .

Progressiva ou adaptativa ou evolutiva : Ela ocorre para que sejam abarcadas "no processo novas
concepções ditadas pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais que devem permear
a lei processual estabelecida" (MIRA BETE, 2004, p. 76). Exemplo: quando o CPP fala em Tribunal de
Apelação quer se referir ao Tribunal de Justiça.

O Processo Penal admite todas as formas de interpretação acima expostas. Isso porque o art. 3° do
CPP autoriza expressamente a interpretação analógica, que é a forma mais expansiva de todas, logo
as demais formas de interpretação, menos expansivas, também estão autorizadas, segundo lição de
Guilherme de Souza Nucci (NUCCI, 2008, p. 128). Além disso, frise-se que o art. 3° também permite
a analogia, que é processo de integração ou auto-integração (não de interpretação) da norma,
suprindo lacunas. Aliás, analogia, costumes e princípios gerais do direito, segundo o art. 4º da Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n° 4.657/1942), são fontes do Direito.

Juiz das Garantias

O ministro Luiz Fux, no exercício da presidência do STF durante as férias forenses, decidiu
suspender a aplicação da figura do juiz das garantias (artigos 3º-A a 3º-F) por tempo
indeterminado. Para o ministro, caberá ao STF dizer se o instituto é ou não constitucional. (ADIN
6298/DF)

"O juiz das garantias, embora formalmente concebido pela lei como norma processual geral,
altera materialmente a divisão e a organização de serviços judiciários em nível tal que
enseja completa reorganização da justiça criminal do país, de sorte que inafastável considerar que
os artigos 3º-A a 3º-F consistem preponderantemente em normas de organização judiciária, sobre
as quais o Poder Judiciário tem iniciativa legislativa própria (Art. 96 da Constituição)."

Fux considerou que o juízo das garantias e sua implementação causam impacto
financeiro relevante ao Judiciário; e que a ausência de prévia dotação orçamentária viola
diretamente a CF.

"A complexidade da matéria em análise reclama a reunião de melhores subsídios que indiquem,
acima de qualquer dúvida razoável, os reais impactos do juízo das garantias para os diversos
interesses tutelados pela Constituição Federal, incluídos o devido processo legal, a
duração razoável do processo e a eficiência da justiça criminal."

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