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DO HABEAS CORPUS

Introdução

O intuito deste artigo é o estudo das espécies, formas e natureza do habeas corpus, sua história,
evolução e aplicação nos dias atuais.

Sua relevância no direito pátrio é imensa, tanto por sua ampla aplicabilidade, quanto por sua essência,
uma vez que se trata do Instituto que se presta para salvaguardar a liberdade do indivíduo que padece de
constrangimento ou que está na iminência de padecer, sendo o remédio processual que visa à garantia de
liberdade.

Origem

A origem do instituto do habeas corpus é questão divergente entre os doutrinadores, mas é


apontada por muitos como sendo o Capítulo XXIX da Magna Carta (ou Magna Charta Libertatum), da Inglaterra,
datada de 19 de junho de 1215, outorgada pelo Rei João sem Terra, por pressão do clero, condes e barões.

Apesar das muitas pressões que envolveram sua origem, era frequentemente desrespeitado e foi
revogado no mesmo ano de sua outorga. Porém, no ano de 1216, foi restabelecido pelo filho do Rei João sem
Terra, que, em razão de seu falecimento, ascendeu ao trono naquele ano. Mas ainda assim, as ofensas à
liberdade permaneciam em face dos muitos subterfúgios de que se lançava mão para se prolongar a detenção.

Após um longo período, no ano de 1679, também na Inglaterra, é criado o “Habeas Corpus Act”,
concedido apenas quando se tratasse de pessoas privadas da sua liberdade em razão de crime, não se aplicando
em nenhum outro caso de prisão ilegal.

Há ainda quem afirme que a origem desse instituto é datada desse mesmo ano, 1679, porém na
Espanha, no reinado de Carlos III.

O instituto anterior, entretanto, foi ampliado em 1816, com um novo “Habeas Corpus Act”, que
permitia a sua incidência para a defesa pronta e rápida de liberdade pessoal, inclusive contra ato de particular.

No Brasil, segundo o Ilustre doutrinador Julio Fabbrini Mirabete, o instituto surgiu de forma
implícita na Constituição Imperial de 1824, que proibia as prisões arbitrárias. E, expressamente, no Código de
Processo Criminal de 1832, que, em seu artigo 340, previa que todo cidadão que entendesse estar, ele mesmo
ou outrem, sofrendo prisão ou constrangimento em sua liberdade, tinha o direito de pedir a concessão de uma
ordem de Habeas Corpus em seu favor, ou a favor de outrem. Travava-se do chamado Habeas Corpus
liberatório.

Conceito

A expressão habeas corpus tem sua origem no latim e indica a essência do instituto, que, em seu sentido
literal significa “tome o corpo”. Isto é, tome a pessoa presa e a apresente ao juiz, para que seja procedido o seu
julgamento.

"Ter corpo, ou tomar o corpo, é uma metáfora, que significa a liberdade de ir e vir, o poder de
locomoção, o uso dessa liberdade de locomoção livremente, salvo restrições legais a todos impostas
indistintamente"
Posteriormente a expressão passou a ser entendida como a “ordem de libertação”, uma vez que tal
instituto jurídico é destinado a tutelar a liberdade física do indivíduo, a liberdade de ir, ficar e vir.

IV - Natureza Jurídica do “habeas corpus”

O habeas corpus está contemplado na Constituição Federal no capítulo destinado aos direitos e
garantias fundamentais.

Primeiramente, cumpre esclarecer que, segundo Alexandre de Moraes, os direitos humanos


fundamentais relacionam-se diretamente com a garantia de não ingerência do Estado na esfera individual e a
consagração da dignidade humana, tendo um universal reconhecimento por parte da maioria dos Estados, seja
em nível constitucional, infraconstitucional, consuetudinário ou mesmo por tratados e convenções
internacionais.

Especificamente sobre o habeas corpus, cumpre esclarecer que o direito constitucional à


liberdade seria o direito. Já o habeas corpus é um dos meios de se garantir esse direito, daí a
razão dele estar inserido no referido capítulo da Lei Maior.

O habeas corpus é uma garantia constitucional que se obtém por meio de processo e é
destinado a tutelar, de maneira eficaz e imediata, a liberdade de locomoção. É medida que tutela o direito
de permanecer, de ir e vir, de não ser preso (a não ser no caso de flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, consoante determina o artigo 5º, inciso LXI da
Constituição Federal); o direito de não ser preso por dívida, salvo nos casos do depositário infiel e do
alimentante inadimplente (como previsto no inciso LXVII do mesmo artigo); o direito de não ser extraditado
nas hipóteses previstas pela Carta Magna; o direito de freqüentar todo e qualquer lugar, ressalvadas as
restrições impostas quando da concessão do sursis ou suspensão condicional do processo; o direito de viajar,
ressalvadas as restrições impostas pelos artigos 328 367 do Código de Processo Penal.

E apesar de estar o instituto encartado no Código de Processo Civil como recurso, e, muito
embora ele possa desempenhar tal função, o habeas corpus é na realidade uma ação.

Por se tratar de ação, está sujeito às mesmas condições a que esta se subordina: possibilidade
jurídica de pedido, interesse de agir e legitimidade “ad causam”. Haverá a possibilidade jurídica do pedido
quando houver violência ou coação legal ao exercício do direito de locomoção. Quanto à ilegalidade, qualquer
pessoa pode impetrá-lo, seja maior ou menor, louco ou não, nacional ou estrangeiro. Até mesmo o analfabeto,
que deverá pedir para alguém assinar o pedido.

Pode impetrá-lo também a pessoa jurídica, não sendo possível, no entanto, que seja impetrado
em seu favor, pela razão de lhe faltar liberdade ambulatória.

Até mesmo o órgão do Ministério Público pode deduzir uma pretensão liberatória, embora
normalmente deduza uma pretensão punitiva. É o que determina expressamente o artigo 654 do Código de
Processo Penal: “O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem
como pelo Ministério Público.”

O parágrafo segundo deste mesmo artigo, permite, ainda, ao juiz, expedir de ofício ordem de
habeas corpus, quando alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

O juiz não poderá impetrá-lo, a não ser que seja ele mesmo o paciente, porque sua função não é
a de postular.
Por fim, o interesse de agir ocorrerá somente quando não existe mais a coação ou a via do habeas corpus
for totalmente inadequada.

Legitimidade passiva

O texto da lei que prevê o habeas corpus não se refere de forma expressa à “autoridade”, que
representaria o Estado. Já no inciso seguinte, ao cuidar do mandado de segurança, estabelece que este será
concedido para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou pelo abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do poder público.

Portanto, é pacífico que o instituto habeas corpus pode ser impetrado contra ato de particular, caso
contrário, teria expressamente vedado tal possibilidade. Além disso, a Constituição Federal prevê como fator
de violência ou coação não apenas o abuso de poder, mas também a ilegalidade, podendo esta ser praticada
por qualquer um.

Ainda é possível sua impetração em face do particular, pois o abuso de poder pode constituir ilícito
penal (violência arbitrária, abuso de poder, entre outros), portanto a restrição alegada seria insuficiente para
excluir a possibilidade de impetração do habeas corpus nessa hipótese.

Quanto ao que se refere às autoridades públicas, normalmente pertencem à Polícia ou ao


Judiciário, embora não esteja afastada a hipótese de constrangimento por parte de outros funcionários.

Uma vez efetuada prisão ou instaurado inquérito policial por meio de portaria do Delegado de
Polícia, será este o apontado como autoridade coatora no habeas corpus. Entretanto, se o inquérito policial foi
instaurado por requisição do Juiz de Direito, será ele apontado como a autoridade coatora. O mesmo se aplica
quando o Juiz de Direito defere requerimento do Ministério Público com a mesma finalidade, ou quando
determina a realização de diligências por ele requerida.

Isso de deve ao fato de, quando se tratar de ordem judicial, não pode a autoridade policial, que
está obrigada a atendê-la, ser considerada a autoridade coatora.

No entanto, quando se tratar de inquérito policial instaurado pelo recebimento de peças


encaminhadas pelo Juiz de Direito, com base no artigo 40 do Código de Processo Penal, a coação é do
delegado de polícia, por não estar ele obrigado àquele procedimento inquisitorial, mas apenas à diligência
para verificação da ocorrência do ilícito penal. Também será a autoridade coatora, o delegado de polícia que
recebe os autos do inquérito policial, por meio de despacho judicial, para que seja dado prosseguimento aos
mesmos. Além disso, o mero despacho de expediente no inquérito policial, não torna o juiz autoridade
coatora.

O Juiz de Direito tornar-se-á autoridade coatora, além das hipóteses acima previstas, também
quando tem a possibilidade de fazer cessar o constrangimento ilegal com a concessão ex officio do habeas
corpus e não o faz.

O Promotor de Justiça é autoridade coatora quando requisita a instauração de inquérito policial,


determina o indiciamento ou outras diligências constritivas ou, ainda, expede requisições ou notificações para
o comparecimento.
"Habeas corpus" preventivo e liberatório

O "habeas corpus" preventivo é aquele impetrado quando existe uma ameaça ao direito de ir e vir de uma
pessoa. Por outro lado, o "habeas corpus" liberatório é utilizado quando a pessoa já sofreu violação ao seu
direito de locomoção. Quando o "habeas corpus" preventivo for concedido será expedido salvo-conduto,
que visa impedir a prisão ou detenção pelos motivos que ensejaram a impetração do remédio.

Assim, tal remédio extraordinário é cabível quando houver constrangimento ilegal ao direito de locomoção
das pessoas, por violência ou coação, ou ainda quando houver iminência desse constrangimento.

De acordo com o art. 648, do Código de Processo Penal, a coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa: em sentido estrito, não haverá justa causa quando o fato imputado ao
agente não estiver previsto em lei, ou quando houver alguma excludente de ilicitude ou excludente de
culpabilidade e escusa absolutória. Assim, não haverá justa causa quando a lei não prever sanção para o ato
ou quando o fato não preencher os requisitos determinados pela lei;

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei: tal dispositivo refere-se aos casos
de prisão provisória (prisão em flagrante, preventiva e temporária). Ultrapassado o prazo para a realização
dos atos processuais, por se tratar de prisão cautelar, considera-se que há coação ilegal em decorrência do
excesso de lapso temporal, cabendo assim a concessão do writ .

Prazos: para inquérito policial: 10 dias para réu preso e 30 dias para réu solto (prorrogável). A Lei de Tráfico
de Entorpecentes determina que o prazo para o término do inquérito será de 30 dias, estando o indiciado
preso, ou de 90 dias, caso esteja solto, podendo esse prazo ser duplicado pelo juiz, ouvido o Ministério
Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. A prisão temporária poderá durar no
máximo 05 dias, prorrogáveis por mais 05; e quando se tratar de crimes hediondos o prazo estende para 30
dias, que também poderão ser prorrogados por igual período;

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo: tal inciso refere-se somente às
hipóteses de prisão temporária e preventiva decretadas durante o inquérito policial, já que se decretadas
durante o processo por juiz incompetente haverá nulidade "ab initio" do processo, e o "habeas corpus" será
impetrado com fundamento no inciso VI deste artigo. Importante dizer que, em relação à prisão em flagrante
não há o que se falar em incompetência, já que é decretada pela autoridade policial, que não é dotada de
competência;

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação: quando desaparecer o motivo que ensejou a
prisão, a sua manutenção torna-se ilegal;

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza: os crimes afiançáveis
são aqueles cuja pena mínima não ultrapassa dois anos. Caberá "habeas corpus" também quando a fiança for
arbitrada com valor excessivamente elevado;

VI - quando o processo for manifestamente nulo: quando houver irregularidades no processo penal haverá
constrangimento ao réu, já que, segundo a Carta Magna, "ninguém será privado de sua liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal" (art. 5º, LIV). As hipóteses de nulidades encontram-se no rol do art. 564,
do CPP;
VII - quando extinta a punibilidade: quando o Estado perde o seu direito de punir, a imposição de sanção
penal torna-se ilegal. As causas extintivas da punibilidade estão previstas no art. 107, do Código Penal (rol
não taxativo).

O recurso “ex officio”

O artigo 574, inciso I do Código de Processo Penal determina que se o Juiz de Direito conceder a
ordem de habeas corpus, seja mediante provocação ou de ofício, estará obrigado a submeter sua decisão ao
exame de instância superior.

O constrangimento ilegal

O constrangimento será ilegal se o caso concreto subsumir-se nas hipóteses elencadas em alguma
das figuras descritas num dos sete incisos do artigo 648 do Código de Processo Penal.

Da Competência

A impetração do habeas corpus deve ser apresentada perante o órgão judicial superior àquela de
quem parte a coação, conforme determina o parágrafo primeiro do artigo 650 do Código de Processo Penal: “A
competência do juiz cessará sempre que a violência ou a coação provier de autoridade judiciária de igual ou
superior jurisdição”.

No mesmo sentido é a súmula 606 do Superior Tribunal de Justiça: “Não cabe habeas corpus
originário para o Tribunal Pleno de decisão de Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no
respectivo recurso.”

Desse modo, se a coação parte do Delegado de Polícia, a competência para apreciar o habeas corpus
será do juiz criminal. Findo o inquérito e remetidos os seus autos ao Juízo, passa o juiz a ser a autoridade coatora,
sendo o órgão de segundo grau o competente para apreciar a sua ilegalidade.

O Superior Tribunal Federal tem competência para processar e julgar originariamente o habeas
corpus quando o paciente for o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional,
seus próprios Ministros, o Procurador Geral da República, os Ministros de Estado, os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os
chefes de missão diplomática de caráter permanente (conforme determinado nas alíneas “b” e “c” do inciso I
do artigo 102 da Constituição Federal). Ainda, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou
paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo
Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância.

Terá o Superior Tribunal de Justiça competência para processar e julgar o habeas corpus quando
o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea “a” do inciso I do artigo 105 da
Constituição Federal.

Quando a autoridade coatora for Juiz Federal, o habeas corpus deverá ser impetrado ao Tribunal
Regional Federal a que estiver vinculado o juiz, conforme determina o artigo 108, inciso I, alínea “d” da
Constituição Federal.

Se o constrangimento ilegal partir de qualquer autoridade militar federal e se relacionar com


crime cujo processo seja da competência da Justiça Militar Federal, o habeas corpus só poderá ser impetrado
perante o Superior Tribunal Militar, uma vez que os Conselhos de Justiça não têm competência para a concessão
do direito.

Compete ao Tribunal Federal processar e julgar habeas corpus em matéria criminal da sua
competência, ou quando o constrangimento ilegal ocorrer por parte de autoridade cujos atos não estejam
diretamente sujeitos à outra jurisdição, consoante determina o artigo 109, inciso VII, da Constituição Federal.

IX – O pedido de liminar em sede de habeas corpus

A liminar em pedido de habeas corpus é uma construção jurisprudencial, que possibilitou maior
eficácia ao direito de liberdade. O primeiro pedido de liminar em sede de habeas corpus foi concedido,
segundo TOURINHO, em favor do Governador de Goiás, Mauro Borges, pelo relator Gonçalves de Oliveira,
então Presidente do Supremo Tribunal Federal, aduzindo: “Se no mandado de segurança pode o Relator
conceder a liminar até em casos de interesses patrimoniais, não se compreenderia que, em casos em que está
em jogo a liberdade individual ou as liberdades públicas, a liminar, no habeas corpus preventivo, não pudesse
ser concedida.”

Peculiaridades

Impetrada o "habeas corpus" poderá o Tribunal ou juiz solicitar informações sobre a coação. Obtidas as
informações o remédio deverá ser apreciado em 24 horas. Na primeira instância o Ministério Público não
se manifesta sobre o writ, porém na segunda instância o Procurador deve se manifestar no prazo de dois
dias.

A petição do "habeas corpus" deverá conter: "o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer
violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça; a declaração da espécie de
constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor; a assinatura
do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das
respectivas residências" (art. 654, § 1º do CPP). Assim, como ocorre no mandado de segurança, é possível a
concessão de liminar no "habeas corpus", de modo a garantir a eficácia do direito à liberdade do homem.

Vale dizer que a concessão da ordem a um dos impetrantes estende-se aos demais que estejam na mesma
situação, conforme analogia ao art. 580 do CPP. Além disso, o pedido de "habeas corpus" poderá ser reiterado
em 1º ou 2º grau, no STJ ou STF, desde que baseado em novos documentos ou argumentos.

De acordo com o art. 650, § 1º, do CPP, "não cabe o habeas corpus contra a prisão administrativa, atual ou
iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em
fazer o seu recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado de prova de quitação ou de
depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal".

Processamento

A petição do habeas corpus será primeiramente analisada no que tange aos seus requisitos
extrínsecos, previstos no artigo 654 do Código de Processo Penal.

No caso de não preenchimento das formalidades legais, bem como se houver carência de ação, o
juiz poderá rejeitar a petição liminarmente. No entanto, a rejeição in limine deve ser cercada de máxima cautela,
uma vez que o que estará em jogo será a liberdade do paciente. Nesse sentido, o acórdão n. 2, em que embora
a ordem de habeas corpus tenha sido denegada, não foi em razão da falta dos requisitos, que foram
devidamente sanados.
No entanto, o juiz pode conceder prazo para que sejam preenchidas as formalidades legais e
regularizado o pedido. Quando o pedido é dirigido ao tribunal a própria lei dispõe que: “faltando qualquer
daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que lhe for apresentada a petição.”

Preenchidas as formalidades legais, o juiz receberá a petição e, se julgar necessário e estiver preso
o paciente, determinará que ele se apresente em dia e hora previamente designados, conforme prevê o artigo
656 do CPP. A lei prevê, ainda, que se o paciente estiver impossibilitado de comparecer perante o juiz por motivo
de doença, o juiz poderá ir ao local em que ele se encontra.

Por força do artigo 657, caput, o detentor do paciente não poderá impedir que a ordem de
comparecimento seja cumprida, a menos que não esteja ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a
detenção. Caso esteja sob sua guarda, estará obrigado a declarar à ordem de quem o paciente se encontra
preso. Se não o fizer, o artigo 656, parágrafo único dispõe que será expedido mandado de prisão contra o
detentor, que será processado na forma da lei, e providenciará o juiz a retirada do paciente da prisão, para que
ele se apresente em juízo.

Caberá a aplicação de multa, conforme dispõe o artigo 655, ao carcereiro, diretor da prisão, ao
escrivão, ao oficial de justiça ou a autoridade policial ou judiciária que procrastinar a expedição da ordem de
habeas corpus, as informações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do paciente, ou sua soltura,
sem prejuízo de outras penas em que incorrer.

Entretanto, embora a legislação remeta às origens do instituto, na prática não se expede ordem
de apresentação e nem se interroga o paciente. O juiz apenas requisita informações da autoridade apontada
como coatora, embora tal providência só seja prevista expressamente quando se trata de impetração perante
o tribunal.
É inadmissível a dispensa de informações da autoridade, pois poderá ser alegado falta de justa
causa. Conforme se verifica no acórdão n. 1,2 e 3, as informações, devidamente fundamentadas
prestadas pela autoridade apontada como coatora, é fator determinante para que o pedido seja
devidamente apreciado.

Somente em casos excepcionais, em que a ilegalidade do constrangimento é demonstrada sem a menor


dúvida é que se pode dispensar as informações para a concessão da ordem de habeas corpus.

Impetrado o habeas corpus em 1º grau de jurisdição, perante o juiz de primeiro grau, o Ministério
Público, não sendo o impetrante ou a autoridade coatora, não intervirá antes de proferida a decisão. No
Tribunal, no entanto, o Ministério Público terá vista dos autos por dois dias, após a informação prestada pela
autoridade coatora.

Segundo Mirabete, não é admissível a inserção de assistente de acusação no processo de habeas corpus,
pois o Ministério Público, nesse caso exerce o papel de fiscal da lei, não existindo acusação.

Prestadas as informações pela autoridade coatora, o juiz profere a decisão, que deve ser fundamentada
e obedecer aos requisitos do artigo 381 do Código de Processo Penal, no que lhe for aplicável.

O constrangimento ilegal não será caracterizado pelo excesso de prazo se é o próprio réu quem está
causando óbices ao término da fase processual. Nesse sentido é o acórdão de número 5 do anexo.
Conclusão

O habeas corpus, enfim, é um Instituto que se presta para salvaguardar a liberdade de todo ser
humano que sofre constrangimento ou que está na iminência de sofrê-lo.

Pode ser requerido por qualquer pessoa, inclusive em favor de terceiros. É um remédio constitucional
muito utilizado, podendo, inclusive, ser impetrado antes de oferecida a denúncia ou após o trânsito em
julgado da ação penal.

Por se tratar de garantia de um direito humano fundamental, o momento para ser impetrado é: a
qualquer um. Estamos amparados a qualquer tempo por tal instituto, que visa o impedimento de qualquer
injustiça cometida contra a nossa liberdade.

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