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Prática Jurídica

Penal III
Habeas Corpus, Recurso Ordinário Constitucional
e Revisão Criminal

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Rosa Maria Neves Abade

Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

• Habeas Corpus;
• Do Recurso Ordinário Constitucional;
• Revisão Criminal.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender o cabimento, a forma de interposição e o alcance do habeas corpus, do recurso
ordinário constitucional e da revisão criminal.
UNIDADE Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

Habeas Corpus
Fundamentos Legais
Art. 5º, LXVIII, da CF/1988 e arts, 647, e um dos incisos do art. 648 do CPP.

O inciso LXVIII do art. 5º da CF/1988 define que: “conceder-se-á habeas corpus


sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.

Igualmente, o art. 647 do CPP faz a mesma previsão legal: “Dar-se-á habeas corpus
sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal
na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar”.

Figura 1
Fonte: picpedia.org

Conceito
Apesar de o habeas corpus (HC) estar incluído no Título de Recursos do Código de
Processo Penal, é, na verdade, uma ação penal constitucional, i.e., um remédio heroico
constitucional, com a finalidade de tutelar a liberdade de locomoção (o direito de ir, vir
e permanecer).

A doutrina é unânime em considerá-lo como um remédio jurídico, verdadeira ação


que tem por finalidade amparar o direito à liberdade de locomoção, embora o legislador
o tenha tratado como recurso.

O autor De Plácido e Silva, (2005. p. 370) traduz: “O habeas corpus é uma locução
composta do verbo latino habeas, de habeo (ter, tomar, andar com), e corpus (corpo), de
modo que se pode traduzir: ande com o corpo ou tenha o corpo”.

Para o autor José Cretella Júnior (1996, p. 141-150): “O habeas corpus é uma ação
constitucional de caráter penal e de procedimento especial, isenta de custas e que visa

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evitar ou cessar violência ou ameaça na liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
abuso de poder”.

Não se trata, portanto, de uma espécie de recurso, apesar de regulamentado no


capítulo a ele destinado no Código de Processo Penal, mas ação penal constitucional.

O habeas corpus é o processo em que a violência atinge a liberdade corpórea da


pessoa, garantindo o direito de ir e vir livremente.

Assim, a finalidade do HC é a proteção da liberdade de locomoção, a liberdade de ir


e vir, primária e natural, ameaçada ou atingida por ato ilegal ou abusivo.

Ele se diferencia do mandado de segurança (MS), que visa proteger o direito líquido e
certo, não amparado pelo habeas corpus ou pelo habeas data.

O habeas corpus assegura a liberdade contra a aplicação errônea da lei penal, contra
a prisão ilegal e em todos os casos em que a ilegalidade atinge a integridade física do
indivíduo como direito inerente à sua personalidade.

O paciente (se de seu interesse) terá a faculdade de recusar-se a aceitar o habeas


corpus impetrado por terceiros. Nessa situação, bastará uma simples petição dirigida ao
juiz ou ao tribunal para que o julgador considere o pedido prejudicado.

Figura 2
Fonte: Getty Images

Espécies de Habeas Corpus


O habeas corpus pode ser:
• Preventivo: quando impetrado contra uma ameaça à liberdade de locomoção;
quando se pretende evitar que a coação ocorra, desde que haja fundado receio
de que se consume. Se a violência ou coação ilegal ainda não ocorreu, mas tudo
indica que iria consumar-se em breve, dá-se, então, o habeas corpus preventivo.
Bastará a simples ameaça de coação à liberdade de coação;

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• Liberatório: também chamado corretivo ou repressivo, quando se pretende a


restituição da liberdade de alguém que já se acha com esse direito violado; quan-
do o paciente já estiver sofrendo a coação ilegal em sua liberdade de locomoção.
Existindo violência ou coação ilegal por parte do coator, só restará, então, impetrar-se
a ordem do juiz para que fique restabelecida a liberdade de locomoção do paciente.

Em Síntese
• Habeas corpus preventivo: é aquele que tem por finalidade impedir futuro cons-
trangimento ilegal, e, uma vez concedido o habeas corpus preventivo, será expe-
dido salvo-conduto ao paciente, assinado pelo juiz, que o livrará da coação ou da
violência que estiver na iminência de sofrer (art. 660, § 4º, do CPP);
• Habeas corpus repressivo, liberatório, corretivo: é aquele que tem como finalida-
de repudiar constrangimento ilegal à liberdade de locomoção já existente. Exemplo:
alguém que se encontre preso ilegalmente.

Natureza Jurídica do Habeas Corpus


Embora tenha sido regulamentado pelo Código de Processo Penal no capítulo de
recursos, é uma ação penal popular constitucional voltada à proteção do direito de liber-
dade de locomoção. O habeas corpus é um instituto de natureza jurídica – constitucional
e processual.

Legitimidade
Pode ser:
• Ativa: pode ser impetrado por qualquer pessoa (que tenha interesse de agir), em
seu favor ou de outrem, independentemente de representação de advogado (deno-
minado impetrante). Pode ser impetrado, inclusive, pelo paciente (aquele que está
sofrendo a coação ilegal, ou se encontra na iminência de sofrê-la);
• Passiva: aquele que exerce a violência, coação ou ameaça (denominado coator, ou
autoridade coatora).

O habeas corpus é sempre dirigido à autoridade jurisdicional hierarquicamente supe-


rior àquela tida como autoridade coatora.

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa,
em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
[...]
§ 2º. Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício
ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem
que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Como já dito, qualquer pessoa tem direito a habeas corpus, inclusive o estrangeiro,
independentemente de sua capacidade civil, política, profissional, sexo, profissão, idade,
estado mental e escolaridade.

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No caso de ser analfabeto, alguém deverá assinar a petição a rogo.

No caso de ser menor ou insano, não há necessidade de ser representado ou assistido


por outrem.

É bom ressaltar que o Habeas Corpus pode ser impetrado pela própria pessoa que
está sofrendo ou se acha na iminência de sofrer a violência ou coação ilegal. Também
pode ser impetrado em favor de terceiro.

A pessoa jurídica também é legítima para impetração da ordem em favor de pessoa


física, pois a lei penal não fez qualquer restrição quanto a essa possibilidade; por se
tratar de uma garantia, permite-se interpretação extensiva; pela teoria da realidade
(art. 45 do CC), já defendida na vigência do Código Civil de 1916 por Vicente Ráo e
Clóvis Beviláqua, as pessoas jurídicas são sujeitos de deveres e direitos, podendo se
fazer representar em juízo ativa e passivamente (art. 12, VI, do CPC).

Existe uma exceção: não haverá habeas corpus em relação ao mérito das puni-
ções disciplinares militares.

Devido ao fato de o habeas corpus ser assegurado constitucionalmente e sua ação


ser interposicionada ao direito de defesa, não é necessário que o paciente seja patroci-
nado por um advogado, ou, caso possua, não é necessário outorga de procuração.

O Ministério Público, o promotor de justiça, na qualidade desse órgão, poderá


impetrar o habeas corpus (tanto perante o juízo de primeiro grau quanto perante os
tribunais locais).

Em referência ao juiz, este não poderá impetrar habeas corpus. Todavia, poderá
impetrar quando for em nome próprio, ou seja, ele mesmo sofrendo a coação, na quali-
dade de cidadão comum. Também poderá determinar ordem de ofício, nos processos de
sua competência, desde que não seja ele mesmo a autoridade coatora.

O Supremo Tribunal Federal admite o habeas corpus mediante fax, e-mail, condicio-
nando seu conhecimento por meio do ministro-relator, que o ratifica se impetrado no
prazo concedido.

Objeto do Habeas Corpus


Nos termos do art. 647 do CPP, será concedida ordem de habeas corpus: “sempre
que alguém sofra ou se encontre na iminência de sofrer violência ou coação ilegal em
sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar”.

Hipóteses de Cabimento (Art. 648 do


CPP – Enumeração Exemplificativa)
As hipóteses de cabimento para impetrar habeas corpus estão descritas no art. 648
do CPP, in verbis:

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:


I – quando não houver justa causa;

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II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que
a lei a autoriza;
VI – quando o processo for manifestamente nulo;
VII – quando extinta a punibilidade.

Figura 3
Fonte: studentbriefs.law.gwu.edu

Ausência de Justa Causa


Caracteriza-se por falta de previsão legal que acarreta a coação, quando faltam
indícios ou prova material para instauração de inquérito ou ação penal, bem como pelo
recebimento por parte do juiz de ação penal inviável.

Significa ausência de lastro probatório mínimo ou ausência de legalidade.

Se o fato for atípico, acarretará o arquivamento do inquérito policial ou trancamento


sumário da ação penal pela ilegalidade ou falta de justa causa.

Quando Alguém Estiver Preso por mais Tempo do que a Lei Determina
Diz respeito à prisão provisória (são elas: prisão em flagrante, prisão preventiva,
prisão temporária), não podendo durar mais tempo do que determina a lei. Em face do
princípio da restrita legalidade, apenas com base na lei, o juiz poderá privar a liberdade
individual de alguém. Se extrapolar a previsão legal para a prisão provisória, é cabível
habeas corpus (repressivo/liberatório).

Quando quem Ordenar a Coação não tiver Competência


para Fazê-lo (Incompetência da Autoridade Coatora)
Refere-se à prisão preventiva e à prisão temporária. Diz a Constituição Federal que
ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente (art. 5º, LXI). Lembre-se: apenas a ordem de juiz

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competente e de forma fundamentada é que pode resultar em privação da liberdade.
Se a autoridade não tem competência para a ordem ou a extrapolar, deve-se acolher o
habeas corpus impetrado.

Quando Houver Cessado o Motivo que Autorizou a Coação


Pressupõe a existência anterior de uma prisão legal. Importante, aqui, citar Mougenot
Bonfim (2017, p. 2009):

[...] cessada a necessidade da prisão cautelar, seja pelo fato de o réu não
representar um perigo à ordem pública ou porque não se furtará à aplica-
ção da lei penal, seja em razão do término da instrução criminal, ocasião
em que o acusado não poderá mais influenciar no ânimo das testemu-
nhas, oportuno será o remédio heroico para fazer cessar o constrangi-
mento da liberdade, uma vez verificada a ilegalidade da restrição.

Exemplo: réu condenado a 5 (cinco) anos de reclusão em regime fechado. Cum-


prida a pena, não poderá mais permanecer na prisão (a não ser por outro processo).
Mas, finda a pena, ou seja, cumprida a pena imposta, deve ser decretada a extinção
desta e ser colocado em liberdade. Será autoridade coatora pelo ato ilegal a autoridade
penitenciária que não colocá-lo em liberdade ou o juiz da execução que não determinar
sua soltura em razão do cumprimento da pena.

Inadmissão da Prestação da Fiança Quando Autorizada por Lei


A prisão, como em um Estado Social Democrático de Direito deve ser, é medida
excepcional, se a lei autoriza a prestação da fiança, que é espécie de prisão cautelar, o
habeas corpus deve ser manejado, não para soltar o indivíduo, mas, sim, para que seja
arbitrada a fiança ou esta admitida, permitindo, desse modo, a liberdade provisória.

O instituto da fiança está previsto no Código de Processo Penal, arts. 321 a 351.

A seguir, veremos as duas possibilidades de impetração de habeas corpus, mesmo


após o trânsito em julgado da decisão.

Quando o Processo for Manifestamente Nulo


Independentemente de o processo estar em curso ou não, poderá o writ ser usado
para que se reconheça a nulidade do processo, v.g., falta de citação. As nulidades estão
previstas no art. 564 do CPP. Não há nulidade na fase de inquérito, pois o dispositivo
menciona processo manifestamente nulo.

Quando Extinta a Punibilidade


Se extinto o jus puniendi estatal, deve imediatamente ser declarada de ofício pelo
magistrado a extinção da punibilidade ou, se isso não ocorrer, deve ser requerida pelas
partes, encerrando a persecução em que pé estiver.

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As causas de extinção de punibilidade estão descritas no art. 107 do CP, mas o rol
não é taxativo. Há outras previstas na lei. Exemplo: arts. 168-A, § 2º, e 312, § 3º,
do CP.

Há de se lembrar que o juiz deve sempre reconhecer de ofício a ordem de habeas


corpus, relaxando a prisão em flagrante, quando esta lhe for comunicada e se verificar
a ilegalidade da sua medida ou quando verificada a ilegalidade no decorrer do processo.

Nomenclatura: Partes Processuais do Habeas Corpus


Paciente
É a pessoa que está sofrendo a violência ou coação ilegal na liberdade de locomoção;
aquele que está na iminência de sofrer ou está sofrendo a coação ou violência ilegal, sendo
pacífico que deverá ser impetrado HC em favor de pessoas determinadas, e vedado,
portanto, é o remédio impetrado em favor de um coletivo de pessoas. A maior parte da
doutrina não admite a pessoa jurídica como paciente, pois ela não se locomove.

O professor Aury Lopes Jr. (2018, p. 1113) discorda:

Noutra dimensão, é absolutamente ilógico admitir que a pessoa jurídica


figure no polo passivo de uma ação penal e, ao mesmo tempo, negar-lhe
legitimidade para utilizar o habeas corpus como instrumento processual
destinado a fazer cessar uma coação ilegal (collateral attack).
Por que teria a pessoa jurídica que suportar o ônus de um processo penal
nulo ou inútil? Pode ser ré, mas não está legitimada a resistir a uma imputa-
ção ilegal? É flagrante a incongruência e a inadequação da tese que nega
à pessoa jurídica legitimidade para impetração do habeas corpus.

Impetrante
A pessoa que requer – pede – a ordem de habeas corpus. Qualquer pessoa pode
impetrá-lo, em seu favor ou de outrem, inclusive o Ministério Público (art. 654 do CPP).
Os juízes e os tribunais têm competência para expedir, de ofício, uma ordem de habeas
corpus, sempre que verificar, no curso do processo, que alguém está sofrendo ou se
encontra na iminência de sofrer uma coação ilegal (art. 654, § 2º, do CPP).

Autoridade Coatora
A autoridade coatora é aquela responsável pela ilegalidade ou pelo abuso de poder
que compromete a liberdade individual de locomoção.
• Juiz: é a única autoridade que pode decretar a prisão de quem quer que seja, desde
que presentes os requisitos para prisão temporária ou preventiva. Caso decrete a
prisão de alguém sem a presença dos pressupostos autorizadores, haverá ilegalidade.
O mesmo ocorrerá em caso de injustiça no processo;
• Promotor de justiça: pode trazer dúvida se o membro do Ministério Público pode
ser sujeito passivo do HC, já que ele não pratica atos de jurisdição. Será autori-
dade coatora, porém quando praticar atos administrativos com teor decisório que
podem causar constrangimento à liberdade de locomoção, por exemplo, requisição

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de instauração de inquérito policial para apurar crime já prescrito, ou fato atípico,
conforme diz o autor Paulo Rangel, 2019, p. 1065);
• Delegado de polícia: caso venha a realizar prisão sem os requisitos do estado de
flagrância, seja próprio, seja impróprio (art. 302 do CPP), ou instaure inquérito de
ofício para apurar fato atípico, a autoridade policial estará atuando na ilegalidade,
tornando-se sujeito passivo do manejo do habeas corpus.

Importante!
Se, nas mesmas hipóteses, o delegado já tiver remetido os autos ao Ministério Público, que,
ao recebê-los, oferece a denúncia a autoridade coatora será o promotor de justiça, e não
mais o delegado. Caso o juiz receba essa denúncia infundada oferecida pelo Ministério
Público, será ele a autoridade coatora em eventual habeas corpus, deslocando a compe-
tência para Tribunal de Justiça respectivo.

Conforme visto, a autoridade coatora, por via de regra, é um agente público, podendo,
porém, ser um particular, como admite a maioria da doutrina, que traz clássico exemplo
de custódia forçada em hospital, seitas religiosas, asilos para idosos, clínicas de reabilita-
ção para alcoólatras etc.

Autoridade Impetrada
Trata-se de quem julga o Habeas Corpus.

Não Cabimento do Habeas Corpus


Não cabe habeas corpus nas transgressões disciplinares e prisão administrativa.

Igualmente, não cabe HC quando o processo versa sobre crime apenado exclusiva-
mente com multa (Súmula nº 693 do Supremo Tribunal Federal).

Também não cabe habeas corpus quando a pena já estiver extinta (Súmula nº 695
do Supremo Tribunal Federal).

Quanto à possibilidade do uso do remédio heroico para combater as punições disci-


plinares militares, a Constituição da República veda-a, expressamente, no art. 142, § 2º.
O que o constituinte originário pretendeu com essa vedação foi resguardar a hierarquia
e a disciplina, atributos próprios das carreiras militares.

Em relação à prisão administrativa, assim preceitua o art. 5º, LXI, da CF/1988:


“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime pro-
priamente militar, definidos em lei”.

Como se pode visualizar, a prisão administrativa inexiste na ordem constitucional


pós-1988, pois, como já visto, somente o juiz competente poderá decretar a prisão
de alguém, salvo, é claro, nos casos de prisão administrativa militar. Restando, assim,
revogado o art. 650, § 2º, do CPP. Se ela vir a ser praticada, cabível será o manejo de
habeas corpus.

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Competência para Julgamento do Habeas Corpus


O habeas corpus é impetrado perante a autoridade judicial hierarquicamente supe-
rior à autoridade coatora.

Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdição, fará
passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos em que tenha cabi-
mento, seja qual for a autoridade coatora.
Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de habeas
corpus:

I – ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art. 101, I, g,


da Constituição;
II – aos Tribunais de Apelação [não existem mais Tribunais de Apelação,
hoje TJ ou TRF, sempre que os atos de violência ou coação forem atri-
buídos aos governadores ou interventores dos Estados ou Territórios e ao
prefeito do Distrito Federal, ou a seus secretários, ou aos chefes de Polícia.
§ 1º. A competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação
provier de autoridade judiciária de igual ou superior jurisdição.

Figura 4
Fonte: Getty Images

Por via de regra, a competência para julgar o habeas corpus é definida em razão da
autoridade coatora:
• Contra ato de promotor de justiça e de delegado de polícia, a competência será
do juiz de direito (ou juiz federal, se o processo for federal) de primeira instância;
• Contra ato de juiz de direito, a competência será do Tribunal de Justiça respectivo;
• Contra ato de juiz federal, a competência será do Tribunal Regional Federal;
• Contra ato do TJ ou TRF, a competência será do Superior Tribunal de Justiça;
• Contra ato do STJ, a competência será do Supremo Tribunal Federal;
• Contra ato de juiz do Juizado Especial, a competência será da respectiva
turma recursal.

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Importante!
Com o cancelamento da Súmula nº 690 do STF, reconhece-se que, sendo a autoridade
coatora a turma recursal de Juizado Especial, o habeas corpus não será mais julgado no
Supremo Tribunal Federal, e sim no Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal,
conforme a matéria.

Para competência do STF para julgamento do habeas corpus, adotam-se os seguin-


tes critérios:
• Se o paciente está submetido à jurisdição do STF (prerrogativa de função), compe-
tirá a ele mesmo o julgamento do habeas corpus, nos termos do art. 102, I, d, da
CF/1988 (como exceção ao princípio do duplo grau de jurisdição);
• Se o coator se submete à jurisdição do pretório excelso, o habeas corpus deverá
ser julgado pelo STF, ainda que o coator não integre a estrutura do Poder Judiciário
(102, I, i, da CF/1988).

Os Ministros de Estado e os Comandantes das Forças Armadas serão julgados pelo


STF quando praticarem infrações penais comuns e crimes de responsabilidade (art. 102,
I, c, da CF/1988). Porém, quando forem coatores, será o STJ competente para recebi-
mento do habeas corpus contra seus atos ilegais (art. 105, I, c, da CF/1988).

Em Síntese
Competência:
• Se o coator é o delegado, a peça é dirigida ao juiz criminal;
• Se o coator é o juiz criminal, a peça é dirigida ao TJ ou ao TRF;
• Se o coator é o TJ ou o TRF, a peça é dirigida ao STJ;
• Se o coator é o STJ, a peça é dirigida ao STF.

O habeas corpus deverá ser impetrado diretamente contra o coator, que poderá
ser tanto particular (ato de ilegalidade) como autoridade (ilegalidade e abuso de poder).
Normalmente, a autoridade é pública – promotor de justiça, delegado de polícia, juiz de
direito, tribunal.

Processamento em 1ª Instância
A petição de habeas corpus deve seguir as regras do art. 654, § 1º, do CPP, que traz
o rol do que deverá constar na petição de habeas corpus:

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa,
em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
§ 1º. A petição de habeas corpus conterá:

a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou


coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;

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b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples


ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;

c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não sou-


ber ou não puder escrever, e a designação das respectivas residências;

§ 2º. Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício


ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que
alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Recebida a petição do habeas corpus, a autoridade impetrada irá verificar se há


pedido liminar. Caso haja, irá apreciá-lo.

Após isso efetuará a requisição de informações da autoridade coatora, determinando


prazo para apresentação.

Importante!
Solicitação de informações: recebido o habeas corpus e apreciado eventual pedido
liminar, irá solicitar informações da autoridade apontada como coatora, no prazo que
estabelecer. A autoridade impetrada também poderá interrogar o beneficiário ou, se
entender necessário determinar que este lhe seja apresentado (conforme artigo 656 do
CPP). Após terá 24 horas para decidir.

Se concedida a ordem de HC, determinar-se-á a imediata soltura do paciente, se


preso estiver.

Caso se cuide de pedido preventivo, será expedido salvo-conduto.

Na hipótese de o pedido voltar-se parar anulação de processo ou trancamento de IP


ou processo, será expedida ordem nesse sentido, renovando-se os atos processuais no
primeiro caso.

Quando não há concessão, diz-se que a ordem foi denegada.

Se se verificar que a violência ou ameaça à liberdade de locomoção já havia cessado


por ocasião do julgamento, o pedido será julgado prejudicado.

Da decisão de 1º grau que conceder ou denegar a ordem de HC, cabe RESE; se


concedida a ordem, a revisão pela superior instância é obrigatória.

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Figura 5
Fonte: Getty Images

Processamento do Habeas Corpus no Tribunal


A petição de habeas corpus é dirigida ao presidente do tribunal. Ela é apresentada ao
secretário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou da câmara crimi-
nal, ou da turma que estiver reunida ou que primeiro tiver de reunir-se.

Se a petição obedecer aos requisitos legais, o presidente, entendendo necessário,


requisitará, da autoridade coatora, informações por escrito (se ausentes os requisitos
legais da petição, o presidente mandará supri-los).

Pode o presidente entender que é caso de indeferimento liminar do HC, situação em


que não determinará o suprimento de eventuais irregularidades e levará a petição ao
tribunal, à câmara ou à turma, para que delibere a respeito.

Recebidas as informações, ou dispensadas, o HC será julgado na primeira sessão,


podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão seguinte.

A decisão será tomada por maioria de votos; havendo empate, caberá ao presidente
decidir, desde que não tenha participado da votação; na hipótese contrária, prevalecerá
a decisão mais favorável ao paciente.

Liminar em Habeas Corpus


A liminar em pedido de habeas corpus visa atender a casos em que a cessação da
coação ilegal exige pronta intervenção do Judiciário.

Liminar é uma ordem judicial que tem como objetivo resguardar direitos alegados
pela parte antes da discussão do mérito da causa. Ou seja, é uma concessão ante tempus
do pedido, devendo o mérito ser aferido posteriormente.

Apesar de tal pedido ser amplamente utilizado em diversos atos judiciais, a limi-
nar de habeas corpus não tem previsão legal. É criação jurisprudencial voltada ao

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combate imediato de ato indevido de constrangimento ou ameaça ao direito à liberda-


de de locomoção. Será concedida apenas em casos de urgência, em que haja necessida-
de e a relevância da medida se evidencie de forma incontroversa na própria impetração
e nos elementos de prova a ela colacionados.

O pedido liminar deve, aliás, fundar-se exclusivamente no fumus boni iuris (fumaça
do bom direito) e no periculum in mora (perigo na demora).

Em outras palavras, deve haver ofensa à liberdade de locomoção do paciente e possi-


bilidade de que a demora na sua satisfação venha a causar grave dano ou difícil repara-
ção à parte (a liberdade do paciente somente ao final do processo importará inaceitável
e injusta manutenção de violação ao seu status libertatis).

Teses de Defesa em Habeas Corpus


• Falta de justa causa: toda vez que o seu cliente for preso ou estiver sendo processa-
do por um crime que ele não cometeu ou não esteja expresso em lei. Inexistência do
crime, ou não existe prova de que o réu tenha sido o autor do crime;
• Nulidade: trata-se de irregularidade no andamento do processo. É uma mera ques-
tão de forma. As nulidades estão previstas no art. 564 do CPP. Acarretará a nulida-
de a falta de laudo, a citação irregular, deixar de intimar as partes para comparecer
em juízo, deixar de cumprir um dispositivo expresso de lei;
• Extinção da punibilidade: os casos que ensejam a extinção de punibilidade estão
previstos no art. 107 do CP. O agente pratica um crime, mas, por algum motivo,
não pode mais ser punido;
• Abuso de autoridade: réu preso a mais tempo do que determina a própria lei ou
quando que lhe é negado um benefício a que tenha direito (fiança, sursis).

Importante!
Toda vez que impetramos um habeas corpus, devemos observar, com atenção, o
pedido, pois este é específico para cada tipo de tese.

À vista disso, verificamos, a seguir, como ficam as teses de defesa com seus pedidos
em habeas corpus (arts. 647 e 648 do CPP).

Se a tese for nulidade, o pedido será:


• anulação ab initio da ação penal, caso a falha processual tenha ocorrido até a fase
da defesa preliminar;
• anulação da ação penal (a partir do momento em que ocorrer a falha processual),
caso a falha processual tenha ocorrido após a defesa preliminar.

Se a tese for extinção da punibilidade, o pedido será:


• extinção da punibilidade do fato imputado ao paciente na ação penal.

Se a tese for abuso de autoridade, o pedido será:

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• expedição de alvará de soltura: caso esteja preso;
• contramandado de prisão: iminência de ser preso, ou HC preventivo;
• revogação da prisão: prisão preventiva decretada.

Em habeas corpus, podemos fazer até três pedidos, desde que o primeiro seja o da
tese respectiva (falta de justa causa, nulidade, extinção de punibilidade) e os demais
sejam em razão da coação (alvará, contramandado, salvo-conduto, revogação da prisão,
relaxamento do flagrante). Por exemplo:
• decretando-se o trancamento da ação penal (tese de falta de justa causa), o relaxa-
mento da prisão em flagrante e a expedição do alvará de soltura;
• decretando-se anulação ab initio da ação penal (tese de nulidade), a revogação da
prisão preventiva e a expedição do alvará de soltura.

Documentos Expedidos na Concessão do Habeas Corpus


O documento expedido, pelo tribunal ou juiz, que concede a ordem é designado pelo
Código de Processo Penal como ordem de habeas corpus.

Figura 6
Fonte: Getty Images

Caso se trate de um habeas corpus liberatório, é conhecido como alvará de soltura


se o paciente estiver preso.

Se foi decretada prisão, mas ainda não está preso, o documento é o contramandado
de prisão.

Caso se trate de um habeas corpus preventivo, a ordem escrita do juiz denomina-se


salvo-conduto.

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UNIDADE Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

Recurso em Caso de Denegação da Ordem


Se o pedido de habeas corpus for denegado em 1ª instância, caberá recurso em
sentido estrito (RESE), e, se for negado em 2ª instância, caberá o recurso ordinário
constitucional (ROC).

• O impetrante poderá sustentar oralmente o pedido de habeas corpus pelo


prazo de 10 minutos; sendo possível, em sede de habeas corpus, sua con-
cessão liminarmente;
• Se o juiz de 1ª instância conceder o habeas corpus, deverá recorrer de ofício (art.
574, I, do CPP), não impedindo o Ministério Público de recorrer, voluntaria-
mente, nos termos do art. 581, X, do CPP. Tanto o recurso de ofício quanto o
voluntário serão julgados por uma das câmaras ou turmas criminais ou pelo
próprio tribunal nos estados;
• Para impetrar a ordem de habeas corpus, não há necessidade de procuração
nem precisa ser advogado;
• Não cabe HC contra prisão disciplinar militar nem para trancar processo
administrativo;
• A maior parte da doutrina e da jurisprudência vem admitindo a impetração de
habeas corpus contra ato do particular.

Súmulas do STF Relativas ao Habeas Corpus


• Súmula nº 690: compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento
de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais.

Importante!
A Súmula nº 690 do STF não está sendo utilizada. Os HCs contra decisão de turma recursal
de juizados especiais criminais vão para os tribunais estaduais ou federais.

• Súmula nº 691: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas


corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido ao
tribunal superior, indefere liminar;
• Súmula nº 693: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada;
• Súmula nº 694: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão
de militar ou de perda de patente ou de função pública;
• Súmula nº 695: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa
de liberdade.

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Do Recurso Ordinário Constitucional
Fundamento Legal
O recurso ordinário constitucional (ROC) possui dois fundamentos legais:
• Se for dirigido ao STF: art. 102, II, a, da CF/1988;
• Se for dirigido ao STJ: art. 105, II, a, b e c, da CF/1988.

Definição
O recurso ordinário constitucional é cabível das decisões denegatórias de habeas
corpus ou mandado de segurança, proferidas nos casos dispostos a seguir.
• No Supremo Tribunal Federal, o ROC é cabível:
» das decisões dos Tribunais Superiores que julgarem, em única instância, o man-
dado de segurança, o habeas data, o habeas corpus e o mandado de injunção,
desde que denegatórias (art. 102, II, a, da CF/1988);
» das decisões referentes a crimes políticos, previstos na Lei de Segurança Nacio-
nal, nos termos do art. 102, II, b, da CF/1988. A competência para julgamento
desses crimes é da Justiça Federal, conforme dispõe o art. 109, IV, da CF/1988.
• No Superior Tribunal de Justiça, o ROC é cabível:
» das decisões denegatórias de habeas corpus, proferidas, em única ou última ins-
tância, pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais dos estados e do Dis-
trito Federal, nos termos do art. 105, II, a, da CF/1988;
» das decisões denegatórias de mandado de segurança, proferidas pelos tribunais
regionais federais ou pelos tribunais dos estados e do Distrito Federal, conforme
dispõe o art. 105, II, b, da CF/1988;
» das decisões proferidas em causas em que forem partes Estado estrangeiro ou
organismo internacional de um lado, e, do outro, município ou pessoa residente
ou domiciliada no País, nos moldes do art. 105, II, c, da CF/1988.

Figura 7
Fonte: Getty Images

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UNIDADE Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

Cabimento do Recurso Ordinário Constitucional


O recurso ordinário é interposto para o Supremo Tribunal Federal ou o Superior
Tribunal de Justiça.

No caso do STF (art. 102, II, a, da CF/1988), cabe quando for denegada ordem de
habeas corpus proferida em única instância pelos tribunais superiores (STJ, TST, TSE,
STM), ou seja, se foi diretamente impetrado perante a instância superior e lá delegado.

Cabe, ainda, quando for denegado em única instância:


• o mandado de segurança (Lei nº 12.016/2009);
• o mandado de injunção (art. 5º, LXXI, da CF/1988);
• o habeas data (art. 5º, LXXII, a e b, e LXVI, da CF/1988), motivado por sua com-
petência originária (art. 105, I, b e h (STJ); TST.

Ademais, o ROC é cabível das decisões referentes a crimes políticos, previstos


na Lei de Segurança Nacional (art. 102, II, b, da CF/1988). Nesse caso, é chamado
“recurso criminal ordinário constitucional”.

Quanto ao STJ (art. 105, II, a, b e c, da CF/1988), o ROC cabe:


• das decisões denegatórias de habeas corpus, proferidas, em única ou última instân-
cia, pelo TRF ou por tribunais estaduais (art. 105, II, a, da CF/1988);
• das decisões denegatórias de mandado de segurança decidido em única instância
(interposto e decidido nos tribunais regionais federais, ou pelos tribunais dos esta-
dos e do Distrito Federal) (art. 105, II, b, da CF/1988);
• do julgamento das causas em que forem partes Estado estrangeiro, de um lado, e,
de outro lado, município ou pessoa residente no País (art. 105, II, c, da CF/1988).

Na esfera criminal, são basicamente duas as espécies de decisão que ensejam


o ROC:
• denegatórias de habeas corpus em segunda instância ou por tribunal superior;
• de mandado de segurança em segunda instância ou por tribunal superior.

Importante!
Só cabe interposição de recurso ordinário constitucional se foi negada a medida de
habeas corpus ou mandado de segurança. Se a medida é concessiva, cabe recurso extra-
ordinário ou especial.

Endereçamento
O recurso ordinário constitucional é dirigido ao desembargador-presidente do tribu-
nal que denegou a ordem.

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Competência
Compete o julgamento do ROC ao ministro-presidente do tribunal que denegou a
ordem de HC ou o mandado de segurança.

Efeito do Recurso Ordinário Constitucional


O efeito é devolutivo, podendo ser dado efeito suspensivo pelo relator.

Prazo para Interposição do Recurso Ordinário Constitucional

Figura 8
Fonte: Getty Images

• No STJ:
» No caso de denegação de habeas corpus, 5 (cinco) dias (art. 30 da Lei nº 8.038/1990),
já com as razões e o pedido de reforma;
» No caso de denegação de mandado de segurança: 15 (quinze) dias, já com as
razões e o pedido de reforma (art. 33 da Lei nº 8.038/1990);
• No STF: previsão de prazo apenas no Regimento Interno do STF, que diz que o
prazo será de 5 (cinco) dias para interpor recurso ordinário em denegatória de HC.
Quanto ao mandado de segurança, é omisso. Mas a Súmula nº 319 do STF dispõe
que o prazo do recurso ordinário ao Supremo Tribunal Federal, em habeas corpus
ou mandado de segurança, é de 5 (cinco) dias.

Teses ou Requerimento do Recurso Ordinário Constitucional


O recurso ordinário constitucional possibilita o reexame de pedido de habeas corpus
ou mandado de segurança. Deverá, portanto, o recorrente, reproduzir a argumentação
veiculada na ação denegada (HC ou MS) e requerer aquela mesma providência que
deveria ser concedida, e não foi.

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UNIDADE Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

A tese é a mesma que foi sustentada – e denegada – em HC. Por exemplo, se foi
discutida a liberdade provisória do recorrente, deve ser feita a mesma análise que faria
para um pedido de liberdade provisória ou de revogação de prisão preventiva: ausência
de requisitos para a preventiva ou ilegalidade do flagrante.

Se o habeas corpus impetrado foi para o trancamento de ação penal por falta de
justa causa, terá de arguir as teses de composição do crime, de punibilidade e de falta ou
ilegalidade de provas (ex.: indiciamento com base em delação apócrifa).

Procedimento
O ROC é interposto por meio de petição dirigida ao presidente do tribunal, que
denegou a ordem. Junto com a petição, apresentam-se as razões do pedido de reforma.

Em seguida, os autos vão com vista ao MP para parecer em dois dias (isso no caso de
habeas corpus). No caso de mandado de segurança, o parecer será emitido em cinco dias.

Após, os autos são distribuídos ao relator, que marcará data para julgamento.

Figura 9
Fonte: Getty Images

Modelo de Interposição de Recurso Ordinário Constitucional

Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador-Presidente do Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo
ou
Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador-Presidente do Tribunal Regional
Federal da 3ª Região
“Nome do cliente”, já qualificado nos autos do pedido de Habeas Corpus nº __
por seu/sua advogado(a) ao final subscrito(a), vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, e dentro do prazo legal, não se conformando, data venia, com
o venerando acórdão denegatório da ordem, interpor para o Superior Tribunal de
Justiça, recurso ordinário constitucional, com fundamento no art. 105, II, a (ou
b, se for MS), da CF/1988 e na Lei nº 8.038/1990 (esta só se for HC).

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Nestes termos, apresentando desde já suas razões, requer seja recebido e proces-
sado o presente recurso e encaminhado ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça (ou
STF, se for o caso).
Termos em que pede deferimento.
Local e data.
Nome do(a) advogado(a)
OAB/SP nº

Razões do recurso ordinário constitucional


Recorrente: “Nome do cliente”
Recorrido: Justiça Pública
Habeas Corpus nº __
Egrégio Superior Tribunal de Justiça
Colenda Turma
Douto Procurador da República
Em que pese ao alto prestígio do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de
__________ (ou TRF), o venerando acórdão proferido pela sua Colenda Câma-
ra denegando o pedido de habeas corpus impetrado em favor do paciente não pode
subsistir, pelas razões a seguir aduzidas:
I – Dos fatos
(resumir o problema dado).
Diante dessa decisão, foi impetrado habeas corpus, o qual foi negado pela ..... Câmara
(Turma) do E. Tribunal de Justiça (ou Tribunal Regional Federal).
II – Do direito
Com todo respeito e acatamento, não pode prosperar a respeitável decisão que
denegou a ordem de habeas corpus, por encontrar-se desprovida de amparo legal.
Com efeito, a impetração do habeas corpus era perfeitamente cabível, não havendo
razão de ter sido negado pela Colenda Câmara (turma).
(redigir com suas palavras uma tese defensiva mais ou menos 15 linhas).
Conforme entendimento predominante na jurisprudência: (se não houver, não coloque).
Portanto, é de se concluir que o presente recurso é medida que se impõe para
reformar a r. decisão denegatória, possibilitando, assim, que o recorrente faça jus ao
benefício que lhe é de direito.
III – Do pedido
Diante de todo o exposto, requer seja conhecido e dado provimento ao presente
recurso, para tornar sem efeito a decisão que denegou o pedido de habeas corpus,
para que, assim, se faça justiça.
Local e data.
Nome do(a) advogado(a)
OAB/SP nº

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Constitucional e Revisão Criminal

Revisão Criminal
A revisão criminal é regulamentada nos arts. 621 a 631 do CPP.

Fundamento Legal para Ajuizamento


Art. 621 do CPP.

Figura 10
Fonte: Getty Images

Definição
A ação de revisão criminal é um dispositivo processual, disponibilizado ao condenado,
com a finalidade de corrigir falhas indevidamente praticadas pelo Poder Judiciário na
esfera criminal, desonerando-o de uma condenação excessivamente desproporcional
ou injusta.

Natureza Jurídica
A revisão criminal é uma ação de natureza constitutiva, pois visa invalidar uma sen-
tença já transitada em julgado. É peça privativa da defesa.

Cabimento
Somente será admitida a revisão dos autos findos, ou seja, após o trânsito em julgado,
quando a sentença condenatória for conforme previsão do art. 621 do CPP, in verbis:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:


I – quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei
penal ou à evidência dos autos;
II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames
ou documentos comprovadamente falsos;

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III – quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de ino-
cência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize
diminuição especial da pena. (grifo nosso).

Sentença Contrária ao Texto da Lei ou Contrariedade à Evidência dos Autos


Contrárias à lei são todas as sentenças que não cumprem as normas nelas estabele-
cidas, ou que não encontram respaldo na sua própria existência.

De forma amplificada, lei, na área criminal, compreende também as normas e os


princípios processuais penais.

A contrariedade ao direito há de ser frontal e inequívoca: não infringe o texto expresso


a interpretação razoável, ainda que controvertida, dos tribunais. Para ser contrária à lei,
seria, por exemplo, condenação por crime de lesão corporal em exame de corpo de
delito, ou se o juiz julgou de forma contrária a prova dos autos.

Sentença Fundada em Depoimentos, Exames ou Documentos Falsos


Quando a sentença rescindenda se basear em prova que se mostrou comprovada-
mente falsa em momento posterior, como documentos, exames ou depoimentos falsos,
fica comprovado que a decisão foi fundada, alicerçada, nessas fraudes. Nesse sentido,
não se trata somente da mera existência do fato dentro do processo.

Descoberta de Provas Novas


Definem-se “provas novas” somente as efetivamente recém-descobertas, e são váli-
das aquelas produzidas sob o crivo do contraditório e que possam influir decisivamente
no julgamento em favor do réu.

A nova prova deve ser colhida em procedimento prévio de justificação criminal.

Justificação Criminal
O entendimento pacificado é de que não se admite a produção de provas durante
a ação de revisão criminal. Para rever as provas, deve ser requerido, perante o juiz que
julgou o processo, um pedido de justificação criminal. Com a justificação criminal, as pro-
vas poderão ser novamente produzidas e servirão para instruir a ação de revisão criminal.

A justificação criminal, portanto, se destina à obtenção de prova nova com a finalida-


de de subsidiar eventual ajuizamento de revisão criminal.

Legitimidade
Como já apresentado neste estudo, a revisão criminal é um instrumento de uso exclu-
sivo da defesa, para o benefício do réu, e nunca para agravar ou piorar a sua situação.

Conforme consta no art. 623 do CPP: “A revisão poderá ser pedida pelo próprio
réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão”.

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UNIDADE Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

Prazo
Não há prazo para a interposição da revisão criminal, podendo ser ajuizada a qual-
quer tempo, e o réu pode estar em fase de cumprimento da sentença.

A revisão pode ser requerida até mesmo após o cumprimento integral da pena, ocor-
rida ou não a extinção da punibilidade; nem mesmo a morte do réu causa a impossibi-
lidade do uso da revisão criminal pelo cônjuge, por ascendente, descendente ou irmão
por meio de um procurador legalmente habilitado.

Indenizações ao injustiçado
A característica principal da revisão criminal é a possibilidade de reparação de um
erro judicial.

Competência para julgar


As revisões criminais são processadas e julgadas:
• pelo STF, quando a condenação é proferida por ele;
• elo STJ, quando a condenação é proferida por ele;
• quando houver sentenças transitadas em julgado no TJ ou TRF, pelo Tribunal de
Justiça na seção criminal ou pelo TRF.

Processamento
Primeiramente, deve ser feito um requerimento com a certidão de haver transitado
em julgado a sentença condenatória e com peças que comprovem os fatos que justifi-
quem o ajuizamento da revisão criminal.

Figura 11
Fonte: sintespe.org

A revisão ajuizada será distribuída a um relator e a um revisor.

O relator não poderá ter pronunciado decisão em qualquer fase do processo e poderá
determinar que se apensem os autos originais.

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Caso o relator julgue insuficientemente instruído o pedido e inconveniente ao inte-
resse da justiça que se apensem os autos originais, irá indeferir a revisão liminarmente.
Independentemente de termo, o relator apresentará o processo em mesa para o
julgamento e relatará sem tornar parte da discussão.
Caso o requerimento não seja deferido in limine, será aberta vista dos autos ao
procurador-geral, para dar parecer em 10 (dez) dias, em seguida examinados os autos,
sucessivamente ao relator e ao revisor, em 10 (dez) dias também, então será julgado o
pedido na sessão que o presidente designar.
Caso julgada procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração,
absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo.

Em nenhuma hipótese poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.

Modelo de revisão criminal

Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador-Presidente do Tribunal de Justiça do


Estado de __________
Excelentíssimo Senhor Desembargador-Presidente do Tribunal Regional Federal de
.................– .....ª Região
“Nome do cliente”, nacionalidade, estado civil, profissão, residente na rua
______________________________, nº __, nesta capital, por seu/
sua advogado(a) que esta subscreve (doc. 1), não se conformando com a referida
sentença, já transitada em julgado (certidão anexa – doc. 2), da __ Vara Criminal
(ou Tribunal do Júri), Processo nº __, que o condenou à pena de __ anos de reclu-
são (ou detenção), com incurso no art. __ do CP, vem respeitosamente apresentar,
contra ela, revisão criminal, com fulcro no art. 621 __. do CPP, pelas razões a seguir
aduzidas, e requerer o quanto que se segue:
I – Dos fatos
(resumir o problema dado substituindo “A” por Revisionando).
II – Do direito
Com efeito, (redigir, com suas palavras, uma tese defensiva com ao menos 15 linhas).
Conforme entendimento predominante na jurisprudência, “......” (se não houver uma
jurisprudência sobre o caso, não coloque).
III – Do pedido
Diante de todo o exposto, requer seja julgado procedente o presente pedido revi-
sional, decretando-se a anulação do processo, ou (absolvição do Revisionando, nos
termos do art. 386, __ e nos termos do art. 626 do CPP).
Requer ainda seja reconhecido o direito do Revisionando à devida indenização,
como medida de justiça.
Termos em que pede deferimento.
Local e data.
Nome do(a) advogado(a)
OAB/SP nº

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UNIDADE Habeas Corpus, Recurso Ordinário
Constitucional e Revisão Criminal

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Nucci – polos passivos e ativos na revisão criminal
https://youtu.be/HiYR7Ic1x5M
AGU Explica – recurso ordinário constitucional
https://youtu.be/SuvMsjZzd30
AGU Explica – habeas corpus
https://youtu.be/TtEcb70DJV4
AGU Explica – habeas corpus
https://youtu.be/elIpIU-6MwU

Leitura
Habeas corpus: um remédio constitucional
https://bit.ly/3wGLbGC
A interposição de recurso ordinário constitucional e a capacidade postulatória
https://bit.ly/3wzv5yF

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Referências
AVENA, N. Processo penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

BONFIM, E. M. Curso de processo penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

CRETELLA JÚNIOR, J. Os “writs” na Constituição de 1988. Rio de Janeiro,


Forense-Universitária, 1996.

DE PLÁCIDO E SILVA, O. J. Vocabulário jurídico. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

GIACOMOLLI, N. J. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição


Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. (e-book)

GLOECKNER, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva,


2017. (e-book)

LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)

MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)

NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. (e-book)

PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

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