Você está na página 1de 13

XVI– UNIDADE. 27/09/2022.

- OBJETIVO: CONHECER E REDIGIR UM HABEAS CORPUS EM


PORTUGUÊS.-

Habeas Corpus: o que é, como


funciona e quando cabe
A liberdade de locomoção é um dos direitos fundamentais garantidos aos
cidadãos pela Constituição Federal.

Entretanto, a lei prevê que, em determinadas situações, essa liberdade pode ser
cassada, como é o caso de prisões temporárias, preventivas e condenatórias.

Ainda assim, existem casos em que uma prisão é executada de forma ilegal, seja
pela forma como foi realizada, por conta de quem concedeu a ordem ou a
efetivou. Nesses casos, é cabível um instrumento processual chamado habeas
corpus.

Para melhor compreender esse instituto, abordaremos todas as informações mais


relevantes sobre o habeas corpus neste artigo. Acompanhe!

O que é habeas corpus?


O habeas corpus é um remédio constitucional utilizado para garantir a liberdade
de um indivíduo, quando ele for preso ilegalmente ou sofrer ameaça de
prisão, por conta de ato ilegal ou realizado com abuso de poder.

Diante da sua importância, pois visa proteger a liberdade das pessoas, o habeas
corpus está previsto na Constituição Federal, no art. 5º, inciso LXVIII, que diz:

“LXVIII – conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder”.

Além disso, as etapas processuais deste instrumento estão elencadas nos arts.
647 a 667 do Código de Processo Penal.
De acordo com suas especificações legais, o habeas corpus pode ser dividido em
duas modalidades: a preventiva e a liberatória.

– Habeas Corpus Preventivo 


O HC preventivo é utilizado nos casos em que ainda não houve privação de
liberdade, mas ela está sob ameaça concreta e iminente por conta de algum
ato anterior. 

O habeas corpus preventivo também é chamado de “salvo conduto” e impede que


um ato ilegal se concretize.

É o caso, por exemplo, quando houve a expedição de um mandado de prisão,


mas existe alguma ilegalidade circundando a ordem, como a incompetência do juiz
ou no caso de haver alguma nulidade processual.

– Habeas Corpus Repressivo


O HC repressivo, com o próprio nome indica, busca reprimir uma prisão ilegal,
ou seja, é utilizado quando o ato contra a liberdade de um indivíduo já se
concretizou.

O habeas corpus repressivo também é chamado de liberatório, pois almeja-se a


liberdade de outrem que tenha sido cassada por alguma ilegalidade ou abuso
de poder.

Quando surgiu o Habeas


Corpus?
O habeas corpus é considerado um dos instrumentos processuais mais antigos.
Sua origem remete-se ao século 13, na Inglaterra, sendo que os seus primeiros
indícios foram encontrados na Magna Carta do referido país, em 1215.

Nesse documento, frisou-se a necessidade de impedir que pessoas dotadas


de poder político pudessem privar a liberdade de forma irrestrita.

Posteriormente, o mesmo país criou o Habeas Corpus Act, ato legal que


regulamentou aspectos sobre a medida processual, incluindo a possibilidade de
reparar excessos e abusos no cumprimento de ordens de restrição de liberdade.

Com relação ao Brasil, o primeiro dispositivo legal contendo a previsão do habeas


corpus foi o Código de Processo Penal de 1832, em seu artigo 340, que dizia
que “todo cidadão que entender que ele, ou outro, sofre uma prisão ou
constrangimento ilegal em sua liberdade, tem direito de pedir uma
ordem de habeas corpus a seu favor”.

Qual a finalidade de um habeas


corpus?
A função do habeas corpus é proteger a liberdade de locomoção dos
cidadãos frente aos atos abusivos do Estado.

É por meio de uma petição de habeas corpus, também chamada de ação


constitucional, que o indivíduo poderá reverter uma ordem ilegal de prisão, quando
já concretizada, ou evitar que esta seja executada, quando ver sua liberdade
ameaçada por ela.

Entretanto, é importante frisar que o HC só poderá ser impetrado quando as


ordens emanadas forem revestidas de ilegalidade, por alguns dos motivos
legais que serão vistos no tópico a seguir.

Quando alguém tenha sido preso e todos os requisitos processuais e materiais


tenham sido analisados e cumpridos corretamente, não há que se falar em
cabimento de habeas corpus.

Quando cabe o habeas


corpus?
O habeas corpus é cabível contra uma ameaça à liberdade, ou quando esta
já tenha sido suprimida, por algum ato ilegal.

Para compreender suas hipóteses de cabimento, é necessário analisar o art. 648


do Código de Processo Penal, que diz:

Art. 648.  A coação considerar-se-á ilegal:

I – quando não houver justa causa;

II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;

III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza;

VI – quando o processo for manifestamente nulo;

VII – quando extinta a punibilidade.

Cada uma delas será comentada individualmente, a seguir.

1– Quando não houver justa causa


Nesse caso, a prisão ou ameaça à liberdade será considerada ilegal pelo fato de
que, no caso concreto, não se verificam os pressupostos que autorizariam essa
medida.

Desta forma, estão ausentes o fumus commissi delicti (indícios da prática de um


delito) e periculum libertatis (perigo causado por deixar um indivíduo em
liberdade).

Sem que existam esses indícios, não há justa causa para a prisão e ela pode ser
considerada ilegal.

2 – Quando alguém estiver preso por


mais tempo do que determina a lei
É um direito dos cidadãos que tenham seus processos julgados em tempo
razoável, o que se aplica, também, ao processo criminal.

Em determinadas situações, é cabível a prisão temporária (com prazo definido em


lei), a prisão preventiva (cujo prazo é analisado conforme a situação concreta) e a
prisão condenatória (quando há uma sentença condenando o réu ao cumprimento
de uma pena).

Independente do caso, o indivíduo tem conhecimento de quanto tempo ficará


preso e, por isso, se sua liberdade for cerceada por tempo maior do que o
determinado, a prisão será considerada ilegal e ele poderá impetrar habeas
corpus.
3 – Quando quem ordenar a coação
não tiver competência para fazê-lo
Todas as ordens de prisão devem ser proferidas por um juiz natural e competente.
Desta forma, um juiz estadual não pode emanar a ordem a competência para
julgamento do crime for de um juiz federal.

Vale destacar que essa competência não se confunde com as atribuições


conferidas às autoridades policiais, as quais podem realizar prisão em flagrante
independentemente do crime ser de competência federal ou estadual.

– Quando houver cessado o motivo que


autorizou a coação
Qualquer ato que ameace a liberdade de locomoção de um indivíduo, seja por
meio de uma ordem de prisão ou outro ato de poder estatal, deve ser
fundamentado em indícios fáticos e cumprindo os requisitos legais.

Caso desapareça as provas fáticas que autorizaram a medida, não há motivo para
persistir a coação, de modo que, caso ela se perpetue ou se concretize, será
considerada ilegal e, portanto, possibilita a impetração de habeas corpus.

4 – Quando não for alguém admitido a


prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza
A fiança é uma medida que pode ser aplicada em determinados casos, como
forma de substituir a prisão de um indivíduo. 

Caso haja autorização legal e preenchidos os requisitos para tanto, mas, na


prática, não seja concedida a oportunidade de prestar fiança a alguém, sendo
concretizada a sua prisão, esta será considerada ilegal, o que pode fundamentar o
pedido de liberdade constante em um habeas corpus.

– Quando o processo for


manifestamente nulo
As nulidades que podem ocorrer em um processo penal estão elencadas no art.
564 do CPP. Assim sendo, caso alguma delas seja identificada no curso do
processo entende-se que há perda da legitimidade do exercício do poder estatal,
afetando, assim, as ordens proferidas pelo juiz.

Com isso, a lei determina que qualquer ordem judicial emanada em um processo
nulo será considerada ilegal quando interferir na liberdade do indivíduo.

5 – Quando extinta a punibilidade


A extinção da punibilidade indica que não há mais poder punitivo cabível por parte
do Estado. Isso quer dizer que, por algum dos motivos elencados no art. 107 do
Código Penal, não é mais possível que um indivíduo seja processado e julgado
pelo crime em questão.

Assim sendo, caso seja instaurado um novo inquérito policial para averiguar um
crime sobre o qual já houve análise judicial e consequentemente fora decretada a
extinção da punibilidade do indivíduo, é cabível habeas corpus para impedir que a
investigação prossiga.

6 - Quais são as pessoa s


identificadas no processo de
habeas corpus?
A petição de habeas corpus deve ser direcionada sempre ao órgão superior
àquele apontado como coator, além de identificar alguns sujeitos em seu escopo,
quais sejam: o impetrante, o paciente, o coator e o detentor.

A seguir, abordaremos o conceito de cada um.

7 – Impetrante
Impetrante é a pessoa que ajuíza o habeas corpus em nome de um paciente, ou
seja, em nome de quem está sofrendo uma ordem ilegal.

O impetrante pode ou não ser um advogado.

8 – Paciente
É chamado de paciente aquele que sofreu o ato coator ou está na iminência de
sofrê-lo. É, de fato, a pessoa que foi presa de forma ilegal ou está tendo sua
liberdade ameaçada por conta de algum ato revestido de ilegalidade.
O paciente pode impetrar, por si só, o habeas corpus, caso em que ele também
será o impetrante.

9 – Coator
Coator é a autoridade que determinou a prática do ato ilegal. Pode ser um juiz ou
outra autoridade estatal que tenha poder para emanar decisões que interfiram no
campo da liberdade de locomoção dos indivíduos.

10 – Detentor
É chamado de detentor a pessoa que detém ou guarda o paciente, quando for
diferente da pessoa enquadrada como autoridade coatora. 

É, por exemplo, o diretor do presídio ou do estabelecimento prisional no qual o


paciente está preso, após cumprida a ordem ilegal. 

De quem é a competência para


julgar do habeas corpus? 
Como visto, a regra é que a competência para julgar o habeas corpus é sempre
uma autoridade acima daquela que proferiu a ordem ilegal.

Se quem determinou a prisão ilegal foi um juiz de primeiro grau, a competência


para julgar o habeas corpus será do Tribunal, seja ele Estadual, Federal ou
Especializado, conforme sua subordinação hierárquica.

Se proferido por um dos membros do Tribunal, o órgão competente para julgá-lo


será um Tribunal Superior, podendo ser o Superior Tribunal de Justiça, Superior
Tribunal Militar ou Tribunal Superior Eleitoral.

Por último, quando um Tribunal Superior for responsável pela prática do ato, a
competência caberá ao Supremo Tribunal Federal.

Qual é o papel do advogado


durante o processo de habeas
corpus?
Caso o habeas corpus não seja impetrado pela pessoa que está presa ou
sofrendo ameaça ilegal de prisão, ele poderá, também, ser interposto por
advogado.

Nessa hipótese, o advogado atua não só como representante da parte, mas


também como garantidor de direitos fundamentais.

Diante de seu conhecimento técnico, o profissional é responsável por incluir todos


os requisitos de uma petição inicial de habeas corpus, com clareza e
fundamentação necessárias a qualquer peça processual, incluindo cópia integral
(ou das principais peças) do processo que originou a ordem ilegal. 

Ao fazer isso, o advogado contribui para a celeridade do julgamento, sem que


sejam necessárias novas informações ou documentos.

Da mesma forma, o conhecimento especializado do advogado possibilita


acompanhar a movimentação e o julgamento do habeas corpus, garantindo,
assim, que a ordem ilegal seja cassada e que o seu cliente seja posto em
liberdade novamente.

Perguntas frequentes sobre


Habeas Corpus
O que é habeas corpus?
O habeas corpus é um remédio constitucional utilizado para garantir a liberdade
de um indivíduo, quando ele for preso ilegalmente ou sofrer ameaça de prisão, por
conta de ato ilegal ou realizado com abuso de poder.

Quais são os tipos de habeas corpus?


O habeas corpus pode ser preventivo, quando existe uma ameaça ilegal à
liberdade de um indivídio; ou repressivo, quando já foi concretizada uma ordem
de prisão ilegal contra uma pessoa.

Quando é cabível habeas corpus?


O Habeas Corpus é cabível:
Quando não houver justa causa no processo que originou a ordem de prisão;
Quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
Quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
Quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza;
Quando o processo for manifestamente nulo;
Quando estiver extinta a punibilidade do indivíduo.
Qual a finalidade de um habeas corpus?
A finalidade do habeas corpus é proteger a liberdade de locomoção dos cidadãos
frente aos atos abusivos do Estado.

Quem pode pedir habeas corpus?


Qualquer cidadão pode impetrar um habeas corpus, seja em nome próprio
(quando sofrer a ameaça ou violação ilegal do direito à liberdade) ou em nome de
terceiro.

Conclusão sobre Habeas


Corpus
Diante do exposto, conclui-se que o habeas corpus é o instrumento jurídico
utilizado para proteger a liberdade de ir e vir dos cidadãos, quando estes
veem seu direito ameaçado ou violado por uma ordem de prisão ilegal.

Por buscar a proteção de um direito fundamental que fora violado de forma


indevida, o HC pode ser impetrado pela pessoa que sofreu a ordem ilegal
ou por alguém em seu nome, seja advogado ou não.

Mesmo diante dessa peculiaridade, é importante que, sempre que possível, os


indivíduos contem com a ajuda profissional de um advogado, uma vez que eles
podem contribuir para maior celeridade do procedimento e garantir que seus
direitos sejam respeitados.

Modelo 1.-

 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE XXXXXXX.

 URGENTE

 Processo Nº: XXXFULANO DE TAL

 ,

 advogado, inscrito junto à OAB/XX sob o n.º XXXX, com escritório profissional situado
em XXXXXXXXX, ora IMPETRANTE, vem em favor de

GABRIEL DASILVA
, ora PACIENTE, brasileiro, estudante universitário, portador do RG número XX.
XXX.XXX-X, SSP-MG e inscrito no CPF sob o número xxx. Xxx. Xxx-xx, nascido na
data dexx/xx/xxxx, filho de xxxxxx e xxxx, residente e domiciliado em xxxx, xxxx

 CEP xx. Xxx-xxx,xxx/UF, com fundamento nos artigos 647 e 648, I, do Código de


Processo Penal e artigo 5º, inciso LXVIII da Constituição da República, vem
respeitosamente a presença de VossaExcelência

IMPETRAR

 o presente:

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

 em face de ato praticado pelo MM Juiz de Direito da XX Vara Criminal da Comarca


XXXX, haja vista não haver embasamento legal para a manutenção da sua prisão
preventiva, pelos fatos e fundamentos abaixo aduzidos:

DOS FATOS

 Em 11 de julho de 2016, policiais militares patrulhavam a Rua A, altura do nº 50,


BairroBrasilândia, nesta Comarca, quando se depararam com um veículo parado em
atitudesuspeita na frente de uma residência, cujas luzes estavam apagadas.O Paciente
foi abordado e no bolso da bermuda deste foi encontrado, uma embalagem deplástico,
contendo em seu interior uma porção de cannabis sativa (maconha).O veículo do
paciente foi vistoriado e em seu interior foi localizado a quantia de R$3.000,00(três mil
reais) em dinheiro.Os policiais realizaram buscas no porta-malas do veículo,
onde encontraram 01 (uma) umamochila contendo em seu interior 03 (três) recipientes
com cannabis sativa (maconha),pesando cerca de 20g (vinte gramas) cada.Naquele
instante o Paciente assumiu a propriedade da droga, alegando ser usuário.No que diz
respeito ao dinheiro encontrado, informou que teria arrecadado tal quantia coma venda
de ingressos para um evento universitário que aconteceria na semana seguinte,mas não
possuía mais nenhum ingresso pois tinha acabado de vender o último que restava.Nas
circunstâncias da apreensão, a natureza das substâncias apreendidas e a forma
deacondicionamento delas, os policiais militares, imediatamente, deram voz de prisão
emflagrante ao Paciente pela prática do delito de tráfico de drogas e o conduziram à
Delegaciade Polícia Civil mais próxima

Modelo 2 .-
MODELO DE HC LIBERATÓRIO - PRISÃO PREVENTIVA
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO . . . .
 
 
 
 LIVRE DISTRIBUIÇÃO
 
Impetrante: Beltrano de Tal
Paciente: Francisco Fictício
Autoridade Coatora: MM Juiz de Direito da 00ª Vara da Comarca ...
 
PEDIDO DE APRECIAÇÃO URGENTE (LIMINAR) – RÉU PRESO
  
                                               O advogado BELTRANO DE TAL, casado, advogado,
inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado, sob o nº 112233, com
seu escritório profissional consignado no timbre desta, onde receberá intimações,
vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, para, sob a égide
dos arts. 648, inciso II, da Código de Processo Penal c/c art. 5º, inciso LXVIII da
Lei Fundamental, impetrar o presente 
HABEAS CORPUS
(com pedido de “medida liminar”)
 
em favor de FRANCISCO FICTÍCIO, brasileiro, solteiro, comerciante, possuidor do
RG. nº. 11223344 – SSP(PP), residente e domiciliado na Rua X, nº. 000 – Cidade
(PP), ora Paciente, posto que se encontra sofrendo constrangimento ilegal, por ato
do eminente Juiz de Direito da 00ª Vara da Cidade, o qual converte prisão em
flagrante e prisão preventiva, mesmo se tratando de delito culposo, cuja decisão
dormita nos autos do processo nº. 33344.55.06.77/0001, como se verá na
exposição fática e de direito a seguir delineadas.
                  
1 - Síntese dos fatos  
                                   
                                               Colhe-se dos autos do processo supra-aludido que o
Paciente fora denunciado pelo Ministério Público Estadual, em 00 de abril do ano
de 0000, como incurso no tipo penal previsto nos arts. 302, caput, do Código de
Trânsito. Desse modo, para acusação o Paciente cometera delito de crime de
homicídio culposo na direção de veículo automotor. (doc. 01).
 
                                               Em face do despacho inaugural, o qual demora às fls.
12/14 do processo criminal em espécie, o Magistrado a quo, na oportunidade que
recebera o auto de prisão em flagrante (CPP, art. 310), converteu essa em prisão
preventiva.  Na ocasião o Juiz entendera que o crime perpetrado causou revolta
e clamor público em toda Cidade. Acosta-se referido decisum. (doc. 02)
 
                                               Por conveniência, abaixo evidenciamos trecho da decisão
em vertente:
 
“Passo a apreciar a eventual conveniência da convolação da prisão em flagrante
em preventiva ou, ao revés, conceder a liberdade provisória, na medida do
enfoque estatuído no art. 310, incs. II e III, do Estatuto de Ritos. Compulsando os
autos, verifico que inexiste qualquer elemento capaz de alterar a classificação
penal feita pela douta Autoridade Policial, apoiada que o fez nas convicções
colhidas dos fólios da pela inquisitória.
 
 O homicídio em espécie causou revolta nesta Cidade, tamanha a futilidade do
crime. De outro modo, o depoimento da testemunha Francisca Paulina expressa
claramente todo o clamor social por Justiça: “Que, do nada o veículo veio em alta
velocidade e atropelou o pobre inocente que passava na calçada; Que, o falecido
era um senhor idoso; Que, acha que toda cidade quer o Francisco preso; Que, se
não fosse preso, acha que a população iria fazer alguma desgraça contra ele,
porque a vítima era pessoa de bem e ajudava bastante as pessoas carentes
daqui;”
( . . . .)
Do cenário carreado aos fólios do inquérito policial, sem qualquer sombra de
dúvida o crime perpetrado reclama a prisão do réu, maiormente pela
irresponsabilidade, futilidade e a comoção que trouxera à pequena cidade de
Cidade.
(...)
Por conseguinte, decretar-se a prisão preventiva é a medida mais acertada à
hipótese em relevo, visto que tal proceder é de toda conveniência à instrução
criminal, para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei
penal.
 
            Por tais considerações, CONVOLO A PRISÃO EM FLAGRANTE PARA A
FORMA ACAUTELATÓRIA DE PRISÃO PREVENTIVA. “
 
                                                Essas são algumas considerações necessárias à
elucidação fática.
 
2 - Constrangimento ilegal                         
2.1. O suposto crime não é doloso
Impertinência da prisão preventiva
 
                                    A qualificação delituosa em estudo se resume ao pretenso crime
de homicídio culposo na direção de veículo. Esse delito tem previsão estatuída no
Código de Trânsito, que assim reza:
 
CÓDIGO DE TRÂNSITO 
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
 
        Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
 
                                    Com as alterações da Legislação Adjetiva Penal, mais
precisamente do conteúdo expresso no art. 313, vê-se que a prisão preventiva não
mais se coaduna com crimes culposos:
 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
 
Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva:
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a
4 (quatro) anos; 
 
                                               De outro bordo, infere-se que o Paciente não se enquadra
em nenhuma outra das hipóteses fixadas na aludida regra processual, o que, de
pronto, acosta-se as certidões comprobatórias. (docs. 03/07)
 
                                               Nesse rumo é o magistério de Edilson Mougenot Bonfim:

Você também pode gostar