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DIREITO

CONSTITUCIONAL II
Profª: Thaís Agnoletti Alcova
REFERÊNCIAS:

NUNES JUNIOR, Flávio Martins Alves.


Curso de Direito Constitucional. 3ª ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.
REMÉDIOS
CONSTITUCIONAIS
➢ A Constituição Federal, no art. 5º, LXVIII a LXXIII,
traz os chamados remédios constitucionais.

➢ São garantias constitucionais que têm o formato de


ações judiciais.

➢ São normas de conteúdo assecuratório, visando a


assegurar direitos fundamentais.

➢ Essas garantias são instrumentalizadas


processualmente, como por exemplo, o habeas
corpus, ação constitucional destinada a tutelar a
liberdade de locomoção.
HABEAS CORPUS
➢ A expressão habeas corpus em um sentido original
e literal, significa: “dá-me o corpo”.

➢ A expressão latina notabilizou-se por todo o


mundo como sendo a conhecida ação
constitucional para tutela da liberdade de
locomoção.

➢ A sua criação ocorreu há muitos séculos, antes


mesmo da elaboração da Magna Carta de 1215
(Rei João Sem Terra).

➢ Esta foi a primeira vez em que tal remédio foi


previsto de forma escrita, ainda que de forma
tácita.
➢ A Constituição Federal, de 1988, dispõe
sobre o habeas corpus no art. 5º, LXVIII:
“Conceder-se-á habeas corpus sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder”.
➢ Ex: cabe habeas corpus quando o indivíduo
está preso ou na iminência de ser preso;

➢ Ex: cabe habeas corpus quando alguém


estiver preso por mais tempo que o
determinado por lei.

➢ Ex: quando couber o pagamento de fiança e


o indivíduo não for colocado em liberdade
depois disso;

➢ Etc.
➢ Embora regulamentado pelo Código de
Processo Penal (art. 647 e seguintes), o
habeas corpus não é uma ação exclusiva do
processo penal.

➢ Será cabível sempre que estiver em risco a


liberdade de locomoção.
➢ Habeas corpus contra prisão civil:

➢ Assim sendo, será cabível contra prisão civil,


como decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
“restando incontroversos os fatos
impeditivos da prestação dos alimentos, fica
afastada a possibilidade de prisão civil do
alimentante. Ordem concedida” (STJ – 4ª
Turma – HC 44.047-SP).
➢ Habeas corpus na justiça do trabalho:

➢ Por expressa previsão constitucional (art. 114,


IV), cabe também “habeas corpus” na Justiça
do Trabalho: “Compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar: IV – os mandados de
segurança, habeas corpus e habeas data,
quando o ato questionado envolver matéria
sujeita à sua jurisdição”.

➢ Alteração foi efetuada pela Emenda


Constitucional n. 45, de 2004 (Reforma do
Poder Judiciário).
➢ Ex: Cabe Habeas Corpus face ao indivíduo que
teve o seu passaporte retido em âmbito de
execução trabalhista.

➢ Entendimento compartilhado pelo STJ e TST.

➢ Caso que deu origem ao precedente → em uma


execução trabalhista, os empregadores que
tinham débitos trabalhistas face ao seu antigo
funcionário, tiveram os seus passaportes e
CHNs retidos pelo magistrado.

➢ Argumento: retenção de passaporte limitaria o


direito de locomoção.
➢ Face a essa alteração constitucional (que
permitiu o habeas corpus na Justiça do
Trabalho), surgiu uma dúvida se a Justiça do
Trabalho poderia, a partir de então, julgar matéria
penal.

➢ Poderia a Justiça do Trabalho julgar crimes


associados à imposição da condição análoga à
escravidão, ou aqueles crimes contra a
organização do trabalho?

➢ Segundo entendimento do STF, à Justiça do


Trabalho não tem competência para processar e
julgar ações penais.
➢ O habeas corpus seria uma espécie de
recurso?

➢ Prevalece o entendimento de que o habeas


corpus não é recurso, mas sim uma ação
constitucional.

➢ Nem sempre será cabível apenas contra uma


decisão judicial, podendo ser impetrado
contra ato de um delegado de polícia ou até
mesmo de um particular.
➢ Mas, afinal, qual o direito tutelado pelo
habeas corpus?

➢ A liberdade de locomoção;

➢ O direito de ir, vir, ficar/permanecer;

➢ Enfim, a liberdade ambulatória.


➢ ESPÉCIES DE HABEAS CORPUS:

➢ Preventivo: cabível face a ameaça real de


constrangimento à liberdade de locomoção (a
privação de liberdade está na iminência de
ocorrer).

➢ Repressivo/liberatório: cabível quando, no caso


concreto, ocorrer um ato constrangedor que viole
direta ou indiretamente a liberdade de locomoção
do indivíduo (quando a restrição da liberdade já
ocorreu, como por exemplo, nos casos de prisão
ilegal).
Atenção

➢ No habeas corpus repressivo, o constrangimento


pode ser direto (já existe uma prisão ou uma
ordem de prisão) ou indireto (já existe um
inquérito policial irregular, ou um processo
irregular, que poderão redundar fatalmente na
restrição à liberdade de locomoção).
Atenção

➢ É Importante frisar que, somente caberá o


habeas corpus preventivo se houver ameaça
real de constrangimento à liberdade de
locomoção, ou seja, a ameaça deve decorrer
de fatos concretos, e não apenas de um
temor injustificável do indivíduo.
➢ Quem pode impetrar o habeas corpus?

➢ Impetrante no habeas corpus pode ser


qualquer pessoa, sem a necessidade de ser
ou ter advogado.

➢ Pode ser impetrado em seu próprio favor ou


em auxílio de outrem.
➢ Desnecessidade de procuração:

➢ Se ajuizada por advogado, não precisará de


procuração.

➢ Embora não seja necessária a procuração


para a impetração do habeas corpus,
questiona-se a necessidade de procuração
para a interposição de Recurso Ordinário
Constitucional contra eventual decisão que
indefere o pedido de habeas corpus.
➢ Segundo decisão do STJ, há a necessidade de
um procurador para se recorrer da decisão que
negou o habeas corpus (STJ, AgRg no RHC
63.411/SP, rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, 5ª T., j. 17-11-2015).

➢Exceto se o habeas corpus tenha sido


impetrado por pessoa leiga, e essa mesma
pessoa queira recorrer.
➢ O habeas corpus pode ser impetrado por
pessoa analfabeta?

➢Sim, conforme o art. 654, § 1º, “c”, CPP,


tratando-se de impetrante analfabeto, é de
rigor ao conhecimento de habeas corpus a
assinatura de terceiro na peça inicial, a rogo
do interessado.
➢O habeas corpus pode ser impetrado por réu
foragido?

➢Sim, pode ser impetrado por réu foragido, não


sendo necessário seu recolhimento à prisão.

➢ “O pressuposto é a constrição, ou ameaça de


constrição ao direito de locomoção. Desse
modo, o paciente não precisa apresentar-se
para interpor a ação, nem se torna prejudicado
porque se evadira antes do julgamento” (STJ,
RHC 5047, rel. Vicente Cernicchiaro).
➢O habeas corpus pode ser impetrado por
estrangeiro?

➢Sim, também pode ser impetrado por


estrangeiro, desde que em língua portuguesa.

➢A exigência de a peça estar em língua


portuguesa se deve ao princípio da publicidade
(art. 5º, LX, CF), não importando se o juiz
conhece ou não a língua estrangeira.
➢Pode o habeas corpus ser impetrado por
adolescente?

➢Sim, poderá ser impetrado por adolescente.

➢Conforme julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul: “Trata-se de HC impetrado por
adolescente que responde processo por alegado
ato infracional. [...] Tal situação, que resulta em
restrição na liberdade do adolescente, não permite
superar o prazo máximo de 45 dias previsto no
ECA. Portanto, havendo afronta à liberalidade dos
dispositivos legais, a ordem deve ser concedida.
Ante o exposto, julgo procedente o HC e concedo a
ordem” (HC 70059918698 RS).
➢ Pessoa jurídica como impetrante do habeas
corpus:

➢ Segundo o STJ, a pessoa jurídica pode ser


impetrante do habeas corpus, desde que ele
seja impetrado em favor de pessoa física

➢(A pessoa jurídica não pode ser paciente do


habeas corpus).
➢ Em favor de direito próprio ou de terceiro:

➢ O habeas corpus pode ser impetrado em favor


de direito próprio ou de terceiro.

➢Assim, caso o agente seja preso injustamente,


poderá ser impetrado em seu próprio nome,
para obtenção de sua liberdade.

➢Da mesma forma, poderá ser impetrado o


habeas corpus em favor de terceiro, não
sendo necessária procuração.
➢Habeas corpus apócrifo:

➢Habeas corpus apócrifo é aquele sem


assinatura.

➢Segundo a jurisprudência, não se admite


habeas corpus apócrifo.
➢ Discordância expressa do paciente:

➢ Segundo a jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal, não será julgado o habeas
corpus, se houver expressa discordância do
paciente (pessoa favorecida pelo habeas
corpus).

➢Acontecimento comum em caso de prisão de


pessoas públicas.
➢ Paciente:

➢ O paciente no habeas corpus necessariamente


é pessoa humana, não sendo cabível em favor
de pessoa jurídica ou de animais.
➢Habeas corpus em favor de pessoa
jurídica:

➢Recentemente o Supremo Tribunal


Federal analisou o tema, julgando pela
ilegitimidade passiva da pessoa jurídica
no habeas corpus, por inexistir o direito
de liberdade de locomoção.
➢Habeas corpus coletivo:

➢Admite-se atualmente o habeas corpus coletivo,


desde que os pacientes sejam identificados ou
identificáveis.

➢Tal medida, embora fruto de construção


jurisprudencial, evitará a multiplicação
desnecessária de processos, e levando a justiça
sobretudo para os pacientes mais
hipossuficientes.
➢ Ex: em fevereiro de 2018, em decisão
paradigmática, o STF (no HC 143.641) concedeu
habeas corpus coletivo para determinar a
substituição da prisão preventiva por prisão
domiciliar para as mulheres presas, em todo o
território nacional, que sejam gestantes ou
mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas
com deficiência, como determina o art. 318, IV
e V, do Código de Processo Penal.
➢IMPETRADO OU AUTORIDADE COATORA:

➢Em regra, a autoridade coatora no habeas


corpus será autoridade pública.

➢Cabe habeas corpus contra delegado de polícia;


admite-se também o habeas corpus contra
membro do Ministério Público etc.
➢Embora não seja tão comum, é cabível habeas
corpus contra ato de particular.

➢Ex: “Cabe habeas corpus contra ato de


presbítero que impede fiel de participar de culto
religioso” (TACRimSP, RHC, rel. Melo Freire,
JUTACRIM 67/20165).

➢Ex: O STJ já admitiu habeas corpus contra ato


de síndico no condomínio (RHC 4.120-0/RJ, rel.
Min. Anselmo Santiago, j. 29-4-1996).
➢O habeas corpus contra ato de particulares
é oportuno quando necessário, tal seja o
constrangimento que outro remédio de
pronto não haja, ou em casos em que a
Polícia não possa intervir imediatamente”
(STF, rel. Orosimbo Nonato, RT 231/664).
➢COMPETÊNCIA PARA JULGAR O HABEAS
CORPUS:

➢A competência para julgar habeas corpus será


para a autoridade judiciária que esteja acima da
autoridade coatora.

➢Ex: se a autoridade coatora for delegado ou


particular, caberá habeas corpus para o juiz
(federal ou estadual).

➢Ex: Sendo o juiz a autoridade coatora, caberá


habeas corpus para o Tribunal de Justiça ou
Tribunal Regional Federal (a depender do juiz).
➢Nesse sentido, a jurisprudência: “Somente é
competente para conhecer de habeas corpus
autoridade judiciária de hierarquia superior à
de que provier a violência ou coação, sendo
incompetente a de hierarquia inferior ou,
mesmo, igual” (TJSP, HC, rel. Márcio Bonilha,
RT 555/345).
➢Efeito extensivo do habeas corpus:

➢Havendo corréus, se apenas um deles impetrar


habeas corpus, reconhecendo-se alguma
situação objetiva que aproveite ao corréu,
poderá este ser beneficiado.

➢ Imagine-se que dois réus estão sendo


processados por um mesmo crime: se um dos
corréus impetrar habeas corpus e o Tribunal
reconhecer que o fato é atípico, tal fato
certamente se estenderá ao corréu que não se
insurgiu.
HABEAS DATA
➢Habeas data é um remédio constitucional
destinado a garantir o acesso a dados pessoais
que se encontram em bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter
público.

➢Também pode ser utilizado para a correção de


dados, se incorretos, ou fazer anotações nesses
dados, caso estejam corretos, mas as
informações precisem ser atualizadas.
➢ Negativa ou demora na via administrativa:

➢ É jurisprudência pacífica no STF e no STJ, a


necessidade de negativa na via administrativa
para justificar o ajuizamento do habeas data.

➢ Sendo o habeas data uma ação constitucional,


estará submetida às condições da ação, dentre
elas o interesse de agir.

➢ É necessário, portanto, como condição da ação,


na modalidade interesse de agir, que tenha havido
a resistência na via administrativa para autorizar
o uso do presente remédio.
➢ A Lei n. 9.507, de 12-11-1997, que disciplina o
habeas data, afirma, em seu art. 8º, que o
autor da ação deve instruir a inicial com a
prova da recusa ou da inércia do órgão
administrativo.
➢ Cabimento:

➢ Cabe habeas data para: assegurar o conhecimento


de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados;
garantir o conhecimento dessas informações e a
retificação de dados.

➢ Segundo a Lei n. 9.507/97, também se mostra


admissível o habeas data para se proceder à
anotação de esclarecimentos ou justificativas no
registro de dados.
➢Essa terceira hipótese, criada pela lei, tem
como justificativa a ideia de evitar ou remediar
possíveis humilhações que possa sofrer o
indivíduo em virtude de dados constantes que,
apesar de verdadeiros, seriam insuficientes
para uma correta e ampla análise,
possibilitando uma interpretação dúbia ou
errônea, se não houvesse a oportunidade de
maiores esclarecimentos.
➢ Legitimidade ativa:

➢ Pode ser impetrado por pessoa física ou jurídica,


brasileira ou estrangeira, já que todos são titulares
de direito à informação.

➢ Só pode pleitear informações da pessoa do


impetrante, não será possível impetrá-lo para
obtenção de informações de terceiros.

➢ Exceção feita aos mortos, quando, então, o


herdeiro legítimo ou cônjuge supérstite poderão
impetrar o habeas data (STJ, REsp 781969, rel. Min.
Luiz Fux, j. 8-5-2007).
➢ Habeas data coletivo:

➢ Ex: associação impetra habeas data, representado


seus associados.

➢ Somente se faz possível na representação


processual, e não na substituição processual, já
que as partes devem ser os titulares das
informações requisitadas.
➢ Legitimidade passiva:

➢ Segundo a Constituição Federal, o habeas data


deve ser impetrado contra entidade governamental
ou de caráter público que tenha registro ou banco
de dados sobre a pessoa.

➢ Entidades governamentais compreendem, sem


dúvida, aquelas que compõem o elenco das
integrantes da Administração direta e indireta,
como as autarquias.
➢ A definição de órgão de caráter público, para
fins de habeas data, está no art. 1º, parágrafo
único, da Lei n. 9.507/97.

➢ “Considera-se de caráter público todo registro


ou banco de dados contendo informações que
sejam ou que possam ser transmitidas a
terceiros ou que não sejam de uso privativo do
órgão ou entidade produtora ou depositária das
informações”.

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