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1ª Fase | 36° Exame da OAB

Direito Constitucional

9. Remédios Constitucionais

São garantias ao exercício dos direitos fundamentais. Constam nos incisos do art. 5º da
Constituição, logo, também são consideradas cláusulas pétreas.

9.1 Habeas Corpus

Objeto do habeas corpus: é o ato de agente ou órgão estatal ou que age com atribuição pública
constrangedor da liberdade de locomoção do indivíduo. É o ato inviabilizador do direito de ir, vir
e ficar sem constrangimentos ilícitos ou abusivos. É o direito de acesso, ingresso, saída,
permanência e deslocamento dentro do território nacional.

Não é cabível em face de meros indícios ou boatos, etc. Logo, fala-se que caberá habeas corpus
SEMPRE QUE HOUVER DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

Assim, a finalidade será sempre a proteção do direito constitucional de locomoção da pessoa


humana em face de constrangimento ilegal ou abusivo, garantindo-se ao destinatário da aludida
proteção uma situação de tranquilidade e paz individual e de certeza de que não sofrerá coação
ilegal ou ilegítima na sua liberdade de ir, vir e ficar.

9.1.1 Espécies De Habeas Corpus

1) Preventivo: demonstração de constrangimento ilegal iminente, ou seja, sempre que


estiver ameaçado de sofrer violência ou coação da liberdade. Nessa hipótese, a autoridade
competente expede SALVO-CONDUTO assinado pela autoridade competente.

2) Liberatório ou repressivo: é impetrado para sanar a violência ou coação cometida


ilegal ou abusivamente contra a liberdade ambulatória da pessoa.

Como regra, podemos dizer: o STF entendeu que o exaurimento da instância antecedente
é pressuposto fundamental para legitimar a competência do STF em habeas corpus. Exceções:
casos excepcionais, quando a decisão for teratológica, abusiva, flagrantemente ilegal ou mesmo
contrária à jurisprudência do STF. Então, de ofício, o habeas corpus poderá ser concedido.

Algumas observações:

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• Para os analfabetos: a exigência de assinatura: alguém a seu rogo – preferencialmente


por duas testemunhas.
• Para estrangeiro: não há restrição, mas jurisprudência do STF já manifestou que a petição
deverá ser em português.
• Para pessoa jurídica: peticionar em favor de terceiro.
• Magistrado somente poderá estar no polo ativo, se for paciente.
• Da capacidade postulatória: não há afronta ao art. 133 da CF.

Ato De Autoridade Pública: será impetrado contra o agente ou órgão com poder de decisão
(liberdade de escolha) que ameace, coaja ou viole, ilegal ou abusivamente, o direito de
locomoção do paciente.

Ato de particular constitui crime ou é passível de habeas corpus?

É quase pacífico na doutrina a impetração contra ato particular, dada a redação do texto: “(...)
tanto por abuso de poder como por ilegalidade (...)”.

Assim, a doutrina entende que, quando for difícil ou impossível a intervenção da polícia para
fazer cessar a coação ilegal (p. ex., retenção de paciente em hospital, internação compulsória
por parentes de pessoa não interditada), caberá habeas corpus.

Discussão De Competência (ART. 102, I) E ART. 105, I

Exemplos:

• Autoridade coatora versus juízo competente;


• Delegado – Juiz Criminal;
• Promotor de Justiça – Tribunal de Justiça do Estado;
• Juiz de primeiro grau – Tribunal de segundo grau;
• Desembargador – STJ;
• Juízes do TRF – STJ;
• Ato de órgão colegiado – STF;
• Plenário dos Tribunais Estaduais, Federais – STF.

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9.2 Habeas Data

Previsão no art. 5º, LXXII, da CF, com a seguinte redação:

Lei nº 9.507/1997 – regula o writ e disciplina seu rito processual

Novidade entre os writs, é uma tutela específica dos direitos e garantias fundamentais que visa
assegurar ao cidadão interessado exibição de informações constantes nos registros públicos ou
privados, nos quais estejam incluídos seus dados pessoais, para que tome conhecimento e, se
for o caso, retifique eventuais erros.

Possibilidades: conhecimento e retificação

Direito de acesso aos registros relativos à pessoa do impetrante:

1) Direito de retificação desses registros;

2) Direito de complementação dos registros.

No Brasil, conforme art 5o XXXIII, o acesso à informação é direito de todos e dever do Estado.
Em razão disso, lembra-se a importância da Lei 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à
informação.

O acesso à informação é a regra e o sigilo é a exceção, somente admitida quando for


imprescindível para segurança do Estado e da sociedade.

9.2.1 Habeas data e a Lei de Acesso à Informação 12.527/2011


Em busca de mais transparência nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), os
brasileiros passaram a ter acesso a informações públicas de qualquer órgão público. A Lei de
Acesso a Informações Públicas - LAI (Lei nº 12.527/2011), aprovada em novembro de 2011,
foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 16 de maio de 2012, e passou a valer para
todo o país. Contudo, nem todas as solicitações de informações são liberadas dentro do prazo.

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9.2.2 Habeas Data x Direito de Petição


Essa garantia do Habeas Data não se confunde com o direito de obter certidões (art. 5,
XXXIV, b, CF) ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (art. 5, XXXIII). Havendo
recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou esclarecimento de situações
de interesse pessoal, próprio ou de terceiros), ou informações de terceiros, o remédio apropriado
é o mandado de segurança, e não o habeas data. Se o pedido for para conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, como visto, o remédio será o habeas data.

9.2.3 Legitimidade Ativa - quem pode impetrar com habeas data?

O habeas data poderá ser ajuizado por qualquer pessoa física, brasileira ou estrangeira, bem
como por pessoa jurídica, entes despersonalizados (massa falida, herança jacente, espólio,
sociedade de fato, condomínio). Saliente-se, porém, que a ação é personalíssima, vale dizer,
somente poderá ser impetrada pelo titular das informações ou aqueles que os represente (ex.: o
representante do espólio).

É irrelevante a natureza jurídica da entidade, que poderá ser pública ou privada. O aspecto que
determinará o cabimento da ação será o fato de o banco de dados ser de caráter público, a
exemplo do SPC.

Para o fim de impetrar habeas data, é imprescindível que tenha havido o requerimento
administrativo e a negativa pela autoridade administrativa de atendê-lo, devendo tal
negativa ou omissão da autoridade administrativa vir comprovada na petição inicial (art.
8, parágrafo único, da Lei nº 9.507/1997). O silêncio da autoridade no prazo de 10 dias é
suficiente!
Aspecto importante do cabimento do Habeas Data diz respeito à exigência legal de que a
ação somente poderá ser impetrada em Juízo diante da prévia negativa da autoridade
administrativa de fornecimento (ou de retificação ou de anotação da contestação ou explicação)
das informações solicitadas. Trata-se de uma das exceções constitucionais ao princípio do
controle jurisdicional imediato (art. 5, XXXV), configurando hipótese de instância administrativa
de curso forçado (a outra hipótese de curso forçado está prevista pelo art. 217, par. 1º da CF).
A impetração do Habeas Data não está sujeita a prazo prescricional ou decadencial,
podendo a ação ser proposta a qualquer tempo.

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Necessário conforme art. 9º a notificação da autoridade coatora e pedir a oitiva do Ministério


Público como fiscal da Lei (art. 9º a 12).
No Habeas Data, o sujeito ativo da ação pode ser uma pessoa jurídica, ao contrário do
Habeas Corpus.
STF já considerou possível Habeas Data para a obtenção de informações fiscais.
No Habeas Data, não há necessidade de que o impetrante revele as causas do
requerimento ou demonstre que as informações são imprescindíveis à defesa de eventual direito
seu, pois o direito de acesso lhe é garantido, independentemente de motivação, até porque o
acesso aos próprios dados constitui, na visão da melhor doutrina, uma materialização dos direitos
de personalidade.

Cobrança de valores

Tanto o procedimento administrativo quanto a ação judicial de HD são gratuitos.


Estão vedadas pela Lei quaisquer cobranças de custas ou taxas judiciais dos litigantes,
bem como de quaisquer valores para o atendimento do requerimento administrativo.
Ademais, não há ônus de sucumbência (honorários advocatícios) em Habeas Data.
Para o ajuizamento da ação, porém, exige-se advogado.

9.2.4 Competência

CRITÉRIO: vai depender que quem foi a autoridade que denegou o acesso à informação.
Lembrando que é aquele que detém a informação de CARÁTER PUBLICO, podendo até mesmo
ser órgão ou entidade privada.

Art. 20 da Lei nº 9.507/1997: O julgamento do habeas data compete:

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Originariamente Em grau de recurso

a) ao Supremo Tribunal Federal, contra a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a


atos do Presidente da República, das decisão denegatória for proferida em única
Mesas da Câmara dos Deputados e do instância pelos Tribunais Superiores;
Senado Federal, do Tribunal de Contas da
b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando
União, do Procurador-Geral da República
a decisão for proferida em única instância
e do próprio Supremo Tribunal Federal;
pelos Tribunais Regionais Federais;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra
c) aos Tribunais Regionais Federais,
atos de Ministro de Estado ou do próprio
quando a decisão for proferida por juiz
Tribunal;
federal;
c) aos Tribunais Regionais Federais
d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito
contra atos do próprio Tribunal ou de juiz
Federal e Territórios, conforme
federal;
dispuserem a respectiva Constituição e a
d) a juiz federal, contra ato de autoridade lei que organizar a Justiça do Distrito
federal, excetuados os casos de Federal;
competência dos tribunais federais;
III – mediante recurso extraordinário ao
e) a tribunais estaduais, segundo o Supremo Tribunal Federal, nos casos
disposto na Constituição do Estado; previstos na Constituição.

f) a juiz estadual, nos demais casos.

Importante: há competências descritas na Constituição em relação ao STF e STJ. Nesse


sentido, o art. 102, I, d: competência originária do STF para processar e julgar habeas data contra
atos do Presidente da República; art. 105, I, b: competência originária do STJ para processar e
julgar habeas data contra atos dos Ministros de Estado, dos Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, ou do próprio Tribunal.

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9.3 Mandado De Injunção

Inovação no direito brasileiro, previsto no art. 5º, LXXI, com a seguinte redação: “conceder-
se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade,
à soberania e à cidadania;”.

9.3.1 Fundamento legal

FALTA DE NORMA REGULAMENTADORA + INVIABILIDADE DO EXERCÍCIO

Conforme o art. 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal, com a seguinte redação:

“Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania
e à cidadania;”

Fundamento legal: art. 1º da Lei nº 13.300/2016: Esta Lei disciplina o processo e o


julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo, nos termos do inciso LXXI do art. 5º
da Constituição Federal.

9.3.2 Subsidiariedade

Art. 14 da Lei nº 13.300/2016. Aplicam-se subsidiariamente ao mandado de injunção


as normas do mandado de segurança, disciplinado pela Lei no 12.016, de 7 de agosto
de 2009, e do Código de Processo Civil, instituído pela Lei no 5.869, de 11 de janeiro de
1973, e pela Lei no 13.105, de 16 de março de 2015, observado o disposto em seus arts.
1.045 e 1.046.

9.3.3 Cabimento
Para André Ramos Tavares (Curso de direito constitucional), há condições constitucionais
para o cabimento da ação: 1º) previsão de um direito pela Constituição; 2º) necessidade de uma
regulamentação que torne esse direito exercitável; 3º) falta de norma que implemente tal
regulamentação; 4º) inviabilização referente aos direitos e liberdades constitucionais e

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prerrogativas inerentes à nacionalidade, cidadania e soberania; 5º) nexo de causalidade entre a


omissão e a inviabilização.

9.3.4 Norma de eficácia limitada e o Mandado de Injunção


Entende-se que o mandado de injunção não terá cabimento nas hipóteses de normas
constitucionais de eficácia plena e de eficácia contida, pois ele visa justamente à regulamentação
de normas constitucionais de eficácia limitada (de princípio institutivo e de norma programática),
que, de regra, exigem legislação posterior para sua aplicação.
Ainda, não caberá quando a norma se encontra em fase final do processo legislativo,
aguardando para logo sua promulgação e sanção – a norma está em iminência de ser editada
pelo órgão competente.
Logo, a presente ação é utilizada a suprimir omissões legislativas capazes de obstar
direitos e liberdades dos cidadãos, para os quais o exercício pleno dos direitos nelas
previstos depende necessariamente de edição normativa posterior.

9.3.5 A omissão total ou parcial


Art. 2o da Lei nº 13.300/2016: Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania.
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as
normas editadas pelo órgão legislador competente.

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9.3.6 Legitimidade
Ativo individual Ativo coletivo Passivo

Art. 3º São legitimados Art. 12. O mandado de O Poder, o órgão ou a autoridade


para o mandado de injunção coletivo pode ser com atribuição para editar a norma
injunção, como promovido: regulamentadora.
impetrantes, as pessoas
I - pelo Ministério Público,
naturais ou jurídicas que
se afirmam titulares dos II – por partido político com STF: O STF firmou o entendimento
direitos, das liberdades representação no Congresso de que os particulares não se
ou das prerrogativas Nacional, revestem de legitimidade passiva

referidos no art. 2o adcausam para o processo do MI,


III – por organização sindical,
pois somente ao Poder Público é
dispensada, para tanto,
imputável o dever constitucional de
autorização especial;
produção legislativa.
IV - pela Defensoria Pública,
Dessa forma, só podem ser
Parágrafo único. Os direitos, sujeitos passivos do MI entes
as liberdades e as públicos, não admitindo o STF a
prerrogativas protegidos por formação de litisconsórcio passivo,
mandado de injunção coletivo necessário ou facultativo, entre
são os pertencentes, autoridades públicas e pessoas
indistintamente, a uma privadas.
coletividade indeterminada de
pessoas ou determinada por
grupo, classe ou categoria.

9.3.7 Competência
Sujeito Passivo

Figuram nesse polo os órgãos ou autoridades públicas que têm a obrigação de legislar,
mas estejam omissos quanto à elaboração da norma regulamentadora.

Exemplo: Se a omissão for legislativa federal, o mandado de injunção deverá ser impetrado em
face do Congresso Nacional.

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O STF firmou o entendimento de que os particulares não se revestem de legitimidade


passiva ad causam para o processo do mandado de injunção, pois somente ao Poder Público é
imputável o dever constitucional de produção legislativa.

Dessa forma, só podem ser sujeitos passivos do mandado de injunção entes públicos, não
admitindo o STF a formação de litisconsórcio passivo, necessário ou facultativo, entre
autoridades públicas e pessoas privadas.

9.3.8 Decisão em mandado de injunção


Decisão que reconhece o mandado de injunção:
Art. 8° da Lei nº 13.300/2016: Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a
injunção para:
I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou
das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado
promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no
prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput
quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção
anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.

Ou seja: o poder judiciário está autorizado no caso concreto de decidir como viabilizar o
direito que está impedido de ser exercido pela mora. Isso é chamado de postura concretista.
Extensão dos efeitos da decisão:

Art. 9o da Lei 13.300/2016: A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e


produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora.
§ 1° Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso
for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto
da impetração.
§ 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos casos
análogos por decisão monocrática do relator.
§ 3o O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da
impetração fundada em outros elementos probatórios.

Atenção!

Regra geral: Inter partes

Exceção: poderá ter efeitos ultra partes e erga omnes, em se tratando tanto de casos que
dependem para viabilidade do direitoquanto para casossemelhantes.

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Limites da decisão do mandado de injunção coletivo:

Art. 13 da Lei nº 13.300/2016: No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou
da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º do art.
9º.

Se a decisão se der pelo indeferimento por falta de provas, mediante novos elementos
probatórios, não haverá litispendência. Nesse caso, poder-se-á interpor novamente o Mandado
de Injunção.
Art. 10 da Lei nº 13.300/2016: Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá
ser revista, a pedido de qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes
modificações das circunstâncias de fato ou de direito.
Parágrafo único. A ação de revisão observará, no que couber, o procedimento
estabelecido nesta Lei.

O que ocorre se, após da decisão em Mandado de Injunção, vier edição normativa sobre o
que foi objeto do Mandado de Injunção?

Art. 11 da Lei nº 13.300/2016: A norma regulamentadora superveniente produzirá


efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se
a aplicação da norma editada lhes for mais favorável.

Atenção!

Regra geral é ex nunc, contudo, se for favorávelaoatingidoemdecisão anterior à


produçãonormativa, osefeitospassam a ser ex tunc (retroativos).

9.4 Mandado de Segurança Individual e Coletivo

9.4.1 Fundamento

Art. 5º, da CF: (...)


LXIX - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;

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b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em


funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

Art. 1° da Lei nº 12.016/2009: Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente
ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem
as funções que exerça.

9.4.2 Histórico
Foi retirado da Constituição de 1937, retornando posteriormente à Constituição de 1946.
Admite-se apenas na CRFB de 1988 o mandado de segurança coletivo.
Regulamentação legal: Lei nº 12.016/2009 (individual e coletivo)

9.4.3 Direito líquido e certo para fins de Mandado de Segurança


O direito líquido e certo será aquele apto a realizar-se no momento da impetração, ou seja,
a liquidez e certeza não residem na vontade normativa e sim na materialidade ou existência fática
da situação jurídica. A liquidez é imprescindível para admissibilidade do conhecimento do
mandado de segurança. Por isso, todas as provas que demonstrem a certeza e a liquidez
deverão acompanhar a inicial.
Nem todo o direito é amparado pela via do mandado de segurança: a Constituição exige
que o direito invocado seja líquido e certo.
Para Mendes:

Direito líquido e certo é aquele demonstrado de plano através de prova documental, e sem
incertezas, a respeito dos fatos narrados pelo declarante. É o que se apresenta manifesto
na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da
impetração (MENDES, Gilmar, Curso de Direito Constitucional).

Se a existência do direito for duvidosa, se a sua extensão ainda não estiver delimitada, se
o seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não será cabível o mandado
de segurança. Esse direito incerto, indeterminado, poderá ser defendido por outras vias, mas
não em sede de Mandado de Segurança.
Por essa razão, não há dilação probatória – nem espaço para produção de prova complexa
no mandado de segurança. As provas devem ser pré-constituídas, documentais, levadas aos
autos do processo no momento da impetração.

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Isso significa que a matéria de direito, por mais complexa e difícil que se apresente, pode
ser apreciada em mandado de segurança (STF). A alegação de grande complexidade jurídica
do direito invocado não é motivo para obstar a utilização do MS. A propósito, vide súmula 625
do STF, “Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de
segurança”.

9.4.4 Natureza
O Mandado de Segurança é ação de natureza residual, subsidiária, pois somente é
cabível quando o direito líquido e certo a ser protegido não for amparado por outros remédios
judiciais (habeas corpus ou habeas data).

9.4.5 Cabimento
Ato de qualquer autoridade do poder público ou por particular decorrente de delegação
(comissivo ou omissivo): contudo, a lei excepciona que seja contra os que comportem recurso
administrativo com efeito suspensivo independente de caução;
Ilegalidade ou abuso de poder;
Lesão ou ameaça de lesão;
Contra lei ou ato administrativo se produzirem efeitos concretos e individualizados;
Contra ato que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo (em caso de omissão
da autoridade);
Contra ato judicial de qualquer instância e natureza, desde que ilegal e violador de direito
líquido e certo do impetrante e que não possa ser coibido por recursos comuns (por exemplo
recurso que não enseja efeito suspensivo).
É cabível contra o chamado “ato de autoridade”, entendido como qualquer manifestação ou
omissão do Poder Público ou de seus delegados no desempenho de atribuições públicas.
Logo, de plano, algumas situações podem ser afastadas:

Art. 5o da Lei nº 12.016/2009: Não se concederá mandado de segurança quando se


tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente
de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.

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9.4.6 Legitimidade
Ativo Individual Ativo Coletivo Passivo

Pessoa Art. 21 O mandado de Autoridadepública de qualquer


físicaoujurídica, segurançacoletivopode ser dos poderes da União, dos
órgãopúblicoouunivers impetradoporpartidopolítico Estados, do DF e dos
alidade patrimonial (ex: com representação no Municípios, bemcomo de
condomínio, espólio, Congresso Nacional, suasautarquias,
massafalida). nadefesa de seus interesses fundaçõespúblicas,
legítimosrelativos a empresaspúblicas e
Em se tratandode
seusintegrantesou à sociedades de economiamista;
particular,
finalidadepartidária,
nãohálimitação a b) agente de
oupororganizaçãosindical,
legitimidadeativa. pessoajurídicaprivada, desde
entidade de
que no exercício de atribuições
classeouassociaçãolegalmen
do PoderPúblico
teconstituída e
(sóresponderão se estiverem,
emfuncionamentohá,
pordelegação, no exercício de
pelomenos, 1 (um) ano,
atribuições do PoderPúblico).
emdefesa de direitoslíquidos
e certos da totalidade, ou de
parte, dos Importante:
seusmembrosouassociados,
Aautoridadecoatoraserá o
na forma dos seusestatutos e
agentedelegado (que recebeu
desde que
a atribuição) e não a
pertinentesàssuasfinalidades,
autoridadedelegante (que
dispensada, para tanto,
efetivou a delegação). Esse é o
autorização especial.
teor da Súmula 510 do STF.

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9.4.7 Ministério Público


O Ministério Público sempre atua como parte autônoma, com intuito de zelar pela aplicação
da lei e regularidade do processo. A falta de intimação do Ministério Público pode ser matéria
de nulidade. Agora, poderá ele tutelar em nome próprio ou em nome daqueles pelos quais é
designado a representar e defender segundo a lei.

9.4.8 Prazo
• Prazo para impetrar é decadencial de 120 dias.

Art. 23 da Lei nº 12.016/2009: O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á


decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

9.4.9 Competência
Tem-se que aqui trabalhar por exclusão, ou seja, primeiro busca-se identificar se não é o
caso de competência enumerada na Constituição:

Art. 102, da CF: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da
República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de
Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal
Federal;
(...)
II -julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão

Art. 105 da CF: Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando
denegatória a decisão;

Art. 108 da CF: Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
(...)

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c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz


federal;
(...)
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

Art. 109, da CF: Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
VIII - Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

Exemplos:

• Autoridade estadual, serventuários e dirigentes estaduais ou municipais –


competência da Justiça Estadual (juiz de primeiro grau)
• Autoridade Federal - Justiça Federal
• Juiz de Direito – Tribunal de Justiça
• Federal – Tribunal Regional Federal
• TJ, TRF, STJ OU STF - o pleno ou o órgão especial dos tribunais

Regra geral:

Juiz de 1° grau

1) Autoridades Municipais de qualquer órgão (Executivo, Legislativo, Administração


Indireta), salvo se a Constituição estadual dispuser de maneira diversa, o que é incomum.

2) Autoridades estaduais (Executivo, Legislativo e Judiciário).

Exceções:

1) Quanto a autoridade coatora é Juiz, Mesa da Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas,


Secretários de Estado e Membros do MP, a CF não especifica expressamente, mas geralmente
é o TJ local.

2) Se for juiz de JEC: Câmara Recursal Súmula 376 do STJ.

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Direito Constitucional

Admite-se desistência, independentemente do consentimento do impetrado. Porém,


segundo a jurisprudência do STF, essa faculdade de desistência encontra limite no julgamento
de mérito da causa. Assim, uma vez julgado o mérito do Mandado de Segurança, o demandante
pode até desistir de recurso eventualmente interposto, mas a decisão recorrida será mantida
intacta, pois não lhe será permitido desistir do processo, sobretudo quando a decisão lhe for
desfavorável.

9.4.10 Modalidades
O Mandado de Segurança pode ser repressivo ou preventivo, conforme se destine a
reparar uma ilegalidade ou abuso de poder já praticados ou apenas a afastar uma ameaça de
lesão ao direito líquido e certo do impetrante.

9.4.11 Mandado de Segurança Coletivo


Importante lembrar alguns pontos sobre o mandado de segurança coletivo:

Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:


Art. 21, parágrafo único
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de
origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos
associados ou membros do impetrante.

9.5 Ação Popular

O objeto da ação popular é anular atos comissivos ou omissivos que sejam lesivos ao
patrimônio público e condenar os responsáveis pelo dano a restituir o bem ou indenizar por
perdas e danos.

Na ação popular, pede-se a anulação do ato lesivo e a condenação dos responsáveis ao


pagamento de perdas e danos ou à restituição de bens e valores, conforme a letra da lei.

Assim, é que se pode extrair a própria finalidade da ação, O DIREITO DE FISCALIZAR A


COISA PÚBLICA, um importante instrumento posto à disposição do cidadão para a proteção do
patrimônio da comunidade.

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1ª Fase | 36° Exame da OAB
Direito Constitucional

Ilegalidade e lesividade representam a necessidade de se provar o vício do ato e a lesão


causada ao patrimônio público em sua virtude.

Lesão ao patrimônio público, por último, é exemplificada já na letra da Lei nº 4.717/1965,


regulamentadora da actio popularis, ou ainda à moralidade administrativa, ao meio ambiente, ao
patrimônio histórico e cultural.

Atos com presunção de ilegalidade ou lesividade sujeitos à anulação por meio de ação
popular:

9.5.1 Conceito De Patrimônio Público

O mais amplo possível, abrange coisas corpóreas ou incorpóreas, móveis, ou imóveis,


créditos, direitos, ações que pertençam a qualquer ente administrativo, bem como sua
administração indireta.

“Art. 1º, § 1º: “bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico”.

Obs.: Ter-se-á quase sempre, no polo passivo, a pluralidade de sujeitos, invocando também
aqueles que de alguma forma tenham contribuído para ação ou omissão e, até mesmo, terceiros
beneficiados.

É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente no processo.

9.5.2 Falta De Legitimação

a) Quem teve cancelada a naturalização por sentença transitada em julgado;

b) Quem teve sua nacionalidade cancelada administrativamente;

c) Suspensão dos direitos civis por incapacidade absoluta;

d) Suspensão dos direitos políticos por condenação criminal transitada em julgado;

e) Perda do direito político por recusa de cumprimento de obrigação a todos imposta sem
o cumprimento de prestação alternativa;

f) Suspensão dos direitos políticos por condenação em ato de improbidade.

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Direito Constitucional

9.5.3 Da Procedência ou Improcedência

Procedente a demanda, o juiz invalidará os atos ilegais e condenará os responsáveis e os


seus beneficiários a indenizarem em perdas e danos os prejudicados, não se esquecendo de
que, quando proclamada a responsabilidade da administração pública e tendo ela que arcar com
os prejuízos causados dolosa ou culposamente por seus funcionários, terá ação de regresso
contra o agente causador do dano a ressarcir integralmente erário público.

Já na improcedência do pedido popular, o responsável pela ação só arcará com as custas


processuais e os honorários advocatícios, se for comprovada a sua má-fé ao intentá-la.

9.6 Ação Civil Pública

A ação civil pública, disciplinada pela Lei nº 7347, de 24-7-1985, é um instrumento


processual que reprime ou impede atos lesivos ao meio ambiente, ao consumidor a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e por infrações da ordem
econômica, conforme art. 1º, protegendo assim os interesses difusos da sociedade
(MEIRELLES) .

Note-se que ela não está prevista no rol de garantias de direitos fundamentais do art. 5º,
o que não impede que não o seja por equiparação, dado o conteúdo de direitos que esta visa à
tutela. Para Sarlet , isso ocorre porque é um instrumento destinado à tutela dos NOVOS
DIREITOS.

9.6.1 Requisitos

• Deve ter ocorrido, ou haver a ameaça de ocorrer, dano ou lesão contra o meio ambiente;
• Ao consumidor, ordem econômica, livre concorrência, o patrimônio histórico, o patrimônio
turístico, o patrimônio artístico, o patrimônio paisagístico, o patrimônio estético, bem como
a qualquer outro interesse difuso ou direito coletivo.

a) Trata-se de direitos coletivos;

b) Os sujeitos são indeterminados, mesmo que os direitos sejam individuais;

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Direito Constitucional

c) A forma de propositura é coletiva, pois são direitos de origem comum;

d) O objeto é indivisível.

Ainda que haja outros legitimados, para o Ministério Público é um dever agir quando
estiverem presentes as condições ensejadoras da ação, ao passo que para os demais é uma
faculdade, podendo, inclusive, atuar de ofício, sem necessidade de provocação.

O inquérito é peça instrutória da Ação Civil Pública; contudo, não é indispensável,


significando dizer que ela pode ou não ser precedida do inquérito. Em verdade, torna-se é
dispensável o inquérito civil quando as provas existentes do ato lesivo já sejam, por si só,
capazes de prover a ação civil pública.

Quando a ação for proposta por algum dos outros legitimados, e houver desistência
infundada ou abandono da ação, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa, pois se trata da indisponibilidade do interesse público.

Obs.: FISCAL DA LEI: Importante mencionar que, quando o Ministério Público não figurar como
parte, deverá, obrigatoriamente, intervir como fiscal da lei.

9.6.2 Legitimidade Passiva

Em se tratando de polo passivo, qualquer pessoa que tenha causado lesão ou ameaça de
lesão aos bens jurídicos por ela tutelados pode figurar como ré na ação civil pública, incluindo-
se pessoas físicas ou jurídicas, privadas ou públicas, entes federados e entidades da
administração pública indireta.

Na Ação Civil Pública, não existe foro por prerrogativa de função, sendo a competência
para processo e julgamento dessa ação determinada pelo local onde ocorreu o dano. Salvo
quando o ato lesivo é imputado a pessoa jurídica que tenha foro na Justiça Federal, a Ação Civil
Pública deverá ser ajuizada e julgada originariamente por juízes ordinários estaduais
(ALEXANDRINO).

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