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Direito Tributário II

Aula 1 | 09/08/2022

Competência tributária

● Conceito:

Competência consiste em um rol de atribuições/parcela de poder. A competência é a medida


do poder de tributar, a distribuição ou repartição do poder de tributar. É a forma como cada
país reparte essas competências tributárias, que é matéria de política legislativa de cada
ordenamento.

A CF é analítica, detalhista. O direito tributário é constitucionalizado. A CF cuidou para


fazer a repartição dessas competências, isto por meio de vários dispositivos presentes na
própria CF, prevendo o que compete à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios. A CF fez
isso utilizando a linguagem do direito.

● Limites positivos ao poder de tributar:

Utiliza a linguagem e diz “compete a tal ente tributar tais fatos”. Ex: a CF diz “compete à
União instituir imposto sobre a renda”.

A Escola Hermenêutica “jurisprudência dos conceitos” defende que cabe ao


cientista/operador do direito definir cada um dos conceitos. Se conseguir definir, resolve-se o
problema. Se tal fato se enquadrar nos conceitos, ele será tributário, se não se enquadrar, não
será tributário. O primeiro passo é tentar conceituar, definir o conceito. Baseia-se na ideia
matemática do contido e não contido. Portanto, definindo positivamente, exclui tudo que
está fora.

● Limites negativos ao poder de tributar:

Princípios e imunidades. Segundo a CF, uma parte da renda não pode ser tributada, tais
como a renda dos templos de qualquer culto, dos partidos políticos, das entidades de
educação e assistência social sem fins lucrativos.

Da combinação dos limites negativos e positivos, tem-se a delimitação da competência


tributária.

Como a CF é rígida, segundo Aliomar Baleeiro, isso traz algumas vantagens e desvantagens.

● Vantagens:

a- Preserva a autonomia dos Estados e Municípios, a União não poderá invadir a


competência desses entes. Contudo, problemas são gerados devido a essa limitação.

b- Impede a bitributação, isto é, evita que um mesmo fato gerador seja tributado por mais de
um ente ao mesmo tempo. Muitas vezes, a linguagem do texto pode gerar uma
ambiguidade/dúvida. Por outro lado, a própria CF permite, em alguns casos, a incidência
simultânea de dois ou mais tributos. Logo, impede a bitributação, salvo no caso em que a
própria CF permite.

c- Simplificação dos tributos. É uma tendência problemática, pois o simples pode ser injusto.

● Desvantagem:

a- Engessar o sistema. Tudo está na CF. Deve-se levar tudo para discussão no STF. STF
abarrotado.

b- Retira a liberdade do legislador infraconstitucional. O legislador não poderá mexer muito,


pois está preso às regras da CF.

● Classificação:

1- Comum:

Tantos os Estados, a União, o DF e os Municípios a detém, podendo instituir impostos, taxas


e contribuições de melhoria. São esses os tributos de competência comum (art. 145, CF).

Em relação aos impostos, a CF escolheu fatos econômicos tributáveis e atribuiu a cada ente,
isto é, discriminou os impostos de competência da União, dos Estados, do DF e dos
Municípios.

No caso das taxas, só pode instituir a taxa quem tem atribuição administrativa de exercer
poder de polícia ou de prestar serviço público (art. 80, CTN). Ex: só quem pode cobrar a taxa
de passaporte é a União.

Só pode exigir a contribuição de melhoria quem realiza obra.

2- Privativa/exclusiva:

Trata dos tributos que são só de competência de algum ente.

Impostos de competência da União (art. 153, CF).

Impostos de competência dos Estados e DF (art. 155, CF).

Impostos de competência dos Municípios (art. 156, CF).

Os empréstimos compulsórios só podem ser instituídos pela União (art. 148, CF).

As contribuições especiais são de competência privativa da União, exceto as contribuições


para seguridade social dos servidores públicos dos entes da federação que tem um sistema
de previdência próprio (art. 149, CF).

A contribuição de iluminação pública é de competência do DF e dos Municípios (art. 149-A,


CF).

As contribuições para a seguridade social são de competência da União (art. 195 CF).

3- Residual:

Previsão nos arts. 154, II, e art. 195, § 4º, CF.


Chama-se residual porque trata de tudo aquilo que ainda não foi tributado (“resíduo”).

A CF deu apenas à União a possibilidade de criar outros impostos/contribuições para a


seguridade social além dos já atribuídos pela CF. Se os sete impostos já existentes forem
insuficientes, pode-se criar mais, desde que não tenha a mesma identidade dos outros
impostos já previstos na CF.

4- Extraordinária:

Previsão no art. 154, I, CF.

Denomina-se extraordinária porque todos os outros são de competência ordinária, isto é, já


estão previstos. Logo, deve-se prever uma situação extraordinária, como no caso do imposto
extraordinário de guerra, que surge diante de um acontecimento excepcional e é instituído
somente pela União.

Art. 147, CF:

Se houver um território federal, o território não terá Estado, então, a União poderá instituir
os impostos estaduais, além dos impostos federais. Ainda, se o território federal não for
dividido em Municípios, a União poderá também instituir os impostos municipais.
Entretanto, hoje, não se tem território federal.

Ao DF compete os impostos municipais. Problema nesta redação, note: o art. 155, CF


estabelece os mesmos impostos para os Estados e o DF. O art. 156, CF estabelece apenas os
impostos que competem aos Municípios instituir. O DF é um misto de Estado e Município,
portanto, contempla os impostos estaduais e municipais. Logo, o DF pode instituir seis
impostos: três estaduais e três municipais, isto é, todos os impostos dos arts. 155 e 156, CF.
O DF nunca poderá instituir imposto federal.

Normas gerais de competência tributária:

O art. 146, CF diz que a lei complementar deverá tratar de normas gerais de direito
tributário.

Previsão nos arts. 6º, 7º e 8º, CTN.

Competência tributária é competência legislativa plena, isto é, quem tem a competência


pode legislar sobre aquele tributo, pode tratar de tudo do tributo por meio de lei. Só pode
legislar sobre o tributo quem tem competência. Ex: o Estado não pode legislar sobre o
imposto de renda, pois esse imposto é federal.

Repartição de competência:

É a partilha do poder de tributar. É questão de direito tributário.

Repartição de receitas:

É o momento posterior. É questão de direito financeiro. O que será feito com o produto da
arrecadação.
Ex: o direito tributário vai até o momento que a moedinha “cai dentro” do cofrinho, isto é,
institui o tributo, fiscaliza, cobra e arrecada. Quem fará todo esse processo é quem tem
competência tributária. Depois que a moedinha cai dentro do cofrinho. O que será feito com
essa moedinha já é direito financeiro.

O fato de haver partilha do produto da arrecadação não importa em delegação do poder de


tributar. Partilhar é questão de direito financeiro, a pessoa não estará abrindo mão do poder
de tributar.

As meras atribuições administrativas de fiscalizar, arrecadar e cobrar não importam em


delegação do poder de tributar. Os entes podem colaborar um com o outro. É o chamado
federalismo cooperativo.

Art. 7º, CTN:

A competência tributária é indelegável. Um ente não pode atribuir esse poder dado pela CF
a outro ente. Isso não se confunde com meras funções administrativas. É a competência de
legislar sobre determinado tributo que não pode ser dada a outro ente.

Se um ente realiza atividades administrativas em nome de outro, terá direito também a


privilégios e garantias processuais.

Um ente que pede para outro ente fiscalizar e arrecadar no lugar dele pode revogar essa
atribuição.

A função do Fisco é meramente um ente arrecadador, isto é, ele recebe e repassa. Isso não
importa nem delegação de competência tributária ou de função administrativa. É um mero
agente arrecadador.

Art. 8º, CTN:

Assim como não existe delegação expressa, conforme prevê o art. 7º, não existe delegação
tácita. Ex: Se o Município não instituiu o IPTU, outro ente não pode instituir no seu lugar.

Repartição de receitas tributárias:

Previsão nos arts. 157, 158 e 159, CF.

O nosso sistema constitucional fez uma distribuição complexa de receitas, ora atribuiu
competência tributária à um ente para instituir tributos, ora fixou receitas indiretas, que é a
participação nas receitas de outros entes.

Ex: a União tem competência para instituir, mas a CF já diz quais os percentuais caberão aos
Estados e Municípios. Os Estados devem instituir ICMS, sendo uma parcela desse imposto
destinada aos Municípios.

Outro caso ocorre quando parte da receita forma fundos. A lei complementar vai definir a
repartição desses fundos.
Aula 2 | 16/08/2022

Impostos federais

Previsão: art. 153, CF.

● Impostos aduaneiros, alfandegários ou de comércio exterior:

1- Imposto de importação

Previsão: art. 153, I, CF e arts. 19 a 22, CTN.

Uma das funções da lei complementar tributária, de acordo com o art. 146, CF, é trazer
normas gerais em relação aos impostos discriminados na CF, para dispor sobre fato gerador,
base de cálculo e contribuintes.

Os arts. 19 a 22, CTN prevê quem exerce essa função no imposto de importação.

Em relação a todos os impostos:

● Classificação dos tributos:

a- Natureza fiscal: é a principal função do tributo, que é a função arrecadatória, ou seja, é a


obtenção de recursos, receitas e derivados para financiar a atividade estatal.

b- Natureza extrafiscal: obter resultados que não sejam simplesmente arrecadatórios.

O tributo é capaz de induzir o comportamento do contribuinte, podendo estimular ou


desestimular, incentivar ou desincentivar um comportamento.

Então, quando o tributo tiver como principal função estimular/desestimular um


comportamento será de natureza extrafiscal.

Quando se usa um tributo para uma finalidade diversa da arrecadatória, se fala em


extrafiscalidade.

O imposto de importação tem natureza extrafiscal. A sua principal função é intervir no


comércio exterior e na política cambial. Por meio desse imposto, pode-se estimular a
importação de determinados produtos ou utilizá-lo como uma barreira alfandegária na
importação de produtos.

c- Natureza pessoal: quando a sua hipótese de incidência leva em consideração inúmeros


aspectos subjetivos do contribuinte, tais como renda, se a pessoa tem ou é dependente de
outrem, se paga plano de saúde, faculdade, etc. Ex: imposto de renda.

d- Natureza real: quando gravar a operação, o negócio jurídico, a coisa, o bem,


independentemente de quem seja o sujeito passivo.

Ex: se uma pessoa importar uma caneta qualquer, pagará o mesmo imposto de importação
que qualquer outra pessoa que importar a caneta. Isso ocorre porque, para o Fisco, é
irrelevante quem é o sujeito passivo.

O imposto de importação é de natureza real.


Repetição de indébito (art. 166, CTN). Há tributos que repercutem e os que não repercutem.
Repercutir = repasse jurídico do tributo. O sujeito passivo repassa o ônus do tributo para
outro.

e- Natureza direta: não repercute.

Ex: pagar o IPTU de um imóvel é um tributo direto, não dá para repassar para outrem, pois
a pessoa que paga o IPTU é o contribuinte.

f- Natureza indireta: tributo que repercute.

Ex: o vendedor da caneta paga o ICMS e repassa para o comprador, portanto, é um tributo
indireto.

Para o STJ só existem três impostos indiretos: IPI, ICMS e ISS.

O imposto de importação é considerado tributo direto.

Do ponto de vista econômico, o CTN coloca imposto de importação e de exportação na


categoria dos impostos sobre comércio exterior. Ainda que se trate de matéria de direito
tributário, é um ramo ligado ao direito aduaneiro.

Chama-se a legislação que trata de imposto de importação e exportação de Siscomex -


Sistema do Comércio Exterior. A Receita Federal do Brasil tem a Secex - Secretaria de
Comércio Exterior.

Como o comércio exterior envolve outros países, há uma tendência à harmonização


tributária, que consiste nos países adotarem regras comuns. Uma questão muito
harmonizada é o NCM - Nomenclatura Comum de Mercadorias, isto é, a classificação das
mercadorias de forma compatível entre os países.

Nos tratados internacionais já chamam de Incoterms - Termos de Comércio Internacional.

São inúmeros tratados sobre comércio exterior - mais relevantes no Brasil: GATT (Acordo
Geral de Comércio de Tarifas) e GATS que consiste na troca de comércio por serviço.

Tratado de Assunção do Mercosul, entre outros.

Hipótese de incidência do imposto de importação:

Importação é a entrada do produto estrangeiro no território nacional. A entrada não é o


mero ingresso físico do produto, mas o ingresso com animus de permanência, de integrar a
economia nacional, trata da ideia internamento, isto é, o produto “vem para ficar”.

A legislação não tributa ingressos temporários, como bagagens acompanhadas de turistas,


produtos para exposição de feiras e museus.

Para haver importação é necessário o ingresso definitivo.

Quando é um longo percurso, a lei tem que especificar o aspecto temporal, o momento que
se considera ocorrido o fato gerador. A legislação determina que é na declaração de
importação.
Se aplica a legislação vigente à época da ocorrência do fato gerador. Se nesse meio tempo a
legislação mudar, não pode ser aplicada retroativamente.

A CF ora utiliza a palavra produto ora mercadoria, que não se confunde.

Ex: se uma pessoa vende sua caneta para outra, a caneta não é considerada uma mercadoria.
Porém, no contexto de uma loja de canetas, a caneta é mercadoria.

O que distingue produto e mercadoria é a destinação econômica, é se houve um ato de


comércio. Toda mercadoria é um produto. Produto é gênero. Mercadoria é espécie. A
mercadoria pressupõe um negócio jurídico mercantil.

Qualquer bem que seja importado pode estar sujeito ao imposto de importação,
independente da destinação posterior a que se atribuiu aquele produto.

A legislação trata de produto estrangeiro, isto é, aquele que tem origem em outro país.

Alíquota em imposto de importação:

A CF prevê três exceções a princípios constitucionais:

a- Princípio da legalidade (art. 153, § 1º, CF): a lei prevê o mínimo e o máximo e o poder
executivo pode alterar em determinadas circunstâncias apenas as alíquotas em quatro
hipóteses.

b- Anterioridade e anterioridade nonagesimal (art. 150, § 1º, CF): se o presidente alterar a


alíquota, ela terá vigência imediata, não aguardando o exercício financeiro do ano seguinte
ou os 90 dias.

Art. 20, CTN: a alíquota pode ser ad mensuram/específica, sendo aquela que utiliza unidade
de medida ou ad valorem, a que é um percentual/seção sobre o valor total. Elas são
utilizadas nas cláusulas FOB (livre a bordo) e CIF (custo, seguro e frete). Em geral, no
imposto de importação se utiliza o CIF, pois o valor da operação leva em consideração todos
os custos que ocorreram até chegar na entrada do território nacional.

Art. 21, CTN: não pode-se alterar a base de cálculo de imposto de importação, logo, essa
parte do dispositivo não foi recepcionada, devido a exceção do princípio da legalidade.

Art. 22, CTN: qualquer pessoa pode ser importador, sendo este habitual ou esporádico.
Além de importador, o contribuinte pode ser um arrematante de produtos que vão a leilão.

O tipo de lançamento que está sujeito ao imposto de importação é o lançamento por


declaração, pois é a partir da declaração de importação que o tributo será lançado.

Obs: existe o lançamento de ofício, por declaração ou por homologação.

Em uma única operação de importação, a CF permite que incidam três impostos


concomitantemente: imposto de importação, IPI e o ICMS.

2- Imposto de exportação

Previsão: art. 153, II, CF e arts. 23 a 28, CTN.


É semelhante ao imposto de importação como se fosse a operação inversa. A legislação do
imposto de exportação diz que “a ele se aplica, subsidiariamente, as regras relativas ao
imposto de importação”.

É o segundo imposto de competência federal. Durante um período da história era de


competência estadual, mas desde 1965, voltou a ser tributo federal e permanece até hoje.

O imposto de exportação tem a mesma natureza jurídica do imposto de importação:


extrafiscal, real e direta.

Ao contrário da importação que se dá na entrada, a exportação se dá na saída definitiva, isto


é, se desincorporar da economia nacional (externalizar).

Quando o legislador, no art. 153, II, CF diz “exportação, para o exterior”, ele tem o objetivo
de evitar que se considerem operações internas como exportação, pois, durante muito
tempo, se instituiu exportações entre os estados e a CF para dar uma unidade federativa, que
tem como cunho o livre trânsito de pessoas e bens, evitou tal fato.

Só há exportação para o exterior, não existe exportação interna.

“Produto” tem o mesmo conceito do imposto de importação → produto lato sensu, isto é,
qualquer meio, seja qual for a sua destinação. Não se questiona qual é o destino do produto
exportado.

“Produto nacional” é aquele que tem origem no território nacional.

“Produto nacionalizado” é aquele que, embora tenha origem estrangeira, passou por um
processo de alteração para o território nacional.

Assim como no imposto de importação, o imposto de exportação também é exceção ao


princípio da legalidade, anterioridade e anterioridade nonagesimal (art. 150, § 1º e 153, § 1º,
CF).

Sobre a base de cálculo no imposto de exportação (arts. 24 a 26, CTN): pode-se utilizar a
alíquota específica (unidade de medida), ad valorem (sobre o valor). Neste caso,
normalmente, se utiliza cláusula FOB. Na importação, o mais comum é utilizar cláusula CIF.

Art. 25, CTN: tem entendido que esse dispositivo não foi recepcionado porque trata de
tabelamento de preço.

Art. 26, CTN: somente as alíquotas podem ser alteradas.

Art. 27, CTN: o contribuinte desse imposto pode ser pessoa física, jurídica, um exportador
eventual ou esporádico.

Art. 28, CTN: o princípio da não-afetação trata da vinculação da receita de impostos (art.
167, IV, CF), ou seja, não se pode vincular a receita de um imposto a uma despesa. Logo, esse
dispositivo não foi recepcionado pela CF.

O tipo de lançamento sujeito ao imposto de exportação é o lançamento por declaração.


Declara-se as informações tributadas e o Fisco irá lançar o produto.
Sobre energia elétrica, telecomunicações, combustíveis e derivados de petróleo, e minerais só
podem incidir três impostos: imposto de importação, exportação e ICMS.

Aula 3 | 18/08/2022

3- Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza - IR

Previsão: art. 153, III, CF e arts. 43 a 45, CTN.

Contexto histórico:

É um imposto recente na história da tributação, ainda que alguns autores consigam pontuar
uma ou outro tributo nos períodos medievais que possa se assemelhar ao IR. Surgiu no final
do século XIX como imposto extraordinário de guerra na Inglaterra. No Brasil, surgiu em
1922. É mais significativo nos países desenvolvidos, sendo o principal imposto nesses países,
sobretudo, o imposto de renda da pessoa física.

É de competência da União Federal. Desde a sua criação é um imposto federal. Em muitos


países é também um imposto centralizado. Na redação original, havia o chamado adicional
de IR destinado aos Estados, entretanto, este foi revogado pela EC 3/93. Não é mais de
competência dos Estados o adicional do IR.

Características:

a- Fiscal: sendo sua principal função a arrecadatória.

b- Direto: pois não repercute, não há repasse jurídico desse tributo.

c- Pessoal.

Art. 145, § 1º, CF: para verificar a capacidade econômica do contribuinte e a pessoalidade
dos impostos, deve-se observar o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas.

Art. 150, II, CF:

De acordo com oprincípio da isonomia, não se pode criar distinção independentemente da


determinação dos rendimentos, não se pode ter critério anti-isonômico, pelo tipo de cargo
ocupado, da função exercida ou da renda inserida. Antes da CF/88 era comum se dar
privilégio a determinadas categorias, isentando total ou parcialmente o IR, como os
militares, o que ofende totalmente a CF.

Em toda parte da CF que trata dos agentes públicos, tais como presidente, vice-presidente,
governador, ministro, secretário, quando se fala da remuneração/proventos dessas funções,
cita-se “observado o disposto no art. 150, II, CF” para dizer que todas essas categorias devem
ser tributadas pelo IR. Não pode haver privilégios utilizando-se o IR.

O legislador constituinte, para fazer valer esses princípios da capacidade contributiva e da


isonomia, estabeleceu três princípios constitucionais específicos do IR:

Obs: são específicos porque não estão contidos nos princípios tributários gerais do art. 150,
CF. Esses princípios do art. 153, CF se aplicam apenas ao IR.
Art. 153, § 2º, CF:

a- Generalidade: se refere aos contribuintes, todos estão sujeitos ao IR.

b- Universalidade: se refere a todo tipo de renda, toda a renda está sujeita ao IR, não se pode
discriminar pelo título ou atividade exercida.

c- Progressividade: em geral, a forma de quantificar o tributo, isto é, o aspecto quantitativo


se utiliza da proporcionalidade, por meio da base de cálculo e alíquota. A base de cálculo é a
dimensão econômica do fato gerador, é atribuir um valor ao fato gerador, é a base sobre a
qual se vai calcular o valor. Sobre ela será aplicada a alíquota, que será proporcional.

O que significa ser progressivo?

Ex: Eduarda tem uma renda de R$ 100,00 sobre a qual incide 10% de imposto = paga R$
10,00. Felipe tem uma renda de R$ 1.000,00, incidindo também 10% = paga R$ 100,00.
Katarina tem uma renda de R$ 10.000,00, sobre 10% = paga R$ 1.000,00. Do ponto de vista
absoluto, mil > cem > dez. Logo, Katarina pagou mais do que Felipe que pagou mais do que
Eduarda. Do ponto de vista relativo do peso da carga tributária, quando Eduarda recebeu
R$ 100,00 e pagou R$ 10,00, ela ficou com R$ 90,00. Felipe ficou com R$ 900,00 e Katarina
ficou com R$ 9.000,00. Percebe-se que o peso é maior para Eduarda que ficou apenas com R$
90,00.

Pelo princípio da progressividade, a ideia é que não se aplique a mesma alíquota para todos
os três. Aplicar alíquotas progressivas significa que à medida que a base aumenta, a alíquota
também aumenta, que esse aumento seja diretamente proporcional.

É o contrário da regressividade em que quando aumenta a base de cálculo, diminui a


alíquota.

Esses princípios servem para garantir a justiça fiscal, a capacidade contributiva e a isonomia.

O IR é exceção à anterioridade nonagesimal, ou seja, alterada a legislação do IR, o IR não


aguarda o período de 90 dias para entrar em vigor.

Na redação original da CF, havia uma imunidade específica para as aposentadorias e


pensões, que a EC 20/98 revogou. O STF entendeu que era constitucional essa emenda
revogadora, que ela não ofendia cláusula pétrea alguma.

Art. 151, I e II, CF:

Trata das limitações constitucionais específicas à União: não pode ter tratamento
diferenciado em todo o território nacional. A União não pode criar tributação da renda
diferenciada do território nacional, em razão do princípio da uniformidade.

A renda dos servidores públicos estaduais não pode ser tributada acima da renda dos
servidores públicos federais.

Arts. 157 a 159, CF:


Trata da regra de repartição de receitas do direito financeiro. Parcela do que é arrecadado do
IR é repartida entre os estados e municípios. O IR retido na fonte dos servidores estaduais e
municipais ficará integralmente com os estados e municípios, respectivamente. Significa que
quando o ente vai pagar seus serviços públicos, já desconta o IR. E ao invés de repassar para
a União, o ente já fica com aquele valor.

Um percentual do que é arrecadado vai para os fundos de participação dos estados e


municípios e fundos de desenvolvimento regional. Os fundos federais são formados por
parcela dessa receita.

O fato de uma parcela do tributo ser repartido não altera a competência tributária. O fato de
estados e municípios ficarem com uma parcela desses recursos, não faz com que sejam
competentes para legislar sobre o IR, somente quem legisla sobre o IR é a União.

Art. 146, CF e arts. 43 a 45, CTN: a lei complementar deve trazer normas gerais sobre os
impostos discriminados na CF, sobretudo, fato gerador, base de cálculo e conflitos de
competência.

Além da União instituir e modificar o IR por lei ordinária, ela regulamenta tudo com base no
Regulamento do IR (RIR).

Hipótese de incidência do IR:

Renda: é o acréscimo patrimonial, ou seja, deve-se ter um aumento antes e depois. É uma
relação dinâmica.

Sobre indenização não incide IR porque é um ressarcimento/restabelecimento de uma


relação do status quo ante.

Sobre os lucros cessantes incide IR porque consiste em uma remuneração do trabalho que a
pessoa foi impedida de fazer.

A jurisprudência entende que sobre o dano moral não incide IR porque é uma
recuperação/ressarcimento pelo abalo psíquico/imaterial.

Se a verba for remuneratória está sujeita ao IR; se for indenizatória, não está.

O STJ entendeu que não é a denominação que vai definir se a verba é indenizatória ou
remuneratória. Art. 4º, CTN: a natureza jurídica do tributo independe da denominação. O
fato de a verba ser chamada de indenizatória, não quer dizer que seja realmente
indenizatória.

Por sua vez, o STF entende que para saber se é remuneratório ou indenizatório - está diante
de uma questão constitucional porque o conceito de renda é constitucionalizado. Só cabe o
controle de constitucionalidade se a lei especificar a natureza jurídica da verba. Se a lei não
disser, é matéria de interpretação da lei. Agora, se a lei diz que tal verba é indenizatória e
não é, ofende a CF.

Art. 43, CTN: define o fato gerador do IR. São proventos de qualquer natureza os acréscimos
patrimoniais não incluídos na renda.
O STF entende que esse conceito é constitucionalizado. Renda é acréscimo patrimonial das
hipóteses de renda e o que não for renda, mas corresponder a um acréscimo patrimonial será
proventos de qualquer natureza. Proventos de qualquer natureza é um conceito residual.

Disponibilidade = dispor é dar qualquer destinação a ela. Essa disponibilidade pode ser
econômica que é o “dinheiro no bolso”, podendo ser utilizado a qualquer momento. A
disponibilidade jurídica, quando se tem um título, um direito realizável ou não. A
disponibilidade financeira é uma mera disponibilidade de receitas, podendo ser real ou
irreal.

Produto do capital: o capital é a maior fonte de riquezas e desigualdade. Capital consiste em


bens e direitos que vão, por si só, acrescer patrimonialmente, tais como dividendos,
aluguéis.

Produto do trabalho: não decorre necessariamente de uma relação de emprego, como


salário, mas pode ser de uma remuneração por prestação de serviços ou honorários que a
pessoa recebe como profissional liberal. Todo produto de trabalho que a pessoa recebe pelo
seu esforço intelectual, será produto de trabalho.

A combinação de ambos, isto é, do capital + trabalho = lucro.

Em suma, quais são os proventos de qualquer natureza? Qualquer um que não foi citado,
como aposentadoria e pensões, se forem tributados, o prêmio do BBB ou da loteria.

Aula 4 | 23/08/2022

Em que momento se considera ocorrido o fato gerador, no IR?

O IR é um imposto complexo porque não se exaure rapidamente/instantaneamente como os


outros. Ex: para comprar uma caneta, a pessoa dá o valor em dinheiro, extinguindo a
obrigação instantaneamente.

O IR não é um fato estático, mas exige uma análise dinâmica, com um período de tempo.
Fora existem várias fontes de rendas diferentes. Do ponto de vista negocial, são
incomunicáveis entre si, mas no seu conjunto formam o fato gerador. Ex: uma pessoa pode
receber fonte de renda sendo professor de uma universidade, procurador do Estado,
advogado, e de aplicações e aluguéis. Cada uma dessas é uma fonte de renda diferente, em
que a pessoa recebe a renda em momentos distintos.

O IR tem fato gerador anual, indo de 1º de janeiro até 31 de dezembro. Só se considera


ocorrido em 31 de dezembro.

Alguns autores chamam o fato gerador de “complexivo”, para distinguir do fato gerador
complexo, que é aquele que depende de uma sucessão de fatos, como a importação.

O fato gerador do IR é uma reunião/agrupamento de fatos.


A nossa renda é tributada por regimes diferentes a depender da natureza jurídica. A nossa
legislação prevê formas diferentes de tributar a renda, assim como uma série de
antecipações.

Ao longo do ano, (ano calendário ou ano base - que o ano em que se aufere a renda) a renda
vai ser tributada. E apenas no ano seguinte (exercício) é que a pessoa física fará uma
declaração anual de ajustes ou declaração de IR da pessoa física e colocará todas as
informações juntas para que possa ser verificada a sua renda.

Podem existir faixas de alíquotas diferentes. Como se tem fontes diferentes e incomunicáveis
de renda, pode uma fonte tributar com uma alíquota menor e outra maior. Ex: meu salário
de professora é R$ 2.000,00, a alíquota menor é de 15%. Quando juntar as outras fontes de
renda, deveria-se tributar toda a renda com uma alíquota maior. Uma renda foi
subtributada.

Algumas despesas são dedutíveis, isto é, pode-se deduzir da base de cálculo, como saúde,
educação. Coloca-se na declaração de IR para diminuir o imposto a pagar.

Pode-se ter IR a ser restituído: a fonte vem sendo tributada ao longo do ano, quando faz-se o
ajuste, com as deduções, pode ter superado o valor a se pagar, tendo direito a um dinheiro
de volta.

Para a pessoa física, o regime de recolhimento é de caixa. E os das deduções são de


competência, só se pode deduzir quando se faz declaração. Não se pode deduzir ao longo do
ano (vetada as antecipações e permitido o ajuste, isto é, coloca-se todas as rendas e deduções
juntas para ajustar as diferenças).

Aspecto espacial:

A regra geral para os tributos é o da territorialidade, cada ente tributante só pode tributar os
fatos geradores ocorridos dentro do seu território. Ex: município de Recife só tributa sobre
fatos geradores ocorridos no município de Recife. A exceção é a extraterritorialidade.

No caso do IR, a CF autorizou a extraterritorialidade ao prever o princípio da


universalidade, por isso que no IR se fala em tributação em bases universais ou globais, ou
seja, se você está sujeito à lei brasileira, terá sua renda tributada em qualquer lugar do
planeta. O Brasil autoriza a União a tributar pelo IR universalmente.

Ex: Letícia é residente do Brasil e presta serviço advocatício em NY, tem um imóvel em
Londres, recebendo os aluguéis de lá, ainda, pega o excedente da sua renda e aplica em uma
conta na Suíça. O Brasil poderá tributar toda a renda de Letícia, mesmo aquelas auferidas
fora do Brasil, porque a tributação se dá em bases universais.

Como eu vou saber se Letícia está ou não sujeita à legislação brasileira? O direito
internacional privado trata desses conflitos de regimes jurídicos diferentes.
Ex: Júlia se casa com um francês, vai morar na Alemanha e depois na Itália. O marido
francês morreu. O direito à sucessão se dará mediante o regime de qual país? O direito
internacional irá decidir qual é o regime jurídico aplicável.

Cada ordenamento jurídico tem suas regras para determinar quando se aplica sua jurisdição
ou não. Aqui, no direito tributário internacional, a questão é qual é o elemento de conexão?
Elemento de conexão: é o que lhe conecta àquele regime jurídico. Cada ordenamento
jurídico elege um elemento de conexão. O mais comum é a residência. Nos EUA é a
nacionalidade.

Nesses casos, para impedir a dupla tributação, os países celebram tratados, estabelecendo
em que circunstâncias o país pode ou não tributar. Os países acabam abrindo mão do seu
poder de tributar e determinando naquela situação quem será competente.

Existe um costume/reciprocidade entre os países, em que um não tributa determinadas


rendas para evitar a dupla tributação. Os casos são: diplomatas que moram fora, estudantes
de bolsa no exterior, esportistas que competem no estrangeiro, viajar para tratamento
médico. Esses tratados prevêem regras de isenção ou de crédito.

Art. 43, §§ 1º e 2º, CTN:

Obs: O § 1º do art. 43, CTN foi alterado por lei complementar. O CTN é uma lei ordinária e
foi alterado por lei complementar porque a CF diz que essa matéria é reservada à lei
complementar (tratar de novas regras sobre os impostos).

Receita e renda são conceitos distintos. Toda renda é receita, mas nem toda receita é renda.
Para que uma receita seja renda é preciso que tenha acréscimo patrimonial. Receita é
qualquer ingresso patrimonial, correspondendo a um acréscimo ou não.

Foram introduzidos esses §§ 1º e 2º para disciplinar a tributação em bases universais. Prevê a


renda auferida nos tributos, para permitir que a legislação possa disciplinar essa renda ao
tributo e definir o momento e condições em que essa renda será tributada.

Aspecto quantitativo:

Quanto à pessoa física: A base de cálculo do IRPF é o rendimento bruto, isto é, todo produto
do capital, do trabalho ou da combinação de ambos e dos proventos de qualquer natureza,
todos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda, exceto os
rendimentos não-tributáveis e isentos, e admitidas algumas deduções previstas em lei.

Tributação do IRPF:

A depender da natureza jurídica da renda pode ter formas diferentes de tributação:

Rendimentos:

a- Não-tributáveis: são os rendimentos que não constituem fato gerador, aqueles que têm
natureza indenizatória. O contribuinte vai declarar em campo próprio, mas não são
tributados. Sobre ele não incide IR. Ex: você é beneficiário do seguro de vida de alguém que
morre. Se você recebe, não constitui fato gerador do IR.
b- Isentos: a isenção está na seara do exercício da competência tributária. O ente recebe a
competência e por lei escolhe que fatos tributar e que fatos não tributar. Por lei, ele pode
abrir mão, isto é, isentar determinados estados e sujeitos. Ex: por determinação legal, não
incide IR sobre bolsa de estágio/estudos, pois são isentas.

Os seguintes são todos tributados, entretanto, por regimes diferentes a depender da forma
de percepção:

1- Imposto de renda retido na fonte (IRRF): é um recolhimento mensal para o trabalho


assalariado no qual o empregador retém ou desconta a parcela do IR quando do pagamento
do salário. Ex: sou empregado da Unicap, recebo meu salário, no meu contracheque vem
IRRF, significa que a Católica descontou a parcela do IR do meu salário.

Os rendimentos que são pagos por pessoa física são retidos na fonte e essas retenções são
consideradas antecipações, porque mês a mês tem-se desconto no IR. Ex: no exercício
seguinte, isto é, em 2003, quando eu for fazer a declaração de 2022, eu levarei todos esses
pagamentos para a minha declaração. Quando for final de fevereiro de 2022, a Unicap vai
me fornecer um documento, obrigado por lei, chamado de informe de rendimento, no qual
dirá tudo que me pagou e tudo que ela recolheu de IR, para eu poder declarar.

2- Recolhimento mensal complementar: antes chamado de mensalão e consiste na


possibilidade do sujeito passivo, verificando que vai haver diferença para o exercício
financeiro seguinte, busca se antecipar já recolhendo. Ex: supondo que meu salário na
Unicap é R$ 2.000,00, eu teria uma alíquota menor de IR. Porém, eu sei que no próximo ano,
quando eu juntar tudo, vai haver imposto a pagar porque a alíquota deveria ter sido maior.
Se eu quiser eu posso emitir uma guia avulsa e ir pagando mês a mês, não precisando
esperar o exercício financeiro seguinte. Quando chegar no exercício financeiro seguinte eu só
posso dividir em poucas parcelas, diferentemente da possibilidade de eu pagar em 12
parcelas como demonstrado anteriormente. Quem aluga um imóvel não está retendo na
fonte, mas sim adiantando o pagamento mês a mês.

3- Recolhimento mensal obrigatório (Carnê-leão): é o caso de recebimento de renda no


exterior. Ex: Letícia presta serviço no exterior e todo mês recebe o dinheiro no Brasil. Ela será
obrigada a pagar mês a mês, não podendo esperar o exercício financeiro seguinte.

Essas três modalidades são consideradas antecipações e todas vão para a declaração anual
(DAA/DIRPF). Ainda, na declaração anual, se traz uma declaração de bens.

Os rendimentos a seguir não vão para a declaração anual (DAA):

1- Tributação exclusiva na fonte: se aplica ao décimo terceiro salário, isto é, você só recebe
uma única vez por ano, não sendo tributado igual ao salário e não vai para ajuste (não vai
para a conta geral). Também são tributados exclusivamente na fonte os rendimentos e
aplicações financeiras. As instituições financeiras recolhem o IR sobre os juros pagos.
Quando a pessoa resgatar uma aplicação financeira, informará o IR.
2- Tributação definitiva: é o caso da tributação do ganho de capital. Ela ocorre uma única vez
e tem regras próprias. Ex: Uma pessoa vende um imóvel, o ganho de capital é a diferença
positiva entre o valor de alienação e o de aquisição. Comprei por 500, vendi por R$ 1.000,00,
esses 500 reais serão tributados de forma definitiva, terá uma regra específica para tributar,
não indo para ajuste (antigo lucro imobiliário). Outro exemplo é o prêmio de loteria.

Obs: ajuste é a declaração anual que você faz todo ano, informando tudo que eu paguei,
tudo que eu tenho para deduzir, se eu tenho IR a pagar ou a ser restituído. Todos que
auferem renda tem que fazer.

A legislação do IR permite a declaração em conjunto de cônjuges/companheiros. A ideia é de


proteção da família. Ocorre quando geralmente só um tem renda ou a renda é expressiva e o
outro não tem renda. Aquele que tem uma renda menor, entra como dependente do outro.
Fazer em conjunto ou separado é uma opção do próprio contribuinte.

A legislação ainda dá a opção entre fazer a declaração pelo modelo completo ou


simplificado. No modelo completo, ela vai pegar toda a sua renda e vai ver todas as suas
reduções, fazendo o ajuste. No modelo simplificado, você não precisa apresentar
comprovantes de dedução, vai vir com desconto padrão. Eu posso optar por não juntar
comprovantes ou guardar os comprovantes para se precisar comprovar as minhas deduções,
eu pago um desconto fixo. A pessoa vai optar pelo mais vantajoso. Se a pessoa não conseguir
simplificar terá que pagar multa, se tiver optado por este modelo.

Princípio da progressividade: para base de cálculo maiores, tem-se alíquotas maiores.

A alíquota para pessoa física é de 27,50%. Isso são alíquotas nominais, isto é, alíquota que eu
vou aplicar sobre a minha renda que depois vai para o ajuste. A alíquota efetiva, que é
aquela que realmente eu vou pagar, será menor do que 27,50%, devido às deduções. A maior
parte da população brasileira está na faixa da isenção (de 0,00 até 1.903,98).
Lucros e dividendos no Brasil são isentos. Ex: se eu sou um grande empresário e recebo
lucros e dividendos, essa parcela não é tributada. É tributada na pessoa jurídica, mas não na
pessoa física.

Ex: Quem recebe até 1.903,98 é isento, se Letícia recebe esse valor e o seu chefe diz que vai
dar a ela 1 centavo de aumento, é melhor ela ganhar o aumento mesmo indo para a próxima
faixa da alíquota, isso porque essas faixas se aplicam a todas as vidas indistintamente. Os
7,50% só vão tributar o que superar 1.903,98 e assim por diante. Cada pedaço da minha
renda é tributado por faixas diferentes para preservar cada uma dessas faixas, evitando uma
distorção.

Alíquota da faixa sobre minha renda = dedução da mesma faixa. O desconto corresponde a
diminuição progressiva das outras faixas.

Ainda, tem-se um valor mensal por dependente de 189,59.

Aula 5 | 25/08/2022

Formas de apuração do IRPJ:

Receita operacional: eu presto determinados serviços, comercializo determinadas


mercadorias.

Receita não operacional: é a que decorre de uma atividade que não faz parte da apuração.

Lucro real: é um conceito de direito tributário. Ex: IRPJ.

Lucro líquido: apurado, de acordo com a lei comercial, será ajustado. Ex: IRPF.

Para que se chegue nisso, a apuração pelo lucro real, exige rigor formal, isto é, que sejam
respeitadas todas as regras contábeis, para que se tenha documentalmente a comprovação
de todas as receitas e despesas.

O lucro real depende de uma apuração custosa, isso devido a existência de um


departamento contábil para apurar/contabilizar adequadamente todas as despesas e receitas.

Algumas pessoas jurídicas estão obrigadas a apurar o IR. A legislação prevê que as empresas
que auferem mais de 78 milhões de reais mensais, são obrigadas a apurar o lucro real.
Ainda, determinadas atividades também são obrigadas, como bancos, caixas econômicas,
agronegócio. Para quem não é obrigado a apurar o lucro real, facultativamente poderá
fazê-lo.

É com base no lucro líquido que se apura o lucro real.

Obtido o lucro líquido, de toda a operação contábil, vai-se para a operação tributária:
começa-se pelo ajuste, que depende de três operações:

1- Adições: são despesas indedutíveis, se adiciona, não podem ser deduzidas da base de
cálculo do IR da pessoa jurídica. É o caso de alguns tributos e multas. Ex: de nada adiantaria
eu sofrer uma multa, se depois eu deduzir essa despesa da base de cálculo do IR.
2- Exclusões: são os valores não tributados pelo IR, como indenizações, que devem ser
excluídas da tributação.

3- Compensações: a pessoa jurídica pode ter lucro ou prejuízo. Ela terá prejuízo quando a
despesa for maior do que a receita. Para a pessoa física é irrelevante gastar mais do que
receber. Para a pessoa jurídica que apura pelo lucro real, toda despesa, tirando as adições e
exclusões são dedutíveis da base de cálculo. Só se deduz da base de cálculo da pessoa física
alguns tipos de despesas limitadas, como saúde, educação, previdência.

No caso das compensações, a legislação permite que sejam compensados os prejuízos fiscais
dos períodos anteriores. Ex: em um exercício eu tive prejuízo, no outro eu tive lucro, eu vou
compensar o prejuízo do exercício anterior do lucro deste ano. A legislação limita a
utilização desse prejuízo em 30%. Em cada exercício eu só posso compensar 30% do prejuízo
acumulado. O STF entendeu que essa limitação é constitucional.

O IR da pessoa jurídica no lucro real têm apuração anual, porém, a legislação prevê
antecipações mensais com base na estimativa lucro, que pode ocorrer ou não, porque eu só
tenho como apurar o lucro no final do exercício de lucro. No final haverá o ajuste para
verificar se aquelas estimativas se concretizaram ou não. Então, mensalmente se recolhe,
antecipadamente, o IRPJ no lucro real, por estimativa.

No lucro real, a alíquota do IRPJ é de 15% + um adicional de 10% sobre a parcela do lucro
que exceder o montante 20 mil reais por mês. Ex: a empresa apurou 100 mil. 15% sobre 100
mil = 15 mil. 100 mil ultrapassa 80 mil em relação a 20 mil. A legislação diz que terá um
adicional de 10% sobre o que ultrapassar 20 mil. 10% sobre 80 mil = 8 mil. Logo, o valor que
a empresa vai pagar no mês de IR é 23 mil. Se a empresa não ultrapassa 20 mil, não tem
adicional.

Lucro presumido: tem uma base de cálculo substitutiva ao lucro real. O ideal é que todas as
pessoas jurídicas apurassem pelo lucro real, porque eu ia ter análise de todas as receitas e
despesas, entretanto, isso é custoso. O lucro presumido significa que se vai ter uma
presunção da margem de lucro. Ao invés de apurar toda a receita menos a despesa, pelo
lucro presumido, a lei vai estabelecer um coeficiente presumido do lucro com base na receita
bruta da empresa.

Ex: empresa que apura 100 mil reais no mês, nem todo esses 100 mil da receita da empresa é
lucro, ela tem despesa. A lei vai determinar que para esse tipo de atividade se presume que
20% da receita é a margem de lucro. Da empresa que aufere 100 mil reais, esse valor sobre
20% = 20 mil. 20 mil reais será o lucro e sobre esse lucro, vai-se aplicar uma alíquota do IR do
lucro presumido, gerando um imposto.

A legislação do IR do lucro presumido vai determinar esses coeficientes por tipo de


atividade, porque a margem de lucro de cada atividade é diferente.

A lei também aplica alíquotas diferentes. Em geral é 20%, porém, em alguns casos chega até
32%. Diferente do lucro real, no lucro presumido tem-se alíquotas diferentes.
A empresa só pode fazer uma opção por ano, então, no começo de cada ano poderá optar
entre lucro real ou presumido e só poderá trocar no exercício financeiro seguinte.

Lucro arbitrado: não é uma opção do sujeito passivo. Embora seja também uma base de
cálculo substitutiva ao lucro real, ela é uma forma de apuração excepcional, quando houver
omissões, fraudes, vícios, descumprimentos de obrigações acessórias. Ex: a pessoa jurídica
do lucro real ou presumido vai ser fiscalizada e se não apurou/contabilizou as receitas e
despesas, o lucro será arbitrado. A lei vai prever a forma como o Fisco irá substituir/sanar as
omissões. Além de imposto, vai ser aplicada a penalidade (multa) do descumprimento de
obrigação principal e acessória, por isso não é uma opção do sujeito passivo.

Aspecto pessoal:

O sujeito ativo é a União. Será a União ainda que haja distribuição do produto da
arrecadação. Ex: o IR retido na fonte dos estados e municípios dos seus servidores, ficam
respectivamente nos estados e municípios, o que não significa que eles passam a ser sujeito
ativo do tributo. A competência é federal.

Sujeito passivo (art. 45, CTN): é o titular da disponibilidade econômica ou jurídica. Aquele
que aufere a renda será o contribuinte. Para a pessoa física será o residente/domiciliado no
país ou o residente/domiciliado no exterior que aufira renda no Brasil. Para a pessoa jurídica,
será a PJ domiciliada no país, embora em bases universais.

Parágrafo único: há possibilidade de atribuição de responsabilidade tributária à fonte


pagadora. Ex: parte da apuração do IRPF se dá por meio do IR retido na fonte. A fonte
pagadora é obrigada a descontar o IR dos valores por ela pagos. O empregador retém na
fonte o IR quando vai pagar os salários dos empregados.

Lançamento que está sujeito no IR: por homologação. O sujeito passivo não se limita a
declarar, ele antecipa o pagamento do imposto e aguarda a homologação pelo Fisco. O
contribuinte declara, emite a guia, paga e aguarda a confirmação do Fisco ou não.

4- Imposto sobre produtos industrializados - IPI

Previsão: art. 153, IV, CF e arts. 46 a 51, CTN.

Foi introduzido no nosso ordenamento com a EC 18/65 (a emenda mais estruturante do


nosso sistema tributário).

Substituiu o antigo imposto sobre o consumo. O IPI, no Brasil, é um imposto federal sobre o
consumo (além do ICMS, estadual - e o ISS, municipal).

Características:

A ideia inicial era ser um imposto extrafiscal, porque em outros países existe um tipo de
imposto chamado Excise, que é um imposto extraordinário para alguns itens da economia
que precisam de uma intervenção econômica, como bebidas, cigarros, combustíveis, energia
elétrica. Porém, não é o caso do Brasil. O IPI tributa todos os tributos industrializados, de
modo que é um imposto sobre o consumo e, portanto, tem muito mais natureza fiscal do que
extrafiscal. Será eventualmente extrafiscal.

Real, vai gravar o produto industrializado independentemente de quem o adquirir


(características subjetivas). Ex: qualquer um que comprar um computador, vai pagar o
mesmo IPI.

Indireto, porque comporta o fenômeno jurídico da repercussão.

O IPI é plurifásico, isto é, incide em toda a cadeia de produção, quantas forem as etapas de
produção, vai incidir esse imposto. Alguns chamam esse imposto de circulatório, porque
tem-se várias etapas/operações e em cada uma delas, vai incidir o IPI.

Matriz constitucional:

Art. 153, § 3º, II, CF:

O imposto incide sobre operações, não incide sobre o produto em si, mas depende de uma
operação, isto é, de um negócio jurídico translativo da posse ou propriedade.

Produto: é um conceito mais amplo de mercadoria, sendo irrelevante o destino mercantil.


Não é qualquer produto, e sim o industrializado, sendo necessário que aquele negócio
jurídico envolva um produto que passou por um processo fabril.

Princípios constitucionais:

Exceção ao princípio da legalidade (art. 153, § 1º, CF).

Exceção à anterioridade (art. 150, § 1º, CF): alterado o IPI, ele não aguarda o exercício
financeiro seguinte.

Não é exceção à anterioridade nonagesimal, assim, tendo que aguardar 90 dias para entrar
em vigor se instituir ou aumentar o tributo.

O IPI tem dois princípios constitucionais específicos:

1- Princípio da seletividade:

Art. 153, § 3º, I, CF:

Seletivo: é a possibilidade de selecionar, escolher, diferenciar. Pode-se aplicar alíquotas


diferentes para produtos diferentes. Quanto mais se diferencia, dificulta o pagamento do
produto. Ex: sonho de valsa, antes era chocolate e agora é biscoito.

Qual é o critério que permite selecionar? A essencialidade. Quem define o que é essencial é
a lei (legislador). O judiciário pode se meter? O STF entendeu que determinados produtos
são essenciais e não podem ter alíquotas maiores, como os combustíveis, energia elétrica,
telecomunicações, cesta básica. Aqui, se aplica o princípio da capacidade contributiva
(exonera-se o mais pobre).

“Será seletivo”. No ICMS, a lei diz “poderá ser seletivo”. O STF decidiu que no IPI é
obrigatório e no ICMS é facultativo.
Não se confunde com progressividade. No IR, a progressividade significa que aumentar o
IR, aumenta-se a alíquota. A seletividade não tem a ver com base de cálculo, mas trata de
alíquotas diferentes para produtos diferentes, a depender do seu grau de essencialidade.
Quanto mais essencial, menor a alíquota, quanto menos essencial, maior a alíquota. A
alíquota é inversamente proporcional à essencialidade do produto. É uma autorização para a
discriminação entre produtos, sobre o critério da essencialidade.

A doutrina chama de seletividade proibitiva. Durante muito tempo se tributava mais


bebidas, cigarros, jogos, porque moralmente não eram/são artigos aceitáveis. Nos casos de
não proibir, a ideia é se utilizar do tributo para desestimular o consumo (caso de
extrafiscalidade).

Aula 6 | 30/08/2022

Art. 153, § 3º, II, CF:

2- Princípio da não-cumulatividade:

O IPI é um imposto plurifásico, porque como a produção ocorre em cadeias produtivas, o IPI
vai incidir em todas as fases em que houver produção. Com isso, pode acontecer um efeito
adverso, ou seja, eu tributo uma fase, já na segunda, quando eu tributar a operação, se estará
tributando algo que já foi tributado pela fase anterior. Em cada etapa, se eu tributar o todo,
eu tributo parcela do que já foi tributado antes.

Ex: Gustavo produz um insumo por R$ 100,00, no qual incide uma alíquota de 10%, assim,
ele vende seu produto para Raquel por R$ 110,00 - sendo um tributo indireto, isto é, que será
repassado para Raquel. Raquel vai transformar o produto e o venderá para Clara por R$
220,00, sabendo que Raquel também paga 10% de IPI. Clara vende para Felipe por R$ 330,00,
levando em consideração a transformação realizada no produto e a incidência de 10% de IPI
sobre o produto. Felipe é o consumidor final. Dos R$ 330,00 está englobado os dez reais
pagos por Gustavo, os vinte reais que Raquel pagou e os trinta que Clara pagou, resultando
em um total de R$ 60,00 do IPI.

O problema desse caso é que a alíquota de Raquel incidiu não só nos noventa reais que ela
acrescentou ao produto, mas também aos duzentos reais e os 10% de IPI, isto é, incidiu sobre
a operação toda. Clara agregou ao produto oitenta reais, mas mesmo assim, ela tributou os
trezentos + trinta reais. Ela tributou o que veio de Gustavo e de Raquel, gerando um efeito
cascata (tributando e re-tributando a mesma coisa).

Nesses casos, alguns países adotam o chamado imposto sobre valor agregado (IVA) que é
aquele que incide só sobre a parcela de agregação.

Ex: Gustavo produziu R$ 100,00, assim, pagará imposto apenas sobre os cem e, caso venda,
pagará R$ 110,00. Raquel agregou noventa, não justificando que ela pague imposto sobre
duzentos, ela só pagaria os noventa, e se vendesse o produto, pagaria + 10% sobre os
noventa, ou seja, R$ 99,00. Clara agregou oitenta, só sendo tributado esse valor agregado. Na
venda, pagaria R$ 88,00, levando em conta os 10% de IPI sobre os oitenta reais. O IPI a pagar
seria de R$ 27,00 e não sessenta. Com isso se tributaria menos, porque só se tributa sobre
aquilo que agregou.

O Brasil não adota o sistema do IPVA, mas sim o princípio da não-cumulatividade.

De acordo com a lei, na técnica da não-cumulatividade, o imposto vai incidir em todas as


fases, sobre o todo. No entanto, o imposto pago na etapa anterior, que é repassado para a
etapa posterior, dá um direito ao crédito a quem adquiriu.

Portanto, Raquel, quando adquiriu o produto de Gustavo por R$ 110,00, terá um crédito de
dez reais que é o IPI em sua aquisição. Quando Raquel for vender para Clara, Clara terá
direito a crédito de vinte reais. Quando Clara for vender para Felipe, por trinta, vai abater os
vinte, pagando somente dez. Então, em cada etapa se compensa o valor do crédito da etapa
anterior.

Ex: Quando Gustavo vende para Raquel. Aqui, Gustavo não tem nada para compensar
porque é a primeira etapa (IPIg = IPI1) / Raquel vende para Clara. Raquel tem um crédito do
que comprou de Gustavo (IPIr = IPI2 - IPI1) / Clara vende para Felipe e tem um crédito do
que comprou de Raquel (IPIc = IPI3 - IPI2). Em cada fase se compensa o IPI pago na fase
anterior. Cada entrada (adquirir) dá um direito de crédito. Cada saída (venda) gera débito.
O valor a pagar é o débito menos o crédito. Em cada fase se compensa os créditos.

Se não houvesse a não-cumulatividade, o imposto seria cumulativo, tendo imposto sobre


imposto.

Se na cadeia, em uma das fases não incidir o IPI, devido a algum benefício, como imunidade,
isenção.

Ex: Se Raquel fosse isenta, o crédito adquirido na fase anterior, não existiria. Assim como
Clara não teria o crédito adquirido ao comprar o produto de Raquel.

No ICMS a não-cumulatividade é restrita. No IPI, a não-cumulatividade é plena.

Quando se quebra a cadeia, rompe-se a não-cumulatividade, começando do zero. O que veio


anteriormente ao benefício (como isenção, imunidade) não é relevante. Então, muitas vezes,
numa cadeia econômica, uma isenção, não incidência ou imunidade pode não surtir o efeito
esperado porque se por um lado eu não tributo aquela fase, pode-se ter uma oneração
indesejada.

Art. 49, CTN:

O imposto a pagar será o saldo positivo entre minhas saídas e minhas entradas, isto é, total
do débito - o total do crédito.

Se eu tiver mais crédito do que débito, ou seja, quando eu compro mais do que devia, o
saldo se mantém nos períodos subsequentes.
No IPI não é tudo que gera direito a crédito. A jurisprudência entende que o que se
compensa é o crédito físico e não financeiro. Se fosse o crédito financeiro, eu compensaria
todos os meus custos.

No crédito físico, eu só compenso aquilo que integra o processo produtivo ou o que é nele
consumido. Ex: compensa-se matéria-prima, materiais intermediários, de embalagem. Tudo
que integra fisicamente o produto, é compensado.

Tem coisas que integram a produção, mas são consumidas no processo produtivo, isso gera
judicialização também para saber o que integra e o que é consumido.

O STF na ADIn 939 decidiu que a não-cumulatividade não é cláusula pétrea, significa que é
uma técnica constitucional e uma opção do legislador. O legislador constituinte pode
emendar a CF e modificar essa técnica se entender como conveniente.

A compensação é uma decorrência da própria CF, não se trata da compensação extintiva,


decorrente do indébito. Se houver pagamento indevido do tributo e a lei permitir, pode-se
compensar o que foi pago indevidamente. A compensação do indébito depende da lei
estabelecer os critérios e autorizar, para que eu possa compensar o que eu paguei
indevidamente. Se a lei não prevê, eu não posso compensar, porque o CTN só autoriza a
compensação na forma da lei.

Por outro lado, a compensação a que estamos tratando agora é auto aplicável, isto é, não
depende de previsão da lei. No direito tributário, a compensação não é automática. Isso não
se confunde com a não-cumulatividade do IPI, em que a relação de crédito e débito é uma
regra constitucional, não é uma relação de indébito, apenas uma técnica constitucional.
Logo, aqui, a lei não pode impedir a compensação, se não será inconstitucional.

Art. 153, § 3º, III, CF:

A expressão “não incidirá” significa que se está diante de uma imunidade específica em
relação ao IPI que é na exportação de produtos industrializados. Como é uma imunidade
que independe de quem vai exportar, é objetiva, não em razão do objeto, mas da
circunstância objetiva.

Ex: Se eu vendo uma caneta para Letícia, que está no Brasil, incide IPI. Contudo, se eu vendo
a mesma caneta para Felipe que está no exterior, é imune, não é uma imunidade objetiva em
razão do objeto, mas sim da exportação (circunstância). Um mesmo produto pode ser
tributado ou não a depender da operação, que neste caso é a exportação.

É uma imunidade técnica, pois não visa realizar qualquer valor objetivo constitucional, mas
o legislador entende que é interessante para o país estimular exportações, a fim de trazer
divisas internacionais para o país, melhorar as contas públicas, aumentar as reservas
cambiais de moeda estrangeira valorizada.

O STF decidiu que a operação que é imune é apenas a de exportação, pois o IPI se dá em
cadeia, então, as fases anteriores à exportação não são imunes. Ex: Gustavo vendeu para
Raquel, tributou; Raquel vendeu para Clara, tributou, Clara vendeu para Felipe, tributou;
Felipe exportou, essa fase dele não é tributada. O que é imune é apenas a última etapa, a de
exportação. As demais fases não são imunes, segundo entendimento do STF.

Art. 153, § 3º, IV, CF:

Bem de capital é aquele bem de produção, como máquina, instrumento, aparelho.

A ideia é estimular a produção, não tributando o meio para tributar o fim. É uma norma
programática, porque ela dá uma diretriz, mas não tem o conteúdo completo. “Na forma da
lei” significa que é uma norma constitucional de eficácia limitada, enquanto não tiver uma
lei prevendo, não será aplicada. Nesses casos, se permite que se tenha alíquota reduzida ou
até que não sejam tributados os bens de capital destinados à produção.

Fato gerador do IPI:

Art. 46, CTN:

Prevê três fatos geradores possíveis:

I - Desembaraço aduaneiro.

Obs: podem incidir simultaneamente e concomitantemente o imposto de importação, IPI e


ICMS sobre esse fato gerador. A legislação permite que em um mesmo fato incidam esses
três impostos. Isso ocorre porque se não iria causar um desequilíbrio com o produto
industrializado brasileiro. Se fosse produzido no território, pagaria IPI, se fosse importado,
não pagaria. Então, quando importasse o produto industrializado, ele provavelmente
chegaria com vantagem em relação ao nosso produto. O STF entendeu como constitucional.

II - Nas saídas do estabelecimento industrial ou a ele equiparado: A saída não é física, mas
sim uma operação, negócio jurídico translativo da posse ou da propriedade do produto.

Ex: Pode-se ter uma empresa que retira seus produtos e leva para um galpão. Neste caso,
houve a saída física, mas não houve saída do ponto de vista jurídico.

A jurisprudência é pacífica no sentido de que não existe fato gerador do IPI da saída do
produto de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte. Ex: saída da
cana-de-açúcar de uma usina que vai para o engenho. Aqui, o IPI não incide porque só
houve a saída física.

Pode-se ter saída jurídica sem ter saída física. Ex: Raquel tem uma papelaria. Gustavo
produz canetas. Raquel comprou mil canetas para revender em 2022. A papelaria não cabe
mil canetas, mas ela quis garantir que Gustavo não vendesse para terceiros. Já incide IPI.
Todo mês Gustavo manda 100 canetas para Raquel. Então, a saída física pode ser depois.

III - Arrematação: quando o bem é levado a leilão público, ele é arrematado, isto é, a
arrematação é a aquisição do leilão. Leva-se a leilão por abandono do produto ou pela pena
de perdimento, ou seja, o sujeito passivo descumpriu a regra tributária e perdeu a
propriedade do produto.
Parágrafo único: Industrializado é aquele produto que passou por transformação,
aperfeiçoamento e recondicionamento.

Geralmente há conflito com o ISS porque esse imposto incide sobre o serviço. Ex: Eduarda
compra uma blusa (produto industrializado - incide IPI). Porém, ela resolve pedir que uma
costureira faça uma blusa por encomenda. Neste caso, tem-se uma prestação de serviço.

A jurisprudência usa o critério da customização:

Se não for customizado: incide o IPI.

Se for customizado: incide o ISS.

Aspecto temporal: instantâneo (no momento em que se realiza o fato gerador).

Aspecto quantitativo: a CF em relação às alíquotas fala do princípio da seletividade, da


exceção à legalidade, isto é, o IPI pode ter suas alíquotas alteradas por ato do poder
executivo, exceção à anterioridade (não precisa esperar o exercício financeiro seguinte,
apenas os 90 dias para entrar em vigor, porque não é exceção à anterioridade nonagesimal).

A CF tem uma tabela do IPI que prevê todos os produtos e suas alíquotas. Para enquadrar, se
usa o critério da especificidade: vai-se do mais específico até o mais geral. Não tendo uma
regra específica, aplica-se a regra geral. Ex: o sonho de valsa que antes era chocolate, agora é
biscoito porque a alíquota é menor (problemática ao se distinguir demais).

Sobre a base de cálculo:

Art. 47, CTN:

I - No desembaraço aduaneiro, a base de cálculo será cumulativamente: a base de cálculo do


imposto de importação que é o valor do produto com todos os custos até chegar no território
nacional + próprio imposto de importação da base de cálculo + taxas alfandegárias + custos
cambiais.

II - No caso de saída do estabelecimento industrial é o valor da operação (valor negociado).


Se não houver valor negociado, vai ser arbitrado pelo valor de mercado do produto.

III - Na arrematação será o valor pelo qual o bem leiloado será arrematado.

Aspecto pessoal:

Sujeito ativo: União Federal.

Sujeito passivo: art. 51, CTN. Qualquer um que participar do negócio jurídico, a lei considera
como contribuinte.

Modalidade de lançamento do IPI: por homologação. O próprio sujeito ativo que vai trazer
seus débitos e créditos, declarar e pagar. O Fisco vai observar se a declaração e o pagamento
estão corretos ou não e lançar a diferença.

5- Imposto sobre operações financeiras - IOF

Previsão: art. 153, V, CF e arts. 63 a 67, CTN.


Competência privativa da União Federal.

Foi introduzido no ordenamento jurídico com a EC 18/65 que foi a maior das reformas
tributárias. Veio em substituição ao antigo imposto do selo.

Art. 153, V, CF: ainda que as operações sejam financeiras, não há imposto sobre toda e
qualquer operação financeira. Alguns autores entendem que o IOF não é um imposto sobre
operações financeiras, mas quatro impostos em um inciso: imposto sobre operações de
crédito, de câmbio, de seguro e de títulos ou valores mobiliários. A doutrina e a
jurisprudência que fala em IOF.

Características: extrafiscal, sendo sua principal função de a União intervir na política


monetária e cambial (intervenção no domínio econômico); real, grava a operação,
independentemente de características subjetivas do sujeito passivo; direto, não comporta o
fenômeno jurídico da repercussão, não existe previsão legal ou constitucional de repasse
desse tributo.

Exceção aos princípios constitucionais: legalidade (art. 153, § 1º, CF), o poder executivo
pode alterar as alíquotas do IOF, nos limites e condições previstas em lei. Anterioridade e
anterioridade nonagesimal (art. 150, § 1º, CF), alterado o IOF, não precisa aguardar o
exercício financeiro seguinte e nem os 90 dias para entrar em vigor.

Obs: É comum em operações de crédito. A pessoa começa a viajar para o exterior,


aumenta-se a alíquota do IOF do cartão de crédito internacional, com a intenção de
desestimular o gasto no exterior.

Aula 7 | 01/09/2022

Ouro:

Antigamente existia um imposto único sobre minerais e o ouro, em toda a nossa história, é
um importante mineral. Até meados do século XX, o lastro da moeda era o ouro, até que a
moeda passou a ser fiduciária. O ouro recorrentemente ainda é utilizado como um artigo
financeiro, em razão do seu valor intrínseco, podendo-se negociar com o ouro.

O ouro pode ser: (a) artigo financeiro ou cambial ou (b) mercadoria, como uma joia. O
mesmo ouro pode ter operações distintas.

O legislador estabeleceu uma regra para quando o ouro for considerado:

a- Artigo financeiro cambial, estará sujeito ao IOF, uma única vez.

b- Mercadoria, sujeito ao ICMS, em várias etapas.

Essas hipóteses são excludentes entre si, ou incide o IOF ou o ICMS. Se incide o IOF, o ouro é
imune ao ICMS, vice-versa.

Art. 153, § 5º, CF:


Se for IOF, a incidência será apenas na origem. Tem-se uma incidência monofásica, isto é,
incide uma única vez. Aqui, a alíquota mínima é de 1%, podendo ser maior.

No caso do ICMS, ele se assemelha ao IPI, tendo uma incidência plurifásica, ou seja, em
todas as fases da cadeia econômica. O ouro será considerado um bem de luxo, fazendo com
que a alíquota aumente.

Ex: Se uma pessoa que está noiva comprar uma aliança, é mercadoria, pagando ICMS com
alíquota alta, sendo melhor comprar uma barra de ouro, colocá-la no banco (alíquota
mínima de 1%, monofásico).

Neste caso, haverá a repartição do produto da arrecadação: 30% para o estado de origem ou
DF e 70% para o município de origem, não sobrando nada para a União. Isso é um sinal do
caráter extrafiscal do IOF. A União está preocupada em legislar sobre as operações
financeiras, quer regular o mercado financeiro, mesmo não ficando com nada, continua
regulando.

Matriz constitucional do IOF:

A CF não fala em imposto sobre operações financeiras, mas sim em imposto sobre operações
de crédito, de câmbio, seguro e títulos ou valores mobiliários.

Art. 63, CTN:

I- Operação de crédito: se dá por meio de contrato de empréstimo.

Tem-se dois tipos de empréstimo no CC: (a) comodato e (b) mútuo, diferenciando-os pela
fungibilidade. Infungível = insubstituível e fungível = pode-se trocar o bem por outro de
mesma quantidade e qualidade, como no caso de dinheiro. O mútuo feneratício é a troca de
moeda.

Na operação de crédito se tem a troca de moeda atual por moeda futura + juros, porque
quem empresta quer uma vantagem que é justamente esse juros (remuneração pelo
empréstimo).

Fato gerador: Ocorrer na entrega total ou parcial do montante a ser acordado ou quando é
posto à disposição.

II- Operação de câmbio é a troca de moeda nacional por estrangeira, vice-versa, ganhando
uma comissão.

Fato gerador: Ocorre na entrega. Sempre o valor vai corresponder à moeda nacional, porque
o tributo só pode ser pago em real.

III- Contrato de seguro: é o contrato de garantia, garante o ressarcimento por um


possível/provável dano. No contrato estão previstas situações (sinistro) pelo qual se terá
direito ao pagamento (prêmio).

Fato gerador: Vai ser a emissão da apólice ou documento equivalente, ou também no


momento do recebimento do prêmio, pode-se escolher qualquer desses momentos.
IV- Não são títulos os valores imobiliários, mas sim mobiliários. Todos os títulos de crédito,
quando emitidos, são documentos representativos de direitos e podem ser tributados na
emissão, na transmissão, no pagamento ou no resgate.

Parágrafo único: ou incide o imposto sobre a operação de crédito ou sobre a operação de


título de valores mobiliários, porque são representativos de crédito e não podem incidir
duas vezes, ou incide um ou o outro, são excludentes entre si.

Aspecto quantitativo do IOF:

1- Sobre as alíquotas, a CF só prevê que são exceções à legalidade, anterioridade e


anterioridade nonagesimal. Não compete ao CTN tratar sobre as alíquotas.

2- Sobre a base de cálculo:

Art. 64, CTN:

I- A base de cálculo na operação de crédito será o montante de obrigação, compreendendo


tanto o principal, quanto os juros. A base de cálculo é o valor total contratado.

II- Só pode ser em moeda nacional, não se pode ter tributo pago em moeda estrangeira.

III- O prêmio é o valor ajustado, mesmo não sendo usado ou usando apenas parte dele,
pode-se fazer um contrato.

IV- Pode ser qualquer desses momentos: emissão, transmissão, pagamento. A base de
cálculo poderá ser valor nominal, o ágio, o preço, se transmitido no valor do mercado,
cotação em bolsa se o título for negociado em bolsa, pagamento do resgate. A lei poderá
escolher qualquer um.

Aspecto pessoal:

Sujeito ativo: União.

Sujeito passivo: Art. 66, CTN, qualquer das partes, credor, devedor, sacador, emitente.

Houve uma discussão se tratando-se de impostos sobre operações financeiras,


necessariamente uma das partes tinha que ser uma instituição financeira. O STF entende que
não há essa necessidade. Geralmente, quando se tem uma instituição financeira, a lei aplica a
responsabilidade tributária. Ex: Quando a pessoa aplica recursos em banco, recolhe-se IOF.
Ao realizar uma compra no exterior com o cartão de crédito, o IOF também será recolhido.

Art. 67, CTN: Esse dispositivo não foi recepcionado pela CF, devido ao princípio da
não-afetação ou da não-vinculação da receita de impostos a fundos, órgãos ou despesa (art.
167, IV, CF).

Lançamento: por homologação. É o próprio sujeito passivo que verifica a ocorrência do fato
gerador, se identifica como sujeito passivo, interpreta a legislação, quantifica o tributo,
declara e antecipa o pagamento. O Fisco vai homologar ou não o pagamento.

6- Imposto sobre a propriedade territorial rural - ITR

Previsão: art 153, VI, CF e arts. 29 a 31, CTN.


Falar de ITR é falar sobre a política agrária do país. A CF atribui competência da tributação
da propriedade rural à União em conjunto à legislação de política agrária.

Características:

a- Extrafiscal: é um instrumento de atuação da União na política agrária na distribuição de


terras.

b- Real: grava a propriedade do bem imóvel, independentemente dos aspectos subjetivos do


contribuinte.

c- Direto: não comporta o fenômeno jurídico da repercussão, é o próprio contribuinte que


arca com o ônus do tributo.

Regras constitucionais:

Art. 153, § 4º, CF:

I- Princípio da progressividade: possibilidade de ter alíquotas maiores, majoradas.

Obs: esse princípio também se aplica ao IR, em que se tem uma tabela progressiva, pela qual
a medida que a base de cálculo aumenta, tem-se alíquotas maiores. O objetivo da
progressividade no IR é tornar mais efetivo o princípio da capacidade contributiva.

Aqui, o critério e a finalidade são distintos do IR: o ITR trata do grau de produtividade da
terra, atrelado a política agrária. Quer fazer com que as pessoas produzam para
desestimular a propriedade improdutiva (extrafiscalidade). A progressividade do ITR é
quanto mais produtiva, menor a alíquota, vice-versa, então, a alíquota aumenta à medida em
que não se dá um destino econômico à propriedade. Se define o destino econômico por meio
da aplicação do princípio da função social da propriedade rural, que é produzir
matéria-prima, alimentos e insumos.

Art. 184, CF: existe a possibilidade de desapropriação de imóvel improdutivo para a reforma
agrária. Pode tanto aplicar as alíquotas progressivas para estimular a pessoa a produzir
quanto desapropriar. Na desapropriação para a reforma agrária, a pessoa será indenizada
por título da dívida pública, resgatáveis por vários anos (prestações anuais).

II- O “não incidirá” está tratando da imunidade das pequenas glebas rurais (constitucional).
O critério constitucional é que o proprietário tem que explorar aquela terra, só tendo essa
propriedade. É uma proteção ao pequeno agricultor (capacidade contributiva). Quem vai
definir o que é uma pequena gleba rural é a lei, trata de uma norma constitucional de
eficácia contida.

III- Pode ser fiscalizado, cobrado, arrecadado pelos municípios. Ex: se não a União teria que
ter fiscal e órgãos da receita federal em cada lugar do Brasil para cobrar o ITR.

Art. 158, II, CF: Regra de repartição de receita. Os municípios têm 50% da arrecadação do
ITR que a União arrecada dos imóveis rurais daquele município. Se o município optar por
fiscalizar, cobrar e arrecadar, ficará com 100% da arrecadação e a União 0%. A União não
está preocupada com a fiscalidade desse tributo (tributo extrafiscal). A preocupação da
União é legislar sobre a questão fundiária e agrária do país.

Ainda, segundo o art. 153, § 4º, III, CF, não pode haver renúncia de receita nem legislar sobre
o tributo, porque só quem legisla é a União, ainda que o município fique com 100% da
arrecadação do tributo.

Matriz constitucional:

A CF diz que o ITR vai incidir sobre propriedade territorial rural. Primeiro imposto que vai
incidir sobre a propriedade (fato jurídico) e não sobre um negócio/ato jurídico.

Propriedade: art. 1.228, CC, trata do direito de usar, gozar, dispor e reaver a coisa (é um
direito real).

Fato gerador: art. 29, CTN, dá um conceito amplo de propriedade com outros direitos reais
(domínio útil e posse). Existe uma discussão se o legislador estaria tratando de propriedade
lato sensu para incluir outros direitos reais. A jurisprudência tem admitido propriedade
como domínio útil e posse.

“Imóvel por natureza”: considera apenas a extensão territorial (terra nua ou solo nu), não
inclui as acessões, isto é, o que se incorpora ou não ao solo, como plantações, árvores, fontes
d’água, prédios, construções, máquinas. O ITR não tributa aquilo que foi acrescido ao solo.

Rural: é o que não é urbano. O CTN não define o que é rural, apenas o que é urbano, de
modo que rural é um conceito residual. Tudo que não for definido pelo município como
urbano, será rural (art. 32, CTN). Não utilizou a destinação econômica para conceituar o que
é rural.

Aspecto quantitativo:

O CTN não trata das alíquotas.

A CF não estabeleceu nenhuma exceção aos princípios constitucionais.

Base de cálculo: art. 30, CTN, será o valor fundiário, que é o valor da terra nua, do solo nu,
sem construções, pastagens, plantações ou ações humanas. A lei estabelece critérios para
avaliar a terra (valor jurídico).

Aspectos subjetivos:

Art. 31, CTN: Se considerar propriedade lato sensu, pode se considerar também o titular do
domínio útil o possuidor além do proprietário, entretanto, se a propriedade for considerada
além do lato sensu, só poderá ser proprietário o sujeito passivo.

Lançamento: por homologação, é preciso o proprietário realizar toda a demarcação da área


(satélite), declarar e antecipar o pagamento.
Aula 8 | 06/09/2022

7- Imposto sobre grandes fortunas - IGF

Previsão: art. 153, VII, CF.

A primeira vez que temos a proposição desse imposto é na CF. Ainda, é um imposto
privativo da União Federal.

A ideia de imposto sobre grandes fortunas surgiu na França em 1982, sendo denominado
como imposto de solidariedade sobre a fortuna (impôt de solidarité sur la fortune), no qual
muitos apelidaram esse imposto de Robin Hood. Esse imposto já foi instituído e revogado
mais de uma vez na França.

Mesmo com 30 anos de promulgação da CF, esse imposto ainda não foi atribuído. Assim,
dos 7 impostos federais ou dos 13 impostos de competência ordinária previstos na CF, ele é
o único que não foi instituído ainda que haja várias propostas para sua instituição.

Algumas estimativas trazem que o IGF no Brasil equivaleria a recriação da CPMF por conta
da sua arrecadação. No mesmo sentido, muitos alegam que esse imposto deveria ser
instituído para enfrentar a epidemia do coronavírus. No entanto, o IGF não está nas exceções
do princípio da anterioridade e nem da anterioridade nonagesimal e nem da legalidade.
Desse modo, mesmo que fosse instituído, ele só seria arrecadado a partir do próximo
exercício financeiro seguinte.

Diferentemente de todos os outros impostos, ele exige a sua instituição por meio de lei
complementar. Mesmo havendo proposta para excluir essa exigência, como na EC 42/2003,
mas esse requisito não conseguiu ser excluído.

Argumentos:

Argumentos contrários ao IGF Contra-argumentos:

Fuga de capitais; A fuga de capitais é limitada e


questionável; exit taxes.

Problemas na definição de grande fortuna. Definição de grandes fortunas é matéria de


opção legislativa.

Problema de avaliação patrimonial. Avaliação patrimonial é também um


problema em outros tributos.
Evasão e elisão fiscal (voluntary tax) Evasão e elisão fiscal é um problema em
outros tributos.

Baixa arrecadação (ineficiência econômica); Valor simbólico do tributo.

Desestímulo à poupança. Alíquotas não são altas o suficiente para


desestimular a acumulação de riquezas.

Aula 9 | 08/09/2022

Impostos Estaduais

1- Imposto sobre transmissão causa mortis e doação - ITCMD

Competência:

Os impostos estaduais são de competência privativa do Estado e do Distrito Federal. Logo,


não pode ser instituído pela União e pelo Município, exceto nas hipóteses do art. 147, CF,
que fala sobre os territórios federais.

Assim, há três impostos de competência do Estado e do Distrito Federal:

Art. 155, CF. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de


transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;

III - propriedade de veículos automotores.

Com a EC 3/1993, tem-se a revogação do antigo adicional de até 5% do imposto de renda que
é devido à União. Então, o adicional do imposto de renda que era devido aos Estados, foi
revogado por essa emenda e não existe mais no texto constitucional.

Características:

Fiscal, ou seja, a principal função desse imposto é arrecadar recursos para financiar a
máquina estatal.

Direto, isto é, aquele que arca com ônus financeiro é o próprio contribuinte.

Real na medida em que se grava o patrimônio que está sendo transmitido


independentemente de quem seja o transmissor ou o receptor.
De acordo com a classificação econômica utilizada pelo CTN, classifica-se como um imposto
sobre o patrimônio, enquanto para alguns seria um imposto sobre as transmissões de
patrimônio.

A CF traz ainda uma regra de competência, ou seja, além do art. 155, I, CF, existe um
parágrafo § 1º que cuida apenas desse imposto, trazendo regras importantes de
competência, perceba:

§ 1º O imposto previsto no inciso I:

I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado da situação do


bem, ou ao Distrito Federal;

II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se processar o


inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal;

III - terá a competência para sua instituição regulada por lei complementar:

a) se o doador tiver domicílio ou residência no exterior;

b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário


processado no exterior;

IV - terá suas alíquotas máximas fixadas pelo Senado Federal.

Percebe-se que o inciso I traz uma regra importante porque sempre que se ouvir falar de
bem imóvel, sempre a competência para tributar a transmissão daquele bem será do Estado
ou do Distrito Federal onde estiver localizado aquele bem imóvel. Assim, é irrelevante para
bens imóveis onde está domiciliado o de cujus, o herdeiro, o doador ou donatário.

Em contrapartida, quando se fala de bens móveis e demais bens e direitos que não sejam
imóveis competirá ao Estado se a transmissão se der causa mortis, se dará onde se processar
o inventário ou o arrolamento. Não obstante, caso seja hipótese de doação, será o local do
domicílio do doador.

Ex: imagina-se que alguém que mora em Alagoas, tem um filho que mora em Pernambuco e
outro no Rio Grande do Norte. Assim, com a morte dessa pessoa, deixa-se bens móveis e
imóveis. Desse modo, imagina-se que o estado que foi processado o inventário foi em
Pernambuco. Então, se ele deixou bens imóveis é irrelevante, devendo saber a localização de
cada bem imóvel, ou seja, o tributo se dará dependendo do estado que se encontra o bem
imóvel. Em relação aos demais bens, deve-se saber onde se processou o inventário ou
arrolamento. Portanto, as duas regras podem ser combinadas.

Ainda, há uma terceira hipótese em relação às transmissões que ocorrem no exterior, ou seja,
quando o de cujus ou doador/donatário são residentes no país, mas a transmissão se deu no
exterior. No entanto, para essa terceira hipótese, faz-se necessário a existência de uma lei
complementar que estabeleça que caberá ao estado ou Distrito Federal caberá aquele
imposto. Não obstante, no plano do direito tributário internacional, os países celebram
tratados para determinar a qual país caberá a locação de competência tributária nessas
hipóteses, sob pena de se ter uma dupla tributação sobre aquelas transmissões.

Por fim, há uma regra de extrema importância no inciso IV. Sabe-se que a resolução do
Senado Federal é uma das fontes do direito tributário, tendo fonte normativa estabelecida
pela Constituição Federal no plano da legalidade. Assim, em alguns casos é possível
condicionar a competência legislativa dos entes subnacionais. Desse modo, o Senado Federal
poderá condicionar um teto, uma alíquota máxima para o ITCMD, ou seja, os Estados
podem determinar suas alíquotas livremente, respeitando o máximo estabelecido em
resolução do Senado Federal.

Matriz constitucional/base econômica:

Fato gerador:

Art. 155, CF. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;

Percebe-se que o núcleo/verbo desse artigo fala em transmissão. Logo, o núcleo de incidência
será a transmissão diante da mudança de titularidade de um bem ou direito. Assim, isso se
dá pela via causa mortis ou pela doação. Desse modo, a saída da esfera patrimonial de um
indivíduo para outro, é quando ocorre a transmissão.

Ainda, só ocorre a incidência do ITCMD ou ICD se esse ato ocorre mediante gratuidade
porque se for oneroso, somente para bens imóveis, falaremos do ITBI e não pais do
ITCM/ICD. Portanto, o ITCMD não incide nas transmissões onerosas.

Além disso, o dispositivo fala de qualquer bem, seja ele móvel ou imóveis, como também se
fala de direitos, abarcando títulos, créditos, ações, valores, quotas e direitos a eles relativos.
Portanto, percebe-se que o ITCMD tem uma abrangência maior do que o ITBI, que só
incidirá sobre bens imóveis e direitos reais a ele relativos, exceto de garantia.

Há dois casos de incidência desse imposto na Constituição Federal:

1- Causa mortis:

Por se tratar de um instituto do direito privado e do Código Civil, como determina os arts.
109 e 110, CTN.

Art. 109, CTN. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da
definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para
definição dos respectivos efeitos tributários.

Art. 110, CTN. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela
Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
Assim, de acordo com o Código Civil, só ocorre a sucessão no momento de abertura da
sucessão, isto é, nada data do óbito como dispõe o art. 1784, CC.

Art. 1.784, CC. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos
e testamentários.

Portanto, o fato gerador ocorre no instante em que a morte é declarada, conforme consta do
atestado de óbito, mesmo que se o inventário seja processado por um longo tempo. Isso é
importante para saber qual legislação será aplicável. Não obstante, a jurisprudência
estabelece:

Súmula 112, STF. O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao
tempo da abertura da sucessão.

Desse modo, percebe-se que a partilha tem natureza meramente declaratória e não atributiva
da transmissão da propriedade. Então, deve-se verificar quando houve o óbito e a
alíquota/legislação que será aplicável no momento do óbito, mesmo que a alíquota seja
alterada ao longo do processamento do inventário.

Quando há renúncia da cota/quinhão de herança ou legado, depende diretamente do tipo de


renúncia que se está falando. Assim, não incidirá o ICD quando a herança for meramente
abdicativa, ou seja, o herdeiro abre mão da sua parte em favor do monte. Então, para o
direito civil é como se jamais tivesse existido a transmissão. Portanto, os outros herdeiros é
que irão partilhar. No entanto, se a herança for translativa, isto é, em favor de alguém, para o
código civil, há uma doação. Isso significa que a pessoa recebe e doa a alguém ou aos
herdeiros. Assim, há dois fatos geradores: (1) fato gerador da transmissão causa mortis; (2)
doação para alguém/herdeiro ou a um terceiro que não fez parte da sucessão.

Súmula 331, STF. É legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis no


inventário por morte presumida.

Assim, haverá incidência de ICD quando estivermos perante uma morte presumida, isto é,
quando houver algum fato que há poucas chances de sobrevida, mas não é localizado o
corpo.

2- Doação:

Art. 538, CC. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere
do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.

A doação também é a transmissão gratuita no qual o doador transfere o patrimônio de


forma gratuita para o donatário. Logo, incide-se sobre a partilha inter vivos e por isso, o
legislador constituinte uniu o imposto de transmissão causa mortis e doação, pois é possível
a transmissão tanto em vida (adiantamento legítimo) como em morte.

O direito tributário não condiciona a incidência do imposto que a doação seja aceita pelo
donatário, mas se a doação não é aceita de forma expressa ou tácita, não faz incidir o
imposto. Logo, caso se faça uma doação e o donatário não aceita, não ocorre a doação. No
entanto, para o direito tributário, para haver a incidência do imposto, deve-se haver a efetiva
transmissão.

Art. 539, CC. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a
liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração,
entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.

Aspecto pessoal:

Quanto ao aspecto pessoal, o CTN não define o contribuinte, afirmando que é qualquer das
partes na operação tributária, conforme dispõe a lei estadual. Então, pode ser o herdeiro ou
legatário já que não há opção de se cobrar o de cujus na causa mortis. Logo, só é possível
cobrar a quem estiver vivo. Ao mesmo passo, em relação ao doador ou donatário, a lei pode
definir um ou outro como contribuinte do imposto.

Art. 42, CTN. Contribuinte do imposto é qualquer das partes na operação tributada, como
dispuser a lei.

Lançamento:

O lançamento se dá por declaração na forma do art. 147, CTN. Assim, há uma colaboração
do sujeito passivo prestando informações de fato, listando os bens que estão sendo
transmitidos, esse é o fim do inventário, relacionar o patrimônio que está sendo transmitido
ou na doação, deve haver a informação. E, apenas quando os documentos e dados não
merecerem fé, é que haverá o arbitramento desses valores na forma do Art. 148, CTN, por
meio de um lançamento substitutivo pela técnica do arbitramento.

Art. 147, CTN. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de
terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade
administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.

§ 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir


ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes
de notificado o lançamento.

§ 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame serão retificados de ofício
pela autoridade administrativa a que competir a revisão daquela.

Art. 148, CTN. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o
valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora,
mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou
não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos
expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de
contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial.
Aula 10 | 13/09/2022 - fotos da anotação malu wpp

2- Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de


Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS

Previsão: art. 155, II, CF, lei complementar 87/96 e decreto-lei 406/68.

Cada estado brasileiro possuía sua própria regulamentação do ICMS.

O CTN tratava do ICMS, porém o decreto-lei 406/68 passou a regular esse imposto.

Os impostos estaduais são de competência privativa do Estado e do Distrito Federal (art.


155, II, CF).

Com EC 18/65, conferiu-se a competência aos Estados + DF, a competência para instituir
imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias, o antigo ICM em substituição
ao antigo imposto sobre vendas e consignações.

O CTN tratou desse imposto entre os arts. 52 a 58. No entanto, esses dispositivos foram
revogados pelo decreto-lei 406/68, assim como os arts. 59 a 62 também foram revogados,
artigos esses que tratavam sobre o ICM municipal pelo ato complementar 31/66. Assim,
percebe-se que a CF ampliou o campo de abrangência do antigo ICM e o transformou em
ICMS. Logo, virou um imposto muito maior, abarcando vários impostos, como:

a- Imposto sobre circulação de mercadorias;

b- Prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal;

c- Prestação de serviços de comunicação;

d- Operações relativas à petróleo, incluindo lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos,


como também inclui energia elétrica e minerais.

Há uma difícil relação do ICMS com a inter-relação normativa. Isso ocorre em razão do
ICMS abarcar muitos impostos e ser arrecadado por todos os estados e incide sobre todas as
mercadorias como também alguns serviços que são considerados essenciais. Desse modo, o
legislador teve uma preocupação em razão das guerras físicas, isto é, utiliza-se a legislação
tributária como meio de competição entre os entes e assim, atrair empreendimentos
econômicos para a sua região. Logo, haverá diversas fontes tributárias que funcionam como
meios e formas que irão condicionar/limitar competência legislativa dos Estados e do DF
quando se fala do ICMS.

Assim, no primeiro ponto relacionado ao ICMS ampliou-se a regra estabelecida pelo art. 146,
CF, no qual cabe à lei complementar prever normas gerais relativas à fato gerador, base de
cálculo e contribuintes. Não obstante, o art. 155, CF, trata de várias questões relacionadas a
limitações para os Estados e DF, sendo um imposto com maior quantidade de dispositivos
no texto constitucional.

Art. 146, CF:


A lei complementar que trata do ICMS terá que prever regras específicas sobre substituição
tributária, sabendo que a substituição é uma das hipóteses de responsabilização tributária
que exclui da relação jurídica o contribuinte. Nesse caso, permanecerá apenas o responsável,
isto é, o substituto. Ainda, pela abrangência nacional e a circulação de mercadoria em todo
país, é possível que uma operação pode ter início em um Estado e finalização em outro. Em
razão disso, é importante determinar quem poderá legislar sobre substituição tributária e
como será a repartição de competências entre os estados, ou seja, quem poderá tributar em
cada uma das operações.

O ICMS assim como o IPI, segue o princípio da não-cumulatividade e em consequência


disso, é importante ter regras de compensação. Assim, é importante determinar não só o
local que haverá compensação, qual objeto será ou não compensado. Logo, tudo isso deve
estar determinado em lei complementar.

Onde se considera o fato gerador do ICMS deve ter previsão também em lei complementar,
tendo em vista que estamos perante um tributo circulatório.

Percebe-se uma imunidade das exportações, assim como as hipótese que pode haver
ampliação/alteração das regras de incidência em razão das imunidades e como se dará a
questão dos creditamentos nesses casos. Nesse sentido, a alínea seguinte prevê casos de
manutenção de crédito, assim quando o crédito tem origem pode ser utilizado mesmo
quando se tem uma hipótese de não incidência como no caso de imunidade e alguns casos
de isenção/não-incidência.

O legislador constituinte vinculou os estados e DF a regras previstas em lei complementar


de como eles poderiam no exercício da sua competência tributária conceder isenções,
incentivos e outros benefícios fiscais assim como revogar os já existentes. Assim, tem-se leis
complementares que preveem o funcionamento do CONFAZ, órgão do Ministério da
Fazenda no qual se reúnem os secretários dos estados com intuito de celebrar convênios e
por meio desse ato normativo, tem-se a autorização dos estados a conceder isenções. Logo,
tem-se uma limitação para evitar a guerra fiscal. Ainda, houve diversas judicialização até
que o STF proferiu decisões, assim como se criou novas regras com intuito de limitar e
determinar como as isenções seriam concedidas. Além disso, também foram convalidadas
outras decisões que foram decididas de maneira inconstitucional antes do STF modular os
efeitos da decisão.

Pelo § 4º do art. 155, CF, percebe-se que há uma tributação em relação à tributação
monofásica. Assim, para alguns combustíveis e lubrificantes, a lei complementar pode
excepcionar a tributação plurifásica no regime não-cumulativo em cada fase da operação
para que se tribute em uma única etapa/fase da circulação da mercadoria.

Na base de cálculo do ICMS será incluído o próprio ICMS em razão do regime da


não-cumulatividade quando ocorrer, sobretudo, a importação. Logo, o ICMS constitui a sua
própria base de cálculo, especialmente na importação que não veio ICMS, evitando uma
concorrência desleal do produto estrangeiro x produto nacional.
Convênios normativos:

A CF atribuiu aos Estados + DF a celebração de convênios autorizativos perante o CONFAZ


para a concessão de incentivo e benefícios fiscais (art. 155, § 2º, XII, g, CF).

Desse modo, de acordo com o art. 34, § 8º, ADCT, estabeleceu-se que haveria celebração de
convênios enquanto não tivesse editada a lei complementar que tratasse do ICMS. No
entanto, é importante ressaltar que o antigo ICM do código anterior tinham sido revogadas e
assim, quando promulgada a nova Constituição, houve a celebração de um novo convênio
66/88 com várias normas gerais para cumprir a função do art. 34, § 8º, ADCT. Logo,
haveriam leis gerais até que fosse editada a lei complementar. Não obstante, também estava
em vigor o decreto lei 406/68 que trata de regras gerais de ICMS como também sobre o ICSS.

Desse modo, a lei complementar que trata do ICMS só surge com a lei kandir, lei
complementar 87/1996.

Resoluções do Senado Federal:

A Constituição também determinou que caberia ao Senado editar resoluções, com relação a
atos normativos vinculantes relacionados ao ICMS.

Art. 155, § 2º, IV, CF:

Diante de operações intra-estaduais, quem irá aplicar a alíquota do ICMS é o próprio estado.
No entanto, perante situações que se iniciem em um estado e sejam finalizadas em outro, a
CF estabeleceu alíquotas interestaduais. Portanto, essa alíquota será fixada a partir de uma
resolução do Senado Federal.

Em relação à alíquota de exportação, em razão de uma Emenda Constitucional posterior,


tornou as importações imunes ao ICMS. Portanto, o legislador derivado quando adotou essa
emenda, não alterou o dispositivo do art. 155, CF, porque se a exportação é imune, não há
alíquota de exportação.

Art. 155, § 2º, V, CF:

É possível que o Senado estabeleça uma alíquota mínima, isto é, um piso. Logo, isso faz com
que os estados não apliquem uma alíquota inferior nas operações internas. Assim como
também é possível que o Senado determine alíquotas máximas, ou seja, o teto, especialmente
nas mesmas operações internas com o intuito de resolver conflito específico que envolva
interesse de estado por meio de resolução da maioria absoluta e aprovado por ⅔ dos
membros.

Em geral, a alíquota estadual é igual ou maior a alíquota interna.

Cada vez mais há uma mudança nas relações de consumo porque as vendas ocorrem com
maior frequência juntamente com uma diminuição de intermediários. Logo, o recebimento
da mercadoria é direto. Assim, quem irá recolher o imposto e a quem caberá o imposto?
Desse modo, transfere-se o imposto para os estados de destino, diferentemente do texto
original que determinava o estado de origem. Diante desse contexto, gerou-se uma grande
concentração de tributação, aumentando a desigualdade econômica e social do país. Com as
vendas diretas, portanto, há uma inversão dessa lógica e o imposto passa a se destinar a cada
vez, de forma escalonada essa tributação para os estados de destino.

Há um diferencial de alíquota (DFAL), isto é, a diferença entre a alíquota estadual e a


alíquota interna. Ocorre que o estado de destino vai recolher a alíquota interestadual e o de
origem, a diferença entre a alíquota estadual e a interna, de modo que o imposto é dividido
entre o estado de origem e o estado de destino. Assim, o valor será recolhido da seguinte
maneira:

a- Pelo destinatário quando ele for contribuinte do imposto, isto é, quando se vende para um
intermediário naquele estado. Exemplo: um comerciante de São Paulo vende para um de
Pernambuco. Então, caso ele também seja contribuinte do imposto, aquele contribuinte do
estado de Pernambuco é que vai recolher o ICMS em favor do estado de Pernambuco e a
parcela do estado de São Paulo.

b- Se o destinatário não for contribuinte do imposto, como no caso de compras diretas pela
Internet, o remetente será o contribuinte do ICMS. Logo, ele terá tanto que recolher o ICMS
ao estado de São Paulo como também terá que recolher o ICMS no destino, que é
Pernambuco.

Características:

Fiscal, sendo a principal fonte de arrecadação direta dos estados e do Distrito Federal.

Indireto porque comporta o fenômeno jurídico da repercussão tributária, ou seja, há um


repasse estabelecido na norma jurídica do contribuinte para um terceiro que pode ser
contribuinte ou não, até que o tributo chegue ao consumidor final. Ainda, é por isso que esse
o ICMS é classificado como um tributo sobre o consumo, isso porque se tem a ótica do
consumidor, que muitas vezes arca com esse imposto de maneira regressiva, ou seja, onera
muito o mais pobre do que o mais rico, ainda que ele seja classificado como imposto sobre a
circulação e produção pelo CTN.

Real porque grava a coisa, isto é, o bem, mercadoria ou serviço, independente de


características subjetivas relacionadas ao contribuinte.

Princípios constitucionais específicos:

Art. 155, § 2º, I a III, CF:

1- Princípio da não-cumulatividade:

Esse princípio é a regra geral, ainda que haja a possibilidade de tributação monofásica para
combustíveis e lubrificantes, como também regras de substituição tributária que empatam
diretamente no princípio da não-cumulatividade.

Assim como no IPI, a não cumulatividade é uma técnica constitucional ou um sistema


operacional de tributação, tendo em vista que visa impedir a incidência sucessiva nas
diversas operações da cadeia econômica ou múltipla tributação da mesma base econômica
(efeito cascata). Assim, evita-se a múltipla tributação das operações, fazendo com que se
tenha tributo incidindo em tributo.

Desse modo, essa técnica promove uma compensação das fases anteriores. Logo, o
contribuinte deduz o valor do imposto a pagar, quando da saída da mercadoria do seu
estabelecimento, recolhendo apenas a diferença entre os dois valores.

A Constituição, não fez isso de forma explícita ao IPI, mas o STF entende que também se
aplica ao IPI e assim, também se aplica as restrições à não-cumulatividade previstas no art.
155, § 2º, II, CF. Então, sempre que houver isenção ou não-incidência (imunidade tributária,
não-incidência ou fato de não estar previsto na hipótese de incidência como fato gerador ou
alíquota zero, por exemplo) anula-se o crédito da fase anterior e não gera crédito para fase
posterior, interrompendo a fase de creditamento e de débito, reiniciando a cadeia
não-cumulativa.

Ainda, de acordo com o art. 155, § 2º, XII, CF, cabe à lei complementar prever o regime de
creditamento, assim como os casos de manutenção de crédito, relativamente à remessa para
outro estado e exportação para o exterior, de mercadorias ou serviços.

Ex:

Nesse caso, tem-se uma cadeia de circulação de mercadorias, no qual: Aliomar vende para
Misabel - Geraldo e José é o consumidor final e por isso, ele arca com o ônus total do tributo.
No entanto, o ICMS será menor do que caso não houvesse a técnica constitucional da não
cumulatividade, no qual promove o abatimento do ICMS já pago em cada operação.

2- Princípio da seletividade:

O princípio da seletividade, de acordo com o art. 155, § 2º, III, CF, estabelece que o ICMS
poderá ser seletividade em função da essencialidade da mercadoria ou do serviço. Assim,
questiona-se se a seletividade seria facultativa no ICMS e obrigatória no IPI.
Nesse caso, a seletividade significa a possibilidade de uma tributação diferenciada/variada
conforme a mercadoria ou o serviço.

A seletividade não se confunde com a progressividade, isto é, que a alíquota irá aumentar à
medida que a base de cálculo também aumente ou irá aumentar por outro critério, como no
caso do ITR que se relaciona com a produtividade da terra. Nesse caso, diferenciam-se as
alíquotas, podendo diferentes entre mercadores ou serviços, tudo isso em razão do critério
de essencialidade. Logo, os produtos e serviços essenciais terão uma alíquota menor e
aqueles não tão essenciais/luxo terão uma alíquota maior. Então, aplica-se em um tributo de
natureza real, o princípio da capacidade contributiva (art. 145, § 1º, CF).

Também há a aplicação da seletividade de acordo com a extrafiscalidade. Assim, tem-se um


outro resultado com a tributação, seja estimulando ou desestimulando o comportamento por
parte do contribuinte. Portanto, tem-se uma alíquota maior quando se pretende
desestimular o seu consumo e reduzir para aqueles que se pretende estimular o consumo.

Nesse sentido, fala-se em uma seletividade proibitiva/imposto do pecado, como no caso


dos cigarros, bebida alcoólica, dos alimentos açucarados ou ultraprocessados. Assim, é uma
forma de diminuir o consumo e melhorar a saúde pública e o meio ambiente.

Imunidades constitucionais específicas:

Art. 155, § 2º, X e § 3º, CF:

Diante da hipótese de não-incidência constitucionalmente qualificada, estamos perante uma


imunidade. Assim, não é preciso que a Constituição coloque de forma expressa a palavra
imune ou imunidade. Desse modo, quando temos a não incidência, como no inciso X, temos
uma hipótese de não incidência constitucionalmente qualificada. Assim, temos:

a- Imunidade do ICMS nas exportações de mercadorias ou serviços, hipótese determinada


pela EC 42/2003. Portanto, temos uma imunidade objetiva em razão da circunstância objetiva
e não do objetivo porque a mercadoria e o serviço podem ser tributados quando a operação
ocorre dentro do território nacional. Em contrapartida, serão imunes se a operação tiver
destino no exterior, seja da mercadoria ou seja por meio da prestação de um serviço no
exterior.

Há uma exceção nessa primeira hipótese de imunidade qualificada, pois a não incidência
anula o crédito da fase anterior, porém na exportação vai ser mantido o crédito. Assim,
temos um ponto de atrito entre os estados, Distrito Federal e União, isso porque durante o
desenvolvimento da emenda constitucional, estabeleceu-se que os estados seriam
ressarcidos das perdas do ICMS nas exportações e a União não promove o ressarcimento de
forma adequada/plena.

b- A imunidade só ocorre na operação interestadual, isto é, uma operação que tem início em
um estado e destino em outro. Logo, não são imunes às operações internas porque petróleo,
combustível, energia elétrica, por exemplo, são os principais insumos energéticos utilizados
no país. Assim, há estados que são produtores desses insumos, na mesma medida que há
estados que são consumidores. Desse modo, se ficássemos nesse cenário, teríamos uma alta
concentração de impostos nos estados produtores em relação aos estados consumidores.
Logo, esse cenário promove um maior equilíbrio dentro dos estados, não variando de
maneira desproporcional.

Exemplo: caso haja uma distribuidora de petróleo em Pernambuco, adquirindo do Rio de


Janeiro, isto é, a operação que destina o combustível da distribuidora do RJ → PE, não
haverá incidência do ICMS. No entanto, da distribuidora de Pernambuco para o posto de
gasolina também localizado em Pernambuco, haverá a incidência de ICMS. Posteriormente,
quando o consumidor for reabastecer, ele também pagará o ICMS.

c- A imunidade sobre o ouro, isto é, quando ele for definido como ativo financeiro ou
instrumento cambial, incide-se apenas no IOF. No entanto, quando ele for uma mercadoria,
haverá a incidência apenas do ICMS. Logo, percebe-se que são impostos excludentes entre
si, incidindo apenas um, dependendo apenas da destinação do ouro.

d- A transmissão de rede aberta de televisão ou rádio, não haverá a tributação pelo ICMS.
No entanto, caso haja um serviço pago, haverá a incidência de ICMS.

Sobre energia, comunicação, petróleo e combustíveis e também sobre minerais, só poderá


haver a incidência de três impostos: ICMS, imposto de importação e de exportação.

Obs: o fato de haver apenas a incidência de impostos, não quer dizer que não possa haver a
incidência de contribuições sociais, como no caso do PIS, COFINS que são contribuições que
incidem sobre o faturamento que continuarão a incidir.

Matriz constitucional (base econômica):

Fatos geradores:

Há dois fatos geradores:

1- Operações relativas à circulação de mercadorias:

Essa operação pressupõe a existência de um negócio jurídico mercantil.

Ainda, essa operação é relativa a uma circulação que pressupõe a mudança de titularidade
da mercadoria de uma pessoa para outra, com ou sem movimentação física. Nesse caso, não
se trata de circulação física, é apenas um negócio jurídico que transmite a titularidade da
mercadoria.

Súmula 166, STJ. Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento da mercadoria
de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.

Ex: uma agroindústria que possui o setor agrícola, no qual se planta e colhe a cana e um
setor industrial, onde se transforma a cana-de-açúcar em açúcar e álcool. Assim, embora
sejam dois estabelecimentos diferentes, eles pertencem a mesma pessoa jurídica. Portanto, a
mera circulação entre esses dois setores, não constitui fato gerador e consequentemente não
haverá a incidência do ICMS.
Pode haver a incidência do ICMS ainda que não haja circulação física.

Exemplo: imagina-se que alguém tem uma papelaria e adquire material de escritório para
todo ano, mas não se tem espaço para estoque. Assim, a mercadoria é adquirida no início do
exercício e a empresa vendedora entrega o material de forma parcelada ou à medida que for
precisando, já que a empresa tem um estoque maior. Nessa situação, o ICMS vai incidir
desde o momento do negócio jurídico, ainda que não se tenha a circulação física da
totalidade dele.

Não incide ICMS na vida de bem do ativo fixo, isto é, quando se tem uma empresa que
vende equipamentos que não faz parte da mercadoria/não é a atividade fim da empresa, não
haverá incidência de ICMS. Nesse mesmo contexto, não incide ICMS na transformação de
sociedades, seja pela incorporação, fusão ou cisão.

A Lei Kandir (Lei complementar 87/96 no art. 2º) estabelece as hipóteses de incidência do
ICMS. Em conjunto, o art. 12 da mesma lei complementar também determina o momento de
ocorrência do fato gerador.

De acordo com o art. 155, § 2º, IX, CF, que ampliou a matriz constitucional do ICMS, pela EC
33/2001, estabelece que o ICMS também incidirá sobre:

a- Na importação, independentemente de quem o faça, seja comerciante ou não, seja para


comercialização, consumo próprio ou terceiro, haverá a incidência do ICMS. Assim, o ICMS
passou não só a incidir sobre mercadoria, mas qualquer bem quando se trata de importação.
Logo, na importação pode ter de forma concomitante a incidência de três impostos:
importação, IPI e ICMS.

b- No caso das operações mistas, isto é, quando se tem o fornecimento de mercadoria com
prestação de serviço, há um conflito de competência entre o ICMS e o ISS. Assim, só haverá a
incidência de ISS quando houver disposição em lei complementar. Logo, se o serviço estiver
sujeito ao ISS na lei complementar 116/2003, somente incidirá o ISS. De contrário, quando ele
não constar na lista, incidirá apenas o ICMS e nessa hipótese, a base de cálculo será o valor
total da operação, ou seja, a entrega da mercadoria bem como a prestação do serviço.

Ex: bares, restaurantes e lanchonetes, devido a previsão na lei complementar, só haverá a


incidência do ICMS. Isso ocorre porque nesses estabelecimentos não tem como separar a
prestação do serviço da mercadoria que está sendo proporcionada.

Quando houver a possibilidade de separação do serviço da entrega da mercadoria, o ICMS


irá incidir sobre a mercadoria e o ISS sobre o serviço.

Ex: no caso das concessionárias ou oficina mecânica, percebe-se que haverá duas notas
fiscais: sendo uma da mercadoria, isto é, das peças que foram adquiridas, como também
haverá uma nota fiscal acerca da prestação do serviço.

No entanto, quando estiver claro se houve uma prestação de serviço ou entrega de


mercadoria, tem-se diversos litígios. Nesse sentido, o STJ tem solucionado isso por meio do
critério da preponderância entre a entrega de mercadoria ou de serviço.
Ex: no caso das farmácias de manipulação, o STJ percebeu que há uma preponderância da
prestação de serviço em razão da prestação de mercadoria, diferentemente de produtos
disponíveis em prateleira. Assim, nesse último caso, os produtos estarão sujeitos ao ICMS.
Entretanto, esse tipo de situação pode levar a problemas em identificar qual o tipo de
produto e isso ocorre em razão da divisão entre ICMS e ISS sobre o consumo. Logo,
enquanto se tiver múltiplos sobre o consumo, sempre haverá que distinguir o que é
mercadoria e o que é serviço.

2- Prestações de serviços:

Exclui-se da competência dos municípios o transporte e a comunicação.

a- Transporte interestadual e intermunicipal:

Quando o transporte for realizado dentro ou exclusivamente dentro do território do


município, haverá tributação pelo ISS. Em caso de transporte estadual, haverá a tributação
do ICMS.

O ICMS incide ainda que a prestação do serviço tenha se iniciado no exterior.

O serviço tem que ser oneroso, não incidindo sobre o gratuíto como também não incide se o
transporte for próprio, tendo em vista que não há espaço para prestação de serviço. No
entanto, outros meios como táxi, ônibus e uber, haverá incidência desde que sejam pagos.

De acordo com a lei complementar 87/96, estabelece que o imposto cabe ao estado onde
tenha iniciado a prestação, salvo exceções.

b- Comunicação:

O ICMS incidirá sobre prestações onerosas de serviço de comunicação, como no caso de TV


a cabo.

Há diversos debates sobre isso porque há serviços que são adicionados, como no caso de
aplicativos, serviços de streaming. Logo, nessas tecnologias disruptivas há um grande
entrave para haver a incidência do ICMS.

Aspecto quantitativo:

O ICMS poderá ser seletivo, ou seja, haverá alíquotas diferenciadas. Não obstante, há
diversos critérios para fixação de alíquotas, seja pelo Senado Federal assim como limites
mínimos e máximos para as alíquotas internas. Ainda, cabe à lei complementar estabelecer
normas gerais sobre a base de cálculo do ICMS.

O ICMS por dentro é uma regra importação, pois assim como na importação o ICMS pode
integrar a sua própria base de cálculo, ou seja, calcula-se o ICMS e posteriormente calcula o
ICMS sobre o produto com o mesmo ICMS. Logo, há uma dupla incidência na importação.

Art. 155, § 2º, XI, CF:

O ICMS tem uma cadeia maior do que o IPI porque eventualmente se encerrará a etapa
produtiva, não sendo mais cobrado o IPI diante do contexto de que não há mais
transformações do produto. No entanto, continua-se com a circulação de mercadoria ou
revenda até que se chegue ao consumidor final.

Assim, a CF estabelece que enquanto há etapas de produção, o IPI não integra a base de
cálculo do ICMS. Logo, calcula-se o ICMS e o IPI sobre aquela operação. Posteriormente,
quando o IPI deixar de incidir, o IPI passa a integrar o ICMS. Então, quando não se há mais
etapas de produção, as operações só serão tributadas pelo ICMS nesse caso, tendo na sua
base o IPI das fases anteriores.

Aspecto pessoal:

A lei complementar 87/96, no art. 4º, determina os contribuintes que podem ser comerciantes
ou intermediários que participam da etapa de comercialização/circulação das mercadorias.
Além disso, também pode ser o prestador do serviço, havendo diversas hipóteses de
substituição tributária, que devem ser reguladas por lei complementar.

Em relação ao ICMS, há o problema da substituição tributária para frente ou progressiva,


que foi autorizado pela EC 3/93 com acréscimo do art. 150, VII, CF, permitindo assim a
antecipação do ICMS a ser pago nas fases posteriores pelo substituto.

Lançamento:

Esse imposto está sujeito a lançamento por homologação, no qual o contribuinte vai
relacionar todas as suas aquisições e todas as vendas e abater o débito no período fiscal,
posteriormente recolhendo a diferença aos estados, onde seja devedor do ICMS.

Aula 11 | 15/09/2022

3- Imposto sobre a propriedade de veículos automotores - IPVA

Previsão: art. 155, III, CF.

É de competência privativa dos estados e do DF.

Antes, havia uma taxa rodoviária federal única de competência da União.

Era um tributo que não tinha fato gerador de taxa, porque incidia sobre a propriedade de
veículo automotor.

Art. 34, § 3º, ADCT: os entes da federação irão editar leis necessárias à aplicação do sistema
tributário nacional e regulará integralmente até que se tenha a lei complementar.

Características:

a- Fiscal, sua função é arrecadar recursos para financiamento. Por ser um imposto, incide
sem qualquer contraprestação, é um tributo não-vinculado. O IPVA não tem relação com a
manutenção das ruas, pois o IPVA é estadual, as ruas são do município. O art. 167, 4º, CF
veda a vinculação da receita de imposto a fundos, órgãos ou despesa. Ainda que fosse uma
receita municipal, não poderia estar vinculada à manutenção das ruas. O IPVA existe
simplesmente como um instrumento de arrecadação.
b- Real, grava a propriedade do veículo automotor, independentemente das características
subjetivas do proprietário. Ex: todas as pessoas que têm o mesmo veículo, pagam o mesmo
IPVA.

c- Direto, não comporta o fenômeno jurídico da repercussão, o proprietário é quem vai arcar
com o ônus desse tributo.

Art. 155, § 6º, CF:

I- O senado federal por meio de resolução poderá estabelecer as alíquotas mínimas do IPVA
(piso). Isso é uma forma de evitar guerra fiscal do IPVA. Guerra fiscal: deve-se pagar o IPVA
onde se registra o veículo, para a pessoa física isso é mais fácil do que para a pessoa jurídica
(empresas como Localiza, Movida).

II- “Possibilidade de ter alíquotas diferenciadas” trata do princípio da seletividade. O


critério não é o mesmo do IPI e do ISS que é a essencialidade, mas por tipo e utilização. A
doutrina define: (a) Tipo: carro, caminhão, modelo do carro e (b) Utilização: carro de
passeio, de prestação de serviço, de transporte de carga.

Art. 152, CF: Não pode haver distinção em razão da procedência ou destino de pessoas, bens
ou serviços. Ex: não se pode distinguir um carro por ele ser importado ou nacional
(discriminação geográfica).

Matriz constitucional do IPVA:

Incide sobre a propriedade. Portanto, o fato gerador é a propriedade. É estático, isso porque
é sobre esse direito de propriedade que vai ser tributado o IPVA, sendo irrelevante se o
veículo trafega ou não, se o veículo sai ou não da garagem, só em ter o carro, já vai incidir o
IPVA.

Veículo: é um meio de transporte, tratando apenas dos automotores e não de qualquer


veículo de transporte.

Automotor: o CTB, anexo I define “todo veículo a motor de propulsão que circule por seus
próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou
para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos
(ônibus elétrico)”.

Independe do tipo de alimentação deste motor: gasolina, álcool, diesel, eletricidade.

Inclui aeronaves e embarcações? Estes, em geral, são automotores, porque um avião, um


helicóptero tem motor. No entanto, o STF entendeu que não incide sobre eles, somente
incide sobre veículos terrestres.

Art. 155, III, CF:

O STF entendeu dessa maneira porque como o IPVA substituiu a TRFV que era terrestre, o
IPVA teria que ser terrestre também.
Essa decisão afronta o princípio da capacidade contributiva, pois uma pessoa que tem uma
moto paga IPVA, mas quem tem jatinho, iate, lancha não paga.

O IPVA só passa a incidir depois do registro do veículo (emplacamento). O veículo novo


localizado na concessionária, antes de ser vendido, não está sujeito ao IPVA, paga-se apenas
no momento em que emplacar.

Fato gerador anual, isto é, só paga uma vez por ano. Geralmente, a lei o prevê no início de
janeiro.

Aspecto quantitativo:

A CF estabelece a possibilidade das alíquotas mínimas serem fixadas por resolução do


senado federal.

A base de cálculo tem que ter uma relação com o valor do veículo, que não necessariamente
será o valor do mercado, mas a lei que estabelecerá os critérios.

Art. 150, § 1º, CF: A fixação da base de cálculo do IPVA é exceção à anterioridade
nonagesimal, ou seja, pode-se fixar essa base de cálculo do IPVA sem ter que aguardar 90
dias para entrar em vigor. Como é anual não é exceção à anterioridade.

O STF entendeu como constitucional que algumas leis estaduais previam desconto no IPVA
para quem não cometesse infração de trânsito.

Aspecto pessoal:

Sujeito ativo: estado, onde está registrado o veículo, onde você tem domicílio (comprovante
de residência).

Sujeito passivo: contribuinte, proprietário do veículo, em nome de quem o veículo está


registrado. O adquirente do veículo se torna responsável por transferência. Ex: pessoa que
adquiriu um veículo que tem débito de IPVA, ela se torna responsável.

Lançamento: de ofício, pois o Fisco já tem todas as informações/dados do veículo, devido ao


emplacamento.
2º GQ

Aula 12 | 11/10/2022

Impostos municipais (art. 156, CF)

Ao DF cabe instituir tanto os impostos estaduais quanto os municipais (art. 147, CF).

1- Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU

Previsão legal: art. 156, I, CF e arts. 32 a 34, CTN.

Características:

a- Fiscal: é uma importante fonte de arrecadação dos municípios. Embora, há hipóteses em


que o IPTU é extrafiscal (exceção).

b- Real: grava a propriedade independentemente das características pessoais do


contribuinte.

c- Direto: não comporta o fenômeno jurídico da repercussão ou translação do ônus tributário


de uma pessoa para outra.

A CF prevê três princípios constitucionais específicos:

Art. 156, § 1º, CF: há duas progressividades diferentes aplicáveis ao IPTU, sendo elas:

a- Progressividade no tempo:

Art. 182, CF: a CF conferiu aos municípios a possibilidade de legislar sobre desenvolvimento
urbano, objetivando qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos (política de
desenvolvimento urbano).

§ 1º: A lei que vai definir a forma de desenvolvimento urbano se chama plano diretor, sendo
obrigatória para municípios com mais de 20 mil habitantes.

§ 2º: O direito à propriedade não é absoluto na CF, encontrando limites no princípio da


função social da propriedade urbana. Quem vai dizer qual é a função social da propriedade
urbana será o plano diretor.

§ 3º: Desapropriação por utilidade e necessidade pública: a indenização tem que ser prévia,
justa e em dinheiro. Exemplo: se você quer construir uma praça ou ampliar um órgão
público, necessitará de um decreto, declarando a utilidade/necessidade pública. Logo em
seguida, o órgão responsável entrará com uma ação de desapropriação, que não discute a
finalidade do decreto, apenas o valor.

§ 4º: O município só poderá determinar o cumprimento da função social da propriedade, se


tiver mais de 20 mil habitantes e plano direitor. “Nos termos da lei federal” nº 10.257/2001 -
que é o Estatuto das Cidades. O município pode determinar: I- utilização, parcelamento ou a
construção do imóvel “compulsórios”, isto é, o município pode lhe notificar para que você
dê a função social da propriedade. Se você não cumprir, pode ser aplicada a progressividade
do IPTU no tempo, sendo uma forma de coagir. Então, as alíquotas poderão ser aumentadas
para desestimular o descumprimento do plano diretor. As alíquotas podem ser aumentadas
no tempo, cada vez mais, se você não cumpre aquela função da propriedade. A alíquota
pode ser maior em razão da não utilização ou subutilização do imóvel urbano. Se o IPTU
progressivo no tempo não for suficiente, haverá II- desapropriação, que não é a mesma do §
3º (desapropriação por utilidade/necessidade pública), aqui se trata da desapropriação por
descumprimento da função social da propriedade urbana. Embora a indenização tenha que
ser justa, ela não é prévia nem em dinheiro. Aqui, a desapropriação ocorre a título da dívida
pública, em valores resgatáveis em parcelas de até 10 anos.

Art. 5º, do Estatuto das Cidades: O primeiro passo é notificar, para dizer as condições e os
prazos para você dar destinação ao imóvel.

Art. 7º, do Estatuto das Cidades: Sabe-se que, primeiramente, deve-se notificar. Do
descumprimento, pode ser aplicado a progressividade no tempo durante o prazo de 5 anos.

§ 1º e § 2º: A alíquota de um ano ao outro só pode ser majorada no outro. Exemplo: alíquota
de 1%, no ano seguinte será 2%, no próximo ano poderá ir para 4%, não podendo
ultrapassar o limite de 15%. Se passar 5 anos e não tiver o cumprimento, a alíquota fica na
máxima até cumprir, ou se vai para a prerrogativa de desapropriação por títulos da dívida
pública (art. 182, § 4º, III, CF). Se for cumprida retorna para a alíquota inicial.

O objetivo da progressividade no tempo é aplicar o princípio da função social da


propriedade urbana.

b- Progressividade em razão do valor do imóvel:

Art. 156, § 1º, I, CF: Esse dispositivo foi acrescentado pela EC 29/2000, porque o STF declarou
leis municipais inconstitucionais que previam a progressividade em razão do valor do
imóvel, porque dizia que originalmente só existia a previsão de progressividade no tempo.
Assim, essa segunda progressividade estabelece que imóveis com valor maior (localizados
em bairros mais valorizados) também podem ter alíquotas maiores, em razão do princípio
da capacidade contributiva.

O STF editou a Súmula 668 para determinar que só são constitucionais as leis municipais
que preveem a progressividade em razão do imovel editadas após a EC 29/2000.

Como a progressividade no tempo já estava prevista na CF, em princípio já poderia ser


aplicada desde 1988. Entretanto, o requisito era ter procedimentos previstos em uma lei
federal. O Estatuto das Cidades foi originado em 2001, então, a progressividade no tempo só
pode ser aplicada a partir da vigência do Estatuto das Cidades.

c- Princípio da seletividade:

Art. 156, § 1º, II, CF: Poderá ter alíquotas diferentes, isto é, trata do princípio da seletividade,
o qual determina que as alíquotas serão seletivas em razão da localização e do uso do
imovel. Localização: imóvel em um bairro mais valorizado tem alíquota diferente de um
bairro mais popular. Uso: imóvel residencial é diferente de industrial, comercial, de
prestação de serviços.
Fato gerador:

Propriedade: utiliza-se o conceito previsto nos direitos reais no art. 1.228, CC. Tem
abrangência maior do que o ITR, pois incide sobre a propriedade predial e territorial.

Art. 32, CTN: Quando se fala em propriedade em sentido estrito, trata do direito de
propriedade de usar, gozar ou dispor da coisa, e de reaver do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha).

Predial: São as acessões físicas ou por natureza (art. 79, CC: São bens imóveis o solo e tudo
quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente). Acessão física: se incorpora
definitivamente ao solo, podendo ser natural como árvores, plantações, subsolo, solo, espaço
aéreo ou artificial que é tudo aquilo que se incorpora definitivamente ao solo pelo homem.
Excluídos desse critério estão as acessões intelectuais ou por destinação (art. 93, CC), que são
todas as acessões que não se incorporam definitivamente ao solo, como máquinas,
equipamentos, animais, instalações, etc. “Incorporação definitiva” não significa que não
pode ser retirada, mas que só pode ser retirada alterando a natureza do próprio bem.
Exemplo: retirar um sofá de uma casa, não altera a natureza do bem, mas a retirada das
paredes ou colocar uma piscina na casa sim.

Urbano: O CTN estabelece um critério legal/positivo para fugir do senso comum, porque
para a maioria das pessoas urbano significa barulho de carro, poluição, shopping.

Art. 32, § 1º, CTN: A lei municipal terá que definir qual é sua zona urbana e sua zona rural.
Para que algo seja considerado urbano, tem que ter no mínimo dois dos seguintes requisitos:

I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;

II - abastecimento de água;

III - sistema de esgotos sanitários;

IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar;

V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do


imóvel considerado.

§ 2º “A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana,


constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à
indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do
parágrafo anterior”.

Se for aprovado um projeto de loteamento, aquela área será considerada urbanizável e essa
área pode ser equiparada a zona urbana, estando sujeita a IPTU.

Alíquotas: O CTN não trata de alíquotas. A única regra sobre alíquotas prevista na CF em
relação ao IPTU é a progressividade e a seletividade.

Base de cálculo:
Art. 33, CTN: A base de cálculo é o valor venal do imóvel. Venal: é um critério legal. Nem é o
valor de aquisição do imóvel nem é o valor de mercado. O município não tem como avaliar
cada imóvel do ponto de vista do mercado, até porque o mercado varia todo dia.

Parágrafo único: Não vai ser levado em consideração na aferição da base de cálculo os
móveis, ornamentos, etc, isto é, as acessões intelectuais, que é tudo que não se incorpora ao
bem imóvel. Na base de cálculo só entra a base territorial e as acessões físicas por natureza
ou artificial.

O município vai definir a base de cálculo por meio de uma tabela chamada planta genérica
de valores, que é realizada por estimativa, levando em conta critérios de construção, para
definir qual é o valor do imóvel.

Art. 150, parte final do § 1º, CF: Trata das limitações constitucionais e diz que é exceção ao
princípio da anterioridade nonagesimal a atualização da base de cálculo do IPTU (não
precisa aguardar os 90 dias para entrar em vigor). O IPTU é anual, ou seja, incide apenas
uma vez por ano, respeitando a anterioridade ordinária.

Contribuinte: Art. 34, CTN: se for considerado que o fato gerador do IPTU é a propriedade
lato sensu (que inclui não só a propriedade, mas também o domínio útil e a posse), então, o
contribuinte também poderá ser o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer
título, além do proprietário do imóvel.

Art. 123, CTN: As convenções particulares não podem ser opostas ao Fisco para fim de
mudança da sujeição passiva. O locador coloca no contrato e o locatário é responsável pelo
IPTU.

Lançamento: De ofício, isso porque o município já tem cadastro dos imóveis, não precisando
de informações, então, não cabe declaração. Não precisa também antecipar, ele notifica o
valor do IPTU e o contribuinte apenas pagará.

Aula 13 | 13/10/2022

2- Imposto sobre a transmissão “inter vivos”, a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de
garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição - ITBI

Previsão legal: art. 156, II, CF e arts. 35 a 42, CTN.

Antes da CF, havia um imposto estadual que ora utilizava o ITCMD ora o ITBI. Passados 34
anos da promulgação da CF, nem foi editada lei complementar tratando das normas gerais
sobre o ITCMD nem sobre o ITBI, de modo que persiste a seguinte dúvida:

Se o disposto nos arts. 35 a 42, CTN, ainda se aplicam, pois tratavam de um antigo imposto
que ora se aplicava ora não. O legislador ampliou o imposto e dividiu-se por dois, uma parte
da competência ficando para os estados e outra para os municípios.

Características:
a- Fiscal: função arrecadatória, não modificando as relações ou a conduta do contribuinte. Só
pode ser transmitido se houver o pagamento do imposto.

b- Direto: não comporta o fenômeno jurídico da repercussão, não existe a translação do ônus
tributário de um contribuinte para outro.

c- Real: grava o bem imovel ou direito real sobre o imóvel, independentemente de


características pessoais do sujeito passivo.

Art. 156, § 2º, I, CF: quando a CF diz “não incide”, está tratando de imunidade.

Imunidades constitucionais específicas:

1- Art. 156, II, CF: “exceto” significa que não se pode tributar os direitos reais de garantia
sobre os imóveis nem a cessão desses direitos reais de garantia.

2- Art. 156, § 2º, I, CF: não incide sobre a transmissão de imóveis na realização de capital,
que é a mesma coisa que integralização de capital. Para formar uma sociedade, as pessoas
transferem o patrimônio pessoal para a sociedade e recebem em troca de quotas ou ações a
depender do tipo de sociedade, que serão representativos daquele capital. No momento que
é pago o preço, limita-se a responsabilidade do sócio. Pode-se integralizar em dinheiro ou
em bens que tenham valor econômico, inclusive em bens imóveis.

Exemplo: Felipe e Gustavo querem formar uma sociedade. Felipe entra com dinheiro e
Gustavo com um bem imóvel. O dinheiro e o bem imóvel deixarão de ser bens pessoais de
Felipe e Gustavo, respectivamente, para integrar a sociedade e que receberão quotas para
representar aquele patrimônio. Integralizar significa transferir os bens/direitos para a
sociedade, esses bens passam a ser da sociedade e têm personalidade jurídica própria
distinta dos seus constituintes.

Quando eu transfiro o bem para uma sociedade em integralização de capital, essa operação é
imune, ou seja, não é tributada pelo ITBI. É uma forma de estimular a formação de
sociedades. A união do capital e do trabalho desenvolve a economia, ou seja, gera um
interesse social e econômico de desenvolvimento.

a- Fusão: A e B se fundem e formam a sociedade C. A e B deixam de existir, surgindo uma


nova sociedade com todo o patrimônio de A e B. O patrimônio transferido de A para C e de
B para C é imune ao ITBI.

b- Incorporação: só uma das sociedades deixa de existir, o patrimônio da sociedade extinta é


incorporado ao patrimônio da outra. A é incorporada à sociedade B. A deixa de existir e B
recebe o acervo patrimonial de A.

c- Cisão: ocorre quando se separa a sociedade. A se separa, formando as sociedades B e C.


Portanto, quando se transmite esses bens imóveis em razão da cisão, a operação será imune.

d- Extinção: uma sociedade é extinta, havendo a apuração dos haveres, que é pagar as
dívidas da empresa e o remanescente divide-se entre os sócios, de acordo com sua
participação societária. Só existirá imunidade na extinção, quando o patrimônio
remanescente retorna para o proprietário originário para evitar fraude. Exemplo: Felipe quer
comprar o imóvel de Gustavo. Os dois formam uma sociedade, em que Gustavo entra com o
dinheiro e Felipe com o imóvel. Após a extinção da sociedade, o dinheiro vai para Felipe e o
imóvel para Gustavo. Esse caso trata de uma mera fraude para driblar o ITBI.

“Exceto” se a sociedade tiver uma atividade preponderante a alienação de imóvel, ao


arrendamento mercantil ou a locação de bens imóveis - que são atividades imobiliárias: a
imunidade já é uma exceção à regra de incidência, então, aqui trata de uma exceção da
exceção, portanto, não sendo imune. Logo, se o objeto social da empresa for a atividade
imobiliária não haverá imunidade. Como eu sei que a atividade preponderante é
imobiliária? O CTN diz que quando a atividade tem mais da metade do faturamento da
receita bruta é advinda da atividade imobiliária.

Um município no interior de SC entendeu que: quando eu integralizo o capital social, o valor


do bem pode ser superior ao valor nominal das quotas. A quota pode valer X e o valor que
eu paguei por elas pode ser X + Y. Eu posso vender por um valor superior ao que elas valem.
Exemplo: Gustavo e Felipe têm uma sociedade, em que pagaram R$ 10.000,00 para integrar a
sociedade. Mariana quer entrar na sociedade. Gustavo e Felipe podem cobrar de Mariana R$
30.000,00 para que ela entre na sociedade com uma quota equivalente à deles. A Lei 6.404/76
- Lei das SA’s diz que quando você integraliza, registra-se o valor contavelmente por meio
da conta do capital que é o valor que equivale ao capital que foi adquirido e o que
ultrapassar o valor de capital, isto é, o valor nominal das quotas, vai para outra conta
chamada reserva de capital, para não diluir a estrutura de controle societário. Isso ocorre
porque, se Mariana entrasse com um capital 3x superior ao que Gustavo e Felipe entraram,
ela passaria a ter controle da sociedade. O STF decidiu que na expressão “realização de
capital”, só entra aquele valor que corresponde às quotas em valor nominal, o que
ultrapassar este valor, isto é, o que for pra conta de reserva de capital, não será imune e,
portanto, poderá ser tributado.

Problemas:

a- Os municípios querem lançar a diferença, entre o valor que foi para a reserva de capital e
o que está na conta do capital (valor nominal e o valor que foi pago pela compra).

b- O município discutir qual é o valor que foi integralizado. Qual é o valor do imovel? É o
valor declarado no IR? É o que fez parte do negócio quando eu transmitir o imóvel? É o
valor de mercado que o Fisco cobra? É o valor do cadastro do IPTU na Prefeitura?

c- A legislação do IR vai tributar a transmissão de imóvel quando houver ganho de capital,


que é a diferença positiva entre o valor de alienação e o valor de aquisição. Exemplo: meu
imóvel vale quinhentos mil, se eu vender por um milhão, eu tive um ganho de lucro e
pagarei IR sobre esse lucro. A legislação do IR diz que o contribuinte pode optar por
integralizar no valor que consta na sua declaração do IR. Exemplo: comprei o imóvel por
quinhentos mil, ele vale um milhão, mas quero integralizar por quinhentos mil e a legislação
me permite fazer isso para não pagar ganho de capital. É uma forma de diferimento do
ganho de capital.

Esses problemas decorrem da seguinte questão: O relator era o ministro Marco Aurélio,
entretanto, o voto vencedor foi de Alexandre de Moraes. No meio do voto de Alexandre de
Moraes, ele mencionou “obterdito”. No processo civil, tem-se o pedido e a causa de pedir, o
juiz tem que limitar sua decisão ao pedido e a causa de pedir, o que transita em julgado é o
que ele decidir a respeito do pedido. Quando ele decidir, deve explicar o porquê =
fundamentação. A fundamentação do juiz não faz coisa julgada. A decisão = ratio decidendi
= razão de decidir. O “obterdito” são questões que não formam coisa julgada, ele afirma na
sua fundamentação, mas não tem relação direta com a decisão. Se o julgamento é colegiado,
no caso de um tribunal e os outros não mencionarem, aquilo se trata de uma mera menção
da decisão. Ainda, no voto do ministro Alexandre de Moraes, na parte final do I, § 2º, ele
fala: “exceto nesses casos se a sociedade tiver atividade imobiliária preponderante” e, assim,
entendeu que “nesses casos” se refere apenas a segunda hipótese (operações societárias de
cisão, incorporação, fusão e extinção) e não a primeira (que é a integralização de capital), por
se tratar de uma lógica gramatical.

3- Art. 184, § 5º, CF: nas transmissões de imóveis decorrentes de desapropriação para
reforma agrária não haverá incidência de ITBI = imune. Dessa desapropriação, normalmente,
há a doação aos pequenos produtores ou às propriedades coletivas.

Fato gerador:

Transmissão = mudar a titularidade do bem de uma pessoa para outra, saindo da esfera
patrimonial de um para outro.

É sempre inter vivos. Diferente do ITCMD que é uma imposto sobre transmissão mortis
causa. Porém, ainda há a doação no ITCMD.

“A qualquer título”, seja qual for o negócio jurídico, o contrato incidirá o ITBI.

Distingue-se da doação: “por ato oneroso”, porque o ITCMD é sempre por ato gratuito.

“De bens imóveis (art. 79, CC) e direitos reais sobre imóveis”, já no ITCMD é de quaisquer
bens e direitos.

Por natureza: solo, subsolo, espaço aéreo e tudo que se incorpora ao solo pela natureza,
como árvores, plantações, montanhas.

Acessão física ou artificial: construído, incorporado definitivamente ao solo, como uma casa,
um prédio.

Não entra a acessão intelectual: móveis, ornamentos, máquinas, animais, que não se
incorporam definitivamente ao solo, uma vez retirados não desnatura aquele bem.

Direitos reais sobre imóveis estão previstos somente nos incs. I ao VII, do art. 1225, CC,
porque os outros são de garantia (“exceto”), que são penhor, hipoteca e anticrese.
Sobre a cessão desses direitos (penhor, hipoteca e anticrese), não vai haver a incidência do
ITBI.

Art. 156, § 2º, II, CF: quem pode cobrar o ITBI é o município onde o imóvel está localizado.

Alíquotas e base de cálculo: a CF não traz regras sobre as alíquotas.

Art. 39, CTN: O Senado pode fixar alíquotas máximas, mas a CF não prevê. A doutrina
entende que esse dispositivo só se aplica ao ITCMD. Logo, cada município é livre para fixar
as suas alíquotas.

Princípio da progressividade: imóveis com base de cálculo maior também têm alíquotas
maiores, o STF entende que não é possível e editou uma Súmula 656, para dizer que o ITBI
não pode ter alíquotas progressivas.

Art. 38, CTN: a base de cálculo será o valor venal (que é o valor do IPTU), entretanto, o STJ
esse ano disse que não. O ITBI não se baseia no valor cadastrado na Prefeitura.

Contribuintes: qualquer das partes do negócio, tanto o alienante quanto o adquirente.


Normalmente, se atribui ao adquirente que paga e registra (só registra se demonstrar o
pagamento do ITBI, porque o tabelião se torna responsável pela sucessão e transmissão).

Lançamento: declaração, é com base na declaração de compra e venda que o Fisco vai lançar
o tributo.

Aula 14 | 18/10/2022

3- Imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS/ISSQN

Previsão legal: art. 156, III, CF, Decreto-lei 406/68 e Lei complementar 116/2003.

Na redação original, o ISS estava previsto no art. 156, IV, CF, mas foi revogado o imposto
sobre venda a varejo dos combustíveis no inc. III e a EC remunerou o dispositivo.

O ISS foi criado com a Emenda 18/65 na Constituição de 46. Existia um antigo imposto sobre
indústrias e produções extinto e substituído pelo ISS.

Os dispositivos que falavam sobre tributação do consumo municipal no CTN foram


revogados, então, o CTN não trata deste imposto.

Em 68 saiu o DL 406, que durante anos trouxe as normas gerais sobre o ISS, inclusive
algumas sobre o ICMS, até que em 2003 foi editada a LC 116 que traz as normas gerais do
ISS, que não revogou totalmente o DL 406.

Características:

a- Fiscal: função arrecadatória.

b- Real: incide sobre o serviço independente das características do contribuinte.

c- Indireto: comporta o fenômeno jurídico da repercussão, isto é, o ônus tributário é


repassado do contribuinte ao consumidor/tomador de serviço.
Art. 156, III, CF: “Definidos em lei complementar”, aqui tem-se uma referência extra à lei
complementar, além daquelas que estão no art. 146, CF (que diz: em relação aos impostos
discriminados na CF, a lei complementar trará normas gerais sobre o fato gerador, base de
cálculo e contribuintes).

Além disso, o ISS terá que definir os serviços, ou seja, para alguns, definir é especificar quais
serviços podem ser tributados, para outros isso retiraria a autonomia municipal e, portanto,
essa definição trata de eventuais conflitos entre ISS e ICMS. O STF entendeu que a definição
é estabelecer todos os serviços que podem vir a ser tributados pelo juiz. Sendo assim, a LC
116 traz uma lista anexa com uma relação item a item dos serviços que podem ser tributados
pelos municípios.

O ICMS é um imposto que tem 27 legislações diferentes (26 estados + DF). Em relação ao ISS,
tem-se mais de 5 mil e 500 municípios + DF, imagine se cada um tributar o serviço de uma
forma. Logo, a preocupação do legislador foi reduzir o âmbito tributário de cada um deles.

O STF estabelece que essa lista anexa é taxativa, ou seja, só podem ser tributados os serviços
que estão listados, não cabendo tributação por analogia.

No entanto, o STF admite a interpretação extensiva, isto é, aquele que não foge à definição
porque as definições são amplas e utilizam expressões como: “serviços tal e da mesma
espécie, ou e outras formas de prestação de serviço” (cláusulas gerais).

Isso cria um engessamento da tributação dos serviços. Exemplo: na lista anexa não tem
serviço de youtuber ou streaming, porque é algo atual e posterior à CF e à LC 116. Logo,
vários novos serviços deixam de ser tributados ou passam um bom tempo sem ser
tributados, ainda mais com a inovação tecnológica.

Os novos serviços só podem ser tributados se se enquadrarem nos serviços já previstos na


lista anexa do ISS. Exemplo: Se o serviço de sobrancelha design é equivalente ao de salão de
beleza, será tributado.

Art. 156, § 3º, I, CF: Fixação das alíquotas máximas e mínimas, a fim de evitar guerra fiscal e
disparidade de alíquotas.

A LC 116 inicialmente estabeleceu alíquota máxima de 5% (teto). Não previu o piso, mas o
ato das disposições constitucionais (ADCT) estabeleceu em 2%. Posteriormente, a LC
157/2016 alterou a LC 116 e previu a alíquota mínima também de 2%.

II: Não tornou imune, delegou à LC a possibilidade de restringir a tributação na exportação


de serviços. A LC 116 prevê essas hipóteses. Essa possibilidade serve até para definir quando
se tem a exportação de serviços, porque é um conceito mais complexo a exportação de
serviços. Quando se exporta serviços? É só o fato do tomador estar fora do país?

III: Limitação para concessão de benefícios fiscais e sanções atribuída à LC, tirando a
possibilidade do município fazê-lo.

Fato gerador:
Serviços: O STF entendeu que quando o legislador utilizou “serviços” estava utilizando ao
conceito privatista previsto no CC, que é o de obrigação de fazer onerosa. O “fazer” é
necessário ter ação/esforço de alguém para fazer algo em favor de outro. Ex: carona.
Diferente de uber, que consiste em uma prestação de serviço, uma obrigação de fazer
onerosa.

Ainda, discute-se que a prestação de serviço deve ser habitual. A doutrina discorda porque
diz que em caso de empresa com vários objetos sociais, o fato de ter um serviço que presta
mais do que outro descaracteriza a habitualidade do serviço.

Com base nesse conceito, o STF editou a Súmula Vinculante 31: “É inconstitucional a
incidência de imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS sobre as operações de
locação de bens móveis”. Máquinas e equipamentos também estão fora da incidência do ISS.

O STF entendeu que uma locação de bem móvel (Ex: carro), por não ser uma obrigação de
fazer, não está sujeita ao ISS. A locação é uma obrigação de dar alugado o veículo, a pessoa
remunera e depois devolve o bem.

Leasing ou arrendamento mercantil: Se assemelha a uma locação de um bem móvel, porque


você entrega o bem, a pessoa paga para usá-lo e compra no final. O STF entende que a
principal característica do leasing é o financiamento e o objetivo é a compra, não se
assemelhando a locação de bem móvel. Portanto, do contrato de leasing haveria incidência
do ISS.

Plano de saúde: Garante apenas a parte financeira. Exemplo: se eu vou ao médico, quem
presta serviço é o médico. Se o médico aceitar o plano de saúde, é uma mera forma de, ao
invés de eu remunerá-lo diretamente, o plano vai remunerá-lo. Então, o plano presta um
serviço do ponto de vista de obrigação de fazer diretamente. O STF decidiu que ele não está
sujeito aos arts. 109 e 110, CTN, que a legislação infraconstitucional não pode vincular
interpretação constitucional. A interpretação constitucional parte do pluralismo
metodológico. Para interpretar o STF se utiliza da interpretação gramatical, sistemática,
teleológica, histórica, evolutiva.

Serviço de qualquer natureza: Para o STF havia um conceito próprio constitucional de


serviço que seria um conceito econômico. Passou a entender que “serviço de qualquer
natureza” é o oferecimento oneroso e eventual de uma utilidade a outra, ou sela, “utilidade”
pode abarcar qualquer atividade econômica. O STJ entendeu que o resultado lucro não é
obrigatório. Assim como o inadimplemento não faz com que o serviço não tenha sido
prestado.

Operações mistas: Ocorre quando se tem a entrega de mercadoria com a prestação de


serviços junto.

Regras:
1- Se tiver previsto como serviço no anexo da LC 116 será tributado pelo ISS, ainda que
tenha mercadoria envolvida. Ex: streaming (como é tributado pelo ISS, não pode ser
tributado pelo ICMS).

2- Quando não está previsto como serviço tributado no anexo da LC 116. Art. 155, § 2º, CF:
nesse caso, incide o ICMS sobre a totalidade da operação, o que inclui mercadoria e serviço.
Ex: bares, restaurantes e lanchonetes. Súmula 163, STJ: O fornecimento de mercadorias com
a simultânea prestação de serviços em bares, restaurantes e estabelecimentos similares
constitui fato gerador do ICMS a incidir sobre o valor total da operação.

Construção civil é considerado serviço. O que faz parte da construção, como um elevador e
todo o material que está na construção faz parte do serviço e, portanto, é tributado pelo ISS.

3- Quando puder haver a separação/fatoração entre o serviço e a mercadoria. Ex: revisão de


veículo na oficina e compra de materiais. A lei permite a separação, no qual o serviço será
tributado pelo ISS e a mercadoria comprada pelo ICMS.

Festas e buffet: A LC diz que.bebidas e alimentos pelo ICSM, todo o resto pelo ISS.

4- Zona de penumbra: A lei não é clara (dúvida), o STF tem utilizado o conceito de
predominância/preponderância. Ex: farmácias de manipulação, quando você entrega a
receita para a farmácia produzir seu medicamento, é fornecimento de mercadoria ou
prestação de serviço? Incide o ISS, por entender que aquilo foi customizado em detrimento
da mercadoria de prateleira, que é oferecida ao público em geral, assim, incidindo o ICMS.

Obs: Incide o IPI quando qualquer um pode comprar aquela mesma coisa. E incide o ISS
quando foi feito sob medida para aquele consumidor específico (industrialização por
encomenda).

Software: Incide o ISS. Para incidir o ICMS tem que ter o corpo mecanismo, isto é, um
suporte físico.

Alíquotas: A CF diz que a LC vai fixar alíquotas mínimas de 2% e máximas de 5%.

Base de cálculo: A LC 116 diz que é o preço do serviço, pelo qual se cobra pelo serviço. No
entanto, o DL 406 prevê uma hipótese de ISS fixo, que é aquele que não incide um percentual
sobre uma base de cálculo, mas um valor fixo por período. Prevê um benefício para os
profissionais autônomos liberais ou aqueles que estão em sociedade e atividade
regulamentada de cunho intelectual a opção de não pagar o ISS sobre o preço do serviço e
pagar o ISS fixo. Ex: na advocacia você pode prestar uma atividade profissional sozinho ou
em uma sociedade, em que cada profissional responde pelos seus atos.

Sujeitos:

a- Sujeito ativo: O DL 406 estabelece que é o do local do estabelecimento do prestador e a LC


116 acrescentou uma lista com 22 incisos e exceções. Ex: construção de estrada que passa de
um município para outro, então, cada trecho é pago pelo seu município.
Há uma concentração do ISS para os grandes municípios, então, quem utiliza Netflix,
provavelmente paga ISS para SP ou RJ. O STF decidiu que essa é uma questão
infraconstitucional e o STJ diz que, embora seja uma regra injusta, por beneficiar os grandes
municípios, protege o contribuinte de ser cobrado por dois ou mais municípios.

b- Sujeito passivo: PF, PJ, sociedade ou profissional autônomo, com ou sem estabelecimento
fixo.

Não são contribuintes quem presta atividade em relação de emprego. Ex: um professor é
empregado da UNICAP, ele não paga ISS.

Lançamento: Por homologação. É o próprio sujeito passivo que verifica a ocorrência do fato
gerador, interpreta a legislação, apura o tributo, declara e antecipa o pagamento. O Fisco
apenas vai homologar ou não e lançar as diferenças.

Aula 15 | 22/10/2022

Processo tributário:

Quando se fala em processo tributário, tem-se o processo administrativo tributário (PAT) ou


processo administrativo fiscal (PAF) e o processo judicial tributário.

O processo administrativo tributário é composto pelo processo administrativo de


determinação ou dispensa dos créditos tributários, que ocorre com a revisão do lançamento
conforme os arts. 145 e 149, CTN

O processo judicial tributário, na verdade, não é uma espécie autônoma de processo, porque
não há um código de processo judicial tributário, mas algumas especificidades da lei
tributária que fazem com que seja necessário o seu estudo mais aprofundado.

O CTN quase não trata de processo administrativo nem de processo judicial.

Procedimento e processo administrativo:

Ao falar em processo administrativo tributário precisamos fazer aquela distinção entre


processo e procedimento.

Art. 5º, LV, CF: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes. Portanto, a CF trata tanto do processo judicial como do processo administrativo
que é gênero da espécie processo administrativo tributário.

O procedimento é o momento anterior (art. 142, CTN), isto é, ele indica o lançamento, em
qualquer de suas modalidades, seja de ofício, por declaração ou por homologação, que não
tenha sido ainda impugnada pelo sujeito passivo, se exaurindo com o pagamento. Na
obrigação tributária, nasce o fato gerador. O sujeito é notificado, ele paga ou não paga.
Portanto, o procedimento é uma fase não contenciosa de constituição do crédito tributário.
Quando é que se inicia o PAT ou o PAF? Tem início com a impugnação do lançamento feito
pelo sujeito passivo, que instaura a fase litigiosa contenciosa do procedimento. Assim, só é
possível falar de processo administrativo tributário se houver impugnação/defesa ou
irresignação por parte do sujeito passivo. Isso na forma da lei, dentro do prazo.

Art. 145, CTN: O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado
em virtude de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de
ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no CTN, art. 149.

Auto de infração versus notificação fiscal:

Atenção! Não confundir auto de infração com o lançamento ou com a notificação fiscal de
lançamento de débito (NFLD).

No auto de infração sempre deve ter uma penalidade sendo imposta (devido a uma
infração), que pode ser autônoma ou pode vir combinada com a cobrança do tributo.

Já na notificação fiscal de lançamento, cobra-se o crédito tributário relativo ao tributo.

Art. 113, CTN: A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em
obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.

O contencioso administrativo tributário não tem função jurisdicional, isso porque, no Brasil,
a jurisdição é UNA, em razão dos princípios da universalidade da jurisdição e da
inafastabilidade do poder judiciário. Portanto, o processo administrativo tributário faz parte
do processo administrativo que, por sua vez, pertence à administração tributária e,
consequentemente, não tem qualquer relação com o poder judiciário, ele corre na própria
administração que tem o dever de rever os seus atos e rever a legalidade dos seus atos. O
crédito se suspende automaticamente na defesa. No processo judicial vai precisar gastar
saliva para que não seja impugnada uma ação para depósito, etc.

Na CF/88, a competência é concorrente entre a União, Estados, DF e Municípios para legislar


tanto sobre direito tributário como sobre procedimentos (art. 24, I e XI, CF). É por isso que
nós não temos um código de processo administrativo tributário, tendo em vista que, cada
ente tem a sua própria legislação de processo administrativo tributário. Daí o porquê que é
tão difícil trabalhar com PAT, uma vez que para cada notificação/autuação, a primeira tarefa
do advogado é pegar a lei específica do processo administrativo tributário daquele
determinado ente, do qual emanou o ato, para verificar prazos, condições e requisitos, e,
assim, possa se defender e impugnar na esfera administrativa.

Na esfera federal, nós temos alguns diplomas que tratam sobre o PAT, o mais importante
deles é o Decreto 7.235/72. Na época que foi editado não existia a exigência de lei para tratar
desse assunto, de modo que foi um decreto, mas o STF entendeu em mais de um ADIn
(especialmente na ADI 1966-7), que ele foi recepcionado materialmente como uma lei. Então,
nós temos um decreto que, hoje, só pode ser modificado ou alterado por lei. Tanto é que leis
posteriores federais que trataram sobre o processo administrativo tributário federal tiveram
que ser editadas para alterar esse decreto.
O novo CPC se aplica de forma supletiva e subsidiária ao PAT, porque o PAT é espécie ou
subespécie de processo administrativo (art. 15, CPC).

Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as


disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

Vantagens do processo administrativo tributário:

Então, para quê alguém vai entrar com um processo administrativo, se existe o processo
judicial? O processo administrativo tem algumas vantagens.

1- A primeira e mais importante delas é que as impugnações e recursos administrativos são


causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, III, CTN). Toda
reclamação e todo recurso previsto em lei tem efeito suspensivo. Então, basta você interpor
na forma da lei, isto é, no prazo e seguindo os requisitos formais previstos em lei, que ele vai
suspender a exigibilidade do crédito.

2- Diferente do processo judicial, no qual é preciso ter uma decisão judicial ou uma tutela
antecipada, ou uma liminar em mandado de segurança, que determine a suspensão da
exigibilidade. Então, o simples processo judicial não suspende. Se você tiver o processo
administrativo tributário em curso, ele também inibe o ajuizamento da execução fiscal.
Então, enquanto estiver suspensa a exigibilidade, não pode nem ser ajuizada a execução
fiscal nem pode impedir a obtenção de certidão positiva com efeito de negativa - CPDEN,
mesmo efeito da CND (art. 206, CTN).

3- O processo administrativo não exige a presença de advogado (capacidade postulatória).

4- Impede o recebimento da denúncia penal enquanto crédito tributário não estiver


definitivamente constituído (Súmula Vinculante nº 24, STF). Então, enquanto estiver no
curso processual administrativo tributário, se for o caso de crime contra a ordem tributária,
não pode haver o recebimento de denúncia penal.

5- Análise técnica na revisão do lançamento. Então, os auditores (Vara especializada -


Fazenda Pública que discute também o direito tributário) são treinados para fazer a análise
técnica, contábil e tributária dos créditos. Muitas vezes, o poder judiciário não tem o
conhecimento, porque o juiz tem que decidir as mais variadas questões.

6- Não tem o pagamento de custas (gratuidade de custas) por conta do direito constitucional
de petição aos órgãos públicos, independentemente de taxa.

Desvantagem do processo administrativo tributário:

O PAT não impede a fluência de juros e a aplicação da correção monetária. Então, enquanto
estiver pendente de decisão continua fluindo juros e correção monetária.

Aula 16 | 25/10/2022
Princípios do processo administrativo tributário:

1- Princípios processuais na própria CF/88:

a- Ampla defesa, devido processo legal e contraditório (art. 5º, LIV e LV, CF): LIV-
Ninguém será privado da liberdade ou de seus direitos sem o devido processo legal. LV-
Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Portanto, esses princípios processuais se aplicam não apenas ao processo judicial como ao
processo administrativo tributário.

b- Direito de petição (art. 5º, XXXIV, CF): São a todos assegurados independentemente do
pagamento de taxas: o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou
contra ilegalidade ou abuso de poder e de obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. Daí porque tem se
entendido desde então, no Brasil, que o processo administrativo decorre do simples direito
de petição perante a administração tributária, que não pode ser um direito restringido ou
cerceado pela cobrança de custas ou de qualquer taxa. As defesas administrativas, por conta
desse direito de petição, são gratuitas.

c- Princípio da isonomia tributária (art. 5º, CF): São todos iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza. Esse é um princípio que norteia todo o nosso direito.

d- Princípio da segurança jurídica: É o norte do nosso direito à liberdade, à igualdade, à


segurança e à propriedade. O processo administrativo tributário se volta para essa
segurança jurídica no acertamento voltado à constituição definitiva do crédito ou ao seu
cancelamento.

e- Princípio da publicidade: A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais


quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Discussão do art. 198, CTN
sobre o sigilo fiscal. O PAT corre em sigilo, significa dizer que as pessoas não podem ter
acesso ao conteúdo do processo administrativo alheio, só o interessado é que pode ter total
conhecimento do seu processo administrativo. O que não é o caso quando se torna processo
judicial, porque tem ampla publicidade, salvo nas exceções previstas processualmente em
que pode haver sigilo processual, e não se aplica com frequência o processo judicial
tributário.

f- Princípio da duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF): Foi introduzido em
nosso ordenamento com a EC 45/2004. O objetivo é assegurar que o processo seja célere. O
processo administrativo, no Brasil, é sempre muito lento, em regra, se desenrolando durante
vários anos, assim como o processo judicial.

O STF entendeu que o princípio da razoável duração do processo se aplica ao processo


administrativo tributário e judicial.

A duração razoável do processo, embora seja uma garantia, é uma cláusula pétrea.
O STJ tem duas posições importantes: I- A demora na tramitação do processo administrativo
fiscal não implica a perempção do direito de constituir definitivamente o crédito tributário,
porque é um instituto não previsto no CTN. O CTN só trata de dois prazos: o decadencial e
o prescricional. O prazo para extinguir o crédito é o decadencial. O prazo para cobrar
judicialmente é o prescricional. O prazo prescricional só se inicia com a instituição definitiva.
Se há uma impugnação, uma reclamação, uma defesa, o crédito se considera efetivamente
extinto. Portanto, entre a decadência e prescrição, no curso do processo administrativo, não
corre qualquer prazo.

Então, mesmo que demore o processo administrativo, isso não vai se importar em prazo
extintivo, decadencial nem prescricional. E esses prazos também não correm durante o
processo administrativo tributário. Dessa forma, sabe-se que até a ciência dada ao sujeito
passivo do lançamento corre a decadência, depois de constituído o crédito definitivamente é
que se inicia o prazo prescricional para o ajuizamento da execução fiscal, mas durante o
curso do processo administrativo, que já se encerrou a contagem do prazo decadencial e não
se inicia o prazo prescricional, não corre prazo algum. Já houve quem defendesse prescrição
intercorrente, mas nós não temos previsão legal para isso.

II- Por outro lado, a jurisprudência tem admitido o mandado de segurança para obrigar o
Fisco a decidir o processo administrativo quando ele passa do limite razoável, especialmente
quando a lei administrativa prevê prazos.

O CPC se aplica subsidiariamente ao processo administrativo (arts. 4º e 6º, CPC), portanto,


essas regras se aplicam ao processo administrativo tributário, ainda que não esteja previsto
expressamente na lei do processo administrativo tributário diante do tributante.

g- Princípio do duplo grau administrativo (art. 5º, LV, CF): No processo judicial tem-se
hipótese de exame/remessa obrigatória, que é a revisão obrigatória, independe de recurso. É
o direito ao recurso. O STF declarou que isso inclui também o processo administrativo. A
ideia de um recurso hierárquico a um órgão superior que seja monocrático ou colegiado.
Então, significa dizer que, mesmo que a lei do processo administrativo não preveja, é um
direito do sujeito passivo (contribuinte) ter, pelo menos, o direito a um recurso, por ser uma
garantia constitucional. Às vezes, tem previsão de até mais de um recurso, mas tem que ter,
no mínimo, a possibilidade de recorrer uma vez no processo administrativo.

O STF reconheceu que esse é um direito do contribuinte que se aplica ao PAT.

Dentro dessa questão sempre houve um debate sobre o depósito recursal administrativo. Era
muito comum a exigência de depósito parcial do débito para se ter o direito de recorrer, ou
seja, vários entes tributantes estabeleciam como requisito de admissibilidade (para que o
recurso pudesse ser conhecido - garantia do crédito), um depósito de, no mínimo, 30%
(esfera federal). Se não o fizesse, o recurso não era conhecido. E durante muitos anos, isso
não era sequer debatido mais, porque o STF entendia que não violava a CF. Se houvesse o
depósito integral, haveria a suspensão da exigibilidade do crédito, que é uma forma de
resguardar o sujeito passivo da fluência de juros e correção monetária.
O STF mudou o entendimento e editou a Súmula Vinculante nº 21: É inconstitucional a
exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de
recurso administrativo.

Então, para recorrer não se pode mais e não há mais a exigência de depósito administrativo
para que seja conhecido o seu recurso.

O STJ entende que o depósito é um direito subjetivo do contribuinte. Tem-se uma cláusula
de suspensão da exigibilidade do crédito. O STJ entendia que o depósito era liberatório da
fluência de juros e correção monetária, que a instituição financeira responderia por ele.

Editou a Súmula 112: Somente suspende a exigibilidade do crédito tributário, se o depósito


for integral e em dinheiro. E entendeu que ele não poderia ser exigido e depositado, porque
seria um direito do próprio sujeito passivo, isso significa que se exige depósito prévio como
requisito de admissibilidade do recurso. Assim, se o processo administrativo ou judicial for
desconstituído, o depositante levanta o crédito depositado e se for mantido, o depósito é
convertido em renda, e essa é uma causa extintiva do crédito (depende do trânsito em
julgado).

Recentemente, a primeira seção do STJ decidiu que o depósito não é liberatório da dívida em
relação a juros e correção monetária. Essa decisão não mencionou o crédito tributário.

h- Princípio da motivação (art. 93, IX, CF): Este artigo apenas se refere aos órgãos do poder
judiciário (decisões judiciais). No processo administrativo tributário federal existe a previsão
expressa no art. 2º, da Lei 9.784/99, sobre fundamentação. O STF decidiu que motivação e
fundamentação são requisitos de validade de qualquer ato administrativo. Por conta dos
princípios da ampla defesa, do devido processo legal e do contraditório, tem-se entendido
que este princípio se estende ao processo administrativo tributário plenamente vinculado.

2- Princípios básicos da administração pública:

Além disso, todos os princípios básicos da administração, aqueles do art. 37, CF: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência se aplicam ao processo administrativo
tributário, sendo parte do processo administrativo e, portanto, um ato da administração
pública.

3- Princípios específicos do processo administrativo fiscal/tributário:

a- Princípio da verdade real ou material: Enquanto no processo judicial a verdade é formal


(seguir ritos, ter tal tipo de prova, isto é, as coisas são herméticas), o processo administrativo
é mais flexível, o objetivo é verificar se ocorreu, em relação a quem ocorreu, como ocorreu o
fato gerador. A busca é identificar a verdade dos fatos (enfrentasse o conteúdo, a realidade).

b- Princípio da informalidade ou formalismo moderado: É um processo menos formal, por


isso que se fala também em princípio da informalidade ou formalismo moderado, porque a
busca dele é encontrar a verdade material, é desvendar se o crédito existe ou se não existe.
A Lei do processo administrativo tributário federal (Lei 9.784/99), no art. 2º, IX diz que se
deve adotar formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza e respeito
aos direitos dos administrados. Significa que o processo administrativo tributário é menos
formal do que o processo judicial, o que não significa que ele não tenha suas próprias
formalidades e requisitos.

c- Princípio da oficialidade: No processo judicial se chama de impulso oficial, que é


semelhante no processo administrativo. Então, deve haver o impulso oficial ao PAT. A
própria autoridade deve buscar a verdade dos fatos e promover os atos necessários para que
se esclareçam os fatos.

Esses princípios são muito utilizados para alegar a invalidade do lançamento, de auto de
infração, de uma decisão em PAT. Para que haja a invalidação, é necessário provar o prejuízo
de causalidade, isto é, mostrar que aquele ato causou prejuízo. Existe um princípio geral
processual que entende que não há nulidade sem prejuízo.

Fases do processo administrativo:

1- Instauração: É a partir da reclamação na forma da lei que se inicia o PAT. Não há PAT sem
defesa, sem impugnação, sem litígio.

2- Preparação e instrução: No processo administrativo também cabe a produção de provas


(pode-se ter diligências, vistorias, perícias).

3- Julgamento: Vai até a decisão de primeira instância administrativa.

4- Recurso: Vai da decisão de primeira instância até quando não caber mais recurso, isto é,
até a última decisão recursal.

Art. 145, CTN: Existem dois tipos de recurso, o recurso voluntário (próprio do sujeito
passivo) e o recurso de ofício (que é o reexame necessário, nos casos apenas previstos em
lei).

Decisão administrativa e recursos:

Em geral, das impugnações, reclamações, defesas, há uma decisão de um julgador


monocrático (julgado por uma única pessoa). Já nos recursos inspirados no processo judicial
geralmente há um colegiado (três ou mais julgadores).

Na esfera federal, o órgão de julgamento do recurso se chama Conselho Administrativo de


Recursos Fiscais (CARF). Em PE tem-se o Tribunal Administrativo Tributário do Estado
(TATE).

Composição desses colegiados:

Em alguns casos, a composição é: Auditores fiscais nomeados de forma temporária ou


definitiva para exercer o cargo julgador. Em outros casos, a lei estabelece uma composição
paritária, isto é, metade de auditores fiscais e a outra de representantes dos contribuintes.
No CARF, que é federal, é paritário. O CARF se chamava Conselho de Contribuintes, por
justamente ter a composição paritária. É um caso à parte porque existe um concurso próprio
somente para julgador CARF, embora esse julgador seja servidor da Secretaria da Fazenda,
esses julgadores não são auditores fiscais.

O problema de se ter empate é que geralmente as composições das turmas são ímpares, mas
pode ocorrer de ter alguém impedido ou faltar e se ter empate. A regra do desempate se dá
por meio do voto de qualidade (alguém terá que decidir).

Regras relativas à administração tributária: Ao tratar do processo administrativo tributário


devemos lembrar que a administração tributária é a atividade essencial do estado, de acordo
com o art. 37, XXII, CF que diz que é uma atividade prioritária para a realização das
atividades do estado e que os Fiscos federal, estadual, do DF ou municipal deverão,
inclusive, trabalhar de forma integrada com o compartilhamento/troca de cadastros e de
informações fiscais, na forma da lei ou do convênio (EC 42/2003), entre as diferentes
administrações tributárias.

Fiscalização tributária: O CTN apenas trata de fiscalização e da dívida ativa. A fiscalização


faz parte do poder-dever do estado investigar e também do seu poder de polícia na sua
atividade impositiva. De nada adianta o imposto se a administração não pode verificar a
ocorrência dos fatos geradores. É uma fase inquisitória, anterior ao PAT.

É a atividade própria do estado, impositiva, que deveria investigar o poder de polícia do


estado (faz parte da fase inquisitorial ou do caráter instrutório do crédito tributário). Ainda
não há processo, porque só há processo quando houver impugnação da defesa por parte do
interessado, do contribuinte.

Na fiscalização existe um dever de colaboração e de suportar a fiscalização por conta do


princípio da supremacia do interesse público sobre o privado (art. 37, XVIII, CF).

Outro fundamento encontrado para esse poder de fiscalização da administração tributária


está no § 1º, art. 145, CF, que trata do princípio da capacidade contributiva. Para identificar
essa capacidade contributiva/econômica, o Fisco pode identificar o patrimônio, os limites e
as atividades econômicas do contribuinte, respeitando os direitos e garantias fundamentais.
Fora dessas garantias, poderá realizar sua fiscalização.

O dispositivo que trata do princípio da capacidade contributiva (art. 145, § 1º, CF) diz que
para aplicar a capacidade contributiva é facultado à administração tributária, especialmente
para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e
nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Portanto, as atividades de fiscalização encontram guarida constitucional com as limitações


previstas no art. 5º, CF, como inviolabilidade da intimidade, da residência e de sigilo postal
de comunicações de dados.

Art. 194, caput e parágrafo único, CTN: A lei terá que prever os poderes de fiscalização das
autoridades fiscais que pode ser diferente para cada um.
A fiscalização vai ter que seguir os seguintes artigos:

Art. 195, CTN: A lei não pode restringir o acesso da alíquota fiscal. Se for realizar a
fiscalização tem que ter amplo acesso a todos os documentos fiscais obrigatórios.

Parágrafo único: Eu tenho que guardar por quanto tempo o comprovante? Durante o prazo
decadencial. Enquanto o Fisco ainda tiver a possibilidade de constituir o crédito. O prazo
decadencial é quinquenal (5 anos). A forma de contagem da decadência é diferente para
cada tipo de lançamento (de ofício, por homologação ou por declaração). Ainda existe a
possibilidade de se iniciar o prazo decadencial quando o lançamento anterior é extinto por
vício formal. Para cada tipo de tributo, deve-se analisar que é 5 anos a partir de quando?

Portanto, tem-se amplos poderes de investigação relacionados aos fatos abarcados dentro do
prazo decadencial e observados os direitos e garantias individuais. Todos estão sujeitos e
devem suportar a fiscalização tributária, exibir documentos, exibir livros comerciais. Em
relação ao prazo decadencial, para cada documento é preciso observar quanto tempo de
guarda é necessário e obviamente isso vai depender de quando se considera constituído
cada crédito e vai depender de que tipo de lançamento ocorreu.

Art. 196, CTN: A lei terá que prever em quanto tempo ocorrerá a fiscalização, para não ser
abusiva. Deve-se registrar quando iniciou a fiscalização e quando terminar. A contagem do
prazo decadencial: O prazo final retroage para o início da fiscalização.

Parágrafo único: Esse documento, na maioria dos casos, é eletrônico e precisa sempre ter um
prazo de início e prazo final, porque ninguém pode ficar eternamente sujeito à fiscalização.

Sigilo fiscal:

Art. 197, CTN: Algumas pessoas estão obrigadas a prestar informações fiscais de terceiros,
como tabeliães, inventariantes, administradores de bens, etc. A exceção é que está obrigado
por lei a manter sigilo, como o advogado. Todo aquele que a lei proteger não vai ser
obrigado a prestar informação.

Art. 198, CTN: Em princípio os dados dos contribuintes são sigilosos, a autoridade fiscal
quando toma conhecimento desses dados, não pode publicizar. A autoridade judicial pode
quebrar esse sigilo. A autoridade administrativa pode intercambiar informações, não sendo
considerado uma quebra de sigilo.

O princípio da publicidade é restrito no processo administrativo tributário, porque, nesses


processos, esses dados se limitam apenas ao próprio interessado, não podendo ser
divulgados. Mesmo as decisões que têm acórdãos publicados saem sem detalhes ou sem
todo o conteúdo das operações realizadas por conta desse sigilo.

§ 1º: Executam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os seguintes:
I- Requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça. Então, não tem sigilo para o
poder judiciário, diante de um processo penal. II- Solicitações de autoridade administrativa
no interesse da administração pública, desde que seja comprovada a instauração regular de
processo administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o
sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração administrativa.

Sigilo bancário:

Sigilo bancário, isto é, será que o fisco teria acesso a dados bancários do sujeito passivo, sem
autorização judicial? A LC 105/2001, no art. 6º, conferiu esses poderes ao fisco de, sem a
dependência de autorização judicial, requisitar diretamente à instituição financeira
informações protegidas pelo sigilo bancário.

Primeiramente, o STF entendeu que não poderia, por estar protegido pela privacidade e
intimidade, mas o STF mudou de entendimento e passou a entender que era constitucional
esse dispositivo e, portanto, o fisco pode obter essas informações globais, ou seja, a
totalidade da movimentação, sem acesso a questões específicas de saber a origem e o destino
daqueles recursos, o que só pode ser obtido mediante decisão judicial, isso é uma forma de
verificar a quantidade de recursos que transitam nas contas e nas aplicações financeiras, para
verificar se são condizentes com o patrimônio declarado do sujeito passivo.

Esse dispositivo também trata da possibilidade de permuta de informações entre as fazendas


públicas. Isso foi estendido também por outras leis ao MP, ao Tribunal de Contas e às CPIs.

§ 2º: O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da administração pública, será


realizada mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita pessoalmente à
autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a
preservação do sigilo.

§ 3º: Não é vedada a divulgação de informações relativas a: I- Representações fiscais para


fins penais. II- Inscrições na dívida ativa da fazenda pública. III- Parcelamento ou moratória.

Nesses três casos, eles podem ser divulgados. Então, a pessoa pediu parcelamento, vai ter
uma lista que vai ser divulgado quais são os parcelamentos. Depois que se inscreve na
dívida ativa, acaba o sigilo. Toda inscrição na dívida ativa é pública, ou seja, podendo ser
verificada. No caso das representações fiscais para fins penais não tem mais sigilo, já que se
está falando de processo criminal.

Controle de constitucionalidade pelos tribunais administrativos:

Os tribunais administrativos poderiam fazer o controle de constitucionalidade das leis?


Ocorre que, por conta da separação dos poderes e por ser atividade administrativa
vinculada, ele não pode fazer esse controle constitucional. Portanto, de nada adianta você
alegar, no processo ativo, a inconstitucionalidade. Então, se o seu fundamento é que
determinada lei ou determinado ato administrativo é inconstitucional, você deve recorrer
diretamente ao poder judiciário, porque à administração tributária é vedado conhecer essas
questões e realizar o controle de constitucionalidade. Isso, inclusive, foi previsto
expressamente no processo administrativo tributário federal e regra semelhante foi
incorporada nas legislações dos processos administrativos nos estados e nos municípios.

“Coisa julgada administrativa”:


Coisa julgada é aquela decisão judicial de quem já não caiba mais recurso, como diz a Lei de
introdução às normas do direito brasileiro.

Embora se fale em coisa julgada administrativa, não é propriamente uma coisa julgada, mas
apenas quer dizer que a decisão administrativa não é mais passível de recurso, na esfera
administrativa. Portanto, é uma impropriedade, porque ela sempre pode ser vista pelo
poder judiciário. Então, quando não cabe mais recurso na esfera administrativa, a solução é
ingressar em juízo, por conta do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV,
CF).

“Coisa julgada administrativa”: Refere-se a decisão administrativa irreformável desfavorável


ao contribuinte na esfera administrativa, seja por pagamento ou pela inscrição em dívida
ativa. A isso caberia medida judicial.

Aula 17 | 10/11/2022

Aspectos peculiares do direito tributário nas questões processuais relevantes que versam
sobre obrigações tributárias, diante da diferenciação do litígio tributário, sobretudo da
imposição unilateral da obrigação tributária pelo fisco em relação ao sujeito passivo.

As decisões da autoridade administrativa não são auto executórias (não pode invadir o
patrimônio do particular sem o poder judiciário).

O contribuinte somente pode se socorrer do poder judiciário para se livrar de uma cobrança
indevida.

Aplica-se todos os princípios do processo judicial: inafastabilidade do poder judiciário,


devido processo legal, ampla defesa e contraditório, duplo grau de jurisdição, motivação das
decisões judiciais.

É comum os pedidos de tutela antecipada e liminar, sobretudo para afastar o princípio do


direito romano “solve et repete”, que significa pagar para depois restituir.

A expressão “fazenda pública” significa o fisco atuando em juízo.

Sendo a fazenda pública parte necessária no processo, goza de prerrogativas e privilégios no


processo, como prazos alargados (prazo em dobro), reexame necessário, o direito às
intimações pessoais das decisões, dispensa do pagamento de custas, regime de precatórios, e
no caso das demandas em face da União Federal, com a prerrogativa de foro da justiça
federal. Nada disso é particular do direito tributário.

Ações antiexacionais: Exação = cobrança. São ações que competem ao contribuinte se opor à
imposição do estado.

1- Rito ordinário:

Lei de execução fiscal - LEF (Lei 6.830/80) no art. 38 faz menção a essas ações ordinárias.
a- Ação declaratória de matéria tributária:

Tem por objetivo reconhecer judicialmente (declarada) a existência, a forma ou a inexistência


que depende de vínculo jurídico obrigacional de caráter tributário. Portanto, o objetivo é
esclarecer ou acertar essa relação jurídica tributária. Pode-se ter uma declaração positiva ou
negativa. A ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária é negativa, mas
pode-se ter uma de existência de relação jurídica tributária que é uma ação positiva.

Art. 19, CPC: Pode ser uma declaração positiva ou negativa.

Art. 20, CPC: Quando há a violação do direito no direito tributário? Tem que ter o
lançamento para que haja a violação, isto é, um ato administrativo que viole o direito, isso
não é requisito de admissibilidade, pode ter havido ou não a violação do direito, pode-se ter
somente a expectativa, de forma que eu posso me precaver, assim, já ajuizando uma ação.

A ação declaratória não pode envolver mero direito, em tese, pode ser uma espécie de
consulta genérica. Ela tem que ter uma incerteza objetiva, isto é, aquela pautada nos fatos.
Ex: eu sou contribuinte, quero executar uma atividade e a lei se refere a minha situação
dizendo que se aplica da forma A e não B. Eu não posso entrar com uma ação para dizer
“digamos que tal lei seja aprovada”, não cabe declaração. Então, eu tenho que ter uma
situação objetiva.

Pode-se aplicar quaisquer tipos de tributos e penalidades, e quaisquer obrigações tributárias,


tanto principal como acessória.

Tem efeito dúplice, ou seja, vai produzir efeito sendo julgada procedente ou improcedente,
porque se eu pleiteei a declaração de inexistência da relação jurídica tributária e ela é julgada
improcedente, ela confirma a existência daquela relação jurídica.

Pode-se ter uma ação declaratória pura ou mista. Pura: Aquele que não é cumulada com
outro pedido, basta a declaração. Mista: Eu posso cumular com outros pedidos, com ação
anulatória ou com ação de repetição do indébito (pedido condenatório). São cumuláveis,
mas não obrigatoriamente.

A fazenda pública não tem legitimidade para ajuizar ação declaratória, pois o ato
administrativo goza de presunção de legitimidade e certeza, não precisa do poder judiciário
para concluir, quem tem que se mexer é o contribuinte.

Exceções: São as ações de controle concentrada na constitucionalidade, como Adins, ADC e


ADPF.

Não há prazo prescricional para o ajuizamento da ação declaratória pura. Para repetição de
indébito tem prazo.

Está em curso no STF (iniciou o julgamento, mas não terminou), a discussão quanto aos
efeitos da coisa julgada. O debate: Ex: É julgado uma ação sua que declara que uma norma é
inconstitucional. Depois, o STF muda de entendimento. Quais são os efeitos dessa nova
decisão sobre a coisa julgada? Alguns entendem que aquela decisão já produz efeitos
automáticos, isto é, já desconstitui a coisa julgada automaticamente, sem ter a fazenda
pública que ajuizar uma ação rescisória ou outra ação que venha desconstituir a coisa
julgada. Então, a primeira questão é: Precisa ou não de ação da fazenda pública? A segunda
questão é: Essa nova decisão produz efeitos prospectivos, isto é, dali para frente ou
retrospectivos? Essa nova decisão vale a partir de quando?

b- Ação anulatória ou anulatória de débito fiscal, ou do ato declarativo da dívida


tributária, ou ação desconstitutiva do ato de lançamento:

Finalidade: Desconstituir o crédito tributário constituído por meio de lançamento, do


tributo, da penalidade ou de ambos.

Diferença entre a ação declaratória: Necessariamente tem que ter havido o ato lesivo, é
necessário ter havido a notificação do lançamento, seja do tributo, da penalidade ou de
ambos, é um pressuposto de admissibilidade desta ação, algo tem que ter sido previamente
constituído.

Natureza: Desconstitutiva ou constitutiva negativa. É cumulável com a ação declaratória e


ação de repetição de indébito.

A sentença pode ter efeitos modificativos ou extintivos: Será modificativa quando a anulação
for parcial, mantendo-se parte do crédito, e extintiva quando a anulação for total, anula
integralmente o crédito.

Se aplica a todo e qualquer tributo ou penalidade, e também a todas as obrigações principais


e acessórias.

Depósito prévio/preparatório/premonitório: Art. 38, LEF: Fala que esse depósito é um


requisito de admissibilidade da ação anulatória. Ocorre que, mesmo antes da CF/88, o
extinto TFR (Tribunal Federal de Recurso) entendia que esse depósito não era requisito de
admissibilidade da ação anulatória, mas que era um direito do contribuinte de querer ou não
suspender a exigibilidade do crédito. O STF inicialmente declarou constitucionalidade, mas
depois mudou de entendimento e editou a Súmula Vinculante 28, que diz que é
inconstitucional a exigência de depósito prévio como pré-requisito de admissibilidade de
ação judicial da qual se pretende discutir a exigibilidade do crédito tributário. Então, é
inconstitucional a exigência de depósito como condição da ação como requisito de
admissibilidade da ação anulatória.

Se houver o depósito, vai obstar o ajuizamento da execução fiscal posteriormente. Então,


para que essa ação seja ajuizada é necessário que haja certeza, liquidez e exigibilidade, e o
depósito suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Se houver o ajuizamento posterior da ação de execução fiscal, essa será extinta se já houver
depositado o valor na ação anulatória. Se ela for anterior àquele depósito, a execução fiscal
não é extinta, mas suspensa.

Não há necessária litispendência entre ação anulatória e os embargos da execução fiscal, a


não ser que haja identidade dos pedidos e da causa dos pedidos.
Regra prevista no art. 69, CTN: Prescrição: Qual é o prazo prescricional para ajuizar uma
ação anulatória? A regra geral é que não há prazo prescricional. Até que o crédito tenha sido
satisfeito eu posso entrar com ação anulatória. Regra excepcional: Se o contribuinte pagou ao
devedor daquele tributo e pretende a repetição do crédito, pode pedir administrativamente a
restituição, se o fisco denegar a restituição na esfera administrativa, o art. 69, CTN diz que
contra essa decisão, o contribuinte tem o prazo de 2 anos, da decisão que denegou a
restituição, para entrar com ação anulatória. Então, apenas nessa hipótese específica o prazo
é reduzido.

c- Ação de repetição de indébito tributário:

O objeto é a restituição à repetição do tributo ou da penalidade pecuniária pagos.

Fundamento: arts. 165 a 169, CTN.

Art. 165, CTN: Hipóteses: Erro no pagamento, pagamento indevido, nulidades,


inconstitucionalidade, ilegalidades.

Portanto, é uma ação que tem natureza condenatória, aqui, eu peço que o fisco seja
condenado à uma obrigação de pagar.

Art. 166, CTN: Restrição da repetição do tributo indireto, no caso, o IPI, ICMS e ISS, só pode
haver repetição de indébito quem prove que assumiu o ônus tributário ou quem esteja
autorizado por quem assumiu o ônus.

A restituição pode se dar de duas formas:

1- Pagamento em dinheiro, que segue o rito do precatório ou requisição de pequeno valor.


Não é a melhor forma, pois daqui que você entre com ação, que ela seja julgada e transite em
julgado, seria em torno de 15/20 anos para você receber o pagamento.

2- Ou você pode pedir para que seja autorizada a compensação, conforme os arts. 170 e
170-A, CTN. A compensação no direito tributário é diversa da compensação do direito
privado (que é automática). No direito tributário só há compensação se autorizado por lei, a
lei vai dizer quais são os tributos compensáveis entre si, os requisitos, os prazos. A vantagem
é que o CTN autoriza a compensação de créditos vencidos e vincendos, eu posso ter um
crédito para ir compensando a medida que os fatos geradores vão ocorrendo, sobretudo
quando eu tenho obrigações de trato sucessivo, então, se todo mês eu pago IPI, posso ter um
crédito que eu vou abatendo. Ex: Todo mês eu pago dez mil, fica autorizado para compensar
cem mil, vou passar 10 meses sem pagar.

Essa ação se sujeita aos prazos dos arts. 168 e 169, CTN, que é o prazo quinquenal a partir da
extinção do crédito ou valor de pagamento, ou a hipótese do art. 69, CTN, do prazo de 2
anos.

2- Rito especial:

a- Ação de consignação em pagamento ou consignatoria:


Pagar o tributo não é apenas um dever, mas também um direito do sujeito passivo, tem o
direito de quitar sua dívida. Então, se houver um embaraço de pagamento, ele pode ajuizar
ação de consignação em pagamento.

O CTN trouxe o art. 164 para tratar desse tipo de ação, que prevalece sobre as regras do
CPC.

Art. 156, VIII, CTN: A consignação em pagamento é hipótese de extinção do crédito, então, o
depósito na ação consignatória difere daquele depósito para suspender a exigibilidade do
crédito do art. 151, em um eu quero suspender para discutir o crédito para ver se depois eu
recebo de volta. Na consignação eu quero depositar para extinguir o crédito e o fisco tem
que anular.

Art. 164, CTN:

1) Mora accipiendi (art. 164, I e II): O credor é quem está em mora, ele coloca o
embaraço ao pagamento, ou ele condiciona o pagamento de um tributo ao outro ou
cumprimento de obrigação acessória. É uma hipótese difícil de ocorrer, porque a
maior parte dos tributos é sujeito ao lançamento por homologação, em que o sujeito
passivo declara e paga.

2) Pluralidade de credores (art. 164, III): Dois entes cobrando tributos sobre o mesmo
fato gerador. Sabe-se que pela competência tributária só um ente pode ser
competente.

Então, eu posso ter a sobreposição de competência territorial/espacial. Ex: Dois municípios


cobrando IPTU sobre o mesmo imóvel, você vai ter que consignar para que o juízo diga se o
imóvel está em Recife ou em Olinda. Ex: Dois municípios cobrando ISS sobre o mesmo fato
gerador, os dois acham que são competentes.

Ou eu posso ter sobreposição de competências materiais: São os casos de conflito de IPI,


ICMS, ISS ou IPTU e ITR, em que pode-se consignar, ajuizando ação contra os dois entes ou
todos que se dizem credores, eu deposito e o fisco dirá se é pra um ou pro outro. A ação
consignatória só vai discutir aquilo que ele se propôs a depositar, se ele depositar um valor
maior (garantia), se depositar o menor, não obsta que o outro cobre a diferença.

O STJ já decidiu que não se pode utilizar ação de consignação em pagamento para constituir
parcelamento. Ex: Eu chego para o fisco e digo “quero parcelar em 100 vezes”, ele diz que
não pode, somente em 60 vezes. Eu não posso entrar com ação consignatória e ficar
depositando todo mês.

b- Ação de mandado de segurança.

Ações exacionais: São aquelas próprias da fazenda pública em juízo.

1- Ação de execução fiscal: Dentro da execução fiscal, tem-se ainda, dois meios de defesa do
contribuinte: a exceção de pré-executividade, que é um incidente processual e a ação
autônoma por parte do contribuinte, que é a ação de embargos à execução fiscal.
2- Ação cautelar fiscal.

Aula 18 | 17/11/2022

Mandado de segurança:

O mandado de segurança é uma garantia constitucional para proteção dos direitos


fundamentais, incluindo os direitos dos contribuintes quando eles se oporem a atos ilegais e
abusivos do poder público.

Nesse caso, o contribuinte pede ao juiz que dirija à autoridade coatora uma ordem para que
esta pratique ou deixe de praticar determinado ato ofensivo ao direito líquido e certo do
contribuinte.

Art. 5º, LXIX e LXX, CF: O mandado de segurança é uma ação civil de rito sumário especial,
que se destina a afastar ofensa ilegal ou prática com abuso de poder, efetiva ou potencial, a
sujeito subjetivo individual ou coletivo.

O direito líquido e certo se refere a um direito que é demonstrável de plano, ou seja, é um


direito que é demonstrável independentemente de produção de provas. Logo, no mandado
de segurança a prova é pré-constituída e, assim, toda prova no mandado de segurança é
documental e anexada à petição inicial do mandado de segurança.

No rito especial do mandado de segurança, não cabe a dilação probatória.

Não cabe mandado de segurança se couber outros remédios constitucionais.

O rito seguido por essa ação é o da Lei 12.016/09, subsidiado pelo CPC.

A natureza jurídica de ação é mandamental porque contém uma ordem, seja para que se
pratique ou afaste determinado ato.

A ilegalidade tem sentido amplo, podendo abarcar a inconstitucionalidade ou ilegalidade,


bem como abuso de poder.

Art. 1º, Lei 12.016: Quando eu falo em direito líquido e certo, vale destacar que independente
da complexidade da matéria, é irrelevante ser mais ou menos complexo. Apenas deve ser
demonstrável o estado por meio de documentos. A ilegalidade em sentido amplo, isto é,
haver violação do ordenamento jurídico. Abuso de poder extrapola o âmbito legal da
finalidade.

Existem duas modalidades de mandado de segurança: Repressivo e preventivo.

a- Repressivo: Quando a lesão já tiver ocorrido, o justo receio de que ela venha a ocorrer.
Será repressivo no direito tributário quando tiver havido a notificação de lançamento
(constituição do crédito).

b- Preventivo: Em todas as outras hipóteses, por ser atividade de lançamento vinculada ou


obrigatória, estando enquadrada na hipótese de incidência… não cabe mandado de
segurança, Súmula 266, STF. Não se confunde com mandado de segurança quando é lei em
tese, meramente hipotética. Digamos que eu faça isso quando estiver nessa situação, pra ter
mandado de segurança eu tenho que demonstrar aquela situação em que eu
potencialmente vou sofrer a agressão. Juízo de probabilidade.

Art. 5º, Lei 12.016: Não se considera mandado de segurança quando se tratar de ato ou
decisão judicial da qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo ou transitada em
julgado.

Art 3º, Lei 12.016: O impetrante será o regular do direito líquido e certo. O impetrante pela
ação pode ser tanto o contribuinte como o responsável. Em contrapartida, a autoridade
coatora não é nem a autoridade que edita a norma geral e abstrata, mas aquela que executa
ou manda executar o ato concreto causador da lesão. Logo, é a autoridade que ordena a
prática do ato, geralmente delegado da receita federal, chefe do serviço de arrecadação.

Quando você impetra o mandado de segurança, pede para ser intimada a autoridade coatora
para prestar informações e não que seja citada para contestar.

A lei do mandado de segurança passou a exigir que seja intimado o representante judicial da
pessoa jurídica do qual aquela autoridade coatora seja parte. Se é federal, será ação da
procuradoria geral da fazenda pública. Estadual, do procurador geral do estado. Se for do
município, do procurador geral do município. Ela que vai responder pelos efeitos
econômicos daquele ato. A participação da autoridade coatora se exaure na prestação de
informação, a partir dali quem vai atuar no processo é a procuradoria, trânsito em julgado e
recorrer também será ela.

É necessária a ouvida do MP após prestadas informações da autoridade coatora. Prazo de 10


dias para prestar informações.

Depois será ouvida o MP e pode se manifestar ou não.

Concessão de medida liminar em mandado de segurança: É uma das hipóteses de suspensão


da exigibilidade do crédito tributário.

Art. 7, III, Lei 12.016: No mandado de segurança eu tenho que demonstrar


relevância/fundamento (fumus boni iuri) do meu direito, convencer o juiz e mostrar que eu
não posso esperar, se não vai ser ineficaz alguma decisão a frente (perigo da demora).

Art. 7º, §§ 1º e 2º, Lei 12.016: Da decisão que concede ou nega a liminar cabe recurso de
agravo de instrumento na forma do CPC. O § 2º limitou as possibilidades de concessão da
liminar. O STF julgou inconstitucional. Problema: Fala em compensação de crédito
tributário. A súmula 212, STJ diz que só cabe compensação depois do trânsito em julgado.
Art. 170-A, CTN: prevê que a compensação do indébito tributário só cabe depois do trânsito
em julgado. Qual vai ser a extinção dessa declaração de inconstitucionalidade? Vai se tratar
de compensação de crédito tributário que não seja do indébito, seja da não cumulatividade
por exemplo, mas se for do indébito o artigo do CTN se mantém intacto.

Art 14, Lei 12.016: Haverá duplo grau de jurisdição obrigatório no mandado de segurança.
Art. 25, Lei 12.016: O descabimento de condenação em honorários advocatícios. Porque o
mandado de segurança é tão utilizado em matéria tributária porque o risco é muito baixo, se
não tem condenação em honorários, o risco é perder somente as custas. Não pode pedir
condenação da outra parte em honorários advocatícios.

Art. 15, Lei 12.016: Hipóteses de suspensão de liminar e suspensão de segurança.

Algo diferente de todos os outros processos: Não tem natureza recursal, é um pedido de
natureza política ao presidente do tribunal que pode suspender a liminar concedida ou a
segurança (sentença). Pode suspender a execução daquela decisão. Os critérios são amplos:
Grave lesão à ordem, saúde, segurança e economia pública.

§ 1º: Pedi para o presidente do tribunal e ele negou, eu posso pedir pro STJ ou STF, se couber
RE ou REsp.

§ 2º: Entrar com agravo de instrumento, caso não consiga a liminar.

§ 3º: Posso apresentar agravo de instrumento, que ele não afeta os pedidos de suspensão.

§ 4º: Fumus boni iuris e periculum in mora.

§ 5º: Não precisa entrar com cada processo, porque a estratégia utilizada pela fazenda
pública é quando começa a pipocar vários mandados sobre o mesmo objeto, todos começam
a aderir à tese, podendo ter um pedido de suspensão para todas as decisões.

Prazo para impetração do mandado de segurança: No preventivo, não tenho como aguardar
a lesão acontecer. No repressivo, o art. 23, Lei 12.016 estabelece 120 dias contados da ciência
pelo interessado do ato impugnado que é a notificação do lançamento, a data tem que
constar no mandado de segurança porque é a prova do prazo, sob pena do juiz não conhecer
o mandado. Os 120 dias são contados em dias corridos porque é um prazo pré-processual,
ou seja, é um prazo para exercício do direito, decadencial. Passados os 120 dias posso entrar
com outra ação ordinária.

Execução fiscal:

Ocorrido o fato gerador nasce a obrigação tributária, sendo necessário o lançamento para se
constituir o crédito. Notificado o sujeito passivo do lançamento, tem-se a constituição do
crédito e o sujeito passivo pode pagar o crédito, extingui-lo ou pode impugná-lo, defender,
reclamar, suspender a exigibilidade do crédito enquanto estiver em curso o PAT, ou pode
não fazer nada. Se ele não fizer nada ou terminado o PAT contrário a ele (perdeu o PAT), a
fazenda pública irá inscrever o crédito tributário em dívida ativa. Ao inscrever em dívida
ativa será extraída a certidão de dívida ativa (CDA): é o título executivo extrajudicial que
autoriza a propositura da ação de execução fiscal.

Art 784, IX, CPC: São títulos executivos e extrajudiciais a CDA da Fazenda Pública da União,
dos estados, do DF e dos municípios correspondentes aos créditos inscritos na forma da lei.

A execução da dívida ativa é regulada pela Lei 6.830/80 - LEF (Lei de Execução Fiscal).
O CPC será aplicado de forma subsidiária por se tratar de lei especial. Por meio dela a
fazenda pública irá cobrar os créditos de natureza tributária e não tributária inscritos em
dívida ativa.

A certidão de dívida ativa é regulada pelo CTN nos arts. 201 a 204.

Art. 201, CTN: O crédito foi devidamente constituído e não foi pago no prazo, o processo
administrativo também não foi pago e vai para inscrição em dívida ativa. A CDA confere
certeza e liquidez ao crédito e uma vez inscrito continua a fluir o juros. O fato de os juros
continuarem fluindo não retira a liquidez.

Art. 202, CTN: Ele vai ter que indicar todos esses dados para que o sujeito passivo possa
identificar aquilo que está sendo cobrado, deve-se dá domínio para que ele possa saber a
origem daquele teto. Hoje a inscrição é feita eletronicamente, não há mais um livro.

Art. 203, CTN: Se faltar quaisquer desses dados a CDA será nula, o sujeito passivo pode
alegar sua nulidade por cerceamento do direito de defesa, ele não tem informações
necessárias para se defender, não pode ter uma cobrança em ele não sabe a origem, o que e
como está sendo cobrado. O CTN diz que essa falha pode ser sanada até a decisão do 1º
grau, se for sanada na decisão de 1º grau e o devedor já tiver se defendido, à ele é dado novo
prazo para se defender apenas dessa parte emendada, isto é, não vai se defender de tudo,
mas apenas daquilo que foi alterado.

Art. 204, CTN: A CDA goza de presunção relativa de certeza quanto a sua existência e
liquidez quanto a seu montante. É relativa porque comporta prova em contrário. Cabe o
ônus de provar em contrário ao sujeito passivo porque ela goza de presunção. Quem tem
que desconstituir a certeza e/ou liquidez é o sujeito passivo.

Art. 205, CTN: Trata da certidão negativa de débito (CND). A CND diz que você não deve,
que está limpo. Eu vou comprar um imóvel, preciso da certidão para provar que eu não
devo nada, é um direito do sujeito passivo. Muitas vezes, o sujeito passivo tem que
demonstrar, apresentar a certidão para provar quando teve financiamento.

Art. 206, CTN: Trata da certidão positiva de débitos com efeito de negativa (CPDEN).
Certidão positiva é aquela que diz que o débito existe. Ela vai ter o efeito de negativa porque
vai produzir os mesmos efeitos que a negativa tem, isto é, posso realizar quaisquer atos. Só
posso tirar essa certidão em duas hipóteses: Se houver alguma causa de suspensão da
exigibilidade do crédito (art. 151, CTN) ou penhora em execução fiscal.

O débito é inscrito em dívida ativa, é extraída a CDA e ajuizada a execução fiscal.

O juiz irá despachar a execução fiscal, não se tratar de processo de conhecimento de maneira
que o executado não é citado para se defender, mas sim para pagar ou garantir a execução,
oferecendo bens à penhora. Ele pode depositar o valor em dinheiro pode oferecer bens à
penhora e admite-se também a garantia por meio de fiança bancária ou seguro-garantia.
Então, são dois instrumentos bancários que têm o mesmo valor de garantir o crédito
exequendo. A LEF traz uma ordem de preferência e a fazenda pública pode rejeitar bens
oferecidos que entenda que seja de difícil alienação. Então, cabe ao executado convencer a
fazenda pública e o juiz de que aqueles bens bastam para garantir a execução, que de outra
forma seria muito oneroso garantir o processo.

Existem dois meios de defesa do executado em execução fiscal:

1- Exceção ou objeção de pré-executividade: Quem apresenta a exceção de


pré-executividade se chama excipiente e o exequente passa a ser chamado de exceto. A
exceção de pré-executividade não está prevista na LEF, ela é uma discussão doutrinária. Ela
constitui uma mera petição interposta nos autos da execução fiscal. Decorre do direito de
petição, ampla defesa, contraditório da CF. Em que casos eu posso entrar com exceção de
pré-executividade: Apenas nas hipóteses em que o juiz pode conhecer da matéria de ofício.
Não cabe dilação probatória, produção de prova. Quais são as matérias que podem ser
conhecidas de ofício? Pagamento. Ex: Eu paguei o débito, vou ter que garantir a execução,
entrar com embargos à execução para o juiz ver que eu já paguei. Prescrição, decadência,
nulidades absolutas, questões que podem ser verificadas imediatamente pelo juiz. A exceção
de pré-executividade não dá direito a certidão positiva de débito com efeito de negativa nem
suspende a execução.

2- Embargos à execução fiscal: A LEF trata da ação de embargos nos arts. 16 a 19. Os
embargos à execução fiscal são ação autônoma, porém incidental e conexa à execução fiscal.
Ela se processa apenas à execução fiscal. Nos processos físicos são amarradas. A LEF
estabelece que é requisito para o ajuizamento dos embargos à execução fiscal a garantia da
execução. Na execução cível não há esse requisito, mas a LEF é lei especial. O entendimento
jurisprudencial é que se aplica a lei especial e não a regra geral. Só cabe embargos à execução
depois que garantida a execução, senão ela não pode ser conhecida. O prazo é de 30 dias
para impugnar, a partir da intimação da penhora. Por se tratar de ação autônoma, cabe
alegar qualquer matéria de fato ou de direito, ou dilação probatória, por se tratar de ação de
conhecimento. O embargante pedirá a intimação do embargado para impugnar os embargos
à execução e não citar para contestar.

Existe uma discussão em relação aos embargos à execução fiscal em que o problema é se já
foi ajuizada uma ação anulatória. Tem litispendência quando tem o mesmo pedido e causa
de pedir. Ex: Ajuizei uma ação anulatória antes da ação de execução fiscal, pode instaurar o
ajuizamento da execução fiscal? Não. O que que obstaria o ajuizamento da execução fiscal se
houver alguma causa suspensiva da exigibilidade do crédito, depósito de liminar. Se ajuizar
depois com uma causa suspensiva é hipótese de extinção da execução fiscal. Então, ajuizei
ação anulatória, não obsta o ajuizamento da execução fiscal. Agora, ajuizei uma ação
anulatória e fiz o depósito, não tem razão para ajuizar a execução fiscal porque falta um dos
elementos, se ajuizar execução fiscal, ela deverá ser extinta. A execução fiscal foi ajuizada
antes, ajuizei depois uma ação anulatória, depositei, suspende-se a execução, porque aquele
depósito vai garantir a execução. Nessa hipótese, cabe embargos à execução fiscal? Se o que
foi alegado é a mesma coisa, vai haver a litispendência. Eu só poderia ajuizar embargos de
execução fiscal se fosse tratado de matérias que não tenham sido tratadas na ação anulatória.
Do contrário haverá litispendência.

Um dos grandes problemas das execuções fiscais é que elas enchem as prateleiras do
judiciário.

Prescrição intercorrente:

Ocorre no curso do processo. O problema é que a LEF é uma lei ordinária. Prescrição é causa
extintiva do crédito, portanto, é norma geral do direito tributário e tem que ser tratada por
meio de lei complementar. O art. 40 da LEF alterou o CPC. Ex: Foi ajuizada a execução,
despachou, não foi nem localizado o devedor nem os bens. A primeira providência é
suspender a execução e nesse período não corre prazo algum. Decorrido 1 ano,
automaticamente o processo é arquivado provisoriamente. Encontrados, a qualquer
momento, a fazenda pública poderá desarquivar o processo e retomá-lo. Tem-se o prazo de 5
anos de prescrição intercorrente. Passados esses prazos, prescrito o crédito, extingue-se a
execução e há o arquivamento. O prazo é de 1+5 = 6 anos, para decretar-se a prescrição
intercorrente e extingue-se o crédito e a execução fiscal.

Ação cautelar fiscal:

A ação cautelar fiscal tem o seu rito estabelecido na Lei 8.397/92 e pode haver a aplicação
subsidiária do CPC.

É uma ação instaurada apenas pela Fazenda Pública com o objetivo de assegurar a utilidade
do processo de execução mediante a decretação de indisponibilidade de bens do devedor,
sob pena de imprestabilidade do provimento almejado no executivo fiscal.

Essa ação pode ser incidental ou preparatória, ou seja, já pode ter a execução fiscal ou antes
de ser ajuizada a execução fiscal. Ocorre quando o devedor está se desfazendo o patrimônio,
ocultando, colocando em nome de terceiros. Ação cumulada com ação penal do MP por se
tratar de casos de fraude e sonegação.

Os requisitos para a ação cautelar fiscal são fumus boni iuris e periculum in mora.

Se ela for incidental, o foro competente é o da execução fiscal que já está em curso. Se ela for
preparatória, o foro competente será o da futura execução fiscal (prevendo).

Aula 19 | 22/11/2022

Crimes contra a ordem tributária:

Ilícito tributário:

O ilícito tributário ocorre quando há uma infração fiscal, isto é, quando há um


descumprimento da obrigação principal ou acessória tributária Desse modo, esse ilícito pode
se dar tanto por uma conduta comissiva ou omissiva, desde que seja contrária à lei
tributária.
Assim, tem-se tanto ilícitos de natureza administrativa como ilícitos de natureza penal,
importando em condutas diversas. Desse modo, uma mesma conduta pode ser enquadrada
como ilícito fiscal, bem como a um ilícito penal, não sendo eles excludentes entre si.

O que distingue essas duas naturezas são as consequências, pois, enquanto uma infração
fiscal dá ensejo a um processo administrativo, a infração fiscal dá origem a uma ação penal.

Desse modo, há vários tipos de sanções que podem ser aplicadas a esses ilícitos, como: pena
pecuniária, apreensões, perda de mercadoria, sujeição do contribuinte a sistema especial de
fiscalização e interdição de atividade ou estabelecimento até que se comine em uma pena
por crime contra a ordem tributária.

A finalidade das sanções é forçar o pagamento do crédito tributário a partir de uma função
intimidadora e não a de segregar do convívio coletivo um indivíduo que representa um
perigo potencial para a sociedade. Em razão disso, a legislação a punibilidade em matéria de
crimes contra a ordem tributária tem sofrido oscilações na legislação, exatamente pelos
interesses arrecadatórios.

Desse modo, inicialmente, os crimes eram definidos no código penal, como falsificação de
documentos (art. 293), contrabando ou descaminho (art. 334), excesso de exação (art. 316,
§1˚). Posteriormente, foi incluído o crime de apropriação indébita tributária por meio do
art. 11, Lei 4.357/64, que alterou o art. 168, CP. Desse modo, esse crime está relacionado aos
tributos sujeitos a retenção na fonte e que não foram recolhidos por quem reteve. Desse
modo, é uma ficção penal.

Ex: Imagina-se que a Unicap irá pagar o salário do professor e parcela do trabalho, ela retém
o imposto sobre a renda. Para o Fisco, essa parcela que foi retida e descontada do salário não
foi repassada para o Fisco corresponde a uma apropriação indébita tributária.

Tal hipótese é uma ficção porque aquele que paga o salário é quem paga o tributo. Logo, a
origem é a mesma.

Posteriormente, a Lei 4.729/65 institui o primeiro crime propriamente tributário, que é o


crime de sonegação fiscal. Ocorre que a lei da sonegação fiscal foi substituída pela Lei
8.137/90 que define os crimes contra a ordem tributária, a ordem econômica e as relações de
consumo. O que se percebe é que há uma falha técnica em reunir questões díspares porque
os tipos penais não se confundem com a ordem tributária, ordem econômica e das relações
de consumo.

Percebe-se que há uma tendência de criminalização do direito tributário.

Assim, não há responsabilidade objetiva no direito tributário, como dispõe o art. 136, CTN,
que trata da ausência de intenção (dolo). Portanto, responsabiliza-se o infrator que agiu com
culpa.

Crimes tributários:
Art. 1º, Lei 4.729/65: Nesse tipo penal a intenção é elemento do tipo. Assim, é um crime de
mera conduta, no qual o seu resultado é irrelevante.

Com a criação da lei dos crimes contra a ordem tributária, a ordem econômica e relações de
consumo (Lei 8.137/90), maior parte da doutrina entenda que a lei de sonegação fiscal foi
revogada por esta ou então, que o crime de sonegação fiscal passou de conduta para dano.
Assim, passou a ser um crime material ou de resultado, excluindo assim a tentativa.

Assim, o elemento nuclear do tipo é a supressão ou a redução de tributos. Então, em


princípio, pelo art. 1º, tem-se crimes de resultado, isto é, um crime material que resulta na
supressão ou redução de tributo.

No entanto, a mesma lei traz ainda crimes de mera conduta, como relativos à falsificação
documental. Assim, ainda que não leve a redução ou supressão de tributo, houve a
falsificação, havendo da mesma forma o tipo penal previsto.

Art. 2º, Lei 4.729/65: Assim, tem-se crimes tanto de resultado bem como de mera conduta.
Desse modo, atualmente, aplica-se essa legislação contra a ordem tributária.

Extinção de punibilidade:

Art. 107, CP: Anteriormente, o art. 14 da lei dos crimes contra a ordem tributária, previa que
se fosse pago o tributo antes do recebimento da denúncia, extingue-se a punibilidade. Diante
disso, tem-se uma questão controvertida acerca dos efeitos do pagamento antes da denúncia,
seria crime de dano ou resultado?

O art. 138, CTN trata da denúncia espontânea da infração, exclui a responsabilidade quando
o contribuinte se antecipa à fiscalização, reconhece o erro, paga o tributo antes de qualquer
ato de cobrança do Fisco.

Nesse sentido, a Lei 9.249/95, no art. 34, reintroduziu a extinção da punibilidade dos crimes
contra a ordem tributária e de sonegação fiscal, na hipótese de pagamento antes da
denúncia. Assim, se fosse pago antes do Ministério Público promover a denúncia,
extingue-se a punibilidade.

No entanto, com o REFIS, o programa de parcelamento com anistia, introduzido pela Lei
9.964/2000 no art. 50, introduziu de maneira similar a inclusão no programa de créditos
tributários antes do oferecimento da denúncia. Assim, poderia parcelar e pagar com os
benefícios e ainda assim, se não houvesse tido a denúncia, haveria a exclusão da
punibilidade.

Posteriormente, com o novo REFIS, com a Lei 10.684/2003, no art. 90, a regra foi ampliada.
Assim, fala-se em pagamento sem se referir ao momento da denúncia, o que tem levado a
jurisprudência, inclusive do STF, a despenalizar a conduta quando o pagamento é realizado
a “qualquer tempo”. Nesse sentido, essa regra foi repetida em todas as leis de REFIS.

Nesse caso, há a aplicação da retroatividade da lei benigna (art. 20, §único, CP) + art. 66,
LEP. Assim, aplica-se inclusive aos casos definitivamente julgados ou com sentença
condenatória transitada em julgado. Desse modo, por causa desse princípio, no momento
que o sujeito paga, o débito extingue a punibilidade.

A prejudicialidade da ação penal:

Há uma questão controvertida acerca da prejudicialidade da ação penal. Sabe-se que o


processo penal tem natureza autônoma, mas há o problema do prazo prescricional. Desse
modo, precisa-se esperar o processo administrativo tributário terminar para que haja a
denúncia ou a denúncia pode ser promovida antes de concluído o processo administrativo
tributário?

O problema é que muitas vezes o processo administrativo tributário conclui pela extinção do
crédito, como ele sendo indevido. Assim, o STF entende que há a prejudicialidade da ação
penal. No entanto, há a suspensão da ação penal enquanto perdurar o processo
administrativo tributário. Assim, deve-se concluir o processo administrativo tributário para
que possa ser promovida a denúncia, mas a prescrição penal não corre durante o curso do
processo administrativo tributário. Logo, não haverá denúncia enquanto não houver a
constituição do crédito tributário.

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