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parte geral
Profª. Msc Anna Dolores Sá Malta
Inicialmente, importante consignar que a Constituição Federal não criou tributos, mas sim trouxe a
estrutura do Direito Tributário, com as hipóteses que autorizam a sua criação pela lei.
Entende-se por competência tributária a aptidão para criar tributos. Coube à Constituição indicar os
entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) que podem criar determinado
tributo (por meio de lei). Por exemplo, a CF determina que a competência do IPTU (Imposto sobre
Propriedade Territorial Urbana) é dos Municípios.
Obs.: Em regra, os tributos são criados por meio de lei ordinária. Contudo, há quatro casos (apenas
de tributos de competência da união) em que a criação dependerá de lei complementar, quais
sejam: empréstimo compulsório, imposto sobre grandes fortunas, impostos residuais da
união e contribuições de seguridade social residuais.
A diferença entre lei ordinária e lei complementar está no processo legislativo constitucional. Por
exemplo, o quórum de aprovação da lei ordinária é simples, basta a maioria dos presentes; já a lei
complementar exige quórum qualificado, maioria absoluta. Ademais, quando a CF faz referência
apenas à lei, trata-se de lei ordinária. As matérias reservadas à lei complementar trazem a previsão
expressa.
Importante consignar que, de acordo com o STF, não há hierarquia entre lei ordinária e lei
complementar. Há campos de atuação específicos delimitados pela Constituição.
Legislar sobre Tributos
Obs.: A competência tributária (aptidão para criar tributos) não se confunde com a
competência para legislar sobre Direito Tributário que é da União, dos Estados e do DF
(competência concorrente).
Pertinente, ainda, apontar as quatro características da competência tributária, quais
sejam:
O art. 158 da CF trata da repartição de receitas destinadas aos municípios, ficando com
100% do valor de IR retido dos seus servidores e dos servidores de suas autarquias.
Destaca-se a Súmula 447 do STJ também se aplica aos municípios.
Além disso, receberá, no mínimo, 50% do ITR dos imóveis localizados em seu território,
bem como 50% do valor arrecadado com IPVA licenciados em seu território. E, por fim,
25% do que for obtido com ICMS.
Delimitação das repartições tributárias
(continuação...)
Art. 159 da CF
Trata-se de participação em fundos, a repartição poderá ser direita ou
indireta.
Em primeiro lugar, tem-se a repartição do IR e do IPI para os Estados e DF,
na fração de 49%. Além disso, conforme as exportações, a União repartirá
10% do IPI, não podendo ultrapassar 2% por Estado. Por fim, 29% do que for
arrecado com a CIDE combustíveis ou CIDE petróleo, serão distribuídos aos
Estados e DF.
Conforme entendimento do STF (Tema 653), a isenção de IPI e IR poderá
diminuir a repartição de receitas.
TEMA 653 STF (RE 705.423) – É constitucional a concessão regular de
incentivos, benefícios e isenções discais relativos ao Imposto de Renda e
Imposto sobre Produtos Industrializados por parte da União em relação ao Fundo
de Participação de Municípios e Respectivas quotas devidas às Municipalidades.
Delimitação das repartições
tributárias (continuação...)
Art. 160 da CF - Prevê a proibição de retenção ou restrição de
repasses, ressalvadas as hipóteses do parágrafo único.
Art. 161 da CF - Caberá a Lei Complementar dispor sobre as
repartições de receita tributária.
Art. 162 da CF - Por fim, trata da divulgação dos valores arrecadados,
consagrando o princípio da publicidade, da transparência.
Limitações ao poder de tributar
Conforme disposto no art. 146 da CF, a regulamentação ao poder de
tributar será feita por meio de lei complementar.
Salienta-se que qualquer lei ordinária que trate sobre matéria destinada à
lei complementar será considerada inconstitucional, salvo quando tratar
de aspectos meramente procedimentais referentes à certificação, à
fiscalização e ao controle administrativo
Limitações ao poder de tributar
ASPECTOS
a) Subjetivo – devem ser levadas em consideração as particularidades do contribuinte.
b) Objetivo – é retratado nos signos presuntivos de riquezas, ou seja, presume-se a capacidade da pessoa
para o pagamento de tributos pelos sinais de que dispõe patrimônio. Por exemplo, o dono de uma Ferrari,
presumir-se-á sua capacidade para o pagamento de IR.
c) Proporcional – razoabilidade da tributação, quando ultrapassada gera o caráter confiscatório.
• Legalidade Absoluta;
• Estrita Legalidade
• Reserva Absoluta de Lei Formal;
• Tipicidade Fechada (cerrada);
• Legaliteridade (Pontes de Miranda) Clique para adicionar texto
Do ponto de vista histórico, possui sua origem na Magna Carta de João sem Terra, de 1215, em que era vedada a tributação sem
representação.
Sua previsão encontra-se no art. 150, I da CF.
Apesar do Texto Constitucional prever apenas “exigir” e “aumentar”, o conteúdo do Princípio da Legalidade não fica restrito à exigência e
ao aumento de tributos, deve-se observar o disposto no art. 97 do CTN (trata-se de um rol taxativo, segundo o STF).
Portanto, apenas lei poderá: • Instituir tributos; • Extinguir tributos; • Majorar tributos; • Reduzir tributos; • Definir o fato gerador da
obrigação tributária principal; • Definir o sujeito passivo; • Fixar a alíquota do tributo; • Fixar a base de cálculo do tributo; • Cominação,
dispensa e redução de penalidades; • Exclusão, extinção e suspensão do crédito tributário.
O prazo para o pagamento do tributo está sujeito ao Princípio da Legalidade? As hipóteses do art. 97 do CTN, segundo o
entendimento do STF, estão previstas em rol taxativo. Não há no referido dispositivo menção ao prazo para pagamento do tributo,
portanto, não se exige lei para sua fixação. Desta forma, não há impedimento que seja fixado por meio de um decreto ou de um
regulamento.
As obrigações tributárias acessórias (fazer, não fazer) estão sujeitas ao Princípio da Legalidade? Não! O art. 97 do CTN trata
apenas da obrigação tributária principal (pagamento de tributo), não faz menção às obrigações acessórias. Portanto, como não estão
previstas nas hipóteses taxativas do dispositivo legal, não se sujeitam ao Princípio da Legalidade, podendo ser instituídas por atos
infralegais.
Mitigações ao Princípio da
Legalidade
Importante consignar que a expressão “lei” não deve ser confundida com “legislação tributária” que é um termo genérico,
dentro do qual se encontram: a lei, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares
que tratam sobre tributos e relações jurídicas pertinentes.
As mitigações ao Princípio da Legalidade, também chamadas de Legalidade Flexível, Atenuação ao Princípio da
Legalidade, Exceção ao Princípio da Legalidade (corrente minoritária), são hipóteses em que a fixação da alíquota do
tributo (sempre dentro dos limites mínimos e máximos) não é feita por lei.
ATENÇÃO! A mitigação refere-se, exclusivamente, às alíquotas. Não se aplica à base de cálculo. Por isso, os arts. 21,
26 e 65 do CTN, que permitem a alteração da BC por ato infralegal, não foram recepcionados pela CF/88.
Nos termos do art. 153, §1º da CF, o Poder Executivo, desde que observados os limites mínimos e máximos, poderá
alterar as alíquotas do imposto de importação, imposto de exportação do IPI e do IOF.
Para que ocorra a alteração da alíquota é necessário ato do Chefe do Poder Executivo ou permite-se delegação?
De acordo com o STF, é possível que o Chefe do Poder Executivo delegue a um órgão do executivo federal a
incumbência de alterar a alíquota dos quatro impostos vistos acima. A partir da edição do Decreto n. 3.756/01 (art. 2º,
XII), foi atribuída à CAMEX, criada pelo Decreto n. 1.386/95, a fixação, dentro dos parâmetros legais, das alíquotas dos
impostos de importação e exportação, como um dos instrumentos de política de comércio exterior, atribuição reafirmada
pelos Decretos n. 3.981/01 (art. 2º, XIII e XIV), 4.732/03 (art. 2º, XIII e IV) e 10.044/2019 (art. 7º, III e IV), não havendo
que se falar em ofensa ao disposto nos arts. 153, § 1º e 84, parágrafo único, da Constituição da República, uma vez que
a CAMEX integra o Poder Executivo e a alteração de alíquota do imposto de importação não se encontra entre as
competências indelegáveis do Presidente da República
Por fim, ressalta-se que a majoração de taxa, por portaria, é inconstitucional.
Como visto , a taxa é uma das espécies de tributo, portanto, está sujeita ao Princípio da Legalidade. Justamente por isso,
o STF (ADI 1709) entendeu que a instituição dos emolumentos cartorários pelo Tribunal de Justiça afronta o princípio da
reserva legal. Somente a lei pode criar, majorar ou reduzir os valores das taxas judiciárias.
Legislação Tributária
Norma tributária em branco é aquela que precisa ser complementada, por exemplo a lei que instituiu a
Contribuição do SAT não trazia a definição de atividade preponderante e nem o risco que era gerado
aos empregados (leve, médio ou grave) a complementação foi feita por ato infralegal.
O STF entendeu que seria possível a complementação de norma tributária em branco por ato
infralegal, sem violação ao Princípio da Legalidade.
A lei delegada, prevista no art. 68 da CF, possui força de lei ordinária. Portanto, desde que a matéria
não seja reserva à lei complementar, poderá dispor sobre matéria tributária.
Decreto ou regulamento delegado: As causas de exclusão, suspensão e extinção do crédito tributário
devem estar previstas em lei. Ocorre que, em determinado Estado, a lei concedeu isenção, mas não
especificou os casos do benefício fiscal para o tributo, apenas estabeleceu, genericamente, a
possibilidade de isenção, que seria preenchida conforme a discricionariedade do Poder Executivo.
Perceba que a referida lei estava delegando ao PE concessão de benefício fiscal, contrariando o
disposto no art. 97 do CTN. Portanto, não é possível.
Salienta-se que o STF tem autorizado delegação, desde que a lei preveja os requisitos mínimos.
Além disso, o STF entende que é inconstitucional a delegação, sem parâmetro legal, aos conselhos de
fiscalização de profissões de competência para fixar ou majorar as contribuições de interesse de
categoria profissionais e econômicas.
Medida provisória: Admite-se, salvo nos casos de matéria tributária reservada à lei complementar (art.
62, §1º, III da CF).
E a competência para editar leis? Conforme já se manifestou o STF, a matéria tributária não é de
competência exclusiva do chefe do Poder Executivo. Assim, qualquer parlamentar pode apresentar
projeto de lei referente à matéria tributária.
Obs.: A competência privativa refere-se, unicamente, aos casos de territórios (art. 61, §1º, II, b, da CF).
Princípio da Transcendência fiscal
Uma lei que trata de IR irá conceder os seus benefícios. Não pode uma
lei que discipline a matéria de licitação trazer benefícios relativos, por
exemplo, ao imposto de importação, conforme dispõe o art. 150, §6º da
CF, sob pena de configurar contrabando legislativo.
Correção Monetária
• A lei que for meramente interpretativa, desde que não aplique penalidade;
• Atos que não foram definitivamente julgados.
Um tratado internacional celebrado pelo Brasil pode conceder a isenção de tributos estaduais,
distrais e municipais? Os entes federados afirmavam que não, pois a concessão era relativa a
um tributo que não lhe pertencia. Quando a questão chegou ao STF, foi decidido que poderia
haver a concessão das isenções, pois seria uma relação externa, não interna.
PARA RELEMBRAR: etapas de celebração de um tratado internacional
1) Assinatura do tratado pelo Presidente da República (art. 84, VIII, CF);
2) Referendo pelo Congresso Nacional (art. 49, I, CF);
3) Ratificação (troca ou depósito) pelo PR;
4) Publicação de decreto presidencial, constando em língua portuguesa o texto do tratado
internacional.
Destaca-se que o art. 98 do CTN prevê a revogação da legislação interna por tratado
internacional.
Atualmente, a melhor interpretação é que o tratado internacional suspende a lei interna e não
revoga, pois, havendo denúncia do tratado, a legislação interna não deixa de existir.
Princípio da não discriminação
tributária
Encontra-se previsto no art. 152 da CF.
Perceba que se refere apenas aos Estados, DF e Municípios, não se
aplica à União.
Determinados Estados estipulavam alíquotas diferenciadas para o IPVA
de carros importados, o que foi considerado inconstitucional pelo STF,
por violar o art. 152 da CF.
Imunidade Tributária
De acordo com o professor Eduardo Sabbag, imunidade tributária é uma norma constitucional de exoneração
tributária, justificada no conjunto de caros valores proclamados na Carta Magna, inibe negativamente a atribuição de
competência impositiva e credita ao beneficiário o direito público subjetivo de “não incomodação” perante o ente
tributante.
Para melhor compreensão, analisar-se-á cada parte do conceito separadamente.
Norma constitucional: Significa que possui sede na própria constituição, diferente do que ocorre com as normas
de isenção (possui o mesmo efeito prático: não pagamento), de remissão (perdão) que estão previstas na legislação
infraconstitucional. Por isso, pode-se dizer que a CF contém normas imunizantes, imunizadoras ou imunitórias,
espalhadas ao longo de seu texto. Por exemplo, quando afirma que não incide tributo em uma situação
determinada.
Norma de exoneração: Significa que possui sede na própria constituição, diferente do que ocorre com as normas
de isenção (possui o mesmo efeito prático: não pagamento), de remissão (perdão) que estão previstas na legislação
infraconstitucional. Por isso, pode-se dizer que a CF contém normas imunizantes, imunizadoras ou imunitórias,
espalhadas ao longo de seu texto. Por exemplo, quando afirma que não incide tributo em uma situação
determinada.
Norma de valores relevantes: Significa que a não incidência será alicerçada em valores como: liberdade religiosa,
liberdade política, liberdade sindical, liberdade de expressão etc. Percebe-se que estudar imunidade não é estudar
Direito Tributário, mas sim estudar a CF, tendo em vista que estamos diante uma matéria eminentemente
constitucional.
Norma inibidora de competência impositiva: Significa que a imunidade é a face negativa de competência
tributária. Para alguns, é chamada de “norma de incompetência tributária”.
Norma de não incomodação: Significa que nada e ninguém poderão contrariar os limites impostos pela norma de
imunidade tributária. Assim, o Poder Executivo, por meio dos auditores-fiscais, nas autuações “não poderá” cobrar
tributos de pessoas imunes. Caso cobre, por entender não ser caso de imunidade, caberá ao advogado tributarista
promover a anulação. Da mesma forma, o Poder Legislativo, representante do povo, não poderá editar leis
ordinárias que desafiem a norma constitucional de imunidades, eis que a norma de imunidade está prevista na CF.
Por fim, não poderá o Poder Judiciário, através das sentenças, deverá zelar pela norma constitucional.
Falsas isenções e Normas
imunizantes
Há normas na CF que se referem a isenções, art. 195, §7º da CF e art. 184,
§5º da CF, mas, na realidade, tratam de imunidades, conforme STF, STJ e
doutrina, vejamos:
- Art. 184, § 5º São isentas IMUNES de impostos federais, estaduais e
municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados
para fins de reforma agrária.
- Art. 195, § 7º São isentas IMUNES de contribuição para a seguridade
social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às
exigências estabelecidas em lei.
Já as normas imunizantes: A previsão da imunidade tributária não está
restrita a um único artigo. Pelo contrário, as normas que consagram
imunidades encontram-se espalhadas ao longo do texto constitucional, não
se restringem a expressão “são/estão imunes”.
Lembrem-se: imunidade é a não incidência de tributo.
Exemplos de normas imunizantes
ART. 156, §2º, I DA CF : Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
§2º - O imposto previsto no inciso II (ITBI)
I – não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa
jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrentes de
fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade
preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens
imóveis ou arrendamento mercantil – hipótese de incidência (sublinhado)
Havendo transferência de bens imóveis, no caso de fusão de duas empresas, não haverá incidência de
ITBI, tendo em vista a norma imunizante. Contudo, não haverá imunidade quando a atividade
preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, a locação de bens imóveis
ou o arrendamento mercantil.
A empresa “A” incorporou a empresa “B”, adquirindo, consequentemente, seus bens. Haverá a incidência
de ITBI? R: NÃO! Tendo em vista que a referida incorporação é causa de imunidade tributária.
A empresa “A”, com atividade preponderante de compra e venda de bens imóveis, fundiu-se com a
empresa “B”, adquirindo, consequentemente, seus bens. Haverá, neste caso, a incidência de ITBI? R:
SIM! Tendo em vista que se trata da ressalva prevista no art. 156, §2º, I da CF, com o intuito de evitar
fraudes
Exemplo de normas imunizantes
(continuação...)
ART. 150, VI DA CF - É o dispositivo mais importe sobre o tema.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais
dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos
os requisitos da lei; Quatro pessoas jurídicas protegidas de impostos.
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão.
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou
literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013)
Destaca-se que o referido artigo se refere a impostos, portanto, haverá a incidência de outros tributos, tais
como: taxas, contribuição de melhoria.
Espécie de Imunidades
Analisar-se-á, aqui, os incisos as alinhas do incido VI do art. 150 da CF.
(A) PATRIMÔNIO RENDA OU SERVIÇOS UNS DOS OUTROS
Trata-se da IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA.
A União, os Estados, o DF e os Municípios não poderão cobrar impostos uns dos outros.
Trata-se de uma proteção ao federalismo ou ao pacto federativo ou ao federalismo de equilíbrio ou ao federalismo cooperativo,
consagrando a isonomia entre os entes. De modo sofisticado, pode-se afirmar que se trata da ausência de capacidade
contributiva de pessoas políticas (o patrimônio é da coletividade e não da entidade política).
Essa imunidade funciona como um instrumento de preservação e calibração do pacto federativo, impedindo que os impostos
sejam utilizados como instrumento de pressão indireta de um ente sobre outro (Min. Joaquim Barbosa).
Esta alinha veda, por exemplo, que os Estados cobrem IPVA de veículos pertencentes aos Municípios; que estes cobrem IPTU
relativo à propriedade de prédio pertencente à União.
Impostos afastados
Não poderá haver a cobrança de impostos que incidem sobre patrimônio (IPTU, IPVA), sobre renda (IR) e serviços (ISS)
A não incidência é restrita aos impostos sobre patrimônio, renda e serviços? R: NÃO! A proteção deve ser ampla quanto
aos demais tipos de impostos. Assim, por exemplo, o imposto de importação (II) e o imposto sobre operação financeira (IOF)
também podem ser afastados, ainda que não se enquadrem no rol classificatório. O rol classificatório aparece em vários pontos
do texto constitucional, exigindo, em todos eles, a mesma interpretação ampla, na esteira do entendimento do STF: art. 150, VI,
“a” e “c”, CF; art. 150, §§ 2º, 3º e 4º, CF
Extensão da imunidade recíproca
A proteção é extensiva às autarquias, fundações públicas, nos termos do §2º do art. 150 da CF, desde que sejam vinculadas a
suas finalidades ou às delas decorrentes.
Destaca-se que, aqui, a imunidade recíproca será vinculada. Ou seja, o objeto da tributação, para ser imune, deve estar vinculado
a finalidade das autarquias ou fundações públicas, havendo verdadeiro condicionamento.
Por exemplo, tratando-se de prédio destinado à autarquia, sendo destinado a suas finalidades não haverá incidência de IPTU,
mas, se o prédio não estiver atrelado ao propósito institucional, haverá a tributação.
Espécie de imunidades
(continuação...)
Imagine que determinada autarquia possui um prédio. O Município cobrou da autarquia IPTU por causa desse imóvel.
A autarquia invocou sua imunidade tributária. O Município respondeu dizendo que a imunidade não poderia ser
aplicada em relação àquele imóvel porque ele não estaria relacionado com as finalidades essenciais da entidade
autárquico. De quem é o ônus da prova da não afetação do bem imóvel com o propósito autárquico ? R: (Dizer o
Direito) O art. 150, VI, “a”, da CF/88 prevê que a União, os Estados/DF e os Municípios não poderão cobrar impostos uns dos
outros. Essa imunidade também vale para as autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público no que se
refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes (art. 150, § 2º
da CF/88). Existe uma presunção de que os bens das autarquias e fundações são utilizados em suas finalidades essenciais.
Assim, o ônus de provar que determinado imóvel não está afetado à destinação compatível com os objetivos e finalidades
institucionais de entidade autárquica recai sobre o ente tributante que pretenda, mediante afastamento da imunidade tributária
prevista no § 2º do art. 150 da CF, cobrar o imposto sobre o referido imóvel. AgRg no AResp. 304.126/RJ (informativo 527).
Responsabilidade por sucessão imobiliária
Ainda, dentro da imunidade recíproca, importante tratar da hipótese de responsabilidade tributária por sucessão imobiliária,
prevista no art. 130 do CTN. ] Caso a União torne-se responsável tributário por sucessão imobiliária, os débitos
anteriores, estarão abrangidos pela imunidade recíproca? Haverá imunidade superveniente ? R: (Dizer o Direito) O STF
concluiu que a imunidade tributária recíproca não afasta a responsabilidade tributária por sucessão, na hipótese em que o
sujeito passivo era contribuinte regular do tributo devido. A imunidade tributária prejudica, em certa medida, a expectativa de
arrecadação dos entes federados. Essa perda somente é tolerada pelos entes para satisfazer a outros valores, tão ou mais
relevantes, previstos na Constituição (como o pacto federativo). O instituto da responsabilidade tributária dos sucessores (art.
130 do CTN) protege justamente o Fisco da inadimplência que poderia ocorrer em decorrência do desaparecimento jurídico
do contribuinte. Na sucessão, o sucessor fica tanto com os eventuais créditos, como também com os débitos. Assim, deve
arcar com as dívidas tributárias, ainda que se trate de um ente federado.RE 599.176 (informativo 749).
Espécie de imunidades (continuação...)
Excluídos da imunidade recíproca
Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista não estão, como regras, imunes a incidência de impostos.
O STF garantiu a imunidade para certas empresas públicas e sociedades de economia mista que desempenham
serviços típicos de Estado. Cita-se como exemplo:
• INFRAERO (empresa pública): ISS (AgR-RE 363.412/BA, em 2007);
• CAERD (Cia. Águas e Esgotos de Rondônia – SEM) (Ação Cautelar 1.550-2, em 2007)
• CORREIOS-ECT (empresa pública): IPTU (STF: RE 773.992, de out. 2014); IPVA (STF: ACO 879, de nov. 2014);
ICMS (STF: ACO 1.095, de out. 2015 e RE 627.051, de nov. 2014).
(B) TEMPLOS DE QUALQUER CULTO
É vedado à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios instituírem impostos sobre templos de qualquer culto, visa
consagrar a liberdade de religião.
Assim, não haverá a incidência, por exemplo, de:
• IPTU, sobre o local destinado ao culto;
• IPVA, sobre o carro da Igreja;
• IR, sobre o dízimo.
Casos concretos importantes
Imunidade (IPTU) para a casa do chefe religioso – quando for cedida para o religioso morar. A casa pertence à Igreja;
Imunidade (IR) para a renda oriunda de gráfica da Igreja, caso todo o rendimento da gráfica seja voltado para o
propósito religioso;
Imunidade (IPTU) para o apartamento, de propriedade do templo, locado a terceiros;
Imunidade (IPTU) para o bem imóvel, de propriedade do templo, usado para estacionamento de fiéis;
Imunidade (IPTU) para o bem imóvel, de propriedade do templo, usado para cemitério (sepultamento de fiéis).
Espécie de imunidades (continuação...)
A Igreja como inquilina/locatária incide IPTU? Sim, não está abrangida pela imunidade. Nota-se
que, nesse caso, a Igreja não é proprietária do bem imóvel, pois o proprietário é o sujeito
passivo legalmente determinado para pagar o imposto. Portanto, haverá a legítima incidência,
não tendo valor eventual cláusula de responsabilidade tributária firmada entre locador e
locatário, que deverá ser resolvida no âmbito do Direito Civil, eis que o contrato não faz força
perante o visco, nos termos do art. 123 do CTN.
Ressalta-se que lei municipal poderá conferir isenção.
Imagine que a Igreja contrate uma pessoa jurídica com o intuito de confeccionar jornal por
encomenda (serviço de composição gráfica). Haverá a incidência de ISS? Sim, pois o serviço
de composição gráfica não é realizado pela Igreja, mas sim por terceiro, conforme entendimento
do STF (AgR-RE 434.826/MG)
Ressalta-se que as Lojas de Maçonaria, segundo o STF, não se confundem com templos
religiosos, portanto, não são imunes.
EC em 2022: § 1º-A O imposto previsto no inciso I do caput deste artigo (IPTU) não incide sobre
templos de qualquer culto, ainda que as entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea
"b" do inciso VI do caput do art. 150 desta Constituição sejam apenas locatárias do bem imóvel.
Espécie de imunidades (continuação...)
A lei a que se refere a parte final da alinha “c” é uma lei complementar, nos termos do art.
146, II, da CF.
A Lei Complementar, em questão, trata-se do CTN (lei ordinária, com status de lei
complementar), que em seu art. 14 regula a fruição da norma imunizante, prevista na CF.
Assim, para que a imunidade seja aplicada, deve-se observar o seguinte:
• Havendo lucro, não poderá ser distribuído para os mantenedores, mas sim totalmente
revertido para o propósito institucional. Destaca-se que não se proíbe o lucro, proíbe-se a
distribuição do lucro;
• A receita obtida deve ser aplicada integralmente no país, não podem enviar para o
exterior;
• Manter a contabilidade em dia – trata-se de uma obrigação acessória.
Obs.: Aqui, não se aplica a máxima “o acessório segue o principal”, uma vez que não terão que
pagar (obrigação principal), mas as obrigações acessórias, a exemplo de manter a contabilidade
em dia, devem ser cumpridas.
O não cumprimento dos requisitos acima poderá suspender o benefício de imunidade.
O pagamento de salários para os mantenedores da instituição, ao contrário do que
determinava a legislação, não caracteriza a distribuição de lucro, conforme entendimento do
STF.
Espécie de imunidades (continuação...)
Finalidades institucionais
Para que ocorra a não incidência de impostos (lembrar a interpretação ampliativa do STF), o patrimônio, a
renda e os serviços devem estar relacionados com as finalidades institucionais das quatro pessoas
jurídicas (partidos políticos, incluindo suas fundações; entidades sindicais de empregados; instituições de
educação; instituições de assistência social).
Nesse sentindo, a Súmula 724 (buscava-se o que era essencial para a entidade) e a SV 54 (busca-se o
atrelamento da receita conexa à motivação, à constituição da entidade). Observe:
SÚMULA 724, STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a
qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja
aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.
SÚMULA VINCULANTE N. 52 – Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo artigo 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição Federal,
desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
Fundos de pensão são entidades fechadas de previdência social privada, alguns destas entidades podem
equivaler a uma entidade de assistência social. De modo que, em tese, gozariam de imunidade tributária,
desde que financiem integralmente as contribuições dos empregados.
Nesse sentido, importante destacar a Súmula 730 do STF.
SÚMULA N. 730, STF: “A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos
pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se
não houver contribuição dos beneficiários.
Ressalta-se, ainda, que as entidades do SISTEMA S (serviços sociais autônomos), conforme decidiu o
STF, possuem imunidade para o ITBI na aquisição de imóvel pelo SENAC.
Espécie de imunidades (continuação...)
LIVROS, JORNAIS, PERIÓDICOS E O PAPEL DESTINADO À SUA IMPRESSÃO
Não se confunde com as hipóteses vistas acima que afastam impostos de “pessoas”. Aqui, ocorre a não incidência de imposto (ICMS, IPI e
II) sobre coisas/bens (livros, jornais e periódicos), bem como sobre insumo (papel), a de que ocorra a difusão do conhecimento, da cultura,
bem como da liberdade de expressão.
Trata-se de uma imunidade objetiva, ao passo que as hipóteses anteriores são imunidades subjetivas.
Questões pertinentes
a) Livros digitais
Segundo afirmou o STF, a imunidade do art. 150, VI, “d”, da CF/88 não abrange apenas os livros produzidos pelo “método gutenberguiano”.
Antes de prosseguir na explicação do julgado, é importante esclarecer uma curiosidade: Johann Gutenberg foi um alemão que, no século XV,
teria inventado (ou aperfeiçoado) a máquina de impressão tipográfica. Antes dele, os livros eram todos manuscritos. Assim, o primeiro livro
impresso do mundo foi feito na máquina desenvolvida por este alemão. Trata-se de uma Bíblia em latim, que ficou historicamente conhecida
como a “Bíblia de Gutemberg”. Desse modo, quando o STF fala em livro produzido pelo “método gutenberguiano”, o que ele está querendo
dizer é livro impresso. – SÚMULA VINCULANTE 57.
c) Álbum de figurinhas
É entendimento pacificado do STF que o álbum de figurinha é imune.
d) Lista telefônica
Entendimento pacificado. Para o STF, é imune, em razão da utilidade social do bem.
e) Insumos :Compreende apenas o papel utilizado para a confecção. Os demais insumos (tinta, maquinário) serão tributados, STF faz uma
interpretação restritiva.
Salienta-se que o STF estende a imunidade para materiais que se mostrem assimiláveis ao papel, abrangendo, em consequência, para esse
efeito o papel para telefoto, o papel fotográfico (para fotocomposição por laser) e os filmes fotográficos, sensibilizados ou não impressionados
Espécie de imunidades (continuação...)