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INTENSIVO TJMG

DIREITO TRIBUTÁRIO

Sumário
1. Introdução ao Direito Tributário ........................................................................................... 2
2. Tributo ................................................................................................................................... 7
3. Princípios do Direito Tributário ........................................................................................... 21
4. Sistema constitucional tributário ........................................................................................ 31
5. Imunidade tributária ........................................................................................................... 37
6. Vigência e aplicação da legislação tributária ...................................................................... 49
7. Interpretação e integração da legislação tributária ............................................................ 51
8. Obrigação tributária ............................................................................................................ 54
10. Lançamento tributário ...................................................................................................... 70
11. Crédito tributário .............................................................................................................. 79
11-A. Suspensão do crédito tributário .................................................................................... 84
12. Repetição do indébito ..................................................................................................... 101
13. Exclusão do crédito tributário ......................................................................................... 107
14. Garantias e preferências do crédito tributário ............................................................... 113
15. Administração tributária ................................................................................................. 118
16. Disposições finais do Código Tributário Nacional ........................................................... 128
17. Infrações e delitos tributários ......................................................................................... 128
18. Impostos federais ............................................................................................................ 138
19. Impostos estaduais.......................................................................................................... 151
20. Impostos municipais........................................................................................................ 174

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TRIBUTÁRIO

Aula 01. Direito tributário: definição, fontes, legislação. Tributo.

1. Introdução ao Direito Tributário

I. Atividade financeira do Estado

Para realização dos seus objetivos o Estado precisa de dinheiro.

A gestão desses recursos será regulada pelo direito financeiro.

A atividade financeira do Estado se desenvolve basicamente em 3 campos:

• Receita

• Gestão

• Despesa

A receita do Estado pode ser:

• Receita originária: advém da exploração do próprio patrimônio do Estado.

O Estado não se vale do seu poder de império. Ele estabelece relações de direito privado
com particulares.

Ex.: imóvel do Estado alugado a particulares; lucros das estatais.

• Receita derivada: tem como característica básica o exercício do poder de


império pelo Estado. Receita obtida de modo compulsório e coercitivo. Ex.: as
multas e tributos.

II. Fontes do Direito Tributário

a) Constituição

Regula as competências dos entes federativos;

Institui limites ao poder de tributar;

Prevê direitos e deveres do cidadão perante o fisco;

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Arrola os princípios que fundamentam a atividade de tributar do Estado.

b) Lei complementar

Constituição ➔ normas gerais em matéria tributária devem ser regulamentadas por lei
complementar.

• O CTN traz normas gerais de direito tributário, ainda que se trate de uma lei
ordinária.

➢ A CF recepcionou o CTN com status de LC.

➢ O CTN é formalmente lei ordinária, mas materialmente LC. Para alterá-lo será
necessária LC para as questões relativas às normas gerais de direito tributário.

Em matéria tributária, LC vai tratar de:

• Normas gerais

• Conflitos de competência tributária

• Limites constitucionais ao poder de tributar

• Critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da


concorrência (art. 146-A)

R. Rocha destaca normas gerais que a LC trará:

• Definição dos tributos

• Fatos geradores e Base de cálculo

• Contribuintes

• Obrigação

• Lançamento

• Crédito

• Prescrição e decadência

• Tratamento diferenciado para as cooperativas

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• Tratamento diferenciado para ME e EPP

Este rol é exemplificativo.

A Constituição determina que certos tributos seja discriminados ou instituídos por lei
complementar.

Atenção:

Alíquota não é prevista no rol do art. 146 da CF, motivo pelo qual não precisa ser tratar
por lei complementar.

São tributos que devem ser instituídos por LC:

• Empréstimo compulsório (EC)

• Imposto sobre grandes fortunas (IGF)

• Impostos residuais

• Contribuições previdenciárias residuais

➢ Matéria que deve ser regulada por LC não pode ser tratada por medida
provisória.

➢ A CF proíbe que seja utilizada lei delegada em matéria tributária no tocante às


matérias reguladas por LC.

c) Lei ordinária

É o veículo normativo que vai determinar as hipóteses de incidência tributária, prevendo


a hipótese em abstrato.

Lei ordinária trata das obrigações acessórias, que instrumentalizam a tarefa de


arrecadar e fiscalizar do Estado, em relação à matéria tributária.

d) Atos do Poder Executivo federal majoradores de alíquotas de tributos

Alguns tributos de competência da União podem ter suas alíquotas majoradas por ato
do Poder Executivo Federal (não apenas do Presidente).

É possível que o Ministro da Fazenda venha a prolatar o ato de majoração.

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São tributos que admitem a MAJORAÇÃO de alíquotas por ato do poder executivo
federal:

• Imposto de importação (II)

• Imposto de exportação (IE)

• Imposto sobre produtos industrializados (IPI)

• Imposto sobre operações financeiras (IOF)

• CIDE-combustível

e) Lei delegada

Lei delegada pode tratar de matéria tributária.

f) Medida provisória

Pode tratar de matéria tributária, desde que não seja reservada à LC.

No caso da MP que institua ou majore impostos, ela só vai produzir efeitos no exercício
financeiro seguinte (princípio da anterioridade) se houver sido convertida em lei até o
último dia do exercício financeiro em que foi editada.

Ficam excetuadas dessa regra o II, IE, IPI, IOF, CIDE-combustível e ICMS-monofásico
combustível. Esses impostos têm caráter de extrafiscalidade.

g) Tratado internacional

CTN, art. 98: os tratados e convenções internacionais revogam ou modificam a legislação


tributária interna e são observados pela legislação que lhe sobrevenha.

Portanto, a legislação posterior ao tratado deverá observá-lo (ou seja, não revogaria o
tratado).

Pode uma lei superveniente revogar as disposições que existirem em um tratado?

O entendimento prevalente é no sentido negativo, mas há duas posições:

1ªC Luciano Amaro: deverá ser observada essa regra, pois o tratado é especial em
relação à lei posterior. Norma especial prevalece sobre a norma geral.

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2ªC Hugo de Brito Machado: o tratado deve prevalecer, pois somente poderia ser
revogado por um instrumento adequado no âmbito do d. internacional (que é a
denúncia do tratado).

A ESAF considerou que a expressão “revogam” não cuida, a rigor, de uma revogação,
mas de uma suspensão da eficácia da norma tributária nacional, que readquirirá a sua
aptidão para produzir efeitos se e quando o tratado for denunciado.

h) Convênio

Ato normativo executivo infralegal que expressa, em matéria tributária, um ajuste de


vontade entre os entes federativos.

A CF excepciona o p. da legalidade quando trata dos convênios, pois permite que eles
tenham força de lei.

A deliberação dos Estados, que é feita por convênio, pode conceder ou revogar
benesses fiscais relativas ao ICMS. Objetivo: evitar guerra fiscal entre os estados.

No que concerne ao ICMS, alguns convênios têm previsão constitucional, sendo,


portanto, normas primárias, de hierarquia legal, não podendo ser classificados como
atos meramente complementares. Portanto, passíveis de questionamento por ADIN.

• STF: é inconstitucional lei estadual que concede, sem autorização de convênio


interestadual, dedução de ICMS para empresas que patrocinarem bolsas de
estudo para professores.

• STF: é inconstitucional lei estadual que concede, sem autorização de convênio


interestadual, vantagens no parcelamento de débitos do ICMS para empresas
que aderirem a programa de geração de empregos(Inf. 856).

Fundamento: art. 155, § 2º, XII, “g”, da CF/88 e o art. 1º da LC 24/75 (Inf. 856).

i) Norma complementar

CTN, art. 100 ➔ arrola as normas complementares:

• Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas

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São portarias e instruções das autoridades administrativas, bem como circulares.
Derivam do poder regulamentar, não podendo inovar na ordem jurídica.

• Decisões administrativas que tenham caráter normativo

São decisões singulares ou colegiadas de órgãos de jurisdição administrativas.

São chamadas de jurisprudência administrativa em matéria tributária, expressando o


posicionamento dos órgãos fiscais. Conferem segurança jurídica sobre o que o
contribuinte pode ou não fazer.

• Práticas reiteradas da atividade administrativa (costume administrativo)

• Convênios celebrados entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios

Esses convênios não têm eficácia de lei. São os chamados convênios de cooperação:
firmados entre os fiscos de diferentes esferas, visando mútua assistência para ajudar na
fiscalização dos tributos respectivos (permuta das informações).

j) Legislação tributária

Art. 96 do CTN: a expressão legislação tributária compreende:

• Leis

• Tratados e convenções internacionais

• Decretos

• Normas complementares

• Constituição

• Leis complementares

*Desde que versem sobre tributos e relações jurídicas ligadas aos tributos.

2. Tributo

I. Definição

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Art. 3º do CTN

Tributo é toda a prestação pecuniária compulsória, em moeda, ou cujo valor nela possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída por lei, e cobrada mediante
atividade plenamente vinculada da administração.

Portanto, tributo é:

• Toda prestação pecuniária compulsória: portanto deve ser em dinheiro e é


obrigatória.

• Em moeda: não pode é cobrado in natura.

• Não constitua sanção de ato ilícito: multa não é tributo.

• Instituído por lei: princípio da legalidade.

• Cobrado mediante atividade plenamente vinculada da administração: a


administração é obrigada a cobrar o tributo.

II. Natureza jurídica

A natureza jurídica de um tributo (imposto, taxa, contribuição de melhoria etc.) é


determinada pelo fato gerador (art. 4º).

Art. 4º do CTN ➔ basta o fato gerador para identificar a natureza jurídico do tributo.

Logo, denominação, outros pontos formais e a destinação do tributo não são


importantes!

Esse art. 4 só tem relevância para a teoria tripartida, que é adotada pelo CTN, mas não
pela CF.

STF: a CF é adota a teoria quintapartida dos tributos.

• Se o fato gerador é uma situação que independe de qualquer atividade estatal


específica ➔ imposto.

• Se o fato gerador é uma atividade de poder de polícia ou uma utilização efetiva


ou potencial de um serviço público e divisível prestado ao contribuinte, ou ao
menos posto à disposição ➔ taxa.

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• Se o fato gerador é a valorização imobiliária decorrente de uma obra pública ➔
contribuição de melhoria.

• Os arts. 3º, 4º e 5º adotam a teoria tripartida: seriam espécies de tributo os


impostos, as taxas e as contribuições de melhoria.

• Porém, existem outras modalidades de tributo, como as contribuições especiais


e os empréstimos compulsórios.

• Doutrina atual ➔ foi acolhida a teoria pentapartida. Logo, para saber natureza
jurídica do tributo é necessário saber qual o fato gerador, mas também:

a) qual a finalidade da contribuição

b) é possível ou não a devolução do montante arrecadado

Podemos estar diante de uma contribuição especial ou de um empréstimo compulsório.

III. Características dos tributos quanto à sua finalidade

São características do tributo quanto à sua finalidade:

• Fiscalidade:

A finalidade é arrecadar o montante financeiro para os cofres públicos. É a regra geral


dos tributos.

➢ Um tributo é fiscal quando o sujeito ativo da obrigação tributária é o mesmo


sujeito titular da competência tributária para institui-lo.

Ex.: IPTU.

• Parafiscalidade:

Ocorre quando o sujeito competente institui determinado tributo, mas delega a outra
pessoa jurídica de direito público a capacidade tributária, atribuindo a essa pessoa o
produto da arrecadação.

Ex.: INSS é o sujeito ativo de certas contribuições sociais instituídas pela União.

• Extrafiscalidade:

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Não há aqui uma atividade puramente arrecadatória. A finalidade maior é regular
comportamentos econômicos, sociais, sanitários etc. Ex.: II e IE (regulam a entrada e
saída de mercadorias)

IV. Classificações relevantes de tributos

• Tributo vinculado: tributo cujo fato gerador se relaciona a alguma


contraprestação do Estado. Típico de taxa e contribuição de melhoria.

• Tributo não vinculado: fato gerador não depende nem vincula a qualquer
contraprestação específica do Estado. Ex.: IPVA.

Art. 16 do CTN: imposto é tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação que
independe de qualquer atividade do Estado.

Os tributos podem ser também de arrecadação vinculada ou não vinculada:

• Tributos de arrecadação vinculada: tributos cuja arrecadação deve ser


necessariamente utilizada no fim que justificou aquela criação do tributo. Ex.: EC
e Contribuições especiais.

• Tributos de arrecadação não vinculada: nesse caso, a receita poderá ser


utilizada livremente para as despesas gerais da administração pública. Ex.:
impostos, taxas e contribuições de melhoria.

CF, art. 168 ➔ é vedada a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou


despesa, ressalvada a repartição do produto da arrecadação e a destinação desses
recursos para:

• Saúde

• Educação

• Atividade da administração tributária

É possível vincular os impostos à prestação de garantias das operações de crédito por


antecipação de receita.

• Perceba:

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Imposto não é apenas um tributo de arrecadação não vinculada, mas também, via de
regra, não pode ter vinculação.

É ao chamado princípio da não afetação.

O tributo ainda poderá ser:

• Tributo real: graduado unicamente em função da coisa, em função do aspecto


econômico da operação.

Ex.: o IPVA de um veículo gol é o mesmo para um milionário e um estudante, seja


financiado ou não.

• Tributo pessoal: graduado em função das condições de cada contribuinte.

Ex.: IR. No IR, além de variar o caráter progressivo do imposto, ele pode sofrer deduções
(gastos com saúde, educação etc).

O tributo pode ser proporcional ou progressivo:

• Tributo proporcional: incide sempre a mesma alíquota, independentemente do


valor da base de cálculo.

Ex.: alíquota do IPVA de 3%. O carro pode custar 50 ou 100 mil reais.

• Tributo progressivo: a alíquota aumenta à medida que aumenta a base de


cálculo. É o caso do imposto de renda.

• Tributo regressivo: a carga tributária é maior sobre aquele que tem uma renda
menor. À medida que a base de cálculo diminui, a alíquota aumenta.

V. Imposto

Art. 16 do CTN: imposto é tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação que
independe de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.

Os impostos, a princípio, são numerus clausus, discriminados na CF.

Ressalva ➔ possibilidade da União valer-se de sua competência residual para, por


meio de LC, instituir novo imposto. Além disso, há a competência extraordinária da
União.

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Art. 154 da CF: a União pode instituir, mediante LC, impostos não previstos
(competência residual), desde que se observem os seguintes requisitos:

• Sejam não cumulativos

• Não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos impostos já


discriminados na CF

Além disso, a União pode, na iminência ou no caso de guerra externa, instituir


impostos extraordinários (IEG), estando ou não compreendidos dentro de sua
competência tributária.

Competência constitucional para instituir tributos

• Competência da União:

o Imposto de importação

o Imposto de exportação

o Imposto sobre produtos industrializados (IPI)

o Imposto sobre grandes fortuns (IGF)

o Imposto territorial rural (ITR)

o Imposto sobre operações financeiras (IOF)

o Imposto extraordinário de guerra (IEG)

o Impostos residuais

• Competência dos Estados e do DF

o Imposto sobre transmissão causa mortis e doação (ITCMD)

o Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre


prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de
comunicação (ICMS)

o Imposto sobre veículos automotores (IPVA)

• Competência dos Municípios

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o Imposto sobre a propriedade territorial urbana (IPTU)

o Imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI)

o Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISSQN)

VI. Taxas

Os entes políticos podem instituir taxa em razão do exercício do poder de polícia ou em


razão da utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível,
prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

CF ➔ taxas não podem ter base de cálculo própria de impostos. Não é possível a plena
coincidência das bases de cálculo de uma taxa e de um imposto.

As taxas são, em princípio, de arrecadação não vinculada, apesar de serem tributos


vinculados.

A CF não discrimina as taxas que são passíveis de instituição por cada entidade da
federação. A entidade que prestou o serviço, podendo prestar, ou que exerceu o poder
de polícia, podendo exercer, tem competência para instituir a taxa e direito de cobrá-la.

STF: Município não pode cobrar IPTU de Estado estrangeiro, embora possa cobrar taxa
de coleta domiciliar de lixo.

Fundamento: os Estados estrangeiros possuem imunidade tributária e de jurisdição


(Convenções de Viena de 1961) e vedação do enriquecimento sem causa.

STF: Município não pode cobrar IPTU de Estado estrangeiro, embora possa cobrar taxa
de coleta domiciliar de lixo.

Fundamento: os Estados estrangeiros possuem imunidade tributária e de jurisdição


(Convenções de Viena de 1961) e vedação do enriquecimento sem causa.

b) Vedação de base de cálculo idêntica à de impostos

Art. 145, §2º, da CF: as taxas não podem ter base de cálculo idêntica à dos impostos.

O fato gerador do imposto não é o mesmo fato gerador da taxa.

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• O fato gerador do imposto é um fato relacionado ao contribuinte.

• O fato gerador da taxa têm a ver com uma atuação do Estado.

Mas atenção! STF, Súmula Vinculante 29:

É constitucional a adoção no cálculo de uma taxa de um ou mais elementos da base


de cálculo de um determinado imposto, desde que não haja uma integral identidade
de uma base e outra.

Exemplo: taxa de coleta de lixo municipal com relação ao IPTU. IPTU: fato gerador é o
valor do imóvel. Taxa de coleta de lixo: pode ter como fato gerador o tamanho da frente
do imóvel, ainda que se trate de elemento necessário para se chegar ao valor da base
de cálculo do imóvel para se cobrar o IPTU.

c) Tipologia das taxas

As taxas podem ser de 2 tipos:

• Exercício do poder de polícia (taxa de polícia):

• Prestação de um serviço (taxa de serviço): dá-se pela utilização efetiva de


serviços públicos específicos e divisíveis, ou pela utilização potencial de serviços
públicos específicos e divisíveis postos à disposição do contribuinte.

STF, súmula vinculante 19 ➔ a taxa cobrada exclusivamente em razão do serviço de


coleta, remoção e tratamento e destinação de lixos e resíduos provenientes de imóvel
não viola à Constituição.

Ainda que a pessoa não resida no imóvel, poderá ser cobrada essa taxa, pois o serviço é
posto à disposição do contribuinte.

d) Taxa decorrente da prestação de um serviço público

A principal característica do serviço público que vai habilitá-lo a ser remunerado por
meio de taxa é a sua divisibilidade.

Serviço indivisível não admite a instituição de taxa para remunerá-lo.

Ex.: iluminação pública e segurança pública.

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→ Distinção entre taxa e preço público

• Taxa é espécie de tributo e não depende da utilização do serviço.

• Preço público ou tarifa não é tributo e exige a utilização do serviço para ser
cobrado. Ex.: (STF e STJ) cobrança do serviço de água e esgoto.

Preço público é uma remuneração devida por um serviço público de sujeição alternativa,
originada de relação contratual estabelecida entre o cidadão e o poder público, que
quase sempre está representado por um concessionário ou permissionário de serviço
público.

→ Custas e emolumentos

São as chamadas taxas judiciárias.

Natureza jurídica de taxa, pois há a prestação de serviço específico e divisível pelo


Estado.

Base de cálculo: valor da atividade estatal que foi prestada ao contribuinte. Deve
guardar proporcionalidade com a atividade prestada pelo Estado.

STF, Súmula 667: viola a Constituição e a garantia de acesso à jurisdição taxa judiciária
que é calculada sem limite sobre o valor da causa.

EC 45 incluiu o § 2º ao art. 98 da CF ➔ custas e emolumentos serão destinados


exclusivamente aos serviços afetos à Justiça.

Parcela da doutrina afirma que temos uma espécie tributária sui generis: um tributo de
arrecadação constitucionalmente vinculada.

e) Taxa relativa ao exercício regular do poder de polícia

CTN, art. 78: considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que,
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene,
à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à

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tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos.

Diferentemente da taxa de prestação de serviços, na taxa pelo poder de polícia exige-


se exercício efetivo do poder de polícia para que se promova a cobrança.

Não se pode cobrar a taxa de poder de polícia se este serviço não foi efetivamente
exercido.

STF

É constitucional a taxa de renovação do funcionamento e localização municipal, desde


que haja o efetivo exercício do poder de polícia, que é demonstrado pela mera
existência de órgão administrativo que possua estrutura e competência para a
realização da atividade de fiscalização.

Exemplos de atividade de polícia que ensejam cobrança de taxa:

• Taxa de fiscalização de anúncio

• Taxa de fiscalização dos mercados e títulos de valores mobiliários

• Taxa de localização e funcionamento de estabelecimentos em geral

STF ➔ a área ocupada pelo estabelecimento comercial revela-se apta a refletir o custo
aproximado da atividade estatal de fiscalização para fins de cobrança de taxa.

STF ➔ é inconstitucional a instituição e a cobrança de taxas por emissão ou remessa


de carnês/guias de recolhimento de tributos.

VII. Contribuição de melhoria

Pode ser cobrada por qualquer ente no âmbito de suas atribuições. Reputam-se feitas
pela União as obras executadas pelos Territórios.

Fato gerador: acréscimo no valor do imóvel localizado nas áreas beneficiadas direta ou
indiretamente por obras públicas.

• Fundamento: vedação do enriquecimento sem causa do particular.

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Base de cálculo: quantum de valorização experimentada pelo imóvel. A base de cálculo
nunca poderá ser o custo da obra e nem mesmo o valor da obra.

A contribuição de melhoria possui duas limitações (sistema de duplo limite):

• Limite geral (total): não pode exceder o custo da obra.

• Limite individual: valor da correspondente à valorização do imóvel.

Nada impede que a administração exija um valor menor.

Vale destacar!

• O recapeamento de via pública já asfaltada não pode gerar cobrança de


contribuição de melhoria, pois não gera a valorização aos contribuintes, que já
experimentaram a valorização quando da realização da obra.

• Por outro lado, a pavimentação asfáltica de via pública pode gerar a cobrança
de contribuição de melhoria, pois o fato gerador é benefício resultante de obra
pública.

• A contribuição de melhoria sub-roga-se na pessoa dos respectivos adquirentes


do imóvel, salvo quando conste do título a prova de sua quitação, conforme art.
130 do CTN ➔ caráter propter rem.

• A contribuição de melhoria somente pode ser cobrada após o término da obra,


que é o fato gerador. Do contrário, não se poderia aferir o quantum de
valorização que a obra gerou.

Art. 2º do DL 195:/67 (dispõe sobre a cobrança de contribuição de melhoria): será


devida a contribuição de melhoria, no caso de valorização de imóveis de propriedade
privada, em virtude de qualquer das seguintes obras públicas:

• Abertura, alargamento, pavimentação, iluminação, arborização, esgotos pluviais


e outros melhoramentos de praças e vias públicas;

• Construção e ampliação de parques, campos de desportos, pontes, túneis e


viadutos;

• Construção ou ampliação de sistemas de trânsito rápido;

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• Serviços e obras de abastecimento de água potável, esgotos, instalações de
redes elétricas, telefônicas, transportes e comunicações em geral ou de
suprimento de gás, funiculares, ascensores e instalações de comodidade pública;

• Proteção contra secas, inundações, erosão, ressacas, e de saneamento de


drenagem em geral;

• Construção de estradas de ferro e construção, pavimentação e melhoramento


de estradas de rodagem;

• Construção de aeródromos e aeroportos e seus acessos;

• Aterros e realizações de embelezamento em geral.

Art. 82 ➔ a lei relativa à contribuição de melhoria deverá publicar previamente edital,


contendo:

• Memorial descritivo do projeto;

• Orçamento do custo da obra;

• Determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição;

• Delimitação da zona beneficiada;

• Determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona


ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas;

• O edital também fixará prazo não inferior a 30 dias, para impugnação pelos
interessados, de qualquer dos elementos contidos no edital.

• O edital trará a regulamentação do processo administrativo de instrução e


julgamento da impugnação, sem prejuízo da sua apreciação judicial.

Por fim, de acordo com o art. 177, salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é
extensiva às taxas e às contribuições de melhoria, pois se tratam de tributos bilaterais.

VIII. Empréstimos compulsórios

São tributos temporários e restituíveis.

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A União, compulsoriamente, cobra dos administrados o valor para custear despesa
urgente, ficando obrigada a devolver esse valor logo que solucionar a causa que
justificou sua instituição.

STF: a União deve devolver em dinheiro e corrigido monetariamente.

São motivos para criação de empréstimo compulsório:

• Atendimento de despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública,


de guerra externa, ou de sua iminência;

• Investimento público de caráter urgente ou de relevante interesse nacional.

Atenção: esses motivos não são fatos geradores! São situações deflagrantes, conforme
doutrina majoritária.

O fato gerador do EC pode ser o mesmo de outros impostos. Ex.: fato gerador igual ao
do ICMS, IR etc.

Em relação à guerra externa (iminente ou eclodida), tal contexto pode ensejar dois
tributos no Brasil:

a) imposto extraordinário de guerra

b) empréstimo compulsório

Atenção: não é necessário que haja a decretação do estado de calamidade pública para
que haja a instituição do empréstimo compulsório.

Observações em relação ao princípio da anterioridade:

• Com relação ao EC para investimento público de caráter urgente ou de relevante


interesse nacional, é preciso observar o princípio da anterioridade.

• No caso de EC para atendimento de despesas extraordinárias, decorrentes de


calamidade pública, de guerra externa, ou de sua iminência, não é preciso
observar o princípio da anterioridade anual e nonagesimal. Exigência imediata.

• A aplicação dos recursos provenientes de empréstimos compulsórios é


vinculada às despesas que justificou a instituição do tributo.

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• É inconstitucional EC criado em face de conjuntura econômica que exija a
absorção temporária de poder aquisitivo da moeda. Fundamento: ausência de
previsão na na CF e não recepção do art. 15, III, CTN pela CF/88.

• Competência para instituir EC: exclusiva da União, por meio de LC.

Diferenças entre EC e imposto extraordinário de guerra:

• Empréstimo compulsório: caráter temporário, sendo necessária a restituição


posterior. Instituído por LC. É um imposto vinculado.

• Imposto extraordinário de guerra: não é restituível. Instituído por meio de lei


ordinária. Não é vinculado a uma atividade específica, pois é imposto.

Características comuns dos EC e o IEG:

• São de competência da União.

• Têm como característica a temporariedade, pois acabando a guerra o tributo se


exaure.

• Não observam o princípio da anterioridade.

Cabe ressaltar ➔ parágrafo único do art. 148 da CF: a receita do empréstimo


compulsório deve estar vinculada à sua despesa. Não pode haver tredestinação ou
desvio de finalidade!

IX. Pedágio

A CF, ao instituir limitação ao poder de tributar, veda que sejam estabelecidas limitação
ao tráfego de pessoas ou de bens por meio de tributos, excepcionando a cobrança de
pedágios.

STF, ADI 800: pedágio é preço público (tarifa). Pedágio cobrado pela efetiva utilização
de rodovia não tem natureza tributária.

Consequência: não está o pedágio sujeito ao princípio da legalidade.

Aula 02. Princípios do direito tributário. Sistema constitucional tributário.

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3. Princípios do Direito Tributário

Princípios do direito tributário.

Na seara tributária existem princípios explícitos e implícitos no texto constitucional.

I. Princípios constitucionais tributários expressos

a) Princípio da capacidade contributiva

Art. 145, §1º, da CF: sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados, segundo a capacidade econômica do contribuinte.

• Subprincípios da capacidade contributiva: proporcionalidade, progressividade,


personalização e a seletividade.

• O tributo tem uma gradação, existindo um intervalo entre o que pode ser
cobrado e sobre o que não pode ser cobrado.

Roberval Rocha ➔ a capacidade contributiva tem um piso (patrimônio mínimo) e um


teto (vedação do confisco).

A capacidade contributiva não pode subtrair o patrimônio mínimo e tampouco confiscar


o bem.

CF ➔ o princípio da capacidade contributiva deve ser aplicado aos impostos.

Jurisprudência: admite-se a aplicação a todas as espécies tributárias.

b) Princípio da legalidade

Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei.

Art. 150, I, da CF (princípio da legalidade tributária) ➔ é vedado a União, Estados, DF ou


municípios aumentar ou exigir tributos sem lei que o estabeleça.

STF, Súmula 574: sem lei estadual que a estabeleça, é ilegítima a cobrança do ICMS
sobre o fornecimento de alimentos e bebidas em restaurantes ou estabelecimento
similar.

21
• STF: a fixação do prazo de recolhimento de tributo não se submete ao princípio
da legalidade.

• Vale lembrar! A multa tributária também deve obedecer o princípio da


legalidade.

• STF: é defeso ao Município atualizar a base de cálculo do IPTU, mediante


decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária. Sendo
inferior, é possível.

→ Lei ordinária específica

A CF restringe determinadas matérias, exigindo lei específica para tratar dos seguintes
benefícios:

• Subsídio

• Isenção

• Redução da base de cálculo

• Concessão de crédito presumido

• Anistia

• Remissão

→ Exceções ao princípio da legalidade

Existem tributos que podem ter suas alíquotas majoradas por ato do poder executivo,
sendo eles:

• Imposto de importação (II)

• Imposto de exportação (IE)

• Imposto sobre produtos industrializados (IPI)

• Imposto sobre operações financeiras (IOF)

• CIDE-Combustível

• ICMS-Combustível

22
No caso do ICMS sobre combustível, as alíquotas são definidas por Convênios entre os
Estados e o DF. O ato que majora o ICMS consiste numa deliberação dos
representantes dos entes federativos.

A faixa permitida de majoração dessas alíquotas está expressa em lei.

Vale lembrar! Apenas a redução e o reestabelecimento de CIDE-combustíveis não se


submete ao princípio da legalidade. Para haver aumento da alíquota da Cide-
combustíveis, é preciso observar o princípio da legalidade.

→ Norma tributária em branco

Norma tributária pode ser complementada por ato infralegal?

STF: sim. É desnecessário LC para a instituição da contribuição para o Seguro de Acidente


do Trabalho (SAT). As Leis 7.787/89, art. 3º, II, e 8.212/91, art. 22, II, definem,
satisfatoriamente, todos os elementos capazes de fazer nascer a obrigação tributária
válida. O fato de a Lei deixar para o regulamento a complementação dos conceitos de
"atividade preponderante" e "grau de risco leve, médio e grave", não implica ofensa ao
princípio da legalidade genérica e da legalidade tributária.

c) Princípio da isonomia

• Tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente, na medida de suas


desigualdades.

• Art. 150, II, da CF: é vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes que
se encontrem em situação equivalente. É proibida qualquer distinção em razão
da ocupação profissional ou da função por eles exercidas.

• STF: viola o princípio da isonomia a isenção de IPTU exclusivamente em


decorrência da qualidade de servidor público do contribuinte.

d) Princípio da irretroatividade

Art. 150, III, da CF: é vedado cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos
antes do início da vigência da lei que instituiu ou aumentou o tributo.

• Protege-se o ato jurídico perfeito.

23
• É com base na lei vigente naquele momento que se verifica a relação entre fisco
e o sujeito passivo da relação tributária.

• Por esse motivo não se aceita a aplicação retroativa da redução de tributo ou


da alteração da base de cálculo ou da alíquota que torne menos gravosa a
incidência tributária.

• Mas a ideia da retroatividade é a seguinte: não se aplica a lei que instituiu ou


majorou o tributo em relação a fatos anteriores.

→ Normas tributárias retroativas

Algumas normas tributárias também podem ser retroativas:

• Lei interpretativa:

Explica o conteúdo de outras normas. Essas leis vão retroagir, pois têm efeitos
meramente declaratórios.

Essa retroatividade não pode se dar para aplicação de penalidades aos dispositivos
interpretados(art. 106, I, CTN).

• Lei tributária penal mais benigna:

Art. 106, II, do CTN: leis tributárias penais mais benignas vão atingir apenas os atos não
definitivamente julgados.

É necessário, portanto, que haja litígio administrativo ou judicial.

STJ: para fins de interpretação dessa condição, que só se considera como encerrada a
Execução Fiscal após a arrematação, adjudicação e remição, sendo irrelevante a
existência ou não de Embargos à Execução, procedentes ou não.

Essa lei vai atingir os atos não definitivamente julgados quando:

o Deixar de definir o ato como infração penal;

o Deixar de tratar o ato como contrário à exigência de uma ação ou


omissão, desde que o ato não tenha sido praticado em fraude ou tenha
implicado falta de pagamento de tributo;

24
o Passar a cominar uma penalidade que seja menos severa do que a
originariamente prevista.

• Lei que rege formalidades do lançamento (lei instrumental)

Art. 144, §1º, do CTN: aplica-se ao lançamento a legislação que posteriormente à


ocorrência do fato gerador da obrigação tenha instituído novos critérios de apuração,
novos processos de fiscalização ou que tenha ampliado poderes de investigação das
autoridades, ou ainda que tenham outorgados créditos de maiores garantias ou
privilégios, excetos, no último caso, para atribuir responsabilidades a terceiros.

*É uma lei instrumental

• Lei de anistia:

Perdão de infrações.

• Declaração direta de inconstitucionalidade pelo STF, quando não tiver


conferido efeito diverso ao efeito ex tunc à declaração de inconstitucionalidade

e) Princípio da anterioridade (anual)

Humberto Ávila chama de princípio da calculabilidade.

Art. 150, III, b da CF ➔ veda ao Estado cobrar tributos no mesmo exercício financeiro
em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.

Art. 34 da Lei 4.320: o exercício financeiro vai de 01/01 a 31/12.

Se a lei reduzir ou extinguir um tributo não precisará observar a anterioridade, podendo


ser aplicada imediatamente.

STF ➔ o princípio da anterioridade é uma garantia individual, sendo cláusula pétrea.

STF, Súmula Vinculante 50: norma legal que altera o prazo para recolhimento da
obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

→ Exceções ao princípio da anterioridade

Alguns tributos podem ser cobrados no mesmo exercício financeiro da lei que os
instituiu ou majorou.

25
Não precisam observar a anterioridade tributária:

• Empréstimo Compulsório p/ despesas extraordinárias

• Imposto de Importação (II)

• Imposto de Exportação (IE)

• IPI

• IOF

• Imposto Extraordinário de Guerra

• ICMS-Combustível

• CIDE-Combustível

• Contribuição Social da Seguridade Social

f) Princípio da anterioridade nonagesimal

CF, art. 150, III, ‘c’: é vedado cobrar tributos antes de decorridos 90 dias da data que
haja sido publicada a lei que os instituiu ou majorou.

Em tese, é necessário observar tanto a anterioridade anual como a nonagesimal.

→ Medida provisória

Se a majoração ou instituição de tributo se der por MP, o prazo da anterioridade


nonagesimal terá como termo a quo a data da publicação da MP, e não a data da
publicação da lei em que foi convertida.

Vale destacar! Se a MP for para instituir ou majorar taxas, contribuições de melhoria


ou contribuições especiais, bastará a publicação da medida provisória para entrarem
em vigor os referidos tributos.

Ex.:

Em outubro de 2017 é instituída contribuição de melhoria por meio de MP. A partir de


janeiro de 2017, poderá produzir efeitos, desde que obedeça 90 dias.

26
Por outro lado, se a MP tratar de impostos e for publicada em outubro de 2017, deverá
ser contado o prazo de 90 dias, mas será necessária a conversão da MP em lei até o
último dia do ano. Do contrário, só poderá entrar em vigor e produzir efeitos a partir de
janeiro de 2019.

→ Prorrogação de alíquota

STF: o prazo da nonagesimal somente deve ser observado nos casos de majoração ou
instituição de tributos.

Esse prazo não precisa ser observado nos casos de prorrogação de alíquota já aplicada.

→ Exceções à anterioridade nonagesimal

São exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal:

• Empréstimos compulsórios p/ despesas extraordinárias

• Imposto de Importação (II)

• Imposto de Exportação (IE)

• IOF

• Imposto de Renda (IR)

• Imposto Extraordinário de Guerra (IEG)

• IPVA para fixação da base de cálculo

• IPTU para fixação da base de cálculo

• IPI não se submete ao princípio da anterioridade anual, mas se submete ao


princípio da anterioridade nonagesimal.

• IR se submete ao princípio da anterioridade anual, mas não se submete ao


princípio da anterioridade nonagesimal.

• Para fixação da base de cálculo para IPTU ou IPVA não é preciso observar a
anterioridade nonagesimal, mas é preciso observar a anterioridade anual.

g) Princípio da vedação ao confisco

27
(princípio da razoabilidade da carga tributária)

CF, art. 150, IV: é vedado utilizar tributo com efeito de confisco.

• STF: a identificação de efeito confiscatório deve ser feita em função da


totalidade da carga tributária, dentro de determinado período, a mesma
pessoa política que os houver instituído.

A jurisprudência ainda não decidiu qual a porcentagem que seria considerado efeito
confiscatório. Na Alemanha esse percentual é de até 50%.

Apesar da CF mencionar apenas tributos, doutrina e jurisprudência entendem que a


multa também não pode ter efeito confiscatório.

• STF: é confiscatória a multa de duas vezes o valor do tributo devido, aplicada


em razão de seu não pagamento.

• STF: é confiscatória multa aplicada em razão de sonegação no valor de cinco


vezes o tributo devido.

h) Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e bens

Art. 150, V, CF: é vedado estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio
de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela
utilização de vias conservadas pelo Poder Público.

STF: pedágio é preço público, e não tributo.

i) Princípio da uniformidade geográfica

• Art. 151, I, da CF: é vedado à União instituir tributo não uniforme em todo o
território nacional, ou que implique preferência a determinado Estado ou ao DF,
em detrimento de outro.

• Admite-se a concessão de incentivos fiscais que sejam destinados a promover o


equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diversas regiões do país.

• Objetivo fundamental da República: diminuir as desigualdades regionais.

28
• Apesar de a norma ser voltada à União, por simetria a vedação se estende aos
Estados, ao DF e aos municípios.

Ex.: não pode o Estado conceder benefício X a certo município sem concedê-lo aos
outros municípios, salvo se houver razão que justifique tal discriminação.

j) Princípio da vedação da discriminação em razão da procedência ou do destino

- Art. 152, caput, da CF: É vedado aos Estados, ao DF e aos Municípios estabelecer
diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua
procedência ou destino.

Esse princípio não tem aplicação nas relações internacionais.

• A ideia é ➔ não se pode cobrar menos imposto de uma mercadoria se ela vier
de determinado Estado e cobrar mais se ela vier de outro Estado.

STF e STJ: não é admissível que Estados e DF estabeleçam alíquotas de IPVA


diferenciadas entre veículos nacionais e importados.

“IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES – ALÍQUOTA


DIFERENCIADA – VEÍCULO IMPORTADO – IMPOSSIBILIDADE – PRECEDENTE DO
PLENÁRIO. O Supremo, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
1.655/AP, concluiu pela impossibilidade de diferenciação na cobrança do Imposto sobre
a Propriedade de Veículos Automotores, a teor do artigo 150, inciso II, do Diploma
Maior” (AI n° 483.726/DF, Primeira Turma, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJe de
22/8/11).

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IPVA.


VEÍCULO IMPORTADO. ALÍQUOTA DIFERENCIADA. 1. Não se admite a alíquota
diferenciada de IPVA para veículos importados e os de procedência nacional. 2. O
tratamento desigual significaria uma nova tributação pelo fato gerador da importação.
Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento” (RE n° 367.785/RJ-AgR,
Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 2/6/06).

k) Outros princípios relevantes

→ Princípio da tipicidade tributária (cerrada)

29
Exige que a lei tributária defina, de forma taxativa e completa, as situações tributárias
necessárias para que nasça a obrigação tributária.

É preciso que a lei tributária preveja:

a) a hipótese de incidência

b) os critérios de quantificação da obrigação tributária

A tipicidade tributária veda a interpretação extensiva e a analogia para incidência de


tributos.

→ Princípio do non olet

O tributo não fede.

Ex.: sujeito que auferiu renda traficando pagará IR.

Art. 118 do CTN . A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:

• I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes,


responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus
efeitos;

• II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

São irrelevantes a análise da eficácia do ato, a capacidade civil dos envolvidos, a licitude
do comportamento...

→ Princípio da responsabilidade fiscal

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) trouxe o conceito de accountability ➔


gerência eficiente dos recursos públicos.

LRF ➔ a instituição, a previsão e a arrecadação de todos os tributos previstos na CF são


requisitos para que haja responsabilidade fiscal do ente federado competente para
tanto (administrador considerado como responsável fiscal).

São vedadas transferências voluntárias para entes que não instituam ou cobrem todos
os impostos de sua competência (art. 11, LRF).

30
4. Sistema constitucional tributário

Competência para legislar sobre matéria tributária: competência concorrente (União


edita normas gerais e Estados suplementam).

Imposto estadual = autonomia financeira do ente federado (um dos pilares do


federalismo).

Competência tributária ➔ poder atribuído pela CF para que o ente federado institua
tributos por meio de lei.

• Somente ente federado tem competência tributária.

Outros entes podem ter capacidade tributária.

• O exercício da competência tributária é facultativo do ente político, não sendo


obrigado a instituir todos os tributos que a CF reservou a ele.

• Porém, LRF ➔ é vedada a transferência voluntária ao ente federado que não


tenha promovido a instituição, previsão e arrecadação de todos os tributos
previstos na CF.

I. Competência tributária x Capacidade tributária ativa

Competência tributária: competência para criar o tributo. Só se cria tributo por meio de
lei.

Capacidade tributária ativa: possibilidade de o indivíduo figurar no polo ativo da


relação obrigacional. Poder de cobrar, exigir e fiscalizar. Ex.: INSS.

Características legais da capacidade tributária ativa:

• Atribuição delegável:

Um ente pode ser quem institui o tributo e outro quem cobra e fiscaliza o tributo.

➢ A capacidade tributária ativa é delegável.

➢ A competência tributária, que é indelegável.

• Atribuição não legislativa:

31
A capacidade tributária ativa é não legislativa.

• Privilégios processuais:

Art. 7º, §1º, do CTN: a atribuição da capacidade tributária ativa compreende as garantias
e privilégios processuais que a pessoa jurídica de direito público tem.

Fundamento: supremacia do interesse público.

• Art. 183 do NCPC: A União, os Estados, o DF, os Municípios e suas respectivas


autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas
as suas manifestações processuais. Quem recebeu a capacidade tributária ativa
também.

• NCPC diz, no art. 496, I e II: sentenças que julgarem procedente, no todo ou em
parte, os embargos da execução de dívida ativa ou que forem contrárias ao
interesse da fazenda pública, estarão sujeitas ao reexame necessário.

Ainda que seja outro que esteja cobrando o tributo, haverá o reexame necessário nesses
casos.

• Além disso, restrições ou cabimentos de instrumentos processuais que existem


em face da fazenda pública existirão em face do sujeito que está cobrando a
dívida tributária.

• Atribuição revogável:

A atribuição poderá ser revogada a qualquer tempo por ato unilateral da pessoa jurídica
de direito público.

II. Tipologia da competência tributária

A competência tributária pode ser:

• Competência comum: aquela que qualquer ente pode instituir. Caso das taxas e
contribuições de melhoria.

• Competência privativa: há em relação aos impostos. A CF diz quem poderá


instituir cada imposto e empréstimo compulsório.

32
• Competência cumulativa: refere-se a situações sui generis da federação.

DF tem competência cumulativa dos tributos estaduais e municipais.

No caso dos territórios, a União terá competência para instituir tributos estaduais e
federais e, caso não seja dividido em municípios, também dos impostos municipais.

• Competência residual: competência da União para instituir impostos e


contribuições residuais não estão especificadas na CF, desde que não
cumulativos e sem coincidência de fato gerador e base de cálculo de outros
impostos, assim como as contribuições residuais não poderão ter fato gerador e
base de cálculo de outras contribuições, mas poderão ter a mesma de impostos.

III. Competência extraordinária

Art. 154, II, da CF: a União poderá instituir, na iminência ou no caso de guerra externa,
impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os
quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

IV. Limitações constitucionais ao poder de tributar

As limitações são de 3 ordens:

• Princípios constitucionais tributários

• Imunidades tributárias

• Limitações infraconstitucionais e previstas pela CF

➢ As limitações ao poder de tributar são normas de restrição da competência


tributária.

➢ Não estão taxativamente previstas na CF.

No âmbito infraconstitucional, tais limitações devem ser estabelecidas por LC.

A CF estatui as principais limitações ao exercício da competência tributária, mas não


necessariamente todas. Basta ler o artigo 150 da CF.

Seção II
DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR

33
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios

V. Repartição de receitas tributárias

Um dos instrumentos que tornam efetiva a autonomia dos entes menores.

Há um redirecionamento de fundos dos entes maiores (União) para os menores (Estados


e municípios).

Não existe repartição constitucional pela via inversa, dos menores para os maiores.

Dentre as diversas espécies tributárias, somente os impostos e a CIDE-combustíveis são


objeto de repartição.

• Constituição, art. 160: é vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao


emprego dos recursos atribuídos aos Estado, ao DF e aos municípios.

• Art. 160, § único, CF: a vedação à retenção não impede que a União e os Estados
condicionem a entrega de recursos:

a) ao pagamento de seus créditos, inclusive aos créditos de suas autarquias

b) ao emprego do mínimo exigido em serviços e ações de saúde.

Vale ressaltar: estamos falando de transferências obrigatórias.

A legislação infraconstitucional pode criar obstáculos ao repasse das verbas públicas no


tocante as transferências voluntárias, o que foi feito pela Lei de Responsabilidade
Fiscal.

a) Sistemática de repartição

Existem duas formas adotadas pela CF que possibilitam a participação de uma pessoa
política no produto de arrecadação de outra pessoa política.

Essa repartição pode ser:

• Repartição direta: o valor arrecadado é diretamente repassado ao destinatário.

Ex.: art. 158, III, da CF ➔ pertence ao município 50% do valor da arrecadação do IPVA
licenciado em seu território.

34
• Repartição indireta: há uma relação complexa, sendo formados fundos
específicos, que recebem parcelas e receitas para, depois, ratearem esses
recursos entre os participantes beneficiários previamente estabelecidos.

b) Receitas não repartidas

Existem receitas de impostos que não são repartidas.

No âmbito da União, não estão sujeitos à repartição de receitas:

• Imposto extraordinário de guerra

• Imposto de importação

• Imposto de exportação

• Imposto sobre grandes fortunas

➢ Os Estados não sujeitam à repartição de receitas o ITCMD.

➢ Os municípios não repartem suas receitas.

c) Repartição direta

→ Da União para os Estados e para o Distrito Federal (CF)

• 100% do arrecadado com o IR incidente sobre a fonte de rendimentos pagos


pelo Estado, por autarquias e fundações públicas, ficará com o próprio Estado.

• 20% da arrecadação do imposto residual instituído pela competência atribuída


à União será repassado ao Estado e ao Distrito Federal.

• 30% do IOF incidente sobre o ouro, quando definido como ativo financeiro ou
instrumento cambial.

→ Da União para os Municípios (CF)

• 100% do arrecadado com o imposto de renda (IR), incidente sobre a fonte de


rendimentos pagos pelos Municípios, por autarquias e fundações públicas, ficará
com o próprio Município.

35
• 50% do ITR relativamente aos imóveis situados naquele município, ou 100% se
o município se disponibilizar a fiscalizar e cobrar o ITR.

• Além disso, 70% do IOF-ouro vai para os municípios.

→ Dos Estados para os Municípios

• São repassados aos municípios 50% dos IPVAs licenciados na circunscrição.

• São repassados 25% dos ICMS aos municípios pelos Estados. Mas essa divisão é
diferente, sendo creditada da seguinte forma:

➢ 75%, no mínimo, na proporção do valor que foi adicionado nas operações


realizadas naquele município;

➢ 25%, de acordo com o que dispuser a lei estadual.

d) Repartição indireta

É feita por meio de fundos constitucionais, valendo-se de recursos federais apenas.

Quatro desses fundos receberão o montante de 49% do total efetivamente arrecadado


pela União de IPI e IR.

Essa repartição é feita da seguinte forma:

• 21,5% ao fundo de participação do Estado e do DF.

• 22,5% ao fundo de participação dos municípios.

• 3% para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das


regiões norte, centro-oeste , e nordeste (neste último caso metade deverá ser
destinado ao semiárido).

• 2% (1 + 1) destinado ao fundo de participação dos municípios, sendo metade


entregue no primeiro decêndio do mês de julho e metade no primeiro decêndio
do mês de dezembro de cada ano.

O quinto fundo constitucional é o fundo compensatório de desoneração das


exportações (FCDE) – 159, II, CF.

36
Objetivo: ressarcir Estados e DF pelas perdas decorrentes de imunidades de ICMS sobre
produtos exportados.

O FCDE é composto por 10% sobre o que é arrecadado do IPI proporcionalmente aos
valores das respectivas exportações dos produtos industrializados.

• A nenhuma unidade federada pode ser destinada parcela superior a 20% do


montante existente no FCDE, devendo eventual excedente ser distribuído entre
os demais participantes.

• Do total repassado ao Estados, 25% vai para os municípios.

Dentro desses 25% a sistemática de cálculo é similar à repartição de receitas do ICMS


➔ 75% irá para o município que efetivamente exportou e 25% conforme determinar a
lei estadual.

O último dos fundos constitucionais é composto por 29% da arrecadação com a CIDE-
Combustíveis, que é destinado a Estados e DF, destinando-se a financiamento de
programas de infraestrutura de transportes.

Desse total, 25% é repassado aos municípios, que acabam recebendo 7,25% do total
arrecadado pela União.

Aula 03. Imunidade tributária. Interpretação e integração da legislação tributária.

5. Imunidade tributária

• É uma limitação constitucional ao poder de tributar.

• O constituinte qualifica determinadas situações (objetiva ou subjetivamente),


dizendo que elas não podem ser atingidas por um tipo ou por tipos de tributos.

Fundamento axiológico: proteção de valores considerados fundamentais para o


Estado.

Ex.: imunidades de templos de qualquer culto ➔ a liberdade religiosa é valor


fundamental no Estado brasileiro.

Ex.2: imunidade recíproca ➔ federalismo de 2º grau.

37
I. Distinção entre imunidade, isenção e não incidência

• Não incidência ➔ o fato não se subsume à norma jurídica.

➢ A lei não prevê essa situação (não há a hipótese de incidência).

➢ A lei pode estabelecer ou não as hipóteses de não incidência. Se a lei traz a


hipótese de não incidência, temos uma não incidência legalmente qualificada.

• Imunidade ➔ é uma hipótese de isenção constitucionalmente qualificada.

Alguns autores ➔ a imunidade é uma norma de incompetência tributária (face negativa


do conceito de competência tributária).

• Isenção ➔ distingue-se da imunidade em razão da sede jurídica em que se


encontra. A isenção tem sede na lei.

Obs.: se a não incidência ou isenção estiver na Constituição, haverá uma imunidade.

II. Tipologia das imunidades

As imunidades podem ser:

• Imunidades genéricas:

Art. 150, VI, da CF: sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos
sobre:

o Patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

o Templos de qualquer culto;

o Patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas


fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de
educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei;

o Livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua impressão.

o Fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo


obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em

38
geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes
materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de
replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.

São imunidades genéricas porque impedem que qualquer ente político imponha
tributação sobre as situações discriminadas.

Vetores axiológicos:

A. pacto federativo

B. isonomia entre as pessoas políticas

C. ausência de capacidade contributiva.

STF:

Apesar da expressão “impostos relativos a patrimônio, renda ou serviços, uns dos


outros”, a proteção deve ser ampla quanto aos tipos de impostos.

Ex.: abrange II e IOF.

STF

Não há imunidade tributária em relação ao ICMS decorrente da prática econômica


desenvolvida por entidade de assistência social sem fins lucrativos que tem por
finalidade realizar ações que visem à promoção da pessoa com deficiência, quando
desempenhar atividade franqueada da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(ECT), ainda que a renda obtida reverta-se integralmente aos fins institucionais da
referida entidade.

• A imunidade que alcança partidos políticos, entidades sindicais, entidades de


assistência social etc. compreende somente o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais dessas entidades (art. 150, § 4º, da
CF).

No mesmo sentido, art. 14, § 2º, CTN:

39
Os serviços imunes das instituições de assistência social são, exclusivamente, os
diretamente relacionados com os objetivos institucionais da entidade, previstos nos
respectivos estatutos ou atos constitutivos.

A imunidade em relação ao ICMS não pode ser concedida no caso, porquanto a


atividade econômica fraqueada dos Correios foge dos fins institucionais da entidade,
ainda que o resultado das vendas seja revertido em prol das suas atividades essenciais.

Imunidades específicas: quase sempre são referentes a determinados tributos,


limitando a tributabilidade constitucional a determinadas situações eleitas pelo
constituinte.

Ex.: ITBI ➔ não há sua incidência no caso de criação de empresa. Da mesma forma, não
incide o ITBI quando há incorporação, cisão, extinção de pessoa jurídica, salvo se a
atividade preponderante do adquirente for justamente a compra e venda desses bens,
direitos, etc.

As imunidades poderão ser ainda:

• Imunidades subjetivas:

Aqui, levam-se em conta os atributos da pessoa a que se está concedendo a


intributabilidade.

Entidade religiosa, partido político, imunidade recíproca...

O sujeito fica imune, deixando de ser responsável pela obrigação principal. Mas não fica
desonerado das obrigações acessórias.

• Imunidades objetivas:

Leva-se em conta o objeto: determinados fatos, bens e situações não sujeitas a


tributações.

Exemplo: imunidade sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua


impressão

• Imunidades objetivas-subjetivas:

Leva em conta tanto o sujeito como o objeto.

40
Exemplo: ITR (não incide sobre pequena gleba rural (objetivo), cujo dono não seja
proprietário de outro imóvel (subjetivo).

III. Imunidades em espécie

a) Imunidade recíproca

É a que existe entre os entes federados. Veda que um ente federado institua imposto
sobre patrimônio, renda ou serviços uns dos outros.

Fundamento: autonomia política do ente federativo.

Não há subordinação jurídica entre os entes federados.

Lembre-se: a imunidade recíproca abrange o patrimônio, renda ou serviços com relação


aos impostos. Mas isto não vai afastar a tributação indireta.

Ex.: União compra algemas para presídios federais. O vendedor transfere os tributos
incidentes ao consumidor (União), que estará pagando IPI, ICMS, etc., embutidamente.

Atenção! Somente impostos são encampados pela imunidade recíproca. Tributos


como taxas e contribuições de melhoria não estão abrangidos.

→ Extensão da imunidade recíproca às autarquias e às fundações públicas

• Art. 150, §2º, CF estende o alcance da imunidade recíproca às autarquias e às


fundações públicas.

• Essa imunidade é restrita ao patrimônio, rendas e serviços dessas pessoas


jurídicas de direito público, mas vinculadas as suas finalidades essenciais. Se
não for, poderá recolher impostos. Há uma imunidade vinculada.

• STJ: o ônus da prova da não afetação do bem imóvel com o propósito


autárquico é da entidade tributante.

→ Restrições ao alcance da imunidade recíproca

• §3º do art. 150 ➔ afasta a exploração de atividade econômica da imunidade do


patrimônio, das rendas e serviços.

41
• Outra limitação: ente público promitente comprador do imóvel não se exonera
do dever de pagar imposto relativamente àquele bem.

Ex.: há responsabilidade por sucessão imobiliária da União. Não ocorre a chamada


“imunidade superveniente”. STF: deve prevalecer a incidência do gravame.

→ Imunidade recíproca e empresas públicas e sociedades de economia mista

O STF estende essa imunidade às empresas públicas e sociedades de economia mista


quando forem prestadoras de serviço público.

Ex.: INFRAERO, Cia. Águas e Esgotos de Rondônia, Correios.

Com relação aos Correios, a imunidade permanecerá aos serviços não essencialmente
postais.

CESPE considerou correta:

A imunidade tributária recíproca beneficia sociedades de economia mista que prestem


serviços públicos estatais essenciais e exclusivos, como, por exemplo, o serviço de
saneamento básico, ainda que tais serviços sejam remunerados por tarifas.

STJ:

A imunidade tributária recíproca é aplicável às autarquias e empresas públicas que


prestem inequívoco serviço público, desde que não distribuam lucros ou resultados
direta ou indiretamente a particulares, ou tenham por objetivo principal conceder
acréscimo patrimonial ao poder público (ausência de capacidade contributiva) e não
desempenhem atividade econômica, de modo a conferir vantagem não extensível às
empresas privadas (livre iniciativa e concorrência).

O Serviço Autônomo de Água e Esgoto é imune à tributação por impostos (art. 150, VI,
a e §§ 2º e 3º da Constituição).

A cobrança de tarifas, isoladamente considerada, não altera a conclusão.

→ Imunidade recíproca e ICMS

Trata-se de imposto indireto, que gera o fenômeno da repercussão tributária, também


chamado de fenômeno da translação.

42
Ex.: quem adquire um produto carrega o peso da tributação.

Nesses casos há o contribuinte de fato e o contribuinte de direito.

• Se a entidade política for adquirir um produto, deverá sofrer a carga tributária


do ICMS.

• Para o STF, não existe divisão de direito e de fato, só existindo responsável e


contribuinte.

Ex.: quando há a venda de um carro, o contribuinte é a indústria, motivo pelo qual não
há falar em imunidade, ainda que o veículo seja adquirido por entidade política, como a
União, Estado ou Município.

→ Imunidade recíproca e cessão a terceiro de um imóvel pertencente a pessoa jurídica


imune

• STF (REs 594015 e 601720), com repercussão geral: “A imunidade recíproca não
se estende a empresa privada arrendatária de imóvel público, quando seja ela
exploradora de atividade econômica com fins lucrativos. Nessa hipótese, é
constitucional a cobrança de IPTU pelo município”.

• Fundamento: a imunidade recíproca não alcança imóveis públicos ocupados por


empresas que exerçam atividade econômica com fins lucrativos.

b) Imunidade dos templos

Art. 150, VI, b: é vedado instituir impostos sobre templos de qualquer culto (refere-se
às instituições religiosas).

A interpretação aqui dada é a mais ampla possível, abrangendo a casa paroquial,


cemitérios religiosos, terrenos utilizados como estacionamentos da igreja etc.

Não incidirá IPTU sobre o imóvel, IPVA sobre o veículo da entidade religiosa, IR sobre o
dízimo, etc.

Súmula Vinculante 52

43
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a
qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da CF, desde que o valor dos
aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

São exemplos de casos concretos importantes:

• Imunidade de IPTU para a casa do chefe religioso;

• Imunidade de IR para a renda oriunda de gráfica da igreja;

• Imunidade de IPTU para o apartamento, de propriedade do templo, locado a


terceiros;

• Imunidade de IPTU para o bem imóvel, de propriedade do templo, usado para


estacionamento de fiéis;

• Imunidade de IPTU para o bem imóvel, de propriedade do templo, usado para


cemitério.

Atenção

• Havendo igreja ou entidade religiosa como locatária de um imóvel, ou seja,


como inquilina de um bem, haverá incidência do IPTU.

Fundamento: o sujeito passivo da relação tributária é o proprietário.

• Da mesma forma, no caso de uma igreja que contrata pessoa jurídica para
confeccionar jornal por encomenda incidirá o ISS.

c) Imunidade dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais
dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, atendidos os requisitos da lei

CF: é vedado aos entes políticos instituir impostos sobre o patrimônio, rendas e serviços
dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores (empregados), das instituições de educação e instituições de assistência
social, sem fins lucrativos.

44
No que toca às instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, é
necessário atender aos requisitos da lei ➔ imunidade não autoaplicável (norma
constitucional de eficácia limitada).

Essa lei deve ser complementar, porque trata de limitação constitucional ao poder de
tributar.

Art. 14 do CTN (norma materialmente complementar)

Requisitos para que essas imunidades possam ser fruíveis:

• Não distribuam parcelas do seu patrimônio, rendas ou serviços a qualquer


título. Pode haver lucro sem distribuição.

• Apliquem integralmente os recursos no país;

• Mantenham as escrituração de receitas e despesas, a fim de estabelecer o


controle.

Na falta de cumprimento desses requisitos, a autoridade competente pode suspender a


aplicação do benefício.

• STF: o inciso I do art. 14 do CTN não impede que se paguem salários razoáveis
e compatíveis com a prática de mercado aos mantenedores da instituição
imune.

Vale lembrar!

• O STF deu interpretação lata para abranger outros impostos, diversos dos que
incidem sobre o patrimônio, renda e serviços. Ex.: a imunidade tributária,
prevista no art. 156, VI, c, se estende ao IOF.

Súmula 730 do STF: a imunidade tributária conferida às instituições de assistência social


sem fins lucrativos somente alcança entidades de previdência social privada se não
houver contribuição dos beneficiários dessa entidade privada.

STF: as entidades do “Sistema S” (serviços sociais autônomos) detêm imunidade para


o ITBI na aquisição de imóvel. Ex.: SENAC compra um imóvel.

d) Imunidade de imprensa

45
Art. 150, VI, “d”: é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

A imunidade afasta impostos que incidiriam sobre esses bens. Não se fala em
afastamento do IPTU, IPVA ou IR. Serão afastados impostos como IPI, ICMS e o II. Os
demais incidirão normalmente.

STF

A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da CF aplica-se ao livro eletrônico
(“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo (Inf. 856).

A imunidade da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88 alcança componentes


eletrônicos destinados, exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.

STF

• Com relação ao álbum de figurinhas, a imunidade de imprensa deve abrangê-


los.

Fundamento: o constituinte não fez ressalvas quanto ao valor artístico ou didático.

• Da mesma forma, as listas telefônicas são periódicos igualmente imunes.

O insumo protegido é apenas o papel para o livro, jornal ou periódico. Os demais


insumos (máquinas, tintas etc.) não são abrangidos pela imunidade de imprensa.

e) Imunidade das músicas nacionais (EC 85/13)

Objetivo: conferir maior competitividade às empresas de músicas (pirataria) e difundir


a cultura musical brasileira.

• Art. 150, VI, “e”: é vedado à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios instituir
impostos sobre fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil
contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em
geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou
arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser.

São protegidos pelo manto da imunidade:

46
• Proteção para o som gravado (fonograma) e para a imagem e som gravados
(videofonograma);

• Proteção inclui suportes materiais (CD’s, DVD’s, desde que contenham os


fonogramas ou videofonogramas);

• Proteção, ainda, para os arquivos digitais (internet, etc.)

Os impostos que foram afastados dizem respeito às etapas de produção e


comercialização.

-Logo, o ISSQN fica afastado da Etapa 01 de produção (gravação em estúdio).

-Na Etapa 02 (industrialização), não houve o afastamento do IPI (o texto estabelece


que a etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser está ressalvada
da imunidade).

-Na Etapa 03 (comercialização), há a imunidade do ICMS, não incidindo no momento


da distribuição e venda de produtos.

f) Imunidades de taxas e contribuições

• Taxas e contribuições de melhoria são tributos vinculados, mas, via de regra, de


arrecadação não vinculada.

• Há dispositivos que trazem imunidades em relação às taxas e contribuições.


Exemplos:

• Art. 5º, XXXIV: assegura a todos, independentemente do pagamento de taxas,


o direito de petição ao poder público.

• Art. 5º, LXXIII: qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular,
ficando o autor, salvo comprovada a má-fé, isento de custas judiciais.

• Art. 5º, LXXVII: são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data.

• Art. 206: o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios ➔ Inciso
IV: há gratuidade de ensino público nos estabelecimentos oficiais.

47
Pela prestação do serviço público específico e divisível, que é a educação pública, o
Estado não pode cobrar.

➢ SV 12: taxa de matrícula em universidades públicas viola o art. 206, IV, da CF.

• Art. 195, §7º: são isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências em lei.

IV. Imunidades específicas aos impostos

São imunidades específicas:

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI):

• Não incide IPI sobre produtos destinados ao exterior (art. 153, §3º, III).

Imposto Territorial Rural (ITR):

• imunidade subjetiva-objetiva: pequenas glebas rurais cujo proprietário não


possua outro imóvel.

• ICMS:

Em relação a ICMS, há imunidades previstas na CF, caso de:

o Mercadorias destinadas ao exterior

o Serviços prestados no exterior

o Operações que destinem a outros Estados petróleo (lubrificantes,


combustível, etc.) e energia elétrica

o Ouro, quando definido como ativo financeiro em instrumento cambial

o Operações de serviço de comunicação nas modalidades de radiodifusão


de sons e imagens de recepção livre e gratuita

• ISSQN:

Não vai incidir sobre operações e serviços para o exterior.

• Imposto sobre transferência de bens imóveis (ITBI):

Não vai incidir ITBI quando:

48
• Bem é incorporado à formação de capital social de p. jurídica.
• Transmissão de bens ou direitos em razão de fusão, incorporação, cisão ou
extinção da pessoa jurídica, salvo se a atividade preponderante do adquirente
for a compra e venda desses bens ou direitos, ou a locação ou arrendamento
mercantil desses bens.

V. Tributação exclusiva pelo ICMS, imposto de importação e imposto de exportação

Com exceção do ICMS, II e IE, nenhum outro imposto pode incidir sobre operações
relativas a:

• Energia elétrica

• Serviços de telecomunicações

• Derivados de petróleo e combustíveis

• Minerais

VI. Quaisquer impostos

Art. 184, §5º: são imunes a impostos federais, estaduais e municipais as operações de
transferência de bens imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.

Quando o imóvel está desapropriado para fins de reforma agrária não há incidência de
qualquer imposto.

6. Vigência e aplicação da legislação tributária

I. Vigência

Vigência refere-se a validade formal da norma.

a) Vigência espacial

A norma entra em vigor dentro do território da entidade política que a criou.

A lei tributária só pode vincular fatos geradores ocorridos no território do ente


tributante. É preciso respeitar a repartição constitucional tributária.

49
• Exceções: é admissível a chamada extraterritorialidade interna da legislação
tributária em determinadas situações.

Art. 102 do CTN: a legislação tributária dos Estados, do DF e dos Municípios vigora, no
País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam
extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta lei ou
outras leis de normas gerais expedidas pela União.

Logo, é possível extraterritorialidade interna quando:

• Houver um convênio entre entes federados

• Houver norma geral expedida pela União (LC)

b) Vigência temporal

• A lei tributária entrará em vigor no país 45 dias após a publicação, salvo se houver
disposição em contrário.

• Há regras específicas no CTN sobre o início da vigência temporal de normas


complementares (atos normativos, decisões, convênios).

Art. 103 do CTN traz regras de quando entram em vigor essas normas complementares:

• Atos administrativos: entram em vigor na data da sua publicação;

• Decisões administrativas dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição


administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa: 30 dias após a sua
publicação;

• Convênios: na data neles prevista.

Essa regra não é absoluta, sendo possível que a decisão e o ato administrativo traga uma
outra data para início de sua vigência.

II. Eficácia

É a aptidão que a norma tem para produzir efeitos.

• 2 princípios constitucionais que vão restringir a liberdade dessa eficácia ou da


estipulação legislativa do início da eficácia:

50
A. princípio da anterioridade anual

B. princípio da anterioridade nonagesimal.

III. Aplicação

Art. 144 do CTN: o lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da


obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou
revogada (princípio do tempus regit actum).

*Mesmo que à data do lançamento aquela lei tributária esteja revogada, pode-se aplicar
a lei vigente à época do fato gerador ➔ ultratividade desta lei.

Art. 105 CTN:

A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos


pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja
completa nos termos do artigo 116 (circunstâncias materiais ocorridas ou situações
jurídicas definitivamente constituídas) ➔ aplicação imediata da legislação tributária.

Se o fato gerador já tenha ocorrido, aplica-se o princípio do tempus regit actum. Caso
contrário, haverá aplicação da nova lei.

STF, Súmula 584

Ao imposto de renda, calculado sobre os rendimentos do ano-base, vai ser aplicada a


lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

7. Interpretação e integração da legislação tributária

Técnicas tradicionais de interpretação:

• Intepretação literal (semântica ou filológica): restrição ao aspecto gramatical de


interpretação.

• Interpretação histórica: contexto histórico que foi produzia a norma.

• Interpretação lógica: vale-se de regras tradicionais de hermenêutica, como


princípio da especialidade, irretroatividade, retroatividade benigna etc.

51
• Interpretação teleológica: busca saber a finalidade da norma.

• Interpretação sistemática: interpreta uma norma com base em todo o


ordenamento jurídico.

CTN, arts. 107 a 112: capítulo próprio da interpretação e integração da legislação


tributária.

Regras de interpretação aceitas pelo CTN:

• A interpretação literal deve ser realizada sobre as normas que suspendem ou


excluem o crédito tributário, que outorguem isenção ou dispensem
cumprimento de obrigações acessórias. Se a norma for benéfica ao
contribuinte, ela deve ser interpretada literalmente.

• Deve ser feita uma interpretação benigna do direito tributário penal.

• Restrição à utilização de institutos, conceitos, formas e princípios gerais do


direito privado.

I. Interpretação literal

CTN ➔ deve ser feita interpretação literal:

• Das normas que suspensão ou excluam o crédito tributário

• Das normas que outorguem isenção

• Das normas que dispensem o cumprimento de obrigações acessórias

II. Interpretação benigna

Refere-se ao direito tributário penal.

Se houver dúvida quanto à capitulação do fato, quanto à natureza do fato ou de suas


circunstâncias, ou quanto à extensão de seus efeitos, quanto à autoria, ou quanto à
imputabilidade do sujeito, ou quanto à penalidade cabível, ou quanto à aplicação de
qual penalidade será devida naquele momento, ou quanto à graduação daquela
penalidade, ou seja, se houver qualquer dúvida, deverá ser aplicado o princípio do in
dúbio pro réu.

52
III. Utilização de institutos, conceitos, formas e princípios gerais do direito privado

Art. 109 do CTN: os princípios gerais do direito privado são utilizados para pesquisa da
definição, do conteúdo, do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para
definição dos respectivos efeitos tributários.

Ex.: IPVA incide sobre veículo automotor. Roberval Rocha ➔ veículo automotor está
previsto no direito privado.

• Art. 110 do CTN: A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o
alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa
ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados,
ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou
limitar competências tributárias.

A lei não pode alterar a definição do direito privado.

Ex.: para fins de IPVA, não seria possível lei tributária equiparar a veículo automotor
bicicletas.

STF

O ISSQN não pode incidir sobre locação de veículo automotor, pois não há prestação de
serviço, e sim locação de bem móvel. Do contrário, haveria desvirtuação dos conceitos
de direito privado.

IV. Integração

• CTN, na integração da legislação tributária, traz hierarquia, destoando da LINDB.

Art. 108: na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a


legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:

• Analogia.

Art. 108, §1º: veda que haja o emprego da analogia resultante na exigência de tributo
não previsto em lei. É a vedação de analogia extensiva.

• Princípios gerais de direito tributário: estão vários deles na Constituição


(capacidade contributiva, anterioridade, não confisco, etc.).

53
• Princípios gerais de direito público: advindos de outros ramos do direito público
(princípio da moralidade, indisponibilidade do interesse público,
proporcionalidade, contraditório, ampla defesa etc.).

• Equidade: é a justiça do caso concreto. É uma adaptação da norma ao caso


concreto. O emprego da equidade não pode resultar na dispensa do pagamento
devido (§2º).

Percebe-se que a analogia e a equidade seguirão caminhos distintos, pois as limitações


são diferentes.

• Da analogia não pode resultar a cobrança de tributo não previsto em lei.

• Da equidade não pode resultar a dispensa do pagamento do tributo.

Aula 04. Obrigação tributária. Responsabilidade tributário.

8. Obrigação tributária

I. Distinção entre obrigação no direito privado e no campo do direito tributário

• Direito privado: se alguém tem obrigação, outrem é credor.

• O crédito nasce juntamente com a obrigação.

• Direito tributário: a obrigação nasce com a ocorrência do fato gerador. Mas o


crédito não nasce com a obrigação (fato gerador), e sim com o lançamento
tributário.

O lançamento é declaratório da obrigação tributária, mas constitutivo do crédito


tributário.

A obrigação tributária é obrigação de natureza pública (ex lege), decorrendo da lei,


pouco importando a vontade do sujeito.

Ex.: se uma criança de 2 anos de idade for herdeira de alguém, deverá pagar ITCMD.

II. Obrigação principal e obrigação acessória

54
O art. 113 do CTN classifica as obrigações tributárias em:

• Obrigação tributária principal: decorre da lei. É a obrigação de pagar, seja o


tributo ou a penalidade pecuniária.

É uma obrigação de dar em pagamento.

• Obrigação tributária acessória: decorre da legislação. Trata-se de obrigações


fazer ou não fazer determinadas em função da necessidade de controle da
administração pública.

a) Obrigação principal

Seu objeto é sempre o pagamento de tributo ou penalidade.

Fonte mediata: a lei (hipótese de incidência prevista na lei).

Fonte imediata: o fato gerador

b) Obrigação acessória

Tem cunho não patrimonial.

Confere à Administração pública meios eficazes para controlar a arrecadação e exercer


a fiscalização de forma adequada.

O CTN permite que a obrigação acessória tenha como fonte a legislação tributária,
compreendendo leis, tratados, decretos, normas complementares, etc.

Caso o sujeito descumpra uma obrigação acessória, haverá incidência de multa ➔


obrigação principal.

Mas deve haver lei prevendo esta situação, visto que a obrigação principal decorre da
lei, e não da legislação tributária.

Exemplos de obrigação tributária acessória: emitir nota fiscal, promover declarações


fiscais, tolerar a fiscalização das autoridades fazendárias.

Ressalte-se!

Mesmo nos casos de anistia, isenção, imunidade ou não incidência, em que não há
obrigação tributária principal, é há obrigações tributárias acessórias.

55
Fundamento: o Estado deve ter controle desses benefícios fiscais.

Art. 113, §3º: a obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-
se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.

III. Fato gerador

Fato gerador é a subsunção do fato à norma.

• É a realização concreta de um comportamento descrito na norma;

• Faz nascer uma obrigação tributária;

• Define juridicamente a natureza do tributo.

Hipótese de incidência é a abstração legal de um fato.

• Situação descrita na lei (previsão abstrata).

• Concretiza-se como fato gerador.

Art. 114 e 115 do CTN (conceitos de fato gerador):

Fato gerador da obrigação principal: é a situação definida em lei como necessária e


suficiente à sua ocorrência.

Fato gerador da obrigação acessória: é qualquer situação que, na forma da legislação


aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal.

a) Momento da ocorrência do fato gerador

Art. 116 do CTN: considera-se ocorrido o fato gerador, tratando-se de:

• Situação de fato: desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias


materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprio.

• Situação jurídica (situação de direito): desde o momento em que esteja


definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.

• Exemplo de situação de fato:

Saída da mercadoria do estabelecimento empresarial gera ICMS.

• Exemplos de situação de direito (Roberval Rocha):

56
IPTU e ITR: em primeiro lugar, é necessário analisar o vínculo jurídico que submete o
imóvel àquela pessoa, para saber se a pessoa é proprietária ou não.

Se aquela pessoa tiver um vínculo de detenção ou de locação, não há lançamento de


IPTU ou ITR em face daquela pessoa. Logo, não basta a situação de fato.

b) Fato gerador simples e fato gerador complexo

Fato gerador simples: há fato gerador a partir de um acontecimento único.

Ex.: ITBI. João adquiriu imóvel de Antônio ➔ incidência do imposto.

Fato gerador complexo: há a conjunção de diversos acontecimentos, que são reunidos


em uma hipótese de incidência.

Para que o fato gerador ocorra, é preciso que certas coisas sejam reunidas.

Ex.: IR só se pode dizer que houve o fato gerador após o período de 1 ano. Ex.: João
ganhou 100 mil reais em julho, mas não haverá a incidência do imposto de renda
naquele momento. É preciso ainda que transcorra certo período para que haja a
incidência.

c) Norma geral antielisão

Art. 116, parágrafo único, do CTN

A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos


praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a
natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os
procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.

É preciso compreender 3 conceitos:

• Evasão tributária: conduta ilícita de sujeito que quer ocultar fato gerador que
ocorreu. Objetivo: não ser tributado ou ser tributado aquém do devido.

• Elisão tributária: conduta lícita. É o planejamento tributário, eliminando a


incidência do imposto. A elisão ocorre antes da ocorrência do fato gerador.

57
Ex.: sujeito exporta bebidas, mas ao ler a legislação observa que transportar bebidas em
garrafas a alíquotas é de 12% e exportar em barris a alíquota é de 7%. Com isso, o
contribuinte abre uma empresa de engarrafamento no exterior.

• Elusão tributária: qualquer negócio jurídico que se subsuma ao disposto no art.


116 do CTN, sem ser negócio simulado nem lícito. Trata-se de conceito residual.

A maioria da doutrina entende que o art. 116, parágrafo único, não se aplica aos casos
de elisão fiscal, mas apenas aos casos de evasão fiscal.

Não se trata, em verdade, de norma antielisiva, e sim de norma antievasiva.

d) Negócios jurídicos condicionais

Negócio jurídico condicional: é negócio jurídico sujeito a uma condição, podendo ela ser
suspensiva ou resolutiva.

• Condição suspensiva: sujeita o negócio a um evento futuro e incerto. O negócio


só produzirá efeitos se a condição se implementar.

• Condição resolutiva: o negócio deixa de produzir efeitos no momento em que a


condição ocorre.

Art. 117: consideram-se os negócios jurídicos condicionais perfeitos e acabados:

• Sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu implemento;

• Sendo resolutória a condição, desde o momento da prática do ato ou da


celebração do negócio.

VI. Sujeito ativo

• É a pessoa jurídica de direito público que tenha a competência para exigir o


cumprimento da obrigação tributária.

• Não se confunde com a competência para instituir o tributo.

• Trata-se aqui da capacidade tributária.

58
• Não se admite no sistema tributário nacional a figura da solidariedade ativa.
Não há pluralidade de credores tributários, sendo apenas um. Existe, por outro
lado, a solidariedade passiva.

a) Desmembramento territorial do ente tributante

Apenas Estados e municípios podem se desmembrar, não cabendo tal situação ao


Distrito Federal ou à União.

CTN, art. 120: a pessoa jurídica de direito público que se constituir em razão do
desmembramento territorial de outra, se sub-rogará nos direitos da pessoa jurídica
anterior, passando a ser credora de créditos tributários e da relação jurídico-tributária.

• Lei a ser aplicada:

Será a da pessoa jurídica da qual a nova pessoa se originou, até que produza sua
legislação própria.

• A sub-rogação de direitos envolve tanto a competência quanto a capacidade


tributária ativa.

• A pessoa jurídica que se originou poderá cobrar os créditos vincendos e os


vencidos, mas que ainda não foram pagos.

V. Sujeito passivo

• É a pessoa obrigada ao pagamento de um tributo ou de uma penalidade


pecuniária.

• É a pessoa obrigada a prestações positivas ou negativas que sejam objeto dessa


obrigação tributária acessória.

a) Sujeito passivo da obrigação principal

O CTN faz uma subdivisão:

• Contribuinte: sujeito passivo direto, havendo uma relação pessoal com a


situação geradora da relação tributária. Ele pratica o fato gerador.

59
• Responsável tributário: sujeito passivo indireto. A obrigação decorre da lei. Pode
ser um sucessor, terceiro vinculado ao fato gerador, poderá ter responsabilidade
solidária, subsidiária ou exclusiva pela obrigação tributária, mas algum vínculo o
responsável deverá ter com a obrigação tributária principal.

b) Não oposição de convenções particulares contra o fisco

Art. 123 do CTN: “Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares,


relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à
Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações
tributárias correspondentes”.

Exemplo: contrato de locação que prevê que o locatário pagará o IPTU. A cláusula é
válida, mas inoponível ao fisco.

STJ

O locatário é parte ilegítima para impugnar lançamento de IPTU, pois não é o sujeito
passivo (contribuinte ou o responsável tributário).

V. Solidariedade

No direito tributário, somente existe solidariedade passiva.

São pessoas solidariamente obrigadas:

• Solidariedade por interesse comum:

Pessoas que têm interesse comum na situação que constitua o fato gerador da
obrigação principal.

A solidariedade por interesse comum exige vinculação direta com o tributo ou com o
fato gerador.

Exemplo clássico: imóvel com 4 proprietários (condomínio). Poderá ser cobrado todo o
imposto de apenas um dos proprietários, tendo este contra os outros direito de
regresso.

• Solidariedade por determinação legal:

60
São as pessoas definidas por lei como solidariamente responsáveis.

A solidariedade referida não comporta benefício de ordem.

a) Efeitos da solidariedade

Art. 125 do CTN ➔ são efeitos da solidariedade:

• O pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais;

• A isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se


concedida pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade
quanto aos demais pelo saldo;

• A interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou


prejudica os demais.

Ex.: Havia uma dívida tributária solidária entre José, João, Marcelo e Carlos. Carlos é
maior de 60 anos, vindo uma lei que vai perdoar a dívida tributária para idoso. Neste
caso, este perdão tem caráter pessoal. Portanto, com a desoneração de Carlos, a dívida,
que seria de 10 mil reais, somente poderá ser cobrada no montante de 7.500 reais de
qualquer um dos três devedores solidários.

VI. Domicílio tributário

É o local em que as comunicações e auditorias fiscais são realizadas. É onde


normalmente estão arquivados os livros fiscais, as escritas contábeis da pessoa.

O domicílio determina a lei tributária que incidirá, define a competência tributária.

Regra geral: o domicílio tributário é de eleição.

Na falta de eleição do domicílio tributário, será considerado como tal (art. 127 CTN):

• Pessoas naturais: a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou


desconhecida, o centro habitual de sua atividade;

• Pessoas jurídicas de direito privado: lugar da sua sede, ou, em relação aos atos
ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento;

61
• Pessoas jurídicas de direito público: qualquer de suas repartições no território
da entidade tributante.

Na impossibilidade de aplicação dessas regras supletivas, e não havendo domicílio


tributário eleito, será considerado como domicílio tributário o local das situações dos
bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação tributária.

Vale lembrar!

A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando for eleito a fim de
impossibilitar ou dificultar a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se a
regra de que será considerado o domicílio tributário o local da situação dos bens ou
onde ocorreu o fato gerador da obrigação tributária.

STJ

A filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, que faz parte do acervo


patrimonial de uma única pessoa jurídica, não ostentando personalidade jurídica
própria e não sendo pessoa distinta da sociedade empresária. Dessa forma, o
patrimônio da empresa matriz responde pelos débitos da filial e vice-versa."

Responsabilidade tributária

A responsabilidade tributária vai exigir alguns pré-requisitos para se manifestar:

• Lei: deve ter origem legal.

• Vinculação: atribuída a um terceiro vinculado ao fato gerador

• Poderá excluir a responsabilidade do contribuinte ou atribuir-lhe em caráter


supletivo

II. Tipologia da responsabilidade tributária

São modalidades básicas de definição do sujeito passivo:

• Substituição tributária: a lei já transfere à pessoa do responsável essa obrigação.


Aquele que seria naturalmente o contribuinte não o será desde antes da
ocorrência do fato gerador.

62
• Transferência tributária: a responsabilidade é atribuída após o nascimento da
obrigação tributária.

• No caso da substituição tributária, quando a obrigação tributária nasce, já


nascerá com esse polo passivo modificado pela lei, integrado por um substituto
tributário.

• No caso da transferência tributária, a obrigação nasce com o devedor, mas por


algum fator ocorre o deslocamento para outra pessoa dessa responsabilidade.

Ex.: quando é incorporada uma pessoa jurídica por outra, a pessoa jurídica
incorporadora passa a ser responsável pelos tributos que outrora eram de
responsabilidade da outra pessoa.

A responsabilidade do responsável tributário pode ser:

• Responsabilidade solidária ao contribuinte

• Responsabilidade subsidiária ao contribuinte

• Responsabilidade exclusiva, de forma que o contribuinte não tenha qualquer


responsabilidade

a) Substituição tributária

• É a imposição legal da responsabilidade pela obrigação tributária.

• É a imposição de um fato gerador praticado por outra pessoa ao substituto


tributário.

• O sujeito passivo originário é substituído por outro, vinculado indiretamente ao


substituído.

A substituição passiva pode ser “para frente” ou “para trás”:

• Substituição tributária para frente (substituição progressiva):

Ocorre quando a lei impõe ao substituto a responsabilidade pelo recolhimento de


obrigações oriundas de fatos geradores futuros, que ainda não aconteceram, mas que,
presumivelmente, acontecerão.

63
Ex.: produtor industrial

Encontra respaldo no art. 150, §7º, da CF:

§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de


responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva
ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia
paga, caso não se realize o fato gerador presumido.

• Na substituição tributária para frente, o tributo é calculado com base nas


chamadas pautas fiscais.

• Pautas fiscais: são presunções legais que estabelecem a base de cálculo do


tributo, estabelecendo qual é o valor da mercadoria que será comercializada.

• Substituição tributária para trás (substituição regressiva):

Na substituição tributária para trás, o fato gerador já ocorreu. Há o adiamento do


recolhimento do tributo!

Ex.: há uma fábrica de laticínios. Essa fábrica compra leite de produtores locais. Esses
produtores, em tese, teriam que recolher ICMS, quando da venda para a indústria, mas
é difícil de o Estado controlar essa atividade. Neste caso, é melhor que o Estado cobre
esses impostos da fábrica.

b) Responsabilidade tributária no CTN

→ Responsabilidade por sucessão do adquirente de bem imóvel

Art. 130 do CTN: os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a
taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria,
sub-rogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a
prova de sua quitação (certidão negativa).

Parágrafo único (exceção):

No caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo


preço.

64
A pessoa que comprou o imóvel, mas que o último proprietário não tenha feito o
pagamento do IPTU, poderá ter contra si a cobrança do imposto ➔ obrigação propter
rem.

→ Responsabilidade por sucessão do adquirente de bem móvel

O adquirente ou remitente de bem móvel é pessoalmente responsável pelos tributos


relativos aos bens adquiridos ou remidos.

Em relação aos bens móveis, a lei não confere exceção.

Ex.: comprou um carro com IPVA atrasado, o novo proprietário deverá pagá-lo.

→ Responsabilidade por sucessão “causa mortis”

• Art. 131, II, do CTN: são pessoalmente responsáveis o sucessor a qualquer título
e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da partilha
ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao montante do quinhão do
legado ou da meação.

• O espólio é responsável pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da


abertura da sucessão

• A abertura da sucessão ocorre quando o sujeito morre (autor da herança). Neste


caso, o espólio (universalidade de bens) surge.

• O espólio será responsável pelas dívidas tributárias que existiam até a data da
abertura sucessão.

• O herdeiro e o cônjuge são responsáveis pelas dívidas tributárias que existirem


até a partilha ou adjudicação.

• Mas em relação as eventuais dívidas que surjam entre a data da abertura da


sucessão e a partilha ou adjudicação?

O espólio é contribuinte.

• Apesar de o inciso III restringir a responsabilidade apenas para os tributos, a


jurisprudência entende que também cabe a vinculação das multas moratórias.

65
STJ ➔ a expressão créditos tributários engloba as multas moratórias, havendo
responsabilidade por multas e tributos devidos.

Art. 132 do CTN

A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou


incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do
ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou
incorporadas.

A doutrina adiciona a esses casos o caso de cisão como caso de sucessão empresarial.

STJ, Súmula 554:

Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade dos sucessores não abrange


apenas os tributos relativos à sociedade, mas também as multas moratórias ou
punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão empresarial.

a) Sucessão empresarial em caso de extinção

Em tese, o sucessor responderá por tudo.

Parágrafo único do art. 132 ➔ estende a aplicação da responsabilidade por sucessão


aos casos de extinção da pessoa jurídica de direito privado, quando a exploração da
respectiva atividade for continuada por sócio remanescente ou por seu espólio, sob a
mesma ou outra razão social ou sob firma individual.

Objetivo: não permitir a fraude.

b) Sucessão de fundo de comércio ou de estabelecimento

• Fundo de comércio: é o sobre valor agregado pelo empresário ao organizar os


bens que constituem o estabelecimento comercial. O fundo de comércio é
representado pelo ponto, prestígio, clientela, nome comercial, marca etc.

• Estabelecimento comercial: complexo de bens organizado para o exercício da


atividade empresária (art. 1.142 do CC).

Para o d. tributário não há relevância nessa diferença em sede de responsabilidade. Art.


133: há responsabilidade do adquirente de fundo de comércio ou do estabelecimento.

66
Haverá responsabilidade integral quando o alienante do fundo de comércio ou do
estabelecimento cessar a exploração da atividade.

Haverá responsabilidade subsidiária do adquirente pelas dívidas tributárias do


alienante quando:

• Alienante prosseguir na exploração da atividade

• Alienante, dentro de 6 meses, iniciar novamente a atividade no mesmo ramo ou


noutro ramo de comércio

Art. 133, §1º, do CTN

O disposto no caput (essas regras) não será aplicado nas hipóteses de alienação judicial
em processo de falência ou de alienação de filial ou de unidade produtiva isolada em
casos de recuperação judicial.

Objetivo: fomentar a continuidade da empresa (princípio da preservação da empresa).

Atente-se para a exceção!

O §1º do art. 133 não será aplicado quando houver presunção de fraude, ou seja,
quando o adquirente for:

• Sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial

• Sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial

• Parente, em linha reta ou colateral até o 4o grau do devedor falido ou em


recuperação judicial ou de seus sócios

• Identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com


o objetivo de fraudar a sucessão tributária

Vale lembrar!

Em processo da falência, o produto da alienação judicial de empresa, filial ou unidade


produtiva isolada permanecerá em conta de depósito à disposição do juízo de falência
pelo prazo de 1 ano, contado da data de alienação, somente podendo ser utilizado para
o pagamento de créditos extraconcursais ou de créditos que preferem ao tributário.

67
IV. Responsabilidade de terceiros

A responsabilidade de terceiros têm por fundamento a falta de confiança ou de zelo


que esse terceiro exerceu sobre o patrimônio de outra pessoa.

Neste caso, há a subdivisão em:

• Responsabilidade subsidiária

• Responsabilidade pessoal

a) Responsabilidade subsidiária

Art. 134 do CTN

Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo


contribuinte, responderão “solidariamente” (subsidiariamente) nos atos que
intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:

• Os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;

• Os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;

• Os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;

• O inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;

• O síndico e o comissário (administrador judicial), pelos tributos devidos pela


massa falida ou pelo concordatário;

• Os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos


sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;

• Os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.

• A ideia é: se houve abuso de confiança ou displicência por parte do pai, tutor,


administrador judicial, sócios, etc., fazendo com que o filho, tutelado, espólio,
sociedade empresária, etc. não consiga pagar a obrigação tributária, essa pessoa
deverá pagar a obrigação.

68
• Perceba: a mera insolvência não permite a transferência do encargo ao
responsável. A lei exige como condição que tenha havido uma omissão ou uma
intervenção do próprio responsável no ato resultante da obrigação.

134, parágrafo único, CTN

O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório.

b) Responsabilidade pessoal

Art. 135 do CTN: são pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a


obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou
infração de lei, contrato social ou estatutos:

• As pessoas referidas no artigo anterior;

• Os mandatários, prepostos e empregados;

• Os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

• Essa responsabilidade é exclusiva, não respondendo os filhos, tutelados,


curatelados, massa falida etc., pois houve a infração da lei.

• Não basta a insolvência para dizer que houve a infração à lei, é preciso que seja
demonstrada a infração à lei, ou a violação ao estatuto.

Jurisprudência

Dissolução irregular da empresa acarreta a responsabilização pessoal dos sócios


gerentes, permitindo o redirecionamento da execução fiscal.

Neste caso, a responsabilidade do sócio-gerente não vai se limitar à proporção no capital


societário, pois ele infringiu a lei, tendo responsabilidade pessoal.

Os efeitos corriqueiros do art. 135 (dissolução irregular) são:

• Desconsideração da personalidade jurídica

• Redirecionamento da execução fiscal aos sócios ou administradores

• Inversão do ônus da prova, tendo os sócios ou administradores que provar a não


infração à lei;

69
Não se admite o redirecionamento por mero inadimplemento da obrigação tributária,
visto que a responsabilidade dos sócios não é objetiva, demandando dolo de violação à
lei

STF já decidiu que a simples condição de sócio não é suficiente para a sua
responsabilização tributária.

STF: somente será responsabilizado aquele que exerce gerência ou administração ou


que seja responsável pela pessoa jurídica. E isto somente o responsabiliza quando
pratica ato com excesso de poder ou com infração à lei, contrato social ou aos estatutos.

STJ, Súmula 430

O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a


responsabilidade solidária do sócio-gerente.

STJ, Súmula 435

Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixa de funcionar em seu


domicílio fiscal sem comunicar os órgãos competentes a respeito dessa mudança de
domicílio, legitimando o redirecionamento da execução fiscal ao sócio-gerente.

STJ, em sede de recurso repetitivo (RESP 1.104.900)

Se a execução foi ajuizada apenas contra a pessoa jurídica, mas os nomes dos sócios
já constavam da certidão de dívida ativa (CDA), cabe ao sócio provar que não houve a
prática de atos com excesso de poder ou com infração à lei, contrato social ou
estatutos (inversão do ônus).

Do contrário, quem terá de provar será o fisco.

Aula 05. Lançamento tributário.

10. Lançamento tributário

I. Conceito

Art. 142 do CTN

70
Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo
lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a
ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria
tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo
caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

Natureza jurídica do lançamento: procedimento administrativo.

• Natureza declaratória da obrigação tributária

• Natureza constitutiva do crédito tributário.

Parágrafo único do art. 142 do CTN

A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de


responsabilidade funcional.

• Vinculada: a autoridade administrativa somente poderá praticar o lançamento


conforme a lei.

• Obrigatória: não possui a autoridade a faculdade de fazer ou não fazer.

Paulo de Barros

A natureza jurídica do lançamento é de ato jurídico administrativo, e não procedimento


administrativo, como diz o CTN. O lançamento resulta de um procedimento
administrativo anterior.

Este é o posicionamento da doutrina majoritária.

Roberval Rocha

Lançamento é ato administrativo vinculado, obrigatório e privativo, com presunção de


legitimidade, cuja função é declarar, qualificar, quantificar e tornar exigível uma
obrigação tributária pela constituição do respectivo crédito tributário.

II. Expressão monetária do lançamento

Muitas vezes a base de cálculo do tributo é expressa em moeda estrangeira. Ex.:


importação de mercadorias.

71
Art. 143: salvo disposição de lei em contrário, quando o valor tributário esteja expresso
em moeda estrangeira, no momento do lançamento será feita a conversão em moeda
nacional, considerando o câmbio do dia da ocorrência do fato gerador da obrigação.

III. Legislação aplicável

Será aplicada a lei que vigia na data de ocorrência do fato gerador.

Art. 144: o lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação


e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.

Ultratividade da lei tributária.

IV. Regras procedimentais

• Será aplicada a regra procedimental que estiver em vigor. Trata-se de execução


imediata.

§1º do art. 144: o lançamento será regido pela legislação inovadora superveniente à
data do fato gerador, no tocante as seguintes hipóteses, ou seja, será aplicada a lei nova
para a apuração do fato gerador (norma procedimental):

• Instituição de novos critérios de apuração ou processos de fiscalização

• Ampliação de poderes de investigação

• Outorga de maiores garantias ou privilégios ao crédito tributário, vedada a


atribuição de responsabilidade superveniente a uma terceira pessoa

V. Impostos lançados por período certo de tempo

§2º do art. 144: o disposto neste artigo (aplicação da lei do dia do fato gerador) não se
aplica aos impostos lançados por períodos certos de tempo, desde que a respectiva lei
fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido.

• O dispositivo é inócuo. Se a lei diz que o fato gerador ocorrerá todo o dia 1º de
janeiro, como ocorre com o IPTU, ele não é um imposto lançado por certo
período de tempo.

72
• Essas datas certas normalmente ocorre com o IPTU, ITR e IPVA, sendo que o
Estado estipula uma data em que se considera realizado o fato gerador.

• No caso de IR, a situação é diversa. A doutrina entende que o art. 144, §2º, seria
inaplicável. O IR seria um imposto complexivo, por certo período de tempo.

• Há um ciclo de formação do IR que se completa dentro do período de 1 ano.


Logo, a lei de regência deverá observar todos os fatos efetivamente ocorrido
dentro desse período de 1 ano.

• Súmula 584 do STF é entendida como não aplicável. Inclusive há decisão do STJ
nesse sentido. O STJ entende que o fato gerador do imposto de renda identifica-
se com a disponibilidade econômica ou jurídica do rendimento. Não se aplicaria
a súmula, pois ela é anterior à CF.

• Súmula 584: ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base,


aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a
declaração. (violação aos princípios da anterioridade, da não surpresa,
anterioridade e segurança jurídica).

• No tocante ao IR, é a lei que está em vigor no momento em que se aufere renda
que vai dizer o quanto deverá pagar de IR.

VI. Modificação dos critérios jurídicos de lançamento

Súmula 227 do TFR ➔ a mudança de critérios jurídicos adotado pelo fisco não autoriza
a revisão do lançamento.

A alteração da interpretação e do critério jurídico não podem retroagir.

STJ: a revisão do lançamento tributário por erro de fato (e não por erro jurídico) exige
o desconhecimento de sua existência, ou a impossibilidade de sua comprovação à
época de constituição do crédito tributário. Ao revés, nas hipóteses de erro de direito
(erro jurídico), o ato administrativo de lançamento tributário é imodificável, em razão
da aplicação do princípio da confiança.

VII. Modalidades de lançamento

73
O CTN prevê 3 modalidades de lançamentos:

• Lançamento de ofício: o contribuinte não faz nada. Ele paga o que a


administração o manda pagar.

• Lançamento por declaração: o contribuinte presta uma declaração e, com base


nesta declaração, a administração faz contas, constitui o crédito tributário,
mandando-o pagar.

• Lançamento por homologação: o contribuinte faz as declarações, calcula o


quantum de tributo e, em seguida, recolhe-o. Após, a Administração confere se
está tudo certo, homologando expressa ou tacitamente o lançamento.

a) Lançamento de ofício

A administração faz o lançamento sem a colaboração do contribuinte e/ou do


responsável.

Ex.: IPVA e IPTU.

“O governo manda para a casa dos contribuintes o carnê”.

• As hipóteses de lançamento de ofício são previstas de forma taxativas no CTN


e também são válidas para revisão de um lançamento por declaração ou
lançamento por homologação.

• Se houver erro, omissão ou fraude nas outras modalidades de lançamento,


poderá haver lançamento de ofício feito pela administração.

• Dois institutos do direito tributário também configuram lançamento de ofício:

➢ Arbitramento

➢ Auto de infração

→ Arbitramento

É um procedimento em que a autoridade administrativa vai imputar uma base de


cálculo ao tributo que está sendo fiscalizado.

74
Na hipótese em que não é possível aferir dados necessários para completar os
lançamentos tributários, a administração completa o que está faltando.

• É possível quando há uma incorreção no lançamento, quando há uma omissão


ou quando há uma fraude, que tem por objetivo impedir, ocultar ou diminuir o
pagamento do tributo devido ao fisco.

• O arbitramento não tem caráter punitivo. Pode não ter havido qualquer
ilegalidade e ser necessário o arbitramento.

Ex.: sujeito passivo perdeu a sua documentação fiscal, pois seu estabelecimento pegou
fogo. Para ele recolher o tributo, a administração deverá arbitrar o valor da base de
cálculo.

• Também é possível o lançamento por arbitramento, quando o sujeito passivo


tenta burlar a fiscalização.

Ex.: sujeito recolheu o tributo do imóvel, alegando que ele vendeu por 200 mil, quando
na verdade vendeu por 500 mil.

*Mesmo assim o arbitramento não tem caráter punitivo.

→ Auto de infração

Tem caráter punitivo.

É o ato de aplicação de uma penalidade pelo descumprimento de uma obrigação


tributária, seja ela principal seja ela acessória.

b) Lançamento por declaração

• Também conhecido como lançamento misto.,

• O sujeito passivo faz uma parte e a administração faz outra.

• Está em desuso.

• Vale ressaltar! As declarações feitas hoje, como as do IR, do ISSQN, declaração


de débitos e créditos de tributos federais etc., não são procedimentos de
lançamento por declaração, e sim lançamentos por homologação. O sujeito

75
passivo faz uma declaração, calcula e recolhe o imposto para somente depois a
administração homologar ou não.

Art. 147 do CTN:

O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro,


quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade
administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.

O sujeito passivo presta as declarações à administração ➔ a administração apura a


ocorrência da obrigação tributária e, depois, ➔ constitui o crédito tributário para o
sujeito passivo pagar.

• §1º do art. 147: a retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante,


quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante
comprovação do erro em que se funde a declaração, e antes de notificado o
lançamento.

Após o lançamento, não é mais possível fazer a retificação. Possível discutir em processo
administrativo ou judicial.

§2º: Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame serão retificados de
ofício pela autoridade administrativa a que competir a revisão daquela.

Perceba!

• O sujeito passivo, quando faz a declaração, tem até o lançamento para


corrigir/retificar.

• A administração, quando percebe um erro, é obrigada a retificar!

Se o sujeito pagou a maior, então deverá haver restituição de ofício do valor recolhido
em excesso.

c) Lançamento por homologação

É o lançamento típico de uma sociedade de massa.

São os casos em que a legislação atribuiu ao sujeito passivo a obrigação de antecipar o


pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.

76
A autoridade toma conhecimento da atividade, que foi exercida pelo obrigado, que
recolheu o tributo devido, e posteriormente haverá a homologação desse recolhimento
(lançamento por homologação). Ex.: IPI, IR, PIS, COFINS, ICMS, ISS etc.

Também denominado de autolançamento, pois é o sujeito passivo que faz tudo.

O sujeito ativo apenas confere.

O pagamento antecipado pelo obrigado que promove o lançamento por homologação


extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento.

150, §§ 2º e 3º, CTN

• § 2º Não influem sobre a obrigação tributária quaisquer atos anteriores à


homologação, praticados pelo sujeito passivo ou por terceiro, visando à extinção
total ou parcial do crédito.

• § 3º Os atos a que se refere o parágrafo anterior serão, porém, considerados


na apuração do saldo porventura devido e, sendo o caso, na imposição de
penalidade, ou sua graduação.

Art. 150, §4º, do CTN

• Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de 5 anos, a contar da


ocorrência do fato gerador.

• Se este prazo expirar, sem o pronunciamento da Fazenda Pública, considera-se


homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se for
comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

Passados esses 5 anos, presume-se que houve a homologação tácita

VIII. Créditos constituídos sem lançamento

Súmula 436 do STJ

A entrega de declaração pelo contribuinte, reconhecendo o débito fiscal, constitui o


crédito tributário, ficando dispensada qualquer outra providencia por parte do fisco.

Como se vê, há um crédito constituído sem lançamento.

77
IX. Hipóteses de alteração de lançamento

Art. 145 do CTN diz que o lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só
pode ser alterado:

• Em razão da impugnação do sujeito passivo

• Em razão de recurso de ofício

• Em razão de iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos do art.


149 do CTN

Vale lembrar!

Recurso de ofício não é recurso. Recurso exige voluntariedade. Trata-se, em verdade,


de uma remessa necessária. Existe recurso de ofício quando as decisões administrativas
forem desfavoráveis à administração pública.

Art. 149: são hipóteses de iniciativa de ofício da administração:

• Quando a lei assim o determine;

• Quando a declaração não seja prestada, por quem de direito;

• Quando o contribuinte recusou-se ou prestou de forma insatisfatória a um


pedido da administração de esclarecimento de uma determinada declaração;

• Quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento


definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória;

• Quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente


obrigada;

• Quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de 3º obrigado, que


dê lugar à penalidade pecuniária;

• Quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele,


agiu com dolo, fraude ou simulação;

• Quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do
lançamento anterior;

78
• Quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta
funcional da autoridade que o efetuou.

Perceba:

O sujeito passivo fez o que não deveria ter feito.

Todos esses casos demandam alteração do lançamento tributário anteriormente


realizado.

11. Crédito tributário

É um vínculo jurídico de natureza obrigacional, por força do qual o Estado pode exigir
do particular o pagamento de um tributo ou de uma penalidade pecuniária, objeto
dessa relação obrigacional.

II. Natureza jurídica: as teorias monista e dualista

Teoria monista: o crédito tributário nasce ao mesmo tempo em que nasce a obrigação.
Praticado o fato gerador, nasce o crédito tributário.

Teoria dualista: a obrigação tributária nasce em um momento anterior ao nascimento


do crédito tributário. A obrigação tributária nasce com o fato gerador, mas o crédito
tributário nascerá depois, com o lançamento tributário.

É a teoria dualista adotada pelo CTN!

III. Autonomia

O CTN estabelece uma autonomia do crédito tributário em relação à respectiva


obrigação tributária: uma é a obrigação tributária e outra é o crédito tributário.

Art. 140 do CTN - as circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua extensão
ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou que excluem sua
exigibilidade não afetam a obrigação tributária que lhe deu origem.

*Basicamente: o crédito tributário, não afeta a obrigação tributária.

IV. Constituição definitiva

79
Sobre constituição definitiva do crédito tributário há 2 correntes:

1ªC: A constituição definitiva do crédito tributário se dá no momento em que o sujeito


passivo é notificado do lançamento tributário, eis que o crédito está constituído.

2ªC: o crédito tributário é constituído definitivamente ao final do prazo para que o


contribuinte possa impugnar o lançamento pelo qual foi notificado, ou, se houver essa
impugnação, o crédito é definitivamente constituído ao final do contencioso
administrativo (processo administrativo). Esta corrente prevalece.

• Notificação do lançamento implica constituição do crédito tributário. Apesar


de ser um ato de Estado, poderá ser delegada ao serviço público postal (os
Correios podem fazer a entrega das notificações sem que haja qualquer
ilegalidade).

• STJ: a constituição definitiva do crédito tributário, quando impugnado na via


administrativa, ocorre com a notificação do contribuinte sobre o resultado final
do seu recurso. Somente a partir daí começa a fluir o prazo prescricional de 5
anos da cobrança do crédito.

STJ e STF ➔ existem 3 fases distintas:

• A obrigação que nasce com o fato gerador. A Fazenda Pública tem o prazo de 5
anos para constituir o crédito tributário: prazo decadencial. Esta fase se findará
com a notificação do lançamento do crédito tributário.

• Após o lançamento, inicia-se hiato, em que não há decadência ou prescrição até


que se confirme o crédito tributário pelo decurso do prazo de 30 dias sem
impugnação, pela decisão do recurso administrativo ou pela revisão de ofício
pela administração. Confirmado o crédito, inicia-se a 3ª fase.

• Prazo de 5 anos para cobrança do crédito tributário pela Fazenda Pública. Este
prazo é prescricional!

3 fases:

• 1ª Fase: Da obrigação até o lançamento que constitui o crédito tributário (5 anos


decadencial);

80
• 2ª Fase: Constituição sujeita a impugnação até a constituição definitiva do
crédito tributário;

• 3ª Fase: Definitividade do crédito tributário até efetiva cobrança do crédito pelo


Fazenda (5 anos prescricional).

V. Exigibilidade

Ocorrido o fato gerador nasce a obrigação tributária.

Nascida a obrigação tributária, não poderá imediatamente o fisco exigir o tributo. Só é


possível a exigência após o lançamento, que constitui o crédito tributário.

São requisitos para a existência do crédito tributário:

• Previsão em lei do crédito tributário;

• Ocorrência do fato gerador;

• Lançamento tributário.

• O crédito tributário somente se torna exigível após o decurso do prazo para


pagamento do tributo lançado.

Com a constituição do crédito tributário, mesmo que definitiva, há a existência do


crédito tributário, mas este ainda não é exigível.

Exemplo: se a pessoa tiver 30 dias para pagar, somente ocorrerá a exigibilidade após o
decurso desse prazo.

• Para se tornar exequível (para executar), é preciso que haja a inscrição em


dívida ativa.

Para o direito tributário, é necessário que haja a executibilidade. O crédito tributário


deverá também ser executável, ou seja, inscrito em dívida ativa.

STJ:

A suspensão da exigibilidade do crédito tributário na via judicial impede o fisco de


praticar qualquer ato contra o contribuinte, visando a cobrança do crédito tributário,

81
não podendo inscrevê-lo em dívida ativa, executá-lo ou penhorá-lo, já que a
exigibilidade está suspensa.

Todavia, isso não impede a Fazenda Pública de proceder a regular constituição do


crédito tributário, a fim de evitar a decadência do direito de lançar.

VI. Arrolamento fiscal

Dá-se quando o contribuinte deve mais que R$ 2 milhões em tributos e este montante
da dívida supera 30% do seu patrimônio.

Neste caso, o Fisco poderá fazer o arrolamento dos bens e direitos que pertencem a
esse sujeito passivo, conforme o art. 64 da Lei nº 9.532/97.

64, §2º, da Lei nº 9.532/97:

Na falta de outros elementos indicativos, considera-se patrimônio conhecido, o valor


constante da última declaração de rendimentos apresentada.

O arrolamento fiscal é um “inventário”, ou seja, uma descrição dos bens do contribuinte


feita pelo Fisco com o objetivo de monitorar o patrimônio do devedor e evitar que ele
se desfaça dos bens que poderão servir para o pagamento da dívida.

• O arrolamento fiscal é uma medida acautelatória, impedindo que o


contribuinte/devedor venda, onere ou transfira, a qualquer título, os bens e
direitos arrolados, sem que o Fisco seja notificado.

• Pode abranger bem de família, pois o arrolamento não configura constrição ao


direito de posse ou de propriedade e não ofende a garantia de
impenhorabilidade legal.

• Mesmo tendo sido feito o arrolamento fiscal, o sujeito passivo poderá alienar
seus bens, independentemente da concordância da autoridade fazendária.

A lei exige, no entanto, que essa alienação seja comunicada ao Fisco.

STJ: a Lei 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à
alienação, mas simplesmente que exista a comunicação. Assim, a alienação de bens que

82
foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao órgão
fazendário, podendo ocorrer após a alienação do bem (Inf. 594).

• Se o contribuinte alienar, onerar ou transferir os bens ou direitos arrolados sem


fazer a comunicação ao órgão fazendário, então a Fazenda Pública ficará
autorizada a requerer ao juiz medida cautelar fiscal contra o sujeito passivo.

Principais pontos da medida cautelar fiscal:

• Competência: juízo competente para a execução judicial da Dívida Ativa da


Fazenda Pública. Se a execução judicial já estiver no Tribunal, será competente
o Relator do recurso.

• Apenso: os autos do procedimento cautelar fiscal serão apensados aos do


processo de execução judicial da dívida ativa.

• Liminar: o juiz concederá liminarmente a medida cautelar fiscal, dispensada a


Fazenda Pública de justificação prévia e de prestação de caução. Contra esta
decisão, cabe AI.

• Indisponibilidade: a decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de


imediato, a indisponibilidade dos bens do requerido, até o limite da satisfação
da obrigação.

• Citação: depois da medida cautelar, o requerido será citado para, no prazo de


15 dias, contestar o pedido.

• Revelia: não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido,


como verdadeiros, os fatos alegados pela Fazenda Pública, caso em que o Juiz
decidirá em 10 dias.

• Audiência: se o requerido contestar, o Juiz designará AIJ, havendo prova a ser


nela produzida.

• Garantia: a medida cautelar fiscal decretada poderá ser substituída, a qualquer


tempo, pela prestação de garantia correspondente ao valor da prestação da
Fazenda Pública. A Fazenda Pública será ouvida sobre o pedido de substituição,
no prazo de 5 dias, presumindo-se da omissão a sua aquiescência.

83
• Medida cautelar fiscal preparatória de execução:

Quando a medida cautelar fiscal for concedida em procedimento preparatório, deverá


a Fazenda Pública propor a execução judicial da Dívida Ativa no prazo de 60 dias,
contados da data em que a exigência se tornar irrecorrível na esfera administrativa.

• Indeferimento e independência em relação à execução fiscal:

Se o juiz indeferir a medida cautelar fiscal, isso não impede que a Fazenda Pública ajuíze
execução judicial.

Exceção: se o magistrado, no procedimento cautelar fiscal, acolher alegação de


pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de prescrição ou decadência,
de conversão do depósito em renda, ou qualquer outra modalidade de extinção da
pretensão deduzida.

• Coisa julgada: a sentença proferida na medida cautelar fiscal, em regra, não faz
coisa julgada relativamente à execução judicial da Dívida Ativa, salvo se o juiz
acolher alegação de pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de
prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer
outra modalidade de extinção da pretensão deduzida.

• Recurso: da sentença que decretar a medida cautelar fiscal caberá apelação,


sem efeito suspensivo, salvo se o requerido oferecer garantia.

11-A. Suspensão do crédito tributário

• Apesar de a lei falar em suspensão do crédito tributário, o que há é a suspensão


da exigibilidade do crédito tributário, tanto é que se pode constituir o crédito
tributário pelo lançamento, não se podendo exigi-lo.

• A suspensão do crédito tributário pode ocorrer antes mesmo do lançamento,


tanto é que a suspensão da exigibilidade se divide em suspensão prévia e
suspensão posterior.

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Suspensão prévia: é anterior ao lançamento, consistindo em impedimento a
exigibilidade do crédito tributário.

Quando há suspensão prévia, o fisco não está impedido de lançar o crédito tributário,
mas apenas de cobrar.

Art. 151 do CTN - modalidades de suspensão do crédito tributário (suspende a


exigibilidade):

• Moratória

• Parcelamento

• Depósito do montante integral

• Reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo


tributário administrativo;

• Concessão de medida liminar em mandado de segurança

• Concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de


ação judicial.

• O sujeito passivo cujo crédito tributário esteja com a exigibilidade suspensa tem
direito a certidão positiva com efeitos de negativa.

• A suspensão da exigibilidade não dispensa o cumprimento de obrigações


acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito esteja suspenso.
(Art. 151, parágrafo único, CTN).

a) Moratória

É a dilação do prazo para quitação de uma dívida, sendo concedida pelo credor em
benefício do devedor, a fim de que este possa cumprir a obrigação num período
posterior àquele em que originariamente venceria a obrigação.

No direito tributário, a moratória será concedida quando a capacidade de pagamento


de determinados segmentos econômicos se mostrar comprometida.

Ex.: houve uma enchente, seca, etc.

85
A moratória encontra regulamentação no CTN.

→ Reserva de lei

Art. 97: somente a lei poderá estabelecer as hipóteses de exclusão, suspensão e de


extinção dos créditos tributários, ou a dispensa ou a redução de penalidades.

Logo, a moratória só pode ocorrer por meio de lei.

→ Classificação da moratória

Art. 152. A moratória somente pode ser concedida:

I - em caráter geral:

a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que
se refira;

b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal


ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de
competência federal e às obrigações de direito privado; Isenção heterônoma.

II - em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que


autorizada por lei nas condições do inciso anterior.

A moratória individual leva em consideração aspectos particulares que vão ser


analisados no tocante ao sujeito passivo que requer aquela moratória.

• Na moratória individual, é possível anular, posteriormente, a sua concessão,


caso fique verificado que o beneficiado pela moratória não satisfaz e nem
satisfez as condições para a moratória, ou mesmo deixou de cumprir as
condições, sendo possível cancelar a moratória, neste caso.

• Há anulação da moratória e a cobrança do crédito com juros de mora e


imposição de penalidades, caso o sujeito tenha agido com dolo, fraude ou
simulação. Do contrário, somente serão cabíveis apenas juros de mora.

A moratória pode ser restrita a uma determinada região, determinada classe de


trabalhadores, determinada categoria de sujeitos passivos etc.

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→ Requisitos da moratória

Requisitos mínimos que devem estar previstos na lei concessiva da moratória,


conforme art. 153 do CTN:

• Prazo de duração da medida;

• Condições da concessão de moratória de caráter individual, caso assim o seja;

• Tributos a que se aplicam a moratória;

• Número de prestações e a data de vencimento;

• Garantias a serem fornecidas pelo beneficiado, quando individual.


Objetivo: legalidade estrita, diminuindo a margem do administrador.

→ Créditos abrangidos pela moratória

Art. 154 do CTN: se a lei não dispuser de forma diferente, só os créditos definitivamente
constituídos ou os créditos lançados por notificação regular, que assim estiverem na
data da lei ou do despacho concessor, serão atingidos pela moratória.

→ Vedação à concessão da moratória

Parágrafo único do art. 154: a moratória não aproveita (proibida sua concessão) aos
casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício
daquele.

b) Depósito do montante integral

Atenção! Depósito não é pagamento, e sim garantia.

Por isso, o depósito do montante integral suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Não se confunde com a consignação em pagamento, que é causa extintiva do crédito


tributário. Quem consigna quer pagar, mas quem deposita quer discutir.

• STJ: fiança bancária não é equiparada a depósito do montante integral do


débito para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Necessário
fazer o depósito.

• O depósito, em regra, é judicial, podendo ser prévio ou posterior.

87
• Ao final do processo, caso o vencedor seja o fisco, haverá a conversão do
depósito em renda e estará extinto o crédito tributário. Caso seja o contribuinte
o vencedor, este poderá levantar o depósito judicial.

• Se o processo for extinto sem apreciação do mérito, haverá a conversão do


depósito em renda. Isso porque somente será extinto o processo sem o
julgamento do mérito se o autor tiver dado causa a esta extinção.

• Lembre-se: a exigência do denominado depósito administrativo, ocorrido na via


recursal, é inconstitucional, conforme a Súmula Vinculante 21.

• Súmula Vinculante 28: é inconstitucional a exigência de depósito prévio como


requisito de admissibilidade da ação judicial, na qual se pretenda discutir a
exigibilidade do crédito tributário.

• Súmula 373 do STJ: é ilegítima a exigência de depósito prévio para a


admissibilidade de recurso administrativo. Segue a linha da SV 21.

c) Reclamações e recursos no processo administrativo tributário

A reclamação e o recurso no processo administrativo tributário suspendem a


exigibilidade do crédito tributário.

Por meio de tais instrumentos, discute-se a própria exigibilidade do crédito tributário,


ou seja, discute-se o lançamento do crédito.

• Caso se esteja discutindo a legalidade de um ato, como a exclusão de um


parcelamento, isto não suspenderá a exigibilidade do crédito tributário.

• O que suspende a exigibilidade do crédito é a discussão sobre o lançamento


tributário.

• Enquanto não encerrado o PA, o sujeito passivo, em razão da suspensão do


crédito tributário, tem direito à certidão positiva com efeitos de negativa, já que
o fisco não pode cobrar o valor.

d) Parcelamento

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Art. 155-A: o parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei
específica.

§1º: salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não


exclui a incidência de juros e multas.

§2º: aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei, relativas à


moratória.

§3º: lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários
do devedor em recuperação judicial. O devedor que está em recuperação judicial terá
direito a um parcelamento especial.

§4º: não havendo lei específica para o devedor em recuperação judicial, serão aplicada
as leis gerais de parcelamento do ente da Federação daquele devedor em recuperação
judicial, caso em que o prazo de parcelamento não poderá ser inferior ao prazo
concedido pela lei federal específica sobre o tema.

e) Concessão de medida liminar ou de tutela antecipada

f) Concessão de medida liminar em mandado de segurança

VII. Modalidades de extinção do crédito

tributário previstas no CTN

Art. 156 CTN - As modalidades de extinção do crédito tributário podem ser subdivididas
em:

• Modalidades de extinção do crédito tributário diretas:

São aquelas que independem de lei, tais como:

o Pagamento

o Homologação de pagamento antecipado

o Decadência

o Prescrição

• Modalidades de extinção do crédito tributário indiretas:

89
São aquelas que dependem de lei:

o Compensação de crédito tributário

o Transação

o Remissão

o Dação em pagamento com bens imóveis

• Modalidades de extinção do crédito tributário processuais:

Estão ligadas a algum processo:

o Conversão de um depósito em renda

o Consignação em pagamento

o Decisão administrativa irreformável

o Decisão judicial transitada em julgado

a) Pagamento

É uma forma de adimplemento da obrigação pecuniária, em moeda nacional ou em valor


que nela se possa exprimir.

• Diferentemente do direito privado, o pagamento de um crédito não implica


presunção de que houve o pagamento da parcela do crédito anterior e nem de
outros créditos referidos ao mesmo tributo ou a outros tributos.

Ex.: Se se está pagando o imposto de outubro, não se presume que foi pago o de
setembro.

→ Local e tempo

• O crédito tributário deve ser adimplido na repartição competente do domicílio


do credor.

A legislação pode dispor de forma diferente. Ex.: pagamento em banco.

90
• O tempo do pagamento se dá pela legislação tributária, dispensando-se que se
dê pela lei. Sendo a legislação omissa, poderá ser pago o crédito tributário até
30 dias após a notificação do lançamento.

Após 30 dias ➔ crédito exigível. Se houver inscrição em dívida ativa ➔ crédito


executável.

→ Mora

• A mora é automática, dispensando interpelação do devedor.

• Consequências da mora: incidência de juros e, eventualmente, penalidades,


medidas de garantias previstas em lei etc.

• A multa moratória poderá incidir, desde que haja previsão neste sentido.

Caso o sujeito passivo tenha feito uma consulta, de forma tempestiva (dentro do prazo
legal), e a administração não tenha decidido ainda a sua consulta, ele não estará em
mora, não se aplicando as penalidades cabíveis.

→ Meios de pagamento

Lembre-se: não é possível o pagamento in natura nem in labore. O pagamento deve


ser feito em dinheiro. São meios de pagamento admitidos:

• Pagamento em moeda corrente

• Pagamento por meio de cheque resgatado pelo sacado

• Vale postal

• Nos casos previstos em lei, poderá se dar por estampilha, papel selado ou
processo mecânico.

→ Imputação de pagamento

Imputar o pagamento significa dizer qual das dívidas que será considerada paga pelo
devedor.

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O sujeito passivo deve a um mesmo sujeito ativo mais de um débito vencido, podendo
o fisco determinar a imputação do crédito, mas isto ocorrerá na ordem estabelecida em
lei (art. 163).

A ordem na imputação de pagamento deverá ser:

• Débitos por obrigação própria (sujeito passivo é contribuinte)

• Débitos decorrentes de responsabilidade tributária (sujeito passivo é


responsável)

• Primeiro contribuições de melhoria, depois taxas e, em seguida, impostos (nesta


ordem).

• Na ordem crescente dos prazos de prescrição

• Na ordem decrescente dos montantes (maior valor até a de menor valor)

b) Homologação do pagamento antecipado

Art. 150 do CTN:

O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua
ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento
da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa, extinguindo o
crédito tributário.

• Na sistemática do lançamento por homologação, o pagamento é feito antes


mesmo do próprio lançamento.

• Então, o pagamento não implica a extinção do crédito tributário, visto que a


extinção somente ocorrerá nos tributos lançados por homologação pela
homologação do pagamento antecipado, podendo ser expressa ou tácita (após
5 anos sem manifestação do fisco).

Aula 06. Extinção do crédito tributário (continuação). Repetição do indébito.

92
c) Decadência

Ocorrência do fato gerador ➔ direito de lançar a obrigação e constituir o crédito


tributário.

• Prazo decadencial para exercício desse direito: 5 anos.

Regra: o prazo decadencial é contado do primeiro dia do exercício financeiro seguinte


àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.

Exceções:

• Da data da notificação da constituição do crédito tributário, quando houver


qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento, se anterior à
regra.

Ex.: o fato gerador ocorreu em 5 de março de 2010, mas caso haja alguma medida no
dia 5 de outubro de 2010, o prazo começará a contar da data da notificação da
constituição do crédito tributário, desde que seja anterior à regra geral.

• Da data que se torna definitiva a decisão anulatória por vício formal do


lançamento anteriormente efetuado.

➢ Na data da decisão que o anulou inicia-se o prazo decadencial.

➢ Essa decisão anulatória poderá ser judicial ou administrativa.

A anulação do lançamento pode ocorrer nos casos de incompetência, vício da CDA, por
falta do nome do contribuinte etc.

• Da data do fato gerador para os tributos sujeitos à homologação.

Se o tributo está sujeito à homologação, o prazo decadencial começa a ser contado do


dia do fato gerador, desde que tenha havido o pagamento do tributo. Do contrário,
voltar-se-á para a regra geral, pois somente poderá se homologar aquilo que havia sido
pago.

Art. 150, §4º

93
Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de 5 anos, a contar da ocorrência do
fato gerador. Expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado,
considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se
comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

O lançamento por homologação não constitui o crédito tributário, mas o extingue.

• Nos tributos sujeitos à homologação do pagamento antecipado, o prazo


decadencial começa da ocorrência do fato gerador.

• Não começará a contar da ocorrência do fato gerador, retornando à regra geral,


quando:

o Não houve a antecipação de qualquer pagamento pelo contribuinte.

o O sujeito passivo agiu com dolo, simulação ou fraude.

A decadência ocorre entre o fato gerador e o lançamento.

d) Prescrição

Se houve a constituição do crédito tributário através do lançamento, haverá o direito de


cobrança do Estado, passando-se a falar em prescrição.

A inadimplência do contribuinte em pagar o tributo no prazo do vencimento marca o


início da contagem do prazo prescricional. Quando o crédito tributário se considerar
definitivamente constituído, a partir daí, começa-se a contar o prazo para sua
exigibilidade (prazo prescricional).

→ Interrupção do prazo prescricional

Há 4 hipóteses de interrupção do prazo prescricional (art. 174):

• Despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal

Art. 240, §1, do NCPC: a interrupção da prescrição, ordenada pelo despacho que ordena
a citação, ainda que proferida por juiz incompetente retroage à data da propositura da
ação.

94
➢ STJ: no caso de redirecionamento da execução fiscal, a citação válida da pessoa
jurídica tem o condão de interromper também a prescrição contra o sócio
responsável pelo débito fiscal.

• Protesto judicial

É qualquer medida cautelar que indique que o credor não está inerte.

• Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor

Engloba intimações, interpelações, notificações judiciais, que demonstrem que o credor


não está inerte.

• Qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em


reconhecimento do débito pelo devedor

Há aqui uma confissão de dívida, como cartas, petições, solicitações de parcelamento


de débitos fiscais, demonstrando que há uma dívida reconhecida pelo devedor.

Observe: concessão de parcelamento do crédito tributário não interrompe o prazo


prescricional. A interrupção se dá com o pedido de parcelamento.

Nas 3 primeiras hipóteses há conduta do credor. Na última, do devedor.

→ Suspensão do prazo prescricional

O único caso de suspensão do prazo prescricional previsto no CTN é em relação à


anulação da moratória em caso de dolo ou simulação do beneficiário.

Doutrina e jurisprudência reconhecem vários casos de suspensão do prazo


prescricional, como é o caso da:

• Suspensão da exigibilidade do crédito tributário

• Anulação por motivo de dolo ou simulação não só da moratória, como também


de parcelamento, remissão, isenção ou anistia, concedidos em caráter individual

As causas interruptivas ou suspensivas de prazo prescricional, previstas em lei


ordinária, e não no CTN, não podem ser aplicadas em matéria de direito tributário.

95
CF: cabe à LC estabelecer normas sobre prescrição e decadência tributários. CTN é
norma materialmente complementar.

• Única exceção, fruto da construção jurisprudencial: suspensão do curso da


execução fiscal por 1 ano, quando não localizado o devedor, e nem encontrado
os bens que possam lastrear a cobrança. Previsão na LEF aplicada na execução
fiscal também.

→ Prescrição intercorrente

É a fluência do prazo prescricional durante o curso do processo. Entre o início e o final


do processo houve o esgotamento do prazo prescricional de 5 anos.

A jurisprudência não admite a prescrição intercorrente em processo administrativo.

Fundamento: enquanto estiver pendente o processo administrativo, estará suspensa a


exigibilidade do crédito tributário.

• Não se pode exigir da Fazenda Pública uma conduta quando, em verdade, a


Fazenda Pública não pode ter conduta alguma.

• A prescrição intercorrente se dá no prazo de 5 anos, após o decurso do prazo de


1 ano, previsto na LEF (Lei 6.830/80).

• Portanto, não encontrado os bens do devedor, ou não encontrado o devedor,


será suspenso o processo de execução fiscal por 1 ano. Após este prazo, sem
qualquer medida, o juiz determina o arquivamento dos autos.

• A partir do arquivamento, surge o início do prazo prescricional intercorrente, e


se não houver nenhuma medida nos próximos 5 anos, o processo será extinto
pela prescrição.

• Art. 40, §4º, da LEF: se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido
prazo prescricional (5 anos), o juiz, após ouvir a Fazenda Pública, poderá, de
ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

Art. 170 do CTN: a lei pode autorizar a compensação de créditos tributários com créditos
líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública.

96
Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará a
apuração do seu montante, não podendo, porém, cominar redução maior que a
correspondente ao juro de 1% ao mês pelo tempo a decorrer entre a data da
compensação e a do vencimento.

Diferença entre a compensação tributária e compensação do direito privado:

• O crédito do sujeito passivo em face da fazenda pública pode ser um crédito


vincendo, desde que haja a redução de juros de 1% ao mês.

• A norma da compensação não é autoaplicável, necessitando de lei autorizativa,


a fim de definir os casos em que a compensação será aplicada.

→ Regimes constitucionais específicos de compensação

Regulamentações constitucionais sobre tema da compensação.

Precatórios judiciais ➔ EC 62/09 incluiu art. 100, §9º, da CF:

No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação,


deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos
líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original
pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos,
ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação
administrativa ou judicial.

STJ, Súmula 461: o contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por
compensação, o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada
em julgado.

Vedação à compensação

Art. 170-A do CTN: É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo,


objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da
respectiva decisão judicial.

STJ, Súmula 212: a compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação
cautelar ou em medida liminar cautelar ou antecipatória.

97
f) Transação

Justifica-se para prevenir ou encerrar litígio, por conta de concessões recíprocas. Recai
sobre direitos patrimoniais.

CTN apenas prevê a transação terminativa, e não a preventiva, ou seja, somente se


admite a transação para encerrar litígios.

Art. 171 do CTN: a lei pode facultar aos sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária
celebrar transação que importe em determinação de litígio e consequente extinção do
crédito tributário.

g) Remissão

É o perdão da dívida fiscal.

→ Limites à remissão

A remissão poderá ser:

• Remissão Constitucional:

Art. 150, §6º, da CF: Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou
contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou
municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição

• Remissão da Lei de Responsabilidade Fiscal:

➢ Impõe ao ente tributante uma série de medidas restritivas de caráter


orçamentário e financeiro para conceder a remissão.

➢ A ideia é de que a renúncia deve encontrar amparo nos limites do orçamento.

Ex.: Se será gasto 100 e tem para receber 110, é possível perdoar 10. Não há como
perdoar 20, pois será gasto 100.

A lei permite que haja remissão de débitos cujo montante seja inferior ao custo da
respectiva cobrança.

98
→ Hipóteses de cabimento da remissão

Art. 172 CTN- traz as hipóteses de remissão da dívida tributária.

Art. 172 CTN: a lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder, por despacho
fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário, atendendo:

• À situação econômica do sujeito passivo;

• Ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato;

• À diminuta importância do crédito tributário;

• A considerações de equidade, em relação com as características pessoais ou


materiais do caso;

• A condições peculiares a determinada região do território da entidade


tributante.

Ex.: remissão em um caso de calamidade.

A remissão concedida poderá ser anulada, caso fique evidenciado que o beneficiário
não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições, ou não cumpriu ou deixou de
cumprir os requisitos para a remissão.

• Em caso de anulação, será cobrado o valor perdoado, acrescido de juros de


mora.

• Se o sujeito agiu com dolo ou simulação, além dos acréscimos, haverá a aplicação
de uma penalidade.

• Se ele não agiu nessas condições, mas apenas deixou de cumprir os requisitos,
serão cobrados o crédito e os juros de mora, mas sem penalidades.

h) Dação em pagamento em bens imóveis

Para ocorrer a dação em pagamento em bens imóveis, exige-se autorização legal.

i) Conversão de depósito em renda

O depósito do montante integral é causa suspensiva da exigibilidade do crédito


tributário. O sujeito passivo quer discutir o crédito em juiz. Caso, ao final do processo,

99
ele perca, o crédito tributário será extinto em razão da conversão do depósito em renda.
Isso ocorre após o trânsito em julgado da decisão favorável ao fisco.

j) Consignação em pagamento

Lembre-se: quem consigna quer pagar, mas quem deposita quer discutir o débito
tributário, a exigência e a correção desse débito.

A consignação judicial é um tipo de depósito efetuado por quem quer pagar o tributo.

Art. 164 do CTN: a importância de crédito tributário pode ser consignada judicialmente
pelo sujeito passivo, nos seguintes casos:

• Recusa de recebimento, ou subordinação do recebimento ao pagamento de


outro tributo ou ao pagamento de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação
acessória;

• Subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas


sem fundamento legal;

• Exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico
sobre um mesmo fato gerador.

• § 1º: a consignação só pode versar sobre o crédito que o consignante se propõe


pagar.

Não é depósito!

• §2º: Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa efetuado e a


importância consignada é convertida em renda; julgada improcedente a
consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de
mora, sem prejuízo das penalidades cabíveis.

k) Decisão administrativa irreformável

“Coisa julgada administrativa” como causa extintiva do crédito tributário.

Art. 156, IX, do CTN: extingue o crédito tributário a decisão administrativa irreformável,
assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de
ação anulatória.

100
l) Decisão judicial passada em julgado

É a decisão favorável ao sujeito passivo. É irreformável.

VIII. Modalidades de extinção do

crédito tributário não previstas no CTN

STF: são taxativas as modalidades de extinção do crédito tributário previstas no CTN.

Parte da doutrina: há outras situações que implicam fim do crédito tributário. Ex.:
confusão, novação, verificação da impossibilidade fática do cumprimento da obrigação
etc.

Ex.: confusão. O sujeito morreu e não deixou herdeiros, mas devia à Fazenda Pública
Municipal certos débitos. Os bens acabaram indo para o município. Houve a confusão.

12. Repetição do indébito

I. Introdução

Repetição do indébito: é a devolução do valor recolhido a título de tributo pago


indevidamente.

Doutrina e jurisprudência: a natureza jurídica do indébito regulado pelo CTN é de um


indébito tributário, tendo repercussão na aplicação de princípios de direito tributário.

II. Hipóteses de restituição

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à


restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento,
ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos:

• I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o


devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou
circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;

101
• II - erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável,
no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer
documento relativo ao pagamento;

• III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.

• Além desses casos, existe mais uma possibilidade de repetição de indébito, que
é a declaração da inconstitucionalidade de determinado tributo em sede de
controle abstrato pelo STF.

• Outra ressalva (162, §4º): o pagamento efetuado em estampilha, papel selado


ou por processo mecânico não pode ser objeto de repetição de indébito, salvo
nos casos previstos expressamente na legislação tributária ou quando o erro
for imputável à autoridade fazendária.

III. Restituição de tributos indiretos

Art. 166 do CTN: a restituição de tributos que comportem, por sua natureza,
transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver
assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este
expressamente autorizado a recebê-la.

Ex. de tributos indiretos não cumulativos: IPI, ICMS, ISS etc.

• O contribuinte de fato não se confunde com o contribuinte de direito ➔ em


verdade, há o repasse ao consumidor do tributo que o Estado está cobrando do
sujeito passivo do fato gerador.

• É o fenômeno da repercussão econômica: transferência do encargo tributário


de forma embutida na mercadoria ou no serviço prestado ao consumidor final.

• Como o contribuinte de fato é o consumidor, não é possível que o contribuinte


de direito peça a repetição do indébito, pois não foi ele quem pagou.

IV. Restituição dos acréscimos legais

→ Juros sobre o indébito

102
Confirmado pelo fisco o direito à restituição, esta dará direito a juros, os quais não são
capitalizáveis.

Estes juros incidirão a partir do trânsito em julgado da decisão (administrativa ou


judicial) que determina a restituição (art. 167, § único).

Taxa de juros cabíveis para a repetição de indébito: é aquela definida por cada ente
tributante. Caso não tenha definido, será de 1% ao mês.

No âmbito da União, é a taxa SELIC, que abrange não apenas os juros, mas também a
inflação.

STJ, Súmula 523: a taxa de juros de mora, incidente na repetição de indébito de tributos
estaduais, deve corresponder à taxa de juros do tributo pago em atraso, sendo legítima
a incidência da taxa SELIC para ambas as hipóteses, quando houver previsão assim na
legislação local, vedada a sua acumulação com qualquer outros índices.

• Os mesmos juros que a entidade tributante cobra quando há o atraso de


pagamento são os juros que o ente tributante deverá se sujeitar quando deve
devolver. Ausência de previsão legal: 1% ao mês.

STJ, em sede de recursos repetitivos:

O regime de repetição de indébito, previsto no CTN, é aplicável às contribuições


previdenciárias, que tem natureza tributária.

→ Atualização monetária do indébito

• Súmula 162 do STJ: na repetição do indébito tributário, a correção monetária


incide a partir do pagamento indevido.

V. Restituição na substituição tributária “para frente”

• Houve o recolhimento do tributo por fato gerador que ainda não havia ocorrido.

Ex.: dono do frigorífico fornece para 10 açougues. O Estado recolhe os tributos


antecipadamente das operações que incidirão. Mais fácil do que cobrar dos 10
açougues.

Art. 150, §7º, da CF:

103
A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável
pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido.

STF: é devida a restituição da diferença do ICMS pago a mais, no regime de substituição


tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à
presumida (Inf. 844).

Ou seja, se o fato ocorreu, mas em valor menor, será admitida a restituição.


Entendimento novo (Recurso Extraordinário 593849, com repercussão geral
reconhecida).

VI. Extinção do direito à restituição

Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5


(cinco) anos, contados:

• I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165 (cobrança ou pagamento


espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido ou erro na identificação
do sujeito passivo, na alíquota, no cálculo...) da data da extinção do crédito
tributário;

• II - na hipótese do inciso III do artigo 165 (reforma, anulação, revogação ou


rescisão de decisão condenatória), da data em que se tornar definitiva a decisão
administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado,
anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória.

VII. Regra interpretativa da LC 118/05

LC 118/05 traz regra interpretativa, falando do direito de restituição.

Art. 3º da LC 118: para efeito de interpretação do art. 168, I, do CTN, que é o direito de
restituição, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito à
homologação, no momento do pagamento do crédito antecipado.

Logo, no tocante ao direito de restituição, será considerado o prazo de 5 anos a contar


do momento do pagamento.

104
STF: quando do advento da LC 118, a orientação que estava consolidada no STJ era no
sentido de que os tributos sujeitos à lançamento por homologação tinham um prazo de
pedido de homologação ou compensação de indébitos de 10 anos, contados da
ocorrência do seu fato gerador (prazo de 5 anos para extinção do crédito e mais 5 anos
para pleitear a restituição).

• A LC 118, embora tenha se pronunciado ou autoproclamado como


interpretativa, implicou uma inovação normativa, porque reduziu o prazo de 10
anos, já consagrado na jurisprudência, para o prazo de 5 anos, contados da data
do pagamento indevido.

• Então, será considerada válida a aplicação do novo prazo de 5 anos somente


para as ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias (09/06/05).

VIII. Prazo para anular ato administrativo denegatório

A pretensão de anular ato administrativo que nega a restituição do indébito é sujeita


a prazo prescricional de 2 anos.

Art. 169, parágrafo único, do CTN: o prazo de restituição é interrompido pelo início da
ação judicial, recomeçando o seu curso pela metade, a partir da data da intimação
validamente feita ao representante judicial da Fazenda Pública interessada.

Jurisprudência: o prazo para anular nunca pode ser inferior a 2 anos.

Ex.: o João queria anular e promoveu uma ação com 1 ano e 11 meses, quando ele
promoveu, houve a interrupção do prazo.

Quando o representante da Fazenda Pública foi intimado começa a conta mais 1 ano.
Supondo que ele foi intimado no outro dia, haverá 1 ano e 11 meses mais 1 ano.

Agora, se a decisão administrativa desfavorável ao contribuinte foi proferido há 1 mês


do ajuizamento da ação, estará interrompido o lapso prescricional quando da promoção
do feito. Intimado o representante da fazenda pública, o prazo começará a correr da
metade. Então, em 1 ano estaria extinto, havendo a prescrição.

Porém, se for somado 1 mês com 1 ano, haverá 1 ano e 1 mês apenas. O STF diz que o
prazo mínimo é de 2 anos.

105
Portanto, a regra é:

• 2 anos para promover a ação anulatória.

• A partir da propositura da ação, e havendo a interrupção da prescrição, e


intimado o representante da fazenda pública, recomeça a contar o prazo pela
metade, mas o prazo total não pode ser inferior a 2 anos.

IX. Restituição de tributos inconstitucionais

O CTN não faz distinção para fins de pagamento indevido.

Aplica-se a regra do art. 168 do CTN para todas as hipóteses de restituição, seja por
ilegalidade ou por inconstitucionalidade.

Prazo de 5 anos, a contar do efetivo recolhimento ou da decisão que tenha reformado,


anulado, revogado ou rescindido a decisão anterior contrária ao pleito do sujeito
passivo.

STJ:

A declaração de inconstitucionalidade da lei instituidora do tributo, em controle


concentrado pelo Supremo ou a resolução do Senado que suspende a eficácia, quando
o STF declara a inconstitucionalidade em sede de controle difuso, é despicienda para
fins de contagem do prazo prescricional, tanto em relação aos tributos sujeitos a
lançamento por homologação quanto em relação aos tributos sujeitos a lançamento
de ofício.

Basta que se conte o prazo de 5 anos. Passado o prazo, não terá mais como restituir.

X. Restituição de débitos prescritos

A prescrição tributária extingue e atinge o próprio direito material, pois atinge o crédito
tributário.

No direito civil, se é paga dívida prescrita, não há direito a reembolso. Todavia, no


direito tributário, essa mesma situação gera o dever de reembolso, pois foi paga dívida
que não existia mais.

106
Veja, os efeitos sobre o crédito tributário da prescrição são iguais aos efeitos da
decadência.

Arts. 157, I, e art. 158, I, da CF

Pertencem aos Estados, ao DF e aos municípios o produto da arrecadação do imposto


da União sobre renda e sobre proventos de qualquer natureza incidentes na fonte, sobre
rendimentos pagos a qualquer título por eles, por suas fundações ou autarquias, que
instituírem e mantiverem.

Pergunta: nos casos em que os servidores desses entes federados intentem a restituição
do IR retido na fonte, de quem é a legitimidade passiva para figurar na demanda?

Não é da União, e sim do Estado ou do Município (STJ e STF.) Fundamento: foi o Estado
ou o Município que ficou com o dinheiro recolhido a maior, motivo pelo qual serão
eles que deverão integrar o polo passivo de ação de restituição. - Súmula 447 do STJ.

Aula 07. Exclusão do crédito tributário. Garantias e preferências do crédito tributário.


Administração tributária

13. Exclusão do crédito tributário

I. Introdução

Excluir é impedir que o crédito tributário se constitua, nascendo antes do lançamento.

II. Cumprimento de obrigações acessórias

Art. 175, § único, CTN: a exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento
das obrigações acessórias.

Ex.: se o contribuinte do IPI transaciona produtos isentos de IPI, deverá continuar


emitindo nota fiscal.

III. Limitações às leis instituidoras de benefícios fiscais

As limitações às leis que instituem benefícios fiscais são de 2 ordens:

107
• Limitações constitucionais

• Limitações que encontram guarida na lei de responsabilidade fiscal

a) Limitações constitucionais

CF, art. 150, §6º: qualquer isenção ou anistia, relativas a impostos, taxas ou
contribuições, somente poderá ser concedida por lei específica que regule
especificamente a matéria ou o correspondente tributo.

CF ➔ é vedado à União isentar tributos de competências dos Estados ou municípios.


Veda-se a isenção heterônoma! Pelo princípio da simetria, o Estado não pode conceder
isenções de tributos municipais, sob pena de violação do pacto federativo.

Essa vedação se refere à União, como pessoa jurídica de direito público interno, e não
à República Federativa do Brasil, pessoa de direito público internacional. A República
pode conferir isenção de tributos relativos a Estados e Municípios.

Cabe ressaltar!

As imunidades são sempre heterônomas ➔ não derivam da autonomia do ente


tributante, e sim da própria CF.

CF ➔ veda que sejam concedidos privilégios fiscais não isonômicos entre empresas
exploradoras de atividade econômica. Não se pode dar benefícios às empresas estatais
não concedidos à iniciativa privada.

• STF: a CF admite que sejam concedidos benefícios fiscais não extensíveis a


outras empresas, quando as empresas estatais são prestadoras de serviço
público.

b) Limitações da Lei de Responsabilidade Fiscal

LRF ➔ a concessão de anistia e isenção, se não for dada em caráter geral, depende do
atendimento das regras contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal.

A ideia é: a renúncia de receita não pode violar o orçamento, a previsão e a organização


das contas públicas.

A renúncia de receita deve ser justificada!

108
IV. Isenção

Natureza jurídica: para uma corrente é uma dispensa legal de um tributo devido. Seria
uma espécie de perdão. É a corrente adotada pela jurisprudência!

Outra corrente: a isenção é uma exceção à hipótese legal de incidência do tributo. O


tributo nem chega a nascer. É adotada pela doutrina.

a) Tipologia da isenção

A isenção pode ser classificada de diversas maneiras.

Quanto à forma da isenção, poderá ser:

• Isenção absoluta: concedida em caráter geral e diretamente pela lei.

• Isenção solene: concedida em caráter individual. Apesar da existência de


previsão legal, é necessário despacho da autoridade administrativa competente
que reconheça a isenção, pois está condicionada ao cumprimento de
determinados requisitos previstos em lei que o beneficiado deverá comprovar
que preenche.

Quanto à natureza, a isenção poderá ser:

• Isenção onerosa (condicionada): é uma isenção que implica ônus ao


beneficiado.

Ex.: isenção de IPTU para quem promove a conservação de imóvel histórico.

• Isenção gratuita (incondicionada): não acarreta qualquer ônus ao beneficiado.

Ex.: isenção de IPTU de imóveis para quem tenha mais de 60 anos.

b) Isenção “por contrato”

Arts. 176 a 179 do CTN.

O ente político, para atrair investimento, firma contrato (protocolos de intenção, que
têm caráter extrafiscal), prometendo que concederá isenção de determinados tributos
ao sujeito.

109
• Na verdade, essas previsões contratuais são inócuas, visto que é a lei específica
que concede a isenção. Essa previsão em contrato é uma promessa de que o
governante vai se esforçar para que uma lei concessiva de isenção venha a ser
implantada.

• Supondo que o governador não consiga a aprovação dessa lei na Assembleia


Legislativa, após ter conseguido trazer a empresa. Neste caso, o prejudicado
somente poderá obter uma indenização em face do Estado, mas a isenção
propriamente dita não irá conceder pela via judicial.

c) Caráter não extensivo da isenção

CTN, art. 177: salvo disposição de lei em sentido contrário, a isenção não é extensiva:

• Às taxas e às contribuições de melhoria;

• Aos tributos instituídos após a sua concessão.

• Como a isenção tem caráter restritivo, somente permite interpretação literal: só


vale para aquilo que está previsto na lei.

• STF: o Judiciário não pode conceder, ainda que sob o fundamento de isonomia,
o benefício da exclusão do crédito tributário em favor daquele que o legislador
não contemplou.

O Poder Judiciário somente pode ser legislador negativo.

Ex.: a isenção concedida à categoria “A” não poderá ser pelo concedida pelo Judiciário
à categoria “B”.

d) Revogabilidade

Art. 178 do CTN: a isenção não é revogável por lei superveniente se esta isenção for
concedida cumulativamente, por prazo certo, em função de determinadas condições.

Regra: a isenção pode ser revogada a qualquer momento.

Mas quando irá gerar direito adquirido ao beneficiado (S. 544 STF)?

Quando preencher 2 requisitos:

110
• Seja concedida por prazo determinado

• Seja condicionada

e) Revogação de isenção e benefícios fiscais e princípio da anterioridade

Art. 104, III, do CTN: os dispositivos de lei, referidos a impostos sobre o patrimônio ou
renda (IR, ITR, IPVA, IPTU, ITBI), que extinguem ou reduzem isenções, entram em vigor
no primeiro dia do exercício financeiro seguinte àquele em que ocorra a sua
publicação, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte.

• Basicamente: a revogação e a redução de isenção ou a revogação de benefício


fiscal devem observar o princípio da anterioridade.

• STF: configura aumento indireto de tributo e, portanto, está sujeita ao princípio


da anterioridade tributária (geral e nonagesimal), a norma que implica
revogação de benefício fiscal anteriormente concedido.

f) Distinção entre isenção e hipótese de não incidência

• Hipótese de não incidência: é a não subsunção de uma certa situação ao está


descrito na hipótese de incidência, na norma tributária.

➢ Não há necessidade de a hipótese de não incidência estar prevista no texto legal.


Caso isto ocorra, estaremos diante de uma situação de não incidência legalmente
qualificada.

• A isenção, por sua vez, demanda lei específica. Isto é determinação


constitucional.

g) Distinção entre isenção e imunidade

Sede jurídica: a imunidade tem previsão constitucional.

“Imunidade é uma isenção constitucionalmente qualificada”.

h) Distinção entre isenção e “alíquota zero”

111
Alíquota zero: possível nos tributos que excetuam princípio da legalidade para fixação
de suas alíquotas: II, IE, IOF, ICMS-combustíveis, CIDE-combustíveis. O Poder Executivo
pode reduzir a alíquota por medida extrafiscal.

Neste caso, há apenas a alteração da alíquota. O fato gerador ocorreu, havendo a


hipótese de incidência e a respectiva subsunção do fato à norma. O tributo existe, mas,
na hora de calculá-lo, a alíquota será zero, ensejando o não pagamento do tributo.

V. Anistia

• É o perdão de uma infração à legislação tributária (não apenas à lei).

• Possui natureza penal: extingue a punibilidade do sujeito passivo.

• Natureza jurídica: causa de exclusão do crédito tributário, impedindo que o


crédito tributário seja constituído.

Não se confunde com a remissão, a qual perdoa o crédito tributário que já foi constituído.
A anistia é o perdão da infração já ocorrida, mas cujo crédito ainda não foi lançado.

a) Vedação à concessão de anistia

Art. 180 do CTN: a anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas


anteriormente à vigência da lei que a concede, não se aplicando:

• Aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos que, mesmo
sem essa qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo
sujeito passivo ou por terceiro em benefício daquele;

• Salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio entre duas


ou mais pessoas naturais ou jurídicas.

b) Tipologia da anistia

A anistia pode ser:

• Anistia de caráter geral

• Anistia de caráter limitado

Quando for anistia de caráter limitado, a limitação pode se referir:

112
• Às infrações da legislação relativa a determinado tributo;

• Às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado valor,


conjugadas ou não com penalidades de outra natureza. Ex: até R$ 1.500,00
terá anistia.

• A determinada região do território da entidade tributante, em função de


condições a ela peculiares.

• Sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a conceder,
ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade administrativa.

• Anistia de caráter geral: não depende de qualquer formalidade do beneficiado,


sendo concedida diretamente pela lei. Anistia geral nunca dependerá do
despacho da autoridade administrativa.

• A anistia em caráter limitado pode prescindir (dispensar) ou não do despacho


da autoridade administrativa para sua concessão. Ex.: concessão de anistia para
quem pagar até o dia 30 do mês seguinte os tributos devidos. É limitada a anistia,
pois exige-se recolhimento em prazo determinado pela lei, mas não há
necessidade de despacho da autoridade.

14. Garantias e preferências do crédito tributário

I. Introdução

Garantias: são instrumentos que vão assegurar que determinados direitos serão fruídos.

• As garantias do crédito tributário estão previstas no CTN, mas os entes


tributantes podem prever outras garantias. Essas garantias do CTN são
exemplificativas.

• As preferências de crédito somente podem ser previstas em lei complementar.


Exigência constitucional.

II. Responsabilidade patrimonial

113
• Regra: todo o patrimônio do devedor responde pelas dívidas que ele tem, em
especial as dívidas tributárias.

• Excetuados os bens absolutamente impenhoráveis por disposição legal.

• A impenhorabilidade que resulta de ato volitivo do particular


(impenhorabilidade convencional), quer através de testamento ou de contrato,
é inoponível ao fisco.

• Nem mesmo bens gravados com ônus real ou com cláusula de inalienabilidade
ou de impenhorabilidade vão fugir da responsabilidade patrimonial por dívidas
tributárias (art. 184, CTN).

a) Presunção relativa de fraude

• Art. 185 CTN. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou


rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda
Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.

Consequentemente, essa alienação ou doação perante a Fazenda Pública será ineficaz.

A alienação será eficaz perante a Fazenda Pública se o devedor reservar bens suficientes
para pagar a dívida tributária (§ único, art. 185 do CTN).

b) Indisponibilidade de bens e direitos

No curso de execução fiscal, o devedor será regularmente citado e deverá apresentar


bens à penhora.

• Supondo que não apresente bens à penhora e nem sejam encontrados bens
penhoráveis, o juiz deverá determinar de ofício a indisponibilidade de bens e
direitos do devedor (art. 185-A).

• Se o número de bens indisponíveis ultrapassar o valor efetivamente devido


pelo sujeito passivo, o magistrado, ao tomar conhecimento deste excesso
(excesso de indisponibilidade), sustará o excesso imediatamente (§1º do art.
185-A).

III. Preferências

114
A lei prioriza a solvência de determinados tipos de créditos em detrimento de outros.

CTN: o crédito tributário, via de regra, prefere a qualquer outro, seja qual for sua
natureza ou tempo de constituição. Exceção: créditos de natureza trabalhista ou
decorrentes de acidente do trabalho.

No caso de falência, alguns tipos de crédito vão preferir ao tributário.

Basicamente, na falência haverá a seguinte ordem:

• Créditos extraconcursais

• Crédito de natureza do trabalho ou de acidente do trabalho

• Créditos com garantia real

• Créditos tributários

• Se, no decurso do processo de falência ou de recuperação judicial, o crédito


tributário decorrente de encargos da massa falida for contestado, o juiz
remeterá as partes ao processo competente e a determinará a reserva de bens
suficientes para solver eventual crédito tributário apurado naquele processo
competente (art. 188, §1º, CTN).

a) Multas tributárias

As multas tributárias, na falência, serão preferidas apenas aos créditos subordinados


(art. 186, § único, III, CTN).

Segue a ordem:

• Créditos extraconcursais

• Crédito de natureza do trabalho ou de acidente do trabalho

• Créditos com garantia real

• Créditos tributários

• Créditos com privilégio especial

• Créditos com privilégio geral

115
• Créditos quirografários

• Multas e penalidades, inclusive as tributárias

• Créditos subordinados

b) Inventário, arrolamento, liquidação de pessoa jurídica

Arts. 189 e 190 do CTN.

Afirmam a preferência absoluta do crédito tributário nos processos de inventário,


arrolamento ou liquidação de pessoa jurídica.

c) Não sujeição a concurso e a habilitação

A cobrança judicial do crédito tributário não se sujeita a qualquer tipo de habilitação


em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento e nem se
sujeita a concurso de credores (art. 187 do CTN).

Vale lembrar! Isto não implica sobreposição dos haveres do credor tributário em
relação aos credores com execução individual já tenham conseguido a penhora de
bens.

• Então, mesmo que se esteja diante de crédito quirografário, se já houve a


execução do crédito quirografário e, além dessa execução, já houve a penhora,
o fato de o crédito tributário não ter de observar a habilitação ou o concurso de
credores, não vai desfazer a penhora que foi feita em favor do credor
quirografário.

Observação:

Súmula 44 do TFR

Ajuizada a execução fiscal antes da falência, com penhora realizada antes dessa, não
ficam os bens penhorados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar. Proposta a
execução fiscal após a falência, a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo de
falência, citando-se o administrador judicial.

d) Concurso de preferências

116
Há mais de uma pessoa jurídica de direito público credora do mesmo devedor que tem
patrimônio insuficiente.

Art. 187, § único, CTN: O concurso preferência somente se verifica entre pessoas
jurídicas de direito público, na seguinte ordem:

• União

• Estados, DF e territórios, conjuntamente e pro-rata

• Municípios, conjuntamente e pro-rata

A Lei de Execução Fiscal repete esse conteúdo, mas acrescenta a referência às


respectivas autarquias dos entes políticos.

A ordem pela LEF é a seguinte:

• União e suas autarquias

• Estados, DF e territórios, e suas autarquias, conjuntamente e pro-rata

• Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro-rata

e) Quitação

É a prova de que os tributos devidos foram adimplidos. A quitação é obrigatória nos


casos previstos no CTN.

Em vários casos o CTN exige prova da quitação. São eles:

• Sentença de declaração de extinção das obrigações do falido

• Concessão de recuperação judicial

• Sentença de adjudicação ou partilha

• Aceitação de proposta em concorrência pública e celebração de contrato entre


a administração pública, salvo disposição de lei autorizando essa dispensa de
quitação.

• Documento que prova quitação com a fazenda pública é a certidão negativa de


débito. Faz as vezes de CND a certidão positiva com efeitos de negativa (CPEN).

117
15. Administração tributária

I. Introdução

A administração tributária deve balizar-se por alguns mandamentos constitucionais.

• A administração tributária deve ter como agentes servidores de carreiras


específicas.

• Além disso, deverá ter recursos prioritários para realização de suas atividades.

A CF excepciona o princípio da não afetação em relação às verbas destinadas à


administração tributária. Art. 167, IV: permite a afetação de receitas para o custeio da
administração tributária.

• A administração tributária deverá atuar de forma integrada, com


compartilhamento de cadastros e informações fiscais, desde que na forma da
lei ou do convênio.

II. Fiscalização

Cabe à legislação tributária regular, em caráter geral ou específico, a competência e os


poderes das autoridades administrativas em matéria de fiscalização e de aplicação da
legislação tributária (art. 194 CTN).

• Veja: a competência pode ser regulada, e não inovada. Somente cabe inovação
por parte da lei.

• As normas de fiscalização têm aplicação imediata.

III. Limites aos poderes da fiscalização

Art. 195 do CTN: para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer
disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros,
arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes
industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.

STF, Súmula 439: estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer


livros comerciais, desde que limitado ao ponto objeto de fiscalização.

118
Cabe ressaltar: o poder da investigação da administração tributária tem limites.

a) Limite de inviolabilidade do domicílio (ou do estabelecimento)

Domicílio é inviolável. Se a autoridade administrativa promover a invasão do domicílio,


as provas colhidas serão inválidas.

• Se for negado o acesso à administração pelo contribuinte, inviabilizando o


acesso aos livros e documentos, o órgão competente deverá buscar o Judiciário,
requerendo busca e apreensão ou ação de exibição forçada.

• Se durante a fiscalização é encontrado um livro, e a autoridade tributária


verifique que este contém ilegalidades, poderá fazer a apreensão desse
documento fiscal.

• Jurisprudência: a apreensão de documentário fiscal é lícita, mas não se pode


fazê-la após ingresso ilícito no domicílio.

• Lei 8.137/90 ➔ é crime a conduta de não atender à exigência da autoridade


fiscal no prazo de 10 dias. Trata-se de crime omissivo.

b) Constrição oblíqua para pagamento de tributos

Constrição oblíqua é constrição indireta.

• Os meios hábeis para cobrança de créditos não pagos à Fazenda Pública são as
cobranças, sejam administrativas ou judiciais, na forma da execução fiscal.

• É vedado que haja constrição indireta ou oblíqua, como a apreensão da


mercadoria que está em trânsito, fechamento do estabelecimento, proibição do
exercício normal da atividade comercial (ex.: não autorizar abertura de filial).

• A constrição oblíqua viola a livre iniciativa.

• Atenção! A apreensão de mercadorias é aceita como forma de sedimentação


probatória do ilícito tributário. Comprovação de materialidade e autoria do
delito.

119
• A retenção da mercadoria até a comprovação da posse legítima daquele que
transporta a mercadoria também é possível e não configura coação ou
constrição indireta.

• Não configura coação a retenção temporária para fazer fiscalização. Logo quer
terminar a fiscalização a mercadoria é liberada.

c) Conservação dos livros de interesse da fiscalização

Parágrafo único do art. 195.

Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos


lançamentos neles efetuados deverão ser conservados até que ocorra a prescrição dos
créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram.

A administração tributária não pode exigir que sejam conservados após a prescrição.

IV. Termo inicial da ação fiscal

Art. 196 do CTN: as diligências fiscais devem ser precedidas de um termo inicial, que
fixará o prazo para conclusão dessa fiscalização.

São consequências práticas dessa norma:

• Antecipa o início do prazo decadencial do lançamento tributário

• Lembre-se: o prazo decadencial do lançamento tributário é de 5 anos e, via de


regra, começa a ser contado no 1º dia do exercício financeiro seguinte àquele
em que o lançamento poderia ter sido efetuado.

• Se começar a fiscalização no mesmo exercício financeiro em que ocorreu o fato


gerador, há antecipação do início da contagem do prazo decadencial para o
termo inicial do procedimento investigativo.

Súmula 555 do STJ: quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial
quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma
do art. 173, I, do CTN (do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetuado), nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o
dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.

120
• Delimita a preclusão do prazo para que seja intentada a denúncia espontânea
Não cabe + denúncia espontânea.

V. Intimações escritas

a) Dever de informar

Art. 197 CTN: mediante intimação escrita, são obrigados a prestar todas as
informações que disponham com relação a bens, negócios ou atividades de terceiros:

• Os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;

• Os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições financeiras;

• As empresas de administração de bens;

• Os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;

• Os inventariantes;

• Os síndicos, comissários e liquidatários;

• Quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu cargo,
ofício, função, ministério, atividade ou profissão.

Esse dever de informar nasce de uma intimação escrita.

b) Permuta de informações entre fazendas públicas

É preceito constitucional que haja comunicação entre fazendas públicas.

• As administrações tributárias dos entes federativos deverão atuar de forma


integrada, compartilhando cadastros e informações fiscais, mas desde que
observem a lei ou o convênio.

• Objetivo: eficiência da administração tributária, que é mandamento


constitucional.

c) Prova emprestada

121
• Na seara tributária, é possível que haja a permuta de informações, fazendo com
que o ente tributante de uma esfera se aproveite de material probatório
levado por outra.

• No entanto, este material probatório funcionará como indício: a partir do


material, o outro ente político, que não produziu o material, levantará os fatos
geradores do tributo da sua competência, constituindo os respectivos créditos
tributários.

d) Permuta internacional de informações

É possível a permuta internacional de informações (art. 199, parágrafo único).

“A fazenda pública da União pode, na forma estabelecida nas convenções, tratados e


convênios, permutar informações com estados estrangeiros, no interesse da
arrecadação e fiscalização dos tributos”.

Eficiência da administração tributária e integração entre os povos.

VI. Requisição de forças públicas

Art. 200 do CTN: as autoridades fiscais podem requisitar auxílio das forças públicas.

Situações que admitem a requisição de auxílio da polícia pelas autoridades


administrativas. Quando esta forem:

• Vítimas de embaraço no exercício de suas funções

• Vítimas de desacato no exercício de suas funções

• Necessário à efetivação de medida prevista na legislação tributária, ainda que


não se configure fato definido em lei como crime ou contravenção

Lembre-se!

A mera negativa de exibição de livro ou de acesso ao estabelecimento não comporta


requisição do auxílio de força pública.

Caso seja negado, deverá a Administração ingressar no poder judiciário.

VIII. Sigilo tributário

122
Art. 198 do CTN: sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação,
por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão
do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou sobre a
situação econômica ou financeira de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus
negócios ou atividades.

• Fundamento: a autoridade administrativa age e deve observar o sigilo fiscal e


tributário.

Essa transgressão configura o crime contra a administração pública: crime de violação


de sigilo funcional - art. 325 CP:

Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em
segredo, ou facilitar-lhe a revelação:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais
grave.

Cabe ressaltar que não configura violação ao sigilo:

• A requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;

• As solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração


Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo
administrativo com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a
informação, por prática de infração administrativa.

Atenção!

O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pública, será


realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita
pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência
e assegure a preservação do sigilo.

a) Não submissão ao sigilo tributário

§3º do art. 198: não é vedada a divulgação de informações relativas a:

• representações fiscais para fins penais

123
• inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública

• parcelamento ou moratória

Ou seja, a partir de o momento em que há uma representação fiscal para fins penais,
que dará origem a uma ação penal pública, não haverá mais sigilo.

• Também não se submetem ao sigilo fiscal as inscrições em dívida ativa,


parcelamento e moratória.

Fundamento: transparência da administração tributária. O contribuinte deve saber de


onde está vindo o dinheiro da administração.

b) Sigilo bancário

• LC 105/01➔ o sigilo das operações das instituições financeiras é inoponível ao


fisco. O fisco pode ter acesso a dados bancários, identificando patrimônio,
rendimentos e atividades econômicas do contribuinte.

• STF: não há quebra de sigilo, mas tão somente uma transferência de


informações sigilosas no âmbito da administração pública, sendo uma previsão
constitucional.

Se houver violação ao sigilo, haverá o crime de violação ao sigilo funcionar (art. 325 do
CP).

Aula 08. Administração tributária (continuação). Infrações e delitos tributários.


Impostos federais.

IX. Dívida ativa

Consiste em créditos da Fazenda Pública não pagos na data do vencimento e, por isso,
inscritos em registros próprios da fazenda pública.

Art. 201 do CTN: Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa
natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa competente, depois de
esgotado o prazo fixado para pagamento pela lei ou por decisão final proferida em
processo regular.

124
Crédito tributário engloba crédito de tributos, das respectivas multas e de eventuais
adicionais, como juros e correção monetária.

• Existem créditos fiscais que não possuem natureza tributárias. Os demais


créditos fazendários não são tributários.

• Inscrito na dívida ativa, o crédito tornar-se-á exequível.

• Lembre-se: com o vencimento do crédito definitivamente constituído, ele se


torna exigível. Com a inscrição em dívida ativa, exequível.

• A certidão de dívida ativa da Fazenda Pública é definida no Novo CPC como um


título executivo extrajudicial (art. 784, IX).

• A inscrição em dívida ativa é um procedimento unilateral em que a


administração inscreve uma dívida e independerá da notificação do sujeito
passivo. Ele já foi notificado para constituição do crédito.

a) Não suspensão do prazo prescricional

Lei de Execuções Fiscais➔ a inscrição em dívida ativa suspende a prescrição por 180
dias, ou, pelo menos, até a distribuição da execução fiscal, se esta se der antes dos 180
dias.

Mas esta disposição da LEF só é aplicável para créditos não tributários. Em matéria
tributária exige-se a disposição desse ponto por LC.

Portanto, a inscrição em dívida ativa de crédito tributário não suspende o prazo


prescricional.

b) Requisitos da certidão de dívida ativa

São requisitos da CDA:

• Certidão autenticada pela autoridade competente

• Nome do devedor com seu respectivo domicílio

• Quantia devida e como os juros de mora serão calculados

• Origem e a natureza do crédito

125
• Data da inscrição

• Número do processo administrativo que deu origem

• Livro e folha da inscrição

• Havendo erro na CDA, haverá uma causa de nulidade da CDA. Esta nulidade
pode ser sanada até a decisão judicial de 1ª instância.

• Se houver a substituição até antes do julgamento de 1ª instância, será


devolvido o prazo para o sujeito passivo, podendo se manifestar a respeito da
parte modificada.

STJ: a ausência de prévio processo administrativo não enseja a nulidade da Certidão


de Dívida Ativa nos casos de tributos sujeitos a lançamento de ofício.

Cabe ao contribuinte impugnar administrativamente a cobrança tributária, e não ao


fisco que, com observância da lei aplicável ao caso, lançou o tributo.

STJ: deve ser extinta a execução fiscal que, por erro na CDA quanto à indicação do CPF
do executado, tenha sido promovida em face de pessoa homônima.

Em princípio, a indicação equivocada do CPF do executado constitui simples erro


material, que pode ser corrigido, na forma do art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/80, porque, em
regra, não modifica o polo passivo se os demais dados como nome, endereço, nº do
processo administrativo estiverem indicados corretamente. Entretanto, quando se trata
de homônimo, o erro na indicação do CPF acaba por incluir no processo executivo pessoa
diversa daquela, em tese, devedora do imposto.

Súmula 392 do STJ

A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da
sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada
a modifi cação do sujeito passivo da execução.

STJ: o reconhecimento da inexigibilidade parcial de crédito representado na certidão


da dívida ativa (CDA) não exige a emenda ou a substituição do título para o

126
prosseguimento da execução fiscal quando a quantia indevida puder ser prontamente
abatida por meros cálculos aritméticos.

Não há nulidade do título executivo extrajudicial, mas tão-somente procede-se à


redução do montante ao valor devido, quando o valor remanescente puder ser apurado
por simples cálculos aritméticos.

STJ:

É desnecessária a apresentação de Certidão de Dívida Ativa (CDA) para habilitação, em


processo de falência, de crédito previdenciário resultante de decisão judicial
trabalhista.

X. Certidão negativa

É a prova de que houve a quitação do tributo.

Segundo o CTN, exige-se certidão negativa para que:

• Seja, por sentença, declarada extinta as obrigações do falido

• Para concessão de recuperação judicial

• Para sentença de adjudicação e de partilha

• Para aceitação de proposta em concorrência pública e celebração de contrato


com a Administração, salvo disposição em contrário

STJ, Súmula 446

Declarado e não pago o débito tributário pelo contribuinte, é legítima a recusa de


expedição de certidão negativa ou mesmo de certidão positiva com efeitos de
negativa.

Se o sujeito confessa que deve (lançamento por homologação), isto já constitui o crédito
tributário, não sendo mais possível o sujeito pedir certidão negativa ou certidão positiva
com efeitos de negativa.

a) Prazo para expedição de certidão negativa

127
Prazo para expedição da certidão negativa: 10 dias, contados da data da entrada do
requerimento na adm. pública.

Havendo o descumprimento do prazo de 10 dias para expedição da certidão, caberá


mandado de segurança, por conta do direito líquido e certo à exibição.

b) Certidão positiva com efeitos de negativa

Essa certidão traz débitos, mas estes débitos estão garantidos pela penhora de bens ou
não são passíveis de cobrança imediata, pois não vencidos ou com a exigibilidade está
suspensa.

STJ: o contribuinte pode, depois do vencimento da sua obrigação, e antes da execução,


garantir o juízo de forma antecipada para obter certidão positiva com efeitos de
negativa.

c) Certidão expedida com dolo ou fraude

Art. 208 do CTN: a certidão negativa, expedida com dolo ou fraude, que contenha erro
contra a fazenda pública responsabiliza pessoalmente o funcionário que a expedir.

Ele será responsável pelo crédito tributário e pelos juros de mora acrescidos, não se
excluindo eventual responsabilidade criminal ou funcional.

16. Disposições finais do Código Tributário Nacional

CTN: os prazos são contínuos, excluído o dia do início e incluído o dia do vencimento
(art. 210). Isto se aplica à prescrição e decadência.

17. Infrações e delitos tributários

I. Direito tributário penal e direito penal tributário

128
• Direito tributário penal: é o direito tributário propriamente dito, impondo
penalidades ao descumprimento de normas tributárias. Refere-se a infrações
administrativas.

• Direito penal tributário: aplicação do direito penal. Há o descumprimento de


uma norma penal. Fala-se em crimes.

II. Interpretação benigna das sanções tributárias

Em caso de dúvida em relação à capitulação legal do fato, natureza e circunstâncias do


fato, ou mesmo quanto à autoria, imputabilidade, punibilidade, natureza da penalidade
a ser aplicada ou graduação dessa penalidade, deve-se adotar a interpretação mais
favorável ao acusado.

Esta é a interpretação benigna das sanções tributárias. Só tem lugar em caso de dúvidas.

III. Limite à imposição de penalidades pecuniárias

• A CF veda que o tributo tenha efeitos de confisco.

• STF: a multa não poderá ter caráter confiscatório.

Se a multa tiver característica confiscatória, isso inviabilizará futuras cobranças de


tributos, pois o sujeito não terá bens e rendas para incidência tributária.

IV. Responsabilidade por infrações tributárias

Em regra, a responsabilidade por infração à legislação tributária não depende da


vontade do agente.

Responsabilidade objetiva, sem depender da vontade do agente, da efetividade, da


natureza, da extensão dos efeitos do ato etc.

Basta que haja o descumprimento da norma tributária, e o sujeito vai ser


responsabilizado pela infração tributária.

V. Responsabilidade pessoal do agente

Art. 137 do CTN excepcionará esta regra, trazendo 3 hipóteses de responsabilidade


subjetiva, quanto às infrações:

129
• conceituadas como crimes ou contravenções;

• em cuja definição o dolo específico do agente seja elementar;

• que decorram direta e exclusivamente de dolo específico:

a) das pessoas referidas no artigo 134 (pais, tutores, síndicos...);

b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,


preponentes ou empregadores;

c) dos representantes de p. jurídicas de d. privado, contra estas.

VI. Denúncia espontânea

CTN, art. 138: a responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração,


acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou
do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o
montante do tributo dependa de apuração pela autoridade administrativa.

• Denúncia espontânea só pode ser usada para a obrigação tributária principal,


não cabendo para obrigações acessórias.

• Trata-se de sanção premial.

• Espontaneidade: é preciso que o sujeito dê a notícia antes do início de qualquer


medida de fiscalização.

• A denúncia espontânea vai afastar a responsabilidade do sujeito, nas esferas


administrativas e penal!

• Perceba: somente o pagamento integral da dívida em atraso implica denúncia


espontânea.

• Se há confissão da dívida e pedido de parcelamento da dívida, não se estará


diante de denúncia espontânea, devendo-se pagar multa moratória.

• Obs.: o depósito judicial, efetuado por devedores que querem contestar a


dívida, não é considerado como denúncia espontânea.

VII. Inaplicabilidade da denúncia espontânea a tributos homologados “declarados”

130
São os casos de autolançamento/lançamento por homologação.

O sujeito passivo declara o tributo devido, aguardando que Fazenda Pública homologue.

Não poderá invocar o art. 138 do CTN, salvo se tiver feito o recolhimento integral, caso
em que não seria necessário fazer a declaração.

STJ, Súmula 360

O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento


por homologação, regularmente declarados, mas pagos a destempo.

A notícia e o pagamento devem vir ao mesmo tempo.

VIII. Delitos tributários

a) Crimes contra a ordem tributária praticados por particulares

Lei 8.137/90, art. 1º: constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir
tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

• I - Omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

• II - Fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo


operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

• III - Falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer
outro documento relativo à operação tributável;

• IV - Elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva


saber falso ou inexato;

Note: do inciso I ao IV há crimes materiais, os quais exigem a constituição definitiva do


crédito tributário para que haja a persecução penal.

• V- Negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento


equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço,
efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.

No inciso V, há um crime tributário formal: dispensável a constituição definitiva do


crédito tributário para a persecução penal.

131
Parágrafo único do art. 1º

A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que


poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria
ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista
no inciso V.

Crime formal e omissivo.

• Trata-se de crime de ação vinculada: o tipo traz as condutas que deverão ser
incriminadas.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

STJ: o reconhecimento de prescrição tributária em execução fiscal não é capaz de


justificar o trancamento de ação penal referente aos crimes contra a ordem tributária
previstos nos incisos I a IV do art. 1º da Lei nº 8.137/90.

A constituição regular e definitiva do crédito tributário tipifica as condutas previstas no


art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, não influenciando em nada, para fins penais, o fato de
ter sido reconhecida a prescrição tributária.

O delito de sonegação fiscal se consuma no momento do trânsito em julgado do


processo administrativo-fiscal (constituição definitiva do crédito tributário).

Obs.: nos crimes de sonegação tributária, apesar de a jurisprudência do STF condicionar


a persecução penal à existência do lançamento tributário definitivo, o mesmo não
ocorre quanto à investigação preliminar. (Inf. 819).

Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução


ou supressão de tributo e consegue atingir o resultado almejado ➔ crime de sonegação
fiscal, na modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90.

A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante
a omissão do contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da
conduta. O arbitramento efetivado evidencia que a conduta omissiva foi apta a gerar
a supressão ou, ao menos, a redução do tributo na apuração.

132
STJ: a omissão na entrega da antiga Declaração de Informações Econômico-Fiscais da
Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a tipicidade do crime de
sonegação fiscal previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o Fisco dispusesse
de outros meios para a constituição do crédito tributário.

Obs: a DIPJ foi substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF) (Inf. 579, STJ).

b) Crimes contra a ordem tributária praticados por particulares

Art. 2°: constitui crime da mesma natureza:

• I - Fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou


empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de
tributo;

• II - Deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social,


descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que
deveria recolher aos cofres públicos;

• III - Exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer


percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de
contribuição como incentivo fiscal;

• IV - Deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal


ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;

• V - Utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao


sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa
daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Pena– detenção: 6 meses a
2 anos, e multa.

• STF: os delitos do art. 1º, I a IV, são de natureza material.

• STJ: crime de falsidade ideológica, cometido exclusivamente para viabilizar


sonegação fiscal. Aplica-se o p. da consunção, respondendo o agente apenas
pelo crime contra a ordem tributária.

133
• STJ: o simples fato do sujeito ser sócio, gerente ou administrador da empresa
não autoriza que contra ele seja instaurado processo criminal, se não
comprovada mínima relação de causa e efeito entre a imputação feita pelo MP
e a função que o sujeito efetivamente exerce.

c) Crimes contra a ordem tributária praticados por funcionários públicos

Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária:

• I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a


guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente,
acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social;

• II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela,
vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar
ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente.

É a corrupção passiva na seara tributária.

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

• II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela,
vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar
ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente.

É a corrupção passiva na seara tributária.

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

• III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a


administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público.

É a advocacia administrativa fazendária.

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

d) Apropriação indébita previdenciária

134
Art. 168-A do CP ➔ é crime de apropriação indébita previdenciária a conduta de deixar
de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional.

Pena: reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

O indivíduo reteve o valor do FGTS. Ele era o responsável, e não contribuinte.

§2: a punibilidade é extinta se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua


o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações
devidas à previdência social, desde que se dê antes do início da ação fiscal.

§3º: é facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o


agente for primário e de bons antecedentes, desde que:

• Tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia,


o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou

• O valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior


àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo
o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais

§1º: nas mesmas penas incorre quem:

• I - Deixar de recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância


destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento
efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;

• II - Deixar de recolher contribuições devidas à previdência social que tenham


integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à
prestação de serviços;

• III - Deixar de pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou


valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.

e) Sonegação de contribuição previdenciária

135
Art. 337-A ➔ configura o crime de sonegação de contribuição previdenciária a conduta
de suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório,
mediante as seguintes condutas:

• I - Omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações


previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário,
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe
prestem serviços;

• II - Deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da


empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador
ou pelo tomador de serviços;

• III - Omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações


pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais
previdenciárias.

Pena: reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

§1º: é extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as


contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência
social antes do início da ação fiscal.

§2º é facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o


agente for primário e de bons antecedentes, desde que o valor das contribuições
devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
previdência social, como mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

§3º: se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não
ultrapassa R$ 1.510,00, o juiz poderá reduzir a pena de 1/3 até a 1/2 ou aplicar apenas
a de multa.

§4º: o valor de R$ 1.510,00 será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do
reajuste dos benefícios da previdência social.

f) Lei 10.684/03

136
A Lei 10.684/03 trouxe o denominado REFIS II.

Esta lei estatui a chamada suspensão da pretensão punitiva do Estado em relação aos
crimes contra a ordem tributária, crimes de apropriação indébita tributária, sonegação
de contribuição previdenciária, apropriação indébita previdenciária, durante o período
de parcelamento de crédito tributário.

Caso o sujeito pague toda a dívida ao final do parcelamento, haverá a extinção da


punibilidade do crime.

STF: a Lei 10.684/03 deve incidir em todas as formas de parcelamento que lhe foram
anteriores, pois se trata de lei mais benéfica, alcançando situações já acobertadas pelo
manto da coisa julgada.

g) Inexigibilidade de conduta diversa

É possível que, no caso de situação difícil e grave pela qual passa a empresa, a ponto de
inviabilizar suas operações normais, se houver a falha no recolhimento de contribuições
previdenciárias retidas do empregado, não reste configurado o crime de apropriação
indébita previdenciária.

Inexigibilidade de conduta diversa ➔ excludente da culpabilidade.

h) Princípio da insignificância

• STJ: se o valor devido não ultrapassa 10 mil reais, poderá ser aplicado o princípio
da insignificância. Lei 10.522/02.

• STF: este valor poderá ser de até 20 mil reais. Portaria do Min. da Fazenda.

Esses valores somente são considerados para os débitos em face da União. Tributos
estaduais ou municipais tem como parâmetro para aplicação do princípio da
insignificância a legislação estadual ou municipal, que dispensará a execução fiscal até
determinado valor.

i) Condição objetiva de punibilidade

137
STF: é preciso que o procedimento administrativo fiscal seja encerrado com a
constituição definitiva do crédito tributário para que o sujeito possa ser processado
criminalmente.

Portanto: a constituição definitiva do crédito tributário é uma condição objetiva de


punibilidade.

Denúncias oferecidas antes dessa constituição definitiva devem ser rejeitadas por
falta de justa causa.

• Súmula Vinculante 24: não se tipifica crime material contra a ordem tributária,
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento
definitivo do tributo.

• STF: é possível a instauração de inquérito policial contra crime contra a ordem


tributária antes do encerramento do procedimento administrativo fiscal,
quando esta instauração for imprescindível para viabilizar a fiscalização. Ex.:
sujeito está negando acesso aos livros fiscais.

18. Impostos federais

I. Imposto de Importação

Art. 19 do CTN: a entrada de produto estrangeiro em território nacional é causa do


nascimento da respectiva obrigação tributária.

O DL 37/66, que dispõe sobre imposto de impostação.

Art. 1º do DL 37/66: o Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira


e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.

a) Contribuinte e responsáveis pelo II

Art. 31 do DL 37/66: é contribuinte do II:

• Importador: qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria estrangeira


no Território Nacional;

138
• Destinatário de remessa postal internacional indicado pelo respectivo
remetente;

• Adquirente de mercadoria entrepostada (mercadoria retida na alfândega


comprada por terceiro, o qual pagará o imposto de importação)

Art. 32 do DL 37/66 - trata dos responsáveis pelo Imposto de Importação.

São responsáveis pelo Imposto de Importação:

• O transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob


controle aduaneiro, inclusive em percurso interno;

• O depositário, assim considerada qualquer pessoa incumbida da custódia de


mercadoria sob controle aduaneiro.

Será responsável solidário:

• O adquirente ou cessionário de mercadoria beneficiada com isenção ou redução


do imposto;

• O representante, no Brasil, do transportador estrangeiro;

• O adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de


importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica
importadora.

b) Base de cálculo

É o valor referência para cálculo do tributo devido. A base de cálculo varia de acordo
com o tipo de alíquota a ser utilizada:

• Alíquota específica: a base de cálculo será a quantidade de mercadoria,


utilizando-se uma unidade de medida que indique esta tarifa. Ex.: m², m³ etc.

• Alíquota ad valorem: a base de cálculo será o valor da mercadoria. É o valor


aduaneiro (valor pelo quanto ela entrou no país). Quando se tratar de produto
levado à leilão, a base de cálculo será o preço de arrematação.

c) Alíquotas

139
• As alíquotas do II poderão ser alteradas por decreto do Poder Executivo, dentro
dos limites e condições legais.

• Há exceção do princípio da legalidade: ato infralegal pode alterar a alíquota.

• II não se submete aos princípios da anterioridade e da noventene. Esta exceção


será aplicada inclusive se houver a revogação de benefícios fiscais.

d) Lançamento do Imposto de Impostação

Art. 23: quando se tratar de mercadoria despachada para consumo, considera-se


ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartição aduaneira, dessa declaração
de importação.

§ único: a mercadoria ficará sujeita aos tributos vigorantes na data em que a


autoridade aduaneira efetuar o correspondente lançamento de ofício no caso de:

• Falta apurada pela autoridade aduaneira; e

• Introdução no País sem o registro de declaração de importação.

O momento da ocorrência do fato gerador é a data do registro dessa declaração. Para


efeito de lançamento, será aplicada a legislação vigente da época do registro da
importação.

e) Tributação exclusiva

Com exceção do ICMS, Imposto de Importação e Imposto de Exportação, nenhum


outro imposto pode incidir sobre operações relativa a:

• Energia elétrica

• Serviços de telecomunicações

• Derivados de petróleo

• Combustíveis

• Minerais

II. Imposto de Exportação

140
a) Fato gerador

É a saída da mercadoria do território nacional.

Será considerado ocorrido o fato gerador da saída da mercadoria do território nacional


na data do registro da exportação no Sistema Integrado do Comércio Exterior
(SISCOMEX).

b) Contribuinte e responsáveis

O contribuinte do Imposto de Exportação é o exportador.

Será responsável:

• Depositário

• Transportador

c) Base de cálculo

Art. 24, a base de cálculo do Imposto de Exportação é:

• Alíquota específica: a unidade de medida adotada pela lei tributária;

• Alíquota ad valorem: o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria,


ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre concorrência.

d) Alíquotas

• O regulamento aduaneiro, no art. 215, diz que o imposto será calculado com a
aplicação da alíquota de 30% sobre a base de cálculo.

• Mas para atender aos objetivos de política cambial e de comércio exterior, a


Câmara de Comércio Exterior poderá alterar esta alíquota, reduzindo ou
aumentando esta alíquota do imposto de exportação.

• No caso de elevação, a alíquota do IE não poderá ser superior a 150%. É o que


diz o DL 1.578/77.

e) Lançamento

141
Será considerado ocorrido o fato gerador no momento em que é expedida a guia de
exportação ou um documento equivalente.

Com o SISCOMEX, não é necessária guia de exportação. Essa necessidade foi substituída
pelo registro da exportação. Ou seja, com o registro da exportação se entende que
houve o fato gerador do imposto de exportação. É a legislação vigor neste momento
que via orientar o lançamento ocorrido.

III. Imposto de Renda

Imposto de renda é o imposto sobre a renda.

Art. 43 do CTN: o fato gerador é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica


de renda ou proventos de qualquer natureza.

• Renda: é o produto do capital, do trabalho, ou da combinação do capital com o


trabalho.

• Proventos de outra natureza: são todos os outros acréscimos patrimoniais não


compreendidos no conceito de renda.

STJ, Súmula 262: incide IR sobre o resultado das aplicações financeiras realizadas por
cooperativas. As aplicações não consubstanciam atos cooperativos. Assim, incide IR
sobre o resultado da aplicação, por conta de acréscimo patrimonial decorrente de ato
não cooperativo.

STJ:

A isenção do IR sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista


no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial
com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a
prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante. (Inf. 594).

Art. 39. Fica isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente no
País na venda de imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias contado da celebração do contrato, aplique o produto da venda na
aquisição de imóveis residenciais localizados no País.

142
Ex: João comprou seu apartamento por R$ 300 mil; dois anos depois, vendeu o imóvel
por R$ 400 mil (lucro de R$ 100 mil). Em princípio, João teria que pagar IR sobre esse
ganho de capital. Porém o art. 39 garante isenção do imposto caso ele utilize este valor
recebido para adquirir outro imóvel residencial.

a) Disponibilidade jurídica

É o direito de usufruir de renda ou provento de qualquer natureza, como rendimentos


de salários, aposentadorias, lucros etc.

b) Disponibilidade econômica

É qualquer fato, mesmo que irregular ou ilícito, que implique acréscimo patrimonial. Ex.:
renda decorrente de tráfico.

c) Indenização

Não incide IR. Não há acréscimo patrimonial.

• STJ, Súmula 125: o pagamento de férias não gozadas por necessidade de serviço
não está sujeita ao imposto de renda.

• O pagamento de licença-prêmio por férias não gozadas em razão da necessidade


de serviço não está sujeito ao imposto de renda.

• Indenização decorrente de adesão de programa de demissão voluntária não está


sujeita a imposto de renda (Súmula 215).

• São isentas de IR indenizações de férias proporcionais e respectivos adicionais,


por conta do caráter indenizatório.

• Incide IR sobre valores percebidos a título de indenização por horas


extraordinárias trabalhadas, ainda que decorrentes de acordo coletivo.
Fundamento: hora extra é salário, motivo pelo qual incide IR.

• Súmula 498 STJ: não incide IR sobre indenização por danos morais. É
indenização, e não acréscimo patrimonial.

• Não incide IR sobre indenização decorrente de desapropriação.

143
• Não incide IR sobre verba paga a título de ajuda de custo pelo uso do veículo
para exercício das funções profissionais. Não há caráter patrimonial.

• Não incide IR sobre juros moratórios legais. Os juros de mora servem para
indenizar o sujeito que não recebeu o capital, enquanto não recebê-lo. Função
indenizatória.

CF: o IR deve ser informado pelo caráter de generalidade, universalidade e


progressividade.

• Generalidade: todos estão sujeitos à tributação.

• Universalidade: toda renda será tributada, independentemente da


denominação jurídica do rendimento ou provento.

• Progressividade: quanto maior for a capacidade contributiva, maior será a


alíquota.

Vale lembrar! O IR deve observar o princípio da anterioridade geral, mas não observará
o princípio da anterioridade nonagesimal.

d) Contribuinte e responsável do IR

Contribuinte do IR: é o titular da disponibilidade jurídica ou econômica.

A lei poderá atribuir a fonte pagadora de renda ou de proventos a condição de


responsável pelo imposto, retendo o imposto na fonte (IRRF).

e) Base de cálculo

Art. 44 CTN: a base de cálculo do IR é o montante real, arbitrado ou presumido de renda


ou de provento.

Para pessoa física, o IR incidirá sobre o rendimento bruto.

Para pessoa jurídica, o IR poderá incidir sobre o lucro real ou sobre o lucro presumido.

Obs.: se o caso era de lucro real, mas o contribuinte fez de tudo para não apurar, a
autoridade administrativa poderá se valer do lucro “arbitrado” (presumido).

144
O IR é o imposto de caráter complexivo: exige uma especificação em lei para o momento
em que se considere fictamente que o fato gerador do IR ocorreu.

• É um imposto sujeito a lançamento por homologação.

• Para pessoa física, é considerado que o fato gerador ocorreu no dia 31 de


dezembro do ano-calendário. A verificação do valor que terá de pagar ou
recolher, ou ainda a restituição, deverá ocorrer até o dia 30 de abril do ano
subsequente.

• Para pessoa jurídica, a apuração do IR devido é feita trimestralmente. O


contribuinte poderá pagar com base no lucro presumido ou real
trimestralmente.

• Se optar pelo lucro real, poderá optar por fazer esta apuração anual, e não
trimestral, caso em que fará uma antecipação mensal que acredita que deverá
de pagar no final do ano.

Na apuração trimestral, considerar-se-á como dia do fato gerador o término do


trimestre.

• STF, Súmula 584: ao IR calculado sobre rendimentos do ano-base, aplica-se a lei


vigente no exercício financeiro em que deva ser apresentada a declaração.

• Há uma enorme crítica doutrinária sobre a violação à anterioridade anual.

• A súmula continua em vigor, mas o STF procura interpretá-la de forma a não


excepcionar o princípio da anterioridade. (RE 244003 AgR e RE 592396.

IV. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

a) Fato gerador

Fato gerador: são operações de produtos industrializados.

• Operações: são negócios jurídicos que em ocorre a transmissão de produtos


industrializados.

O CTN traz as hipóteses de incidência:

145
• Houver desembaraço aduaneiro: produto de procedência estrangeira.

• Saída do estabelecimento: qualquer estabelecimento de importador, de


industrial, de comerciante ou de arrematante.

• Arrematação: quando se estiver diante de um produto apreendido ou


abandonado e levado à arrematação.

• Produto industrializado: produto submetido a qualquer operação que lhe


modifique ou tenha modificado a natureza ou a finalidade, ou ainda qualquer
operação que lhe tenha aperfeiçoado para o consumo (art. 46, § único, do CTN).

• STF: incide IPI na importação de automóveis por pessoas físicas para uso próprio.
RE 723651, com repercussão geral.

• Havendo incidência de IPI no desembaraço aduaneiro no produto de


procedência estrangeira, não é possível uma nova cobrança do tributo na saída
do estabelecimento do importador, salvo se, entre o desembaraço aduaneiro e
a saída do produto do estabelecimento do importador, o produto tenha sido
objeto de industrialização.

b) Contribuinte e responsáveis do IPI

Art. 51 do CTN - será contribuinte do IPI:

• Importador

• Industrial

• Comerciante que forneça ao importador ou ao industrial

• Arrematante, nos casos de bens apreendidos e levados à leilão

São responsáveis pelo IPI:

• Transportador

• Possuidor

• Estabelecimento de produtos de origem desconhecida

c) Base de cálculo

146
• Se estivermos tratando de caso de incidência na importação de produto
industrializado, será a base de cálculo o valor aduaneiro (valor do bem) mais
impostos e encargos cambiais.

• Se estivermos diante de um leilão, no caso de apreensão ou abandono, a base


de cálculo será o preço da arrematação.

• Nas demais operações, a base de cálculo será o preço da operação, representada


pelo valor do produto, acrescido do valor do frete e demais despesas
adicionadas para cobrança feita pelo comprador.

d) Alíquotas

O IPI terá alíquotas proporcionais. Essas alíquotas estão registradas na tabela de


incidência de IPI (TIPI).

A CF determina, em caráter obrigatório, que haja seletividade no IPI, devendo incidir de


forma mais gravosa em produtos supérfluos, como cigarros e bebidas alcoólicas, e de
modo menos gravoso nos casos de produtos básicos, como feijão.

As alíquotas do IPI poderão ser alteradas por ato do Poder Executivo, desde que
observados os parâmetros legais.

Lembre-se! O IPI não se sujeita ao princípio da anterioridade, mas se submete ao


princípio da anterioridade nonagesimal.

e) Lançamento do IPI

O lançamento do IPI é feito por homologação.

f) Não cumulatividade

O IPI está sujeito à não cumulatividade, de maneira que haja a compensação do


imposto devido em cada operação com o montante que já foi cobrado na operação
anterior.

• STJ: é devida a correção monetária ao creditamento do IPI quando há a


oposição ao seu aproveitamento em decorrência de uma resistência que se
mostra ilegítima por parte do fisco - Súmula 411.

147
• O benefício fiscal do crédito presumido do IPI, relativo a exportações, incide
mesmo quando as matérias primas ou insumos sejam adquiridos de pessoa
física ou jurídica não contribuinte do PIS/PASEP.

• Súmula 495 do STJ: bens integrantes de ativo permanente da empresa não


geram direito ao creditamento de IPI.

STJ: a aquisição de matéria prima ou de insumo não tributado, ou sujeito à alíquota


zero, utilizados na industrialização de um produto tributado pelo IPI, não enseja o
creditamento do produto pago na saída desse estabelecimento industrial.

Se o indivíduo comprou um produto sem IPI, significa que ele não recolheu nada. Diante
disso, não poderá creditar esse IPI na hora da venda.

g) Imunidade

O IPI não incide sobre produtos industrializados destinados ao exterior.

Outra imunidade se refere à energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados


de petróleo, combustíveis, minerais, que não estão sujeitos a qualquer outro tributo,
salvo ICMS, II e IE.

Aula 09. Impostos federais (continuação). Impostos estaduais. Impostos municipais.

V. Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

a) Fato gerador

➔ alterações de titularidade no âmbito jurídico nas operações de:

• Crédito

• Câmbio

• Seguro

• Títulos e valores mobiliários

→ Operações de crédito

148
É basicamente emprestar dinheiro.

Fato gerador: entrega ou a colocação à disposição para o tomador desse empréstimo ou


crédito.

→ Operações de câmbio

Câmbio é a conversão de moedas.

Fato gerador: entrega da moeda nacional ou estrangeira, ou sua colocação à disposição


do interessado, em montante equivalente à moeda que foi entregue.

→ Operações de seguro

Fato gerador: momento em que o prêmio é recebido.

→ Operações de títulos e valores mobiliários

Fato gerador: aquisição, resgate, cessão, repactuação, pagamento para liquidação de


títulos e valores mobiliários.

b) Contribuinte e responsáveis

Contribuinte: quem recebeu o prêmio, trocou o dinheiro etc

Lei ordinária pode estabelecer hipóteses de responsabilidade tributária. Normalmente,


coloca a instituição como responsável tributária dessas ações.

c) Base de cálculo. A base de cálculo do IOF é:

• Operação de crédito: valor principal ali emprestado;

• Operações de câmbio: valor da moeda nacional;

• Operações de seguro: valor do prêmio pago;

• Op. de títulos e valores mobiliários: valor da operação.

d) Alíquotas

Observe: as alíquotas do IOF não observam:

• Princípio da anterioridade anual

149
• Princípio da anterioridade nonagesimal

• Princípio da legalidade

As alíquotas poderão ser alteradas por ato do Poder Executivo e tem incidência imediata.

VI. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)

Competência: União.

a) Fato gerador

É a propriedade, domínio útil ou a posse de imóvel rural.

Imóvel rural: é aquele localizado fora da zona urbana do município. O fato gerador é
aferido a cada 1º de janeiro.

ATENÇÃO! Em relação ao ITR, as pequenas glebas rurais estão imunes, desde que o seu
proprietário as explore e não possua outro imóvel.

Pequena gleba rural: depende de onde está a gleba rural.

Art. 2º da Lei 9.393/96: a pequena gleba rural é:

• Área igual ou inferior a 100 hectares, situada na Amazônia Ocidental ou no


Pantanal, mato-grossense ou sul-mato-grossense.

• Área de até 50 hectares, caso esteja localizada no polígono das secas ou na


Amazônia oriental.

• Área de até 30 hectares, quando localizada em qualquer outro lugar.

• STJ: não incide IPTU, mas apenas ITR sobre o imóvel localizado na zona urbana
do município, desde que esse imóvel seja utilizado para fins de atividade rural.

Para fins de incidência, mais importante de que a localização do imóvel, é a destinação


que se dá a ele.

• Transferência da capacidade tributária ativa ➔ Art. 153, III, CF: é possível que o
ITR seja cobrado e fiscalizado por município. Se assim o for, o Município passará
a ser o destinatário de 100% do produto do ITR.

150
b) Base de cálculo

É o valor fundiário, valor da terra nua tributável.

Esse valor desconsidera construções, instalações, benfeitorias, culturas, florestas


plantadas, excluindo área de preservação permanente, reserva legal etc.

c) Alíquotas

É possível a graduação de acordo com o grau de utilização.

Isto é, o ITR está sujeito à progressividade.

Objetivo: desestimular propriedades improdutivas.

VII. Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF)

Competência: União. Ainda não foi regulado.

Necessária LC para a instituição do imposto.

VIII. Impostos residuais

União tem competência residual para instituir impostos e contribuições.

A instituição de impostos residuais: exigência de LC.

A LC deve assegurar a não cumulatividade do imposto e a não coincidência do fato


gerador e da base de cálculo desse imposto com o fato gerador ou base de cálculo de
impostos semelhantes aos já previstos na constituição.

Essas regras também valem para quando a União se vale da sua competência para
instituir contribuições residuais.

19. Impostos estaduais

I. Imposto sobre a Transmissão “Causa Mortis” e Doação (ITCMD)

Principais características do imposto:

151
• Plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-
cumulatividade;

• Real: as condições da pessoa são irrelevantes;

• Proporcional: não é progressivo;

• Fiscal: tem como função principal a arrecadação.

a) Fato gerador

É a transmissão de quaisquer bens e direitos recebidos em razão de:

• Sucessão causa mortis

• Doação

b) Competência

CF estabelece regras específicas no tocante a competência:

• Bens imóveis e seus respectivos direitos: competência para instituir ITCMD do


Estado onde localizado aquele bem imóvel.

• Bens móveis ou créditos e seus respectivos direitos: competência para instituir


o ITCMD do Estado onde se processar o inventário, no caso de herança, ou onde
tiver domicílio o doador, no caso de doação.

Caso a doação se dê por pessoa que resida no exterior, ou por pessoa que residia no
exterior, quando do seu falecimento, ou que teve o inventário processado no exterior.

Tais hipóteses demandam regulamentação por meio de lei complementar.

c) Base de cálculo

É o valor venal do bem.

No momento da abertura da sucessão, ou da doação, será levado em consideração o


valor venal do bem.

d) Alíquota

152
CF: as alíquotas do ITCMD devem ter teto definido pelo Senado Federal. Hoje: alíquota
máxima para o ITCMD é de 8% sobre o valor imóvel, conforme Resolução do Senado.

Jurisprudência: é possível que o ITCMD tenha alíquotas progressivas, desde que levem
em consideração a capacidade contributiva do sujeito passivo da obrigação tributária.

II. Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte


Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

a) Fato gerador

Incidirá o ICMS sobre operações de:

• Circulação de mercadoria

• Prestação de serviço de transporte interestadual

• Prestação de serviço de transporte intermunicipal

• Prestação de serviço de comunicação

Atenção:

Em razão de determinação expressa da CF (art. 155, §3º), energia elétrica deve ser
classificada como mercadoria, motivo pelo qual incide ICMS.

STF: o ICMS incide sobre a tarifa de assinatura básica mensal cobrada pelas
prestadoras de serviço de telefonia, independentemente da franquia de minutos
concedida ou não ao usuário (Inf. 843).

b) Incidência de ICMS sobre a importação

Art. 155, §2º, IX, CF

O ICMS incide sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por


pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto,
qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior,
cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento
do destinatário da mercadoria, bem ou serviço

153
• Por isso, incide ICMS sobre o importador que comprou o carro para si mesmo,
mesmo que não seja contribuinte habitual do imposto.

• STF, Súmula Vinculante 48: na entrada de mercadoria importada do exterior, é


legítima a cobrança de ICMS, por ocasião do desembaraço aduaneiro.

• Em sede de repercussão geral, STF: não incide ICMS-importação na operação de


arrendamento mercantil, salvo se houver antecipação da operação de compra.

Fundamento: no arrendamento mercantil não há a circulação jurídica ainda.

c) Mercadorias fornecidas com serviços não tributáveis pelo ISS

Art. 155 da CF, §2º, IX, “b”: o ICMS incide sobre o valor total da operação, quando
mercadorias forem fornecidas com serviços não compreendidos na competência
tributária dos municípios (ISSQN).

Súmula 163 do STJ: o fornecimento de mercadorias com simultânea prestação de


serviços em bares, restaurantes e estabelecimentos similares constitui fato gerador do
ICMS a incidir sobre o valor total da operação.

d) Outros casos específicos

• Súmula Vinculante 32: o ICMS não incide sobre alienação de salvados de


sinistro pelas seguradoras.

• Não constitui fato gerador do ICMS a saída física de máquinas, utensílios ou


implementos a título de comodato - Súmula 573 do STF.

- STF: fornecimento de água potável por empresa concessionária de serviço público


não caracteriza operação sujeita ao ICMS. Fundamento: água em estado natural é bem
público, não cabendo a incidência do ICMS.

- Súmula 166 STJ: não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de
mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.

- O ICMS não incide no serviço dos provedores de acesso à Internet - Súmula 334 do
STJ.

154
• Não incide ICMS sobre serviços de habilitação de telefone celular – S. 350 STJ.
Não há serviço prestado

• Incide ICMS sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente a


demanda da potência efetivamente utilizada - Súmula 391 do STJ.

• STJ: incide ICMS sobre o valor da venda a prazo constante da nota fiscal. Este é
o valor da operação, ainda que o pagamento seja a prazo.

STJ S. 432: a empresa de construção civil não está obrigada a pagar ICMS sobre
mercadorias adquiridas como matéria-prima em operações interestaduais.

e) Contribuintes do ICMS

Qualquer pessoa física ou jurídica que realize circulação de mercadoria, prestação do


serviço de transporte interestadual, prestação do serviço de transporte intermunicipal
ou prestação de serviço de comunicação, com habitualidade ou com volume que
caracterize com intuito comercial, é contribuinte do ICMS.

f) Base de cálculo

Quantificação da operação mercantil, sendo o preço de venda ou da prestação de


serviço.

Não devem compor esta base de cálculo valores que não guardem relação com aquela
operação mercantil tributário. Portanto, os juros de um financiamento não devem
integrar a base de cálculo de um ICMS.

Art. 155, §2º, XI, CF: o ICMS não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante
do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre
contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização,
configure fato gerador dos dois impostos.

O valor do IPI não estará inserido no cálculo do valor do ICMS devido quando a mesma
operação justificar a incidência dos dois impostos.

STF: é constitucional que haja a inclusão do valor do ICMS na sua própria base de
cálculo.

155
Ex.: se o contribuinte vai pagar 10 mil reais de ICMS, este valor continuará integrando a
base de cálculo para se chegar ao valor do ICMS. O fato de o valor do ICMS integrar a
base de cálculo para incidência do próprio ICMS não viola a Constituição.

• O que a Constituição garante é que, se a operação gera, ao mesmo tempo, a


incidência de IPI e ICMS, o valor do IPI não vai compor a base de cálculo para
cálculo do ICMS.

STJ:

O ICMS integra a sua própria base de cálculo, sendo isso chamado de ICMS "por
dentro" ou "cálculo por dentro". O ICMS por dentro está previsto no art. 13, § 1º, I, da
LC 87/96.

Essa mesma regra aplica-se para o ICMS substituição tributária, considerando que se
trata do mesmo tributo. Portanto, ainda que se adote a substituição tributária como
forma de arrecadação de ICMS, é legal aplicar-se a sistemática do "cálculo por dentro"
(Inf. 585).

STJ

A subvenção concedida com base no art. 5º da Lei nº 10.604/2002 às concessionárias e


permissionárias de energia elétrica compõe a base de cálculo do ICMS (Inf. 576).

g) Não cumulatividade

O ICMS é imposto não cumulativo. Compensa-se na próxima operação o que foi pago
na anterior.

Se há isenção ou não incidência na operação anterior, não há geração de créditos para


compensação na seguinte. E elas anulam os créditos relativos às operações anteriores.

STJ

Não viola o princípio da não cumulatividade a vedação, prevista em legislação estadual,


de aproveitamento de crédito de ICMS decorrente de operação de exportação quando
o contribuinte possuir débito superior ao crédito. Não fere o princípio da não

156
cumulatividade a legislação estadual que veda a apropriação e a utilização de crédito
de ICMS ao contribuinte que estiver com saldo devedor perante o Fisco (Inf. 574).

h) Alíquotas

Regras constitucionais.

• As alíquotas relacionadas com as operações e prestações interestaduais e


intermunicipais de exportação são estabelecidas por meio de Resolução do
Senado Federal.

• O Senado tem a faculdade de estabelecer alíquotas mínimas nas operações


internas, por meio de Resolução. Para tanto, é necessário que essa resolução
tenha iniciativa de 1/3 dos membros do Senado e seja aprovada pela maioria
absoluta dos seus membros.

• É facultado ao Senado estabelecer alíquotas máximas nas mesmas operações


para resolver conflito específico que envolva interesses dos Estados. Essa
Resolução deverá ter iniciativa de maioria absoluta e aprovação por 2/3 de seus
membros.

• Salvo deliberação em contrário dos Estados e DF, as alíquotas internas, nas


operações relativas a circulação de mercadorias e prestação de serviços, não
poderão ser inferiores às alíquotas interestaduais.

• Em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a


consumidor final localizado em outro Estado, será adotada a alíquota
interestadual, e caberá ao Estado da localização do destinatário o imposto
relativo à diferença entre a alíquota interna do Estado e a alíquota
interestadual.

Em resumo:

• Fixar alíquota mínima: iniciativa de 1/3 dos membros e aprovação por maioria
absoluta.

• Fixar alíquota máxima: iniciativa da maioria absoluta e aprovação por 2/3 dos
seus membros.

157
Regra: a alíquota interna superior à alíquota interestadual.

• Resolução 22 do Senado: as alíquotas interestaduais são de 12%.

• Nas operações e prestações realizadas nas regiões sul e sudeste, mas destinadas
às regiões norte, nordeste, centro-oeste e para o Estado do Espírito Santo, as
alíquotas interestaduais serão de 7%.

Fundamento: objetiva diminuir as desigualdades regionais. Os Estados mais pobres vão


receber mais.

Regra: o Estado de destino fica com a diferença entre a alíquota interna e a alíquota
interestadual.

ADCT impõe regra de transição em razão dessas inovações trazidas pela EC 87/2015:

• Art. 99. no caso de operações e prestações que destinem bens e serviços a


consumidor final não contribuinte localizado em outro Estado, o imposto
correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual será
partilhado entre os Estados de origem e de destino, na seguinte proporção:

• I - para o ano de 2015: 20% para o Estado de destino e 80% para o Estado de
origem;

• II - para o ano de 2016: 40% para o Estado de destino e 60% para o Estado de
origem;

• III - para o ano de 2017: 60% para o Estado de destino e 40% para o Estado de
origem;

• IV - para o ano de 2018: 80% para o Estado de destino e 20% para o Estado de
origem;

• V - a partir do ano de 2019: 100% para o Estado de destino.

CF: o ICMS poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos
serviços. *O IPI é obrigatoriamente seletivo.

i) Imunidades

158
São imunes ao ICMS:

• Operações que destinem mercadorias para o exterior

• Serviços prestados a destinatário no exterior

• Operações que destinem petróleo e energia elétrica a outros Estados

• Ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou como instrumento


cambial

• Prestação de serviço de comunicação, nas modalidades de radiodifusão de sons


e imagens, de receptação livre e gratuita

Critérios para compensar os Estados por conta das desonerações de ICMS sobre as
exportações:

• Art. 91 do ADCT: exige que seja editada LC para regulamentar os critérios de


compensação dos Estados.

• § 3º: até a edição da LC, devem ser adotados para o repasse os critérios
estabelecidos no Anexo da LC 87/96, com a redação da LC 115/2002.

• Assim, o Poder Judiciário não pode alterar os índices de repasse da União aos
Estados previstos no art. 91 do ADCT e na LC 87/96, criando novos critérios. Tal
atitude violaria a separação dos Poderes (Inf. 849).

• Até hoje não foi editada a LC de que trata o art. 91 do ADCT. Foi proposta ADI
por omissão, tendo sido julgado procedente o pedido, declarando a mora do
Congresso Nacional.

Na decisão, o STF fixou prazo de 12 meses para que o Legislativo faça a lei, consignando
que, ultrapassado esse prazo, o TCU deverá:

• Fixar o valor total a ser transferido anualmente aos Estados e DF, considerando
os critérios dispostos no art. 91 do ADCT.

• Calcular o valor das quotas a que cada um fará jus, levando em conta os
entendimentos entre os Estados e o DF realizados no âmbito do Conselho
Nacional de Política Fazendária (Confaz)

159
j) Convênios de ICMS

Art. 155, §2º, XII, ‘g’, CF: no tocante ao ICMS, cabe à LC regular a forma de como,
mediante deliberação dos Estados e do DF, isenções, incentivos e benefícios fiscais vão
ser concedidos ou vão ser revogados.

Objetivo: evitar a “guerra fiscal”.

k) Substituição tributária progressiva

• Também chamada de substituição tributária “para frente” ou subsequente.

• É uma técnica de arrecadação de alguns impostos, em especial o ICMS.

• A lei prevê que o tributo seja recolhido antes que ocorra o fato gerador (fato
gerador presumido).

Art. 150, §7º, CF

A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável


pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido.

Exemplo (Ricardo Alexandre):

“A” é uma refinaria de combustíveis que vende a gasolina para os distribuidores (“B”),
que revendem para os postos de gasolina (“C”), que, por fim, vendem ao consumidor
final (“D”). Para o Estado é mais fácil cobrar de “A” todo o tributo que irá incidir sobre a
cadeia produtiva. Assim, “A” pagará o imposto por ele devido como contribuinte e
também os impostos que irão incidir sobre as vendas futuras (nesse caso, pagará como
substituto tributário/responsável tributário).

Esse cálculo do valor que se supõe que a mercadoria será vendida é feito mediante a
aplicação do regime de valor agregado (art. 8º da LC 87/96), o qual estabelece que a
base de cálculo, para fins de substituição tributária, será:

• Em relação às operações ou prestações antecedentes ou concomitantes, o valor


da operação ou prestação praticado pelo contribuinte substituído;

160
• Em relação às operações ou prestações subsequentes, obtida pelo somatório das
parcelas seguintes:

a) o valor da operação ou prestação própria realizada pelo substituto tributário ou pelo


substituído intermediário;

b) o montante dos valores de seguro, de frete e de outros encargos cobrados ou


transferíveis aos adquirentes ou tomadores de serviço;

c) a margem de valor agregado, inclusive lucro, relativa às operações ou prestações


subsequentes.

Precedentes

STJ: no caso de venda de medicamentos de uso restrito a hospitais e clínicas, a base


de cálculo do ICMS é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria (art.
2º, I, do DL n. 406/1968), e não o valor correspondente ao preço máximo de venda a
consumidor sugerido por fabricante de medicamentos (Cláusula Segunda do Convênio
n. 76/1994) (Inf. 588, STJ).

STF: é devida a restituição da diferença do ICMS pago a mais, no regime de substituição


tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à
presumida (Inf. 844).

STF: é inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com o
ICMS sem a prévia celebração de convênio intergovernamental (art. 155, § 2º, XII, “g”,
da CF/88 e LC 24/1975).

• STF: é constitucional dispositivo de lei estadual que estabeleceu a suspensão do


pagamento do ICMS incidente sobre a importação de matéria-prima ou de
material intermediário, e transferiu o recolhimento do tributo do momento do
desembaraço aduaneiro para o momento de saída dos produtos
industrializados do estabelecimento.

O legislador estadual, mesmo sem convênio, pode prever o diferimento do recolhimento


do valor devido a título de ICMS, se isso não implicar redução ou dispensa do valor
devido. (Inf. 777, STF).

161
III. Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

• As normas gerais sobre o IPVA (fato gerador, base de cálculo, sujeito passivo etc.)
deverão ser previstas em uma LC (art. 146, III, "a", da CF/88).

• Esta lei ainda não existe. Em razão disso, os Estados podem legislar plenamente
sobre o tema (art. 24, § 3º, da CF), desde que respeitadas as demais regras
constitucionais.

a) Fato gerador

Fato gerador do IPVA: é a propriedade de veículo automotor de qualquer espécie, salvo


aeronaves e embarcações. (IPVA só incide sobre veículos automotores terrestres).

Perceba: é apenas a propriedade que gera incidência de IPVA, e não a mera detenção
do veículo, o uso ou a posse.

O IPVA é devido ao local onde o veículo é registrado.

b) Base de cálculo

É o valor venal do veículo.

• As tabelas sofrem atualização anual, sem que haja violação à legalidade, eis que
não se trata de alteração da base de cálculo.

CF: a fixação da base de cálculo do IPVA não está sujeita ao princípio da anterioridade
nonagesimal (art. 150, § 1º).

É possível que um Estado, nos últimos dias do ano, altere a tabela de valor venal dos
veículos e a mudança já valha a partir de 1º de janeiro do ano seguinte.

c) Alíquotas

EC 42/03:

• Estabelece a competência do Senado para fixação da alíquota mínima,

• Prevê a possibilidade de fixação de alíquotas diferenciadas de acordo com o


tipo de veículo e em função da utilização do veículo (art. 155, § 6º, da CF/88).

*Lei estadual não pode estipular alíquotas menores que aquelas fixadas pelo Senado.

162
Objetivo: evitar que Estados estipulem valores baixos de IPVA para "incentivar"
proprietários a emplacarem seus veículos nesses locais.

• STF: os Correios (EBCT) são imunes à incidência de IPVA, em relação aos


veículos que lhe pertencem, estando abarcada pela imunidade recíproca.

• A lei pode prever que veículos utilitários paguem alíquotas menores que veículos
de passeio.

Exemplo quanto à utilização: táxis poderão pagar alíquotas menores que veículos
particulares.

• STF: é inconstitucional tributar diferentemente veículos nacionais e


importados.

d) Sujeito passivo

É o proprietário do veículo.

Súmula 585 do STJ: a responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art. 134


do CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se refere ao
período posterior à sua alienação.

Art. 134. No caso de transferência de propriedade, o proprietário antigo deverá


encaminhar ao DETRAN, dentro de 30 dias, cópia autenticada do comprovante de
transferência, devidamente assinado e datado, sob pena de se responsabilizar
solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidências até a comunicação.

e) Lançamento do IPVA

IPVA é imposto sujeito a lançamento de ofício.

O CTN não prevê a forma como o contribuinte deverá ser notificado do lançamento.
Jurisprudência: a legislação que rege cada tributo pode disciplinar o meio idôneo para a
notificação.

• STJ: no caso do IPVA, o envio do carnê é apenas uma modalidade, que não
exclui outras eventualmente mais convenientes para a Administração, como a

163
divulgação de calendário de pagamento, com instruções para os contribuintes
fazerem o pagamento.

• A notificação do contribuinte para o recolhimento do IPVA perfectibiliza a


constituição definitiva do crédito tributário.

STJ

O prazo prescricional para a execução fiscal inicia-se no dia seguinte à data estipulada
para o vencimento do imposto.

Fundamento: antes dessa data, o pagamento não é exigível do contribuinte.

Impostos municipais

I. IPTU. Trata-se de imposto:

• Real: incide sobre uma coisa (propriedade imobiliária urbana);

• Direto: o próprio contribuinte é quem suporta o encargo financeiro da tributação


(não há repercussão econômica);

• Fiscal: função precípua de arrecadação. Vale ressaltar: em alguns casos, ele pode
assumir também caráter extrafiscal (estímulo ao cumprimento da função social
da propriedade);

• Progressivo: pode ser progressivo no tempo, se a propriedade não estiver


cumprindo sua função social ou em razão do valor do imóvel;

• Complexivo: seu fato gerador é um só ao longo de todo o ano.

a) Fato gerador

É a propriedade, domínio útil ou a posse de um bem imóvel, desde que localizado na


zona urbana do município.

Critério: é o da localização. Mas, a depender da destinação do imóvel, STJ entende que


pode caber ITR, e não de IPTU.

164
As ficções jurídicas estabelecidas no art. 80 do CC (direitos reais sobre imóveis, as ações
que os asseguram e direito à sucessão aberta) são considerados por ficção jurídica como
bens imóveis.

Todavia, as ficções jurídicas ali estabelecidas não geram a incidência da IPTU, o qual
somente incide sobre prédio ou terreno.

b) Zona urbana

A definição de zona urbana por lei municipal não é suficiente para incidência do IPTU.

Art. 32, §1º, do CTN: entende-se como zona urbana a definida em lei municipal, desde
que seja observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em
pelo menos 2 dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público:

• Meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;

• Abastecimento de água;

• Sistema de esgotos sanitários;

• Rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição


domiciliar;

• Escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 quilômetros do


imóvel considerado.

Exigem-se 2 desses melhoramentos ao menos.

Ainda, é permitido que a lei municipal considere urbanas as áreas urbanizáveis, ou


áreas de expansão urbana, constantes em loteamentos aprovados pelos órgãos
competentes, destinados à habitação, indústria e comércio, mesmo que localizado fora
da zona urbana primitiva.

STJ: não incide IPTU nos imóveis de destinação rural, devendo incidir o ITR. Logo,
havendo conflito entre ITR e IPTU, é necessário analisar o critério espacial, mas também
o critério da destinação do imóvel.

165
- O fato de uma parte do imóvel urbano ter sido declarado APP ou de existir restrição,
como a proibição de construir, não impede que incida IPTU sobre a área do imóvel
todo. Incidência de ITR ou não depende da destinação.

• STJ: nas hipóteses em que for verificada a contemporaneidade do exercício da


posse e da propriedade, ou seja, houve promessa de compra e venda celebrada,
a qual não foi levada a registro, mas há promitente comprador e promitente
vendedor, o IPTU poderá ser exigido de qualquer um dos sujeitos passivos, ou
seja, há uma espécie de solidariedade.

c) Base de cálculo

• É o valor venal do imóvel, não sendo considerados os bens móveis que


guarnecem o prédio ou a propriedade.

• Atenção: a atualização do valor venal do imóvel por índices oficiais de correção


não representa majoração da base de cálculo. S. 160 STJ: é defeso ao município
atualizar o IPTU mediante decreto em percentual superior ao índice oficial de
correção monetária.

• Fixação da base de cálculo do IPTU: é exceção ao princípio da noventena, mas


não à anterioridade anual.

d) Alíquota

As alíquotas poderão ser livremente estipuladas pelos Municípios, desde que


caracterizem confisco.

Existem 3 critérios de diferenciação de alíquota no IPTU:

• Progressividade de alíquota em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);

• Progressividade de alíquota em razão da função social da propriedade (art. 182,


§ 4º, II): aumento de alíquotas para desestimular imóvel não edificado,
inutilizado ou subutilizado.

• Extrafiscalidade pela localização e uso (art. 156, § 1º, II).

e) Lançamento

166
• O fato gerador do IPTU vai se verificar na data eleita pela legislação municipal
para esta finalidade.

• Normalmente, a data é fixada no dia 1º de janeiro de cada ano, sendo o


lançamento de ofício.

• Considera-se que a notificação do lançamento se dá quando há o envio do carnê


pelos correios.

STJ, Súmula 397: o contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do


carnê ao seu endereço.

f) Extrafiscalidade

CF, art. 182, §4º: é facultado ao poder público municipal, mediante lei específica, para a
área incluída no Plano Diretor, exigir, nos termos da lei federal (Estatuto da Cidade), do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou nem utilizado, que promova
o seu adequado funcionamento, sob pena de sucessivamente sofrer:

• Parcelamento e edificação compulsórios

• IPTU progressivo no tempo

• Desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão


previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez
anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais.

Alguns autores chamam a extrafiscalidade pela localização e uso de “seletividade do


IPTU”. É o caso de Hugo de Brito Machado e Ricardo Lobo Torres.

Art. 7º do Estatuto da Cidade

Em caso de descumprimento das condições estabelecidas em lei, o município poderá


proceder à aplicação do IPTU progressivo no tempo, majorando as alíquotas durante 5
anos consecutivos.

167
§1º: a majoração da alíquota a ser aplicada a cada ano será fixada em lei específica, mas
a alíquota do ano seguinte não pode ser superior ao dobro da alíquota do ano anterior.
A alíquota ficará limitada ao máximo de 15%.

§2º do art. 7º: caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em
5 anos, o município vai manter a alíquota máxima do IPTU, podendo, em algum
momento, promover a desapropriação.

§3º: é vedada a concessão de isenção ou anistia relativa à tributação progressiva de


que trata o art. 7º.

g) Progressividade

• É uma técnica de tributação que tem como objetivo fazer com que os tributos
atendam à capacidade contributiva.

• Na prática, a lei prevê alíquotas variadas para o imposto e o aumento dessas


alíquotas ocorre na medida em que se aumenta a base de cálculo.

O IPTU é progressivo?

SIM. Existem duas espécies de progressividade no IPTU:

• Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I): quanto maior o
valor do imóvel, maior a alíquota. Trata-se de progressividade fiscal (objetivo de
arrecadar mais).

• Progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II):


aumento de alíquotas para desestimular que o imóvel fique não edificado,
inutilizado ou subutilizado. Consiste em progressividade extrafiscal (tem por
finalidade fazer cumprir a função social da propriedade).

O IPTU sempre teve essas duas espécies de progressividade?

NÃO. Antes da EC 29/2000, a CF/88 permitia para o IPTU apenas a progressividade em


razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II).

Ocorre que, mesmo antes da EC 29/2000, muitos Municípios editaram leis prevendo
alíquotas progressivas em razão do valor do imóvel.

168
STF:

Antes da EC 29/2000, a CF/88 não previa, em seu texto, a progressividade em razão do


valor do imóvel. Essa lacuna era proposital e os Municípios estavam proibidos de
instituir a progressividade em razão do valor.

Súmula 668-STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da


emenda constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinadas
a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.

STF

O reconhecimento da inconstitucionalidade da progressividade do IPTU não afasta a


cobrança total do tributo. Esta, no entanto, deve ser realizada pela forma menos gravosa
prevista em lei.

Aula 10. Direito tributário: impostos municipais, contribuições sociais e simples


nacional.

II. Imposto sobre Transmissão “inter vivos” de Bens Imóveis (ITBI)

Competência: município em que se localiza o bem imóvel.

a) Fato gerador

É a transmissão inter vivos por ato oneroso de bens imóveis, de direitos reais sobre
bens imóveis, com exceção dos direitos de garantia, bem como da cessão de direitos à
aquisição do bem imóvel.

STJ

O fato gerador do ITBI é essa transmissão, alteração de titularidade de bem imóvel, que
se dá com o registro imobiliário.

Vale ressaltar – CF (IMUNIDADE)

ITBI não incide sobre a transmissão de bens e direitos incorporados ao patrimônio de


pessoa jurídica para fins de realização do capital social.

169
ITBI não incide sobre a transmissão de bens e direitos decorrentes de fusão,
incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo, nesses casos, se a atividade
principal do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens
imóveis ou ainda o arrendamento mercantil.

b) Contribuinte e responsáveis

❑ Contribuinte: é o adquirente ou o alienante, a depender do que dispuser a


legislação municipal.

❑ Podem ser considerados responsáveis (art. 134):

• Tabeliães

• Oficiais de registros de imóveis

c) Base de cálculo

É o valor venal do imóvel ou dos bens e direitos transmitidos

d) Lançamento

ITBI é tributo sujeito a lançamento por homologação.

Via de regra, o sujeito preenche a guia, recolhe o imposto e não há qualquer medida
fiscalizadora por parte do município. Após, o município vai fiscalizar o pagamento do
tributo.

III. Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)

• Em âmbito nacional, o ISSQN é disciplinado pela LC 116/2003, que estabelece


suas normas gerais.

• Vale ressaltar: cada Município, para cobrar ISSQN, precisa editar lei ordinária
municipal tratando sobre o assunto. A lei local, obviamente, não pode contrariar
a LC 116/2003 nem prever serviços que não estejam expressos na lei federal.

a) Competência

Competência do ISSQN: município.

170
• LC 116/03 ➔ em regra, o ISSQN será devido no local do estabelecimento
prestador do serviço.

Na falta de estabelecimento, o ISSQN será devido no local do domicílio do prestador


do serviço, exceto nas hipóteses previstas no art. 3º, quando o imposto será devido no
local:

• do estabelecimento do tomador ou intermediário do serviço ou, na falta de


estabelecimento, onde ele estiver domiciliado, na hipótese de serviço importado
(§ 1o do art. 1o);

• da instalação dos andaimes, palcos, coberturas e outras estruturas;

• da demolição;

• das edificações em geral, estradas, pontes, portos e congêneres;

• da execução da varrição, coleta, remoção, incineração, tratamento, reciclagem,


separação e destinação final de lixo, rejeitos e outros resíduos quaisquer;

• da execução da limpeza, manutenção e conservação de vias e logradouros


públicos, imóveis, chaminés, piscinas, parques, jardins e congêneres;

• da execução da decoração e jardinagem;

• do controle e tratamento do efluente de qualquer natureza e de agentes físicos,


químicos e biológicos;

• do florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação, reparação de solo,


plantio, silagem, colheita...

• da execução dos serviços de escoramento, contenção de encostas e congêneres;

• da limpeza e dragagem;

• onde o bem estiver guardado ou estacionado;

• dos bens, dos semoventes ou do domicílio das pessoas vigiados, segurados ou


monitorados;

• do armazenamento, depósito, carga, descarga, arrumação e guarda do bem;

171
• da execução dos serviços de diversão, lazer, entretenimento e congêneres;

• do Município onde está sendo executado o transporte;

• do estabelecimento do tomador da mão-de-obra;

• da feira, exposição, congresso ou congênere a que se referir o planejamento,


organização e administração;

• do porto, aeroporto, terminal rodoviário, ferroviário ou metroviário.

EM RESUMO:

• Regra geral: a competência par instituir e arrecadar ISSQN é do município em


que está o estabelecimento do prestador.

• Caso não tenha estabelecimento, será o local do domicílio do prestador.

• Exceção: quando a competência para instituir o ISSQN é do local de onde o


serviço é prestado (art. 3º LC 116).

• STJ: o município competente para impor o ISSQN é aquele onde ocorre a


prestação do serviço.

Roberval Rocha ensina:

A LC 116 diz ser competente o local do estabelecimento do prestador, mas o STJ adota
o princípio da territorialidade da exação, ou seja, onde é prestado o serviço. Como são
tantas as exceções, elas acabam sendo a regra.

b) Fato gerador

É a prestação de serviços que estejam na lista anexa da LC 116/03.

STF, Súmula Vinculante 31: é inconstitucional a incidência de ISS sobre operações de


locação de bens imóveis, pois não há prestação de serviço.

STF: o arrendamento mercantil, a depender do tipo, poderá admitir ou não a incidência


do ISSQN.

Lembrando ➔ o arrendamento mercantil possui 3 modalidades:

172
• leasing operacional: não incide ISSQN. Há aqui uma locação com direito de
compra ao final do contrato.

• leasing financeiro: incide ISSQN, pois há um serviço de financiamento.

• leasing back: aqui também se trata de um financiamento.

• S. 167 STJ: o fornecimento de concreto, por empreitada, para construção civil,


preparado no trajeto até a obra em betoneiras acopladas a caminhões, é
prestação de serviço, sujeitando-se à incidência do ISS.

• S. 274 STJ: o ISS incide sobre o valor dos serviços de assistência médica, incluindo-
se neles as refeições, os medicamentos e as diárias hospitalares.

É a soma dos valores gastos no hospital pelo paciente.

• S. 424 STJ: é legítima a incidência de ISS sobre os serviços bancários congêneres


da lista anexa ao DL 406/68 e à LC 56/87.

c) Não incidência

São hipóteses de imunidade de ISSQN:

• Exportações

• Prestação de serviços em relação de emprego, trabalhadores avulsos ou


congêneres

• Valores intermediados no mercado de títulos e valores imobiliários

• Valores dos depósitos bancários relativos a operações de crédito, realizadas por


instituições financeiras

ATENÇÃO

A imunidade não alcança serviços desenvolvidos no Brasil cujo resultado se verifique no


Brasil, ainda que o pagamento seja feito por alguém que resida no exterior.

Ou seja, há imunidade de ISS quando a prestação do serviço é contratada no Brasil,


mas para serviço realizado no exterior ou cujo resultado se verifique no exterior.

d) Contribuinte

173
Contribuinte do ISS: é o prestador do serviço.

e) Base de cálculo

Base de cálculo do ISS: é o preço do serviço. Permite-se abater do serviço valores de


materiais fornecidos pelo prestador.

Súmula 524 do STJ: no tocante à base de cálculo, o ISSQN incide apenas sobre a taxa
de agenciamento quando o serviço prestado por sociedade empresária de trabalho
temporário for de intermediação, devendo, entretanto, englobar também os valores
dos salários e encargos sociais dos trabalhadores por ela contratados nas hipóteses de
fornecimento de mão de obra.

f) Alíquotas

O ISS poderá ter:

a) alíquotas fixas, quando o serviço é prestado por profissional autônomo.

b) alíquotas proporcionais, quando o serviço é prestado por pessoa jurídica.

As alíquotas são determinadas pela legislação municipal, mas deverão obedecer aos
limites mínimos e máximos estabelecidos em LC.

• LC 116: a alíquota máxima do ISSQN é de 5% (art. 8º, II).

• A alíquota mínima não vem prevista na LC 116/03, motivo pelo qual continua
valendo o art. 88 do ADCT. Portanto, hoje, a alíquota mínima do ISS é de 2%.

20. Impostos municipais

I. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU)

Trata-se de um imposto:

• Real: incide sobre uma coisa (propriedade imobiliária urbana);


• Direto: o próprio contribuinte é quem suporta o encargo financeiro da
tributação (não há repercussão econômica);

174
• Fiscal: a função precípua deste imposto é a arrecadação (imposto fiscal). Vale
ressaltar, no entanto, que, em alguns casos, ele poderá assumir também um
caráter extrafiscal (forma de estimular o cumprimento da função social da
propriedade);
• Progressivo: pode ser progressivo no tempo caso a propriedade não esteja
cumprindo sua função social (art. 182, § 4º), além de poder ser progressivo
em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);
• Complexivo: significa que seu fato gerador é um só ao longo de todo o ano.

a) Fato gerador

O fato gerador do IPTU é a propriedade, domínio útil ou a posse de um bem


imóvel, desde que esteja localizado na zona urbana do município.

O critério é o da localização. Mas a depender da destinação do imóvel, o STJ


entende que poderá caber a incidência de ITR e não de IPTU.

As ficções jurídica estabelecidas no art. 80 do CC, que fala sobre direitos reais
sobre imóveis, direito à sucessão aberta, direitos que asseguram direitos reais sobre
imóveis, são todos considerados por ficção jurídica como bens imóveis.

Todavia, as ficções jurídicas ali estabelecidas não geram a incidência da IPTU, o


qual somente incide sobre prédio ou terreno.

b) Zona urbana

A definição de zona urbana por lei municipal não é suficiente para incidência do
IPTU.

Segundo o art. 32, §1º, do CTN, entende-se como zona urbana a definida em lei
municipal, desde que seja observado o requisito mínimo da existência de
melhoramentos indicados em pelo menos 2 dos incisos seguintes, construídos ou
mantidos pelo Poder Público:

• Meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;


• Abastecimento de água;
• Sistema de esgotos sanitários;

175
• Rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição
domiciliar;
• Escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 quilômetros
do imóvel considerado.

Exige-se 2 desses melhoramentos ao menos.

Ainda, é permitido que a lei municipal considere urbanas as áreas urbanizáveis,


ou áreas de expansão urbana, constantes em loteamentos aprovados pelos órgãos
competentes, destinados à habitação, indústria e comércio, mesmo que localizado fora
da zona urbana primitiva.

Havendo conflito entre ITR e IPTU, é necessário analisar o critério espacial, mas
também o critério da destinação do imóvel, pois o STJ entende que não incide IPTU nos
imóveis de destinação rural, devendo incidir o ITR.

O fato de uma parte do imóvel urbano ter sido declarado área de preservação
permanente ou de restrição, como a proibição de construir, não impede que incida
IPTU sobre a área do imóvel todo. O que precisa para definir se vai haver a incidência
de ITR ou não é o fato de sua destinação.

Ainda, nas hipóteses em que for verificada a contemporaneidade do exercício da


posse e da propriedade, ou seja, houve uma promessa de compra e venda celebrada, a
qual não foi levada a registro, mas há um promitente comprador e um promitente
vendedor. Neste caso, o STJ entende que o IPTU poderá ser exigido de qualquer um dos
sujeitos passivo, ou seja, são coexistentes, havendo uma espécie de solidariedade.

c) Base de cálculo

A base de cálculo do IPTU é o valor venal do imóvel, não sendo considerados os


bens imóveis que guarnecem o prédio ou a propriedade.

Atente-se que a atualização do valor venal do imóvel por índices oficiais de


correção não representa majoração da base de cálculo.

176
Consequentemente poderá ser feita por ato do Poder Executivo, por meio de
decreto. A Súmula 160 do STJ diz que é defeso ao município atualizar o IPTU mediante
decreto em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.

A fixação da base de cálculo do IPTU é exceção ao princípio da anterioridade


nonagesimal, mas precisa observar a anterioridade anual.

d) Alíquota

As alíquotas poderão ser livremente estipuladas pelos Municípios, desde que,


obviamente, não sejam tão elevadas a ponto de caracterizar um confisco, o que é
vedado constitucionalmente.

Existem 3 critérios de diferenciação de alíquota no IPTU:

• Progressividade de alíquota em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);


• Progressividade de alíquota em razão da função social da propriedade (art.
182, § 4º, II): aumento de alíquotas para desestimular que o imóvel fique não
edificado, inutilizado ou subutilizado.
• Extrafiscalidade pela localização e uso (art. 156, § 1º, II).

e) Lançamento

O fato gerador do IPTU vai se verificar na data eleita pela legislação municipal
para esta finalidade. Normalmente, a data é fixada no dia 1º de janeiro de cada ano,
sendo certo que o lançamento se dá de ofício.

Dado o número extensivo de imóveis, considera-se que a notificação do


lançamento se dá quando há a notificação do carnê pelos correios.

O STJ, na Súmula 397, diz que o contribuinte do IPTU é notificado do lançamento


pelo envio do carnê ao seu endereço.

f) Extrafiscalidade

A CF diz, em seu art. 182, §4º, que é facultado ao poder público municipal,
mediante lei específica, para a área incluída no Plano Direto, exigir, nos termos da lei
federal (Estatuto da Cidade), do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado

177
ou nem utilizado, que ele promova o seu adequado funcionamento, sob pena de
sucessivamente sofrer:

• Parcelamento e edificação compulsórios


• IPTU progressivo no tempo
• Desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor
real da indenização e os juros legais.

Alguns autores chamam a extrafiscalidade pela localização e uso de “seletividade


do IPTU”. É o caso de Hugo de Brito Machado e Ricardo Lobo Torres.

O art. 7º do Estatuto da Cidade vai dizer que, em caso de descumprimento das


condições estabelecidas em lei, o município poderá proceder à aplicação do IPTU
progressivo no tempo, majorando as alíquotas durante 5 anos consecutivos.

O §1º diz que a majoração da alíquota a ser aplicada a cada ano será fixada em
lei específica, mas a alíquota do ano seguinte não pode ser superior ao dobro da alíquota
do ano anterior. A alíquota ficará limitada ao máximo de 15%.

O §2º do art. 7º diz que, caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não
esteja atendida em 5 anos, o município vai manter a alíquota máxima do IPTU,
podendo, em algum momento, promover a desapropriação.

O §3º diz que é vedada a concessão de isenção ou anistia relativa à tributação


progressiva de que trata o art. 7º.

g) Progressividade

Progressividade é uma técnica de tributação que tem como objetivo fazer com
que os tributos atendam à capacidade contributiva. Na prática, a progressividade
funciona da seguinte forma: a lei prevê alíquotas variadas para o imposto e o aumento
dessas alíquotas ocorre na medida em que se aumenta a base de cálculo. Assim, na
progressividade, quanto maior a base de cálculo, maior será a alíquota.

O IPTU é progressivo?

178
SIM. Existem duas espécies de progressividade no IPTU:

• Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I): quanto maior
o valor do imóvel, maior a alíquota. Trata-se de progressividade fiscal (com o
objetivo de arrecadar mais).
• Progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º,
II): aumento de alíquotas para desestimular que o imóvel fique não edificado,
inutilizado ou subutilizado. Consiste em uma progressividade extrafiscal (tem
por finalidade fazer cumprir um mandamento constitucional, qual seja, a
função social da propriedade).

O IPTU sempre teve essas duas espécies de progressividade?

NÃO. Antes da EC 29/2000, a CF/88 permitia para o IPTU apenas a


progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II). A
Constituição não previa, expressamente, a progressividade em razão do valor do imóvel
(art. 156, § 1º, I) (letra "a" acima). Ocorre que mesmo antes da EC 29/2000, muitos
Municípios editaram leis prevendo alíquotas progressivas em razão do valor do imóvel.
Em outras palavras, mesmo sem autorização expressa da CF/88, os Municípios fizeram
leis fixando alíquotas de IPTU que variavam de acordo com o valor do imóvel. Quanto
maior a faixa de valor, maiores eram as alíquotas.

Exemplo hipotético de lei municipal prevendo progressividade em razão do


valor: a Lei do Município XXX, editada em 1998, previa o seguinte Art. 33. A alíquota
para cálculo do IPTU é:

I - Quanto aos imóveis residenciais: a) Para terrenos com valor venal até R$ 100
mil, alíquota de 5% (cinco por cento); b) Para terrenos com valor venal acima de R$ 100
mil e até R$ 500 mil, alíquota de 7% (sete por cento); c) Para terrenos com valor venal
acima de R$ 500 mil e até R$ 1 milhão, alíquota de 9% (nove por cento); d) Para terrenos
com valor venal acima de R$ R$ 1 milhão, alíquota de 10% (dez por cento).

II - Quanto aos imóveis não-residenciais: a) Para terrenos com valor venal até R$
100 mil, alíquota de 6% (seis por cento); b) Para terrenos com valor venal acima de R$
100 mil e até R$ 500 mil, alíquota de 8% (oito por cento); c) Para terrenos com valor

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venal acima de R$ 500 mil e até R$ 1 milhão, alíquota de 10% (dez por cento); d) Para
terrenos com valor venal acima de R$ R$ 1 milhão, alíquota de 12% (doze por cento).

Para o STF, as leis municipais que, antes da EC 29/2000, previam alíquotas


progressivas em razão do valor do imóvel eram válidas? Essa Lei do Município XXX era
válida?

NÃO. Como vimos acima, antes da EC 29/2000, a CF/88 não previa, em seu texto,
a progressividade em razão do valor do imóvel. Para o STF, essa lacuna era proposital e,
não havendo previsão expressa, os Municípios estavam proibidos de instituir a
progressividade em razão do valor. Antes da EC 29/2000 só era válida uma forma de
progressividade no IPTU: a progressividade para cumprir a função social da propriedade.
Logo essas leis municipais que trouxeram progressividade fiscal antes da EC 29/2000
eram inconstitucionais. Foi editada até uma súmula para expor esse entendimento:
Súmula 668-STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da
emenda constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada
a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.

Imagine que esse art. 33 da Lei do Município XXX foi declarado inconstitucional
com base no entendimento exposto na Súmula 668-STF. A dúvida que surge agora é a
seguinte: com a declaração de inconstitucionalidade, os contribuintes estarão
dispensados de pagar o IPTU?

NÃO. O fato de ter sido declarada inconstitucional a progressividade das


alíquotas não inviabiliza a cobrança do IPTU. De acordo com a teoria da divisibilidade
da lei, somente se deve proferir a inconstitucionalidade das normas viciadas, não
devendo estender o juízo de censura às outras partes da lei. Nesse sentido, a lei
municipal só seria inconstitucional no tocante à progressividade das alíquotas, de modo
que a solução mais adequada é manter a exigibilidade do tributo.

Qual será, no entanto, a alíquota que deverá ser paga? Suponha que João possui
um imóvel avaliado em R$ 2 milhões, ele pagará o IPTU com base em qual alíquota?

Declarada inconstitucional a progressividade de alíquota tributária, é devido o


tributo calculado pela alíquota MÍNIMA correspondente, de acordo com a destinação

180
do imóvel. Segundo decidiu o STF, o reconhecimento da inconstitucionalidade da
progressividade do IPTU não afasta a cobrança total do tributo. Esta, no entanto, deve
ser realizada pela forma menos gravosa prevista em lei.

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