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RESUMO TRIBUTÁRIO

AULA 00

1) PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO


1.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA
1.1.1 Análise do artigo 150, I da CF
O princípio da legalidade tributária encontra-se no art.150, I da CF:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

A lei deve prever todos os elementos que compõem a norma imponível e que são
essenciais para que esta possa incidir.

O critério material é o verbo. Ex: Caso de ITR: critério material = SER. Já o seu
complemento, no mesmo caso de ITR, = proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem imóvel.

O critério espacial é o local em que a conduta descrita no critério material deve ocorrer. O
critério espacial pode ser:

a) Pontual: quando o local é específico (ex. estacionar veículo em local proibido);

b) Regional: quando o local é um pouco mais amplo (ex. ser proprietário de bem
imóvel urbano);

c) Territorial: bastante genérico (ex. industrializar produtos em qualquer lugar do


território nacional);

d) Universal: quanto o critério espacial é mais amplo que a própria norma (ex. caso
do IRPF, em que se tributa, no casos de residentes no Brasil, a renda auferida no exterior).

Voltando ao caso do ITR, o critério espacial é a zona rural.

O Critério temporal é o momento que indica o instante que ocorre o fato jurídico.

O Critério quantitativo é aquele que permite a identificação do objeto da prestação. Em


direito tributário, tratando-se de obrigação principal, a prestação é sempre pecuniária, ou seja, de
dar uma quantia em dinheiro. Essa quantia é calculada mediante a multiplicação da base de
cálculo pela alíquota.

Usaremos o ITR para identificar os critérios acima explicados:

Critério material – ser proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem imóvel;

Critério espacial – fora da zona urbana;

Critério temporal – 1º de janeiro;


Critério pessoal – sujeito ativo: União / sujeito passivo: proprietário, enfiteuta ou
possuidor do imóvel;

Critério quantitativo – base de cálculo (Valor da terra nua tributável) e alíquota


(varia de 0,03% a 20%).

Todos esses elementos devem ser veiculados por meio de lei para que haja a observância
do princípio da legalidade tributária. Ademais, ao utilizar a expressão aumentar tributos, a CF
determina que o princípio da legalidade não se satisfaz com a mera instituição. O incremento do
seu valor também depende de lei.

Qualquer modificação na base de cálculo ou na alíquota não pode ser realizada por ato
infralegal.

Frisamos que não se considera majoração de tributo a atualização do valor monetário da


base de cálculo. O STF considera essa regra compatível com a CF. Portanto, é possível que um ato
infralegal atualize monetariamente a base de cálculo de um tributo sem ofensa ao princípio da
legalidade tributária.

1.1.2 Medidas Provisórias e a instituição de tributos

Em 2001, foi editada a EC nº 32, que passou a dispor expressamente sobre essa
possibilidade:
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de
impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só
produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido
convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
Embora o §2º se refira tão somente aos impostos, o STF manteve a interpretação de que a
MP pode instituir ou majorar tributos, independentemente de se tratar de impostos ou outras
espécies tributárias.

Há exceções, aqueles tributos reservados à lei complementar não podem ser instituídos ou
majorados por meio de MP, conforme art. 62, §1º, III da CF:
§1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: III -
reservada a lei complementar;

1.1.3 Tipicidade Cerrada

1.1.3.1 Conceitos Jurídicos Indeterminados e Cláusulas Gerais

A jurisprudência admite a utilização de conceitos jurídicos indeterminados, sem ofensa ao


Princípio da Legalidade Tributária.

Ainda que haja um esforço por parte do legislador em definir, com precisão, os elementos
da obrigação tributária, sempre existirão dúvidas quanto ao significado dos termos utilizados.

1.1.3.2 Norma Tributária em Branco

Ato infralegal pode “complementar” conceitos utilizados pela lei em sentido estrito. A
utilização de conceitos jurídicos indeterminados, cláusulas gerais e normas tributárias em branco
não ofende o Princípio da Legalidade Tributária.
1.1.4 Mitigações Constitucionais ao Princípio da Legalidade

A CF exige que todos os elementos necessários ao nascimento da obrigação tributária


estejam previstos em lei.
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
§1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos
enumerados nos incisos I, II, IV e V.

Como pode se observar, o art. 153, §1º da CF, autoriza ao Poder Executivo, atendidas as
condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas do II, IE, IOF e IPI.

A expressão Poder Executivo não se trata de competência privativa do Presidente da


República, podendo a lei atribuir a um outro órgão do Poder Executivo a competência para exercer
a atribuição do art. 153, §1º da CF, como já decidiu o STF.

É a lei que estabelece as condições e os limites, cabendo ao Executivo, dentro do espaço,


reduzi-las ou elevá-las.

O art. 177, §4º, I, “b” da CF também traz mitigação ao princípio da legalidade, aplicável à
CIDE-Combustível.

A lei estabelece um limite máximo às alíquotas, sendo possível ao Executivo reduzi-las ou


elevá-las até aquele limite.

Portanto, a CF mitiga o Princípio da Legalidade aos seguintes tributos: IPI, II, IE, IOF, ICMS-
Combustível e CIDE-Combustível.

1.1.5 Delegação ao Executivo para Reduzir ou Aumentar Alíquotas

O STF delimitou alguns critérios para delegar ao Executivo. São eles: a) a delegação deve
poder ser retirada a qualquer momento; b) Congresso deve fixar standards ou padrões que
limitem a ação do delegado; c) existir razoabilidade da delegação.

Ressalta-se que o STF declarou inconstitucionalidade do diploma que delegou aos


Conselhos de Fiscalização de Profissionais tarefa de fixar as contribuições anuais, mas que não
fixaram o limite máximo do valor da exação. Nessa perspectiva, seria essencial que a lei tivesse
prescrito um teto a ser observado pelos conselhos ou critérios que permitissem encontrá-lo.

1.1.6 O Que Não Precisa Ser Veiculado Por Lei

Dispensa lei em sentido estrito para sua regulamentação três circunstâncias:

a) 1ª = obrigações acessórias. O art.113, §2º do CTN diz que a obrigação acessória


decorre da legislação tributária. A legislação tributária compreende as leis, tratados e as
convenções internacionais, os decretos e as normas complementares.

Abarca-se ao conceito de legislação tributária as leis, mas também os decretos e as


normas complementares.

Obrigação acessória pode ser realizada por meio de um ato infralegal, sendo
dispensável a edição de lei.

b) 2ª = alteração na data de vencimento do pagamento. Trata-se de circunstância


que não integra nenhum dos elementos da regra-matriz de incidência tributária.
c) 3ª = atualização monetária da base de cálculo de um tributo. Portanto, pode um
ato infralegal proceder a atualização monetária para recompor a inflação.

1.2 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE


1.2.1 Origem e Fundamento
Pode-se falar em duas modalidades de anterioridade: anterioridade anual e a anterioridade
nonagesimal.

1.2.2 Considerações Gerais

O princípio da anterioridade anual encontra-se previsto no art.150, III, “b” da CF, e o


princípio da anterioridade nonagesimal no art.150, III, “c” e §6º do art.195 ambos da CF.

A nova lei tributária fica com a eficácia paralisada, o que impede a sua incidência antes do
transcurso do prazo previsto pelo princípio da anterioridade.

Ambas as anterioridades se aplicam tanto à lei que instituir um novo tributo quanto à lei
que aumentar o valor de um tributo já existente.

OBS: A mera atualização monetária da base de cálculo não precisa observar as anterioridades.

1.2.3 Exceções Às Anterioridades Anual e Nonagesimal

a) Anterioridade anual
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser
exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei
que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
disposto no art. 150, III, "b".

Como se observa, a CF quis que as contribuições para a Seguridade Social observassem tão
somente a anterioridade nonagesimal. Nesse sentido, tratando-se de contribuições para a
seguridade social, o aumento ou a instituição de um novo tributo deve observar tão somente o
prazo de 90 dias, sendo dispensável aguardar o término do exercício financeiro.

Portanto, a anterioridade anual não se aplica aos seguintes tributos: II, IE, IPI, IOF, Imposto
Extraordinário de Guerra (IEG), Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou Guerra
Externa, CIDE-Combustível e ICMS-Combustível.

Todos aqueles tributos que aparecem (sem exigência de lei, podendo ato infralegal) como
mitigações ao princípio da legalidade também são exceções ao princípio da anterioridade.

b) Anterioridade Nonagesimal

Não incide, não se aplica a anterioridade nonagesimal nos seguintes tributos: II, IE, IOF,
Imposto Extraordinário de Guerra (IEG), Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou
Guerra Externa, Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza, Base de Cálculo do IPTU e
Base de Cálculo do IPVA.
OBS: Importante lembrar que somente o Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou
Guerra Externa é exceção ao princípio da anterioridade.

OBS 2: O princípio da anterioridade genérica significa que as pessoas políticas não podem exigir
tributos no mesmo exercício financeiro em que foi publicada a lei que os instituiu ou aumentou.

OBS 3: O ISSQN não é exceção ao princípio da anterioridade anual e tampouco da anterioridade


nonagesimal.

1.2.4 Princípio da Anterioridade e Medidas Provisórias

O termo inicial da contagem do prazo passou a ser a conversão em lei da MP. A doutrina
tem defendido majoritariamente que o termo inicial das anterioridades deve ser sempre a
conversão em lei da medida provisória.

O STF tem mantido sua jurisprudência e interpretado de maneira restritiva o §2º do art.62
da CF, para aplicá-lo tão somente à anterioridade anual, nos casos em que a MP se refira a
impostos.

Portanto, podemos assentar as seguintes conclusões:

1ª - O termo inicial do prazo da anterioridade anual é a edição da medida provisória,


quando o objeto da MP for a instituição ou a majoração de qualquer outra espécie tributária que
não impostos.

2ª - O termo inicial do prazo da anterioridade anual é a conversão em lei da medida


provisória, quando esta última instituir ou majorar impostos.

3ª - O termo inicial do prazo da anterioridade nonagesimal é a edição da medida provisória.

4ª - Em qualquer caso, o termo inicial é a conversão em lei da medida provisória, nos casos
em que a instituição ou a majoração do tributo só foi realizada no curso do processo legislativo.

1.2.5 Algumas Controvérsias Sobre A (Não) Incidência Do Princípio Da Anterioridade

Controvérsias sobre a incidência ou não do princípio da anterioridade:

a) Alteração da data de pagamento do tributo – O STF inclusive editou uma SV


acerca do assunto:
Súmula Vinculante 50: Norma legal que altera o prazo de
recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da
anterioridade.

b) Revogação de isenções concedidas por prazo indeterminado e/ou não


condicionadas – O STF entende que a anterioridade anual e a anterioridade nonagesimal se aplica
em caso de revogação de benefício fiscal.

c) Redução ou extinção de desconto para pagamento de tributo em parcela única


ou de maneira antecipada – O STF decidiu que não se aplica o princípio da anterioridade.

1.3 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE


1.3.1 Considerações Gerais
A garantia da irretroatividade encontra-se no art.5ª, XXXVI da CF:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;

1.3.2 Análise Dogmática


1.3.2.1 Significado da expressão fatos geradores ocorridos, empregada pelo artigo 150, inciso III,
alínea a, da CF.
Geraldo Ataliba denomina de hipótese de incidência a descrição abstrata prevista na lei e
de fato imponível a sua realização concreta.
A CF disse é que é vedado cobrar tributos com relação a fatos jurídicos (conforme
terminologia de Paulo de Barros Carvalho) que ocorreram antes da vigência da lei que os houver
instituído ou aumentado.
A jurisprudência tem entendido que a ocorrência do fato gerador pressupõe a realização
de todos os elementos previstos pela hipótese de incidência da regra-matriz, sendo insuficiente
que apenas um ou alguns deles tenham sido concretamente realizados.
1.3.2.2 Súmula 584 do STF
Encontra-se superado o entendimento exposto na Súmula 584 do STF. Esse enunciado é
incompatível com os princípios da irretroatividade e da anterioridade.
Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete.

AULA 01

1.4 PRINCÍPIO DA ISONOMIA TRIBUTÁRIA


1.4.1 Aspecto Negativo: O Que a Lei Não Pode Discriminar
O princípio da isonomia tributária encontra previsão expressa no artigo 150, inciso II, da
Constituição Federal:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem
em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de
ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos,
títulos ou direitos;

Como se pode observar do dispositivo, e especialmente do termo grifado, o princípio da


isonomia proíbe que a lei tribute de maneira distinta pessoas que estejam em situação
equivalente.
Nessa esteira, são duas as situações que, do ponto de vista do Direito Tributário, justificam
um tratamento diferenciado, por afastarem a equivalência pressuposta pelo dispositivo:
diferentes capacidades contributivas ou razões extrafiscais.
O STF entendeu que seria proporcional que contribuintes que exercem atividade
econômica de grande capacidade contributiva contribuíssem mais para o custeio da seguridade
social.
Razões extrafiscais também podem justificar um tratamento diferenciado, sem que se
possa falar em ofensa ao princípio da isonomia.
Nesse sentido, não há que se falar em inconstitucionalidade na elevação da alíquota do ITR
nos casos de improdutividade de imóvel rural; ou na progressividade do IPTU em razão do não
cumprimento da função social da propriedade; nem mesmo na tributação acentuada de produtos
como cigarros e bebidas.
A ideia do dispositivo é bastante clara. Não se pode tributar de maneira diferente tão
somente em razão da ocupação profissional de alguém.
OBS: A administração pública pode (facultatividade) promover diligências com o objetivo de
identificar o patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte.
1.4.2 Violação à isonomia. O que o Judiciário pode fazer?
Imaginemos que uma lei institua uma isenção tributária em favor do grupo A, mas não
contemple o Grupo B, que se encontra na mesma situação daquele.
Nessa hipótese, em que há uma violação ao princípio da isonomia, a doutrina menciona a
existência de três técnicas de decisão que o Poder Judiciário poderia utilizar para restabelecer a
legalidade:
A primeira seria a extensão dos benefícios ao Grupo B. Assim, por meio de uma decisão
judicial, o Poder Judiciário conferiria aos contribuintes desse grupo a mesma regra isentiva que foi
concedida ao Grupo A. (ESSA TÉCNICA NÃO É UTILIZADA)
A segunda possibilidade é a supressão dos benefícios que foram concedidos ao Grupo A.
Por esse mecanismo, a norma isentiva seria declarada inconstitucional, e tanto os contribuintes do
Grupo A quanto do Grupo B passariam a sofrer a incidência da mesma norma tributária.
A terceira possibilidade seria fazer um apelo ao legislador, conclamando-o a editar uma lei
que restabelecesse o princípio da isonomia, sob pena de, no futuro, reconhecer-se a
inconstitucionalidade da norma isentiva.
O STF entende que o Poder Judiciário só pode utilizar as duas últimas, não sendo viável a
extensão de um benefício fiscal a um grupo de contribuintes que foi excluído pela legislação.
1.4.3 Pecúnia non olet e Princípio da isonomia
Por força do princípio do non olet, tributa-se as atividades ilícitas da mesma forma que as
atividades lícitas.
CESPE/Advogado da União/2015
Acerca dos princípios constitucionais tributários, julgue o item
subsequente.
O princípio da isonomia tributária impõe que o tributo incida sobre as
atividades lícitas e, igualmente, sobre as ilícitas, de modo a se
consagrar a regra da interpretação objetiva do fato gerador. Dessa
forma, é legítima a cobrança de IPTU sobre imóvel construído
irregularmente, em área non aedificandi, não significando tal
cobrança de tributo concordância do poder público com a ocupação
irregular.
Comentários: A afirmativa é verdadeira. Ofenderia ao princípio da
isonomia cobrar o IPTU dos contribuintes que cumprem com as
disposições do plano diretor e dispensar o pagamento no caso de
contribuintes que incorram em atos ilícitos.
1.5 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA
1.5.1 Aplicabilidade do Princípio da capacidade contributiva a todas espécies tributárias.
Há julgados do Supremo Tribunal Federal em que se reconhece a aplicabilidade do
princípio da capacidade contributiva a todas as espécies tributárias, ainda que com relação aos
tributos vinculados, como é o caso das taxas, as particularidades acima devam ser consideradas.
MPE-SC/Promotor de Justiça/2016
Entre os princípios constitucionais de Direito Tributário, a capacidade
contributiva encontra aplicação plena aos tributos com fato gerador
vinculado, na medida em estes apontam critérios de justiça
comutativa.
Certo () Errado ()
Comentários: A afirmativa está incorreta. A capacidade contributiva
se aplica aos tributos vinculados – taxas, por exemplo – mas não de
maneira plena.
O princípio da capacidade contributiva promove a igualdade/isonomia tributária, na
medida em que exige que tributos sejam graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte.

OBS: A doutrina diverge sobre a possibilidade de aplicação do princípio da capacidade contributiva


a outras espécies tributárias.

1.5.2 Tipos de Capacidade Contributiva

A capacidade contributiva absoluta ou objetiva determina que, ao criar uma norma


tributária, a lei leve em consideração circunstâncias que efetivamente denotem a existência de
capacidade econômica do contribuinte.

A capacidade contributiva relativa ou subjetiva diz respeito à medida da tributação. Tem


como objetivo estabelecer parâmetros sobre a intensidade do poder de tributar.

A capacidade contributiva subjetiva ou relativa, por levar em consideração aspectos


subjetivos do contribuinte, permite que se compare as situações dos sujeitos.

1.5.3 Progressividade E Seletividade Como Meios De Promover O Princípio Da Capacidade


Contributiva.
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos:
§1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte,
facultado à administração tributária, especialmente para conferir
efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos
individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as
atividades econômicas do contribuinte.
Os impostos pessoais são aqueles que levam em consideração circunstâncias subjetivas do
contribuinte, como é o caso do imposto de renda.

Já os impostos reais são aqueles que abstraem (retira-se) as condições jurídicas do


contribuinte. Um exemplo é o IPVA. Não importa qual a renda do devedor, se ele está ou não está
desempregado, se tem gastos com saúde ou com educação. Basta que seja proprietário de um
veículo automotor para que haja a incidência da norma impositiva.

Os impostos direitos são aqueles cujo custo é suportado pelo próprio contribuinte de
direito, ou seja, em que não há o repasse do custo da tributação para terceiros. É o caso do
imposto de renda pessoa física.

Os impostos indiretos são aqueles em que o custo da tributação é repassado para o


consumidor final, através do preço do produto. É o que ocorre, por exemplo, com o IPI e o ICMS.

A graduação da capacidade econômica do contribuinte pode ser realizada de duas formas:


Para os impostos pessoais, através da técnica da progressividade; para os impostos indiretos, pela
técnica da seletividade.

OBS: Para provas objetivas tanto a seletividade quanto a progressividade encontram guarida no
art.145, §1º da CF.

Resssalta-se que a seletividade encontra previsão no §3º, I, do art.153 da CF e no art.155,


§2º, III também da CF.
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: IV - produtos
industrializados;
§3º O imposto previsto no inciso IV:
I - será seletivo, em função da essencialidade do produto;

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos


sobre: II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem
no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias
e dos serviços;

1.5.4 (Im)Possibilidade De Utilização Da Técnica Da Progressividade Nos Impostos Reais

No caso de um imposto pessoal, atinge-se a sua finalidade mediante a utilização da técnica


da progressividade. Tratando-se de um imposto indireto, a técnica utilizável é a da seletividade.

O STF assentou que, mesmo nos impostos reais, é possível em alguns casos que a legislação
consiga aferir de maneira mais segura a capacidade econômica do contribuinte, mediante a
consideração de circunstâncias concernentes à sua pessoa ou às suas atividades. Nessas hipóteses,
admite-se a utilização da técnica da progressividade, tributando-se mais pesadamente quem
denote signos maiores de riqueza.

Portanto, é possível afirmar que o STF entende que não há uma incompatibilidade absoluta
entre a progressividade e os impostos reais. A possibilidade da utilização dessa técnica vai
depender da possibilidade, in concreto, de a lei conseguir aferir a capacidade econômica do
contribuinte.

Atualmente, a progressividade é admitida nos seguintes impostos:

a) imposto sobre a renda, conforme artigo 153, § 2º, inciso I, da CF;

b) IPTU, conforme redação do artigo 182, §4º, da CF (progressividade extrafiscal);


c) IPTU, após a Emenda Constitucional 29/2000 (progressividade fiscal);

d) ITR, conforme §4º do artigo 156 da CF.

e) ITCMD, conforme jurisprudência do STF firmada no julgamento do RE 562.045.

1.5.5 Extrafiscalidade e Capacidade Contributiva

Finalidade extrafiscal - objetivam alcançar outros objetivos que não apenas a arrecadação.

O entendimento majoritário defende a possibilidade de compatibilização do princípio da


capacidade contributiva com a tributação extrafiscal, ainda que o parâmetro a ser adotado como
limite da tributação deva levar em consideração essa particularidade, admitindo-se em
determinadas circunstâncias a utilização de alíquotas elevadas.

Contudo, a margem de liberdade na fixação do valor da tributação, embora elevada, não é


ilimitada, devendo-se observar o princípio da proporcionalidade.

Nesse sentido, é preciso comprovar que a lei é apta a produzir a finalidade extrafiscal
almejada (exame da adequação); que a medida é a menos restritiva possível dentre aquelas que
poderiam ser utilizadas (exame da necessidade); e que os efeitos positivos decorrentes da adoção
da medida superam os efeitos negativos decorrentes da menor promoção do estado ideal
promovido pelo princípio da capacidade contributiva (exame da proporcionalidade em sentido
estrito).

Portanto, uma tributação que fosse confiscatória ofenderia ao princípio da


proporcionalidade, por não passar no teste da necessidade e da proporcionalidade em sentido
estrito.

1.6 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO CONFISCO

1.6.1 Aspectos Gerais

O confisco é uma sanção que tem como característica a expropriação de um bem particular
pelo Estado, sem que haja qualquer indenização compensatória.

Proíbe-se é que a tributação seja utilizada de um modo que conduza a um resultado


equiparado a essa sanção. Portanto, proíbe-se que a carga tributária seja tão elevada ao ponto de
se assemelhar à tomada da propriedade do contribuinte pelo Estado.

A carga tributária deve ser considerada como um todo, e não apenas com relação a cada
um dos tributos isoladamente. Assim, a análise sobre a confiscatoriedade da tributação deve ser
aferida não apenas pela consideração de cada uma das alíquotas isoladamente, mas pela soma
dos valores que é transferido do patrimônio do contribuinte para a União Federal.

Ressalta-se que não há um percentual exato a partir do qual um tributo é confiscatório,


dependendo a sua determinação da situação concreta.

1.6.2 Aplicação Do Princípio Da Vedação Do Confisco Às Multas.

A norma sancionatória, ao contrário, possui na sua hipótese a descrição de uma conduta


ilícita, cuja realização concreta obriga o sujeito passivo a pagar ao sujeito ativo uma determinada
quantia a título de multa.
O entendimento ampliamente dominante na doutrina e na jurisprudência é de que o
princípio da vedação ao confisco encontra aplicabilidade também às multas tributárias.

Supremo Tribunal Federal - confisco existe quando a multa superar o valor da obrigação
principal, ou seja, quando o percentual da multa for superior a 100%.

No direito tributário, existem basicamente três tipos de multas: as moratórias, as punitivas


isoladas e as punitivas acompanhadas do lançamento de ofício. As multas moratórias são devidas
em decorrência da impontualidade injustificada no adimplemento da obrigação tributária. As
multas punitivas visam coibir o descumprimento às previsões da legislação tributária. Se o ilícito é
relativo a um dever instrumental, sem que ocorra repercussão no montante do tributo devido, diz-
se isolada a multa. No caso dos tributos sujeitos a homologação, a constatação de uma violação
geralmente vem acompanhada da supressão de pelo menos uma parcela do tributo devido. Nesse
caso, aplica-se a multa e promove-se o lançamento do valor devido de ofício. Esta é a multa mais
comum, aplicada nos casos de sonegação.

Com base nessa distinção, a Primeira Turma do STF tem considerado que as multas
moratórias são menos graves do que as multas punitivas. Naquelas, a imposição da sanção se
justifica pelo inadimplemento da obrigação tributária no termo fixado pela legislação. Nestas
últimas, a sanção é imposta em razão do descumprimento de uma obrigação acessória, que
normalmente é acompanhada da sonegação de parte ou da totalidade do valor devido.

Assim, levando em conta essa distinção, tem fixado como limite o percentual de 20% para
as multas moratórias e de 100% para as multas punitivas.

1.7 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO DE PESSOAS E BENS

O princípio não é desrespeitado pela cobrança de pedágio pela utilização de vias


conservadas pelo poder público, conforme se observa da ressalva expressa constante do inciso V
do artigo 150. Aliás, a menção expressa ao pedágio nem seria necessária, uma vez que essa
cobrança tem natureza de preço público e não de tributo. Foi o que decidiu o Supremo Tribunal
Federal.

1.8 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DAS ISENÇÕES HETERÔNOMAS

O princípio da proibição das isenções heterônomas encontra previsão no artigo 150, inciso
II, da CF:
Art. 151. É vedado à União: (...)
III – instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios.

Quanto à interpretação desse dispositivo, duas observações iniciais se fazem necessárias:

a) Primeira - a vedação se aplica a tributos, ou seja, a todas as espécies tributárias.

b) Segunda - pode-se aplicar também aos Estados, com relação aos tributos
municipais. Assim, por exemplo, não pode a Assembleia Legislativa aprovar uma hipótese de
isenção do ISSQN.

A CF prevê uma exceção a esse princípio, no qual pode a União Federal, por meio de Lei
Complementar, excluir a incidência do ISSQN sobre as exportações de serviços para o exterior.
O STF considera constitucional que um tratado internacional conceda isenções de tributos
da competência dos Estados e dos Municípios. O fundamento é o de que quem atua nas relações
internacionais é a República Federativa do Brasil, como representante de todo o Estado Brasileiro,
e não a União Federal.

Portanto, atualmente, há duas exceções a esse princípio:

1ª - União Federal, por meio de Lei Complementar, excluir a incidência do ISSQN


sobre as exportações de serviços para o exterior;

2ª - O STF considera constitucional que um tratado internacional conceda isenções


de tributos da competência dos Estados e dos Municípios.

1.9 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA

O Princípio da Uniformidade Geográfica encontra previsão no artigo 151, inciso I, da CF:


Art. 151. É vedado à União:
I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território
nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a
Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro,
admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o
equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes
regiões do País;

Contudo, há uma exceção expressamente contemplada pelo dispositivo, que autoriza a


concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento
socioeconômico entre as diferentes regiões do País. Exemplo: Zona Franca de Manaus.

1.10 PRINCÍPIO DA ISONÔMICA TRIBUTAÇÃO DA RENDA NOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA E


NOS VENCIMENTOS DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

O referido princípio se encontra positivado no artigo 151, inciso II, da Constituição Federal:
Art. 151. É vedado à União:
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os
proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos
que fixar para suas obrigações e para seus agentes;

Portanto, duas são as vedações:

A primeira impede que a União tribute a renda decorrente das obrigações da dívida pública
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em montante superior ao que fixar para as suas
próprias obrigações.

A segunda veda que o IRPF dos servidores dos Estados, Distrito Federal e Municípios seja
superior ao IRPF pago pelos servidores da própria União Federal.

1.11 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO BASEADA EM PROCEDÊNCIA OU DESTINO

A vedação que proíbe aos Estados e aos Municípios estabelecerem diferenças tributárias
em razão da procedência ou destino de bens e serviços de qualquer natureza encontra previsão
expressa no artigo 152 da Constituição Federal:
Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer
natureza, em razão de sua procedência ou destino.

O dispositivo analisado destina-se aos Estados, DF e Municípios (UNIÃO NÃO). O seu


objetivo é proibir que essas entidades federativas estabeleçam discriminações tributárias tão
somente em razão da procedência ou destino das mercadorias.

Assim, não é permitido que municípios ou estados, mesmo que sob o fundamento da
promoção do desenvolvimento econômico dessas regiões, instituam uma política tributária
diversa para bens produzidos ou destinados a outros estados da federação.

AULA 02
1) IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

1.1) CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES

As imunidades tributárias impedem, de maneira expressa, a instituição de um tributo sobre


determinadas pessoas ou situações.

Trata-se, assim, de regras jurídicas proibitivas, que vedam a instituição de um tributo.

Da conjunção das normas proibitivas (imunidades) com as normas permissivas é que se


extrai aquilo que se chama de competência tributária, que nada mais é do que o poder de criar
tributos.

As imunidades podem ser invocadas por diferentes expressões, tais como: “normas
delimitadoras da competência tributária” e “não incidência constitucionalmente qualificada”.

Para facilitar a compreensão da relação entre imunidade tributária e competência


tributária, pensemos no seguinte exemplo: a CF faculta que os Estados instituam o IPVA. Trata-se
de uma regra permissiva. Por outro lado, a CF veda que as entidades federativas instituam
impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros, e as alíneas b e c impedem a
tributação sobre o patrimônio das entidades religiosas, partidos políticos, entidades sindicais dos
trabalhadores, instituições de educação e instituições de assistência social, sem fins lucrativos, que
atendam aos requisitos previstos em lei. Em todos esses casos, está-se diante de regras proibitivas
configuradoras de imunidades tributárias.

Portanto, as imunidades tributárias são essas normas proibitivas previstas


constitucionalmente.

Costuma-se classificar as regras de imunidade segundo três critérios:

a) Primeiro – leva-se em consideração a sua hipótese normativa, verificando-se qual


os objetos, por força da Constituição, não podem ser tributados. Neste caso, fala-se em
imunidades subjetivas e objetivas.

As imunidades subjetivas impedem o exercício da tributação sobre pessoas. Já as


imunidades objetivas impedem a tributação sobre determinada base econômica.
b) Segundo – leva em consideração a necessidade ou dispensabilidade da existência
de lei complementar. Nesse caso, podemos falar em imunidades incondicionadas, aquelas que
independem de lei e não podem ser por ela limitadas; e imunidades condicionadas as quais
dependem do atendimento de pressupostos estabelecidos pela legislação infraconstitucional.

c) Terceiro – abrangência das imunidades, podendo dividi-las entre imunidades


específicas e imunidades genéricas. As imunidades específicas desoneram com relação a um único
imposto. Já as imunidades genéricas impedem a tributação com relação a todos os impostos.

1.2) IMUNIDADES E OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS

A obrigação tributária principal tem como objeto o pagamento de tributo ou penalidade


pecuniária, configurando-se, portanto, como uma obrigação de dar. Já a obrigação tributária
acessória tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, praticadas no interesse da
arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Portanto, pode assumir a feição de uma obrigação de
fazer ou de não fazer.

Tratando-se de imunidade tributária, há tão somente a dispensa com relação à obrigação


tributária principal, impondo-se, portanto, ao beneficiário imune o cumprimento de todas as
obrigações acessórias, ressalvadas apenas aquelas obrigações que, por força de lei, forem
expressamente dispensadas.

Ou seja, imune só a obrigação principal, e não a acessória. Esta, terá de ser cumprida,
exceto se, por lei, forem dispensadas.

1.3) IMUNIDADE E ISENÇÃO

Há sensíveis distinções entre esses fenômenos normativos, tendo a doutrina apontado


sobretudo dois elementos:

I) Primeiro deles diz respeito à fonte normativa. No caso das isenções, a regra se
encontra prevista em uma lei infraconstitucional. Já a imunidade, seu fundamento normativo
sempre será a Constituição Federal.

II) Segundo elemento distintivo é com relação à descrição do fenômeno jurídico. Na


isenção a norma tributária incidiria em um primeiro momento, e apenas num instante seguinte,
ocorreria a incidência da norma isentiva, excluindo-se a obrigação. Tratando-se de imunidade, não
há que se falar sequer na incidência da norma tributária.

1.4) IRRELEVÂNCIA DA NOMENCLATURA UTILIZADA PELA CONSTITUIÇÃO

O fato da Constituição, em alguns artigos, utilizar “não incidência”, “isenção”, “são


gratuitos”, dentre outros, afigura-se irrelevante, sendo certo que, nessas hipóteses, está-se diante
de imunidades tributárias, por ter o texto constitucional proibido a tributação.

É o que acontece com o §7º do artigo 195 e com o §5º do artigo 184. Nesses dois casos,
embora a Constituição tenha utilizado o termo isenção, essa circunstância não tem o condão de
alterar a natureza jurídica da norma em discussão, de modo que não se tem dúvidas de que se
trata de dispositivos que encerram verdadeiras imunidades tributárias.

1.5) REGULAMENTAÇÃO DAS IMUNIDADES CONDICIONADAS


Os artigos 150, inciso VI, e 195, §7º, ambos da Constituição Federal, trazem hipóteses de
imunidades condicionadas, que são aquelas cuja fruição depende do atendimento de
determinados requisitos previstos em lei:
Art. 150: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: (…) VI – instituir impostos sobre: c) patrimônio, renda ou
serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e
de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da
lei;

Art. 195, § 7º CF A seguridade social será financiada por toda a


sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais: §7º São isentas de contribuição para a seguridade social as
entidades beneficentes de assistência social que atendam às
exigências estabelecidas em lei.

O STF manteve o entendimento de que a Lei Complementar é o veículo adequado para


estabelecer os requisitos necessários ao gozo de uma imunidade tributária.

No entanto, essa conclusão não equivale a afirmar que tudo deva ser necessariamente
regulado por Lei Complementar. Aspectos meramente procedimentais referentes à certificação,
fiscalização e controle administrativo continuam passíveis de definição em lei ordinária. Portanto,
aspectos procedimentais podem ser regulados por lei ordinária.

1.6. DAS IMUNIDADES ESPALHADAS PELO TEXTO CONSTITUCIONAL

1.6.1 Imunidades com relação às taxas

O artigo 5º, incisos XXXIV, LXXIII, LXXIV, LXXVI e LXXVII, dispõem da seguinte forma:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento


de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou


contra ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de


direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

LXXIII: qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular


que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;

LXXIV: o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos


que comprovarem insuficiência de recursos;
LXXVI: são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da
lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito;

LXXVII: são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na


forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

Em todos esses casos, embora a Constituição não tenha utilizado o termo imunidade, esse
detalhe em nada altera a conclusão de que se está diante de autênticas imunidades tributárias.
QUESTÃO: A Constituição Federal de 1988 contém hipóteses de
imunidades de impostos e contribuições, mas não de taxas. ERRADO,
pois há diversas imunidades previstas com relação às taxas no texto
constitucional.

1.6.2 Imunidades com relação às Contribuições Especiais

Também há imunidades com relação às contribuições especiais.

Portanto, por força desse dispositivo, são imunes de contribuições sociais e de intervenção
no domínio econômico as receitas decorrentes de exportação.

Se determinada pessoa jurídica vender parte da sua produção para o mercado interno e
parte da sua produção para o mercado externo, a COFINS e o PIS – contribuições incidentes sobre
a receita – apenas incidirão sobre os valores decorrente das vendas realizadas internamente.

Por outro lado, a imunidade não se estende à CSLL – Contribuição Social sobre o lucro
líquido, cuja base econômica, como do próprio nome já se pode perceber, não é a receita, mas sim
o lucro. É esse o entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Portanto, retornando ao nosso exemplo, embora aquela pessoa jurídica não precise pagar
PIS e COFINS com relação às receitas decorrentes das vendas realizadas para o exterior, deverá
computar na base de cálculo do CSLL.

A segunda imunidade aplicável às contribuições se encontra inserida no §7º do artigo 195


da CF:
Art. 195, § 7º CF A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais:

§7º São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades


beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei.

Como se observa do dispositivo, trata-se de imunidade direcionada às entidades


beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.

Tais exigências se encontram atualmente inseridas no artigo 14 do CTN, que dispõe no


seguinte sentido:
Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado
à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas:

I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas


rendas, a qualquer título;
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção
dos seus objetivos institucionais;

III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros


revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

O inciso I não impede que as entidades sejam superavitárias, mas apenas que haja a
distribuição dos seus lucros. Ademais, a regra não obsta que os diretores das instituições sejam
remunerados, desde que efetivamente laborem para a pessoa jurídica.

1.6.3 Imunidades com relação a impostos

I) A primeira delas se encontra inserida no Art. 153, § 4º, II, CF:


Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: VI - propriedade
territorial rural;
§4º O imposto previsto no inciso VI do caput: II - não incidirá sobre
pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o
proprietário que não possua outro imóvel;

II) A segunda hipótese de imunidade se encontra no art. 156, §2º da CF:


Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:

II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de


bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre
imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua
aquisição;
§ 2º O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao
patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a
transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação,
cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a
atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses
bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento
mercantil;

Por força desse dispositivo, é imune do ITBI: a) transmissão de bens ou direitos


incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital; b) a transmissão de bens
ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica.

Há, no entanto, uma ressalva: o dispositivo exclui da imunidade as pessoas cuja atividade
preponderante seja a compra e venda desses bens ou direitos, a locação de bens imóveis ou
arrendamento mercantil.

III) Terceira hipótese de imunidade se encontra inserida no art. 155, §2º, X, alínea “b” da
CF:
Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem
no exterior;
§2º, X - não incidirá:
b) sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive
lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e
energia elétrica;
Como se observa do dispositivo, são imunes, com relação ao ICMS, as operações que
destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele
derivados, e energia elétrica.

IV) Quarta hipótese diz respeito às operações que destinem produtos industrializadas ao
exterior, as quais são imunes da incidência do IPI.

V) A quinta hipótese, de imunidade do ICMS, é semelhante à anterior, por conferir


imunidade tributária às operações que destinem mercadorias para o exterior e aos serviços que
sejam prestados a destinatários no exterior.

VI) A sexta hipótese está inserida no artigo 184, §5º, da CF6. Por força do parágrafo quinto,
não incide qualquer imposto nas operações de transferência de imóveis desapropriados para fins
de reforma agrária. Dessa forma, não incide imposto sobre os títulos da dívida agrária – TDA
recebidos pelo proprietário em decorrência da desapropriação.

1.7 DESTINATÁRIO DA IMUNIDADE. CONTRIBUINTE DE FATO OU CONTRIBUINTE DE DIREITO

Agora é definir qual o destinatário da norma de imunidade nos casos de tributos indiretos,
que são aqueles em que há o repasse do custo da tributação ao consumidor final.

Nessa espécie de tributo, há dois contribuintes, o de direito e o de fato.

- Contribuinte de direito - aquele que ocupa o polo passivo na relação jurídica tributária, é
a pessoa que tem a obrigação legal de recolher o valor do tributo.

- Contribuinte de fato – é o consumidor final.

Nos tributos indiretos há tanto o contribuinte de direito quanto o contribuinte de fato, e a


jurisprudência do STF se solidificou no sentido de entender que a imunidade é aplicável tão
somente ao contribuinte de direito.

1.8 ANÁLISE DO ARTIGO 150, INCISO VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O principal dispositivo constitucional sobre imunidades tributárias, que se encontra no


artigo 150, inciso VI, da CF:
Art. 150: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: VI – instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; - INCONDICIONADA
b) templos de qualquer culto; - INCONDICIONADA
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas
fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições
de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei; - IMUNIDADE CONDICIONADA
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; -
INCONDICIONADA
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil
contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou
obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os
suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na
etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser. –
INCONDICIONADA
A primeira observação é a de que as imunidades estabelecidas nesse dispositivo se aplicam
tão somente aos impostos. Desse modo, nada impede, por exemplo, a cobrança de taxa.

As imunidades incondicionadas são, de fato, autoaplicáveis. Justamente por esse motivo é


que não se admite que a administração pública possa restringir sua eficácia por um ato infralegal.

1.9 IMUNIDADE RECÍPROCA

1.9.1 Fundamentos

Iniciemos a nossa análise pela imunidade recíproca, prevista na alínea a do inciso VI do


artigo 150 da CF:
Art. 150: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: VI – instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou
serviços, uns dos outros;

Impede-se que as entidades federativas tributem umas das outras com relação aos
impostos. Lembrando que a imunidade recíproca é cláusula pétrea, posição adotada pelo STF.

1.9.2 Aplicação a todos os impostos

O STF firmou posição de que as imunidades recíprocas se aplicam não somente aos
impostos que podem ser classificados como incidentes sobre o patrimônio, a renda ou serviços,
mas a todos os impostos existentes.

Portanto, como regra, a imunidade estende-se a todos os impostos.

Se, no entanto, restar comprovada ofensa ao art. 170 da CF, o direito à imunidade não
deve ser reconhecido.
PUC-PR/Procurador do Estado/2015/Adaptada
Julgue a afirmativa a seguir:
Não incide Imposto de Importação sobre as operações de importação
de bens realizadas por Estado da Federação, salvo nos casos em que
restar comprovada violação ao princípio da neutralidade
concorrencial do Estado. R: CORRETA

1.9.3 Abrangência da regra de imunidade às autarquias e fundações

A abrangência da imunidade recíproca é estendida para parte das pessoas jurídicas que
compõem a administração indireta.

Referimo-nos ao §2º do artigo 150 da Constituição Federal, que dispõe da seguinte forma:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:

§2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às


fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere
ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades
essenciais ou às delas decorrentes.

Há uma importante ressalva nesse dispositivo: Há a necessidade de vinculação das


atividades da autarquia ou da fundação com as suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes. Se houver desvirtuação das suas funções, a imunidade não deve ser reconhecida.
O mesmo ocorre quando parte do patrimônio é tredestinado, como aconteceria no caso de
a autarquia ser proprietária de um terreno baldio, sem qualquer perspectiva de utilização. Nessa
hipótese não haveria que se falar em imunidade do IPTU, uma vez que o bem não estaria sendo
empregado na consecução das finalidades do ente público.

Quanto ao ônus da prova, o STF firmou entendimento de que abe ao fisco demonstrar que
o bem não está sendo empregado conforme as finalidades.

Por fim, vale ressaltar que são beneficiados pela regra de imunidade todas as autarquias,
incluindo- se as de regime especial, como as agências reguladoras.

1.9.4 (In)aplicabilidade da imunidade recíproca às empresas públicas e sociedades de economia


mista.

Dispõe o §3º do artigo 150 da CF:


Art. 150 (...) §3º As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo
anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços,
relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas
normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja
contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário,
nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar
imposto relativamente ao bem imóvel.

A primeira parte do dispositivo tem como intuito afastar a regra de imunidade nos casos de
empresas públicas e sociedades de economia mista que explorem uma atividade econômica.

Também o artigo 173, §2º, da Constituição Federal, dispõe de maneira semelhante:


Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional
ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

§2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não


poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor
privado.

Assim, por exemplo, o Banco do Brasil, sociedade de economia mista, não pode gozar de
imunidade tributária ou de qualquer privilégio fiscal, devendo competir em igualdade de
condições com as empresas que atuam no setor. O mesmo ocorre com relação à Caixa Econômica
Federal, constituída na forma de uma empresa pública.

Por outro lado, tratando-se de sociedade de economia mista e empresa pública


exploradora de serviço público, é possível a extensão do benefício da imunidade tributária, desde
que sejam observados os seguintes requisitos: i) as atividades com relação às quais se requer a
imunidade devem estar afetas ao serviço público; ii) o reconhecimento da imunidade não pode
acarretar um prejuízo à livre concorrência; iii) as atividades não devem ter como objetivo
aumentar o patrimônio do controlador ou dos investidores.
Tema 508: Sociedade de economia mista, cuja participação acionária
é negociada em Bolsas de Valores, e que, inequivocamente, está
voltada à remuneração do capital de seus controladores ou
acionistas, não está abrangida pela regra de imunidade tributária
prevista no art. 150, VI, ‘a’, da Constituição, unicamente em razão
das atividades desempenhadas.
Ressalta-se que a imunidade não “exonera o promitente comprador da obrigação de pagar
imposto relativamente ao bem imóvel”.
Tema 385: A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, a, da
Constituição não se estende a empresa privada arrendatária de
imóvel público, quando seja ela exploradora de atividade econômica
com fins lucrativos. Nessa hipótese é constitucional a cobrança do
IPTU pelo Município.

FMP Concursos/Juiz/2014/Adaptada
Julgue o item a seguir: a imunidade recíproca a impostos tem caráter
subjetivo, alcançando tão somente os entes políticos e suas
autarquias, jamais se podendo estendê-la às empresas públicas e às
sociedades de economia mista, para as quais o texto constitucional
inclusive veda privilégios fiscais. R: INCORRETA, é possível, como
vimos, estender a imunidade tributária recíproca às empresas
públicas e às sociedades de economia mistas prestadoras de serviços
públicos, desde que seus bens e serviços sejam utilizados para
satisfação dos objetivos institucionais do ente federado e não haja
risco à livre iniciativa e à livre concorrência.
1.9.5 Imunidade Recíproca e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT
Tema 235: Os serviços prestados pela Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos - ECT, inclusive aqueles em que a empresa não age em
regime de monopólio, estão abrangidos pela imunidade tributária
recíproca (CF, art. 150, VI, a e §§ 2º e 3º).

Tema 402: Não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de


encomendas realizado pela Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos - ECT, tendo em vista a imunidade recíproca prevista no
art. 150, VI, a, da Constituição Federal.

Tema 644: A imunidade tributária recíproca reconhecida à Empresa


Brasileira de Correios e Telégrafos — ECT alcança o IPTU incidente
sobre imóveis de sua propriedade e por ela utilizados, não se
podendo estabelecer, a priori, nenhuma distinção entre os imóveis
afetados ao serviço postal e aqueles afetados à atividade econômica.

1.9.6 Sucessão Tributária


Tema 224: A imunidade tributária recíproca não exonera o sucessor
das obrigações tributárias relativas aos fatos jurídicos tributários
ocorridos antes da sucessão.

1.9.7 Não incidência da imunidade tributária aos cartórios e tabelionatos

O STF também não reconheceu a incidência da imunidade tributária aos serviços de


registros públicos cartorários e notariais.

1.10 IMUNIDADE RELIGIOSA

1.10.1 Conteúdo

A doutrina e a jurisprudência majoritária defendem a Teoria Moderna (Templo-entidade),


para quem a palavra templo não se refere ao local de celebração religiosa, mas designa a própria
organização. Nesse viés, a imunidade seria subjetiva, porque impediria a tributação sobre a
própria entidade, o que a tornaria bem mais ampla do que as concepções anteriores.

1.10.2 – Análise do §4º do artigo 150 da Constituição


Se, por um lado, a adoção da concepção de templo como entidade amplie o âmbito
normativo da regra de imunidade, por outro, o §4º do artigo 150 da CF traz algumas balizas que
norteiam o direito ao benefício:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: §4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c",
compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas
mencionadas.

1º Requisito – o STF não tem restringido o âmbito normativo das regras de imunidade às
bases expressamente elencadas pela constituição – patrimônio, renda e os serviços. Tem
entendido que ela se aplica a todos os impostos existentes no ordenamento, desde que
observados os demais requisitos constitucionais. Portanto, é possível que tais entidades sejam
imunes também com relação ao ICMS, IPI, II e IOF.

2º Requisito – é a súmula vinculante nº 52: Ainda quando alugado a terceiros, permanece


imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da
Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais
entidades foram constituídas.

3º Requisito – exemplo: a entidade religiosa que possui um pequeno estacionamento pago


ao lado da igreja não precisa pagar ISS sobre o serviço prestado. Por outro lado, a organização
religiosa que possua um estacionamento no centro da cidade, em uma rua movimentada, não é
imune com relação a essa atividade. Do contrário, a livre concorrência seria afetada, pela
vantagem competitiva conferida a esse estacionamento em detrimento dos demais que lá se
encontram estabelecidos.

1.10.3 – Questões Controvertidas

1.10.3.1 – Cemitérios

O cemitério, por si só, não se enquadra no conceito de templos de qualquer culto, o que
impede, por conseguinte, o reconhecimento da sua imunidade aqueles empreendidos de maneira
privada com intuito lucrativo.

Por outro lado, cemitérios de cunho religioso possuem imunidade tributária, porque são
extensões da própria entidade.

1.10.3.2 – Maçonaria

Trata-se de associação privada que em seus estatutos afirma não ser uma religião. Por esse
motivo, não se enquadra no conceito de templos de qualquer culto, não tendo direito à imunidade
tributária.

1.11 IMUNIDADES CONDICIONADAS DO ARTIGO 150, INCISO VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

1.11.1 – Considerações Gerais

O artigo 150, inciso VI, alínea c, da Constituição Federal, dispõe no seguinte sentido:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: VI - instituir impostos sobre: c) patrimônio, renda ou
serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e
de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da
lei;

Comecemos pelo termo impostos. Como reiteradamente mencionado, as imunidades do


artigo 150, inciso VI, aplica-se tão somente com relação a essa espécie tributária. Assim, nada
impede que as entidades arroladas sejam compelidas, por exemplo, a pagar taxas.

Quanto à expressão patrimônio, renda e serviços, o STF interpreta as regras de imunidade


de maneira ampla, aplicando-as a todos os impostos existentes.

Por fim, quando a Constituição condiciona a fruição de uma imunidade ao atendimento dos
requisitos da lei, está se referindo à Lei Complementar, conforme exposto no item 4.5.

No caso em análise, essa lei é o Código Tributário Nacional, que estabelece os requisitos
para fruição do benefício em seu artigo 14:
Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado
à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas
rendas, a qualquer título;
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção
dos seus objetivos institucionais;
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros
revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

O inciso I não impede que as entidades beneficiárias possuam lucro, mas apenas veda a sua
distribuição a qualquer título.

1.11.2 – Imunidade dos Sindicatos dos Trabalhadores (somente dos TRABALHADORES)

São imunes as entidades sindicais dos trabalhadores com relação aos impostos, o que
significa afirmar, por um lado, que estão abarcados pela regra de imunidade as federações,
confederações e centrais sindicais, e que estão fora do âmbito normativo da regra constitucional,
por outro lado, todas as entidades sindicais patronais, como o Sindilojas, por exemplo.

1.11.3 – Imunidade das Instituições de Educação sem fins lucrativos

A palavra ensino não foi restringida, podendo-se interpretá-la também para abarcar a
educação informal. É o que entende o STJ.

1.11.4 – Imunidade das Entidades de assistência social sem fins lucrativos

Tratando-se de entidade fechada em que há o recolhimento de contribuições por parte dos


beneficiários, não há que se falar no reconhecimento da imunidade tributária, uma vez que a
instituição assume nessa hipótese um nítido caráter previdenciário.

Essa é a jurisprudência consolidada do STF, que editou inclusive súmula acerca do assunto:
Súmula 730: A imunidade tributária conferida a instituições de
assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, "c", da
Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência
social privada se não houver contribuição dos beneficiários.

1.12 IMUNIDADE DE IMPRENSA


1.12.1 – Livros, jornais e periódicos.

A palavra livro tem sido compreendida de maneira ampla para designar toda obra escrita,
como livro didático, livro infantil, livro de ficção, etc. O conceito abarca tanto o material impresso
quanto o material digital, como os e-books e os audiobooks.
Tema 593: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da
CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-lo.
Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150,
VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e comercialização, no mercado
interno, do livro eletrônico (ebook) e dos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers),
ainda que possuam funcionalidades acessórias.
Tema 259: A imunidade da alínea d do inciso VI do artigo 150 da
Constituição Federal alcança componentes eletrônicos destinados,
exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.

Portanto, a imunidade incide também aos componentes eletrônicos, desde que eles
integrem a unidade didática em conjunto com os fascículos.

A imunidade não se aplica no caso de jornais televisivos, transmitidos por meio de recurso
audiovisual.

A existência de propagandas em jornais não afasta o direito à imunidade, mas encartes que
só vinculem propagandas não são jornais, não fazendo jus ao benefício constitucional.

O STF que listas telefônicas, álbuns de figurinhas, revistas pornográficas e apostilas gozam
do benefício tributário.

1.12.2 – Papel destinado à impressão dos livros, jornais e periódicos.

Dos julgados do STF, é possível perceber que a Corte adota uma posição intermediária.

Maquinários, tintas, equipamentos a serem usados no parque gráfico, impressoras, dentre


outros, estão fora do âmbito de abrangência do dispositivo constitucional.

Por outro lado, itens que se assemelhem ao papel têm sido considerados como imunes
pelo STF, como é o caso dos filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e
periódicos.

Assentou-se, no entanto, que aparelhos multifuncionais, como tablets, smartphones e


laptops, não se enquadram nesse conceito, estando fora do âmbito de proteção da regra de
imunidade.

1.13 IMUNIDADE MUSICAL

Não são todos os fonogramas, videofonogramas, suportes materiais ou arquivos digitais


que se encontram abarcados pela regra de imunidade, tendo a Constituição a condicionado ao
preenchimento concomitante dos seguintes requisitos:

1º - Tenham sido produzidos no Brasil, ou seja, alcança tão somente os CDs, DVDs, e blue-
rays que foram aqui elaborados.

2º - Contenham obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral


interpretadas por artistas brasileiros.
AULA 03
1) SISTEMA TRIBUTÁRIO E DISCRIMINAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
1.1) CONCEITO DE TRIBUTO

No presente capítulo o objetivo é estudá-lo como uma relação jurídica, identificando os


elementos que lhe dão especificidade. Para tanto, focaremos no conceito legal de tributo, inserido
no artigo 3º do CTN:
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda
ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.

1.1.1) Prestação pecuniária em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir

Ao dispor que tributo é uma prestação pecuniária em moeda, o CTN indica que o objeto de
uma relação tributária deve ser uma quantia expressa em dinheiro.

No entanto, isso não significa que o pagamento dessa obrigação deva ser sempre realizado
em dinheiro.

Contudo, a satisfação da obrigação tributária deve ser realizada sempre por um dar, não
por um fazer ou por um não fazer.

1.1.2 Prestação compulsória

A relação jurídica de direito tributário decorre imediatamente da lei, ou seja, é uma


obrigação ex lege, e não uma obrigação ex contractus, criada por vontade livre e voluntária das
partes. Assim, a obrigação tributária nasce e o sujeito passivo se encontra vinculado a ela no
momento em que aquela situação descrita pela hipótese de incidência ocorre no mundo real.

1.1.3 Instituída em lei

Os tributos devem ser instituídos por meio de lei. Assim, todos os elementos da obrigação
tributária devem estar previstos em lei.

1.1.4 Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada

O CTN, ao afirmar que o tributo é cobrado mediante atividade administrativa plenamente


vinculada, afasta qualquer hipótese de discricionariedade na atividade dos agentes
administrativos, exigindo que a forma, conteúdo ou efeitos da atividade arrecadatória estejam
estritamente em consonância com aquilo que prevê a legislação.

1.1.5 Que não constitua sanção por ato ilícito

O entendimento majoritário é o primeiro, de que se pode tributar o resultado do ilícito. O


argumento é o de que, não fosse dessa forma, dar-se-ia tratamento privilegiado a quem exerce
atividades ilegais em detrimento dos contribuintes que empreendem uma atividade lícita, numa
nítida ofensa ao princípio da isonomia tributária.
CESPE/Advogado da União/2015
Acerca dos princípios constitucionais tributários, julgue o item
subsequente.
O princípio da isonomia tributária impõe que o tributo incida sobre as
atividades lícitas e, igualmente, sobre as ilícitas, de modo a se
consagrar a regra da interpretação objetiva do fato gerador. Dessa
forma, é legítima a cobrança de IPTU sobre imóvel construído
irregularmente, em área non aedificandi, não significando tal
cobrança de tributo concordância do poder público com a ocupação
irregular.
Comentários:
A afirmativa é verdadeira. Ofenderia ao princípio da isonomia cobrar
o IPTU dos contribuintes que cumprem com as disposições do plano
diretor e dispensar o pagamento no caso de contribuintes que
incorram em atos ilícitos.

1.2) REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

Texto normativo = dispositivos de leis espalhados pela legislação.

Norma jurídica = é uma construção mental, é a significação que se atribui ao texto.

1.2.1 Critérios do Antecedente

1.2.1.1 Critério Material

O critério material, no caso do exemplo do ITR, pode ser enunciado da seguinte forma: Ser
proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem imóvel.

1.2.1.2 Critério Espacial

No caso do ITR, o critério espacial é a zona rural.

1.2.1.3 Critério Temporal

No caso do ITR o critério temporal é o dia 1º de janeiro.

1.2.2 Critérios do Consequente

1.2.2.1 Critério Pessoal

No caso do ITR o sujeito ativo é a União. Os sujeitos passivos são os proprietários, ,


enfiteutas e possuidores dos imóveis rurais.

1.2.2.2 Critério Quantitativo

O critério quantitativo é formado pela base de cálculo e pela alíquota.

1.3) COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA E CAPACIDADE TRIBUTÁRIA ATIVA

1.3.1 Competência tributária: conceito e características

Competência tributária é a aptidão conferida pela Constituição Federal para editar normas
que instituam tributos. Apenas as entidades federativas – União, Estados, Distrito Federal e
Municípios - a possuem, conforme se extrai, dentre outros dispositivos, do artigo 145 da Carta
Constitucional:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em
razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou
potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de
melhoria, decorrente de obras públicas.

1ª) Facultatividade: as pessoas políticas são livres para criar ou não os tributos. A única
exceção é o ICMS.

Nessa perspectiva, a doutrina majoritária aponta que é inconstitucional o disposto no


artigo 11 da Lei 101/2000, que estabelece uma sanção às entidades federativas que não instituam
todos os tributos da sua competência:
Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na
gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os
tributos da competência constitucional do ente da Federação.
Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias
para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere
aos impostos.

O STF entende que o artigo 11, parágrafo único, da LEF, não é uma punição aos entes que
não instituam todos seus tributos, mas um incentivo legal para que todos o façam. Ademais, a
Corte pontuou que a vedação atinge apenas as transferências voluntárias, não se estendendo para
as transferências obrigatórias.

2ª) Indelegabilidade: a competência tributária é indelegável, não podendo ser atribuída a


terceiros. Ademais, o não exercício da competência tributária não a defere à pessoa jurídica de
direito público diversa daquela a que a Constituição a tenha atribuído.

3ª) Irrenunciabilidade: as entidades federativas não podem renunciar da sua competência


tributária.

4ª) Incaducabilidade: o não exercício da competência tributária não implica na decadência


do direito de exercê-la.

1.3.2 Capacidade Tributária Ativa

O caput do artigo 7º do CTN dispõe da seguinte forma:


Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das
funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis,
serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária,
conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos
termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.

Enquanto a competência tributária diz respeito à aptidão para instituir tributos, a


capacidade tributária ativa compreende a sua arrecadação ou fiscalização, ou seja, concerne a
quem ocupa o polo ativo da relação jurídica de direito tributário.

A capacidade tributária ativa é delegável.

Deve-se mencionar como exemplo as contribuições profissionais pagas ao CREA, CRC, CRM,
dentre outros, pagas pelos profissionais que exercem atividade fiscalizada por essas autarquias.
Tais contribuições foram instituídas pela União, que detém a competência tributária para tanto,
nos termos do artigo 149 da CF. A capacidade tributária ativa, no entanto, foi delegada a esses
conselhos profissionais, a quem compete exigir, fiscalizar e arrecadar as contribuições. Desse
modo, se um médico não pagar a anuidade ao CRM, compete a esta pessoa jurídica tomar as
providências necessárias à arrecadação dos valores, inclusive mediante o ajuizamento da ação de
execução fiscal.

Acerca da capacidade tributária ativa, dispõe o Código Tributário Nacional:


Art. 7º (...) § 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios
processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a
conferir.
§2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato
unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido.
§3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a
pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar
tributos.

Caso ocorra a delegação da capacidade tributária ativa, permanecem todas as garantias e


os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica de direito público detentora da
competência tributária.

A revogação da delegação da capacidade tributária ativa pode ser feita a qualquer tempo.

A imposição ao particular do encargo de arrecadar tributos não é a delegação da


capacidade tributária ativa.

1.3.3 Classificação das normas de competência tributária

1.3.3.1 Competência Privativa

A competência privativa abrange os impostos, empréstimos compulsórios e contribuições


especiais.

1.3.3.2 Competência Comum

A competência tributária comum diz respeito à aptidão que todas as entidades federativas
possuem de instituir taxas e contribuições de melhoria. O fundamento constitucional se encontra
no artigo 145, incisos II e III, da CF:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos: (...) II - taxas, em razão do
exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial,
de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte
ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

1.3.3.3 Competência Cumulativa

A competência cumulativa encontra supedâneo no artigo 147 da Constituição Federal:


Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos
estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios,
cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem
os impostos municipais.

Por força desse dispositivo, em existindo territórios federais, caberá à União Federal
instituir os impostos federais e estaduais e, se o território não for dividido em municípios, também
os impostos municipais.

1.3.3.4 Competência Residual


A doutrina alcunhou de competência residual a faculdade de que dispõe a União Federal
para instituir impostos e contribuições para a seguridade social cujas bases imponíveis não foram
expressamente designadas pela CF. O fundamento dessa competência repousa nos artigos 154,
inciso I, e 195, §4º, do texto constitucional. Comecemos pelo primeiro dispositivo:
Art. 154: A União poderá instituir: I - mediante lei complementar,
impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios
dos discriminados nesta Constituição;

Primeiro = instituição realizada por meio de lei complementar;

Segundo = novo imposto seja não cumulativo, ou seja, não cindida em feito cascata;

Terceiro = fato gerador ou base de cálculo desse novo imposto não seja idêntica a de
outros impostos discriminados pela CF.

1.3.3.5 Competência Extraordinária

A competência extraordinária se encontra prevista no artigo 154, inciso II, da CF:


Art. 154 CF: A União poderá instituir: II - na iminência ou no caso de
guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em
sua competência tributária, os quais serão suprimidos,
gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

Apenas a iminência ou a efetiva ocorrência de guerra externa é que pode ensejar a


instituição dessa exação; e que só pode vigorar no período de sua ocorrência, devendo cessar
gradativamente.

A CF não descreveu qual o fato gerador possível, tendo se limitado a dizer a situação que
justifica a sua instituição. Desse modo, segundo a doutrina majoritária, a União é livre para
compor a hipótese de incidência da norma impositiva do IEG, podendo eleger inclusive situações
que já compõe a hipótese de outros impostos.

Por fim, cabe fazer uma advertência: não há que se confundir o Imposto Extraordinário de
Guerra com o Empréstimo Compulsório para custeio de despesas extraordinárias de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência.

A primeira diferença é que se trata de espécies tributárias distintas.

A segunda decorre da primeira, porque nos empréstimos compulsórios os valores


arrecadados são posteriormente resgatados pelos contribuintes, o que incorre com relação aos
impostos.

A terceira diz respeito às situações que podem justificar a instituição de cada uma das
exações. No caso do IEG, apenas a guerra externa pode fundamentar a sua instituição, enquanto
nos empréstimos compulsórios a existência de calamidade pública também pode fundamentar o
exercício do poder de tributar.

A quarta diferença concerne ao veículo normativo adequado para instituição da exação. No


IEG, basta lei ordinária; nos empréstimos compulsórios, há a necessidade de lei complementar.

1.4) CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS

Chegamos às seguintes espécies tributárias:


i) Impostos, que são tributos não vinculados, não destinados e não restituíveis;

ii) Taxas, que são tributos diretamente vinculados e não restituíveis;

iii) Contribuições de melhoria, que são tributos indiretamente vinculados e não restituíveis;

iv) Empréstimos compulsórios, que podem ser vinculados (direta ou indiretamente) ou não
vinculados, são destinados e são restituíveis;

v) Contribuições especiais, que são tributos não vinculados, destinados e não restituíveis.

A adoção da teoria pentapartida influencia na compreensão do artigo 4º, inciso II, do


CTN17, que afirma que a destinação legal do produto da arrecadação é irrelevante para apuração
da natureza jurídica específica do tributo.

1.5) IMPOSTOS

1.5.1 Tributo não vinculado, não destinado e não restituível

Os impostos são tributos não vinculados. O artigo 16 do CTN assim dispõe expressamente:
Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma
situação independente de qualquer atividade estatal específica,
relativa ao contribuinte.

Impostos são tributos não destinados, ou seja, cujo produto da arrecadação não se
encontra afetado à promoção de finalidades específicas.

Padece de inconstitucionalidade eventual lei que, ao instituir ou majorar tributo, afete a


quantia arrecadada a determinado órgão, fundo ou despesa.

Os impostos não são restituíveis.

1.5.2 Exceções ao princípio da não afetação dos impostos

Há diversas exceções a essa regra, insculpidas no artigo 167, inciso IV, da Constituição
Federal:
Art. 167. São vedados: IV - a vinculação de receita de impostos a
órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da
arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a
destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde,
para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de
atividades da administração tributária, como determinado,
respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação
de garantias às operações de crédito por antecipação de receita,
previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;

É possível extrair desse dispositivo a existência das seguintes exceções ao princípio da não
afetação dos impostos:

1ª: Repartição constitucional do produto da arrecadação;

2ª: Destinação dos recursos para saúde;

3ª: Destinação para o desenvolvimento do ensino;

4ª: Destinação para realização de atividades da administração tributária;


5ª: Prestação de garantias às operações de créditos.

A vinculação das receitas para o desenvolvimento do ensino é disciplinada pelo artigo 212
da CF:
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino.

Por força desse dispositivo, a União deve aplicar, anualmente, nunca menos do que 18% da
receita de impostos; e os Estados, Distrito Federal e Municípios ao menos 25%.

A vinculação de impostos para prestação de garantias às operações de créditos e


pagamentos de débitos com a União se encontra detalhada no artigo 167, §4º, da Constituição
Federal:
Art. 167, §4º É permitida a vinculação das receitas a que se referem
os arts. 155, 156, 157, 158 e as alíneas "a", "b", "d" e "e" do inciso I e
o inciso II do caput do art. 159 desta Constituição para pagamento de
débitos com a União e para prestar-lhe garantia ou contragarantia.

Assim, é permitida a vinculação de IMPOSTOS para: i) prestação de garantia à União; ii)


prestação de contragarantia à União; iii) pagamento de débitos para com a União.

1.5.3 Classificação dos impostos

1.5.3.1 Impostos Pessoais e impostos reais

Impostos pessoais – levam em consideração circunstâncias subjetivas do contribuinte,


como é o caso do IR.

Impostos reais – abstraem condições jurídicas do contribuinte, como é o caso do IPVA.

1.5.3.2 Impostos Diretos e Impostos Indiretos

Impostos diretos – aqueles em que não haveria repasse do custo da tributação pelo
contribuinte.

Impostos indiretos – ônus da tributação seria repassado a terceiros.

OBS: A jurisprudência tem considerado como impostos indiretos o IPI, ICMS e ISSQN. Os demais
têm sido compreendidos como impostos diretos.

1.5.3.3 Impostos Fiscais e Impostos Extrafiscais

Impostos fiscais – cuja existência se justifica unicamente para fonte de arrecadação estatal.

Impostos extrafiscais – finalidade não é apenas a arrecadação, mas também o atingimento


de outros objetivos.

1.5.3.4 Impostos Progressivos, Proporcionais e Seletivos

Progressividade - a alíquota da tributação aumenta na medida em que ocorre um


incremento da base de cálculo.

Proporcionalidade - se multiplica uma alíquota única sobre uma base variável.


Seletividade - tributa-se de maneira mais intensa bens supérfluos em detrimento de bens
essenciais

1.5.4 Competência Tributária

Todas as entidades federativas possuem a aptidão para instituir impostos.

1.6) TAXAS

1.6.1 Tributo diretamente vinculado e não restituível

As taxas possuem 3 características:

1ª) Tributo diretamente vinculado, cuja hipótese de incidência é a realização de uma


atividade estatal. São dois os possíveis fatos geradores: i) prestação de um serviço público
específico e divisível; ii) o exercício do poder de polícia.

2ª) Tributo não restituível, que ingressa a título definitivo nos cofres públicos.

3ª) A divergência doutrinária se as taxas se enquadram na categoria dos tributos


destinados ou não. Em provas objetivas de concursos públicos, o candidato deve ter muita cautela
caso haja alguma alternativa que indague sobre o fato de as taxas serem ou não tributos
destinados. Em provas discursivas, o candidato deve expor a divergência doutrinária e se
posicionar criticamente acerca do tema.

1.6.2 Competência para instituição das taxas

Embora a competência para instituição de taxas seja comum, isso não significa afirmar que
as entidades federativas podem instituir taxas para o custeio de qualquer serviço público
específico ou divisível ou para o custeio de qualquer atividade fiscalizatória. Há a necessidade de
pertinência entre a atividade estatal e a competência da entidade federativa, conforme dispõe
expressamente o artigo 80 do CTN:
Art. 80. Para efeito de instituição e cobrança de taxas, consideram-se
compreendidas no âmbito das atribuições da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios, aquelas que, segundo a
Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas
do Distrito Federal e dos Municípios e a legislação com elas
compatível, competem a cada uma dessas pessoas de direito público.

1.6.3 Taxa de Polícia

Conforme dispõe o inciso II do artigo 145 da Constituição, uma das atividades que podem
ser custeadas por meio de taxa é o exercício do poder de polícia, cuja definição consta do artigo 78
do Código Tributário Nacional:
Art. 78: Considera-se poder de polícia a atividade da administração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou
liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do
Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e
os direitos individuais ou coletivos.
O poder de polícia administrativa é a competência para disciplinar o exercício da
autonomia privada para a realização de direitos fundamentais e da democracia, segundo os
princípios da legalidade e da proporcionalidade.

É, portanto, a atividade da administração pública que limita direitos individuais com o


objetivo de garantir o interesse público.

Há diversas taxas de polícia instituídas em decorrência de atividades fiscalizatórias.

O STF entende que é desnecessário que o contribuinte tenha sido efetivamente fiscalizado
para que fique sujeito à taxa, bastando que o Estado tenha aparato de fiscalização e que o
contribuinte esteja sujeito àquela.

1.6.4 Taxa de Serviço

O artigo 145, inciso II, da Constituição Federal, autoriza que as entidades federativas
instituam taxas “pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis
prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição”. É o que diz também o artigo 77 do CTN:
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas
atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de
polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público
específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua
disposição.

Portanto, tanto o texto constitucional quanto o artigo 77 do CTN indicam que não é todo o
serviço que pode ser custeado por meio de taxas, mas tão somente aqueles que sejam específicos
e divisíveis.

Três são os requisitos, se não presentes, afastam a possibilidade da cobrança de taxa,


devendo o custeio do serviço público geral ou genérico ser realizado por meio do produto da
arrecadação dos impostos.

1º) Ausência do caráter específico e divisível do serviço público que se reconhece a


inconstitucionalidade de taxas que pretendem custear o serviço de segurança pública;

2º) O mesmo ocorre com relação à limpeza urbana, serviço de inegável caráter genérico,
cujo custeio, por isso mesmo, não pode ser realizado por meio da cobrança de taxa;

3º) A impossibilidade da instituição de taxa para iluminação pública.

Por outro lado, o STF reconheceu a constitucionalidade da taxa de remoção e tratamento


ou destinação de lixo ou resíduos domiciliares (Taxa de lixo), por entender que, nessa hipótese, o
serviço se afigura específico e divisível, tendo como referência imóveis individualizados.

1.6.5 Base de cálculo das taxas

As taxas não podem ter a base de cálculo própria de impostos.

O STF firmou entendimento que, posteriormente, materializou-se na SV nº 29 no sentido


de ser constitucional a adoção, no cálculo do valor da taxa, de um ou mais elementos da base de
cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja identidade entre uma base e outra.
Por força dessa jurisprudência, nada impede que haja algum grau de semelhança entre a
base de cálculo do imposto e a base de cálculo da taxa, sendo apenas vedada a identidade total
entre uma base e a outra.

Resumindo, do exposto, é possível extrair as seguintes conclusões:

a) A base de cálculo tem como uma das suas funções afirmar ou infirmar o critério
material da exação;

b) A base de cálculo das taxas deve manter uma equivalência razoável com o custo
da atividade estatal;

c) As taxas não podem ter base de cálculo própria de impostos;

d) O Supremo Tribunal Federal tem entendimento consolidado no sentido de que é


constitucional a adoção, no cálculo do valor da taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo
própria de determinado imposto, desde que não haja identidade entre uma base e outra.

1.6.6 Taxas e preços públicos

As taxas quanto as tarifas são prestações pecuniárias pagas pelo beneficiário como
contrapartida a prestação de um serviço estatal. As taxas, por serem tributos, são instituídas por
meio de lei e devem integral obediência ao regime jurídico tributário. As tarifas são obrigações
assumidas voluntariamente, de caráter contratual, sendo a relação jurídica existente regulada pela
legislação específica, pelo Código Civil e pelo CDC.

Em conferência realizada no X Simpósio Nacional de Direito Tributário, o Ministro Moreira


Alves aprimorou esses critérios, apresentando a seguinte tese:

a) Serviços ínsitos à soberania, como o serviço judiciário, de emissão de passaporte, dentre


outros, são indelegáveis e somente podem ser cobrados mediante taxa;

b) Serviços públicos essenciais ao interesse público, como coleta de lixo, por exemplo,
também devem ser remunerados por meio de taxa, desde que a lei os considere como de
utilização obrigatória;

c) Serviços públicos não essenciais, em geral delegáveis, podem ser cobrados por meio de
tarifas, como é o caso do serviço postal e de distribuição de energia elétrica.

OBS 1: As taxas, diferentemente dos preços públicos, são compulsórias e condicionam-se ao


princípio da anterioridade.

OBS 2: As taxas devem ser instituídas por meio de lei, porque se aplica a elas o princípio da
legalidade. As tarifas, ao revés, podem ser aumentadas por ato infralegal.

OBS 3: Os preços são receitas originárias, enquanto as taxas são receitas derivadas por decorrerem
do poder de tributar.

AULA 04
1) SISTEMA TRIBUTÁRIO E DISCRIMINAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
1.1) CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

1.1.1 Tributo indiretamente vinculado e não restituível


Tributo indiretamente vinculado = pressupõem não apenas uma atividade estatal como
também a valorização imobiliária.

Tributo não restituível = o sujeito passivo não tem o direito de reaver os valores pagos.

A competência tributária é comum, ou seja, pode ser exercida por todas as entidades
federativas, conforme se observa o art.145, III, da CF:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos: III – contribuição de melhoria,
decorrente de obras públicas.

Diferentemente do que ocorre normalmente, há dois diplomas legais que estabelecem


normas gerais sobre essa espécie tributária: i) O Código Tributário Nacional, recepcionado por Lei
Complementar, em vigor desde 1º de janeiro de 1967; ii) O DL 195/67.

Como se trata de lei posterior, parte da doutrina entende que o DL 195/67 revogou o CTN.
No entanto, o STJ tem afirmado que ambos os diplomas legais convivem no ordenamento jurídico,
aplicando-se de maneira conjunta.

1.1.2 Fato Gerador

Pode ser extraído no art.81 do CTN e do art.1º do DL 195/67:


DL 195/67, Art 1º A Contribuição de Melhoria, prevista na
Constituição Federal tem como fato gerador o acréscimo do valor do
imóvel localizado nas áreas beneficiadas direta ou indiretamente por
obras públicas.

CTN, Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos


Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas
respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras
públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite
total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de
valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

Dois são os requisitos para que se possa exigir uma contribuição de melhoria:

i) Ocorrência de Obra Pública;

ii) Valorização imobiliária - a Jurisprudência se firmou no sentido da impossibilidade


da cobrança da exação antes da conclusão da obra. Também não encontra amparo legal a
instituição de contribuição de melhoria para custear obras de recapeamento asfáltico, se
não demonstrada a ocorrência da valorização imobiliária. Outra questão importante
concerne a quem tem o ônus de comprovar ou infirmar a existência da valorização
imobiliária. O STJ entende que cabe à administração pública a comprovação de que a obra
gerou um aumento positivo no valor do imóvel.

1.1.3 Requisitos

A legislação estabelece diversos requisitos que devem obrigatoriamente serem observados


para a válida instituição de uma contribuição de melhoria.

O artigo 82 do CTN traz várias dessas exigências:


Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os
seguintes requisitos mínimos:
I - publicação prévia dos seguintes elementos:
a) memorial descritivo do projeto;
b) orçamento do custo da obra;
c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela
contribuição;
d) delimitação da zona beneficiada;
e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização
para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela
contidas;
II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação
pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso
anterior;
III - regulamentação do processo administrativo de instrução e
julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem
prejuízo da sua apreciação judicial.

O Decreto-Lei 195/67 também regulamenta o assunto:


Art 5º Para cobrança da Contribuição de Melhoria, a Administração
competente deverá publicar o Edital, contendo, entre outros, os
seguintes elementos:
I - Delimitação das áreas direta e indiretamente beneficiadas e a
relação dos imóveis nelas compreendidos;
II - memorial descritivo do projeto;
III - orçamento total ou parcial do custo das obras;
IV - determinação da parcela do custo das obras a ser ressarcida pela
contribuição, com o correspondente plano de rateio entre os imóveis
beneficiados.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, também, aos
casos de cobrança da Contribuição de Melhoria por obras públicas
em execução, constantes de projetos ainda não concluídos.
Art 6º Os proprietários de imóveis situados nas zonas beneficiadas
pelas obras públicas tem o prazo de 30 (trinta) dias, a começar da
data da publicação do Edital referido no artigo 5º, para a
impugnação de qualquer dos elementos dele constantes, cabendo ao
impugnante o ônus da prova.

Ressalta-se que não há ilegalidade na inversão dessa ordem, mediante a realização da obra
previamente à publicação do edital e à instauração do processo administrativo.

Há jurisprudência nesse sentido, conforme se observa da ementa colacionada a seguir:


CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. A publicação prévia do edital é
necessária para cobrança da contribuição e não para realização da
obra.

1.1.4 Sujeito Passivo

Os entes da federação não podem figurar como sujeito passivo da contribuição de


melhoria, uma vez que esta só pode ser cobrada na valorização de imóveis particulares e não
imóveis públicos (art.2º, DL 195/67).

O contribuinte é o proprietário dos imóveis na época do lançamento tributário.

1.1.5 Base de Cálculo

O artigo 81 do CTN traz os limites que servem de baliza na exigência da contribuição de


melhoria:
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos
Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas
respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras
públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite
total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de
valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

O valor a ser cobrado possui dois limites: a) a despesa total gasta pelo Poder Público ao
realizar a obra; b) a valorização que beneficiou cada um dos imóveis isoladamente considerados.

1.2) EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO

1.2.1 Tributo Vinculado ou não vinculado, destinado e restituível

A CF deu à União a competência para instituir empréstimos compulsórios:


Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir
empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante
interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".

Com efeito, o empréstimo compulsório se enquadra no conceito de tributo trazido pelo


art.3º do CTN, tratando-se de: i) uma prestação pecuniária; ii) de caráter compulsório; iii) cuja
natureza é não sancionatória; iv) instituída por meio de lei; iv) cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada.

O empréstimo compulsório é uma espécie tributária autônoma, que possui as seguintes


características essenciais:

1ª: Trata-se de tributo que pode ser tanto vinculado como não vinculado, uma vez que a
Constituição Federal, no artigo 148, estabeleceu tão somente as finalidades para as quais eles
podem ser instituídos;

2ª: Trata-se de tributo destinado, o que significa afirmar que o produto da arrecadação
deve ser utilizado para o custeio das finalidades constitucionalmente estabelecidas;

3ª: É restituível, devendo a lei fixar obrigatoriamente o prazo do empréstimo e as


condições do seu resgate.

1.2.2 – Pressupostos Constitucionais

Apenas a União pode instituir empréstimos compulsórios e por meio de lei complementar.

Despesas extraordinárias - são aquelas absolutamente necessárias, após esgotados os


fundos públicos inclusive os de contingência.

Portanto, tratando-se de empréstimos compulsórios instituídos para atender a despesas


extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência, não há
que se falar na incidência do princípio da anterioridade.

Quanto ao inciso II, haveria observância ao princípio da anterioridade do exercício.


Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir
empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; - NÃO se
aplica o princípio da ANTERIORIDADE
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante
interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b". –
APLICA-SE o princípio da ANTERIORIDADE.

1.2.3 Fato Gerador

A Constituição Federal não disse quais as bases econômicas possíveis de serem tributadas
por um empréstimo compulsório, limitando a afirmar o que ou quais as situações que autorizam a
sua instituição.

Portanto, entende-se que o legislador é livre para escolher o fato impunível, podendo criar
um empréstimo compulsório que seja vinculado a uma atividade estatal ou um empréstimo
compulsório que não seja vinculado a uma atividade estatal.

1.2.4 Análise do parágrafo único


Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir
empréstimos compulsórios:
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de
empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou
sua instituição.

Os empréstimos compulsórios são tributos destinados, cujo produto da arrecadação se


encontra afetado a finalidades especificadas constitucionalmente.

1.2.5 Devolução dos valores pagos

O empréstimo compulsório tem como uma das suas características fundamentais a


restituibilidade, que garante aos contribuintes o direito de reaver a quantia paga no prazo
determinado e segundo as condições previstas pela lei complementar que instituiu a exação.

O empréstimo compulsório deve ser restituído em moeda – portanto, com o mesmo ativo
utilizado para pagá-lo – sob pena de inconstitucionalidade. O valor a ser devolvido deve ser
integral, o que significa afirmar que ele deve ser atualizado monetariamente.

1.3 CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS

1.3.1 Considerações Gerais

1.3.1.1 Tributo não vinculado, destinado e não restituível

Alguns doutrinadores se referem às contribuições especiais como “contribuições


parafiscais”, expressão que não adotaremos ao longo do capítulo.

A maior parte das contribuições são arrecadas pela própria entidade federativa, não
havendo que se falar em parafiscalidade, no sentido corrente do termo.

É possível encontrar questões de concurso que utilizam tanto o termo contribuições


especiais quanto o termo contribuições parafiscais.

São tributos não vinculados, porque possuem como hipótese de incidência um


comportamento desvinculado de qualquer atuação estatal.
São tributos destinados, porque afetados à realização de finalidades estatais específicas.
Assim, uma contribuição de intervenção no domínio econômico tem como finalidade justamente o
custeio da intervenção da União naquele determinado setor econômico.

Por fim, são tributos não restituíveis, porque ingressam a título definitivo no patrimônio do
poder público, não existindo direito à devolução.

1.3.1.2 Requisitos de validade

A doutrina identifica três requisitos específicos de validade com relação às contribuições.

I) O primeiro deles é o de que a finalidade constante da lei que instituiu a


contribuição deve ser compatível com a finalidade especificada pela norma atributiva de
competência tributária. O legislador não pode utilizar as contribuições especiais para promover
toda e qualquer finalidade.

II) O segundo é que a intervenção estatal, por meio das contribuições especiais,
deve ser necessária. A sua instituição não pode ser exercida senão na medida do estritamente
necessário à promoção desses objetivos. Se a desnecessidade existia no momento da edição da
contribuição, o caso é de inconstitucionalidade. Por outro lado, no caso de desnecessidade
superveniente, o que existe é uma revogação tácita da contribuição.

III) O terceiro é a chamada referibilidade das contribuições especiais, que é o liame


que deve existir entre a finalidade da contribuição e os sujeitos passivos que devem suportar o
encargo. Essa ideia, da existência da referibilidade, tem como pressuposto a conclusão de que
uma contribuição promove interesses concernentes a um grupo social ou econômico em
específico – e não de toda a coletividade – razão pela qual não podem ser incluídos no polo
passivo do tributo indivíduos que não possuam nenhuma relação com o objetivo a ser alcançado
com a intervenção estatal.

O Superior Tribunal de Justiça deu razão ao fisco, por entender que, no caso das
contribuições interventivas e sociais, bastaria uma relação indireta entre a atuação estatal e os
sujeitos passivos.
UEPA/2012/Procurador do Estado/Adaptada
Julgue o item a seguir:
No caso específico das contribuições sociais, não haverá juízo de
referibilidade a condicionar a posição de contribuinte, já que o art.
195 da Constituição determinou o seu custeio por toda a sociedade.
CERTO, O enunciado está se referindo às contribuições para
seguridade social, em razão de fazer remissão ao artigo 195 da
Constituição Federal. Nesse sentido, como dissemos, para parte da
doutrina inexiste realmente o requisito da referibilidade, em razão de
a seguridade social “ser financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta”.

1.3.1.3 Classificação das Contribuições

As contribuições especiais podem ser classificadas da seguinte forma: a) sociais (gerais/


para a seguridade social/ previdenciárias/ constitucionalizadas); b) intervenção no domínio
econômico; c) corporativas e d) contribuição de iluminação pública.
As contribuições sociais podem ser divididas em: i) contribuições sociais gerais; ii)
contribuições para a seguridade social; iii) contribuições previdenciárias; iv) contribuições
constitucionalizadas.

As contribuições sociais gerais têm fulcro no art. 149 da CF. As contribuições para
seguridade social, por sua vez, têm como normas atributivas de competência o inciso I, alíneas b e
c, inciso III, inciso IV, §4º e §8 do artigo 195 da CF.

Por fim, existem as contribuições constitucionalizadas por terem origem em leis anteriores
à CF. São exemplos o salário educação, o fundamento é o art. 212, §5º; no caso da contribuição ao
PIS/PASEP, o art. 239; no caso das contribuições ao SESC, SENAC, SESI e SENAI, o art. 240 da CF.

As CIDEs, foram divididas em gerais e inominadas. As gerais são aquelas que possuem
como fundamento a norma geral prevista no art. 149 da CF; a nominada diz respeito à CIDE-
Combustível, cuja norma de competência é o art. 177, §4º, da CF.

As contribuições corporativas se encontram previstas no art. 149 da CF, e podem ser


classificadas em contribuições de interesse de categorias profissionais e contribuições de interesse
de categorias econômicas.

A contribuição de iluminação pública tem como suporte o artigo 149-A da CF.

1.3.1.4 Instrumento legislativo para instituição das contribuições especiais

As contribuições especiais, regra geral, não são submetidas à reserva de Lei Complementar.
Assim, a instituição dessas contribuições pode ser realizada por mera lei ordinária.

Há, contudo, uma exceção: Trata-se das contribuições residuais para a seguridade social,
cujo suporte constitucional é o art. 195, §4º:
Art. 195, §4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir
a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o
disposto no art. 154, I.
Art. 154. A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, (...)

1.3.1.5 Disposições comuns às contribuições sociais e às contribuições de intervenção no


domínio econômico

O inciso I estabelece regra de imunidade incidente sobre as receitas decorrentes de


exportação. Portanto, qualquer contribuição social ou de intervenção no domínio econômico que
tenha como fato gerador a receita não pode incidir sobre aquelas receitas que resultaram de
operações destinadas ao exterior.

Esse raciocínio se aplica tanto quando a exportação é realizada de maneira direta pela
própria pessoa jurídica como quando ela é realizada de maneira indireta, ou seja, por intermédio
de trading company ou Empresa Comercial Exportadora. Foi o que decidiu o STF.

Por outro lado, nada impede que haja a cobrança sobre o lucro decorrente de operações
destinadas ao exterior. Em razão dessa circunstância, não há que se falar na incidência dessa
imunidade no caso da CSLL.

O inciso II, por outro lado, enuncia que essas contribuições podem incidir na importação de
produtos e serviços estrangeiros.
O inciso III utiliza o verbo poder. Assim, o texto utiliza esse termo não para designar que
outras bases econômicas além daquelas mencionadas podem ser tributadas, mas para aludir ao
fato de que a tributação daquelas bases às quais a Constituição faz referência é uma faculdade, e
não uma obrigação.

Em 2020, o STF considerou que a Emenda Constitucional de nº 33/2001 "não estabeleceu


uma delimitação exaustiva das bases econômicas passíveis de tributação por toda e qualquer
contribuição social e intervenção no domínio econômico”, ou seja, não é um rol exaustivo.

1.3.2 Contribuições Sociais

1.3.2.1 Contribuições Sociais Gerais

Instituídas com base no artigo 149 da CF, que dispõe da seguinte forma:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
O conteúdo promovido através de uma contribuição social deve ser buscado no capítulo
atinente à ordem social. Assim, por exemplo, enquadra-se nesse conceito a atuação estatal nas
áreas da educação, cultura e meio ambiente.

1.3.2.2 Contribuições para a Seguridade Social

Encontram-se no art.194 da CF:


Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de
ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.

Portanto, a seguridade social engloba saúde, previdência social e assistência social, motivo
pelo qual as contribuições para seguridade social devem ter como finalidade angariar recursos
para o financiamento desses setores.

Por uma questão didática, optamos por distinguir as contribuições para a seguridade social
das contribuições previdenciárias, em razão destas últimas terem como única finalidade o custeio
do RGPS.

Relembremos que não há equívoco em reuni-las em uma só categoria. A diferença é que,


ao separá-las, conseguimos identificar melhor a finalidade de cada uma delas.

1.3.2.2.1 Contribuições Nominadas de Seguridade Social

As bases econômicas foram definidas pela CF:


Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a
ele equiparar.
§8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o
pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam
suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados
permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a
aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da
produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.

Contribuição dos Segurados Especiais:


Art. 195, § 8º, CF: O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário
rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que
exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem
empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social
mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da
lei.

O texto constitucional criou contribuição diferenciada para os segurados especiais,


qualificados como sendo aqueles que se dedicam ao trabalho rural ou à pesca artesanal, desde
que o façam em regime de economia familiar, sem empregados permanentes.

Quanto a esses segurados, a contribuição previdenciária não incide sobre o salário-de-


contribuição, mas no percentual de 1,3% sobre o valor bruto da comercialização da sua produção.

1.3.2.2.2 Contribuições Residuais para a Seguridade Social

A competência para instituí-las encontra-se no art. 195, CF:


Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto
no art. 154, I.
Art. 154: A União poderá instituir: I - mediante lei complementar,
impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios
dos discriminados nesta Constituição;

A União pode instituir contribuições residuais para a seguridade social, desde que: i) por
meio de lei complementar; ii) a nova contribuição seja não cumulativa; iii) não haja coincidência
entre o seu fato gerador ou a sua base de cálculo com a hipótese de incidência de outras
contribuições.

Quanto a esse último requisito, como o artigo 195, §4º, faz alusão ao artigo 154, inciso I,
havia divergência sobre se a não coincidência do fato gerador seria com relação aos impostos ou
se seria com relação às contribuições, tendo o STF, no entanto, pacificado a discussão, ao afirmar
que o parâmetro são as demais contribuições. Desse modo, nada impede a criação de uma nova
contribuição residual para a seguridade social que tenha como hipótese de incidência uma
conduta idêntica à prevista para um imposto.

1.3.3 Contribuições Previdenciárias


Devem ser destinados exclusivamente para o custeio do RGPS, sendo vedada a destinação
para outras áreas, mesmo que pertencentes à seguridade social, como saúde e assistência social.
Art. 167. São vedados: XI - a utilização dos recursos provenientes das
contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a
realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do
regime geral de previdência social de que trata o art. 201.

Ressalta-se que também existem as contribuições para o RPPS. Os tributos angariados para
a manutenção desses regimes também não podem ser utilizados para a realização de despesas
distintas do pagamento de benefícios previdenciários.

1.3.3.1 Contribuições do Regime Geral

Não são todas as verbas que podem ser tributadas, mas tão somente aquelas que sejam
remuneratórias ou contraprestacionais. Assim, verbas indenizatórias não podem ensejar a
cobrança de contribuição previdenciária.

Incide contribuição para o RGPS:

- 1/3 de férias;

- Hora extra;

- Adicional Noturno;

- Adicional de Periculosidade;

- Férias gozadas.

A hipótese de incidência da contribuição é o pagamento, a dívida ou o creditamento, a


qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe
prestem serviços.

O sujeito ativo é a União Federal; o sujeito passivo é o empregador, empresa ou entidade


equiparada.

A base de cálculo é o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer


título, durante o mês; e a alíquota é, regra geral, de 20%.

Além da contribuição, as empresas também devem recolher um adicional, SAT (seguro de


acidente do trabalho) ou RAT (risco ambiental do trabalho), cujo objetivo é angariar recursos para
custear as aposentadorias especiais e os benefícios decorrentes de incapacidade laborativa. Não
se trata de uma contribuição autônoma, mas de uma parte variável da contribuição das empresas
sobre a remuneração de empregados e avulsos.

Encerradas as linhas gerais acerca da contribuição do empregador, passamos agora a


analisar a segunda fonte de custeio que deve ser exclusivamente utilizada no pagamento dos
benefícios do regime geral da previdência social. Referimo-nos ao inciso II do artigo 195 da CF, que
dispõe da seguinte forma:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,
podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor
do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência
Social;

Esse dispositivo autoriza a União a cobrar contribuição de todos os segurados da


previdência social. Assim, quer se trate de empregado, empregado doméstico, contribuinte
individual ou trabalhador avulso, existe regra constitucional que autoriza a cobrança de
contribuição para o custeio do regime previdenciário.

Por outro lado, essa mesma regra trouxe hipótese de imunidade, que impede a instituição
de contribuição sobre aposentadorias e pensões concedidas pelo regime geral da previdência
social.

1.3.3.2 Contribuições do Regime Próprio

A Emenda Constitucional nº 103/2019 alterou o dispositivo, que passou a ter a redação a


seguir:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
§1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão,
por meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de
previdência social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e
dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo
com o valor da base de contribuição ou dos proventos de
aposentadoria e de pensões.
§1º-A. Quando houver déficit atuarial, a contribuição ordinária dos
aposentados e pensionistas poderá incidir sobre o valor dos
proventos de aposentadoria e de pensões que supere o salário-
mínimo.
§1º-B. Demonstrada a insuficiência da medida prevista no § 1º-A
para equacionar o déficit atuarial, é facultada a instituição de
contribuição extraordinária, no âmbito da União, dos servidores
públicos ativos, dos aposentados e dos pensionistas.
§1º-C. A contribuição extraordinária de que trata o § 1º-B deverá ser
instituída simultaneamente com outras medidas para
equacionamento do déficit e vigorará por período determinado,
contado da data de sua instituição.

Fica permitido que as pensões e aposentadorias que superem o salário-mínimo também


sejam tributadas, desde que comprovado pela entidade federativa a existência de déficit atuarial
do RPPS.

O §1º-B do artigo 149, criou uma regra de competência para a União, cujo exercício
depende da demonstração de dois requisitos: primeiro, da existência de déficit atuarial do RPPS;
segundo, da insuficiência, para superação do déficit, da tributação das pensões e aposentadorias
que superem o valor de um salário-mínimo. Preenchidos tais pressupostos, faz-se possível a
instituição de uma contribuição extraordinária, a ser editada por meio de lei. Tal contribuição deve
subsistir até o equacionamento do déficit, devendo vigorar por período determinado. O período
máximo é de 20 anos.

1.3.4 Contribuições Constitucionalizadas

Dentro das contribuições sociais, incluem-se as contribuições constitucionalizadas que


existiam antes da CF e que foram por ela recepcionadas em dispositivos específicos.

É o caso do salário-educação, do art. 212 do texto constitucional:


Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino.
§5º A educação básica pública terá como fonte adicional de
financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida
pelas empresas na forma da lei.

O PIS/PASEP também foi abarcado pela Constituição, encontrando suporte de validade no


artigo 239:
Art. 239. A arrecadação decorrente das contribuições para o
Programa de Integração Social, criado pela Lei Complementar nº 7,
de 7 de setembro de 1970, e para o Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público, criado pela Lei Complementar nº 8,
de 3 de dezembro de 1970, passa, a partir da promulgação desta
Constituição, a financiar, nos termos que a lei dispuser, o programa
do seguro-desemprego e o abono de que trata o § 3º deste artigo.

Por fim, esse também foi o caso das contribuições para o SESC, SENAC, SESI e SENAI,
conforme se observa do conteúdo do artigo 240:
Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais
contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de
salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de
formação profissional vinculadas ao sistema sindical.

1.3.5 Contribuições de Intervenção no domínio econômico

As CIDEs, podem ser instituídas para financiar a intervenção da União Federal em um


determinado segmento da ordem econômica, para promover um dos objetivos elencados pelo
artigo 170 da CF.

É possível separar as contribuições de intervenção no domínio econômico em gerais e


nominada. As gerais são instituídas com base na competência genérica estabelecida pelo artigo
149 da Constituição. A contribuição nominada é a CIDE-Combustível, cujo suporte repousa no
artigo 177 da CF:
Art. 177. Constituem monopólio da União: §4º A lei que instituir
contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às
atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus
derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá
atender aos seguintes requisitos:

Essa contribuição foi instituída por meio da Lei 10.336/2001:


Art. 1 Fica instituída a Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de
petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool
etílico combustível (Cide), a que se refere os arts. 149 e 177 da
Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda
Constitucional no 33, de 11 de dezembro de 2001.
§ 1o O produto da arrecadação da Cide será destinada, na forma da
lei orçamentária, ao:
I - pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool
combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de
petróleo;
II - financiamento de projetos ambientais relacionados com a
indústria do petróleo e do gás; e
III - financiamento de programas de infraestrutura de transportes.

A CIDE-Combustível tem como hipótese de incidência as operações de comercialização e


importação dos combustíveis. São contribuintes da CIDE-Combustível o produtor, o formulador e o
importador, pessoa física ou jurídica, dos combustíveis líquidos. O sujeito ativo da contribuição é a
União.

1.3.6 Contribuições Corporativas

As contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas encontram


previsão no artigo 149 da Constituição Federal:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,
III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Exemplos de contribuições são aquelas destinadas aos conselhos de fiscalização de


profissões, que são partes integrantes da administração pública indireta na condição de
autarquias, como o conselho de medicina, o conselho de arquitetura, etc.

Por se tratar de tributos, há a necessidade de observância dos princípios e limitações


constitucionais ao poder de tributar.

Por esse motivo, o STF reconheceu a inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei 11.000/04,


que autorizava que essas entidades fixassem o valor das contribuições anuais.

Diante disso, aplica-se a Lei 12.514/11, que dispõe no seguinte sentido:


Art. 3 As disposições aplicáveis para valores devidos a conselhos
profissionais, quando não existir disposição a respeito em lei
específica, são as constantes desta Lei.
Parágrafo único. Aplica-se esta Lei também aos conselhos
profissionais quando lei específica:
I - estabelecer a cobrança de valores expressos em moeda ou unidade
de referência não mais existente;
II - não especificar valores, mas delegar a fixação para o próprio
conselho.
Art. 6 As anuidades cobradas pelo conselho serão no valor de:
I - para profissionais de nível superior: até R$ 500,00;
II - para profissionais de nível técnico: até R$ 250,00); e
III - para pessoas jurídicas, conforme o capital social, os seguintes
valores máximos: [...]

Como se observa, a lei não fixou o valor da anuidade, mas estabeleceu apenas um teto.

Outro caso é o pagamento da contribuição sindical que, ao tornar voluntário o pagamento


das contribuições, a Lei retirou-lhe o caráter tributário, não há mais que se falar em contribuição
sindical como tributo.

1.3.7 Contribuição de Iluminação Pública – CIP ou COSIP

Quando do estudo das taxas, fizemos referência à jurisprudência pacífica do STF no sentido
da impossibilidade da instituição de taxa para o custeio do serviço de iluminação pública, que mais
tarde se materializou na Súmula Vinculante de nº 41.

O Congresso Nacional editou a EC nº39, que inseriu o artigo 149-A ao texto CF, para
autorizar os municípios a instituírem contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública.

O STF firmou jurisprudência no sentido da possibilidade de os recursos angariados com a


contribuição serem utilizados tanto para as despesas de execução e manutenção do serviço de
iluminação pública quanto para cobrir os custos decorrentes da expansão da rede.

Tese de Repercussão Geral, Tema 696: É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por
meio de contribuição para o custeio da iluminação pública na expansão e aprimoramento da rede.

2)REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS


Não é toda a arrecadação de tributos realizada pela União e pelos Estados-Membros que
ficam com essas entidades federativas. Parte do que é arrecadado deve ser repartido, ou com
outras entidades federativas ou através de fundos previstos constitucionalmente.

2.1 TRANSFERÊNCIAS DIRETAS

2.1.1 Transferências diretas da União para os Estados e Distrito Federal

União transfere para Estado e DF: a) 100% do IR incidente na fonte; b) 30% do IOF-Ouro; c)
20% dos Impostos Residuais e d) 29% do CIDE-Combustível.

2.1.2 Transferências diretas da União para os Municípios

União transfere para os Municípios: a) 100% do IR na fonte; b) 70% do IOF-Ouro e c) 50%


do ITR ou 100% do ITR se o Município fiscalizar e cobrar.

2.1.3 Transferências diretas dos Estados para os Municípios

Estado transfere para os Municípios: a) 50% do IPVA; b) 25% do ICMS e c) 25% do que o
Estado recebe da União de CIDE-Combustível, ou seja, 7,25%.

2.2 TRANSFERÊNCIAS INDIRETAS

São as transferências realizadas através de fundos constitucionalmente previstos.

- Fundo de Participação dos Estados e do DF = 21,5% da arrecadação do IPI e do IR.

- Fundo de Participação dos Municípios = a) 22,5% da arrecadação do IPI e do IR; b) 1% da


arrecadação do IPI e IR entregues até o primeiro decêndio do mês de dezembro e c) 1% da
arrecadação do IPI e IR entregues até o primeiro decêndio do mês de julho.
- Fundo destinados às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste = 3% da arrecadação do IR e
IPI, ficando assegurada ao semiárido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região do
Nordeste.

- Fundo de Compensação de Exportações = 10% da arrecadação do IPI aos Estados e DF,


proporcionalmente ao valor das respectivas exportações, limitada a participação de cada ente a
20%. Desses valores, 25% devem ser destinados aos Municípios.

Como se observa, 49% do IPI e 49% do IR – excluído o montante de transferência do IRPF


que analisamos nos tópicos anteriores – destinam-se à composição de três fundos constitucionais:
o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal, o Fundo de Participação dos Municípios
e os Fundos das regiões norte, nordeste e centro-oeste.

Além disso, do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializados, 10%


devem ser destinados aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das
respectivas exportações de produtos industrializados, através do Fundo de Compensação de
Exportações.

Como forma de evitar que Estados mais desenvolvidos se beneficiassem da sistemática, a


Constituição estabeleceu um teto de 20% do total do fundo:
Art. 159, §2º A nenhuma unidade federada poderá ser destinada
parcela superior a vinte por cento do montante a que se refere o
inciso II, devendo o eventual excedente ser distribuído entre os
demais participantes, mantido, em relação a esses, o critério de
partilha nele estabelecido.

Assim, nenhum Estado, por maior que seja o seu volume de exportações, pode receber
mais do que 20% do total dos valores que formam o fundo de compensação de exportações.

No entanto, os valores recebidos através do fundo não se incorporam integralmente ao


patrimônio dos Estados, porque os municípios fazem jus a 25% dessa quantia:
Art. 159, §3º Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte
e cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II,
observados os critérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e
II.

AULA 05
1) FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO
A doutrina tradicional classifica as fontes do direito em fontes materiais e fontes formais.
As fontes materiais são aquelas situações fáticas que provocam a deflagração do processo
legislativo. No âmbito do Direito Tributário, podemos citar como exemplos de fontes materiais a
existência de déficit fiscal, o advento de uma crise econômica e a proximidade de uma eleição.
As fontes formais são aqueles veículos jurídicos por meio dos quais se pode encontrar
regras jurídicas que proíbem, obrigam e permitem alguém a dar, fazer ou não fazer alguma coisa.
A CF, a lei ordinária e a lei complementar são exemplos de fontes formais.
Por fontes formais primárias se entende aqueles veículos normativos que podem inovar na
ordem jurídica, criando direitos e obrigações; por fontes formais secundárias aqueles outros cuja
função é regulamentar obrigações ou direitos preexistentes.
1.1) FONTES PRIMÁRIAS
1.1.1 Constituição Federal e Emenda â Constituição Federal
Ocupam o mais alto grau de hierarquia, sendo o fundamento de validade das demais
normas de Direito Tributário existentes no ordenamento. Também possuem essa hierarquia as
Emendas à Constituição. Ressalta-se que uma Emenda Constitucional não pode alterar uma
cláusula pétrea.
1.1.2 Lei Complementar
A lei complementar desempenha funções típicas e funções atípicas no Direito Tributário.
As funções típicas se encontram elencadas no art. 146 da CF:
Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de
competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o DF e
os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de
tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre:[...]

Corrente tricotômica sustenta competir à lei complementar dispor sobre conflitos de


competência em matéria tributária (inciso I), regular as limitações constitucionais ao poder de
tributar (inciso II) e estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária (inciso III). O
fundamento dessa interpretação repousa na literalidade do dispositivo – que arrola três incisos.
Ademais, fundamenta-se na afirmação de que essa conclusão não implica em ofensa ao princípio
federativo, uma vez que o grau de autonomia dos estados e dos municípios não existe de maneira
prévia ao texto constitucional, sendo o resultado da incidência dos diversos dispositivos que
disciplinam a competência e a interação entre eles.

Para concursos público, recomenda-se a adoção da corrente tricotômica.

Importante mencionar o entendimento em tese de Repercussão geral do STF o qual diz:


Tese nº 32: Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar
previstos em lei complementar.

O inciso III do artigo 146 da CF, por sua vez, dispõe da seguinte forma:
Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais em
matéria de legislação tributária, especialmente sobre[...]:

A alínea a do inciso III afirma competir à lei complementar a “definição de tributos e de


suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos
respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes”.

Como se pode observar, a alínea a atribuiu duas tarefas ao legislador complementar: i)


definir os tributos e suas espécies; ii) definir os geradores, bases de cálculo e contribuintes dos
impostos discriminados na Constituição.

A segunda tarefa impõe que a lei complementar defina o arquétipo de cada um dos
impostos previstos pela Constituição, indicando os fatos geradores – critérios material, espacial e
temporal – as bases de cálculo e os contribuintes que podem ser eleitos pela legislação ordinária
de cada entidade federativa. Vale ressaltar que essa exigência se refere apenas aos impostos e não
às demais espécies tributárias.
FUNDEP/Auditor-Conselheiro Substituto/2018/Adaptada
Julgue o item a seguir: Cabe à lei complementar estabelecer normas
gerais em matéria de legislação tributária, inclusive no que se refere
à definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos e as taxas, os respectivos fatos geradores, bases de cálculo
e contribuintes. ERRADO, pois a lei complementar tem como função
definir os fatos geradores apenas dos impostos.

O Supremo firmou entendimento de que os Estados podem exercer a competência


legislativa plena até que seja editada lei complementar que disponha sobre o tema. Portanto, há a
possibilidade de cobrança do IPVA e do ITCMD, não existindo vício de inconstitucionalidade no
exercício da competência tributária.

Questão mais complexa diz respeito à tributação pelo ITCMD nas seguintes hipóteses: a) se
o doador tiver domicílio ou residência no exterior; b) se o de cujus possuía bens, era residente ou
domiciliado ou teve seu inventário processado no exterior. Nesses dois casos, a Constituição exigiu
de maneira específica que a questão fosse regulamentada por meio de lei complementar,
conforme o art. 155, §1º, III.

A ausência dessa lei complementar impede a instituição do ITCMD do inciso III até que seja
editada lei complementar sobre o tema.

Com relação ao ICMS, dispõe o artigo 155, §2º, inciso XII:


§2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
XII - cabe à lei complementar:
a) definir seus contribuintes;
b) dispor sobre substituição tributária;
c) disciplinar o regime de compensação do imposto;
d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento
responsável, o local das operações relativas à circulação de
mercadorias e das prestações de serviços;
e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior,
serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso X, "a";
f) prever casos de manutenção de crédito, relativamente à remessa
para outro Estado e exportação para o exterior, de serviços e de
mercadorias;
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do
Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão
concedidos e revogados.
h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o imposto
incidirá uma única vez, qualquer que seja a sua finalidade, hipótese
em que não se aplicará o disposto no inciso X, b;
i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a
integre, também na importação do exterior de bem, mercadoria ou
serviço.

Quanto ao ISSQN, cabe à lei complementar definir os serviços de qualquer natureza, fixar
suas alíquotas máximas e mínimas, excluir da sua incidência exportações de serviços para o
exterior e regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios são concedidos
ou revogados, conforme art. 156, §3º da CF.

A alínea b, do inciso III, do art. 146 da Constituição, dispõe que compete à lei
complementar estabelecer normas gerais sobre “obrigação, lançamento, crédito, prescrição e
decadência tributários”. Essas matérias atualmente são reguladas pelo CTN, que traz disposições
gerais acerca de cada um desses institutos. Eventual lei ordinária que contrarie as disposições do
CTN ofende o art. 146 da Constituição, não podendo subsistir.

Foi o que ocorreu, como por exemplo, com o art. 2º, §3º, da Lei 6.830/80, que estabelece
que a inscrição em dívida ativa suspende a prescrição pelo prazo de 180 dias ou até a distribuição
da execução fiscal se esta ocorrer antes de findo aquele prazo. Como inexiste hipótese semelhante
a essa no CTN, deve-se restringir a aplicação do dispositivo aos créditos não-tributários.

A alínea c, do art. 146, III da CF dispõe que compete à lei complementar estabelecer
normas sobre “adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades
cooperativas”. Até o presente momento, não foi editada lei complementar sobre o tema,
aplicando-se o tratamento previsto nas leis ordinárias instituidoras de cada tributo8. É o que tem
entendido o Supremo.

A alínea d, por sua vez, permite à lei complementar definir um tratamento diferenciado e
favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte. Foi o que sucedeu com a
edição da Lei Complementar 123/2006, que criou o Simples Nacional.

Por fim, além dessas funções típicas, cabe à lei complementar instituir os tributos em que a
Constituição expressamente exigiu a utilização desse veículo normativo. São eles:

a) Empréstimos Compulsórios:
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir
empréstimos compulsórios.

b) Imposto sobre Grande Fortunas:


Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: VII - grandes
fortunas, nos termos de lei complementar.

c) Impostos Residuais:
Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar,
impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios
dos discriminados nesta Constituição.

d) Contribuições para Seguridade Social Residuais:


Art. 195, § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a
garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido
o disposto no art. 154, I.

1.1.3 Lei Ordinária

Como regra geral, a lei complementar estabelece a moldura que deve ser observada pelo
legislador ordinário quando da edição da norma imponível.

Além de instituir tributos, a lei ordinária pode dispor sobre Direito Tributário de maneira
ampla, desde que respeitados os limites estabelecidos pela Constituição Federal e pelas normas
gerais veiculadas por meio de lei complementar.

Assim, por exemplo, o artigo 151, inciso VI, do CTN, estabelece que suspende a
exigibilidade do crédito tributário o parcelamento. No entanto, essa regra não autoriza por si só o
pagamento parcelado de tributos, porque há a necessidade de a pessoa jurídica competente
editar uma lei ordinária que autorize essa possibilidade.
Portanto, embora a função mais evidente da lei ordinária seja instituir os tributos, não é a
única desempenhada por esse veículo normativo no Direito Tributário.

1.1.4 Medida Provisória

A Constituição autoriza ao Presidente da República editar medida provisória em caso de


relevância e urgência, devendo submetê-las de imediato ao Congresso.

Nada impede que seja utilizada a medida provisória também no âmbito do Direito
Tributário. Essa situação é possível inclusive para instituição ou majoração de tributos, conforme
jurisprudência do STF.

Contudo, não é possível a utilização de medida provisória para regulamentar as matérias


reservadas à lei complementar, conforme vedação do artigo 62, §1º, inciso III, da Constituição:
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: III –
reservada a lei complementar;

1.1.5 Tratados e Convenções Internacionais


VUNESP/Advogado/2009/Adaptada
Julgue o item a seguir: I. Os tratados e as convenções internacionais
revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão
observados pela que lhes sobrevenha. CERTO, art.98 do CTN.

MP Concursos/Auditor Público Externo/2011


Segundo o Código Tributário Nacional, os tratados e convenções
internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna,
e serão observados pela que lhes sobrevenha. Conforme a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os tratados
internacionais que versem sobre matéria tributária têm hierarquia de
lei ordinária.

Cumpre pontuar que um tratado internacional pode conceder isenções de tributos


estaduais ou municipais sem que se possa falar de ofensa ao princípio da vedação das isenções
heterônomas.

1.1.6 Lei Delegada

No Direito Tributário deve-se aceitar a possibilidade de utilização de lei delegada, sem que
se possa falar de ofensa ao princípio da legalidade.

Contudo, os tributos que devem ser instituídos por meio de lei complementar não podem
sofrer a regulamentação através de lei delegada.

1.1.7 Resolução

Do ponto de vista do Direito Tributário, as resoluções assumem importância na


regulamentação do ICMS, IPVA e ITCMD, todos impostos estaduais.

Quanto ao ICMS, o artigo 155, §2º, inciso IV, dispõe que “resolução do Senado Federal, de
iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria
absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações,
interestaduais e de exportação”.
Quanto ao ITCMD compete ao Senado Federal fixar suas alíquotas máximas, o que é feito
através de Resolução.

No que tange ao IPVA, compete ao Senado Federal fixar suas alíquotas mínimas.

1.2 FONTES FORMAIS SECUNDÁRIAS

1.2.1 Decretos Regulamentares


Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV -
sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execução;

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - sustar


os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

Além disso, se provocado por algum interessado, o Poder Judiciário também deve intervir
para reconhecer a ilegalidade do ato editado pelo Presidente da República.

1.2.2 Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas


Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das
convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos
expedidos pelas autoridades administrativas;

Portanto, por força desse dispositivo, complementam as leis e também os decretos


regulamentares os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas.

1.2.3 Decisões com eficácia normativa

São normas complementares das leis, dos tratados, das convenções internacionais e dos
decretos “as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei
atribua eficácia normativa”.

Órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa são aqueles órgãos aos quais
competem resolver, no âmbito da administração pública, as controvérsias acerca do Direito
Tributário.

A decisão dos órgãos administrativos não vincula o Poder Judiciário. Portanto, ainda que a
administração pública tenha pautado sua atuação com base na jurisprudência dos tribunais
administrativos, nada impede que o contribuinte ingresse com ação judicial questionando a
legalidade da interpretação dada pela administração pública, e que o Poder Judiciário venha a
efetivamente dar razão ao seu pleito.

1.2.4 Convênios celebrados pelas entidades impositoras

A possibilidade de as entidades federativas realizarem convênios entre si decorre de


expressa disposição constitucional:
Artigo 37 [...] XXII - as administrações tributárias da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao
funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras
específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas
atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o
compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da
lei ou convênio.
Quando celebrados, esses convênios assumem a forma de normas complementares.

2) LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
2.1 CONCEITO DE LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
A relevância dessa informação decorre do fato de o CTN ter utilizado o termo legislação
tributária 25 vezes ao longo do seu texto, na pressuposição de que a expressão deve ser
interpretada no sentido apontado pelo artigo 96. Assim, é importante que o intérprete tenha em
mente a distinção entre legislação tributária e lei, sob pena de incorrer em equívoco
interpretativo.
Desse modo, por exemplo, quando o §2º, do artigo 113, afirma que “A obrigação acessória
decorre da legislação tributária”, está afirmando que o nascimento de uma obrigação acessória
pode decorrer da incidência de uma norma prevista por um ato infralegal. Quando, no entanto, o
inciso I do artigo 97 do CTN afirma que “somente a lei pode estabelecer a instituição de tributos,
ou sua extinção”, está afirmando que essa matéria está sujeita à reserva de lei em sentido estrito,
não podendo ser veiculada por meio de um ato infralegal.
Portanto, o conceito de legislação tributária é mais amplo do que o de lei, abarcando-o.
2.2 VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
Aplica-se às normas tributárias a regra prevista no art. 1º da LINDB, que dispõe no seguinte
sentido:
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

Além da aferição da vigência, tratando-se de lei que institua ou majore tributos, é


necessário verificar se na hipótese incidem os princípios da anterioridade anual e nonagesimal, os
quais bloqueiam a eficácia da nova regra, até que o prazo estabelecido por eles transcorra.
Para fixação da matéria, temos o seguinte exemplo: Aumento da alíquota do ISSQN, com
determinação de vigência da nova lei a partir da sua publicação. Publicação: 01/04/2018;
Validade: 01/04/2018; Vigência: 01/04/2018; Eficácia: 01/01/2019. Neste caso, como o aumento
da alíquota do ISSQN se submete aos princípios da anterioridade anual e nonagesimal, a eficácia
ficou postergada para a data em que o prazo mais longo das anterioridades transcorreu, o que no
nosso exemplo se deu em 01/01/2019.
Deve-se salientar a aplicação do princípio da anterioridade no caso de revogação de
benefício fiscal. O atual posicionamento do STF é no sentido de afastas a aplicação do princípio da
anterioridade no caso de revogação de benefícios fiscais e de revogação de isenções. No entanto,
já há julgado da Primeira Turma em sentido oposto, a sinalizar possível modificação da
jurisprudência da Corte.
2.3 APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
O art. 106 do CTN trouxe hipóteses de retroatividade da lei tributária.
É possível que uma lei interpretativa, que venha tão somente para aclarar uma informação
que já esteja contida no texto, possa retroagir, desde que não se aplique qualquer sanção aos
contribuintes que interpretaram a legislação em sentido diverso daquele trazido posteriormente
pelo Poder Legislativo.
Em resumo, pode-se concluir que:
1. A doutrina e a jurisprudência majoritária consideram a possibilidade de edição de
leis interpretativas.
2. A lei que modifique a interpretação que vinha sendo até então adotada pelo
Poder Judiciário não pode ser aplicada retroativamente, mas tão somente para os fatos que
ocorrerem a partir da sua vigência, por não se configurar como uma lei interpretativa.
3. No caso de uma lei que realmente seja interpretativa – e que, portanto, possa
retroagir – fica excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados.
O art.106, II, estabelece diversas hipóteses de retroatividade em suas alíneas, que incidem
desde que o ato não tenha sido definitivamente julgado. Esse é, portanto, o marco temporal que
uma vez ultrapassado não permite a aplicação da lei posterior.
Ocorre que, o Código Tributário Nacional não especifica exatamente o que se deve
entender como não definitivamente julgado, abrindo espaço para interpretações diversas acerca
do dispositivo. A Fazenda Pública costuma defender a tese que atrela a expressão ao trânsito em
julgado do processo administrativo, enquanto que os contribuintes tentam dar-lhe contornos mais
amplos.
O posicionamento da doutrina majoritária e da jurisprudência tem sido abrangente, no
sentido de que a expressão não definitivamente julgado compreende não apenas o processo
administrativo, mas também o processo judicial.
Portanto, a retroatividade só é admitida se esse marco temporal não for ultrapassado. Caso
contrário, a lei posterior não se aplica.
No que diz respeito a aplicação retroativa quando a nova lei aplicar penalidade menos
severa que a prevista anteriormente, o art. 106 prevê a retroatividade de normas mais benéficas
no que tange às infrações, mas não diz se isso se aplica somente às multas ou se o seu âmbito
normativo também engloba as multas moratórias, decorrentes do atraso no pagamento de
tributos.
A jurisprudência tem interpretado o dispositivo de maneira ampla, para abarcar tanto as
multas moratórias quanto as multas punitivas. Por outro lado, resta evidente que o dispositivo não
se aplica aos tributos.
Assim, por exemplo, se uma nova lei reduzir a alíquota do imposto de importação sobre um
determinado produto, a sua incidência ocorrerá a partir de então, não retroagindo.
2.4 INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
Deve-se atentar para o art.108, §2º do CTN que dispõe que o ““emprego da equidade não
poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido”. Assim, não pode o juiz ou o fisco,
sensibilizado por alguma contingência da vida do contribuinte, dispensar-lhe do cumprimento da
obrigação tributária, sem que exista autorização legal.
Observa-se que o dispositivo é dirigido à administração pública e ao Poder Judiciário. Nada
impede, por outro lado, que o legislador, atendendo a considerações de equidade, edite lei que
autorize a remissão do crédito tributário, conforme dispõe expressamente o artigo 172, inciso IV,
do CTN:
Art. 172. A lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder,
por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito
tributário, atendendo: IV - a considerações de equidade, em relação
com as características pessoais ou materiais do caso;
Nesse caso, o fisco estaria autorizado a conceder a remissão - não em virtude diretamente
da equidade - mas por expressa disposição legal.
Outro ponto importante é que toda vez que a Constituição utilizar, explicita ou
implicitamente, um conceito cujo significado já esteja consagrado juridicamente, não pode o
legislador tributário alterar-lhe a definição, ainda que para efeitos tributários.
Há de se ressaltar, ainda, o que dispõe o art.112 do CTN:
Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina
penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em
caso de dúvida quanto: I - à capitulação legal do fato; II - à natureza
ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos
seus efeitos; III - à autoria, imputabilidade ou punibilidade; IV - à
natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

Como se pode observar, o artigo 112 do CTN se aplica apenas às infrações, não se
estendendo às normas que imponham o pagamento de tributo.
Por fim, a lei tributária pode alterar determinado conceito oriundo do direito privado,
dando-lhe certa peculiaridade, restringindo-lhe ou ampliando-lhe o alcance, desde que não tenha
sido adotado pela Constituição para delimitar a competência tributária.

AULA 06

1) OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
1.1 CONCEITO
A obrigação tributária é a relação jurídica existente entre um credor e um devedor, que
tem por objeto uma prestação e que nasce quando a situação prevista pela hipótese de incidência
da norma tributária ocorre no mundo real.
A obrigação não se confunde com o crédito tributário, que é a obrigação tornada líquida e
certa. O crédito tributário existe a partir da sua constituição, o que normalmente se dá através do
lançamento tributário. O crédito tributário é um dos elementos que compõem a obrigação.
1.2 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA PRINCIPAL E OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ACESSÓRIA
1.2.1 Obrigação Principal
Obrigação Principal: a) Pagamento de Tributo e b) Pagamento de Multa.
1.2.2 Obrigação Acessória
A obrigação acessória tem como objeto fazer ou um não fazer. Já a obrigação principal tem
como característica a prestação de dar.
A obrigação acessória permanece mesmo nos casos em que não há o dever de pagar o
tributo.
Parte da doutrina prefere utilizar o termo deveres instrumentais para se referir às
obrigações acessórias.
A obrigação principal só estabelecida por lei, já as acessórias decorrem da legislação
tributária (leis ordinárias, leis complementares, decretos e portarias).
Além da necessidade da obrigação acessória, a exigência do fisco deve ser proporcional,
não podendo onerar demasiadamente os contribuintes.
Portanto, obrigações acessórias que sejam desnecessárias ou que onerem de maneira
desproporcional as pessoas responsáveis pelo seu cumprimento padecem de ilegalidade.
Quando há o descumprimento de uma obrigação acessória, o fisco não ingressa no Poder
Judiciário com pedido para que o sujeito passivo seja compelido a realizá-la. Na verdade, a sanção
pelo descumprimento da obrigação acessória é a imposição de uma multa pecuniária, que por ser
uma obrigação de dar, enquadra-se no conceito de obrigação tributária principal.
ATENÇÃO: A obrigação acessória pode ser instituída por um ato infralegal. No entanto, a
multa pelo descumprimento de uma obrigação acessória deve ser prevista em lei, por se tratar de
uma obrigação principal.
1.3 FATO GERADOR
1.3.1 Conceito e classificação
O termo fato gerador tem sido empregado para aludir a duas realidades distintas.
Numa primeira acepção, fato gerador é a descrição, por uma norma geral e abstrata, de um
determinado comportamento ou estado, cuja realização concreta faz nascer a relação jurídica de
direito tributário. Por exemplo, a previsão de que quem auferir renda deve pagar imposto de
renda.
Já a segunda acepção, o termo fato gerador é a própria realização concreta daquele
comportamento previsto pela norma tributária. Ocorre, por exemplo, quando alguém recebe seu
salário, auferindo renda.
O fato gerador é instantâneo quando a sua realização se dá em um átimo de tempo.
O fato gerador periódico ou complexivo é aquele cuja formação ocorre ao longo de um
espaço de tempo. Ao final do período previsto em lei, valoriza-se todos os fatos isolados que,
somados, tem a aptidão para fazer nascer a relação jurídica de direito tributário. É o caso do IRPF.
Por fim, fato gerador continuado é aquele que descreve uma conduta que revela um
estado de permanência, como ser proprietário de imóvel urbano, no caso do IPTU, ou ser
proprietário de veículo automotor, no caso do IPVA.
1.3.2 Regras inseridas no CTN
O posicionamento doutrinário defende que o art. 118 é plenamente aplicável, devendo-se
abstrair a validade jurídica dos atos praticados. O argumento central é o de que um ato nulo pode
produzir efeitos, a despeito do vício em que incorre. É o que acontece com uma compra e venda
que, mesmo nula, seja respeitada pelas partes com a entrega do imóvel ao comprador e do preço
pelo vendedor.
Por fim, é importante pontuar que o art. 118 do CTN também tem sido interpretado como
uma concretização do princípio da interpretação objetiva do fato gerador, segundo o qual se deve
desconsiderar o caráter ilícito da conduta praticada pelo contribuinte (pecúnia non olet).
Assim, o fato jurídico incide quando ocorrida a situação prevista pela hipótese de
incidência da norma tributária, sendo irrelevante que a conduta que originou a obrigação seja
contrária ao direito. É o caso do traficante que foi notificado pela Receita Federal a pagar imposto
de renda, incidente sobre rendimentos apurados no valor de R$ 50.000,00. O fato desse
rendimento ter origem ilícita não afasta a sua obrigação de recolher a tributação.
1.5 SUJEITO ATIVO
Dispõe o art. 119 do CTN:
Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito
público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.

Não é, no entanto, o que ocorre. Esse dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o
disposto no art. 7º do CTN, que dispõe da seguinte forma:
Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das
funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis,
serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária,
conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos
termos do §3º do art. 18 da Constituição.

Portanto, é possível que haja a delegação da capacidade tributária ativa, e que o sujeito
ativo de uma relação jurídica não seja a pessoa jurídica detentora da competência tributária.
1.6 SUJEITO PASSIVO
1.5.1 Disposições Gerais
Dispõe o art. 121 do CTN:
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada
ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a
situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua
obrigação decorra de disposição expressa de lei.

Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada


às prestações que constituam o seu objeto.

Não há a exigência legal de que o sujeito passivo de uma obrigação acessória também
figure como sujeito passivo de uma obrigação principal.
1.5.2 Solidariedade
O art. 124 do CTN tem a seguinte redação:
Art. 124. São solidariamente obrigadas:
I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua
o fato gerador da obrigação principal;
II - as pessoas expressamente designadas por lei.
Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta
benefício de ordem.

1.5.3 Capacidade Tributária


O art. 126 do CTN traz regras sobre a capacidade para incorrer em fatos jurídicos
tributários, ao dispor no seguinte sentido:
Art. 126. A capacidade tributária passiva independe:
I - da capacidade civil das pessoas naturais;
II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem
privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou
profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios;
III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando
que configure uma unidade econômica ou profissional.
1.5.4 Domicílio Tributário
O domicílio tributário é o local onde o sujeito passivo deve cumprir com as obrigações
tributárias.
1ª: Regra geral, o domicílio tributário do sujeito passivo é o local que ele escolheu;
2º: Se o domicílio eleito impossibilitar ou dificultar a arrecadação dos tributos, pode a
autoridade administrativa recusá-lo, caso em que será considerado como domicílio o lugar da
situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação;
3ª: Se pessoa natural não escolher seu domicílio tributário, será considerado como tanto a
sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua
atividade.
1.6 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
1.6.1 Classificação e disposições gerais
O contribuinte mantém relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo
fato gerador, enquanto que o responsável é aquele que, sem revestir a condição de contribuinte,
possui a obrigação em razão de disposição expressa de lei.
A partir de agora, estudaremos essa última espécie de sujeição passiva, classificada pela
doutrina em dois grandes grupos: i) responsabilidade por substituição = responsabilidade
originária; ii) responsabilidade por transferência = responsabilidade derivada.
O critério distintivo é o momento da incidência da norma atributiva de responsabilidade.
Na responsabilidade por substituição já é designado desde logo. A responsabilidade surge
no mesmo momento da ocorrência do fato gerador.
Já na responsabilidade por transferência, num primeiro momento, da ocorrência do fato
gerador, o sujeito passivo é o contribuinte. Apenas posteriormente, em razão de algum
acontecimento previsto pela norma atributiva de responsabilidade, é que alguém passa a ser
responsável pelo pagamento da exação.
Tanto na hipótese de responsabilidade por substituição quanto na de responsabilidade por
transferência, incide o disposto no art. 128 do CTN, que dispõe no seguinte sentido:
Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir
de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a
terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação,
excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida
obrigação.

Esse dispositivo contém quatro comandos importantes sobre o instituto da


responsabilidade tributária:
i) O primeiro - a responsabilidade tributária pressupõe lei em sentido estrito,
ninguém pode ser colocado no polo passivo de uma obrigação, ainda que na qualidade de
responsável, por um ato infralegal;
ii) O segundo – terceiro eleito pela lei como responsável tributário deve ser
vinculado ao fato gerador;
iii) O terceiro – a lei pode excluir a responsabilidade do contribuinte ou atribui-la em
caráter supletivo do cumprimento da obrigação pelo responsável;
iv) O quarto – reponsabilidade pode englobar tanto tributo como também as penas
pecuniárias.
1.6.2 Reponsabilidade por Substituição
1.6.2.1 Substituição Tributária para trás (regressiva)
A distinção entre a substituição tributária para frente e a substituição tributária para trás
decorre da posição do responsável tributário na cadeia econômica. Se a sua posição for posterior a
posição do contribuinte, estaremos diante de uma responsabilidade tributária para trás
(regressiva).
Exemplo: O fato gerador do tributo ocorre quando os sucateiros vendem a sucata para as
indústrias. São os sucateiros os contribuintes da exação. No entanto, a legislação estabelece a
responsabilidade pelo pagamento do tributo às indústrias, que ficam obrigadas a pagar o tributo
atinente àquela primeira operação quando da realização da operação seguinte.
1.6.2.2 Substituição Tributária para frente (progressiva)
Caso o responsável esteja numa posição anterior à do contribuinte na cadeia econômica,
estaremos diante da chamada substituição tributária para frente. Ocorre o diferimento no
pagamento do tributo, que é postergado para a operação seguinte.
1.6.2.3 Substituição Tributária simultânea (comum) ou Retenção na Fonte
A substituição tributária simultânea ou comum ocorre quando alguém retém o tributo
devido na fonte, repassando-o para o fisco.
O STJ tem julgado no sentido de que a retenção na fonte é uma obrigação acessória.
De toda forma, caso a fonte não realize a obrigação acessória, não fazendo a retenção ou o
recolhimento aos cofres públicos, ela aí sim se torna responsável – mas não
substituta – pelo pagamento do tributo devido.
1.6.3. Responsabilidade por transferência
Na responsabilidade por transferência a norma atributiva de responsabilidade incide em
momento posterior à ocorrência do fato gerador.
O CTN dividiu as hipóteses de responsabilidade por transferência em três modalidades: a)
responsabilidade dos sucessores; b) responsabilidade de terceiros; c) responsabilidade por
infrações.
1.6.3.1 Responsabilidade dos sucessores
1.6.3.1.1 Sucessão na aquisição de bens
O art. 129, que inaugura a seção sobre o tema, dispõe no seguinte sentido:
Art. 129. O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos créditos
tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à
data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos
mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas
até a referida data.

A responsabilidade por sucessão se aplica aos créditos tributários, conceito que engloba
tanto os tributos quanto as penalidades pecuniárias.
O art. 130 do CTN traz a primeira hipótese de responsabilidade por sucessão:
Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato
gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens
imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços
referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, sub-rogam-se
na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título
a prova de sua quitação.
Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-
rogação ocorre sobre o respectivo preço.

Tratando-se de arrematação de um bem em hasta pública, o caput do artigo 130 não se


aplica, porque a sub-rogação ocorre sobre o preço pago pelo adquirente. Em outros termos, o
crédito tributário deve ser abatido do preço arrecadado na execução, não sendo lícita a exigência
posterior de eventual crédito em aberto.
1.6.3.1.2 Sucessão tributária da pessoa física
Analisaremos a responsabilidade tributária dos sucessores causa mortis, inserida no art.
131, inciso II e III, do CTN:
Art. 131. São pessoalmente responsáveis:
II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos
devidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada
esta responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da
meação;
III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da
abertura da sucessão.

Portanto, a interpretação conjunta dos incisos II e III do artigo 131 do CTN conduz às
seguintes conclusões:
1ª: Antes da partilha, o espólio é o responsável pelos tributos devidos pelo de cujus
até o falecimento;
2ª: Após a partilha, passam a ser responsáveis o cônjuge meeiro e os sucessores,
tanto com relação aos tributos existentes antes do falecimento como também com relação aos
tributos que incidiram após o óbito do contribuinte originário.
1.6.3.1.3 Sucessão Tributária das pessoas jurídicas e do estabelecimento
O art. 132 do CTN dispõe no seguinte sentido:
Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão,
transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável
pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de
direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de
extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração
da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio
remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou
sob firma individual.

A responsabilidade tributária por sucessão empresarial, prevista nos artigos 132 e 133 do
CTN, abrange todo o crédito tributário, ou seja, os tributos, multas moratórias e multas punitivas
existentes até a data da sucessão.
Se um dos dois sócios de uma sociedade limitada falecer, e o sócio remanescente optar por
continuar exercendo as mesmas atividades, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma
individual, será ele responsável pelas obrigações tributárias da antiga sociedade limitada. O
mesmo acontece se o espólio continuar exercendo a mesma atividade do empresário individual
falecido.
Já o ART. 133 DO CTN se refere ao estabelecimento comercial, e não ao mero local físico
utilizado pela pessoa jurídica para a exploração das suas atividades.
Para FACILITAR A COMPREENSÃO dessa regra, pensemos no seguinte EXEMPLO: A pessoa
jurídica X, que possui 6 pizzarias na cidade de Porto Alegre/RS, resolveu vender um dos seus
restaurantes, localizado na zona norte da cidade, a pessoa jurídica Y, recém constituída. A pessoa
jurídica Y passou a explorá-lo com outra razão social, mas manteve a mesma forma de atuação, os
mesmos funcionários e as mesmas receitas de pizzas. Os clientes continuaram frequentando a
pizzaria, e se não fosse pela mudança de nome, sequer teriam notada a alteração na propriedade
do estabelecimento. Esse é um caso de aquisição de estabelecimento empresarial, que atrai a
incidência do art. 133 do CTN, tornando o novo adquirente – no caso a pessoa jurídica Y –
responsável pelos créditos tributários relativos ao estabelecimento adquirido. Agora, imaginemos
uma outra hipótese, na qual a pessoa jurídica Y, embora tenha se mantido no mesmo ramo de
negócio da pessoa jurídica X – alimentício - passou a atuar não mais com pizzas, mas com
hambúrgueres gourmet. A cozinha teve que ser remodelada, o cardápio não mais é o mesmo, os
funcionários tiveram que ser treinados novamente – alguns deles foram demitidos e outros
contratados – e os clientes também são distintos. Nesse caso, não houve a aquisição de um
estabelecimento, mas tão somente do ponto comercial. Não incide, assim, o disposto no art. 133
do CTN.
Assim, pela perspectiva da doutrina majoritária, em ocorrendo a cessação da exploração do
comércio pelo alienante, ambos, alienante e adquirente, respondem solidariamente pelas
obrigações existentes até a data da sucessão.
Por outro lado, o inciso II dispõe que a responsabilidade do adquirente é subsidiária à do
alienante, “se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da
alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão”.
Nessa hipótese, em que o alienante continua exercendo alguma atividade empresarial ou, dentro
de seis meses contados da alienação, passe a exercê-la, o adquirente do estabelecimento apenas
pode ser responsabilizado subsidiariamente, ou seja, caso o fisco não consiga excutir o patrimônio
do contribuinte.
O §1º do art. 133 dispõe que a responsabilidade por sucessão não ocorre quando o
estabelecimento for alienado em processo de falência ou no bojo de um processo de recuperação
judicial.
1.6.3.2 Responsabilidade de terceiros
Dispõe o art. 134 do CTN:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento
da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente
com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que
forem responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados
ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos
por estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida
ou pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos
tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles,
em razão do seu ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de
penalidades, às de caráter moratório.

Trata-se de uma responsabilidade subsidiária, que só existe se o contribuinte não conseguir


cumprir a obrigação.
Por fim, o parágrafo único desse dispositivo limita a extensão da responsabilidade
tributária, ao afirmar que o dispositivo apenas se aplica, em matéria de penalidades, às multas de
caráter moratório.
A fim de sintetizar a diferença entre os arts. 134 e 135 do CTN, mostra-se o quadro abaixo:

RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS
Ilícito Grau de Responsabilidade Extensão da Reponsabilidade
Art. Valor principal do tributo, correção
Culpa Subsidiária
134 monetária, juros e multas moratórias.
Valor principal do tributo, correção
Art.
Dolo Pessoal monetária, juros e multas moratórias e
135
multas punitivas.

Deve-se atentar, ainda, para a Súmula nº 430 do STJ:


Súmula 430 do STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela
sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-
gerente.
Já acerca da dissolução irregular, ocorrida ela, pode o fisco cobrar o crédito tributário
integralmente dos sócios-gerentes ou administradores da pessoa jurídica, conforme enuncia a
Súmula 435 do STJ.
Quanto a esse tema, é importante conhecer o conteúdo da Súmula 435 do STJ:
Súmula 435 - Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que
deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos
órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução
fiscal para o sócio-gerente.

1.6.3.3 Reponsabilidade por infrações


Na seção “responsabilidade por infrações” o CTN regulamenta a reponsabilidade dos
sujeitos passivos pelas infrações à legislação tributária.
Dispõe o art. 136 do CTN:
Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por
infrações da legislação tributária independe da intenção do agente
ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos
do ato.

Esse dispositivo permite três conclusões: a responsabilidade por infrações independe da


existência de culpa ou dolo bem como não depende da efetividade, extensão ou natureza dos
atos.
O art. 137, por seu turno, possui a seguinte redação:
Art. 137. A responsabilidade é pessoal ao agente:
I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou
contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de
administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no
cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito;
II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente
seja elementar;
III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de
dolo específico:
a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem
respondem;
b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus
mandantes, preponentes ou empregadores;
c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de
direito privado, contra estas.

Por fim, dispõe o art. 138 do CTN:


Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da
infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo
devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada
pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo
dependa de apuração. [...]

Trata-se de dispositivo que regulamenta a denúncia espontânea, por meio da qual o agente
reconhece a prática da infração e efetua o pagamento do tributo devido, com juros e correção
monetária. Nesses casos, a responsabilidade é excluída, livrando o contribuinte da imposição de
multas moratórias e punitivas.
O parágrafo único do artigo 138, no entanto, traz um marco temporal, que se ultrapassado,
impede os benefícios da denúncia espontânea:
Art. 138, Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia
apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo
ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.

Portanto, iniciado qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, não se


faz mais possível os benefícios da denúncia espontânea com relação àqueles tributos que estão
sendo apurados pelo fisco.
Entretanto, admite-se a concessão do benefício da denúncia espontânea na hipótese de o
contribuinte, depois de apresentar declaração parcial do crédito tributário e realizar o respectivo
pagamento, retificar a própria declaração e efetuar o pagamento complementar, antes de
qualquer iniciativa da administração tributária.

AULA 07

1) CRÉDITO TRIBUTÁRIO
1.1 CONCEITO E DISPOSIÇÕES GERAIS
O crédito tributário não surge no mesmo momento da obrigação tributária, mas
posteriormente, quando do lançamento tributário.
A título de exemplo, enquanto o Município não lançar o IPTU - o que se dá normalmente
pela entrega do carnê - o que existe é um dever pessoal do devedor de arcar com a obrigação, que
ainda não se encontra dotada de liquidez e certeza. Apenas com o lançamento pelo município é
que a obrigação adquire tais atributos (liquidez e certeza).
O art. 139 do CTN dispõe que “O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a
mesma natureza desta”, numa afirmação que se encontra em consonância com a ideia de que
cabe ao crédito tributário conferir à obrigação tributária principal os atributos da liquidez e da
certeza, devendo guardar com ela correspondência.
Um crédito tributário que falseie a obrigação tributária padece do vício da nulidade, não
podendo ser mantido no mundo jurídico. Assim, se o contribuinte João auferir rendimentos
tributáveis no valor de R$ 50.000,00, essa é a quantia que deve compor a base de cálculo da
exação. Se o fisco lançar o tributo tomando como dimensão o valor de R$ 55.000,00, o crédito
deve ser anulado com relação ao excesso.
O inverso, no entanto, não é verdadeiro. É possível que exista uma obrigação sem crédito
tributário. É o caso, por exemplo, do contribuinte que teve rendimentos de R$ 100.000,00 em um
determinado exercício, mas não o declarou ao fisco. Enquanto a administração não verificar a
sonegação e efetuar o lançamento, a obrigação tributária permanece sem crédito tributário. Se o
prazo prescricional transcorrer sem que isso ocorra, a obrigação é extinta sem que o crédito nunca
tenha existido.
Portanto, não existe crédito tributário sem obrigação tributária, mas pode existir obrigação
tributária sem crédito tributário.
1.2 CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
O CTN regula as hipóteses de constituição do crédito tributário por meio do lançamento
tributário. E o faz classificando os lançamentos em três espécies: lançamento de ofício, por
declaração e por homologação.
1.2.1 Lançamento de ofício
O lançamento de ofício é realizado pela administração pública sem qualquer colaboração
ou participação do particular. Tem cabimento nos casos em que a lei assim o determine e nas
hipóteses em que forem verificadas irregularidades que justifiquem a atuação de ofício da
administração.
O lançamento de ofício é o meio usual de constituição do crédito tributário quando “a lei
assim o determine”. Ocorre com tributos em que a legislação expressamente atribui à
administração pública o dever de apurar e constituir o crédito tributário, do que são exemplos o
IPTU e o IPVA.
Fora dessa situação, o lançamento é efetuado ou revisto de ofício para suprir omissões ou
corrigir inconsistências, conforme se observa do artigo 149 do CTN:
Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade
administrativa nos seguintes casos:
I - quando a lei assim o determine;
II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no
prazo e na forma da legislação tributária;
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado
declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo
e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento
formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou
não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a
qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de
declaração obrigatória;
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa
legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o
artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de
terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade
pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em
benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado
por ocasião do lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude
ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela
mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada
enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.

Ressalta-se que com base no inciso VI é que o fisco aplica multas pelo descumprimento de
obrigações acessórias.
Deve-se atentar para a regra que trata de erro de direito, a qual não pode a administração
revisar um lançamento sob o fundamento de que a interpretação da legislação foi equivocada,
porque a modificação nos critérios jurídicos só possui efeitos prospectivos, não atingindo
lançamentos anteriores.
Assim a conclusão de que a revisão do lançamento pode ser realizada quando existir erro
de fato, sendo vedada na hipótese de erro de direito.
Quanto à distinção entre erro de fato e erro de direito: 'erro de fato', por exemplo, a
contingência de o evento ter ocorrido no território do Município 'X', mas estar consignado como
tendo acontecido no Município 'Y' (erro de fato localizado no critério espacial), ou, ainda, quando
a base de cálculo registrada para efeito do IPTU foi o valor do imóvel vizinho (erro de fato
verificado no elemento quantitativo). 'Erro de direito', por sua vez, está configurado,
exemplificativamente, quando a autoridade administrativa, em vez de exigir o ITR do proprietário
do imóvel rural, entende que o sujeito passivo pode ser o arrendatário, ou quando, ao lavrar o
lançamento relativo à contribuição social incidente sobre o lucro, mal interpreta a lei, elaborando
seus cálculos com base no faturamento da empresa, ou, ainda, quando a base de cálculo de certo
imposto é o valor da operação, acrescido do frete, mas o agente, ao lavrar o ato de lançamento,
registra apenas o valor da operação.
Exemplo corriqueiro concerne à situação em que o fisco municipal verifica posteriormente
ao lançamento tributário que o imóvel de propriedade do contribuinte é maior do que aquele
originariamente considerado quando do lançamento do IPTU. O STJ entende que é possível a
revisão do lançamento se a administração não sabia da diferença na metragem, pela ocorrência de
um erro de fato.
O parágrafo único do art.149 enuncia que ocorrida a decadência do direito de constituir o
crédito, não pode a fazenda pública proceder à revisão do lançamento anteriormente efetuado.
Por fim, dispõe o art. 148 do CTN:
Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em
consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos
jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular,
arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não
mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os
documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro
legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação
contraditória, administrativa ou judicial.

Esse dispositivo trata daquilo que a doutrina chama de lançamento por arbitramento. O
lançamento por arbitramento não é uma punição, e tampouco pode ser utilizado de maneira
discricionária pela administração pública, só tendo lugar nos casos em que efetivamente não se
possa dimensionar pelos meios usais a grandeza do fato gerador.
O fisco só pode desconsiderar o valor informado na nota fiscal se existirem provas de que a
quantia não reflete a realidade.
1.2.2 Lançamento por declaração
O lançamento por declaração se caracteriza pela obrigação de o sujeito passivo ou de
terceiro prestar declarações sobre alguma circunstância à administração tributária que, como base
nestas, calcula o valor do tributo devido e constitui o crédito tributário. É o que dispõe o art. 147
do CTN:
Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito
passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação
tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre
matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.

No caso do lançamento por declaração há uma conjunção de esforços: cabe aos


particulares prestar informações e ao poder público calcular e constituir o crédito.
Nos casos em que o contribuinte fizer a declaração e também apurar o valor devido a título
de tributo, o caso não é de lançamento por declaração, mas de lançamento por homologação,
como ocorre com o IRPF.
Portanto, é fundamental não confundir. O fato de o contribuinte ter a obrigação acessória
de prestar alguma informação não conduz necessariamente à conclusão de que o tributo em
questão é sujeito ao lançamento por declaração. Isso apenas ocorre quando essa declaração for
utilizada pela administração para apurar a quantia devida.
1.2.3 Lançamento por homologação
Caracteriza-se pela circunstância de a lei impor ao sujeito passivo a obrigação de apurar o
valor devido a título de tributo e efetuar o seu pagamento, cabendo à administração pública u
controle a posteriori sobre a correção da conduta praticada.
Diferentemente do lançamento de ofício, em que a responsabilidade pelo lançamento recai
inteiramente sobre o fisco; do que acontece com relação ao lançamento por declaração, em que
há uma repartição de tarefas, cabendo ao contribuinte prestar informações e ao fisco calcular o
valor devido a título de tributo; no lançamento por homologação toda a conduta é realizada pelo
sujeito passivo, a quem compete prestar as informações necessárias, calcular o valor do tributo e
antecipar o seu pagamento.
EXEMPLO: João comprou mil ações de uma sociedade anônima pela quantia de R$ 100,00
cada uma, totalizando R$ 100.000,00. No mês seguinte, vendeu mil ações, pela quantia de R$
120,00 cada, totalizando R$ 120.000,00. Como o IRPF é um tributo sujeito ao lançamento por
homologação, João tomou a iniciativa para recolher o imposto que incidiu sobre a operação. Para
fazer isso, primeiro calculou qual foi o seu lucro, mediante operação aritmética que levou em
consideração o preço da compra, o preço da venda, as despesas com a corretora e as despesas
com a Bolsa de Valores. Ao final, concluiu que teve de lucro R$ 19.700,00. João, então, ingressou
no site da Receita Federal e preencheu a DARF com todas as informações exigidas: especificou o
período de apuração (o mês em que vendeu as ações); colocou o número do seu CPF; informou o
código da Receita; disse qual o valor do principal etc. Após emitir a DARF, realizou o pagamento do
valor de R$ 2.955,00 de IRPF. Assim, foi João quem constituiu o crédito tributário de R$ 2.955,00.
Nos termos do artigo 150 do CTN, cabe à Receita Federal tão somente fiscalizá-lo, para verificar se
ele recolheu a quantia correta (por exemplo, se João tivesse informado como valor principal a
quantia de R$ 295,00, e não a quantia de R$ 2.955,00, correspondente à obrigação tributária
efetivamente ocorrida). Se a Receita considerar que João agiu corretamente, deve homologar o
pagamento. Caso contrário, deve efetuar o lançamento de ofício da quantia informada a menor.
Se a Receita não se pronunciar no prazo de cinco anos a contar do fato gerador, considera-se que
ocorreu a homologação tácita do lançamento.
Quanto ao termo inicial do prazo decadencial, se houve pagamento antecipado, ele será a
data da ocorrência do fato gerador. Por outro lado, se não houve pagamento antecipado, ou
ocorreu dolo, fraude ou simulação, o termo inicial do prazo decadencial é aquele previsto no art.
173 do CTN.
1.2.3 Dispositivos Gerais sobre o lançamento tributário
O lançamento tributário tem natureza dúplice: Ele declara a obrigação tributária e constitui
o crédito tributário. Ressalta-se que o lançamento tributário é um procedimento administrativo.
O termo lançamento tributário pode designar tanto o procedimento administrativo por
meio do qual se apura a obrigação tributária principal quanto o próprio ato administrativo que
resultou desse procedimento.
Para efeitos de concurso público, as questões apenas reproduzem o art. 142, para se referir
ao lançamento como um procedimento administrativo. Ex: O lançamento é um procedimento
administrativo pelo qual a autoridade fiscal, entre outras coisas, declara a existência de uma
obrigação tributária (Afirmativa CORRETA).
Lembrando que a autoridade administrativa não propõe, mas sim aplica as sanções
previstas pela legislação.
O art. 144 tem a seguinte redação:
Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato
gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que
posteriormente modificada ou revogada.
§1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à
ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos
critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os
poderes de investigação das autoridades administrativas, ou
outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste
último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a
terceiros.
§2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos lançados por
períodos certos de tempo, desde que a respectiva lei fixe
expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido.

Assim, o lançamento tributário deve se reportar à regra-matriz existente no momento da


ocorrência do fato jurídico, independentemente de terem ocorrido modificações em alguns dos
seus elementos posteriormente.
O §2º estabelece uma exceção ao §1º. Este não se aplica nos casos de impostos lançados
por períodos certos de tempo, como é o caso do IPTU e do ITR.
O art. 145 do CTN dispõe no seguinte sentido:
Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo
só pode ser alterado em virtude de:
I - impugnação do sujeito passivo;
II - recurso de ofício;
III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos
previstos no art. 149.

Assim, a interpretação conjunta do art. 146 com o art. 145, incisos II e III, conduz à
conclusão de que a alteração só é possível nesses casos quando constatado um erro de fato,
sendo vedada a modificação do lançamento quando presente um erro de direito.
1.2.5 Outras formas de constituição do crédito tributário
A constituição do crédito tributário não é realizada exclusivamente por meio do
lançamento tributário.
É o que ocorre quando a Justiça do Trabalho apura as contribuições previdenciárias
incidentes sobre a quantia a que o empregador foi condenado a pagar.
Nesse caso, o Poder Judiciário calcula o valor devido, sendo dispensável que a
administração pública efetue o lançamento do crédito correspondente.
O mesmo acontece quando o sujeito passivo declara o valor da obrigação tributária, mas
não realiza o seu pagamento. Nessa situação, a obrigação é tornada líquida e certa pela
declaração, que constitui o crédito tributário e dispensa o fisco de proceder ao lançamento. Sobre
o assunto, há inclusive súmula do STJ:
Súmula 436, STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte
reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada
qualquer outra providência por parte do fisco.
Por fim, também constitui o crédito tributário a realização de depósito integral para
discutir a legalidade da dívida no bojo de um processo judicial.
1.3 SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
O caput do art. 151 do CTN dispõe no seguinte sentido:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

Esse dispositivo determina que, uma vez ocorrida alguma das hipóteses prevista por ele, a
exigibilidade do crédito fica suspensa, impedindo que o fisco possa exigir de imediato o
pagamento do tributo devido. A exigibilidade do crédito “fica congelada” até que aquele
acontecimento seja superado.
O dispositivo fala em suspensão do crédito tributário, e não em suspensão da obrigação
tributária. Desse modo, antes da constituição do crédito, pode a Fazenda Pública efetuar o
lançamento tributário para constituí-lo. Nesses casos o lançamento é efetuado tão somente para
prevenir a decadência, que ocorreria se o fisco ficasse inerte.
A suspensão da exigibilidade do crédito tributário suspende o prazo prescricional ou, na
hipótese em que ele ainda não começou a correr, impede o início do seu transcurso.
Por fim, a suspensão do crédito tributário não importa na dispensa do cumprimento das
obrigações acessórias por parte do sujeito passivo.
1.3.1 Moratória
A moratória suspende o crédito tributário. Trata-se de instituto por meio do qual o credor
concede ao devedor um prazo adicional para o pagamento do crédito tributário. Até a data de
pagamento o crédito fica suspenso, impedindo o credor de realizar qualquer ato atinente à sua
cobrança. A moratória pode ser concedida em caráter geral ou individual.
A moratória tem caráter geral quando a sua fruição decorra imediatamente da lei que a
instituiu, independentemente do preenchimento de requisitos específicos por parte do sujeito
passivo. Pode-se dividir as moratórias concedidas em caráter geral em duas espécies: a)
Moratórias autônomas - concedidas pela própria pessoa de direito público competente para
instituição do tributo; b) Moratórias heterônomas - a União estabelece moratória de tributos de
competência dos Estados, Distrito Federal e Municípios, desde também o faça com relação aos
tributos federais e às obrigações de direito privado.
A moratória possui caráter individual quando a lei estabelece que a sua fruição depende do
atendimento de certos requisitos, que devem ser auferidos pela autoridade administrativa.
O §único do art. 152 do CTN determina que “a lei concessiva de moratória pode
circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região ou a determinada classe
ou categoria.”
Quer se trate de moratória geral ou de moratória individual, a lei concessiva do benefício
deve observar os requisitos do art. 153 do CTN:
Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize
sua concessão em caráter individual especificará, sem prejuízo de
outros requisitos:
I - o prazo de duração do favor;
II - as condições da concessão do favor em caráter individual;
III - sendo caso:
a) os tributos a que se aplica;
b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que
se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à
autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter
individual;
c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de
concessão em caráter individual.

Os incisos I e II são obrigatórios, porque essenciais ao estabelecimento da moratória. O


inciso III traz hipóteses facultativas. Com efeito, nada impede que a moratória se dê com relação a
todos os tributos do ente federativo; que preveja o pagamento de uma só vez e não em
prestações; ou que seja concedida mesmo sem a prestação de garantias por parte do beneficiário.
O art. 154 traz dispositivo importante sobre a extensão da lei concessiva da moratória:
Art. 154. Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente
abrange os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do
despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado
àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo.
Parágrafo único. A moratória não aproveita aos casos de dolo, fraude
ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele.

Caso a lei não disponha de maneira contrária, a moratória abrange apenas os créditos
tributários constituídos ou em curso de constituição. O § único determina que o benefício legal
não abarca aqueles créditos tributários que tenham sido constituídos em virtude de dolo, fraude
ou simulação do sujeito passivo ou de terceiro em benefício daquele.
O art. 155, por sua vez, tem a seguinte redação:
Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera
direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que
o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou
não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do
favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora:
I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou
simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele;
II - sem imposição de penalidade, nos demais casos.
Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido
entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa
para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do
inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito
o referido direito.

Essa regra é aplicável às moratórias concedidas em caráter individual, quando se verifique


posteriormente que o sujeito passivo não satisfazia ou deixou de satisfazer os requisitos
necessários para sua fruição. Embora o dispositivo fale de revogação, na verdade o termo correto
é anulação, porque o ato concessivo da moratória é retirado do ordenamento jurídico por não
possuir respaldo legal, acarretando efeitos ex tunc (retroativos). Tanto que o sujeito passivo
deverá recolher o tributo que não pagou acrescido de atualização e juros de mora.
A imposição de sanções pecuniárias, por outro lado, não é automática. Se o sujeito passivo
agiu de boa-fé, não deve ser aplicado a ele penalidades. Por outro lado, se atuou com dolo ou
simulação, a anulação da moratória deve ser acompanhada da imposição da penalidade cabível.
O mesmo ocorre com relação à contagem do prazo prescricional. Se o contribuinte não
laborou com má-fé, a anulação da moratória só pode ser efetuada antes de decorrido o prazo
prescricional para cobrança do crédito. Caso tenha dolo ou simulação, o tempo decorrido entre a
moratória e a sua anulação não é computado para efeito de prescrição do direito à cobrança.
Por fim, destacamos o § 11 do art. 195 da CF, a União não pode conceder moratória ou
parcelamento com prazo superior a 60 meses para as contribuições previdenciárias elencadas nos
incisos I e II do caput.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo superior a
60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a remissão e a
anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea "a" do inciso I
e o inciso II do caput.

1.3.2 Depósito do montante integral do crédito tributário


Suspende a exigibilidade do crédito tributário “o depósito do seu montante integral”.
Ocorre quando o contribuinte, no bojo de um processo judicial, deposita os valores exigidos pela
Fazenda Pública, enquanto discute a sua legalidade.
Para que haja a suspensão, o depósito deve ser realizado em dinheiro e ser integral, ou
seja, a quantia a ser depositada deve ser aquela exigida pelo fisco, e não a que o contribuinte
entende como correta. Do contrário, a exigibilidade do crédito não se suspende.
Uma vez realizado o depósito integral, o crédito tributário se suspende por si só,
independentemente de qualquer decisão judicial. Dito com outras palavras, o depósito judicial é
uma faculdade do contribuinte.
O depósito judicial, quando realizado antes do lançamento, constitui o crédito tributário,
sendo desnecessária qualquer outra providência adicional por parte do fisco. De fato, a obrigação
se torna líquida e certa, e os valores depositados ficam atrelados ao resultado do processo: se a
ação for julgada favoravelmente ao contribuinte, os valores retornam à sua disposição; se a ação
for julgada em seu desfavor, ocorre a conversão em renda em favor da Fazenda Pública. E se a
ação for extinta sem resolução de mérito? Nesse caso, o Superior Tribunal de Justiça firmou
jurisprudência no sentido de que os valores devem ser convertidos em renda em favor da Fazenda
Pública, salvo se a extinção se der por ilegitimidade passiva.
1.3.3 Reclamações e Recursos Administrativos
Súmula Vinculante 21, STF - É inconstitucional a exigência de depósito
ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de
recurso administrativo.

1.3.4 A concessão de medida liminar


Suspende a exigibilidade do crédito tributário a concessão de medida liminar em mandado
de segurança, o mesmo ocorrendo com a concessão de liminar ou de tutela antecipada em outras
espécies de ação judicial.
Presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, faz-se possível a
concessão da liminar, que pode ser concedida antes ou depois da prestação de informações por
parte da autoridade coatora.
O mesmo ocorre com a concessão de medida liminar em ações ordinárias, que pode ser
concedida em razão da urgência ou pela evidência do direito vindicado. No primeiro caso, há a
necessidade de comprovação da probabilidade do direito e do periculum in mora. No caso da
tutela de evidência, o periculum in mora é dispensável, sendo necessária a demonstração de um
dos requisitos previstos pelo art. 311 do CPC.
Quando a ordem judicial for concedida antes de o crédito ter sido constituído, é possível ao
fisco efetuar o lançamento para prevenir a decadência.
1.3.5 Parcelamento
No momento em que o contribuinte adere ao parcelamento, ocorre a interrupção do prazo
prescricional.
A adesão ao regime de parcelamento importa no reconhecimento do débito pelo devedor.
Interrompida a prescrição, o prazo volta a ser contado do zero, e não transcorre até que o
parcelamento seja rescindido.
As regras gerais sobre parcelamento se encontram inseridas no artigo 155-A do Código
Tributário Nacional:
Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição
estabelecidas em lei específica.
§1º Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito
tributário não exclui a incidência de juros e multas.
§2º Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições
desta Lei, relativas à moratória.
§3º Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos
créditos tributários do devedor em recuperação judicial.
§4º A inexistência da lei específica a que se refere o § 3o deste artigo
importa na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da
Federação ao devedor em recuperação judicial, não podendo, neste
caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei
federal específica.
Por fim, destacamos o § 11 do art. 195 da Constituição. Segundo o novo dispositivo, a
União não pode conceder moratória ou parcelamento com prazo superior a 60 meses para as
contribuições previdenciárias elencadas nos incisos I e II do caput.
Art.195, § 11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo
superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput.
1.4 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
1.4.1 Pagamento
O art. 156, inciso I, do CTN, dispõe que extingue o crédito tributário o pagamento, sendo
esse o modo usual de extinção das obrigações tributárias.
Já o art. 157 do CTN deixa claro que no âmbito do Direito Tributário as penalidades devem
ser cobradas cumulativamente com o valor do tributo.
O artigo 158, por sua vez, tem a seguinte redação:
Art. 158. O pagamento de um crédito não importa em presunção de
pagamento:
I - quando parcial, das prestações em que se decomponha;
II - quando total, de outros créditos referentes ao mesmo ou a outros
tributos.

Esse dispositivo, portanto, afasta a incidência, no âmbito do Direito Tributário, o qual a


quitação da última prestação estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas
as anteriores.
Já o art. 159 do CTN, que dispõe sobre o lugar do pagamento, salvo disposição em
contrário, a dívida é portável, porque deve ser paga na repartição competente do domicílio do
sujeito passivo.
O art.160 dispõe sobre o tempo do pagamento. Se a legislação tributária for omissa sobre a
data de vencimento, considera-se que a dívida deve ser paga 30 dias após o sujeito passivo ser
notificado do lançamento. O parágrafo único, por sua vez, autoriza que a legislação tributária
conceda desconto pela antecipação do pagamento.
Caso, no entanto, o sujeito passivo não efetue o pagamento no tempo correto, incide o
disposto no art. 161 do CTN:
Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é
acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da
falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da
aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou
em lei tributária.
§1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são
calculados à taxa de 1% ao mês.
§2º O disposto neste artigo não se aplica na pendência de consulta
formulada pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do
crédito.

Ressalta-se que, no âmbito da União, a dívida inadimplida sofre a incidência da Taxa Selic e
da penalidade pecuniária.
Tem-se o entendimento de que os Estados podem legislar sobre a matéria, inclusive
mediante a fixação de um índice de correção monetária próprio. No entanto, se optarem por fazê-
lo, o índice da União serve como teto, não podendo ser ultrapassado.
Revela-se possível, nessa perspectiva, que os estados utilizem a Taxa Selic, desde que exista
legislação própria determinando a sua incidência. É o que revela a Súmula 523 do STJ:
Súmula 523: A taxa de juros de mora incidente na repetição de
indébito de tributos estaduais deve corresponder à utilizada para
cobrança do tributo pago em atraso, sendo legítima a incidência da
taxa Selic, em ambas as hipóteses, quando prevista na legislação
local, vedada sua cumulação com quaisquer outros índices

O parágrafo segundo traz uma exceção à regra segundo a qual deve a dívida sofrer a
incidência dos gravames legais quando paga a destempo. Trata-se da hipótese em que o
contribuinte, antes de vencido o crédito, realiza uma consulta à administração pública, para
solucionar eventual dúvida sobre a interpretação da legislação tributária.
Para que produza esse efeito, a consulta deve ser séria e fundada, não devendo ser aceita
quando realizada com intuito protelatório.
O art. 162 do CTN autoriza que o pagamento seja realizado em moeda corrente, cheque,
vale postal e, nos casos previstos em lei, em estampilha, papel selado ou por processo mecânico.
Já o art.163 do CTN traz regras sobre imputação do pagamento:
Art. 163. Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do
mesmo sujeito passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito
público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes
de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade
administrativa competente para receber o pagamento determinará a
respectiva imputação, obedecidas as seguintes regras, na ordem em
que enumeradas:
I - em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em
segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária;
II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e
por fim aos impostos;
III - na ordem crescente dos prazos de prescrição;
IV - na ordem decrescente dos montantes.

O inciso I determina que se o sujeito passivo tiver dívida de IRPJ na qualidade de


contribuinte, e de IPI em razão de responsabilidade tributária, o valor recolhido deve ser alocado
prioritariamente para quitação daquela.
Caso essa regra não seja aplicável, porque o sujeito passivo só tem dívidas como
contribuinte, aplica-se o inciso II, que determina que o pagamento deve recair primeiro para
quitação das contribuições de melhoria, depois para pagamento das taxas e por fim para os
impostos.
Se nenhuma dessas duas regras for aplicável, aplica-se o inciso III. Desse modo, o
pagamento deve ser feito na ordem crescente dos prazos de prescrição. Se o sujeito passivo não
recolheu IR referente aos anos de 2015 e 2017, o pagamento deve ser imputado primeiro no IRPF
do ano de 2015.
Por fim, se nenhuma das regras acima for aplicável, incide o inciso IV, o qual o pagamento
deve ser imputado na ordem decrescente dos montantes.
Por fim, dispõe o artigo 164 sobre a consignação do pagamento:
Art. 164. A importância de crédito tributário pode ser consignada
judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos:
I - de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento
de outro tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação
acessória;
II - de subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências
administrativas sem fundamento legal;
III - de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público,
de tributo idêntico sobre um
mesmo fato gerador.
§1º A consignação só pode versar sobre o crédito que o consignante
se propõe pagar.
§2º Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa
efetuado e a importância consignada é convertida em renda; julgada
improcedente a consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito
acrescido de juros de mora, sem prejuízo das penalidades cabíveis.
Ocorrendo alguma das situações previstas pelo artigo 164, pode o sujeito passivo consignar
judicialmente o valor do crédito tributário.
O inciso I primeiro ocorre quando o fisco se recusa a receber o pagamento, sob o pretexto
de que o sujeito passivo deve recolher também quantia atinente a outro tributo ou penalidade, ou
deve cumprir determinada obrigação acessória.
O inciso II possibilita a consignação em pagamento quando o fisco subordina o seu
recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal.
O inciso III, por sua vez, diz que a consignação judicial do pagamento se justifica quando
mais de uma pessoa jurídica de direito público exige tributo idêntico sobre um mesmo fato
gerador.
O parágrafo primeiro enuncia que “a consignação só pode versar sobre o crédito que o
consignante se propõe pagar”. Assim, a ação de consignação de pagamento não é via adequada
para discutir a legalidade do tributo devido.
1.4.2 Compensação
Trata-se de fenômeno em que duas pessoas são ao mesmo tempo credor e devedor uma
da outra.
No Direito Tributário a compensação só extingue a obrigação tributária se existir lei no
âmbito da entidade federativa competente que autorize essa modalidade de extinção. É o que
dispõe o art. 170 do CTN:
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular,
ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade
administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com
créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo
contra a Fazenda pública.
Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei
determinará, para os efeitos deste artigo, a apuração do seu
montante, não podendo, porém, cominar redução maior que a
correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo tempo a
decorrer entre a data da compensação e a do vencimento.

Portanto, o sujeito passivo apenas pode realizar a compensação se existir lei que autorize.
O parágrafo único estabelece que o crédito vincendo do sujeito passivo deve sofrer, nos
termos da lei, um deságio, que não poderá ser superior a 1% ao mês.
O art. 170-A, inserido pela LC nº 104/2001, determina ser “vedada a compensação
mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes
do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial”. Trata-se de dispositivo que se aplica tão
somente às demandas ajuizadas após a vigência da LC nº 104/2001, ou seja, a partir de
11/01/2001.
Há súmula do STJ nesse sentido:
Súmula n. 212: A compensação de créditos tributários não pode ser
deferida por medida liminar.

Por força desse dispositivo, portanto, não pode o magistrado, no bojo de uma ação judicial
que requer o reconhecimento de que foram pagos tributos indevidamente, deferir em
antecipação de tutela a compensação do indébito com os créditos devidos pelo sujeito passivo.
Aliás, essa compensação não pode ser realizada nem mesmo após a decisão do tribunal de
segundo grau que confirme eventual sentença de procedência. Como o art. 170-A exige
expressamente o trânsito em julgado, o fato de o recurso especial e do recurso extraordinário não
possuírem, como regra, efeito suspensivo, não autoriza que a compensação seja realizada antes
que sejam esgotados todos os recursos cabíveis.
Súmula 461 do STJ: O contribuinte pode optar por receber, por meio
de precatório ou por compensação, o indébito tributário certificado
por sentença declaratória transitada em julgado

Ademais, é possível a utilização do Mandado de Segurança para declaração do direito à


compensação tributária, conforme enuncia a Súmula 213 do STJ:
Súmula 213: O mandado de segurança constitui ação adequada para
a declaração do direito à compensação tributária.

1.4.3 Transação
A mera realização da transação não põe fim ao crédito. É possível que o devedor não
cumpra com as condições estabelecidas. Daí por que ser o pagamento, na forma prevista pela
transação, a causa da extinção.
Reza o art. 171 do CTN:
Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos
sujeitos ativo e passivo da obrigação Tributária celebrar transação
que, mediante concessões mútuas, importe em determinação de
litígio e consequente extinção de crédito tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para
autorizar a transação em cada caso.

Portanto, não há como a autoridade administrativa transacionar o crédito tributário sem lei
que regulamente o instituto e estabeleça critérios objetivos para sua realização.
1.4.4 Remissão
Como se pode observar do art. 172, a autoridade administrativa não é livre para conceder a
remissão do crédito tributário (perdão do crédito tributário), só podendo fazê-lo se existir lei que
lhe autorize, e nos termos e limites estabelecidos por ela.
Por fim, destaca-se o §11 do art. 195 da CF. Segundo o novo dispositivo, a lei
complementar deve estabelecer os casos em que não é permitida a remissão das contribuições
previdenciárias elencadas pelos incisos I e II do caput. Eis a redação do dispositivo:
Art. 195, §11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo
superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput.
1.4.5 Decadência e Prescrição
1.4.5.1 Considerações Gerais
Prescrição – direitos prestacionais, que são aqueles direitos que têm como objeto uma
prestação, positiva ou negativa, do sujeito passivo. Pode ser uma obrigação de dar, de fazer ou
não fazer, e a fruição desses direitos depende da adoção de determinada conduta por parte do
sujeito passivo.
Decadência – direitos potestativos são aqueles direitos que podem ser exercidos
independentemente do concurso de vontade do sujeito passivo, bastando a manifestação de
vontade do sujeito ativo - ainda que com a intervenção do juiz em alguns casos.
Para a teoria científica, os direitos prestacionais, dos quais decorrem as ações
condenatórias e executivas, sujeitam-se à prescrição. Os direitos potestativos, geradores das ações
constitutivas, sujeitam-se ao prazo decadencial, quando existe prazo para o seu exercício em lei.
As ações declaratórias e os direitos potestativos sem prazo previsto em lei são perpétuos.
Se trouxermos essa teoria para o Direito Tributário, chegaremos às seguintes conclusões:
1ª: O prazo para que o fisco constitua o crédito tributário é decadencial, porque o
lançamento é um direito potestativo, que pode ser exercido independentemente de qualquer
comportamento do sujeito passivo. Portanto, entre a obrigação tributária e o lançamento, corre
prazo decadencial.
2º: Constituído o crédito, a prescrição passa a correr após a data de vencimento da
obrigação, quando a pretensão passa a existir. O prazo é prescricional porque o pagamento do
tributo pressupõe um comportamento do sujeito passivo, consistente na entrega da quantia ao
credor.
1.4.5.2 Decadência
Todas elas estabeleçam o prazo decadencial de cinco anos, a forma de contagem se altera
em razão da variação do termo inicial.
1ª Regra: Decadência nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação em que: a)
houve pagamento, ainda que parcial; b) não ocorreu fraude, dolo ou simulação
O lançamento por homologação se caracteriza pelo fato de o sujeito passivo antecipar o
pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Apenas posteriormente é que o fisco,
tomando conhecimento do pagamento, pode homologá-lo ou então lançar de ofício os créditos
sonegados. Ocorre que, nem sempre a administração tributária toma uma dessas atitudes. Nessa
hipótese, incide o disposto no art. 150, §4º, do CTN, que dispõe no seguinte sentido:
Art.150, §4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco
anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo
sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se
homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo
se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

Transcorrido cinco anos desde a ocorrência do fato gerador sem o pronunciamento da


Fazenda pública, ocorre a homologação tácita do pagamento, ou seja, o direito do fisco de lançar
eventual quantia remanescente fica prejudicado pela decadência.
Essa regra, no entanto, não se aplica em duas situações:
I - A primeira - comprovado que o sujeito passivo agiu com dolo, fraude ou simulação.
Nesse caso a decadência regulada por outra norma jurídica geral e abstrata.
II - A segunda - contribuinte não realizou nenhum pagamento. Não havendo pagamento,
não há o que se homologar e, não havendo o que se homologar, não se aplica o §4º do art.150.
Assim, a regra de decadência nessa hipótese também é regulada por outra norma jurídica
geral e abstrata.
Portanto, a primeira norma sobre decadência: Tratando-se de tributo sujeitos a
lançamento por homologação em que houve pagamento, ainda que parcial, e não ocorreu fraude,
dolo ou simulação, o prazo decadencial é de cinco anos, contados da ocorrência do fato gerador.
2ª Regra: Decadência nos casos de: a) tributos sujeitos ao lançamento de ofício; b) tributos
sujeitos ao lançamento por homologação em que o sujeito passivo não efetue o pagamento
antecipado; c) tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o sujeito passivo atue
com dolo, fraude ou simulação.
Quando o sujeito passivo, no bojo de um tributo sujeito ao lançamento por homologação,
não efetua nenhum pagamento, não se aplica a regra do §4º do art. 150 do CTN, porque não há o
que ser homologado.
Nessa hipótese, incide o art. 173, inciso I, do CTN:
Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário
extingue-se após 5 (cinco) anos, contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetuado;

Há inclusive Súmula do STJ sobre o assunto:


Súmula 555: Quando não houver declaração do débito, o prazo
decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário
conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos casos
em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o
pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.

O que importa é a inexistência do pagamento e não a inexistência da declaração.


Portanto, a segunda regra sobre decadência pode ser enunciada da seguinte forma:
Tratando-se de tributos sujeitos ao lançamento de ofício ou de tributos sujeitos ao lançamento
por homologação em que o contribuinte não efetue o pagamento antecipado, ainda que parcial,
ou atue com dolo, fraude ou simulação, o prazo decadencial é de cinco anos, contados do dia 01
de janeiro do ano seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.
3ª Regra: Decadência nos casos em que notificado o contribuinte de medida preparatória do
lançamento, em se tratando de: a) tributos sujeitos ao lançamento de ofício; b) tributos sujeitos
ao lançamento por homologação em que o sujeito passivo não efetue o pagamento antecipado; c)
tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o sujeito passivo atue com dolo, fraude
ou simulação.
O § único do art. 173 do CTN possui a seguinte redação:
Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se
definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da
data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário
pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida
preparatória indispensável ao lançamento.

Portanto, em ocorrendo uma medida preparatória indispensável ao lançamento, o termo


inicial do prazo decadencial deve ser o da data da notificação dessa iniciativa, e não do primeiro
dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.
Nota-se que a medida preparatória apenas antecipa o prazo decadencial, mas não tem o
condão de postergá-lo.
Portanto, a terceira regra sobre decadência pode ser enunciada da seguinte forma:
Tratando-se de tributos sujeitos ao lançamento de ofício ou de tributos sujeitos ao lançamento
por homologação em que o sujeito passivo não efetue o pagamento antecipado, ainda que parcial,
ou atue com dolo, fraude ou simulação, o termo inicial do prazo decadencial é antecipado para a
data da notificação da medida preparatória ao lançamento, quando esta é realizada.
4ª Regra: Decadência do direito de lançar em razão da anulação, por vício formal, do lançamento
anterior.
A anulação do lançamento por vício formal importa em interrupção do prazo decadencial,
que passa a ser contado novamente a partir da data da decisão que o anulou de maneira
definitiva. É o que dispõe o art. 173, inciso II, do CTN:
Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário
extingue-se após 5 anos, contados:
II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado,
por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Os vícios formais são aqueles que dizem respeito a aspectos procedimentais, como ocorre
nos casos em que o lançamento é anulado em razão da violação à garantia da ampla defesa. Os
vícios materiais concernem ao próprio crédito tributário.
1.4.5.3 Prescrição
O caput do art. 174, do CTN, dispõe da seguinte forma:
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em
cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.[...]

A constituição definitiva do crédito é elemento necessário, mas não suficiente para o curso
do prazo prescricional, sendo necessário que haja também o vencimento da data para pagamento
voluntário do tributo.
Portanto, é possível afirmar que o prazo prescricional se inicia quando o crédito já tiver
sido definitivamente constituído e o prazo para pagamento voluntário da obrigação já tenha se
esgotado. Os dois requisitos são cumulativos, e o preenchimento do último deles é que faz eclodir
o curso do prazo prescricional.
Quanto ao tema, é preciso atentar para o fato de que a constituição definitiva do crédito
tributário não ocorre apenas pelo lançamento, podendo ser realizada por outros mecanismos.
Além do lançamento, a forma mais usual de constituição do crédito tributário ocorre quando o
contribuinte declara o valor da obrigação, mas não realiza o seu pagamento, nos casos de tributos
sujeitos a lançamento por homologação. Sobre o assunto, há inclusive Súmula do STJ:
Súmula 436, STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte
reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada
qualquer outra providência por parte do fisco.

Nesses casos, portanto, como o crédito foi constituído pela declaração, é desnecessário
que, com relação ao valor declarado, o fisco proceda ao lançamento tributário, podendo desde
logo efetuar a sua cobrança. Apenas com relação à eventual quantia omitida é que será necessária
a realização do lançamento.
Assim, se contribuinte X fizer declaração de ajuste de IRPF que resulte na quantia a pagar
de R$ 15.000,00, mas não realizar o pagamento, pode o fisco imediatamente inscrever o crédito
em dívida ativa e ingressar com a ação de execução fiscal, não sendo necessário o prévio
lançamento tributário. O prazo para realização da cobrança, portanto, é de natureza prescricional.
Por outro lado, se o valor foi declarado apenas parcialmente é necessário o lançamento
tributário com relação à quantia não informada. Retomando o nosso exemplo, seria o caso se o
contribuinte X tivesse omitido rendimentos, que elevariam o valor do tributo de R$ 15.000,00 para
R$ 20.000,00. Nessa circunstância, com relação aos R$ 15.000,00 declarados, pode o fisco realizar
a sua cobrança, sem a necessidade do lançamento, sendo o prazo de natureza prescricional. Com
relação aos R$ 5.000,00 que foram omitidos, no entanto, é necessário o prévio lançamento, sendo
o prazo de natureza decadencial.
O §único do art. 174 do CTN traz as hipóteses que interrompem a prescrição:
Art. 174, Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe
em reconhecimento do débito pelo devedor.

Quanto à interpretação do inciso I, o STJ entende como possível a sua aplicação em


conjunto com o §1º do artigo 240 do CPC, para que a interrupção da prescrição retroaja à data de
propositura da ação.
1.4.6 Conversão do depósito em renda
Ocorre nos casos em o contribuinte deposita a quantia judicialmente, enquanto discute a
sua legalidade. Julgados improcedentes os pedidos formulados pelo sujeito passivo, o valor
depositado é convertido em renda, ou seja, é transferido para a Fazenda Pública, o que acarreta a
extinção da obrigação tributária subjacente.
1.4.7 O pagamento antecipado e a homologação do lançamento
O pagamento antecipado extingue o crédito apenas a título precário, sob a condição de
que ele seja posteriormente homologado. Portanto, a extinção da obrigação sob esse fundamento
pressupõe esses dois requisitos: o pagamento e a sua posterior homologação por parte do fisco.
1.4.8 A consignação em pagamento
O valor consignado é convertido em renda, extinguindo a obrigação tributária subjacente.
1.4.9 Decisão administrativa irreformável e a decisão judicial passada em julgado
Se no processo administrativo fiscal ficar reconhecido que o lançamento tributário não
deve subsistir, o crédito tributário que foi por ele constituído deve ser extinto.
O mesmo ocorre quando uma decisão judicial transitada em julgado anular um crédito
tributário.
Diferentemente das demais hipóteses do art. 156 do CTN, as situações descritas nos incisos
IX e X podem implicar tanto na extinção da obrigação tributária quanto na extinção apenas do
crédito tributário.
Se a extinção se der por uma questão formal, a extinção é apenas do crédito tributário,
podendo o fisco efetuar novo lançamento tributário, desde que observado o prazo decadencial.
1.4.10 Dação em pagamento em bens imóveis
No direito tributário não há dação em pagamento de bens móveis. Entretanto, na ADI nº
2405, o STF entendeu que, não ferindo o princípio da licitação, é possível a criação da extinção por
dação em bem móvel.
No âmbito do Direito Tributário, a dação em pagamento de bens imóveis foi autorizada
pelo art. 156, inciso XI, do CTN, conforme se pode observar da redação do dispositivo:
Art. 156. Extinguem o crédito tributário: XI – a dação em pagamento
em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.
OBS: STF entende que a extinção e a suspensão do crédito podem ser por lei ordinária, sendo
obrigatória a lei complementar para: a) conflito de competência; b) prescrição; c) decadência e d)
responsabilidade tributária.
Por fim, é possível perceber que o CTN apenas autorizou a dação em pagamento, cabendo
a lei ordinária de cada entidade federativa regulamentar a forma e as condições para sua
realização. Não podendo esquecer da exceção criada pela ADI nº 2405, acima mencionada.
1.5 EXCLUSÃO DO CRÉTIDO TRIBUTÁRIO
1.5.1 Considerações Gerais
A exclusão do crédito tributário acontece entre a obrigação tributária e o crédito tributário.
Assim, a obrigação tributária nasce pela ocorrência no mundo real daquele acontecimento
previsto pela norma jurídica. No entanto, com a ocorrência de alguma das hipóteses elencadas
pela lei, o crédito é excluído, sem que antes seja realizada a sua constituição.
Vale relembrar que o art. 150, §6º, da CF, exige lei específica para concessão de isenção ou
anistia; e que o §único do art. 175 do CTN determina que a exclusão do crédito tributário não
dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal.
1.5.2 Isenção
1.5.2.1 Principais Teorias sobre isenções
Isenção como dispensa legal do pagamento - primeiro, o fato jurídico ocorre, nascendo
normalmente o vínculo obrigacional. Em seguida, incide a norma isentiva, desonerando o sujeito
passivo da obrigação tributária de cumprir o dever jurídico de recolher o gravame.
Em provas objetivas de concurso público é recomendável a adoção da teoria da dispensa
legal do pagamento do tributo, que está em harmonia com o art. 175 do CTN, que arrola a isenção
como uma hipótese de exclusão do crédito tributário. Ademais, essa é a teoria que tem sido
adotada pelo STF.
1.5.2.2 Classificação das isenções
Isenções objetivas e isenções subjetivas
As isenções objetivas não levam em consideração as circunstâncias individuais do sujeito
passivo. O critério é objetivo, e dispensa qualquer consideração sobre o proprietário do imóvel.
As isenções subjetivas são aquelas cuja hipótese de incidência preveem algum elemento
referente ao sujeito passivo. É o caso da lei que isenta o deficiente físico do pagamento do IPVA.
Isenções gerais e isenções específicas
As isenções gerais são aquelas fruídas imediatamente a partir da vigência da lei,
independentemente de despacho da autoridade administrativa.
As isenções específicas dependem de despacho da autoridade administrativa.
Isenções condicionadas e isenções não condicionadas
As isenções não condicionadas são concedidas independentemente da realização de
qualquer contrapartida por parte do sujeito passivo.
As isenções condicionadas cuja fruição depende da realização de certas contrapartidas.
Essas isenções são realizadas por meio de contrato, após autorização legal.
1.5.2.3 Disciplina no Código Tributário Nacional
O art. 176 do CTN dispõe no seguinte sentido:
Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre
decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos
para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o
prazo de sua duração.
Parágrafo único. A isenção pode ser restrita a determinada região do
território da entidade tributante, em função de condições a ela
peculiares.

A isenção sempre deve ser veiculada por meio de lei específica. Essa exigência também se
aplica nos casos em que a isenção depende de contrato.
A isenção pode ser concedida por prazo certo ou por prazo indeterminado. No primeiro
caso, a isenção só vale pelo período determinado pela legislação; no segundo, até que a norma
isentiva seja modificada. As isenções abrangem apenas os tributos, não se estendendo às
penalidades pecuniárias.
O art. 177, por seu turno, possui a seguinte redação:
Art. 177. Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é
extensiva:
I - às taxas e às contribuições de melhoria;
II - aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão.

O art. 178 regula a revogação das isenções:

Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função


de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei,
a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.
Duas são as normas que se pode extrair desse dispositivo:
I) A primeira delas impede a revogação de uma isenção que tenha sido concedida
por prazo certo e em função de determinadas condições. Os requisitos são cumulativos, ou seja, a
norma apenas se aplica quando o sujeito beneficiário pela isenção tenha que realizar
contrapartidas e o prazo para sua fruição seja determinado.
II) A segunda norma concerne às isenções que sejam concedidas por prazo
indeterminado ou sem a imposição de contrapartidas. Nessa hipótese, a revogação é possível a
qualquer tempo.
Deve-se atentar para o entendimento do STF no qual a anterioridade anual e a
anterioridade nonagesimal se aplicavam em caso de revogação de benefício fiscal.
Por fim, dispõe o art. 179 do CTN:
Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é
efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa,
em requerimento com o qual o interessado faça prova do
preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos
previstos em lei ou contrato para sua concessão.
§1º Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o
despacho referido neste artigo será renovado antes da expiração de
cada período, cessando automaticamente os seus efeitos a partir do
primeiro dia do período para o qual o interessado deixar de promover
a continuidade do reconhecimento da isenção.
§2º O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido,
aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.

Esse dispositivo se aplica nos casos de isenções específicas, que dependem de despacho da
autoridade administrativa. O sujeito passivo comprova o preenchimento das condições e o
cumprimento dos requisitos perante o fisco, que então defere o benefício.
1.5.3 Anistia
A anistia é o perdão do ilícito cometido pelo infrator, que importa na impossibilidade da
cobrança da sanção pecuniária correlata.
Dispõe o art. 180 do CTN:
Art. 180. A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas
anteriormente à vigência da lei que a concede, não se aplicando:
I - aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos
que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com dolo,
fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício
daquele;
II - salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio
entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas.

A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas antes da vigência da lei que a


instituiu.
Comportamentos que não podem ser beneficiados pela anistia: i) atos qualificados em lei
como crimes ou contravenções; ii) atos praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito
passivo ou terceiro em benefício daquele; iii) infrações resultantes de conluio entre duas ou mais
pessoas naturais ou jurídicas.
O art. 181 possui a seguinte redação:
Art. 181. A anistia pode ser concedida:
I - em caráter geral;
II - limitadamente:
a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo;
b) às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado
montante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza;
c) a determinada região do território da entidade tributante, em
função de condições a ela peculiares;
d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que
a conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à
autoridade administrativa.

A anistia pode ser concedida de maneira ampla ou de maneira mais restrita, a depender da
lei que for editada. Quanto à interpretação da legislação, deve-se observar o disposto no art. 111,
inciso I, do CTN:
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que
disponha sobre:
I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;
Desse modo, não pode o intérprete ampliar o âmbito da norma benéfica, para aplicá-la a
outras hipóteses não expressamente previstas. Assim, se a lei anistiou as multas moratórias, é
vedado ao aplicador estender a anistia às multas punitivas, por exemplo.
Por fim, dispõe o art. 182 do CTN:
Art. 182. A anistia, quando não concedida em caráter geral, é
efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa,
em requerimento com a qual o interessado faça prova do
preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos
previstos em lei para sua concessão.
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera direito
adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.

Assim como ocorre com a isenção, a anistia pode ser geral ou específica.
Também como ocorre com a isenção, nessa hipótese, de anistia específica, aplica-se o art.
155 do CTN, nos casos em que se verifique que o interessado não satisfazia os requisitos para sua
obtenção.
A anistia só pode incidir entre a obrigação tributária e o crédito tributário, ou seja, após o
sujeito passivo ter incidido na multa, mas antes da sua constituição. Caso a multa já tenha sido
constituída, não pode mais ocorrer a exclusão do crédito tributário pela anistia, sendo possível, no
entanto, a extinção do crédito tributário pela remissão.
Por fim, destacamos o § 11 do artigo 195 da CF. Segundo o novo dispositivo, a lei
complementar deve estabelecer os casos em que não é permitida a anistia das multas impostas
em decorrência do inadimplemento das contribuições previdenciárias elencadas pelos incisos I e II
do caput. Eis a redação do dispositivo:
Art. 195, §11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo
superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput.

1.6 RESTITUIÇÃO DO PAGAMENTO INDEVIDO


O art.165 do CTN dispõe sobre:
Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio
protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a
modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do
artigo 162, nos seguintes casos:
I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior
que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da
natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente
ocorrido;
II - erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota
aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou
conferência de qualquer documento relativo ao pagamento;
III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão
condenatória.

Esse dispositivo concede ao sujeito passivo o direito de pleitear a restituição de um tributo


pago indevidamente ou a maior independentemente do motivo que tenha dado origem ao
indébito. Assim, cabe a restituição em razão de erro, de prescrição, de decadência, etc.
Ademais, não há a necessidade de prévio requerimento administrativo. O sujeito passivo
pode pedir a restituição administrativamente ou ingressar desde logo com a ação judicial.
O art. 166, por sua vez, tem a seguinte redação:
Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza,
transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a
quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo
transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a
recebê-la.

Portanto, acerca do art. 166 do CTN, é possível fazer a seguinte síntese:


1º: De um modo geral, a regra se aplica ao ICMS, IPI e ISSQN;
2º: Como regra geral, apenas o contribuinte de direito é quem tem a legitimidade
para pleitear a repetição do indébito, desde que não tenha repassado o custo da tributação ou
tenha obtido a autorização do terceiro;
3º: Quanto aos serviços concedidos, o contribuinte de fato – consumidor final – tem
legitimidade para pleitear a repetição do indébito nos tributos indiretos incidentes sobre serviços
concedidos.
Retomando a linha de raciocínio, o caput art. 167 do CTN possui a seguinte redação:
Art. 167. A restituição total ou parcial do tributo dá lugar à
restituição, na mesma proporção, dos juros de mora e das
penalidades pecuniárias, salvo as referentes a infrações de caráter
formal não prejudicadas pela causa da restituição.

Se o contribuinte pagou um tributo indevido fora do prazo, a multa moratória que incidiu
sobre o valor principal também deve ser restituída.
Por outro lado, se a infração for de natureza formal, ou seja, decorrente do mero
descumprimento de uma obrigação acessória, o fato de o valor principal não ser devido não gera o
direito à restituição da multa punitiva.
O §único do art. 167, por sua vez, possui a interpretação dada pela jurisprudência no
sentido de que o valor a ser restituído deve ser corrigido monetariamente desde a data do
pagamento indevido, mas os juros moratórios apenas incidem a partir do trânsito em julgado. Há
duas súmulas do STJ sobre o tema:
Súmula 162 do STJ: Na repetição de indébito tributário, a correção
monetária incide a partir do pagamento indevido.

Súmula 188 do STJ : Os juros moratórios, na repetição do indébito,


são devidos a partir do trânsito em julgado da sentença

O art.168 dispõe que:


Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso
do prazo de 5 anos, contados:
I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do
crédito tributário;
II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar
definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão
judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a
decisão condenatória.

Quanto aos tributos sujeitos a lançamento de ofício ou sujeitos a lançamento por


declaração, a interpretação dessa regra não trazia dificuldades: o prazo prescricional se iniciava a
partir do pagamento, que é quando o crédito é extinto.
O prazo para pleitear a restituição do tributo recolhido indevidamente é de 5 anos,
contados do pagamento indevido, inclusive nos tributos sujeitos a lançamento por homologação.
Por fim, dispõe o art. 169 do CTN:
Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão
administrativa que denegar a restituição.
Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da
ação judicial, recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data
da intimação validamente feita ao representante judicial da Fazenda
Pública interessada.

O sujeito passivo tentou a restituição administrativamente, mas o fisco denegou o pedido.


Nessas hipóteses, o interessado tem o prazo de 2 anos, contados da decisão denegatória, para
ingressar com a ação anulatória.
O parágrafo único estabelece uma hipótese de prescrição intercorrente. Segundo o texto
da lei, a prescrição é interrompida pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso pela
metade, a partir da intimação da Fazenda Pública.

AULA 08

1) GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO


1.1 DISPOSIÇÕES GERAIS
O artigo que inaugura o tema é o art.183 do CTN, que possui a seguinte redação:
Art. 183. A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo ao
crédito tributário não exclui outras que sejam expressamente
previstas em lei, em função da natureza ou das características do
tributo a que se refiram.[...]

Como se observa, o rol das garantias constantes do CTN não é exaustivo. Outras mais
podem ser estabelecidas por meio de leis ordinárias federais, estaduais e municipais.
No entanto, isso não significa que a lei ordinária possa contrariar as disposições previstas
pelo CTN. As normas introduzidas por esse diploma legislativo são gerais e cogentes. O que a lei
ordinária pode fazer é tão somente criar outras garantias ou privilégios que com elas sejam
compatíveis.
Quanto ao §único do art.183 do CTN, ele dispõe da seguinte forma:
Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito
tributário não altera a natureza deste nem a da obrigação tributária
a que corresponda.

Assim, o fato de o devedor ter garantido a execução fiscal com uma fiança, por exemplo não altera
a natureza do crédito tributário.
O artigo 184 possui a seguinte redação:
Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados
bens, que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do
crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer
origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa
falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de
inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da
constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens
e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.

Por força desse dispositivo, responde pelo crédito tributário todos os bens do sujeito
passivo, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade,
excetuados os bens e rendas absolutamente impenhoráveis.
Nessa esteira, é irrelevante, por exemplo, que o imóvel do sujeito passivo esteja
hipotecado por uma dívida bancária (gravado por ônus real), porque isso não impede que ele seja
excutido para satisfação do crédito tributário. O mesmo ocorre com o bem imóvel recebido pelo
sujeito passivo em doação, no qual conste cláusula de impenhorabilidade. Embora essa
circunstância impeça a sua alienação para satisfação de dívidas contraídas com particulares, não é
óbice à penhora e arrematação para quitação de créditos de natureza tributária.
Assim, apenas não podem ser penhorados os bens e rendas que a lei declare
absolutamente impenhoráveis, do que são exemplos o bem de família, previsto pela Lei 8.009/90;
e aqueles arrolados no artigo 833 do CPC.
O art.185 versa sobre a fraude à execução fiscal:
Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou
rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a
Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como
dívida ativa.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de
terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao
total pagamento da dívida inscrita.

Como se pode observar, o marco temporal utilizado pela Lei para caracterização da fraude
à execução é a inscrição do crédito em dívida ativa, que ocorre antes mesmo do ajuizamento da
ação de execução fiscal.
O regramento aplicável ao fisco com relação aos créditos tributários é mais favorável do
que o existente em favor dos credores privados. Com relação a estes últimos pressupõe para o
reconhecimento da fraude à execução a existência de uma demanda judicial ou de uma constrição
judicial.
O § único do art. 185, não é toda alienação após a inscrição em dívida ativa que se constitui
em fraude à execução, mas tão somente aquelas que sejam realizadas sem que o devedor tenha
reservado bens para o pagamento da dívida inscrita.
Ainda quanto ao tema, é importante consignar que o STJ firmou entendimento no sentido
da inaplicabilidade da Súmula 375 à fraude à execução fiscal:
Súmula nº 375: O reconhecimento da fraude à execução depende do
registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do
terceiro adquirente.

O fundamento é o de que, tratando-se de alienação realizada após a inscrição em dívida


ativa sem que tenham sido reservados pelo sujeito passivo bens suficientes ao total pagamento da
dívida, a presunção de fraude à execução é absoluta, sendo irrelevante que o terceiro tenha
adquirido o bem de boa-fé.
Assim, se o devedor X, contra quem há dívida tributária inscrita no valor de R$ 200.000,00,
vender a Y um imóvel de sua propriedade - sem reservar bens para garantir a integralidade da
dívida - pode o fisco penhorar o bem transacionado e levá-lo a leilão para satisfação do seu crédito
sendo irrelevante a circunstância de o terceiro adquirente ter agido de boa-fé.
Por fim, dispõe o art. 185-A do CTN:
Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado,
não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não
forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a
indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão,
preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que
promovem registros de transferência de bens, especialmente ao
registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado
bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas
atribuições, façam cumprir a ordem judicial.
§1º A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á
ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato
levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que
excederem esse limite.
§2º Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de que
trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao juízo a relação
discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade houverem
promovido.

Como se pode observar, três são os requisitos para que a indisponibilidade possa ser
decretada: a) citação do devedor; b) ausência de indicação de bens à penhora pelo devedor; c)
não terem sido encontrados bens penhoráveis pela Fazenda Pública.
Os dois primeiros requisitos não oferecem dificuldades, sendo decorrência do próprio
procedimento adotado pela LEF. De fato, no modelo adotado pela Lei 6.830/80, citado o devedor,
este tem o prazo de cinco dias para pagar a dívida ou garantir a execução.
Já o terceiro requisito foi pacificado pelo STJ através da súmula nº 560:
Súmula 560: A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na
forma do art. 185- A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências
na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando
infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a
expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado,
ao Denatran ou Detran.

Assim, é necessário o exaurimento das diligências, que se considera ocorrido quando: a)


restar infrutífero o pedido de constrição sobre ativos financeiros (SisbaJud); b) for comprovado
pelo fisco a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado – como cartórios
de registro de imóveis – sem que tenham sido encontrados bens; c) tenha o credor enviado ofícios
ao Denatran ou Detran com pedido de informações sobre veículos em nome do devedor.
A medida facilita a localização desse patrimônio, porque o parágrafo segundo determina
que, uma vez cumprida a indisponibilidade, cabe aos órgãos e entidades registrais informar ao
juízo sobre o cumprimento da decisão.
Por outro lado, caso se constate que a indisponibilidade atingiu bens diversos cuja soma é
superior ao valor cobrado, deve o magistrado determinar o levantamento dos bens ou valores que
excederem a esse limite, conforme determina o parágrafo primeiro do dispositivo.
1.2 PREFERÊNCIAS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
O art.186 do CTN dispõe que:
Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for
sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos
decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.
O crédito tributário prefere a qualquer outro, independentemente da natureza ou do
tempo da sua constituição, ressalvados apenas os créditos decorrentes da legislação do trabalho
ou do acidente de trabalho.
Embora essa seja a regra sobre a preferência do crédito tributário, há importante exceção,
constante do parágrafo único do art. 186, que disciplina a ordem de preferência no caso de
falência:
Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for
sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos
decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.
Parágrafo único. Na falência:
I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às
importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar,
nem aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem
gravado;
II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência
dos créditos decorrentes da legislação do trabalho; e
III – a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados.

No caso de falência do devedor há a necessidade de fracionamento do crédito tributário


em três partes: a) valor do tributo acrescido de correção monetária e juros até a data da falência;
b) valor das multas tributárias; c) valor dos juros moratórios vencidos após a decretação da
falência.
As multas tributárias preferem apenas aos créditos subordinados na falência, ou seja, são
pagas somente se os créditos das seguintes classes forem satisfeitos: i) créditos derivados da
legislação trabalhista, limitados a 150 salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes
de trabalho; ii) créditos com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado; iii)
valores devidos a título de tributo, correção e juros vencidos até a data da quebra; e iv) créditos
quirografários.
Os juros moratórios vencidos após a decretação da falência possuem posição ainda menos
privilegiada. Assim, eles somente são pagos se todos os credores subordinados também o forem, o
que é algo bastante raro na prática.
O valor devido a título de tributo acrescido de correção monetária e juros até a data da
falência possui preferência sobre a maior parte dos créditos, salvo com relação: i) aos créditos
extraconcursais; ii) às importâncias passiveis de restituição; iii) aos créditos decorrentes da
legislação do trabalho ou de acidente do trabalho, no limite estabelecido pela legislação; iv) aos
créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado.
Os créditos extraconcursais (i) são aqueles que dizem respeito às obrigações ocorridas após
a falência ou durante o curso da recuperação judicial.
Assim, imaginemos que o devedor falido X possui diversas dívidas. Ele deve R$ 200.000,00
para um credor hipotecário (instituição financeira), R$ 100.000,00 para a União Federal, referente
a tributos inadimplidos, e R$ 1.000.000,00 para fornecedores sem qualquer garantia. Supomos
que o único bem de sua propriedade seja justamente aquele que foi hipotecado, o qual foi
arrematado na falência pelo valor de R$ 250.000,00. Nessa perspectiva, como deve ser repartido o
valor arrecadado? Por força da regra do inciso I do artigo 186, a preferência é do credor com
garantia real, no caso a instituição financeira, que deve receber a quantia de R$ 200.000,00. O
valor remanescente, de R$ 50.000,00, deve ser repassado à União Federal, o que implica apenas
na quitação parcial dos tributos devidos. Os fornecedores, por outro lado, nada recebem.
Os créditos decorrentes da legislação trabalhista ou de acidente do trabalho (iv) mantêm,
também na falência, a preferência sobre o crédito tributário, mas com uma diferença. Nesse caso,
a lei pode estabelecer limites para fruição da preferência.
Os créditos trabalhistas que excederem ao limite de 150 salários-mínimos são
quirografários, não preferindo ao crédito tributário.
Tudo o que dissemos vale para os créditos tributários que se submetem ao concurso de
credores, porque seus fatos geradores ocorreram antes da falência. Mas há também os créditos
tributários extraconcursais, provenientes de obrigações surgidas após a decretação da falência do
devedor. Sobre o tema, o art. 188 do CTN dispõe que:
Art. 188. São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de
fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência.
§1º Contestado o crédito tributário, o juiz remeterá as partes ao
processo competente, mandando reservar bens suficientes à extinção
total do crédito e seus acrescidos, se a massa não puder efetuar a
garantia da instância por outra forma, ouvido, quanto à natureza e
valor dos bens reservados, o representante da Fazenda Pública
interessada.
§2º O disposto neste artigo aplica-se aos processos de concordata.

Os créditos extraconcursais são pagos prioritariamente sobre todos os créditos concursais.


Em existindo mais de um crédito extraconcursal, deve-se observar a ordem prevista pelo art. 84 do
CTN.
O caput do art. 187, por sua vez, determina que “a cobrança judicial do crédito tributário
não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata,
inventário ou arrolamento”.
Isso significa que não é necessário que seja realizada a habilitação do crédito tributário na
falência, recuperação judicial, inventário ou arrolamento, podendo-se prosseguir na execução
fiscal.
Por outro lado, uma vez ocorrida a falência, a execução fiscal será suspensa, e assim
permanecerá até o fim do processo falimentar, sem prejuízo da possibilidade de prosseguimento
contra eventuais corresponsáveis.
Inclusive, após as intimações e a publicação do edital referentes à sentença decretadora da
falência, será instaurado de ofício pelo juízo falimentar incidente de classificação de crédito
público para cada Fazenda Pública credora. Desta forma, cada um dos entes será intimado para
apresentar relação completa de seus créditos inscritos em dívida ativa, acompanhada dos
respectivos cálculos.
O §único do art.187 do CTN estabelece uma ordem de preferência entre os créditos
tributários das entidades federativas:
Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre
pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
I - União;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;
III - Municípios, conjuntamente e pró rata.

Existindo penhoras de entidades federativas diversas sobre o mesmo bem, deve-se pagar
em primeiro lugar os créditos tributários da União, depois dos Estados, DF e Territórios, e por
último dos Municípios. Essa regra foi complementada pelo art. 29 da LEF:
Art. 29, § único, da Lei nº 6830/80: O concurso de preferência
somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na
seguinte ordem:
I - União e suas autarquias;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios e suas autarquias,
conjuntamente e pro rata;
III - Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata.
A diferença entre um dispositivo e outro é que, na LEF, foram incluídos os créditos das
autarquias, que gozam da mesma preferência estabelecida à entidade federativa correspondente.
Em julgado repetitivo, o STJ considerou que o crédito tributário de autarquia federal goza
do direito de preferência em relação àquele de que seja titular a Fazenda Estadual, desde que
coexistentes execuções e penhoras.
Os artigos 189 e 190 do CTN dispõem no seguinte sentido:
Art. 189. São pagos preferencialmente a quaisquer créditos
habilitados em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do
monte, os créditos tributários vencidos ou vincendos, a cargo do de
cujus ou de seu espólio, exigíveis no decurso do processo de
inventário ou arrolamento.
Parágrafo único. Contestado o crédito tributário, proceder-se-á na
forma do disposto no §1º do artigo anterior.
Art. 190. São pagos preferencialmente a quaisquer outros os créditos
tributários vencidos ou vincendos, a cargo de pessoas jurídicas de
direito privado em liquidação judicial ou voluntária, exigíveis no
decurso da liquidação.

Os arts 189 e 190 se aplicam nos casos de inventário e liquidação, quando o sujeito passivo
for solvente, ou seja, consegue adimplir com todas as suas obrigações. Nesse caso, o pagamento d
crédito tributário deve ser realizado com prioridade sobre os demais créditos.
O art. 191-A dispõe no seguinte sentido:
Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da
apresentação da prova de quitação de todos os tributos, observado o
disposto nos arts. 151, 205 e 206 desta Lei.

A concessão da recuperação judicial fica condicionada a uma das seguintes circunstâncias,


no que tange aos créditos tributários: i) quitação de todos os tributos; ii) apresentação de certidão
negativa; iii) certidão positiva com efeitos de negativa.
Ocorrida a suspensão dos créditos tributários por qualquer das hipóteses do art. 151 do
CTN, faz-se possível a concessão da recuperação judicial, porque o contribuinte, muito embora
não tenha quitado seus tributos, obtém uma certidão positiva com efeitos de negativa.
Quanto ao tema, como vimos no capítulo anterior, o parcelamento é causa de suspensão
da exigibilidade do crédito tributário, e o art. 155-A, §3º, prevê que a lei deve dispor sobre
condições de parcelamento do devedor em recuperação judicial. Com base nesse raciocínio, o STJ
tem precedentes no sentido de que, caso haja mora da entidade federativa na edição dessa lei,
não se pode exigir a apresentação de certidões de regularidade fiscal para concessão da
recuperação judicial.
Por fim, dispõem os artigos 192 e 193 do CTN:
Art. 192. Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou
adjudicação será proferida sem prova da quitação de todos os
tributos relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas.
Art. 193. Salvo quando expressamente autorizado por lei, nenhum
departamento d administração pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal, ou dos Municípios, ou sua autarquia, celebrará
contrato ou aceitará proposta em concorrência pública sem que o
contratante ou proponente faça prova da quitação de todos os
tributos devidos Fazenda Pública interessada, relativos à atividade
em cujo exercício contrata o concorre.

O art. 193, por sua vez, afirma que, salvo quando expressamente autorizado por lei, a
celebração de contrato ou a aceitação de proposta em concorrência pública só podem ser
realizadas mediante comprovação do interessado de que realizou a quitação de todos os tributos
devidos à Fazenda Pública interessada, no que tange à atividade em cujo exercício contrata ou
concorre.
Assim, o art. 193 impõe apenas a comprovação da quitação dos tributos com relação à
Fazenda Pública interessada, e desde que relativos à atividade a que pretende ser contratado.
Não obstante, há normas mais rigorosas do que a do artigo 193, como a prevista pelos
artigos 27 a 29 da Lei 8.666/93:
Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,
exclusivamente, documentação relativa a:
I - habilitação jurídica;
II - qualificação técnica;
III - qualificação econômico-financeira;
IV – regularidade fiscal e trabalhista; [...]

Portanto, o atendimento à exigência do art. 193 do CTN pode não ser o suficiente para que
a pessoa jurídica seja contratada pelo poder público.

2) ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
2.1 FISCALIZAÇÃO
Inaugura o tema o art.194 do CTN que possui a seguinte redação:
Art. 194. A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei,
regulará, em caráter geral, ou especificamente em função da
natureza do tributo de que se tratar, a competência e os poderes das
autoridades administrativas em matéria de fiscalização da sua
aplicação.
Parágrafo único. A legislação a que se refere este artigo aplica-se às
pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive às que
gozem de imunidade tributária ou de isenção de caráter pessoal.

Ao utilizar o termo legislação tributária, quis o CTN autorizar não apenas à lei, mas também
aos Decretos, às Portarias, às Instruções Normativas e aos outros atos infralegais.
Por outro lado, isso não significa que o poder executivo seja totalmente livre para dispor
sobre o tema. Como defende Hugo de Brito Machado Segundo:
“[...] as diretrizes e especialmente os limites a serem observados pela
atividade de fiscalização tributária devem ser estabelecidos em lei.
Aspectos instrumentais, porém, que cuidam muito mais do
funcionamento interno e da organização da própria repartição fiscal,
podem ser fixados por atos infralegais.”

O parágrafo único reitera que todos têm o dever de se submeter à fiscalização tributária
independentemente de ser ou não contribuinte de determinado tributo. Assim, o fato de uma
entidade ser isenta ou imune não significa que ela não terá que se sujeitar à fiscalização tributária.
Já o art. 195 do CTN dispõe que:
Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação
quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de
examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos
comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou
da obrigação destes de exibi-los.
Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e
fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão
conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários
decorrentes das operações a que se refiram.

Portanto, os agentes da administração tributária podem fiscalizar as mercadorias, livros,


arquivos documentos e papéis do sujeito passivo, independentemente de qualquer autorização
judicial, mas desde que haja pertinência entre o objeto de análise e a finalidade da fiscalização.
Nesse sentido, não é oponível ao fisco o direito ao sigilo dos livros fiscais, como inclusive
deixa claro o art. 1.193 do Código Civil:
Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da
escrituração, e parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades
fazendárias, no exercício d fiscalização do pagamento de impostos,
nos termos estritos das respectivas leis especiais.

A insubmissão ao disposto no art. 195 do CTN pode justificar a imposição de multa e o


lançamento por arbitramento do tributo, sem prejuízo de a Fazenda Pública requerer
judicialmente a exibição da documentação.
O parágrafo único determina que os livros obrigatórios sejam conservados até que ocorra a
prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram. Na prática,
portanto, o prazo de conservação pode ser bem mais longo, pela possibilidade de o prazo
prescricional ser interrompido ou suspenso.
O art.196 do CTN possui a seguinte redação:
Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a
quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários
para que se documente o início do procedimento, na forma da
legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão
daquelas.
Parágrafo único. Os termos a que se refere este artigo serão
lavrados, sempre que possível, em um dos livros fiscais exibidos;
quando lavrados em separado deles se entregará, à pessoa sujeita à
fiscalização, cópia autenticada pela autoridade a que se refere este
artigo.

O processo administrativo fiscal é orientado pelo princípio documental, porque seus atos
devem ser formalizados.
O art. 197 arrola pessoas e entidades que são obrigadas a prestar ao fisco as informações
de bens, negócios ou atividades de terceiros:
Art. 197. Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à
autoridade administrativa todas as informações de que disponham
com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros:
I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;
II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais
instituições financeiras;
III - as empresas de administração de bens;
IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;
V - os inventariantes;
VI - os síndicos, comissários e liquidatários;
VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em
razão de seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo não abrange a
prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante
esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo,
ofício, função, ministério, atividade ou profissão.

As pessoas arroladas pelo art. 197 são terceiros, ou seja, não são sujeitos passivos da
relação obrigacional principal para cuja fiscalização devem contribuir. Não obstante, têm a
obrigação acessória de prestar informações ao fisco, em razão de manterem informações
relevantes sobre as atividades do sujeito passivo.
A administração tributária pode requisitar diretamente às instituições financeiras os dados
bancários dos seus correntistas, desde que preenchidos os seguintes pressupostos: a) houver
processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso; b) tais exames sejam
considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. Além disso, as
informações obtidas devem ser mantidas sob sigilo.
Quanto ao tema do sigilo fiscal, dispõe o art. 198 do CTN:
Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a
divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de
informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou
financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre natureza e o
estado de seus negócios ou atividades.

Portanto, a regra é que os dados do sujeito passivo sejam conservados pela fazenda pública
respectiva, configurando infração administrativa o repasse dessas informações a terceiros.
Há, no entanto, uma série de exceções a essa regra. O §1º do art. 198, por exemplo, dispõe
no seguinte sentido:
Art. 198, §1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos
previstos no art. 199, os seguintes:
I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;
II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da
Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração
regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade
respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se
refere a informação, por prática de infração administrativa.

O inciso I autoriza o compartilhamento das informações sigilosas com o Poder Judiciário,


nos casos em que haja decisão judicial autorizando. Esse dispositivo também se aplica às CPIs, que
possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais.
O inciso II concerne àquelas situações em que paira contra o contribuinte um processo
administrativo com objetivo de investigar a prática de alguma infração administrativa, seja ela de
natureza ambiental, concorrencial, etc. Nesse caso, é possível que as informações em poder do
fisco sejam compartilhadas com o órgão responsável pela apuração da infração, desde que elas
sejam necessárias para a investigação. Além disso, o intercâmbio deve ser realizado com a
observância das cautelas previstas pelo parágrafo segundo do artigo 198:
Art. 198, §2º O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da
Administração Pública, será realizado mediante processo
regularmente instaurado, e a entrega será feita pessoalmente à
autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a
transferência e assegure a preservação do sigilo.
Também não é vedada a permuta de informações entre as entidades federativas, na forma
estabelecida pela lei ou convênio:
Art. 199. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para
a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de informações, na
forma estabelecida, em caráter geral ou específico, por lei ou
convênio.

O § único deste dispositivo autoriza ainda que a União possa permutar informações com
Estados Estrangeiros, na forma estabelecida em tratados, acordo ou convênios.
Por fim, o parágrafo terceiro do artigo 198 estabelece uma série de informações que não
são protegidas pelo sigilo:
Art. 198, §3º Não é vedada a divulgação de informações relativas a:
I – representações fiscais para fins penais;
II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;
III – parcelamento ou moratória.

Finalmente, dispõe o art. 200 do CTN quanto à requisição de força pública pelas
autoridades administrativas:
Art. 200. As autoridades administrativas federais poderão requisitar o
auxílio da força pública federal, estadual ou municipal, e
reciprocamente, quando vítimas de embaraço ou desacato no
exercício de suas funções, ou quando necessário à efetivação dê
medida prevista na legislação tributária, ainda que não se configure
fato definido em lei como crime ou contravenção.
Essa regra, por óbvio, não autoriza ao fisco o ingresso no domicílio residencial ou
profissional do contribuinte sem a prévia autorização judicial.
2.2 DÍVIDA ATIVA
O ente público pode figurar como credor ou devedor em uma relação obrigacional. Uma
dessas prerrogativas da Fazenda Pública é apurar os créditos devidos e inscrevê-los em um livro
chamado de “Dívida Ativa”, que tem como função organizar e racionalizar a cobrança desses
créditos.
A dívida ativa pode ser de natureza tributária ou não tributária, conforme enuncia o artigo
39 da Lei 4.320/64:
Art. 39. Os créditos da Fazenda Pública, de natureza tributária ou não
tributária, serão escriturados como receita do exercício em que forem
arrecadados, nas respectivas rubricas orçamentárias.
§2º - Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa
natureza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e
respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária são os
demais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de
empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei, multa
de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros,
laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços
de serviços prestados por estabelecimentos públicos, indenizações,
reposições, restituições, alcances dos responsáveis definitivamente
julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações em moeda
estrangeira, de sub-rogação de hipoteca, fiança, aval ou outra
garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais.
Embora o parágrafo segundo do art. 39 diga o oposto, não há dúvidas de que, a partir da
CF, os créditos provenientes de empréstimos compulsórios e contribuições especiais possuem
natureza tributária.
Uma vez inscrito o crédito em dívida ativa, seja ele de natureza tributária ou não tributária,
faz-se possível a emissão de certidão que espelhe as informações constantes da inscrição, a qual é
um título executivo extrajudicial.
De posse dessa certidão, a Fazenda Pública pode ingressar com a ação de execução fiscal
contra o sujeito passivo.
O art. 201 do CTN, que dispõe sobre a dívida ativa tributária:
Art. 201. Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito
dessa natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa
competente, depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento,
pela lei ou por decisão final proferida em processo regular.
Parágrafo único. A fluência de juros de mora não exclui, para os
efeitos deste artigo, a liquidez do crédito.

Constituído o crédito e esgotado o prazo para pagamento voluntário, pode a autoridade


administrativa competente inscrever o crédito tributário em dívida ativa.
O art. 202 traz os requisitos do termo de inscrição em dívida ativa:
Art. 202. O termo de inscrição da dívida ativa, autenticado pela
autoridade competente, indicará obrigatoriamente:
I - o nome do devedor e, sendo caso, o dos corresponsáveis, bem
como, sempre que possível, o domicílio ou a residência de um e de
outros;
II - a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora
acrescidos;
III - a origem e natureza do crédito, mencionada especificamente a
disposição da lei em que seja fundado;
IV - a data em que foi inscrita;
V - sendo caso, o número do processo administrativo de que se
originar o crédito.
Parágrafo único. A certidão conterá, além dos requisitos deste artigo,
a indicação do livro e da folha da inscrição.

Trata-se de requisitos obrigatórios, sem os quais a inscrição perde a presunção de liquidez


e certeza.
O inciso I determina que conste do termo de inscrição o nome do devedor e dos
corresponsáveis, bem como o domicílio e residência de cada um. Apesar disso, não impede o
redirecionamento da execução fiscal o fato de o corresponsável não constar na CDA, desde que o
fisco comprove no bojo da ação de execução uma das hipóteses que autoriza a responsabilização.
O inciso II determina que conste do termo da inscrição a quantia devida e a maneira de
calcular os juros de mora, e o inciso III que haja a descrição da origem e natureza do crédito, com a
indicação da disposição da lei em que seja fundado. Nessa perspectiva, não há a obrigatoriedade
de a ação de execução fiscal ser acompanhada da memória de cálculo, porque a lei exige que
conste tão somente a forma de calcular o débito e seus fundamentos.
Quanto ao tema, há inclusive súmula do STJ sobre o assunto:
Súmula 559: Em ações de execução fiscal, é desnecessária a instrução
da petição inicial com o demonstrativo de cálculo do débito, por
tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei n. 6.830/1980.
O inciso IV determina que conste a data da inscrição e o inciso V o número do processo
administrativo de que se originar o crédito. Não há, assim, a obrigatoriedade de que ação de
execução seja acompanhada do processo administrativo fiscal, porque basta que conste na
inscrição o seu número.
O art.203 do CTN regulamenta que:
Art. 203. A omissão de quaisquer dos requisitos previstos no artigo
anterior, ou o erro a eles relativo, são causas de nulidade da inscrição
e do processo de cobrança dela decorrente, mas a nulidade poderá
ser sanada até a decisão de primeira instância, mediante substituição
da certidão nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou
interessado o prazo para defesa, que somente poderá versar sobre a
parte modificada.

A interpretação literal desse dispositivo conduziria à conclusão de que qualquer omissão


ou erro acarretaria na nulidade do termo de inscrição e do processo de cobrança dele decorrente.
No entanto, não é isso o que ocorre, porque a jurisprudência abrandou o rigor desse
dispositivo, ao firmar posição no sentido de que a nulidade somente deve ser reconhecida nos
casos em que o sujeito passivo demonstrar que o equívoco prejudicou a sua defesa.
Em existindo um erro grave, que prejudique a defesa do executado, é possível ainda que a
Fazenda Pública substitua a CDA até a data da sentença dos embargos à execução, corrigindo o
defeito.
Essa possibilidade, de saneamento da nulidade mediante substituição da CDA, somente é
possível nos casos em que o vício atinge o termo de inscrição. Quando a nulidade atinge o próprio
lançamento, não há como saneá-la, porque a própria constituição do crédito se encontra
maculada.
Por esse motivo, é inviável a substituição da certidão de dívida ativa quando a correção
pretendida objetivar a modificação do sujeito passivo da execução, existindo inclusive súmula
acerca do tema:
Súmula 392: A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida
ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se
tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação
do sujeito passivo da execução.

Esse raciocínio, no entanto, não se aplica nos casos em que consta na CDA pessoa jurídica
empresarial cuja falência foi decretada antes da propositura da ação executiva. Nessas hipóteses,
o STJ firmou jurisprudência no sentido da possibilidade de correção da petição inicial e da CDA,
não sendo correta a imediata extinção do feito.
Por fim, dispõe o art.204 que a certidão de dívida ativa é título executivo extrajudicial,
autorizando o manejo da ação de execução fiscal. No entanto, essa presunção não é absoluta,
podendo ser ilidida por prova a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite.
Por ser ônus do sujeito passivo comprovar a inexatidão das informações registradas, cabe a
ele juntar o processo administrativo fiscal no processo de embargos à execução.
2.3 CERTIDÕES NEGATIVAS
As certidões negativas regulam a forma pela qual o contribuinte comprova a regularidade
da sua situação perante o fisco. O art. que inaugura o tema é o 205 do CTN:
Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado
tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à
vista de requerimento do interessado, que contenha todas as
informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio
fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se
refere o pedido.
Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos
termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10
dias da data da entrada do requerimento na repartição.

O art. 205 trata da Certidão Negativa de Débitos Tributários, que atesta que o contribuinte
não tem pendências com o fisco, tendo adimplido com todas as suas obrigações tributárias.
Deve ser emitida nos casos em que não há crédito constituído contra o sujeito passivo. Em
existindo crédito constituído, seja por meio de lançamento tributário ou confissão do próprio
sujeito passivo, é inviável a emissão dessa modalidade de certidão, independentemente de o
referido crédito ter ou não sido inscrito em dívida ativa.
Fazendo jus o sujeito passivo à emissão dessa certidão, deve ela ser expedida no prazo
máximo de 10 dias contados da entrada do requerimento na repartição.
O art.206 do CTN trata da Certidão Positiva com Efeitos de Negativa. Essa certidão é
emitida nos casos em que a lei considera que o sujeito passivo, embora possuidor de débitos
tributários, encontra-se regular perante o fisco, em razão do preenchimento de alguns dos
requisitos previstos pelo artigo 206.
Para que o sujeito passivo faça jus à emissão dessa certidão, é necessária a presença de um
dos seguintes requisitos:
1º - Os créditos não estejam vencidos - a razão é óbvia. Se não ocorreu o vencimento, não
há mora do sujeito passivo. Assim, muito embora o crédito já esteja constituído, não há como
considerar que o contribuinte não esteja regular.
2º - A exigibilidade esteja suspensa - Caso ocorra qualquer uma das hipóteses do artigo 151
do CTN, como a adesão a parcelamento ou a obtenção de medida liminar em ação judicial, por
exemplo, o sujeito passivo passa a fazer jus à certidão positiva com efeitos de negativa.
3º - Tenha sido garantida a dívida com penhora - também faz jus à certidão positiva com
efeitos de negativa o sujeito passivo que garante a dívida tributária com penhora, desde que o
bem oferecido seja suficiente para fazer frente à integralidade do crédito cobrado.
Quanto ao tema, merece relevo a circunstância de o STJ admitir o ajuizamento de ação
cautelar por parte do contribuinte para antecipar a realização da penhora e, assim, autorizar a
obtenção da certidão positiva com efeitos de negativa.
Com o NCPC, a medida pode ser requerida mediante pedido de tutela antecipada em
caráter antecedente, nos termos dos arts 303 a 304.
O art. 207, por sua vez, dispõe no seguinte sentido:
Art. 207. Independentemente de disposição legal permissiva, será
dispensada a prova de quitação de tributos, ou o seu suprimento,
quando se tratar de prática de ato indispensável para evitar a
caducidade de direito, respondendo, porém, todos os participantes no
ato pelo tributo porventura devido, juros de mora e penalidades
cabíveis, exceto as relativas a infrações cuja responsabilidade seja
pessoal ao infrator.
Hugo de Brito Machado Segundo24 explica o dispositivo:
O art. 207 do CTN, norma autoaplicável de natureza cautelar, aplica-
se nos casos em que: (i) a prática do ato para evitar o perecimento de
um direito deva ocorrer antes do final do prazo de que dispõe a
autoridade para fornecer a certidão; (ii) a autoridade recusa
indevidamente o fornecimento da certidão, sendo demorado o
procedimento destinado a demonstrar-lhe a inexistência de débito; e
(iii) o sujeito passivo realmente não tem direito à certidão negativa,
nem à positiva com efeito de negativa. Em todos esses casos,
considerando que terceiros assumirão a responsabilidade pelo
pagamento do tributo porventura devido, a exibição da certidão é
dispensada.

Por fim, dispõe o art.208 do CTN:


Art. 208. A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que
contenha erro contra a Fazenda Pública, responsabiliza pessoalmente
o funcionário que a expedir, pelo crédito tributário e juros de mora
acrescidos.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não exclui a
responsabilidade criminal e funcional que no caso couber.

Trata-se de hipótese de responsabilidade por transferência, na qual o agente é


responsabilizado pelo pagamento do crédito tributário em razão da emissão de uma certidão
negativa que contenha erro contra a Fazenda Pública. Como se observa do dispositivo, há a
necessidade de comprovação do elemento subjetivo, consistente na atuação fraudulenta ou
dolosa por parte do servidor.
Uma vez comprovados esses pressupostos, o servidor é responsabilizado pelo pagamento
do crédito tributário e juros de mora acrescidos, sem prejuízo da responsabilidade criminal e
funcional que no caso couber.

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