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AULA 00
A lei deve prever todos os elementos que compõem a norma imponível e que são
essenciais para que esta possa incidir.
O critério material é o verbo. Ex: Caso de ITR: critério material = SER. Já o seu
complemento, no mesmo caso de ITR, = proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem imóvel.
O critério espacial é o local em que a conduta descrita no critério material deve ocorrer. O
critério espacial pode ser:
b) Regional: quando o local é um pouco mais amplo (ex. ser proprietário de bem
imóvel urbano);
d) Universal: quanto o critério espacial é mais amplo que a própria norma (ex. caso
do IRPF, em que se tributa, no casos de residentes no Brasil, a renda auferida no exterior).
O Critério temporal é o momento que indica o instante que ocorre o fato jurídico.
Todos esses elementos devem ser veiculados por meio de lei para que haja a observância
do princípio da legalidade tributária. Ademais, ao utilizar a expressão aumentar tributos, a CF
determina que o princípio da legalidade não se satisfaz com a mera instituição. O incremento do
seu valor também depende de lei.
Qualquer modificação na base de cálculo ou na alíquota não pode ser realizada por ato
infralegal.
Em 2001, foi editada a EC nº 32, que passou a dispor expressamente sobre essa
possibilidade:
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de
impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só
produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido
convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
Embora o §2º se refira tão somente aos impostos, o STF manteve a interpretação de que a
MP pode instituir ou majorar tributos, independentemente de se tratar de impostos ou outras
espécies tributárias.
Há exceções, aqueles tributos reservados à lei complementar não podem ser instituídos ou
majorados por meio de MP, conforme art. 62, §1º, III da CF:
§1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: III -
reservada a lei complementar;
Ainda que haja um esforço por parte do legislador em definir, com precisão, os elementos
da obrigação tributária, sempre existirão dúvidas quanto ao significado dos termos utilizados.
Ato infralegal pode “complementar” conceitos utilizados pela lei em sentido estrito. A
utilização de conceitos jurídicos indeterminados, cláusulas gerais e normas tributárias em branco
não ofende o Princípio da Legalidade Tributária.
1.1.4 Mitigações Constitucionais ao Princípio da Legalidade
Como pode se observar, o art. 153, §1º da CF, autoriza ao Poder Executivo, atendidas as
condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas do II, IE, IOF e IPI.
O art. 177, §4º, I, “b” da CF também traz mitigação ao princípio da legalidade, aplicável à
CIDE-Combustível.
Portanto, a CF mitiga o Princípio da Legalidade aos seguintes tributos: IPI, II, IE, IOF, ICMS-
Combustível e CIDE-Combustível.
O STF delimitou alguns critérios para delegar ao Executivo. São eles: a) a delegação deve
poder ser retirada a qualquer momento; b) Congresso deve fixar standards ou padrões que
limitem a ação do delegado; c) existir razoabilidade da delegação.
Obrigação acessória pode ser realizada por meio de um ato infralegal, sendo
dispensável a edição de lei.
A nova lei tributária fica com a eficácia paralisada, o que impede a sua incidência antes do
transcurso do prazo previsto pelo princípio da anterioridade.
Ambas as anterioridades se aplicam tanto à lei que instituir um novo tributo quanto à lei
que aumentar o valor de um tributo já existente.
OBS: A mera atualização monetária da base de cálculo não precisa observar as anterioridades.
a) Anterioridade anual
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser
exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei
que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
disposto no art. 150, III, "b".
Como se observa, a CF quis que as contribuições para a Seguridade Social observassem tão
somente a anterioridade nonagesimal. Nesse sentido, tratando-se de contribuições para a
seguridade social, o aumento ou a instituição de um novo tributo deve observar tão somente o
prazo de 90 dias, sendo dispensável aguardar o término do exercício financeiro.
Portanto, a anterioridade anual não se aplica aos seguintes tributos: II, IE, IPI, IOF, Imposto
Extraordinário de Guerra (IEG), Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou Guerra
Externa, CIDE-Combustível e ICMS-Combustível.
Todos aqueles tributos que aparecem (sem exigência de lei, podendo ato infralegal) como
mitigações ao princípio da legalidade também são exceções ao princípio da anterioridade.
b) Anterioridade Nonagesimal
Não incide, não se aplica a anterioridade nonagesimal nos seguintes tributos: II, IE, IOF,
Imposto Extraordinário de Guerra (IEG), Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou
Guerra Externa, Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza, Base de Cálculo do IPTU e
Base de Cálculo do IPVA.
OBS: Importante lembrar que somente o Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou
Guerra Externa é exceção ao princípio da anterioridade.
OBS 2: O princípio da anterioridade genérica significa que as pessoas políticas não podem exigir
tributos no mesmo exercício financeiro em que foi publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
O termo inicial da contagem do prazo passou a ser a conversão em lei da MP. A doutrina
tem defendido majoritariamente que o termo inicial das anterioridades deve ser sempre a
conversão em lei da medida provisória.
O STF tem mantido sua jurisprudência e interpretado de maneira restritiva o §2º do art.62
da CF, para aplicá-lo tão somente à anterioridade anual, nos casos em que a MP se refira a
impostos.
4ª - Em qualquer caso, o termo inicial é a conversão em lei da medida provisória, nos casos
em que a instituição ou a majoração do tributo só foi realizada no curso do processo legislativo.
AULA 01
Os impostos direitos são aqueles cujo custo é suportado pelo próprio contribuinte de
direito, ou seja, em que não há o repasse do custo da tributação para terceiros. É o caso do
imposto de renda pessoa física.
OBS: Para provas objetivas tanto a seletividade quanto a progressividade encontram guarida no
art.145, §1º da CF.
O STF assentou que, mesmo nos impostos reais, é possível em alguns casos que a legislação
consiga aferir de maneira mais segura a capacidade econômica do contribuinte, mediante a
consideração de circunstâncias concernentes à sua pessoa ou às suas atividades. Nessas hipóteses,
admite-se a utilização da técnica da progressividade, tributando-se mais pesadamente quem
denote signos maiores de riqueza.
Portanto, é possível afirmar que o STF entende que não há uma incompatibilidade absoluta
entre a progressividade e os impostos reais. A possibilidade da utilização dessa técnica vai
depender da possibilidade, in concreto, de a lei conseguir aferir a capacidade econômica do
contribuinte.
Finalidade extrafiscal - objetivam alcançar outros objetivos que não apenas a arrecadação.
Nesse sentido, é preciso comprovar que a lei é apta a produzir a finalidade extrafiscal
almejada (exame da adequação); que a medida é a menos restritiva possível dentre aquelas que
poderiam ser utilizadas (exame da necessidade); e que os efeitos positivos decorrentes da adoção
da medida superam os efeitos negativos decorrentes da menor promoção do estado ideal
promovido pelo princípio da capacidade contributiva (exame da proporcionalidade em sentido
estrito).
O confisco é uma sanção que tem como característica a expropriação de um bem particular
pelo Estado, sem que haja qualquer indenização compensatória.
A carga tributária deve ser considerada como um todo, e não apenas com relação a cada
um dos tributos isoladamente. Assim, a análise sobre a confiscatoriedade da tributação deve ser
aferida não apenas pela consideração de cada uma das alíquotas isoladamente, mas pela soma
dos valores que é transferido do patrimônio do contribuinte para a União Federal.
Supremo Tribunal Federal - confisco existe quando a multa superar o valor da obrigação
principal, ou seja, quando o percentual da multa for superior a 100%.
Com base nessa distinção, a Primeira Turma do STF tem considerado que as multas
moratórias são menos graves do que as multas punitivas. Naquelas, a imposição da sanção se
justifica pelo inadimplemento da obrigação tributária no termo fixado pela legislação. Nestas
últimas, a sanção é imposta em razão do descumprimento de uma obrigação acessória, que
normalmente é acompanhada da sonegação de parte ou da totalidade do valor devido.
Assim, levando em conta essa distinção, tem fixado como limite o percentual de 20% para
as multas moratórias e de 100% para as multas punitivas.
O princípio da proibição das isenções heterônomas encontra previsão no artigo 150, inciso
II, da CF:
Art. 151. É vedado à União: (...)
III – instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios.
b) Segunda - pode-se aplicar também aos Estados, com relação aos tributos
municipais. Assim, por exemplo, não pode a Assembleia Legislativa aprovar uma hipótese de
isenção do ISSQN.
A CF prevê uma exceção a esse princípio, no qual pode a União Federal, por meio de Lei
Complementar, excluir a incidência do ISSQN sobre as exportações de serviços para o exterior.
O STF considera constitucional que um tratado internacional conceda isenções de tributos
da competência dos Estados e dos Municípios. O fundamento é o de que quem atua nas relações
internacionais é a República Federativa do Brasil, como representante de todo o Estado Brasileiro,
e não a União Federal.
O referido princípio se encontra positivado no artigo 151, inciso II, da Constituição Federal:
Art. 151. É vedado à União:
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os
proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos
que fixar para suas obrigações e para seus agentes;
A primeira impede que a União tribute a renda decorrente das obrigações da dívida pública
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em montante superior ao que fixar para as suas
próprias obrigações.
A segunda veda que o IRPF dos servidores dos Estados, Distrito Federal e Municípios seja
superior ao IRPF pago pelos servidores da própria União Federal.
A vedação que proíbe aos Estados e aos Municípios estabelecerem diferenças tributárias
em razão da procedência ou destino de bens e serviços de qualquer natureza encontra previsão
expressa no artigo 152 da Constituição Federal:
Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer
natureza, em razão de sua procedência ou destino.
Assim, não é permitido que municípios ou estados, mesmo que sob o fundamento da
promoção do desenvolvimento econômico dessas regiões, instituam uma política tributária
diversa para bens produzidos ou destinados a outros estados da federação.
AULA 02
1) IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS
As imunidades podem ser invocadas por diferentes expressões, tais como: “normas
delimitadoras da competência tributária” e “não incidência constitucionalmente qualificada”.
Ou seja, imune só a obrigação principal, e não a acessória. Esta, terá de ser cumprida,
exceto se, por lei, forem dispensadas.
I) Primeiro deles diz respeito à fonte normativa. No caso das isenções, a regra se
encontra prevista em uma lei infraconstitucional. Já a imunidade, seu fundamento normativo
sempre será a Constituição Federal.
É o que acontece com o §7º do artigo 195 e com o §5º do artigo 184. Nesses dois casos,
embora a Constituição tenha utilizado o termo isenção, essa circunstância não tem o condão de
alterar a natureza jurídica da norma em discussão, de modo que não se tem dúvidas de que se
trata de dispositivos que encerram verdadeiras imunidades tributárias.
No entanto, essa conclusão não equivale a afirmar que tudo deva ser necessariamente
regulado por Lei Complementar. Aspectos meramente procedimentais referentes à certificação,
fiscalização e controle administrativo continuam passíveis de definição em lei ordinária. Portanto,
aspectos procedimentais podem ser regulados por lei ordinária.
O artigo 5º, incisos XXXIV, LXXIII, LXXIV, LXXVI e LXXVII, dispõem da seguinte forma:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Em todos esses casos, embora a Constituição não tenha utilizado o termo imunidade, esse
detalhe em nada altera a conclusão de que se está diante de autênticas imunidades tributárias.
QUESTÃO: A Constituição Federal de 1988 contém hipóteses de
imunidades de impostos e contribuições, mas não de taxas. ERRADO,
pois há diversas imunidades previstas com relação às taxas no texto
constitucional.
Portanto, por força desse dispositivo, são imunes de contribuições sociais e de intervenção
no domínio econômico as receitas decorrentes de exportação.
Se determinada pessoa jurídica vender parte da sua produção para o mercado interno e
parte da sua produção para o mercado externo, a COFINS e o PIS – contribuições incidentes sobre
a receita – apenas incidirão sobre os valores decorrente das vendas realizadas internamente.
Por outro lado, a imunidade não se estende à CSLL – Contribuição Social sobre o lucro
líquido, cuja base econômica, como do próprio nome já se pode perceber, não é a receita, mas sim
o lucro. É esse o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
Portanto, retornando ao nosso exemplo, embora aquela pessoa jurídica não precise pagar
PIS e COFINS com relação às receitas decorrentes das vendas realizadas para o exterior, deverá
computar na base de cálculo do CSLL.
O inciso I não impede que as entidades sejam superavitárias, mas apenas que haja a
distribuição dos seus lucros. Ademais, a regra não obsta que os diretores das instituições sejam
remunerados, desde que efetivamente laborem para a pessoa jurídica.
Há, no entanto, uma ressalva: o dispositivo exclui da imunidade as pessoas cuja atividade
preponderante seja a compra e venda desses bens ou direitos, a locação de bens imóveis ou
arrendamento mercantil.
III) Terceira hipótese de imunidade se encontra inserida no art. 155, §2º, X, alínea “b” da
CF:
Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem
no exterior;
§2º, X - não incidirá:
b) sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive
lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e
energia elétrica;
Como se observa do dispositivo, são imunes, com relação ao ICMS, as operações que
destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele
derivados, e energia elétrica.
IV) Quarta hipótese diz respeito às operações que destinem produtos industrializadas ao
exterior, as quais são imunes da incidência do IPI.
VI) A sexta hipótese está inserida no artigo 184, §5º, da CF6. Por força do parágrafo quinto,
não incide qualquer imposto nas operações de transferência de imóveis desapropriados para fins
de reforma agrária. Dessa forma, não incide imposto sobre os títulos da dívida agrária – TDA
recebidos pelo proprietário em decorrência da desapropriação.
Agora é definir qual o destinatário da norma de imunidade nos casos de tributos indiretos,
que são aqueles em que há o repasse do custo da tributação ao consumidor final.
- Contribuinte de direito - aquele que ocupa o polo passivo na relação jurídica tributária, é
a pessoa que tem a obrigação legal de recolher o valor do tributo.
1.9.1 Fundamentos
Impede-se que as entidades federativas tributem umas das outras com relação aos
impostos. Lembrando que a imunidade recíproca é cláusula pétrea, posição adotada pelo STF.
O STF firmou posição de que as imunidades recíprocas se aplicam não somente aos
impostos que podem ser classificados como incidentes sobre o patrimônio, a renda ou serviços,
mas a todos os impostos existentes.
Se, no entanto, restar comprovada ofensa ao art. 170 da CF, o direito à imunidade não
deve ser reconhecido.
PUC-PR/Procurador do Estado/2015/Adaptada
Julgue a afirmativa a seguir:
Não incide Imposto de Importação sobre as operações de importação
de bens realizadas por Estado da Federação, salvo nos casos em que
restar comprovada violação ao princípio da neutralidade
concorrencial do Estado. R: CORRETA
A abrangência da imunidade recíproca é estendida para parte das pessoas jurídicas que
compõem a administração indireta.
Referimo-nos ao §2º do artigo 150 da Constituição Federal, que dispõe da seguinte forma:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
Quanto ao ônus da prova, o STF firmou entendimento de que abe ao fisco demonstrar que
o bem não está sendo empregado conforme as finalidades.
Por fim, vale ressaltar que são beneficiados pela regra de imunidade todas as autarquias,
incluindo- se as de regime especial, como as agências reguladoras.
A primeira parte do dispositivo tem como intuito afastar a regra de imunidade nos casos de
empresas públicas e sociedades de economia mista que explorem uma atividade econômica.
Assim, por exemplo, o Banco do Brasil, sociedade de economia mista, não pode gozar de
imunidade tributária ou de qualquer privilégio fiscal, devendo competir em igualdade de
condições com as empresas que atuam no setor. O mesmo ocorre com relação à Caixa Econômica
Federal, constituída na forma de uma empresa pública.
FMP Concursos/Juiz/2014/Adaptada
Julgue o item a seguir: a imunidade recíproca a impostos tem caráter
subjetivo, alcançando tão somente os entes políticos e suas
autarquias, jamais se podendo estendê-la às empresas públicas e às
sociedades de economia mista, para as quais o texto constitucional
inclusive veda privilégios fiscais. R: INCORRETA, é possível, como
vimos, estender a imunidade tributária recíproca às empresas
públicas e às sociedades de economia mistas prestadoras de serviços
públicos, desde que seus bens e serviços sejam utilizados para
satisfação dos objetivos institucionais do ente federado e não haja
risco à livre iniciativa e à livre concorrência.
1.9.5 Imunidade Recíproca e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT
Tema 235: Os serviços prestados pela Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos - ECT, inclusive aqueles em que a empresa não age em
regime de monopólio, estão abrangidos pela imunidade tributária
recíproca (CF, art. 150, VI, a e §§ 2º e 3º).
1.10.1 Conteúdo
1º Requisito – o STF não tem restringido o âmbito normativo das regras de imunidade às
bases expressamente elencadas pela constituição – patrimônio, renda e os serviços. Tem
entendido que ela se aplica a todos os impostos existentes no ordenamento, desde que
observados os demais requisitos constitucionais. Portanto, é possível que tais entidades sejam
imunes também com relação ao ICMS, IPI, II e IOF.
1.10.3.1 – Cemitérios
O cemitério, por si só, não se enquadra no conceito de templos de qualquer culto, o que
impede, por conseguinte, o reconhecimento da sua imunidade aqueles empreendidos de maneira
privada com intuito lucrativo.
Por outro lado, cemitérios de cunho religioso possuem imunidade tributária, porque são
extensões da própria entidade.
1.10.3.2 – Maçonaria
Trata-se de associação privada que em seus estatutos afirma não ser uma religião. Por esse
motivo, não se enquadra no conceito de templos de qualquer culto, não tendo direito à imunidade
tributária.
O artigo 150, inciso VI, alínea c, da Constituição Federal, dispõe no seguinte sentido:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: VI - instituir impostos sobre: c) patrimônio, renda ou
serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e
de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da
lei;
Por fim, quando a Constituição condiciona a fruição de uma imunidade ao atendimento dos
requisitos da lei, está se referindo à Lei Complementar, conforme exposto no item 4.5.
No caso em análise, essa lei é o Código Tributário Nacional, que estabelece os requisitos
para fruição do benefício em seu artigo 14:
Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado
à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas
rendas, a qualquer título;
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção
dos seus objetivos institucionais;
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros
revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.
O inciso I não impede que as entidades beneficiárias possuam lucro, mas apenas veda a sua
distribuição a qualquer título.
São imunes as entidades sindicais dos trabalhadores com relação aos impostos, o que
significa afirmar, por um lado, que estão abarcados pela regra de imunidade as federações,
confederações e centrais sindicais, e que estão fora do âmbito normativo da regra constitucional,
por outro lado, todas as entidades sindicais patronais, como o Sindilojas, por exemplo.
A palavra ensino não foi restringida, podendo-se interpretá-la também para abarcar a
educação informal. É o que entende o STJ.
Essa é a jurisprudência consolidada do STF, que editou inclusive súmula acerca do assunto:
Súmula 730: A imunidade tributária conferida a instituições de
assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, "c", da
Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência
social privada se não houver contribuição dos beneficiários.
A palavra livro tem sido compreendida de maneira ampla para designar toda obra escrita,
como livro didático, livro infantil, livro de ficção, etc. O conceito abarca tanto o material impresso
quanto o material digital, como os e-books e os audiobooks.
Tema 593: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da
CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-lo.
Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150,
VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e comercialização, no mercado
interno, do livro eletrônico (ebook) e dos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers),
ainda que possuam funcionalidades acessórias.
Tema 259: A imunidade da alínea d do inciso VI do artigo 150 da
Constituição Federal alcança componentes eletrônicos destinados,
exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.
Portanto, a imunidade incide também aos componentes eletrônicos, desde que eles
integrem a unidade didática em conjunto com os fascículos.
A imunidade não se aplica no caso de jornais televisivos, transmitidos por meio de recurso
audiovisual.
A existência de propagandas em jornais não afasta o direito à imunidade, mas encartes que
só vinculem propagandas não são jornais, não fazendo jus ao benefício constitucional.
O STF que listas telefônicas, álbuns de figurinhas, revistas pornográficas e apostilas gozam
do benefício tributário.
Dos julgados do STF, é possível perceber que a Corte adota uma posição intermediária.
Por outro lado, itens que se assemelhem ao papel têm sido considerados como imunes
pelo STF, como é o caso dos filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e
periódicos.
1º - Tenham sido produzidos no Brasil, ou seja, alcança tão somente os CDs, DVDs, e blue-
rays que foram aqui elaborados.
Ao dispor que tributo é uma prestação pecuniária em moeda, o CTN indica que o objeto de
uma relação tributária deve ser uma quantia expressa em dinheiro.
No entanto, isso não significa que o pagamento dessa obrigação deva ser sempre realizado
em dinheiro.
Contudo, a satisfação da obrigação tributária deve ser realizada sempre por um dar, não
por um fazer ou por um não fazer.
Os tributos devem ser instituídos por meio de lei. Assim, todos os elementos da obrigação
tributária devem estar previstos em lei.
O critério material, no caso do exemplo do ITR, pode ser enunciado da seguinte forma: Ser
proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem imóvel.
Competência tributária é a aptidão conferida pela Constituição Federal para editar normas
que instituam tributos. Apenas as entidades federativas – União, Estados, Distrito Federal e
Municípios - a possuem, conforme se extrai, dentre outros dispositivos, do artigo 145 da Carta
Constitucional:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em
razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou
potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de
melhoria, decorrente de obras públicas.
1ª) Facultatividade: as pessoas políticas são livres para criar ou não os tributos. A única
exceção é o ICMS.
O STF entende que o artigo 11, parágrafo único, da LEF, não é uma punição aos entes que
não instituam todos seus tributos, mas um incentivo legal para que todos o façam. Ademais, a
Corte pontuou que a vedação atinge apenas as transferências voluntárias, não se estendendo para
as transferências obrigatórias.
Deve-se mencionar como exemplo as contribuições profissionais pagas ao CREA, CRC, CRM,
dentre outros, pagas pelos profissionais que exercem atividade fiscalizada por essas autarquias.
Tais contribuições foram instituídas pela União, que detém a competência tributária para tanto,
nos termos do artigo 149 da CF. A capacidade tributária ativa, no entanto, foi delegada a esses
conselhos profissionais, a quem compete exigir, fiscalizar e arrecadar as contribuições. Desse
modo, se um médico não pagar a anuidade ao CRM, compete a esta pessoa jurídica tomar as
providências necessárias à arrecadação dos valores, inclusive mediante o ajuizamento da ação de
execução fiscal.
A revogação da delegação da capacidade tributária ativa pode ser feita a qualquer tempo.
A competência tributária comum diz respeito à aptidão que todas as entidades federativas
possuem de instituir taxas e contribuições de melhoria. O fundamento constitucional se encontra
no artigo 145, incisos II e III, da CF:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos: (...) II - taxas, em razão do
exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial,
de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte
ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.
Por força desse dispositivo, em existindo territórios federais, caberá à União Federal
instituir os impostos federais e estaduais e, se o território não for dividido em municípios, também
os impostos municipais.
Segundo = novo imposto seja não cumulativo, ou seja, não cindida em feito cascata;
Terceiro = fato gerador ou base de cálculo desse novo imposto não seja idêntica a de
outros impostos discriminados pela CF.
A CF não descreveu qual o fato gerador possível, tendo se limitado a dizer a situação que
justifica a sua instituição. Desse modo, segundo a doutrina majoritária, a União é livre para
compor a hipótese de incidência da norma impositiva do IEG, podendo eleger inclusive situações
que já compõe a hipótese de outros impostos.
Por fim, cabe fazer uma advertência: não há que se confundir o Imposto Extraordinário de
Guerra com o Empréstimo Compulsório para custeio de despesas extraordinárias de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência.
A terceira diz respeito às situações que podem justificar a instituição de cada uma das
exações. No caso do IEG, apenas a guerra externa pode fundamentar a sua instituição, enquanto
nos empréstimos compulsórios a existência de calamidade pública também pode fundamentar o
exercício do poder de tributar.
iii) Contribuições de melhoria, que são tributos indiretamente vinculados e não restituíveis;
iv) Empréstimos compulsórios, que podem ser vinculados (direta ou indiretamente) ou não
vinculados, são destinados e são restituíveis;
v) Contribuições especiais, que são tributos não vinculados, destinados e não restituíveis.
1.5) IMPOSTOS
Os impostos são tributos não vinculados. O artigo 16 do CTN assim dispõe expressamente:
Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma
situação independente de qualquer atividade estatal específica,
relativa ao contribuinte.
Impostos são tributos não destinados, ou seja, cujo produto da arrecadação não se
encontra afetado à promoção de finalidades específicas.
Há diversas exceções a essa regra, insculpidas no artigo 167, inciso IV, da Constituição
Federal:
Art. 167. São vedados: IV - a vinculação de receita de impostos a
órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da
arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a
destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde,
para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de
atividades da administração tributária, como determinado,
respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação
de garantias às operações de crédito por antecipação de receita,
previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;
É possível extrair desse dispositivo a existência das seguintes exceções ao princípio da não
afetação dos impostos:
A vinculação das receitas para o desenvolvimento do ensino é disciplinada pelo artigo 212
da CF:
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino.
Por força desse dispositivo, a União deve aplicar, anualmente, nunca menos do que 18% da
receita de impostos; e os Estados, Distrito Federal e Municípios ao menos 25%.
Impostos diretos – aqueles em que não haveria repasse do custo da tributação pelo
contribuinte.
OBS: A jurisprudência tem considerado como impostos indiretos o IPI, ICMS e ISSQN. Os demais
têm sido compreendidos como impostos diretos.
Impostos fiscais – cuja existência se justifica unicamente para fonte de arrecadação estatal.
1.6) TAXAS
2ª) Tributo não restituível, que ingressa a título definitivo nos cofres públicos.
Embora a competência para instituição de taxas seja comum, isso não significa afirmar que
as entidades federativas podem instituir taxas para o custeio de qualquer serviço público
específico ou divisível ou para o custeio de qualquer atividade fiscalizatória. Há a necessidade de
pertinência entre a atividade estatal e a competência da entidade federativa, conforme dispõe
expressamente o artigo 80 do CTN:
Art. 80. Para efeito de instituição e cobrança de taxas, consideram-se
compreendidas no âmbito das atribuições da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios, aquelas que, segundo a
Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas
do Distrito Federal e dos Municípios e a legislação com elas
compatível, competem a cada uma dessas pessoas de direito público.
Conforme dispõe o inciso II do artigo 145 da Constituição, uma das atividades que podem
ser custeadas por meio de taxa é o exercício do poder de polícia, cuja definição consta do artigo 78
do Código Tributário Nacional:
Art. 78: Considera-se poder de polícia a atividade da administração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou
liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do
Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e
os direitos individuais ou coletivos.
O poder de polícia administrativa é a competência para disciplinar o exercício da
autonomia privada para a realização de direitos fundamentais e da democracia, segundo os
princípios da legalidade e da proporcionalidade.
O STF entende que é desnecessário que o contribuinte tenha sido efetivamente fiscalizado
para que fique sujeito à taxa, bastando que o Estado tenha aparato de fiscalização e que o
contribuinte esteja sujeito àquela.
O artigo 145, inciso II, da Constituição Federal, autoriza que as entidades federativas
instituam taxas “pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis
prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição”. É o que diz também o artigo 77 do CTN:
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas
atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de
polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público
específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua
disposição.
Portanto, tanto o texto constitucional quanto o artigo 77 do CTN indicam que não é todo o
serviço que pode ser custeado por meio de taxas, mas tão somente aqueles que sejam específicos
e divisíveis.
2º) O mesmo ocorre com relação à limpeza urbana, serviço de inegável caráter genérico,
cujo custeio, por isso mesmo, não pode ser realizado por meio da cobrança de taxa;
a) A base de cálculo tem como uma das suas funções afirmar ou infirmar o critério
material da exação;
b) A base de cálculo das taxas deve manter uma equivalência razoável com o custo
da atividade estatal;
As taxas quanto as tarifas são prestações pecuniárias pagas pelo beneficiário como
contrapartida a prestação de um serviço estatal. As taxas, por serem tributos, são instituídas por
meio de lei e devem integral obediência ao regime jurídico tributário. As tarifas são obrigações
assumidas voluntariamente, de caráter contratual, sendo a relação jurídica existente regulada pela
legislação específica, pelo Código Civil e pelo CDC.
b) Serviços públicos essenciais ao interesse público, como coleta de lixo, por exemplo,
também devem ser remunerados por meio de taxa, desde que a lei os considere como de
utilização obrigatória;
c) Serviços públicos não essenciais, em geral delegáveis, podem ser cobrados por meio de
tarifas, como é o caso do serviço postal e de distribuição de energia elétrica.
OBS 2: As taxas devem ser instituídas por meio de lei, porque se aplica a elas o princípio da
legalidade. As tarifas, ao revés, podem ser aumentadas por ato infralegal.
OBS 3: Os preços são receitas originárias, enquanto as taxas são receitas derivadas por decorrerem
do poder de tributar.
AULA 04
1) SISTEMA TRIBUTÁRIO E DISCRIMINAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
1.1) CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA
Tributo não restituível = o sujeito passivo não tem o direito de reaver os valores pagos.
A competência tributária é comum, ou seja, pode ser exercida por todas as entidades
federativas, conforme se observa o art.145, III, da CF:
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos: III – contribuição de melhoria,
decorrente de obras públicas.
Como se trata de lei posterior, parte da doutrina entende que o DL 195/67 revogou o CTN.
No entanto, o STJ tem afirmado que ambos os diplomas legais convivem no ordenamento jurídico,
aplicando-se de maneira conjunta.
Dois são os requisitos para que se possa exigir uma contribuição de melhoria:
1.1.3 Requisitos
Ressalta-se que não há ilegalidade na inversão dessa ordem, mediante a realização da obra
previamente à publicação do edital e à instauração do processo administrativo.
O valor a ser cobrado possui dois limites: a) a despesa total gasta pelo Poder Público ao
realizar a obra; b) a valorização que beneficiou cada um dos imóveis isoladamente considerados.
1ª: Trata-se de tributo que pode ser tanto vinculado como não vinculado, uma vez que a
Constituição Federal, no artigo 148, estabeleceu tão somente as finalidades para as quais eles
podem ser instituídos;
2ª: Trata-se de tributo destinado, o que significa afirmar que o produto da arrecadação
deve ser utilizado para o custeio das finalidades constitucionalmente estabelecidas;
Apenas a União pode instituir empréstimos compulsórios e por meio de lei complementar.
A Constituição Federal não disse quais as bases econômicas possíveis de serem tributadas
por um empréstimo compulsório, limitando a afirmar o que ou quais as situações que autorizam a
sua instituição.
Portanto, entende-se que o legislador é livre para escolher o fato impunível, podendo criar
um empréstimo compulsório que seja vinculado a uma atividade estatal ou um empréstimo
compulsório que não seja vinculado a uma atividade estatal.
O empréstimo compulsório deve ser restituído em moeda – portanto, com o mesmo ativo
utilizado para pagá-lo – sob pena de inconstitucionalidade. O valor a ser devolvido deve ser
integral, o que significa afirmar que ele deve ser atualizado monetariamente.
A maior parte das contribuições são arrecadas pela própria entidade federativa, não
havendo que se falar em parafiscalidade, no sentido corrente do termo.
Por fim, são tributos não restituíveis, porque ingressam a título definitivo no patrimônio do
poder público, não existindo direito à devolução.
II) O segundo é que a intervenção estatal, por meio das contribuições especiais,
deve ser necessária. A sua instituição não pode ser exercida senão na medida do estritamente
necessário à promoção desses objetivos. Se a desnecessidade existia no momento da edição da
contribuição, o caso é de inconstitucionalidade. Por outro lado, no caso de desnecessidade
superveniente, o que existe é uma revogação tácita da contribuição.
O Superior Tribunal de Justiça deu razão ao fisco, por entender que, no caso das
contribuições interventivas e sociais, bastaria uma relação indireta entre a atuação estatal e os
sujeitos passivos.
UEPA/2012/Procurador do Estado/Adaptada
Julgue o item a seguir:
No caso específico das contribuições sociais, não haverá juízo de
referibilidade a condicionar a posição de contribuinte, já que o art.
195 da Constituição determinou o seu custeio por toda a sociedade.
CERTO, O enunciado está se referindo às contribuições para
seguridade social, em razão de fazer remissão ao artigo 195 da
Constituição Federal. Nesse sentido, como dissemos, para parte da
doutrina inexiste realmente o requisito da referibilidade, em razão de
a seguridade social “ser financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta”.
As contribuições sociais gerais têm fulcro no art. 149 da CF. As contribuições para
seguridade social, por sua vez, têm como normas atributivas de competência o inciso I, alíneas b e
c, inciso III, inciso IV, §4º e §8 do artigo 195 da CF.
Por fim, existem as contribuições constitucionalizadas por terem origem em leis anteriores
à CF. São exemplos o salário educação, o fundamento é o art. 212, §5º; no caso da contribuição ao
PIS/PASEP, o art. 239; no caso das contribuições ao SESC, SENAC, SESI e SENAI, o art. 240 da CF.
As CIDEs, foram divididas em gerais e inominadas. As gerais são aquelas que possuem
como fundamento a norma geral prevista no art. 149 da CF; a nominada diz respeito à CIDE-
Combustível, cuja norma de competência é o art. 177, §4º, da CF.
As contribuições especiais, regra geral, não são submetidas à reserva de Lei Complementar.
Assim, a instituição dessas contribuições pode ser realizada por mera lei ordinária.
Há, contudo, uma exceção: Trata-se das contribuições residuais para a seguridade social,
cujo suporte constitucional é o art. 195, §4º:
Art. 195, §4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir
a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o
disposto no art. 154, I.
Art. 154. A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, (...)
Esse raciocínio se aplica tanto quando a exportação é realizada de maneira direta pela
própria pessoa jurídica como quando ela é realizada de maneira indireta, ou seja, por intermédio
de trading company ou Empresa Comercial Exportadora. Foi o que decidiu o STF.
Por outro lado, nada impede que haja a cobrança sobre o lucro decorrente de operações
destinadas ao exterior. Em razão dessa circunstância, não há que se falar na incidência dessa
imunidade no caso da CSLL.
O inciso II, por outro lado, enuncia que essas contribuições podem incidir na importação de
produtos e serviços estrangeiros.
O inciso III utiliza o verbo poder. Assim, o texto utiliza esse termo não para designar que
outras bases econômicas além daquelas mencionadas podem ser tributadas, mas para aludir ao
fato de que a tributação daquelas bases às quais a Constituição faz referência é uma faculdade, e
não uma obrigação.
Instituídas com base no artigo 149 da CF, que dispõe da seguinte forma:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III,
e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
O conteúdo promovido através de uma contribuição social deve ser buscado no capítulo
atinente à ordem social. Assim, por exemplo, enquadra-se nesse conceito a atuação estatal nas
áreas da educação, cultura e meio ambiente.
Portanto, a seguridade social engloba saúde, previdência social e assistência social, motivo
pelo qual as contribuições para seguridade social devem ter como finalidade angariar recursos
para o financiamento desses setores.
Por uma questão didática, optamos por distinguir as contribuições para a seguridade social
das contribuições previdenciárias, em razão destas últimas terem como única finalidade o custeio
do RGPS.
A União pode instituir contribuições residuais para a seguridade social, desde que: i) por
meio de lei complementar; ii) a nova contribuição seja não cumulativa; iii) não haja coincidência
entre o seu fato gerador ou a sua base de cálculo com a hipótese de incidência de outras
contribuições.
Quanto a esse último requisito, como o artigo 195, §4º, faz alusão ao artigo 154, inciso I,
havia divergência sobre se a não coincidência do fato gerador seria com relação aos impostos ou
se seria com relação às contribuições, tendo o STF, no entanto, pacificado a discussão, ao afirmar
que o parâmetro são as demais contribuições. Desse modo, nada impede a criação de uma nova
contribuição residual para a seguridade social que tenha como hipótese de incidência uma
conduta idêntica à prevista para um imposto.
Ressalta-se que também existem as contribuições para o RPPS. Os tributos angariados para
a manutenção desses regimes também não podem ser utilizados para a realização de despesas
distintas do pagamento de benefícios previdenciários.
Não são todas as verbas que podem ser tributadas, mas tão somente aquelas que sejam
remuneratórias ou contraprestacionais. Assim, verbas indenizatórias não podem ensejar a
cobrança de contribuição previdenciária.
- 1/3 de férias;
- Hora extra;
- Adicional Noturno;
- Adicional de Periculosidade;
- Férias gozadas.
Por outro lado, essa mesma regra trouxe hipótese de imunidade, que impede a instituição
de contribuição sobre aposentadorias e pensões concedidas pelo regime geral da previdência
social.
O §1º-B do artigo 149, criou uma regra de competência para a União, cujo exercício
depende da demonstração de dois requisitos: primeiro, da existência de déficit atuarial do RPPS;
segundo, da insuficiência, para superação do déficit, da tributação das pensões e aposentadorias
que superem o valor de um salário-mínimo. Preenchidos tais pressupostos, faz-se possível a
instituição de uma contribuição extraordinária, a ser editada por meio de lei. Tal contribuição deve
subsistir até o equacionamento do déficit, devendo vigorar por período determinado. O período
máximo é de 20 anos.
Por fim, esse também foi o caso das contribuições para o SESC, SENAC, SESI e SENAI,
conforme se observa do conteúdo do artigo 240:
Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais
contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de
salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de
formação profissional vinculadas ao sistema sindical.
Como se observa, a lei não fixou o valor da anuidade, mas estabeleceu apenas um teto.
Quando do estudo das taxas, fizemos referência à jurisprudência pacífica do STF no sentido
da impossibilidade da instituição de taxa para o custeio do serviço de iluminação pública, que mais
tarde se materializou na Súmula Vinculante de nº 41.
O Congresso Nacional editou a EC nº39, que inseriu o artigo 149-A ao texto CF, para
autorizar os municípios a instituírem contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública.
Tese de Repercussão Geral, Tema 696: É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por
meio de contribuição para o custeio da iluminação pública na expansão e aprimoramento da rede.
União transfere para Estado e DF: a) 100% do IR incidente na fonte; b) 30% do IOF-Ouro; c)
20% dos Impostos Residuais e d) 29% do CIDE-Combustível.
Estado transfere para os Municípios: a) 50% do IPVA; b) 25% do ICMS e c) 25% do que o
Estado recebe da União de CIDE-Combustível, ou seja, 7,25%.
Assim, nenhum Estado, por maior que seja o seu volume de exportações, pode receber
mais do que 20% do total dos valores que formam o fundo de compensação de exportações.
AULA 05
1) FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO
A doutrina tradicional classifica as fontes do direito em fontes materiais e fontes formais.
As fontes materiais são aquelas situações fáticas que provocam a deflagração do processo
legislativo. No âmbito do Direito Tributário, podemos citar como exemplos de fontes materiais a
existência de déficit fiscal, o advento de uma crise econômica e a proximidade de uma eleição.
As fontes formais são aqueles veículos jurídicos por meio dos quais se pode encontrar
regras jurídicas que proíbem, obrigam e permitem alguém a dar, fazer ou não fazer alguma coisa.
A CF, a lei ordinária e a lei complementar são exemplos de fontes formais.
Por fontes formais primárias se entende aqueles veículos normativos que podem inovar na
ordem jurídica, criando direitos e obrigações; por fontes formais secundárias aqueles outros cuja
função é regulamentar obrigações ou direitos preexistentes.
1.1) FONTES PRIMÁRIAS
1.1.1 Constituição Federal e Emenda â Constituição Federal
Ocupam o mais alto grau de hierarquia, sendo o fundamento de validade das demais
normas de Direito Tributário existentes no ordenamento. Também possuem essa hierarquia as
Emendas à Constituição. Ressalta-se que uma Emenda Constitucional não pode alterar uma
cláusula pétrea.
1.1.2 Lei Complementar
A lei complementar desempenha funções típicas e funções atípicas no Direito Tributário.
As funções típicas se encontram elencadas no art. 146 da CF:
Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de
competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o DF e
os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de
tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre:[...]
O inciso III do artigo 146 da CF, por sua vez, dispõe da seguinte forma:
Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais em
matéria de legislação tributária, especialmente sobre[...]:
A segunda tarefa impõe que a lei complementar defina o arquétipo de cada um dos
impostos previstos pela Constituição, indicando os fatos geradores – critérios material, espacial e
temporal – as bases de cálculo e os contribuintes que podem ser eleitos pela legislação ordinária
de cada entidade federativa. Vale ressaltar que essa exigência se refere apenas aos impostos e não
às demais espécies tributárias.
FUNDEP/Auditor-Conselheiro Substituto/2018/Adaptada
Julgue o item a seguir: Cabe à lei complementar estabelecer normas
gerais em matéria de legislação tributária, inclusive no que se refere
à definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos e as taxas, os respectivos fatos geradores, bases de cálculo
e contribuintes. ERRADO, pois a lei complementar tem como função
definir os fatos geradores apenas dos impostos.
Questão mais complexa diz respeito à tributação pelo ITCMD nas seguintes hipóteses: a) se
o doador tiver domicílio ou residência no exterior; b) se o de cujus possuía bens, era residente ou
domiciliado ou teve seu inventário processado no exterior. Nesses dois casos, a Constituição exigiu
de maneira específica que a questão fosse regulamentada por meio de lei complementar,
conforme o art. 155, §1º, III.
A ausência dessa lei complementar impede a instituição do ITCMD do inciso III até que seja
editada lei complementar sobre o tema.
Quanto ao ISSQN, cabe à lei complementar definir os serviços de qualquer natureza, fixar
suas alíquotas máximas e mínimas, excluir da sua incidência exportações de serviços para o
exterior e regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios são concedidos
ou revogados, conforme art. 156, §3º da CF.
A alínea b, do inciso III, do art. 146 da Constituição, dispõe que compete à lei
complementar estabelecer normas gerais sobre “obrigação, lançamento, crédito, prescrição e
decadência tributários”. Essas matérias atualmente são reguladas pelo CTN, que traz disposições
gerais acerca de cada um desses institutos. Eventual lei ordinária que contrarie as disposições do
CTN ofende o art. 146 da Constituição, não podendo subsistir.
Foi o que ocorreu, como por exemplo, com o art. 2º, §3º, da Lei 6.830/80, que estabelece
que a inscrição em dívida ativa suspende a prescrição pelo prazo de 180 dias ou até a distribuição
da execução fiscal se esta ocorrer antes de findo aquele prazo. Como inexiste hipótese semelhante
a essa no CTN, deve-se restringir a aplicação do dispositivo aos créditos não-tributários.
A alínea c, do art. 146, III da CF dispõe que compete à lei complementar estabelecer
normas sobre “adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades
cooperativas”. Até o presente momento, não foi editada lei complementar sobre o tema,
aplicando-se o tratamento previsto nas leis ordinárias instituidoras de cada tributo8. É o que tem
entendido o Supremo.
A alínea d, por sua vez, permite à lei complementar definir um tratamento diferenciado e
favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte. Foi o que sucedeu com a
edição da Lei Complementar 123/2006, que criou o Simples Nacional.
Por fim, além dessas funções típicas, cabe à lei complementar instituir os tributos em que a
Constituição expressamente exigiu a utilização desse veículo normativo. São eles:
a) Empréstimos Compulsórios:
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir
empréstimos compulsórios.
c) Impostos Residuais:
Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar,
impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios
dos discriminados nesta Constituição.
Como regra geral, a lei complementar estabelece a moldura que deve ser observada pelo
legislador ordinário quando da edição da norma imponível.
Além de instituir tributos, a lei ordinária pode dispor sobre Direito Tributário de maneira
ampla, desde que respeitados os limites estabelecidos pela Constituição Federal e pelas normas
gerais veiculadas por meio de lei complementar.
Assim, por exemplo, o artigo 151, inciso VI, do CTN, estabelece que suspende a
exigibilidade do crédito tributário o parcelamento. No entanto, essa regra não autoriza por si só o
pagamento parcelado de tributos, porque há a necessidade de a pessoa jurídica competente
editar uma lei ordinária que autorize essa possibilidade.
Portanto, embora a função mais evidente da lei ordinária seja instituir os tributos, não é a
única desempenhada por esse veículo normativo no Direito Tributário.
Nada impede que seja utilizada a medida provisória também no âmbito do Direito
Tributário. Essa situação é possível inclusive para instituição ou majoração de tributos, conforme
jurisprudência do STF.
No Direito Tributário deve-se aceitar a possibilidade de utilização de lei delegada, sem que
se possa falar de ofensa ao princípio da legalidade.
Contudo, os tributos que devem ser instituídos por meio de lei complementar não podem
sofrer a regulamentação através de lei delegada.
1.1.7 Resolução
Quanto ao ICMS, o artigo 155, §2º, inciso IV, dispõe que “resolução do Senado Federal, de
iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria
absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações,
interestaduais e de exportação”.
Quanto ao ITCMD compete ao Senado Federal fixar suas alíquotas máximas, o que é feito
através de Resolução.
No que tange ao IPVA, compete ao Senado Federal fixar suas alíquotas mínimas.
Além disso, se provocado por algum interessado, o Poder Judiciário também deve intervir
para reconhecer a ilegalidade do ato editado pelo Presidente da República.
São normas complementares das leis, dos tratados, das convenções internacionais e dos
decretos “as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei
atribua eficácia normativa”.
Órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa são aqueles órgãos aos quais
competem resolver, no âmbito da administração pública, as controvérsias acerca do Direito
Tributário.
A decisão dos órgãos administrativos não vincula o Poder Judiciário. Portanto, ainda que a
administração pública tenha pautado sua atuação com base na jurisprudência dos tribunais
administrativos, nada impede que o contribuinte ingresse com ação judicial questionando a
legalidade da interpretação dada pela administração pública, e que o Poder Judiciário venha a
efetivamente dar razão ao seu pleito.
2) LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
2.1 CONCEITO DE LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
A relevância dessa informação decorre do fato de o CTN ter utilizado o termo legislação
tributária 25 vezes ao longo do seu texto, na pressuposição de que a expressão deve ser
interpretada no sentido apontado pelo artigo 96. Assim, é importante que o intérprete tenha em
mente a distinção entre legislação tributária e lei, sob pena de incorrer em equívoco
interpretativo.
Desse modo, por exemplo, quando o §2º, do artigo 113, afirma que “A obrigação acessória
decorre da legislação tributária”, está afirmando que o nascimento de uma obrigação acessória
pode decorrer da incidência de uma norma prevista por um ato infralegal. Quando, no entanto, o
inciso I do artigo 97 do CTN afirma que “somente a lei pode estabelecer a instituição de tributos,
ou sua extinção”, está afirmando que essa matéria está sujeita à reserva de lei em sentido estrito,
não podendo ser veiculada por meio de um ato infralegal.
Portanto, o conceito de legislação tributária é mais amplo do que o de lei, abarcando-o.
2.2 VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
Aplica-se às normas tributárias a regra prevista no art. 1º da LINDB, que dispõe no seguinte
sentido:
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
Como se pode observar, o artigo 112 do CTN se aplica apenas às infrações, não se
estendendo às normas que imponham o pagamento de tributo.
Por fim, a lei tributária pode alterar determinado conceito oriundo do direito privado,
dando-lhe certa peculiaridade, restringindo-lhe ou ampliando-lhe o alcance, desde que não tenha
sido adotado pela Constituição para delimitar a competência tributária.
AULA 06
1) OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
1.1 CONCEITO
A obrigação tributária é a relação jurídica existente entre um credor e um devedor, que
tem por objeto uma prestação e que nasce quando a situação prevista pela hipótese de incidência
da norma tributária ocorre no mundo real.
A obrigação não se confunde com o crédito tributário, que é a obrigação tornada líquida e
certa. O crédito tributário existe a partir da sua constituição, o que normalmente se dá através do
lançamento tributário. O crédito tributário é um dos elementos que compõem a obrigação.
1.2 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA PRINCIPAL E OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ACESSÓRIA
1.2.1 Obrigação Principal
Obrigação Principal: a) Pagamento de Tributo e b) Pagamento de Multa.
1.2.2 Obrigação Acessória
A obrigação acessória tem como objeto fazer ou um não fazer. Já a obrigação principal tem
como característica a prestação de dar.
A obrigação acessória permanece mesmo nos casos em que não há o dever de pagar o
tributo.
Parte da doutrina prefere utilizar o termo deveres instrumentais para se referir às
obrigações acessórias.
A obrigação principal só estabelecida por lei, já as acessórias decorrem da legislação
tributária (leis ordinárias, leis complementares, decretos e portarias).
Além da necessidade da obrigação acessória, a exigência do fisco deve ser proporcional,
não podendo onerar demasiadamente os contribuintes.
Portanto, obrigações acessórias que sejam desnecessárias ou que onerem de maneira
desproporcional as pessoas responsáveis pelo seu cumprimento padecem de ilegalidade.
Quando há o descumprimento de uma obrigação acessória, o fisco não ingressa no Poder
Judiciário com pedido para que o sujeito passivo seja compelido a realizá-la. Na verdade, a sanção
pelo descumprimento da obrigação acessória é a imposição de uma multa pecuniária, que por ser
uma obrigação de dar, enquadra-se no conceito de obrigação tributária principal.
ATENÇÃO: A obrigação acessória pode ser instituída por um ato infralegal. No entanto, a
multa pelo descumprimento de uma obrigação acessória deve ser prevista em lei, por se tratar de
uma obrigação principal.
1.3 FATO GERADOR
1.3.1 Conceito e classificação
O termo fato gerador tem sido empregado para aludir a duas realidades distintas.
Numa primeira acepção, fato gerador é a descrição, por uma norma geral e abstrata, de um
determinado comportamento ou estado, cuja realização concreta faz nascer a relação jurídica de
direito tributário. Por exemplo, a previsão de que quem auferir renda deve pagar imposto de
renda.
Já a segunda acepção, o termo fato gerador é a própria realização concreta daquele
comportamento previsto pela norma tributária. Ocorre, por exemplo, quando alguém recebe seu
salário, auferindo renda.
O fato gerador é instantâneo quando a sua realização se dá em um átimo de tempo.
O fato gerador periódico ou complexivo é aquele cuja formação ocorre ao longo de um
espaço de tempo. Ao final do período previsto em lei, valoriza-se todos os fatos isolados que,
somados, tem a aptidão para fazer nascer a relação jurídica de direito tributário. É o caso do IRPF.
Por fim, fato gerador continuado é aquele que descreve uma conduta que revela um
estado de permanência, como ser proprietário de imóvel urbano, no caso do IPTU, ou ser
proprietário de veículo automotor, no caso do IPVA.
1.3.2 Regras inseridas no CTN
O posicionamento doutrinário defende que o art. 118 é plenamente aplicável, devendo-se
abstrair a validade jurídica dos atos praticados. O argumento central é o de que um ato nulo pode
produzir efeitos, a despeito do vício em que incorre. É o que acontece com uma compra e venda
que, mesmo nula, seja respeitada pelas partes com a entrega do imóvel ao comprador e do preço
pelo vendedor.
Por fim, é importante pontuar que o art. 118 do CTN também tem sido interpretado como
uma concretização do princípio da interpretação objetiva do fato gerador, segundo o qual se deve
desconsiderar o caráter ilícito da conduta praticada pelo contribuinte (pecúnia non olet).
Assim, o fato jurídico incide quando ocorrida a situação prevista pela hipótese de
incidência da norma tributária, sendo irrelevante que a conduta que originou a obrigação seja
contrária ao direito. É o caso do traficante que foi notificado pela Receita Federal a pagar imposto
de renda, incidente sobre rendimentos apurados no valor de R$ 50.000,00. O fato desse
rendimento ter origem ilícita não afasta a sua obrigação de recolher a tributação.
1.5 SUJEITO ATIVO
Dispõe o art. 119 do CTN:
Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito
público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.
Não é, no entanto, o que ocorre. Esse dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o
disposto no art. 7º do CTN, que dispõe da seguinte forma:
Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das
funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis,
serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária,
conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos
termos do §3º do art. 18 da Constituição.
Portanto, é possível que haja a delegação da capacidade tributária ativa, e que o sujeito
ativo de uma relação jurídica não seja a pessoa jurídica detentora da competência tributária.
1.6 SUJEITO PASSIVO
1.5.1 Disposições Gerais
Dispõe o art. 121 do CTN:
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada
ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a
situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua
obrigação decorra de disposição expressa de lei.
Não há a exigência legal de que o sujeito passivo de uma obrigação acessória também
figure como sujeito passivo de uma obrigação principal.
1.5.2 Solidariedade
O art. 124 do CTN tem a seguinte redação:
Art. 124. São solidariamente obrigadas:
I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua
o fato gerador da obrigação principal;
II - as pessoas expressamente designadas por lei.
Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta
benefício de ordem.
A responsabilidade por sucessão se aplica aos créditos tributários, conceito que engloba
tanto os tributos quanto as penalidades pecuniárias.
O art. 130 do CTN traz a primeira hipótese de responsabilidade por sucessão:
Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato
gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens
imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços
referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, sub-rogam-se
na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título
a prova de sua quitação.
Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-
rogação ocorre sobre o respectivo preço.
Portanto, a interpretação conjunta dos incisos II e III do artigo 131 do CTN conduz às
seguintes conclusões:
1ª: Antes da partilha, o espólio é o responsável pelos tributos devidos pelo de cujus
até o falecimento;
2ª: Após a partilha, passam a ser responsáveis o cônjuge meeiro e os sucessores,
tanto com relação aos tributos existentes antes do falecimento como também com relação aos
tributos que incidiram após o óbito do contribuinte originário.
1.6.3.1.3 Sucessão Tributária das pessoas jurídicas e do estabelecimento
O art. 132 do CTN dispõe no seguinte sentido:
Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão,
transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável
pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de
direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de
extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração
da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio
remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou
sob firma individual.
A responsabilidade tributária por sucessão empresarial, prevista nos artigos 132 e 133 do
CTN, abrange todo o crédito tributário, ou seja, os tributos, multas moratórias e multas punitivas
existentes até a data da sucessão.
Se um dos dois sócios de uma sociedade limitada falecer, e o sócio remanescente optar por
continuar exercendo as mesmas atividades, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma
individual, será ele responsável pelas obrigações tributárias da antiga sociedade limitada. O
mesmo acontece se o espólio continuar exercendo a mesma atividade do empresário individual
falecido.
Já o ART. 133 DO CTN se refere ao estabelecimento comercial, e não ao mero local físico
utilizado pela pessoa jurídica para a exploração das suas atividades.
Para FACILITAR A COMPREENSÃO dessa regra, pensemos no seguinte EXEMPLO: A pessoa
jurídica X, que possui 6 pizzarias na cidade de Porto Alegre/RS, resolveu vender um dos seus
restaurantes, localizado na zona norte da cidade, a pessoa jurídica Y, recém constituída. A pessoa
jurídica Y passou a explorá-lo com outra razão social, mas manteve a mesma forma de atuação, os
mesmos funcionários e as mesmas receitas de pizzas. Os clientes continuaram frequentando a
pizzaria, e se não fosse pela mudança de nome, sequer teriam notada a alteração na propriedade
do estabelecimento. Esse é um caso de aquisição de estabelecimento empresarial, que atrai a
incidência do art. 133 do CTN, tornando o novo adquirente – no caso a pessoa jurídica Y –
responsável pelos créditos tributários relativos ao estabelecimento adquirido. Agora, imaginemos
uma outra hipótese, na qual a pessoa jurídica Y, embora tenha se mantido no mesmo ramo de
negócio da pessoa jurídica X – alimentício - passou a atuar não mais com pizzas, mas com
hambúrgueres gourmet. A cozinha teve que ser remodelada, o cardápio não mais é o mesmo, os
funcionários tiveram que ser treinados novamente – alguns deles foram demitidos e outros
contratados – e os clientes também são distintos. Nesse caso, não houve a aquisição de um
estabelecimento, mas tão somente do ponto comercial. Não incide, assim, o disposto no art. 133
do CTN.
Assim, pela perspectiva da doutrina majoritária, em ocorrendo a cessação da exploração do
comércio pelo alienante, ambos, alienante e adquirente, respondem solidariamente pelas
obrigações existentes até a data da sucessão.
Por outro lado, o inciso II dispõe que a responsabilidade do adquirente é subsidiária à do
alienante, “se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da
alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão”.
Nessa hipótese, em que o alienante continua exercendo alguma atividade empresarial ou, dentro
de seis meses contados da alienação, passe a exercê-la, o adquirente do estabelecimento apenas
pode ser responsabilizado subsidiariamente, ou seja, caso o fisco não consiga excutir o patrimônio
do contribuinte.
O §1º do art. 133 dispõe que a responsabilidade por sucessão não ocorre quando o
estabelecimento for alienado em processo de falência ou no bojo de um processo de recuperação
judicial.
1.6.3.2 Responsabilidade de terceiros
Dispõe o art. 134 do CTN:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento
da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente
com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que
forem responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados
ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos
por estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida
ou pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos
tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles,
em razão do seu ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de
penalidades, às de caráter moratório.
RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS
Ilícito Grau de Responsabilidade Extensão da Reponsabilidade
Art. Valor principal do tributo, correção
Culpa Subsidiária
134 monetária, juros e multas moratórias.
Valor principal do tributo, correção
Art.
Dolo Pessoal monetária, juros e multas moratórias e
135
multas punitivas.
Trata-se de dispositivo que regulamenta a denúncia espontânea, por meio da qual o agente
reconhece a prática da infração e efetua o pagamento do tributo devido, com juros e correção
monetária. Nesses casos, a responsabilidade é excluída, livrando o contribuinte da imposição de
multas moratórias e punitivas.
O parágrafo único do artigo 138, no entanto, traz um marco temporal, que se ultrapassado,
impede os benefícios da denúncia espontânea:
Art. 138, Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia
apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo
ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.
AULA 07
1) CRÉDITO TRIBUTÁRIO
1.1 CONCEITO E DISPOSIÇÕES GERAIS
O crédito tributário não surge no mesmo momento da obrigação tributária, mas
posteriormente, quando do lançamento tributário.
A título de exemplo, enquanto o Município não lançar o IPTU - o que se dá normalmente
pela entrega do carnê - o que existe é um dever pessoal do devedor de arcar com a obrigação, que
ainda não se encontra dotada de liquidez e certeza. Apenas com o lançamento pelo município é
que a obrigação adquire tais atributos (liquidez e certeza).
O art. 139 do CTN dispõe que “O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a
mesma natureza desta”, numa afirmação que se encontra em consonância com a ideia de que
cabe ao crédito tributário conferir à obrigação tributária principal os atributos da liquidez e da
certeza, devendo guardar com ela correspondência.
Um crédito tributário que falseie a obrigação tributária padece do vício da nulidade, não
podendo ser mantido no mundo jurídico. Assim, se o contribuinte João auferir rendimentos
tributáveis no valor de R$ 50.000,00, essa é a quantia que deve compor a base de cálculo da
exação. Se o fisco lançar o tributo tomando como dimensão o valor de R$ 55.000,00, o crédito
deve ser anulado com relação ao excesso.
O inverso, no entanto, não é verdadeiro. É possível que exista uma obrigação sem crédito
tributário. É o caso, por exemplo, do contribuinte que teve rendimentos de R$ 100.000,00 em um
determinado exercício, mas não o declarou ao fisco. Enquanto a administração não verificar a
sonegação e efetuar o lançamento, a obrigação tributária permanece sem crédito tributário. Se o
prazo prescricional transcorrer sem que isso ocorra, a obrigação é extinta sem que o crédito nunca
tenha existido.
Portanto, não existe crédito tributário sem obrigação tributária, mas pode existir obrigação
tributária sem crédito tributário.
1.2 CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
O CTN regula as hipóteses de constituição do crédito tributário por meio do lançamento
tributário. E o faz classificando os lançamentos em três espécies: lançamento de ofício, por
declaração e por homologação.
1.2.1 Lançamento de ofício
O lançamento de ofício é realizado pela administração pública sem qualquer colaboração
ou participação do particular. Tem cabimento nos casos em que a lei assim o determine e nas
hipóteses em que forem verificadas irregularidades que justifiquem a atuação de ofício da
administração.
O lançamento de ofício é o meio usual de constituição do crédito tributário quando “a lei
assim o determine”. Ocorre com tributos em que a legislação expressamente atribui à
administração pública o dever de apurar e constituir o crédito tributário, do que são exemplos o
IPTU e o IPVA.
Fora dessa situação, o lançamento é efetuado ou revisto de ofício para suprir omissões ou
corrigir inconsistências, conforme se observa do artigo 149 do CTN:
Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade
administrativa nos seguintes casos:
I - quando a lei assim o determine;
II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no
prazo e na forma da legislação tributária;
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado
declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo
e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento
formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou
não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a
qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de
declaração obrigatória;
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa
legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o
artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de
terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade
pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em
benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado
por ocasião do lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude
ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela
mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada
enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.
Ressalta-se que com base no inciso VI é que o fisco aplica multas pelo descumprimento de
obrigações acessórias.
Deve-se atentar para a regra que trata de erro de direito, a qual não pode a administração
revisar um lançamento sob o fundamento de que a interpretação da legislação foi equivocada,
porque a modificação nos critérios jurídicos só possui efeitos prospectivos, não atingindo
lançamentos anteriores.
Assim a conclusão de que a revisão do lançamento pode ser realizada quando existir erro
de fato, sendo vedada na hipótese de erro de direito.
Quanto à distinção entre erro de fato e erro de direito: 'erro de fato', por exemplo, a
contingência de o evento ter ocorrido no território do Município 'X', mas estar consignado como
tendo acontecido no Município 'Y' (erro de fato localizado no critério espacial), ou, ainda, quando
a base de cálculo registrada para efeito do IPTU foi o valor do imóvel vizinho (erro de fato
verificado no elemento quantitativo). 'Erro de direito', por sua vez, está configurado,
exemplificativamente, quando a autoridade administrativa, em vez de exigir o ITR do proprietário
do imóvel rural, entende que o sujeito passivo pode ser o arrendatário, ou quando, ao lavrar o
lançamento relativo à contribuição social incidente sobre o lucro, mal interpreta a lei, elaborando
seus cálculos com base no faturamento da empresa, ou, ainda, quando a base de cálculo de certo
imposto é o valor da operação, acrescido do frete, mas o agente, ao lavrar o ato de lançamento,
registra apenas o valor da operação.
Exemplo corriqueiro concerne à situação em que o fisco municipal verifica posteriormente
ao lançamento tributário que o imóvel de propriedade do contribuinte é maior do que aquele
originariamente considerado quando do lançamento do IPTU. O STJ entende que é possível a
revisão do lançamento se a administração não sabia da diferença na metragem, pela ocorrência de
um erro de fato.
O parágrafo único do art.149 enuncia que ocorrida a decadência do direito de constituir o
crédito, não pode a fazenda pública proceder à revisão do lançamento anteriormente efetuado.
Por fim, dispõe o art. 148 do CTN:
Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em
consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos
jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular,
arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não
mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os
documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro
legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação
contraditória, administrativa ou judicial.
Esse dispositivo trata daquilo que a doutrina chama de lançamento por arbitramento. O
lançamento por arbitramento não é uma punição, e tampouco pode ser utilizado de maneira
discricionária pela administração pública, só tendo lugar nos casos em que efetivamente não se
possa dimensionar pelos meios usais a grandeza do fato gerador.
O fisco só pode desconsiderar o valor informado na nota fiscal se existirem provas de que a
quantia não reflete a realidade.
1.2.2 Lançamento por declaração
O lançamento por declaração se caracteriza pela obrigação de o sujeito passivo ou de
terceiro prestar declarações sobre alguma circunstância à administração tributária que, como base
nestas, calcula o valor do tributo devido e constitui o crédito tributário. É o que dispõe o art. 147
do CTN:
Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito
passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação
tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre
matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.
Assim, a interpretação conjunta do art. 146 com o art. 145, incisos II e III, conduz à
conclusão de que a alteração só é possível nesses casos quando constatado um erro de fato,
sendo vedada a modificação do lançamento quando presente um erro de direito.
1.2.5 Outras formas de constituição do crédito tributário
A constituição do crédito tributário não é realizada exclusivamente por meio do
lançamento tributário.
É o que ocorre quando a Justiça do Trabalho apura as contribuições previdenciárias
incidentes sobre a quantia a que o empregador foi condenado a pagar.
Nesse caso, o Poder Judiciário calcula o valor devido, sendo dispensável que a
administração pública efetue o lançamento do crédito correspondente.
O mesmo acontece quando o sujeito passivo declara o valor da obrigação tributária, mas
não realiza o seu pagamento. Nessa situação, a obrigação é tornada líquida e certa pela
declaração, que constitui o crédito tributário e dispensa o fisco de proceder ao lançamento. Sobre
o assunto, há inclusive súmula do STJ:
Súmula 436, STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte
reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada
qualquer outra providência por parte do fisco.
Por fim, também constitui o crédito tributário a realização de depósito integral para
discutir a legalidade da dívida no bojo de um processo judicial.
1.3 SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
O caput do art. 151 do CTN dispõe no seguinte sentido:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
Esse dispositivo determina que, uma vez ocorrida alguma das hipóteses prevista por ele, a
exigibilidade do crédito fica suspensa, impedindo que o fisco possa exigir de imediato o
pagamento do tributo devido. A exigibilidade do crédito “fica congelada” até que aquele
acontecimento seja superado.
O dispositivo fala em suspensão do crédito tributário, e não em suspensão da obrigação
tributária. Desse modo, antes da constituição do crédito, pode a Fazenda Pública efetuar o
lançamento tributário para constituí-lo. Nesses casos o lançamento é efetuado tão somente para
prevenir a decadência, que ocorreria se o fisco ficasse inerte.
A suspensão da exigibilidade do crédito tributário suspende o prazo prescricional ou, na
hipótese em que ele ainda não começou a correr, impede o início do seu transcurso.
Por fim, a suspensão do crédito tributário não importa na dispensa do cumprimento das
obrigações acessórias por parte do sujeito passivo.
1.3.1 Moratória
A moratória suspende o crédito tributário. Trata-se de instituto por meio do qual o credor
concede ao devedor um prazo adicional para o pagamento do crédito tributário. Até a data de
pagamento o crédito fica suspenso, impedindo o credor de realizar qualquer ato atinente à sua
cobrança. A moratória pode ser concedida em caráter geral ou individual.
A moratória tem caráter geral quando a sua fruição decorra imediatamente da lei que a
instituiu, independentemente do preenchimento de requisitos específicos por parte do sujeito
passivo. Pode-se dividir as moratórias concedidas em caráter geral em duas espécies: a)
Moratórias autônomas - concedidas pela própria pessoa de direito público competente para
instituição do tributo; b) Moratórias heterônomas - a União estabelece moratória de tributos de
competência dos Estados, Distrito Federal e Municípios, desde também o faça com relação aos
tributos federais e às obrigações de direito privado.
A moratória possui caráter individual quando a lei estabelece que a sua fruição depende do
atendimento de certos requisitos, que devem ser auferidos pela autoridade administrativa.
O §único do art. 152 do CTN determina que “a lei concessiva de moratória pode
circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região ou a determinada classe
ou categoria.”
Quer se trate de moratória geral ou de moratória individual, a lei concessiva do benefício
deve observar os requisitos do art. 153 do CTN:
Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize
sua concessão em caráter individual especificará, sem prejuízo de
outros requisitos:
I - o prazo de duração do favor;
II - as condições da concessão do favor em caráter individual;
III - sendo caso:
a) os tributos a que se aplica;
b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que
se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à
autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter
individual;
c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de
concessão em caráter individual.
Caso a lei não disponha de maneira contrária, a moratória abrange apenas os créditos
tributários constituídos ou em curso de constituição. O § único determina que o benefício legal
não abarca aqueles créditos tributários que tenham sido constituídos em virtude de dolo, fraude
ou simulação do sujeito passivo ou de terceiro em benefício daquele.
O art. 155, por sua vez, tem a seguinte redação:
Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera
direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que
o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou
não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do
favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora:
I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou
simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele;
II - sem imposição de penalidade, nos demais casos.
Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido
entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa
para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do
inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito
o referido direito.
Ressalta-se que, no âmbito da União, a dívida inadimplida sofre a incidência da Taxa Selic e
da penalidade pecuniária.
Tem-se o entendimento de que os Estados podem legislar sobre a matéria, inclusive
mediante a fixação de um índice de correção monetária próprio. No entanto, se optarem por fazê-
lo, o índice da União serve como teto, não podendo ser ultrapassado.
Revela-se possível, nessa perspectiva, que os estados utilizem a Taxa Selic, desde que exista
legislação própria determinando a sua incidência. É o que revela a Súmula 523 do STJ:
Súmula 523: A taxa de juros de mora incidente na repetição de
indébito de tributos estaduais deve corresponder à utilizada para
cobrança do tributo pago em atraso, sendo legítima a incidência da
taxa Selic, em ambas as hipóteses, quando prevista na legislação
local, vedada sua cumulação com quaisquer outros índices
O parágrafo segundo traz uma exceção à regra segundo a qual deve a dívida sofrer a
incidência dos gravames legais quando paga a destempo. Trata-se da hipótese em que o
contribuinte, antes de vencido o crédito, realiza uma consulta à administração pública, para
solucionar eventual dúvida sobre a interpretação da legislação tributária.
Para que produza esse efeito, a consulta deve ser séria e fundada, não devendo ser aceita
quando realizada com intuito protelatório.
O art. 162 do CTN autoriza que o pagamento seja realizado em moeda corrente, cheque,
vale postal e, nos casos previstos em lei, em estampilha, papel selado ou por processo mecânico.
Já o art.163 do CTN traz regras sobre imputação do pagamento:
Art. 163. Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do
mesmo sujeito passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito
público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes
de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade
administrativa competente para receber o pagamento determinará a
respectiva imputação, obedecidas as seguintes regras, na ordem em
que enumeradas:
I - em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em
segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária;
II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e
por fim aos impostos;
III - na ordem crescente dos prazos de prescrição;
IV - na ordem decrescente dos montantes.
Portanto, o sujeito passivo apenas pode realizar a compensação se existir lei que autorize.
O parágrafo único estabelece que o crédito vincendo do sujeito passivo deve sofrer, nos
termos da lei, um deságio, que não poderá ser superior a 1% ao mês.
O art. 170-A, inserido pela LC nº 104/2001, determina ser “vedada a compensação
mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes
do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial”. Trata-se de dispositivo que se aplica tão
somente às demandas ajuizadas após a vigência da LC nº 104/2001, ou seja, a partir de
11/01/2001.
Há súmula do STJ nesse sentido:
Súmula n. 212: A compensação de créditos tributários não pode ser
deferida por medida liminar.
Por força desse dispositivo, portanto, não pode o magistrado, no bojo de uma ação judicial
que requer o reconhecimento de que foram pagos tributos indevidamente, deferir em
antecipação de tutela a compensação do indébito com os créditos devidos pelo sujeito passivo.
Aliás, essa compensação não pode ser realizada nem mesmo após a decisão do tribunal de
segundo grau que confirme eventual sentença de procedência. Como o art. 170-A exige
expressamente o trânsito em julgado, o fato de o recurso especial e do recurso extraordinário não
possuírem, como regra, efeito suspensivo, não autoriza que a compensação seja realizada antes
que sejam esgotados todos os recursos cabíveis.
Súmula 461 do STJ: O contribuinte pode optar por receber, por meio
de precatório ou por compensação, o indébito tributário certificado
por sentença declaratória transitada em julgado
1.4.3 Transação
A mera realização da transação não põe fim ao crédito. É possível que o devedor não
cumpra com as condições estabelecidas. Daí por que ser o pagamento, na forma prevista pela
transação, a causa da extinção.
Reza o art. 171 do CTN:
Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos
sujeitos ativo e passivo da obrigação Tributária celebrar transação
que, mediante concessões mútuas, importe em determinação de
litígio e consequente extinção de crédito tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para
autorizar a transação em cada caso.
Portanto, não há como a autoridade administrativa transacionar o crédito tributário sem lei
que regulamente o instituto e estabeleça critérios objetivos para sua realização.
1.4.4 Remissão
Como se pode observar do art. 172, a autoridade administrativa não é livre para conceder a
remissão do crédito tributário (perdão do crédito tributário), só podendo fazê-lo se existir lei que
lhe autorize, e nos termos e limites estabelecidos por ela.
Por fim, destaca-se o §11 do art. 195 da CF. Segundo o novo dispositivo, a lei
complementar deve estabelecer os casos em que não é permitida a remissão das contribuições
previdenciárias elencadas pelos incisos I e II do caput. Eis a redação do dispositivo:
Art. 195, §11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo
superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput.
1.4.5 Decadência e Prescrição
1.4.5.1 Considerações Gerais
Prescrição – direitos prestacionais, que são aqueles direitos que têm como objeto uma
prestação, positiva ou negativa, do sujeito passivo. Pode ser uma obrigação de dar, de fazer ou
não fazer, e a fruição desses direitos depende da adoção de determinada conduta por parte do
sujeito passivo.
Decadência – direitos potestativos são aqueles direitos que podem ser exercidos
independentemente do concurso de vontade do sujeito passivo, bastando a manifestação de
vontade do sujeito ativo - ainda que com a intervenção do juiz em alguns casos.
Para a teoria científica, os direitos prestacionais, dos quais decorrem as ações
condenatórias e executivas, sujeitam-se à prescrição. Os direitos potestativos, geradores das ações
constitutivas, sujeitam-se ao prazo decadencial, quando existe prazo para o seu exercício em lei.
As ações declaratórias e os direitos potestativos sem prazo previsto em lei são perpétuos.
Se trouxermos essa teoria para o Direito Tributário, chegaremos às seguintes conclusões:
1ª: O prazo para que o fisco constitua o crédito tributário é decadencial, porque o
lançamento é um direito potestativo, que pode ser exercido independentemente de qualquer
comportamento do sujeito passivo. Portanto, entre a obrigação tributária e o lançamento, corre
prazo decadencial.
2º: Constituído o crédito, a prescrição passa a correr após a data de vencimento da
obrigação, quando a pretensão passa a existir. O prazo é prescricional porque o pagamento do
tributo pressupõe um comportamento do sujeito passivo, consistente na entrega da quantia ao
credor.
1.4.5.2 Decadência
Todas elas estabeleçam o prazo decadencial de cinco anos, a forma de contagem se altera
em razão da variação do termo inicial.
1ª Regra: Decadência nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação em que: a)
houve pagamento, ainda que parcial; b) não ocorreu fraude, dolo ou simulação
O lançamento por homologação se caracteriza pelo fato de o sujeito passivo antecipar o
pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Apenas posteriormente é que o fisco,
tomando conhecimento do pagamento, pode homologá-lo ou então lançar de ofício os créditos
sonegados. Ocorre que, nem sempre a administração tributária toma uma dessas atitudes. Nessa
hipótese, incide o disposto no art. 150, §4º, do CTN, que dispõe no seguinte sentido:
Art.150, §4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco
anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo
sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se
homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo
se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
Os vícios formais são aqueles que dizem respeito a aspectos procedimentais, como ocorre
nos casos em que o lançamento é anulado em razão da violação à garantia da ampla defesa. Os
vícios materiais concernem ao próprio crédito tributário.
1.4.5.3 Prescrição
O caput do art. 174, do CTN, dispõe da seguinte forma:
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em
cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.[...]
A constituição definitiva do crédito é elemento necessário, mas não suficiente para o curso
do prazo prescricional, sendo necessário que haja também o vencimento da data para pagamento
voluntário do tributo.
Portanto, é possível afirmar que o prazo prescricional se inicia quando o crédito já tiver
sido definitivamente constituído e o prazo para pagamento voluntário da obrigação já tenha se
esgotado. Os dois requisitos são cumulativos, e o preenchimento do último deles é que faz eclodir
o curso do prazo prescricional.
Quanto ao tema, é preciso atentar para o fato de que a constituição definitiva do crédito
tributário não ocorre apenas pelo lançamento, podendo ser realizada por outros mecanismos.
Além do lançamento, a forma mais usual de constituição do crédito tributário ocorre quando o
contribuinte declara o valor da obrigação, mas não realiza o seu pagamento, nos casos de tributos
sujeitos a lançamento por homologação. Sobre o assunto, há inclusive Súmula do STJ:
Súmula 436, STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte
reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada
qualquer outra providência por parte do fisco.
Nesses casos, portanto, como o crédito foi constituído pela declaração, é desnecessário
que, com relação ao valor declarado, o fisco proceda ao lançamento tributário, podendo desde
logo efetuar a sua cobrança. Apenas com relação à eventual quantia omitida é que será necessária
a realização do lançamento.
Assim, se contribuinte X fizer declaração de ajuste de IRPF que resulte na quantia a pagar
de R$ 15.000,00, mas não realizar o pagamento, pode o fisco imediatamente inscrever o crédito
em dívida ativa e ingressar com a ação de execução fiscal, não sendo necessário o prévio
lançamento tributário. O prazo para realização da cobrança, portanto, é de natureza prescricional.
Por outro lado, se o valor foi declarado apenas parcialmente é necessário o lançamento
tributário com relação à quantia não informada. Retomando o nosso exemplo, seria o caso se o
contribuinte X tivesse omitido rendimentos, que elevariam o valor do tributo de R$ 15.000,00 para
R$ 20.000,00. Nessa circunstância, com relação aos R$ 15.000,00 declarados, pode o fisco realizar
a sua cobrança, sem a necessidade do lançamento, sendo o prazo de natureza prescricional. Com
relação aos R$ 5.000,00 que foram omitidos, no entanto, é necessário o prévio lançamento, sendo
o prazo de natureza decadencial.
O §único do art. 174 do CTN traz as hipóteses que interrompem a prescrição:
Art. 174, Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe
em reconhecimento do débito pelo devedor.
A isenção sempre deve ser veiculada por meio de lei específica. Essa exigência também se
aplica nos casos em que a isenção depende de contrato.
A isenção pode ser concedida por prazo certo ou por prazo indeterminado. No primeiro
caso, a isenção só vale pelo período determinado pela legislação; no segundo, até que a norma
isentiva seja modificada. As isenções abrangem apenas os tributos, não se estendendo às
penalidades pecuniárias.
O art. 177, por seu turno, possui a seguinte redação:
Art. 177. Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é
extensiva:
I - às taxas e às contribuições de melhoria;
II - aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão.
Esse dispositivo se aplica nos casos de isenções específicas, que dependem de despacho da
autoridade administrativa. O sujeito passivo comprova o preenchimento das condições e o
cumprimento dos requisitos perante o fisco, que então defere o benefício.
1.5.3 Anistia
A anistia é o perdão do ilícito cometido pelo infrator, que importa na impossibilidade da
cobrança da sanção pecuniária correlata.
Dispõe o art. 180 do CTN:
Art. 180. A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas
anteriormente à vigência da lei que a concede, não se aplicando:
I - aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos
que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com dolo,
fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício
daquele;
II - salvo disposição em contrário, às infrações resultantes de conluio
entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas.
A anistia pode ser concedida de maneira ampla ou de maneira mais restrita, a depender da
lei que for editada. Quanto à interpretação da legislação, deve-se observar o disposto no art. 111,
inciso I, do CTN:
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que
disponha sobre:
I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;
Desse modo, não pode o intérprete ampliar o âmbito da norma benéfica, para aplicá-la a
outras hipóteses não expressamente previstas. Assim, se a lei anistiou as multas moratórias, é
vedado ao aplicador estender a anistia às multas punitivas, por exemplo.
Por fim, dispõe o art. 182 do CTN:
Art. 182. A anistia, quando não concedida em caráter geral, é
efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa,
em requerimento com a qual o interessado faça prova do
preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos
previstos em lei para sua concessão.
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera direito
adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.
Assim como ocorre com a isenção, a anistia pode ser geral ou específica.
Também como ocorre com a isenção, nessa hipótese, de anistia específica, aplica-se o art.
155 do CTN, nos casos em que se verifique que o interessado não satisfazia os requisitos para sua
obtenção.
A anistia só pode incidir entre a obrigação tributária e o crédito tributário, ou seja, após o
sujeito passivo ter incidido na multa, mas antes da sua constituição. Caso a multa já tenha sido
constituída, não pode mais ocorrer a exclusão do crédito tributário pela anistia, sendo possível, no
entanto, a extinção do crédito tributário pela remissão.
Por fim, destacamos o § 11 do artigo 195 da CF. Segundo o novo dispositivo, a lei
complementar deve estabelecer os casos em que não é permitida a anistia das multas impostas
em decorrência do inadimplemento das contribuições previdenciárias elencadas pelos incisos I e II
do caput. Eis a redação do dispositivo:
Art. 195, §11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo
superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput.
Se o contribuinte pagou um tributo indevido fora do prazo, a multa moratória que incidiu
sobre o valor principal também deve ser restituída.
Por outro lado, se a infração for de natureza formal, ou seja, decorrente do mero
descumprimento de uma obrigação acessória, o fato de o valor principal não ser devido não gera o
direito à restituição da multa punitiva.
O §único do art. 167, por sua vez, possui a interpretação dada pela jurisprudência no
sentido de que o valor a ser restituído deve ser corrigido monetariamente desde a data do
pagamento indevido, mas os juros moratórios apenas incidem a partir do trânsito em julgado. Há
duas súmulas do STJ sobre o tema:
Súmula 162 do STJ: Na repetição de indébito tributário, a correção
monetária incide a partir do pagamento indevido.
AULA 08
Como se observa, o rol das garantias constantes do CTN não é exaustivo. Outras mais
podem ser estabelecidas por meio de leis ordinárias federais, estaduais e municipais.
No entanto, isso não significa que a lei ordinária possa contrariar as disposições previstas
pelo CTN. As normas introduzidas por esse diploma legislativo são gerais e cogentes. O que a lei
ordinária pode fazer é tão somente criar outras garantias ou privilégios que com elas sejam
compatíveis.
Quanto ao §único do art.183 do CTN, ele dispõe da seguinte forma:
Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito
tributário não altera a natureza deste nem a da obrigação tributária
a que corresponda.
Assim, o fato de o devedor ter garantido a execução fiscal com uma fiança, por exemplo não altera
a natureza do crédito tributário.
O artigo 184 possui a seguinte redação:
Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados
bens, que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do
crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer
origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa
falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de
inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da
constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens
e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.
Por força desse dispositivo, responde pelo crédito tributário todos os bens do sujeito
passivo, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade,
excetuados os bens e rendas absolutamente impenhoráveis.
Nessa esteira, é irrelevante, por exemplo, que o imóvel do sujeito passivo esteja
hipotecado por uma dívida bancária (gravado por ônus real), porque isso não impede que ele seja
excutido para satisfação do crédito tributário. O mesmo ocorre com o bem imóvel recebido pelo
sujeito passivo em doação, no qual conste cláusula de impenhorabilidade. Embora essa
circunstância impeça a sua alienação para satisfação de dívidas contraídas com particulares, não é
óbice à penhora e arrematação para quitação de créditos de natureza tributária.
Assim, apenas não podem ser penhorados os bens e rendas que a lei declare
absolutamente impenhoráveis, do que são exemplos o bem de família, previsto pela Lei 8.009/90;
e aqueles arrolados no artigo 833 do CPC.
O art.185 versa sobre a fraude à execução fiscal:
Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou
rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a
Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como
dívida ativa.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de
terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao
total pagamento da dívida inscrita.
Como se pode observar, o marco temporal utilizado pela Lei para caracterização da fraude
à execução é a inscrição do crédito em dívida ativa, que ocorre antes mesmo do ajuizamento da
ação de execução fiscal.
O regramento aplicável ao fisco com relação aos créditos tributários é mais favorável do
que o existente em favor dos credores privados. Com relação a estes últimos pressupõe para o
reconhecimento da fraude à execução a existência de uma demanda judicial ou de uma constrição
judicial.
O § único do art. 185, não é toda alienação após a inscrição em dívida ativa que se constitui
em fraude à execução, mas tão somente aquelas que sejam realizadas sem que o devedor tenha
reservado bens para o pagamento da dívida inscrita.
Ainda quanto ao tema, é importante consignar que o STJ firmou entendimento no sentido
da inaplicabilidade da Súmula 375 à fraude à execução fiscal:
Súmula nº 375: O reconhecimento da fraude à execução depende do
registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do
terceiro adquirente.
Como se pode observar, três são os requisitos para que a indisponibilidade possa ser
decretada: a) citação do devedor; b) ausência de indicação de bens à penhora pelo devedor; c)
não terem sido encontrados bens penhoráveis pela Fazenda Pública.
Os dois primeiros requisitos não oferecem dificuldades, sendo decorrência do próprio
procedimento adotado pela LEF. De fato, no modelo adotado pela Lei 6.830/80, citado o devedor,
este tem o prazo de cinco dias para pagar a dívida ou garantir a execução.
Já o terceiro requisito foi pacificado pelo STJ através da súmula nº 560:
Súmula 560: A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na
forma do art. 185- A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências
na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando
infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a
expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado,
ao Denatran ou Detran.
Existindo penhoras de entidades federativas diversas sobre o mesmo bem, deve-se pagar
em primeiro lugar os créditos tributários da União, depois dos Estados, DF e Territórios, e por
último dos Municípios. Essa regra foi complementada pelo art. 29 da LEF:
Art. 29, § único, da Lei nº 6830/80: O concurso de preferência
somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na
seguinte ordem:
I - União e suas autarquias;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios e suas autarquias,
conjuntamente e pro rata;
III - Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata.
A diferença entre um dispositivo e outro é que, na LEF, foram incluídos os créditos das
autarquias, que gozam da mesma preferência estabelecida à entidade federativa correspondente.
Em julgado repetitivo, o STJ considerou que o crédito tributário de autarquia federal goza
do direito de preferência em relação àquele de que seja titular a Fazenda Estadual, desde que
coexistentes execuções e penhoras.
Os artigos 189 e 190 do CTN dispõem no seguinte sentido:
Art. 189. São pagos preferencialmente a quaisquer créditos
habilitados em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do
monte, os créditos tributários vencidos ou vincendos, a cargo do de
cujus ou de seu espólio, exigíveis no decurso do processo de
inventário ou arrolamento.
Parágrafo único. Contestado o crédito tributário, proceder-se-á na
forma do disposto no §1º do artigo anterior.
Art. 190. São pagos preferencialmente a quaisquer outros os créditos
tributários vencidos ou vincendos, a cargo de pessoas jurídicas de
direito privado em liquidação judicial ou voluntária, exigíveis no
decurso da liquidação.
Os arts 189 e 190 se aplicam nos casos de inventário e liquidação, quando o sujeito passivo
for solvente, ou seja, consegue adimplir com todas as suas obrigações. Nesse caso, o pagamento d
crédito tributário deve ser realizado com prioridade sobre os demais créditos.
O art. 191-A dispõe no seguinte sentido:
Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da
apresentação da prova de quitação de todos os tributos, observado o
disposto nos arts. 151, 205 e 206 desta Lei.
O art. 193, por sua vez, afirma que, salvo quando expressamente autorizado por lei, a
celebração de contrato ou a aceitação de proposta em concorrência pública só podem ser
realizadas mediante comprovação do interessado de que realizou a quitação de todos os tributos
devidos à Fazenda Pública interessada, no que tange à atividade em cujo exercício contrata ou
concorre.
Assim, o art. 193 impõe apenas a comprovação da quitação dos tributos com relação à
Fazenda Pública interessada, e desde que relativos à atividade a que pretende ser contratado.
Não obstante, há normas mais rigorosas do que a do artigo 193, como a prevista pelos
artigos 27 a 29 da Lei 8.666/93:
Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,
exclusivamente, documentação relativa a:
I - habilitação jurídica;
II - qualificação técnica;
III - qualificação econômico-financeira;
IV – regularidade fiscal e trabalhista; [...]
Portanto, o atendimento à exigência do art. 193 do CTN pode não ser o suficiente para que
a pessoa jurídica seja contratada pelo poder público.
2) ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
2.1 FISCALIZAÇÃO
Inaugura o tema o art.194 do CTN que possui a seguinte redação:
Art. 194. A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei,
regulará, em caráter geral, ou especificamente em função da
natureza do tributo de que se tratar, a competência e os poderes das
autoridades administrativas em matéria de fiscalização da sua
aplicação.
Parágrafo único. A legislação a que se refere este artigo aplica-se às
pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive às que
gozem de imunidade tributária ou de isenção de caráter pessoal.
Ao utilizar o termo legislação tributária, quis o CTN autorizar não apenas à lei, mas também
aos Decretos, às Portarias, às Instruções Normativas e aos outros atos infralegais.
Por outro lado, isso não significa que o poder executivo seja totalmente livre para dispor
sobre o tema. Como defende Hugo de Brito Machado Segundo:
“[...] as diretrizes e especialmente os limites a serem observados pela
atividade de fiscalização tributária devem ser estabelecidos em lei.
Aspectos instrumentais, porém, que cuidam muito mais do
funcionamento interno e da organização da própria repartição fiscal,
podem ser fixados por atos infralegais.”
O parágrafo único reitera que todos têm o dever de se submeter à fiscalização tributária
independentemente de ser ou não contribuinte de determinado tributo. Assim, o fato de uma
entidade ser isenta ou imune não significa que ela não terá que se sujeitar à fiscalização tributária.
Já o art. 195 do CTN dispõe que:
Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação
quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de
examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos
comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou
da obrigação destes de exibi-los.
Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e
fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão
conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários
decorrentes das operações a que se refiram.
O processo administrativo fiscal é orientado pelo princípio documental, porque seus atos
devem ser formalizados.
O art. 197 arrola pessoas e entidades que são obrigadas a prestar ao fisco as informações
de bens, negócios ou atividades de terceiros:
Art. 197. Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à
autoridade administrativa todas as informações de que disponham
com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros:
I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;
II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais
instituições financeiras;
III - as empresas de administração de bens;
IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;
V - os inventariantes;
VI - os síndicos, comissários e liquidatários;
VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em
razão de seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo não abrange a
prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante
esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo,
ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
As pessoas arroladas pelo art. 197 são terceiros, ou seja, não são sujeitos passivos da
relação obrigacional principal para cuja fiscalização devem contribuir. Não obstante, têm a
obrigação acessória de prestar informações ao fisco, em razão de manterem informações
relevantes sobre as atividades do sujeito passivo.
A administração tributária pode requisitar diretamente às instituições financeiras os dados
bancários dos seus correntistas, desde que preenchidos os seguintes pressupostos: a) houver
processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso; b) tais exames sejam
considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. Além disso, as
informações obtidas devem ser mantidas sob sigilo.
Quanto ao tema do sigilo fiscal, dispõe o art. 198 do CTN:
Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a
divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de
informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou
financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre natureza e o
estado de seus negócios ou atividades.
Portanto, a regra é que os dados do sujeito passivo sejam conservados pela fazenda pública
respectiva, configurando infração administrativa o repasse dessas informações a terceiros.
Há, no entanto, uma série de exceções a essa regra. O §1º do art. 198, por exemplo, dispõe
no seguinte sentido:
Art. 198, §1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos
previstos no art. 199, os seguintes:
I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;
II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da
Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração
regular de processo administrativo, no órgão ou na entidade
respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se
refere a informação, por prática de infração administrativa.
O § único deste dispositivo autoriza ainda que a União possa permutar informações com
Estados Estrangeiros, na forma estabelecida em tratados, acordo ou convênios.
Por fim, o parágrafo terceiro do artigo 198 estabelece uma série de informações que não
são protegidas pelo sigilo:
Art. 198, §3º Não é vedada a divulgação de informações relativas a:
I – representações fiscais para fins penais;
II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;
III – parcelamento ou moratória.
Finalmente, dispõe o art. 200 do CTN quanto à requisição de força pública pelas
autoridades administrativas:
Art. 200. As autoridades administrativas federais poderão requisitar o
auxílio da força pública federal, estadual ou municipal, e
reciprocamente, quando vítimas de embaraço ou desacato no
exercício de suas funções, ou quando necessário à efetivação dê
medida prevista na legislação tributária, ainda que não se configure
fato definido em lei como crime ou contravenção.
Essa regra, por óbvio, não autoriza ao fisco o ingresso no domicílio residencial ou
profissional do contribuinte sem a prévia autorização judicial.
2.2 DÍVIDA ATIVA
O ente público pode figurar como credor ou devedor em uma relação obrigacional. Uma
dessas prerrogativas da Fazenda Pública é apurar os créditos devidos e inscrevê-los em um livro
chamado de “Dívida Ativa”, que tem como função organizar e racionalizar a cobrança desses
créditos.
A dívida ativa pode ser de natureza tributária ou não tributária, conforme enuncia o artigo
39 da Lei 4.320/64:
Art. 39. Os créditos da Fazenda Pública, de natureza tributária ou não
tributária, serão escriturados como receita do exercício em que forem
arrecadados, nas respectivas rubricas orçamentárias.
§2º - Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa
natureza, proveniente de obrigação legal relativa a tributos e
respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária são os
demais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de
empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei, multa
de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros,
laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços
de serviços prestados por estabelecimentos públicos, indenizações,
reposições, restituições, alcances dos responsáveis definitivamente
julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações em moeda
estrangeira, de sub-rogação de hipoteca, fiança, aval ou outra
garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais.
Embora o parágrafo segundo do art. 39 diga o oposto, não há dúvidas de que, a partir da
CF, os créditos provenientes de empréstimos compulsórios e contribuições especiais possuem
natureza tributária.
Uma vez inscrito o crédito em dívida ativa, seja ele de natureza tributária ou não tributária,
faz-se possível a emissão de certidão que espelhe as informações constantes da inscrição, a qual é
um título executivo extrajudicial.
De posse dessa certidão, a Fazenda Pública pode ingressar com a ação de execução fiscal
contra o sujeito passivo.
O art. 201 do CTN, que dispõe sobre a dívida ativa tributária:
Art. 201. Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito
dessa natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa
competente, depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento,
pela lei ou por decisão final proferida em processo regular.
Parágrafo único. A fluência de juros de mora não exclui, para os
efeitos deste artigo, a liquidez do crédito.
Esse raciocínio, no entanto, não se aplica nos casos em que consta na CDA pessoa jurídica
empresarial cuja falência foi decretada antes da propositura da ação executiva. Nessas hipóteses,
o STJ firmou jurisprudência no sentido da possibilidade de correção da petição inicial e da CDA,
não sendo correta a imediata extinção do feito.
Por fim, dispõe o art.204 que a certidão de dívida ativa é título executivo extrajudicial,
autorizando o manejo da ação de execução fiscal. No entanto, essa presunção não é absoluta,
podendo ser ilidida por prova a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite.
Por ser ônus do sujeito passivo comprovar a inexatidão das informações registradas, cabe a
ele juntar o processo administrativo fiscal no processo de embargos à execução.
2.3 CERTIDÕES NEGATIVAS
As certidões negativas regulam a forma pela qual o contribuinte comprova a regularidade
da sua situação perante o fisco. O art. que inaugura o tema é o 205 do CTN:
Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado
tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à
vista de requerimento do interessado, que contenha todas as
informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio
fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se
refere o pedido.
Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos
termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10
dias da data da entrada do requerimento na repartição.
O art. 205 trata da Certidão Negativa de Débitos Tributários, que atesta que o contribuinte
não tem pendências com o fisco, tendo adimplido com todas as suas obrigações tributárias.
Deve ser emitida nos casos em que não há crédito constituído contra o sujeito passivo. Em
existindo crédito constituído, seja por meio de lançamento tributário ou confissão do próprio
sujeito passivo, é inviável a emissão dessa modalidade de certidão, independentemente de o
referido crédito ter ou não sido inscrito em dívida ativa.
Fazendo jus o sujeito passivo à emissão dessa certidão, deve ela ser expedida no prazo
máximo de 10 dias contados da entrada do requerimento na repartição.
O art.206 do CTN trata da Certidão Positiva com Efeitos de Negativa. Essa certidão é
emitida nos casos em que a lei considera que o sujeito passivo, embora possuidor de débitos
tributários, encontra-se regular perante o fisco, em razão do preenchimento de alguns dos
requisitos previstos pelo artigo 206.
Para que o sujeito passivo faça jus à emissão dessa certidão, é necessária a presença de um
dos seguintes requisitos:
1º - Os créditos não estejam vencidos - a razão é óbvia. Se não ocorreu o vencimento, não
há mora do sujeito passivo. Assim, muito embora o crédito já esteja constituído, não há como
considerar que o contribuinte não esteja regular.
2º - A exigibilidade esteja suspensa - Caso ocorra qualquer uma das hipóteses do artigo 151
do CTN, como a adesão a parcelamento ou a obtenção de medida liminar em ação judicial, por
exemplo, o sujeito passivo passa a fazer jus à certidão positiva com efeitos de negativa.
3º - Tenha sido garantida a dívida com penhora - também faz jus à certidão positiva com
efeitos de negativa o sujeito passivo que garante a dívida tributária com penhora, desde que o
bem oferecido seja suficiente para fazer frente à integralidade do crédito cobrado.
Quanto ao tema, merece relevo a circunstância de o STJ admitir o ajuizamento de ação
cautelar por parte do contribuinte para antecipar a realização da penhora e, assim, autorizar a
obtenção da certidão positiva com efeitos de negativa.
Com o NCPC, a medida pode ser requerida mediante pedido de tutela antecipada em
caráter antecedente, nos termos dos arts 303 a 304.
O art. 207, por sua vez, dispõe no seguinte sentido:
Art. 207. Independentemente de disposição legal permissiva, será
dispensada a prova de quitação de tributos, ou o seu suprimento,
quando se tratar de prática de ato indispensável para evitar a
caducidade de direito, respondendo, porém, todos os participantes no
ato pelo tributo porventura devido, juros de mora e penalidades
cabíveis, exceto as relativas a infrações cuja responsabilidade seja
pessoal ao infrator.
Hugo de Brito Machado Segundo24 explica o dispositivo:
O art. 207 do CTN, norma autoaplicável de natureza cautelar, aplica-
se nos casos em que: (i) a prática do ato para evitar o perecimento de
um direito deva ocorrer antes do final do prazo de que dispõe a
autoridade para fornecer a certidão; (ii) a autoridade recusa
indevidamente o fornecimento da certidão, sendo demorado o
procedimento destinado a demonstrar-lhe a inexistência de débito; e
(iii) o sujeito passivo realmente não tem direito à certidão negativa,
nem à positiva com efeito de negativa. Em todos esses casos,
considerando que terceiros assumirão a responsabilidade pelo
pagamento do tributo porventura devido, a exibição da certidão é
dispensada.