tributário DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR 2 Princípios Tributários
Antes de seguirmos para o estudo de cada princípio, lembre-se de que o inc.
II do art. 146 da CF/1988 prevê que Lei Complementar regulará as limitações ao Poder de Tributar: Art. 146. Cabe à lei complementar: (…) II – regular as limitações constitucionais ao poder de tributar Os princípios constitucionais tributários visam proteger garantias e direitos individuais, com o intuito de (i) evitar arbitrariedades por parte do Poder Público, (ii) conferir segurança jurídica aos contribuintes e (iii) garantir que eles não terão que pagar tributos sem programação e com valores exorbitantes, por exemplo. Princípio da Legalidade/da Reserva Legal/de Estrita Legalidade/de Tipicidade Fechada
O Princípio da Legalidade está previsto no inc. I, art. 150, CF/1988, e
estabelece que os tributos somente podem ser instituídos ou aumentados por meio de lei: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Na definição de tributo constante no art. 3º do CTN, e já estudado em nosso curso, foi visto que ele (o tributo) somente pode ser instituído por meio de lei, em harmonia com o previsto no texto constitucional. O art. 97 do CTN prevê que além da instituição e do aumento, outras peculiaridades do tributo devem ser objeto de lei: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I – a instituição de tributos, ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65; III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do art. 52, e do seu sujeito passivo; IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65; V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI – as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. § 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso. § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. Princípio da Legalidade/da Reserva Legal/de Estrita Legalidade/de Tipicidade Fechada
Quanto à majoração do tributo, pontue-se, desde então, que o legislador
destacou no CTN, art. 97, parágrafo § 2º, que não é considerada como majoração do tributo a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. No que se refere ao IPTU, há súmula do STJ destacando que o município não pode atualizar esse imposto por meio de decreto, se o índice de atualização for superior ao índice oficial de correção monetária. Súmula 160, STJ: É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária. Nesse sentido, caso os entes políticos pretendam atualizar o tributo em percentual superior ao índice oficial de correção monetária, eles devem editar uma lei, em atenção ao Princípio da Legalidade, pois aí se configurará majoração do tributo. Exceções ao Princípio da Legalidade A CF/1988 prevê exceções ao Princípio da Legalidade, que são conhecidas também como mitigações ou ressalvas ao Princípio da Legalidade. Por meio do § 1º, art. 153, a CF/1988 autoriza o aumento de alíquotas de alguns impostos por meio de ato normativo do Poder Executivo Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I – importação de produtos estrangeiros; II – exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados – IE; […] IV – produtos industrializados V – operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; § 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. Exceções ao Princípio da Legalidade Tendo em vista que o II, IE, IPI e IOF são classificados como tributos extrafiscais, o legislador constituinte concedeu ao Poder Executivo a possibilidade de aumentar/diminuir as suas alíquotas quando for importante incentivar ou desestimular determinadas operações, que repercutam na situação econômica/social do país, sem interferência do Poder Legislativo. O § 4º do art. 177 da CF/1988 também prevê exceção ao Princípio da Legalidade, autorizando que a redução e o restabelecimento da alíquota da CIDE-Combustível sejam determinados pelo Poder Executivo: Outra hipótese de exceção a esse princípio é relativa ao ICMS, conforme análise dos seguintes dispositivos: alínea “h” inc. XII, § 2º, art. 155 e inc. IV, § 4º, art. 155 da CF/1988. Esses dispositivos tratam do ICMS-Combustível (ICMS-Monofásico), incidente uma única vez em operações com combustíveis e lubrificantes definidos em lei complementar, e destaca que a alíquota incidente nessas operações será fixada por meio de convênios celebrados pelos estados e pelo DF no âmbito do CONFAZ (Conselho de Política Fazendária). Em resumo, quanto aos tributos que representam exceções ao Princípio da Legalidade, a sua instituição e a sua extinção devem ser determinadas por meio de lei, enquanto a sua majoração e a sua redução podem ser implementadas por meio de Decreto do Poder Executivo (FCC/AGENTE FISCAL DE RENDAS/SEFAZ-SP/2013/ADAPTADA) O art. 150, I, da Constituição Federal, estipula que, sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Julgue o item seguinte: Este dispositivo enuncia o Princípio da Legalidade Tributária, e admite exceções. Dentre estas, a redução e o restabelecimento por ato do Poder Executivo da alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE relativa às atividades de comercialização de álcool combustível. (FGV/CONSULTOR LEGISLATIVO/ALE-RO/2018) O Governador do Estado ABC, por meio de Decreto publicado em 29 de dezembro de 2017, alterou a base de cálculo do IPVA para incorporar a ela a atualização do valor monetário por índices oficiais de correção. Sobre a referida alteração de base de cálculo, assinale a afirmativa correta. a) Somente pode ser feita por intermédio de lei em sentido estrito, mas terá eficácia imediata a partir da data em que haja sido publicada a lei. b) Somente pode ser feita por intermédio de lei em sentido estrito, mas somente terá eficácia após decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei. c) Somente pode ser feita por intermédio de lei em sentido estrito, mas somente terá eficácia no exercício financeiro seguinte àquele em que haja sido publicada a lei. d) Embora possa ser feita mediante Decreto, somente poderá ter eficácia depois de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicado o Decreto. e) Não é reputada majoração de tributo para fins de aplicação do princípio da reserva legal em sentido estrito. Princípio da Isonomia
O Princípio da Isonomia Tributária ou da Igualdade Tributária nos remete ao
art. 5º da CF/1988, o qual afirma que todos são iguais perante a lei, prevendo direitos e garantias fundamentais para assegurar esse tratamento igualitário. Do ponto de vista do Direito Tributário, o legislador constituinte, por meio do inc. II, art. 150, CF/1988, veda o tratamento desigual a contribuintes que se encontrem em situação similar: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: […] II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direito Como se vê, esse dispositivo garante que: i. aqueles que se sujeitem a situações equivalentes sejam tratados de forma igual (isonomia horizontal); e ii. aqueles que sujeitem a situações distintas, sejam tratados de forma desigual (isonomia vertical). Princípio da Isonomia Tributária e o Princípio do pecunia non olet O Princípio do Pecunia non olet é considerado um subprincípio do Princípio da Isonomia, pois ele tem como fundamento tratar de forma igual as pessoas que praticam atividades tributáveis, sejam elas ilícitas ou lícitas. Nos termos do art. 3º do CTN, o tributo não constitui sanção de ato ilícito, o que não se confunde com o nascimento da obrigação tributária em razão de atividade ilícita. Há cobrança de tributo quando a pessoa (física ou jurídica) pratica um fato previsto em lei como hipótese de incidência tributária, independentemente se as circunstâncias em que o fato ocorreu são ilícitas ou não. Repare que o que não pode se confundir com a hipótese de incidência é exatamente o fato ilícito. Se o fato decorre da situação ilícita e com ela não se confunde, a tributação estará justificada. Princípio da Isonomia Tributária e o Princípio do pecunia non olet No nosso ordenamento jurídico, constatamos a aplicabilidade desse princípio por meio da redação do inc. I do art. 118 do CTN: Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I – da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos Por exemplo, a incidência de IR sobre a renda auferida por traficante de drogas com a venda de entorpecentes decorre desse princípio. Afinal, seria injusto tributar o trabalhador honesto e o meliante não ter essa obrigação. Princípio da Isonomia Tributária e o Princípio da Capacidade Tributária Contributiva
O Princípio da Capacidade Tributária Contributiva representa um subprincípio
do Princípio da Isonomia, e está previsto na CF/1988, art. 145, § 1º: § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. a ideia desse princípio: ele é dirigido ao legislador, que ao graduar a tributação deve considerar a capacidade econômica do contribuinte, cobrando mais de quem pode pagar mais, e cobrando menos de quem não possui tantos meios. Princípio da Isonomia Tributária e o Princípio da Capacidade Tributária Contributiva Uma discussão acerca do § 1º do art. 145 da CF/1988 diz respeito ao fato de que ele limita essa percepção a uma espécie tributária apenas. Pela sua redação, a capacidade contributiva seria observada apenas para a instituição de impostos. No entanto, o STF já decidiu que a capacidade contributiva é aplicável a todas as espécies tributárias Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. IPVA. PROGRESSIVIDADE. 1. Todos os tributos submetem-se ao princípio da capacidade contributiva (precedentes), ao menos em relação a um de seus três aspectos (objetivo, subjetivo e proporcional), independentemente de classificação extraída de critérios puramente econômicos. 2. Porém, as razões não deixam entrever a má utilização de critérios como essencialidade, frivolidade, utilidade, adequação ambiental etc. Considerado este processo, de alcance subjetivo, a alegação de incompatibilidade constitucional não pode ser genérica. 3. Em relação à fixação da base de cálculo, aplicam-se os mesmos fundamentos, dado que o agravante não demonstrou a tempo e modo próprio a inadequação dos critérios legais adotados. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (RE 406955 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 04/10/2011, DJe-203 DIVULG 20-10-2011 PUBLIC 21-10-2011 EMENT VOL-02612-01 PP-00043 RDDT n. 196, 2012, p. 208-210 RTFP v. 19, n. 101, 2011, p. 413- 417 REVJMG v. 62, n. 199, 2011, 331-332) (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2018/ADAPTADA) A técnica de tributação que observa o princípio da capacidade contributiva consiste em fixar alíquotas percentualmente menores para os contribuintes que tenham menor patrimônio pessoal.
CESPE/PROCURADOR/PREFEITURA DE FORTALEZA-CE/2017) A respeito das
limitações constitucionais ao poder de tributar, julgue o item que se segue, de acordo com a interpretação do STF. O princípio da isonomia pressupõe a comparação entre sujeitos, o que, em matéria tributária, é efetivado pelo princípio da capacidade contributiva em seu aspecto subjetivo. (CESPE/JUIZ SUBSTITUTO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) O § 1º do art. 145 da Constituição Federal de 1988 dispõe que “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”. O princípio do direito tributário relacionado à norma constitucional transcrita anteriormente é o princípio da capacidade contributiva.