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3 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

Os impostos são uma poderosa forma do poder de império do Estado, sendo


considerados como uma contribuição obrigatória a qual os cidadãos estariam sujeitos. Com o
desenvolvimento do Estado democrático e a necessidade de proteger os indivíduos frente aos
possíveis abusos do aparelhamento estatal tem-se o princípio da anterioridade.
O Princípio da Anterioridade, em resumo, é a garantia que o contribuinte tem de que
não haverão mudanças tributárias repentinas. Esse princípio surgiu no ordenamento jurídico
brasileiro através da Emenda Constitucional Nº 1/1969, à Constituição de 1967, e substitui o
antigo Princípio da Anualidade. Tal princípio foi recepcionado pela Constituição Federal de
1988, que rompeu com o ordenamento jurídico anterior, mas manteve o instituto no sistema
legal brasileiro.
A base desse princípio está na vedação dada pelo Artigo 150, III, b, da Carta
Constitucional aos Entes Políticos de cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que
haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Isto é, passou a ser proibido à União,
Estados, Distrito Federal e Municípios obrigar que seja instituída ou majorada nova
contribuição de impostos no mesmo exercício financeiro, sendo o exercício financeiro
sinônimo de ano civil, que se inicia em 1º de janeiro e finaliza-se em 31 de dezembro,
conforme o ditame da Lei 4.320/64. Além disso, não basta a simples publicação, sendo
necessária a efetiva circulação (DO VALLE, 2012) para que o contribuinte tenha ciência da
nova lei.
O Princípio da Anterioridade não deve ser confundido com o princípio da
irretroatividade, pois, apesar de ambos os princípios objetivarem criar um ambiente de
segurança jurídica para o contribuinte, têm fundamentos diferentes, sendo o da
irretroatividade a necessidade de que a lei seja anterior ao fato, e já a anterioridade a
necessidade de que o Estado respeite um determinado lapso de tempo antes de passar a exigir
a contribuição obrigatória dos cidadãos, isso para que seja garantida a possibilidade de que o
contribuinte faça seu planejamento e organização financeira e a devida adequação ao que lhes
será exigido.
Desta forma, há uma limitação ao poder de tributar dos Entes Políticos, que poderão
exercer sua competência tributária, mas seus efeitos somente serão sentidos no exercício
financeiro seguinte (ARAÚJO e PIMENTA, 2017). Foi recepcionado o princípio pelo próprio
Código Tributário Nacional, que assim dispõe:
Art. 104 Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em
que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o
patrimônio ou a renda:
I - que instituem ou majoram impostos;
II - que definem novas hipóteses de incidência;
III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira
mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178.
(BRASIL, Código Tributário Nacional, 1966)
Logo, o princípio refere-se à eficácia da norma tributária ao afirmar que seus efeitos
somente serão produzidos no próximo exercício financeiro, porém, tal afirmativa não é
pacificamente adotada pela doutrina, que também defende a ideia de que há postergação da
vigência da lei tributária, como é o caso de Paulo de Barros Carvalho, que afirma que a
anterioridade “não se trata de problema de eficácia, mas única e exclusivamente de vigência”
(CARVALHO, apud DO VALLE, 2012).
Mas não só a essas hipóteses se restringiu a anterioridade, que foi expandida pela
Constituição Federal de 1988, gerando maiores benefícios aos contribuintes, passando a ser
considerada como cláusula pétrea, como definido pela ADIN 939 pelo Supremo Tribunal
Federal.
O Princípio da Anterioridade não se aplica somente às leis que instituam ou majoram
os tributos, mas também às que de alguma forma oneram ao contribuinte, sendo de forma
direta ou indireta (DIAS, 2012), como afirma a corrente predominante na doutrina tributária
brasileira. Porém, durante muito tempo o Supremo Tribunal Federal entendia de forma
contrária, restringindo o princípio da anterioridade.

3.1 ANTERIORIDADE GENÉRICA

O princípio da anterioridade pode ser dividido em dois, sendo a genérica, também


chamada de anual, e a nonagesimal. A anterioridade genérica é, como dito anteriormente, a
exigência legal de que as leis que gerem mudanças tributárias onerosas ao contribuinte sejam
postas em prática somente no exercício seguinte.
A anterioridade genérica objetiva gerar maior segurança jurídica e econômica ao
contribuinte, evitando assim a surpresa dos cidadãos e eventuais abusos do Estado, limitando
a aplicação de sua competência tributária em detrimento do direito fundamental dos
contribuintes à anterioridade.
Tal instituto jurídico foi recebido pelo ordenamento brasileiro através da Emenda
Constitucional nº 1, de 1969, isto é, a Constituição de 1969 e desde então mantido na
Constituição Federal de 1988, que inclusive o expandiu, conforme será exposto
posteriormente.

3.1.1 EXCEÇÕES À ANTERIORIDADE GENÉRICA


O princípio da anterioridade é um princípio que admite exceções, que estão
legalmente previstas nos artigos 148, 153 e 154 da Constituição Federal, sendo um rol
taxativo, isto é, não pode ser diminuído ou aumentado nem mesmo por emenda
constitucional, conforme o disposto no art. 60, §4º, IV, da Constituição de 1988 (DO
VALLE, 2012). A justificativa para as excepcionalidades dá-se diante da emergencialidade
que alguns tributos se relacionam e da necessidade de rápido ajuste do tributo por motivo de
política econômica.
De forma a destrinchar as exceções, não estão sujeitos à anterioridade genérica os
seguintes: Empréstimos Compulsórios (art. 148, I/CF), Imposto de Importação (art. 153, I),
Imposto de Exportação (art. 153, II), Imposto sobre Operações Financeiras (art. 153, V) e o
Imposto Extraordinário de Guerra (art. 154, II).
É caso específico o do Imposto sobre Produtos Industrializados, uma vez que a lei o
excepcionou da anterioridade genérica, mas não da anterioridade nonagesimal, o que infere
que mudanças onerosas no IPI podem ser feitas no mesmo exercício financeiro, porém, com
uma antecedência de noventa dias, isso porque a política econômica acerca da indústria
brasileira necessita de um certo grau de urgência, mas que ao mesmo tempo requer
estabilidade, sendo assim um meio termo entre as duas questões (DO VALLE, 2012).

3.2 ANTERIORIDADE NONAGESIMAL

O princípio da anterioridade nonagesimal, também denominado princípio da espera


nonagesimal, previsto no artigo 150, III, c, da Constituição Federal, complementa a
anterioridade genérica, uma vez que não só será aplicado no exercício financeiro seguinte,
mas que também precisa de um limite de noventa dias de antecedência. Tal instituto foi
inaugurado pelo legislador brasileiro através da Emenda Constitucional nº 42, de 2003, como
mecanismo de proteção ao contribuinte e para que se pudesse valer o próprio princípio da
anterioridade, que é gênero dessa espécie.
Isso porque o Legislativo, nos três âmbitos da Federação, encontrou uma brecha legal
ao princípio da anterioridade, uma vez que o princípio dispõe que a obrigação só se constitui
no exercício financeiro seguinte (ano seguinte), muitas leis tributárias onerosas ao
contribuintes eram promulgadas nos últimos dias de dezembro, de forma que o princípio não
estava sendo factualmente respeitado, levando-se em consideração que objetivava dar tempo
suficiente ao contribuinte para que se preparasse economicamente à mudança.
Ademais, segundo o artigo 150, III, b e c, da Constituição, a anterioridade
nonagesimal deverá ser aplicada em conjunto com a anterioridade genérica, de tal modo que
a obrigação da contribuição só se constituirá no ano seguinte (exercício financeiro) e noventa
dias após a promulgação da lei.

3.1.2 EXCEÇÕES À ANTERIORIDADE NONAGESIMAL

Além das exceções já previstas à anterioridade geral, tem-se também os que


especificamente são exceções à anterioridade nonagesimal, isto é, tais impostos são tanto
exceções à anterioridade anual quanto também à nonagesimal, de forma que não é necessário
que o Estado espere o mínimo de noventa dias e nem o próximo exercício financeiro para
que seja gerada a obrigação da contribuição tributária. São exceções, portanto, segundo o
artigo 150, §1º da Constituição Federal, o Imposto de Renda e Proventos de Qualquer
Natureza (IR) e a fixação das bases de cálculos do Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA) e do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU).
A excepcionalidade se dá pelo mesmo motivo da excepcionalidade na anterioridade
geral, que é o caráter emergencial da matéria a qual o tributo recai, que se levando em
consideração a política econômica, é necessário maior celeridade para eventuais mudanças na
carga tributária.
Vale ressaltar que as exceções à anterioridade geral são cumulativas à nonagesimal,
de forma que os Empréstimos Compulsórios, Imposto de Importação, Imposto de Exportação,
Imposto sobre Operações Financeiras e os Impostos Extraordinários de Guerra são
excepcionados das duas espécies do Princípio da Anterioridade, tal como enuncia o §1º do
artigo 150 da Carta Magna.
REFERÊNCIAS

DO VALLE, Maurício Dalri Timm. O Princípio da Anterioridade Tributária. Revista


Unicuritiba, 2012.
ARAÚJO, Daniel Fernandes; PIMENTA, Larissa Carvalho. Análise do Princípio da
Anterioridade Tributária: limite para revogação de benefício fiscal anteriormente
concedido. UFRR, 2017.
DIAS, Murilo Boscoli. O princípio da anterioridade Tributária. Faculdades Integradas
de Toledo. 2012.

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