Você está na página 1de 10

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

1. INTRODUÇÃO
A

U A Contabilidade Tributária possui como principais objetivos o estudo da teoria e


n
i aplicação prática dos princípios e normas da legislação tributária. É responsável pelo
v
e cumprimento das obrigações principais e acessórias determinadas pela legislação
r
s fiscal, buscando proteger, dessa forma, a empresa de sanções e penalidades
i
d determinadas pelo fisco. Algumas atribuições da Contabilidade Tributária: cálculo dos
a
d
impostos, confecção da guia de recolhimento, escrituração dos livros fiscais,
e
cumprimento das obrigações acessórias, dentre outras.
q
u
e 2. SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL
c
r
e A Organização Política Administrativa da República Federativa do Brasil,
s
c conforme previsto no art. 18 da Constituição Federal do Brasil – CF/1988
e
compreende:
c ✓ a União;
o
m ✓ os Estados;
i ✓ o Distrito Federal; e
n
o ✓ os Municípios.
v
a
ç
ã Os entes da federação são todos autônomos, nos termos da Constituição. No que
o
concerne ao poder de tributar, o art. 145 da CF/88, dispõe que a União, os Estados, o
e Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: Impostos,
i Taxas e Contribuição de Melhoria.
n
c A Lei 5.172 de 25 de outubro de 1966, Código Tributário Nacional – CTN, dispõe
l
u sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário
s
ã aplicáveis à União, ao Distrito Federal, aos Estados e aos Municípios.
o
Art. 6º do CTN - A atribuição constitucional de competência tributária compreende a
s
o
competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição
c Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e
i
a dos Municípios, e observado o disposto no CTN. Art. 2º - O Sistema Tributário
l
Nacional é regido pelo disposto na Emenda Constitucional n. 18, de 1º de dezembro
de 1965, em leis complementares, em resoluções do Senado Federal e, nos limites

(1/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

das respectivas competências, em leis federais, nas Constituições e em leis


A
estaduais, e em leis municipais.
U Conforme Art. 96, do CTN - A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os
n
i tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares
v
e que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles
r
s pertinentes. Art. 7º do CTN - A competência tributária é indelegável, salvo atribuição
i
d das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou
a
d
decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de
e
direito público a outra. Conforme o art. 97, do CTN, somente a lei pode estabelecer:
q
u
e I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
c II - a majoração de tributos, ou sua redução.
r
e III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal;
s
c IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo;
e
V - a cominação (fixação) de penalidades para as ações ou omissões contrárias a
c seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;
o
m VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de
i dispensa ou redução de penalidades.
n
o
v
a Exclusão São causas ou fatos que inibem a ocorrência do crédito tributário, motivados
ç
ã por promulgação de lei que determina a sua não exigibilidade por parte do Estado
o
(WIKIPÉDIA, 2009). Pode ocorrer antes ou após a ocorrência do crédito tributário
e (TRETTIN, 2007).
i
n
c Modalidades previstas: isenção – art 176 CTN, é a dispensa do tributo; anistia-
l
u concedida por lei – exclui a infração; imunidade – proibição legal de tributar; remissão
s
ã – exclui o tributo em caso de catastrofes. Suspensão É a ocorrência de normas
o
tributária que paralisem temporariamente a exigibilidade da execução do crédito
s
o
tributário, O crédito tributário continua a existir apenas sua cobrança não é realizado,
c este fato, não exime o contribuinte do seu dever e de suas obrigações (TRETTIN,
i
a 2007 p.63). Extinção É o ato ou fato jurídico que faça desaparecer a obrigação ou
l
lançamento do crédito tributário, extingue a própria obrigação tributária.

(2/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

Imunidade e Isenção Tributária Imunidade é a vedação constitucional destinadas às


A
entidades políticas que detêm a competência tributária, de tributar determinadas
U pessoas, seja pela natureza jurídica que possuem, pelo tipo de atividade que
n
i desempenham ou ainda ligadas a determinados fatos, bens ou situações. Já a
v
e isenção, não é a vedação, mais sim a dispensa legal do pagamento do tributo
r
s
i
d 3. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS
a
d
e
São exemplos de princípios constitucionais tributários, por Roberto Rodrigues de
q Morais:
u
e 1) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, que veda expressamente à União Federal, aos
c Estados Membros – aqui inserido o Distrito Federal – e aos Municípios exigir ou
r
e aumentar tributos(e contribuições) sem lei que o estabeleça
s
c 2) PRINCÍPIO DA ISONOMIA (ou igualdade), que proíbe tratamento desigual aos
e
contribuintes que se encontram em situação equivalente, assim como qualquer
c distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
o
m independente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. Visa coibir
i discriminação entre os cidadãos, sendo sagrada a sua observação e cumprimento por
n
o todos os brasileiros. Inegociável na prática democrática (2).
v
a 3) PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE – Por este princípio ficou vedado à cobrança
ç
ã de tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei
o
que os houver instituído ou aumentados.
e 4) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE – Tanto do exercício seguinte como da
i nonagesimalidade, garantia ofertada aos contribuintes o conhecimento das alterações
n
c tributárias ANTES de sua vigência. Veda a cobrança de tributos no mesmo exercício
l
u financeiro (no caso brasileiro, mesmo ano) e antes de decorridos 90 (noventa) dias
s
ã em que houver sido publicada a lei que instituiu ou aumento tributos e/ou
o
contribuições. O exercício financeiro, no Brasil, corresponde ao ano civil, de 01 de
s
o
janeiro a 31 de dezembro. O principal objetivo deste princípio é não surpreender os
c contribuintes.
i
a 5) PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA – Por este princípio os Impostos,
l
sempre que possível, terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade
econômica do contribuinte, sendo facultado à administração tributária, especialmente

(3/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

para conferir efetividade a esse princípio, identificar – respeitados os direitos


A
individuais e nos estritos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
U econômicas do contribuinte. Tem a finalidade de não tirar mais do que pouco possuir
n
i ou aufere rendimentos; Não usurpar o necessário à sobrevivência do cidadão. A
v
e progressividade de certos tributos é a forma de se cumprir este princípio.
r
s 6) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO CONFISCO – Este princípio constitucional
i
d prescreve que é vedado à utilização do tributo com efeito de confisco, ou seja,
a
d
impedindo assim o Estado que, com o pretexto de cobrar tributo, se aposse
e
indevidamente de bens (aqui leia-se também dinheiro) do contribuinte. Aqui se vale do
q princípio da razoabilidade (6)
u
e 7) PRINCÍPIO DA LIBERADE DE TRÁFEGO – Pouco badalado e comentado, este
c princípio constitucional visa vedar ao Estado estabelecer limitações ao tráfego de
r
e pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvado a
s
c cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público. A norma
e
tem como destinatário principal o legislador. É a liberdade de ir e vir em ação (7).
c 8) PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA DOS IMPOSTOS – Essência da democracia, a
o
m transparência é dos impostos ficou assegurada por este princípio constitucional, que
i prevê que a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos
n
o acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços. No caso brasileiro
v
a nosso Congresso Nacional deixou os cidadãos órfãos da citada lei por 25 anos.
ç
ã 9) PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA – Com o fito de promover a
o
integralidade do território nacional, este princípio veda à União Federal instituir tributo
e que NÃO seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou
i preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de
n
c outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio
l
u do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País. Iguala os
s
ã estados, embora com diferentes dimensões econômicas ou territoriais, como SP = AP
o
ou AM = SE (9).
s
o
10) PRINCÍPIO DA SELETIVIDADE – É o princípio de garante que a tributação deve
c ser maior ou menor dependendo da essencialidade do bem. Este princípio possui
i
a aplicação obrigatória quanto ao IPI e facultativa para o ICMS e o IPVA. Neste último o
l
princípio é visível, a cada ano, quando da divulgação da tabela do IPVA vigente em
cada exercício financeiro.

(4/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

11) PRINCÍPIO DA NÃO-DIFERENCIAÇÃO TRIBUTÁRIA – É o princípio que veda


A
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária
U entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou
n
i destino. A guerra fiscal entre os Estados Membros da Federação fere, diretamente,
v
e este princípio.
r
s 12) PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE – Um dos mais conhecidos princípios,
i
d quanto ao ICMS, ao IPI e aos Impostos Residuais da União Federal, deve-se
a
d
compensar o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias
e
ou prestação de serviços com o montante cobrado nas operações anteriores pelo
q mesmo ou outro Estado Membro ou pelo Distrito Federal. É o mais popular dos
u
e princípios entre os gestores tributários.
c 13) PRINCÍPIO DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS – Este princípio veda à União
r
e Federal, aos Estados Membros, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos
s
c sobre: Patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros, templos de qualquer culto, de
e
partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
c trabalhadores, das instituições de educação e assistência social, sem fins lucrativos,
o
m atendidos os requisitos da lei, livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua
i impressão.
n
o 14) PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA – Segundo o ex-ministro do STF e Tributarista
v
a renomado Hugo de Brito Machado, a entidade tributária há de restringir sua atividade
ç
ã tributacional àquela matéria que lhe foi constitucionalmente destinada, ou seja,
o
obediência irrestrita à Constituição Federal. OBS: Conforme a Emenda Constitucional
e nº 42/2003, o Imposto de Importação (II), Imposto de Exportação (IE) e Imposto sobre
i Operações Financeiras (IOF), não estão sujeitos ao princípio da anterioridade:
n
c Esses impostos, existentes em todos os países, têm a função de regular o comércio
l
u internacional, sempre sujeito às oscilações conjunturais. Por isso, acham-se livres do
s
ã princípio da anterioridade tributária, a fim de propiciar ao governo da União
o
flexibilidade no exercício do poder ordinatório, através desses impostos Nesse
s
o
sentido, em sendo instituídos ou majorados ambos os impostos acima referidos,
c mesmo que através de Medida Provisória, sua eficácia será imediata desde sua
i
a edição, independentemente de ser convertida em lei, que de acordo com Eduardo
l
Sabbag (2011, p. 122), “havendo uma medida provisória que altere, por exemplo, as

(5/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

alíquotas de um imposto de importação, a incidência da norma majoradora será de


A
imediato, independentemente da conversão em lei”
U
n
i 4. O ESTADO E O SISTEMA TRIBUTÁRIO
v
e Vale a pena, inicialmente, refletir um pouco sobre o conceito de ESTADO. A Teoria
r
s
Geral do Estado o define como a nação política e juridicamente organizada. Então, é
i possível afirmar que o ESTADO seja formado por três elementos: Povo (nativos do
d país), Território e Governo. População representa a totalidade dos habitantes, nativos
a
d
e estrangeiros. Portanto, o Estado é o povo, vivendo num território (espaço físico e
e geográfico) e escolhendo os representantes que o governarão.
q Então, imagine você, leitor, participando de forma descontraída de uma animada
u conversa num fim de semana com um grupo de familiares e amigos, falando sobre
e
diversos assuntos. Será comum ouvir críticas ao governo, dentre as quais:
c
r O governo não incentiva a educação, pois não oferece escola de boa qualidade para
e todos, já que educação é obrigação do governo, está escrito na Constituição e nem
s isso ele, governo, cumpre...
c
e a) A saúde pública está um caos. O governo não cumpre suas obrigações
c constitucionais, ou seja, não oferece serviços de qualidade na área da saúde
o para toda a população brasileira...
m b) Estamos vivendo uma crise na segurança pública. Parece uma guerra urbana,
i principalmente nas grandes cidades. Não há segurança, pois não se pode
n confiar na polícia. Aliás, há pouco policiamento, por isso é que os bandidos
o fazem o que bem entendem e estão com audácia cada vez maior. E o governo
v
a nada faz para mudar esta situação e nos proteger...
ç c) As estradas estão em péssimo estado de conservação. O governo não destina
ã os recursos necessários para a manutenção delas.
o

e
Mas, afinal, quem é essa figura abstrata chamada GOVERNO? A crítica parece
i
n ser destinada para uma pessoa ou a um grupo de pessoas, mas poderia retornar ao
c próprio crítico, pois no regime democrático quem escolhe o governo, seja federal,
l
estadual ou municipal, é o povo. Então, eu sou governo, você é governo e todos nós
u
s estamos lá representados, mesmo que não participemos de qualquer decisão e
ã mesmo que sequer tenhamos votado no candidato vencedor. Ainda assim, nós
o
fazemos parte do governo.
s
o
E o governo é o responsável pela retirada de uma (significativa) parcela da
c riqueza produzida pela sociedade para financiar suas atividades, que consistem,
i principalmente, em promover o bem comum e o desenvolvimento dos bairros, das
a
l
cidades, dos estados e do país.
Para entender como é complexa a administração de um país, suponha um
prédio com 50 apartamentos. Pense como seriam tomadas as decisões sobre os

(6/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

investimentos a serem feitos na área comum se não existisse o síndico. Se, por
A exemplo, o condomínio tivesse uma piscina, com manutenção mensal de R$ 2.000,
este custo poderia ser rateado entre os 50 moradores. Suponha, por exemplo, uma
U
n
comparação entre dois moradores, que residam em apartamentos do mesmo
i tamanho: um solteiro, que more sozinho e não utilize a piscina, e outro, que tenha três
v filhos e cuja família toda usufrua o parque aquático. Neste caso, ambos estarão
e
r
contribuindo para a manutenção de um bem comum, que, entretanto, poderá ter
s utilização com muito mais intensidade por um morador em relação ao outro. Poderá
i haver reclamação por parte daquele morador que não use a piscina. Por outro lado,
d
a
se for decidido que a cobrança da manutenção do parque aquático seja feita em
d função da quantidade de pessoas que o utilizam ou se a decisão for cobrar uma taxa
e mínima de uso, o morador que tem os três filhos reclamará. Enfim, este caso é de
q
difícil solução, pois envolve pessoas e cada um defenderá seu interesse.
u
e Assim é o governo. Ele aloca recursos em diversas áreas, para benefício de
toda a população, mesmo que algumas pessoas jamais utilizem aquele bem ou
c serviço posto à sua disposição. Para ilustrar, suponha a seguinte situação: uma
r
e prefeitura resolve construir um estádio de futebol. Muitos contribuintes podem
s reclamar por não gostarem de futebol e, mesmo assim, estarem contribuindo para
c uma obra da qual não se beneficiarão diretamente.
e
Uma coisa é certa: tudo é PAGO, nada é GRÁTIS. Se uma conhecida cantora
c
o for contratada para fazer um show na praia de Copacabana (como tantos já foram), o
m show não será GRÁTIS, pois ela e sua equipe são profissionais que estão realizando
seu trabalho e precisam ser remunerados. Então, todos os moradores do município
i
n do Rio de Janeiro (admitindo a contratação pela prefeitura) contribuirão e pagarão o
o espetáculo, gostem ou não da cantora. Contudo, aqueles que desejarem assistir não
v precisarão pagar DIRETAMENTE pelo show. Portanto, nada de usar o termo “É DE
a
ç GRAÇA”. Nada é de graça, tudo é pago. Deveria se dizer assim, neste caso: “Show
ã na Praia de Copacabana com a cantora tal SEM CUSTO DIRETO para as pessoas
o que desejarem assistir.” O problema é que, aí, não tem apelo.
e A realidade é que, regra geral, ninguém quer pagar imposto e as pessoas
i acham que pagam mais impostos do que devem e que o governo não utiliza
n adequadamente e de forma justa o dinheiro arrecadado. E assim funciona em
c qualquer parte do mundo, sendo que nosso foco recairá especificamente no Brasil,
l
u pois é aqui que vivemos, onde pagamos nossos impostos e onde podemos (e
s devemos) reclamar.
ã
o

s 4.1 Os tributos no Brasil antes da reforma dos anos 1960


o
c
i
a A estrutura tributária na época do Império foi praticamente mantida após a
l
proclamação da República, permanecendo assim até a Constituição de 1934. Nesse
modelo, a principal fonte de receitas públicas era o comércio exterior, com destaque

(7/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

para o imposto de importação, que alcançou, em alguns anos, dois terços da receita
A total do setor público.
U Uma mudança relevante ocorreu por ocasião da primeira constituição
n republicana, quando foi introduzido o regime de separação de fontes tributárias, com
i
v discriminação dos impostos de competência da União e dos estados. O governo
e central ficou com o imposto de importação, os direitos de entrada, saída e estadia de
r navios, as taxas de selo e as taxas de correios e telégrafos federais; os estados
s
i cobravam o imposto sobre a exportação, sobre imóveis rurais e urbanos e sobre
d indústria e profissões. Além destes, União e estados tinham poder para criar outros
a tributos.
d
e A partir da Constituição de 1934, começou a predominar a cobrança dos
q impostos internos sobre produtos. Aos estados foi permitido criar e cobrar o imposto
u sobre venda e consignações, que rapidamente tornou-se a principal fonte de receita
e estadual. Os municípios arrecadavam o imposto sobre indústria e profissões e o
c imposto predial. Já a União continuava cobrando e arrecadando o imposto de renda, o
r imposto sobre os bens importados e o imposto sobre o consumo, que no final dos
e anos 1930 superou em arrecadação o imposto de importação.
s
c
A Constituição de 1946 trouxe importantes alterações para o sistema tributário,
e
com a preocupação de aumentar a receita dos municípios,1 fundamentando-se na
c criação do sistema de transferência de impostos. Esse sistema foi reforçado ainda
o mais com a Emenda Constitucional no 5, do início da década de 1960, que atribuiu
m
aos municípios 10% da arrecadação do imposto de consumo e aumentou a
i participação no imposto de renda de 10% para 15%.
n
o Nos 20 anos seguintes à Constituição de 1946, observou-se um aumento cada
v
vez maior da importância dos impostos indiretos sobre produtos. Com o início, na
a
ç época, do processo de desenvolvimento industrial sustentado, a tributação sobre os
ã produtos e serviços domésticos passou a ser a principal fonte de receitas públicas.
o
No início dos anos 1960, cerca de 40% da receita da União era oriunda do
e
imposto sobre consumo; pouco mais de 70% da receita estadual era obtida com o
i imposto sobre vendas e consignações; e o imposto sobre indústria e profissões
n representava 45% das receitas municipais. Como se observa, o elevado peso da
c
l
tributação sobre o consumo no Brasil, que é uma reclamação dos dias atuais, vem de
u longa data.
s
ã
o
4.2 reforma tributária dos anos 1960
s
o
c
i A última reforma tributária efetivamente realizada no Brasil ocorreu entre os
a anos de 1965 e 1967. A reforma começou com a Emenda Constitucional no 18/65 e
l
foi reforçada com o advento da Lei Complementar no 5.172/66 (Código Tributário
Nacional), sendo sacramentada na Constituição Federal de 1967.

(8/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

Com a reforma, o Brasil ficou com um sistema tributário inovador, considerado


A na época um dos mais modernos do mundo. A premissa básica da reforma foi a
simplificação do sistema, exatamente o que falta atualmente para começar a se
U
n
programar de forma efetiva uma reforma tributária que contribua para o
i desenvolvimento econômico e social do país, reduzindo nossa enorme desigualdade
v de renda e retirando o Brasil das primeiras posições de concentração de renda na
e
r
comparação mundial.
s
i Um dos principais pilares da reforma tributária dos anos 1960 foi a criação de
d dois impostos sobre o valor agregado: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
a (ICM) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), sendo o primeiro na esfera
d
e estadual e o segundo, federal. Esses impostos, de característica não cumulativa,
substituíram os antigos impostos cumulativos, que incidiam sobre vendas e
q consignações (estadual) e sobre o consumo (federal).
u
e O antigo ICM, embora fosse um imposto estadual, tinha alíquota uniforme em
c todo o país, favorecendo a desoneração das exportações e dificultando a competição
r entre os estados. Já o IPI tinha a característica da seletividade, sendo um importante
e instrumento de política econômica e social.
s
c
A divisão dos impostos, após essa reforma, teve o objetivo principal de
e
preservar a arrecadação da União. Os estados ficaram com uma arrecadação
c bastante atraente e significativa, que era o ICM, enquanto os municípios foram mais
o uma vez esquecidos, permanecendo apenas com o ISS, com pouca
m
representatividade na época, além do IPTU. Veja, na Tabela 1.1, como ficou a
i distribuição dos tributos entre os entes estatais com a reforma tributária de 1966.
n
o
v
a
ç
ã
o

i
n
c
l
u
s
ã
o

s
o
c A característica marcante da reforma realizada nos anos 1960 foi a
i centralização da maior parte dos recursos na esfera federal, já que o processo de
a
crescimento e desenvolvimento econômico do país era responsabilidade da União.
l
Apesar disso, havia orientação para suprir estados e municípios com recursos
suficientes, de forma que estes desempenhassem suas funções, sem prejudicar o
processo de desenvolvimento.
(9/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.

CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA (AULA 01)

Assim, além da participação dos municípios na arrecadação do ICM, foram


A criadas mais duas formas de transferências federais para estados e municípios: os
fundos de participação e as partilhas dos impostos únicos.
U
n Os Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM) eram
i
v calculados sobre a arrecadação do IPI e do IR, com distribuição inicial de 5% sobre o
e total arrecadado com os dois impostos para os estados e 5% para os municípios, e
r mais 2% para um fundo especial, totalizando 12%. Havia ainda uma aplicação
s
i adicional de recursos para os estados do Norte e do Nordeste. Entre 1969 e 1975,
d esses percentuais ficaram em 5% tanto para o FPE como para o FPM. Esses índices
a tiveram tendência ascendente em todo o período subsequente, atingindo 16% (FPE) e
d
e 17% (FPM) antes da Constituição de 1988, que os elevou para 21,5% e 22,5%,
respectivamente. Existia ainda transferência adicional de 3% para financiar bancos
q regionais de desenvolvimento a fim de atender aos estados das regiões Norte,
u
e Nordeste e Centro-Oeste. Já no século XXI, aconteceram dois acréscimos de 1% no
percentual do FPM, passando-o para 24,5%.
c
r Para consolidar o que foi apresentado, importante trazer a Tabela 1.2,
e adaptada do ótimo livro Finanças Públicas, de Fabio Giambiagi e Ana Cláudia Além.
s
c
É possível perceber como mudou o fluxo dos recursos tributários após a
e
Constituição Federal de 1988, com o direcionamento de maior parcela da
c arrecadação de tributos para estados e municípios. Tal fato foi o que justificou a
o criação e a reciclagem das contribuições federais, tributos sem repartição com os
m
entes estatais subnacionais, fator que contribuiu diretamente para a precarização e
i complexidade do modelo tributário.
n
o -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x--x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
v
a
ç REFRENCIAS:
ã
o FABRETTI, Láudio C. Contabilidade Tributária, 16ª edição. São Paulo: Grupo GEN,
e 2016. E-book. ISBN 9788597009446.

i OLIVEIRA, Luís Martins de. Manual de Contabilidade Tributária: Textos e Testes com
n
Respostas, 14ª edição. São Paulo: Grupo GEN, 2015. E-book. ISBN 9788597002003.
c
l
u RIBEIRO, Osni M.; PINTO, Mauro A. Introdução À Contabilidade Tributária - 2ª
s Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2014. E-book. ISBN 9788502220607.
ã
o
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Código tributário nacional. Grupo Gen-Atlas,
s 2017.
o
c
i
a
l

(10/10) CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Prof. Sérgio Robert Pinto

Você também pode gostar