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I Noções propedêuticas
1 Noções de sistema tributário
De início cabe questionar o que é um sistema? Segundo o doutrinador Hugo de
Brito Machado (2009) a palavra sistema modernamente significa o conjunto organizado
de partes relacionadas entre si e interdependentes.
Originalmente, o Brasil passou a ter um sistema tributário após a Emenda
Constitucional n. 18 de 1965, mas foi com a chegada da Constituição Federal de 1988
que os Estados e Municípios passaram a ter maior competência tributária.
No ano de 1966 nasce o Código Tributário Nacional como lei ordinária, porque na
época da sua criação ainda não havia a espécie Lei Complementar. Em 1967 o Código
Tributário Nacional foi elevado/transformado por meio do ato complementar nº 36/67
ao status de lei complementar.
O Sistema Tributário Brasileiro é composto dos tributos instituídos no Brasil (de
acordo com a competência tributária: quem pode instituir; quem pode cobrar e fiscalizar
tributos), dos princípios e normas que regulam tais tributos.
2 Tributos
2.1 Noções de tributo
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Do texto do artigo 3º vislumbra-se os elementos conceituais do tributo:
a) Toda prestação pecuniária
A natureza pecuniária do tributo significa dizer que não há possibilidade de
pagamento do tributo através de serviços ou em bens diversos de dinheiro (tributos in
natura e in labore) visando garantir que o Estado tenha os meios financeiros necessários
para a consecução de seu objetivo.
b) Compulsória
A compulsoriedade do tributo não esta simplesmente na sua obrigatoriedade,
mas também porque na prestação tributária inexiste o elemento vontade por parte do
sujeito passivo, assim até mesmo os incapazes podem ser sujeitos passivos das
obrigações tributárias.
O marco aqui é que o elemento vontade há de ser observado no momento do
nascimento da obrigação, e não no momento de seu adimplemento, segundo Machado
(2009).
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TRIBUTO MULTA
Não possui finalidade É sanção por ato ilícito
sancionatória X
Visa a arrecadar e a intervir em O ideal é que não arrecade, pois
situações sociais e econômicas visa a coibir o ato ilícito
e) Instituída em lei
Esse elemento essencial do tributo decorre do princípio da legalidade, artigo 5º, II
da CF (ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei) e artigo 150, I também da CF (Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I -
exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça).
Nesse sentido também o CTN, em seu artigo 97:
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua
extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução (...).
Por fim vale ressaltar que o princípio da legalidade é a primeira limitação
constitucional à competência tributária.
f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
A cobrança do tributo mediante atividade administrativa plenamente vinculada
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1
STF, súmula 496: São válidos, porque salvaguardados pelas disposições constitucionais transitórias da
constituição federal de 1967, os decretos-leis expedidos entre 24 de janeiro e 15 de março de 1967.
2
O próprio nome está errado porque para se ter um empréstimo há a necessidade do elemento volitivo do
prestamista, e nessa hipótese não há.
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União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
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contrária.4
CTN, art. 6º A atribuição constitucional de competência tributária compreende a
competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição
Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
Municípios, e observado o disposto nesta Lei.
O artigo 6º, ora descrito, dispõe que embora a Constituição Federal atribua a um
ente político a competência para instituir impostos e, portanto dando também plena
competência para que os mesmos legislem a respeito, devem ser observados as
limitações estabelecidas na Constituição Federal e nas Constituições dos Estados, e na
hipótese do Distrito Federal ou de Municípios, devem também ser respeitadas as
limitações das respectivas Leis Orgânicas (Machado, 2009). Por fim cabe a todos os
entes políticos já citados observarem também as normas contidas no CTN (Código
Tributário Nacional), segundo dispõe o artigo 146 da Constituição Federal.
1.2 Tipos de competência
Antes de classificar os tipos de competências, necessário se faz distinguir
competência tributária de capacidade tributária: a) Competência -> a competência
cria/institui, fiscaliza, e cobrar (só pode tem competência quem tem poder legislativo,
devido a necessidade de institui através de lei -> ente estatal), todos que possuem
competência automaticamente tem capacidade, mas nem todos que possuem capacidade
tem competência; b) Capacidade -> fiscaliza, e cobra (exemplo OAB, INSS, conselhos,
sindicatos, são entes paraestatais, porque situam-se paralelamente ao Estado, tem a
mesma finalidade do Estado).
1.2.1 Competência privativa/exclusiva da União, dos Estados e dos
Municípios (CF, artigos 153, 155 e 156)
Fala-se em competência privativa quando pertence à um só ente político, como na
hipótese da União que institui empréstimo compulsório, ou do município que institui
ISS.
a) União (CF, artigo 153)
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
I - importação de produtos estrangeiros;
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;
III - renda e proventos de qualquer natureza;
IV - produtos industrializados;
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários;
VI - propriedade territorial rural;
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Ricardo Cunha Chimenti. Direito Tributário.
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5 A expressão rol não-exaustivo significa que existem outras limitações ao poder de tributar estipulados
em dispositivos diversos da Constituição Federal, nesse sentido o próprio caput do artigo 150: Sem
prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios (...).
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§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade
econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a
esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.
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Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: (...) II - tratando-se de ato não
definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de
tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha
sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe
comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.
4 Princípio da anterioridade (CF, artigo 150, III, “b)
Pelo princípio da anterioridade a lei que cria ou aumenta tributo só vale a partir
de 1º de janeiro do ano seguinte ao de sua publicação, salvo exceções expressas (como
por exemplo, na hipótese de calamidade pública ou guerra).
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) b) no
mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Agregado ao princípio da anterioridade encontra-se, desde a Emenda
Constitucional 42/03, o princípio da noventena (ou nonagesimal), que prevê um prazo
mínimo de noventa dias para a aplicação do tributo.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) c)
antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu
ou aumentou, observado o disposto na alínea b.
5 Princípio da proibição do confisco (CF, artigo 150, IV)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV - utilizar tributo com efeito
de confisco.
O princípio da proibição do confisco também é chamado de princípio do não
confisco ou princípio da razoabilidade da carga tributária, e parte-se do pressuposto que
os entes políticos não podem instituir tributos tão onerosos que cheguem a representar
um verdadeiro confisco (exemplo: tributo que inviabiliza o exercício de atividade lícita).
6 Princípio da liberdade de tráfego (CF, artigo 150, V)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) V - estabelecer limitações ao
tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.
Pelo princípio da liberdade de tráfego entende-se em regra geral a proibição de
lei tributária limitar o tráfego interestadual ou intermunicipal de pessoas, porém o
princípio comporta exceção na hipótese de pedágio de via conservada pelo Poder
Público.
7 Princípio da imunidade (CF, artigo 150, VI)
Para Chimenti (2010) a imunidade é uma hipótese de não incidência
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