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SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL 1

Cíntia Rosina Flores

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL

I Noções propedêuticas
1 Noções de sistema tributário
De início cabe questionar o que é um sistema? Segundo o doutrinador Hugo de
Brito Machado (2009) a palavra sistema modernamente significa o conjunto organizado
de partes relacionadas entre si e interdependentes.
Originalmente, o Brasil passou a ter um sistema tributário após a Emenda
Constitucional n. 18 de 1965, mas foi com a chegada da Constituição Federal de 1988
que os Estados e Municípios passaram a ter maior competência tributária.
No ano de 1966 nasce o Código Tributário Nacional como lei ordinária, porque na
época da sua criação ainda não havia a espécie Lei Complementar. Em 1967 o Código
Tributário Nacional foi elevado/transformado por meio do ato complementar nº 36/67
ao status de lei complementar.
O Sistema Tributário Brasileiro é composto dos tributos instituídos no Brasil (de
acordo com a competência tributária: quem pode instituir; quem pode cobrar e fiscalizar
tributos), dos princípios e normas que regulam tais tributos.

2 Tributos
2.1 Noções de tributo
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Do texto do artigo 3º vislumbra-se os elementos conceituais do tributo:
a) Toda prestação pecuniária
A natureza pecuniária do tributo significa dizer que não há possibilidade de
pagamento do tributo através de serviços ou em bens diversos de dinheiro (tributos in
natura e in labore) visando garantir que o Estado tenha os meios financeiros necessários
para a consecução de seu objetivo.
b) Compulsória
A compulsoriedade do tributo não esta simplesmente na sua obrigatoriedade,
mas também porque na prestação tributária inexiste o elemento vontade por parte do
sujeito passivo, assim até mesmo os incapazes podem ser sujeitos passivos das
obrigações tributárias.
O marco aqui é que o elemento vontade há de ser observado no momento do
nascimento da obrigação, e não no momento de seu adimplemento, segundo Machado
(2009).
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c) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir


O termo em moeda não demanda esforço interpretativo, assim o tributo deverá
ser pago em moeda. Quanto ao termo “cujo valor nela se possa exprimir” entende-se que
é para permitir a utilização de indexadores (como a UFIR – Unidade Fiscal de Referência,
hoje extinta), devido a imediata conversão entre o indexador utilizado e a moeda
corrente adotada no País, nesse sentido Alexandre (2009).
d) Que não constitua sanção de ato ilícito
Esse elemento do tributo é essencial para distinguir multa de tributo, logo
significa dizer que tributo não é sanção/penalidade e multa sim, por isso só se a
incidência do tributo é sempre algo lícito, mas cuidado um rendimento auferido em
atividade ilícita também será incidido de tributo, por exemplo ágüem que aufere rende
em decorrência de jogo de azar o tributo é devido, mas não sobre a atividade ilícita e sim
sobre a hipótese de incidência do tributo, que no caso exemplificativo é a aquisição de
disponibilidade financeira e não o jogo de azar.
Essa afirmação é baseada no princípio do non olet (sem cheiro/sem odor), ou
seja, não seria justo tributar a renda auferida licitamente e deixar de tributar renda
obtida por atividades ilícitas, é o posicionamento de Chimenti (2010).

TRIBUTO MULTA
Não possui finalidade É sanção por ato ilícito
sancionatória X
Visa a arrecadar e a intervir em O ideal é que não arrecade, pois
situações sociais e econômicas visa a coibir o ato ilícito

e) Instituída em lei
Esse elemento essencial do tributo decorre do princípio da legalidade, artigo 5º, II
da CF (ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei) e artigo 150, I também da CF (Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas
ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I -
exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça).
Nesse sentido também o CTN, em seu artigo 97:
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua
extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução (...).
Por fim vale ressaltar que o princípio da legalidade é a primeira limitação
constitucional à competência tributária.
f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
A cobrança do tributo mediante atividade administrativa plenamente vinculada
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esta relacionada com a obrigatoriedade da contribuição tributária ser cobrada mediante


o caminho previsto em lei, o credor tributário (diferente de um credor particular) não
pode escolher o caminho a ser utilizado pela cobrança, obrigatoriamente tem que seguir
o caminho previsto em lei, ou seja, a execução fiscal.
Assim na atividade vinculada a autoridade administrativa não dispõe de
liberdade para apreciar a conveniência nem a oportunidade de agir, assim a lei
estabelece o fim a ser alcançado e também a forma a ser observada, portando está a
autoridade administrativa vinculada à agir de acordo com o comando legal.
2.2 As espécies do gênero tributo
Tributo é um gênero que é dividido em cinco espécies tributárias: impostos;
taxas; contribuição de melhoria; empréstimos Compulsórios; e as contribuições
especiais. Essa divisão é chamada pela doutrina de pentapartida, e esta fundamentada:
na Constituição Federal artigos 145, incisos de I a III, 148 e 149; no Código Tributário
Nacional artigos 5º e 217.
a) Os impostos (CF, artigo 145, I e CTN, artigo 16)
CTN, art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.
Imposto é a modalidade de tributo que tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal, assim o imposto é por excelência um tributo
não contraprestacional (porque para o Estado cobrar o imposto não tem que dar nada
em troca, exemplo auferir renda), é um tributo que demonstra o poder de império do
ente político.
Os impostos se sujeitam a ausência de destinação, ou seja, o imposto não pode ser
arrecado tendo já um destino específico, mas cuidado o que a CF veda é a destinação
prévia/antecipada, porque por óbvio é que posterior a arrecadação o mesmo terá uma
destinação (regra constitucional prevista no artigo 167, IV da CF).
b) As taxas (CF, artigo 145, II e CTN, artigo 16)
CF, art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir
os seguintes tributos: (...) II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela
utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição.
CTN, art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o
exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço
público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.
Taxa é a modalidade de tributo cujo fato gerador é uma situação diretamente
vinculada a uma atividade estatal específica, ou seja, é um tributo cujo fato gerador exige
atividade estatal, assim é o oposto do imposto, pois exige contraprestação estatal, sendo
que essa contraprestação só pode ser de dois tipos: exercício de poder de polícia; ou
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prestação de serviço público.


Com base nos artigos descritos a cima vislumbra-se duas espécies de taxas:
 Taxas de polícia (CTN, artigo 78)
Taxa de polícia é a modalidade de taxa na qual a atividade estatal específica é o
exercício do poder de polícia, poder de polícia que não tem qualquer relação com a
atividade policial, essa expressão é a atividade de fiscalização, taxa de polícia significa
taxa de fiscalização. Exemplo: fiscalização para emissão do alvará de funcionamento de
estabelecimento empresarial.
 Taxas de serviço (CTN, artigo 79)
A segunda hipótese de cobrança de taxa é a utilização, efetiva ou potencial, de
serviço público específico, divisível e compulsório, prestado ao contribuinte ou colocado
a sua disposição.
Serviço público específico e divisível: aquele em que um serviço é colocado a
disposição do contribuinte, e o fato gerador têm que ser relativo ao contribuinte da taxa
para que se possa verificar o vínculo entre o sujeito passivo do tributo e os serviços.
c) As contribuições de melhoria (CF, artigo 145, III e Decreto-Lei nº 195/671)
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os
seguintes tributos: (...) III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.
Decreto-Lei nº 195/67, art 1º A Contribuição de Melhoria, prevista na Constituição
Federal tem como fato gerador o acréscimo do valor do imóvel localizado nas áreas
beneficiadas direta ou indiretamente por obras públicas.
Machado (2009) disciplina as contribuições de melhoria como uma espécie do
gênero tributo cujo fato gerador é a valorização do imóvel do contribuinte, decorrente de
obra pública e tem por finalidade a justa distribuição dos encargos públicos, fazendo
retornar ao Tesouro Público o valor despendido com a realização de obras públicas, na
medida em que destas decorra a valorização de imóveis.
O Decreto-Lei nº 195/67 dispõe sobre a cobrança da Contribuição de Melhoria,
sendo que em sue artigo 2º só prevê tal contribuição relativa a imóvel privado, e elenca
rol taxativo das obras públicas que podem beneficiar direta ou indiretamente tal imóvel,
cita-se como exemplo a abertura, alargamento, pavimentação, iluminação, arborização,
esgotos pluviais e outros melhoramentos de praças e vias públicas.
d) O empréstimo compulsório (CF, artigo 148, CTN, artigo 15)
O empréstimo compulsório (chamado também de crédito forçado2) está previsto
no artigo 148 da CF que disciplina as hipóteses em que poderá o mesmo ser instituído:

1
STF, súmula 496: São válidos, porque salvaguardados pelas disposições constitucionais transitórias da
constituição federal de 1967, os decretos-leis expedidos entre 24 de janeiro e 15 de março de 1967.
2
O próprio nome está errado porque para se ter um empréstimo há a necessidade do elemento volitivo do
prestamista, e nessa hipótese não há.
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Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos


compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter
urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será
vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
O empréstimo compulsório é restituível, logo por meio dele não transfere
riquezas para o Estado. O dinheiro arrecadado tem que ser devolvido através de títulos
da dívida pública (debêntures), sendo que a mesma lei complementar que o instituiu
deverá disciplinar sua devolução e o prazo de resgate, Chimenti (2010).
e) Contribuições sociais (CF, artigo 149)
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de
intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou
econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto
nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às
contribuições a que alude o dispositivo.
As contribuições sociais também são chamadas de contribuições paraestatais,
contribuições sindicais, contribuições de previdência (exemplo são o INSS, o sistema S).
Conceitua-se contribuições sociais como sendo aquelas destinadas a financiar a
concretização dos direitos sociais previstos na Constituição Federal, isto é o direito à
seguridade social (previdência social, saúde pública, e assistência social), à habilitação, à
educação, dentre outros direitos.
 CIDE – Contribuições de intervenção de domínio econômico: possui função
regulatória da economia ou do mercado de consumo;
 Contribuições de interesses de categorias profissionais ou econômicas;
 Contribuições de seguridade social;

II Poder de tributar (os entes políticos)


1 Competência tributária
1.1 Atribuição de competência tributária
Dentro da regras constitucionais do sistema tributário talvez a mais importante é
a que trata da competência tributária, que é a aptidão para atribuição de tributo, a
Constituição Federal não cria tributos, ela estabelece os tributos que podem ser criados
e distribui essa competência entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
A competência tributária é o poder que a CF atribui a determinado ente político 3
para que este institua um tributo. A instituição, modificação e revogação de um tributo
serão feitos por lei ordinária, ressalvadas as hipóteses em que a CF dispõe de forma

3
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
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contrária.4
CTN, art. 6º A atribuição constitucional de competência tributária compreende a
competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição
Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
Municípios, e observado o disposto nesta Lei.
O artigo 6º, ora descrito, dispõe que embora a Constituição Federal atribua a um
ente político a competência para instituir impostos e, portanto dando também plena
competência para que os mesmos legislem a respeito, devem ser observados as
limitações estabelecidas na Constituição Federal e nas Constituições dos Estados, e na
hipótese do Distrito Federal ou de Municípios, devem também ser respeitadas as
limitações das respectivas Leis Orgânicas (Machado, 2009). Por fim cabe a todos os
entes políticos já citados observarem também as normas contidas no CTN (Código
Tributário Nacional), segundo dispõe o artigo 146 da Constituição Federal.
1.2 Tipos de competência
Antes de classificar os tipos de competências, necessário se faz distinguir
competência tributária de capacidade tributária: a) Competência -> a competência
cria/institui, fiscaliza, e cobrar (só pode tem competência quem tem poder legislativo,
devido a necessidade de institui através de lei -> ente estatal), todos que possuem
competência automaticamente tem capacidade, mas nem todos que possuem capacidade
tem competência; b) Capacidade -> fiscaliza, e cobra (exemplo OAB, INSS, conselhos,
sindicatos, são entes paraestatais, porque situam-se paralelamente ao Estado, tem a
mesma finalidade do Estado).
1.2.1 Competência privativa/exclusiva da União, dos Estados e dos
Municípios (CF, artigos 153, 155 e 156)
Fala-se em competência privativa quando pertence à um só ente político, como na
hipótese da União que institui empréstimo compulsório, ou do município que institui
ISS.
a) União (CF, artigo 153)
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
I - importação de produtos estrangeiros;
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;
III - renda e proventos de qualquer natureza;
IV - produtos industrializados;
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários;
VI - propriedade territorial rural;

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Ricardo Cunha Chimenti. Direito Tributário.
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VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.


IGF (imposto sobre grandes fortunas): o IGF ainda não foi criado, falta lei
complementar que o estabeleça.
b) Estados e Distrito Federal (CF, artigo 155)
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e
as prestações se iniciem no exterior;
III - propriedade de veículos automotores.
c) Municípios (CF, artigo 156)
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
I - propriedade predial e territorial urbana;
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis,
por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem
como cessão de direitos a sua aquisição;
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em
lei complementar.
1.2.2 Competência comum (CF, artigo 145, II e III)
A competência é comum quando pertinente a todas as entidades, como é o caso
das taxas e contribuições de melhoria (dentro da atuação de cada ente político).
1.2.3 Competência concorrente (CF, artigo 24, §§ 3º e 4º)
Diz-se a competência concorrente quando atribuída aos Municípios, Estados e a
União, ficando a União com a competência de editar normas gerais e os demais entes
políticos editam as normas suplementares, sendo que na omissão da União editar as
normas gerais os demais entes também poderão editá-las.
1.2.4 Competência residual (CF, artigo 154, I)
Além da competência privativa a União pode criar outros impostos não previstos
na Constituição Federal, desde que não tenham a mesma base de cálculo. Apenas a União
tem competência residual.
1.2.5 Competência extraordinária (CF, artigo 154, II)
A competência extraordinária é marcada pela eventualidade, daí o texto do artigo
154, II da CF prever a instituição dessa espécie do gênero tributo na iminência ou no
caso de guerra (IEG – impostos extraordinários de guerra):
Art. 154. A União poderá instituir: II - na iminência ou no caso de guerra externa,
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impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais


serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

III Limitações ao poder de tributar: os princípios jurídicos da tributação e as


limitações ao poder de tributar (limitações da competência tributária)
As limitações ao poder de tributar são verdadeiros Estatutos do Contribuinte,
instituídas por meio dos princípios jurídicos da tributação.
A competência tributária, definida pela Constituição Federal, não é ilimitada,
assim, a seguir apresenta-se as limitação da competência tributária imposta, também,
pela Constituição Federal aos entes políticos.
A CF em seus artigos 150 a 152 elenca, como rol não-exaustivo5, os princípios
fundamentais do Direito Constitucional Tributário, a saber:
1 Princípio da legalidade (CF, artigo 150, I)
Em sentido amplo o princípio da legalidade encontra-se tipificado na CF, artigo
5º, II: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei, assim por ser o tributo uma prestação pecuniária compulsória (obriga ao pagamento
independente da vontade do obrigado: sujeito passivo) obedece a regra do referido
princípio da legalidade.
Já em sentido restrito a Carta Magna elencou o princípio da legalidade voltado a
matéria tributária em seu artigo 150, I, quando dispôs que os entes políticos apenas
podem exigirem ou majorarem tributo através de lei.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem
lei que o estabeleça.
O artigo 146, III, “a” da CF dispõe que a lei que estabelecer a cobrança ou a
majoração da cobrança de tributo deverá, obrigatoriamente, explicitar os elementos
essenciais do tributo, os fatores que influam no quem deve e no quanto deve, nesse
sentido Chimenti (2010): a) fato tributável; b) a base de cálculo; c) a alíquota, ou outro
critério a ser utilizado para o estabelecimento do valor devido; d) os critérios de
identificação do sujeito passivo da obrigação tributária; e e) o sujeito ativo, se diverso da
pessoa jurídica da qual emanou a lei.
Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) III - estabelecer normas gerais em matéria
de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies,
bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos
fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes.

5 A expressão rol não-exaustivo significa que existem outras limitações ao poder de tributar estipulados
em dispositivos diversos da Constituição Federal, nesse sentido o próprio caput do artigo 150: Sem
prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios (...).
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2 Princípio da isonomia (CF, artigo 150, II)


O princípio da isonomia também é chamado de princípio da igualdade e da
capacidade contributiva.
O princípio da isonomia é consagrado com um princípio universal de justiça
(Machado, 2009) e tem por base o princípio da isonomia descrito no artigo 5º caput da
CF, mas restringindo a matéria tributária o referido princípio se encontra elencado na
CF, artigo 150, II:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II - instituir tratamento
desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
Em resumo o princípio da igualdade tributária deve ser aplicado tendo como base
a primícia de que as pessoas e as situações concretas em que se inserem não são iguais,
logo a uniformidade do tratamento deve ser observada entre aqueles que têm situação
equivalente.
Diante do exposto para haver uma aplicação apropriada o princípio da isonomia
necessita ser complementado pelos princípios da personalização e pelo princípio da
capacidade contributiva (artigo 145, § 1º da CF6), onde sempre que possível os impostos
terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte. Exemplo dessa aplicação harmônica são as alíquotas diferenciadas do
imposto de renda (conforme a renda), visto que distribuem de forma proporcional os
ônus, ainda outro exemplo são as isenções para contribuintes com menor capacidade
econômica (isenção do pagamento de imposto de renda para quem tenha determina
renda) ou para microempresas (SIMPLES).
3 Princípio da irretroatividade (CF, artigo 150, III, “a”)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: a) em relação
a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado.
Segundo o princípio da irretroatividade a lei tributária só vale em relação aos
fatos ocorridos depois do início da vigência da lei que instituiu ou majorou tributo,
ressalvado a hipótese de lei mais benéfica ao sujeito passivo quando então admite a
retroatividade.
Essa exceção encontra-se descrita no Código Tributária Nacional, artigo 106, II,
alíneas:

6
§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade
econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a
esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.
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Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: (...) II - tratando-se de ato não
definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de
tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha
sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe
comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.
4 Princípio da anterioridade (CF, artigo 150, III, “b)
Pelo princípio da anterioridade a lei que cria ou aumenta tributo só vale a partir
de 1º de janeiro do ano seguinte ao de sua publicação, salvo exceções expressas (como
por exemplo, na hipótese de calamidade pública ou guerra).
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) b) no
mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Agregado ao princípio da anterioridade encontra-se, desde a Emenda
Constitucional 42/03, o princípio da noventena (ou nonagesimal), que prevê um prazo
mínimo de noventa dias para a aplicação do tributo.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) c)
antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu
ou aumentou, observado o disposto na alínea b.
5 Princípio da proibição do confisco (CF, artigo 150, IV)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV - utilizar tributo com efeito
de confisco.
O princípio da proibição do confisco também é chamado de princípio do não
confisco ou princípio da razoabilidade da carga tributária, e parte-se do pressuposto que
os entes políticos não podem instituir tributos tão onerosos que cheguem a representar
um verdadeiro confisco (exemplo: tributo que inviabiliza o exercício de atividade lícita).
6 Princípio da liberdade de tráfego (CF, artigo 150, V)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) V - estabelecer limitações ao
tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.
Pelo princípio da liberdade de tráfego entende-se em regra geral a proibição de
lei tributária limitar o tráfego interestadual ou intermunicipal de pessoas, porém o
princípio comporta exceção na hipótese de pedágio de via conservada pelo Poder
Público.
7 Princípio da imunidade (CF, artigo 150, VI)
Para Chimenti (2010) a imunidade é uma hipótese de não incidência
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constitucionalmente qualificada. Vale dizer: a Constituição Federal impede que a lei de


tributação inclua certos fatos na hipótese de incidência de impostos (impõe uma regra
negativa de competência). As imunidades só incidem, em regra, quanto aos impostos e
não sobre outras espécies do gênero tributo.
Cuidado: a imunidade não se confunde com isenção, pois enquanto a imunidade
esta prevista constitucionalmente, a isenção é prevista por leis infraconstitucionais.
7.1 Princípio da imunidade tributária recíproca (CF, artigo 150, VI, “a”)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
É vedado aos entes políticos instituir imposto sobre patrimônio, renda ou serviço,
uns dos outros.
7.2 Princípio da imunidade tributária genérica (CF, artigo 150, VI, “b”, “c” e
“d”)
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre:
(...) b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,
inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de
educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros,
jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
Essa espécie do gênero limitação do poder de tributar atinge bens e outros entes
que não os entes políticos, como por exemplo, as igrejas, as instituições filantrópicas, as
autarquias, dentre outros, são as:
a) Imunidade de templos;
b) Imunidades dos partidos políticos, das entidades sindicais e das instituições de
educação ou de assistência social, sem fins lucrativos;
c) Imunidade do livro, jornal e periódico.

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