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DIREITO TRIBUTÁRIO – ARA 0578

Princípios Jurídicos da Tributação

I – Princípio da Legalidade
Art. 150, I , CF.
Consiste na proibição de instituir ou majorar tributos sem
prévia autorização legislativa, ou seja, sem lei que
discipline tal questão.
Princípios Jurídicos da Tributação

II – Princípio da Anterioridade
Art. 150,III, CF.
Este princípio impede que se cobre tributos antes da
vigência da lei que os instituiu, e impede também a
cobrança ou a majoração dos tributos no mesmo
exercício financeiro da lei que os criou ou majorou. O
Estado tem a faculdade de criar tributos ou majorar os já
existentes quando quiser, entretanto a sua cobrança fica
diferida para o próximo ano. Este princípio possibilita ao
contribuinte realizar seu planejamento financeiro sem ser
surpreendido com o aumento de tributos, ou ainda a
cobrança de novos tributos.
Princípios Jurídicos da Tributação

III – Princípio da Isonomia Tributária


Art. 150, II, CF.
Este princípio decorre do princípio da igualdade
cristalizado pelo artigo 5º da CF. Este princípio veda o
tratamento jurídico diferenciado de pessoas sob o
mesmo pressuposto fático.
Princípios Jurídicos da Tributação

IV – Princípio da Vedação dos Efeitos Confiscatórios


Art. 150, IV, CF.
Este princípio preconiza que é vedado o tributo com
fim confiscatório. Um exemplo de tributo com fim
confiscatório é aquele sobre a produção e a
circulação, cuja alíquota do tributo é maior que a
margem de lucro com a qual o contribuinte opera.
São aqueles tributos que absorvem todo o valor da
propriedade, aniquilam a empresa ou impedem o
exercício de uma atividade lícita e moral.
Princípios Jurídicos da Tributação

V – Princípio da Capacidade Contributiva


Art. 145, Parágrafo 1, CF.
Este princípio tem por escopo a justiça fiscal, pois determina
que os tributos terão caráter pessoal sempre que possível, e
serão graduados conforme a capacidade econômica do
contribuinte.
A graduação só se refere aos impostos, e a Administração
Tributária pode fiscalizar o patrimônio, os rendimentos e as
atividades econômicas do contribuinte, respeitando seus
direitos individuais.
Princípios Jurídicos da Tributação

VI – Princípio da Imunidade Recíproca


Art. 150, VI, “a”, CF.
A CF. determina que nenhuma entidade política poderá
exigir imposto sobre o patrimônio, renda ou serviços de
outra entidade política. Este princípio tem como objetivo
resguardar a convivência harmônica entre União, Estados
Membros, Municípios e o Distrito Federal.
Princípios Jurídicos da Tributação

VII – Princípio da Imunidade Genérica


Art. 150,VI, “b” a “e”, CF.
Veda a instituição de impostos sobre templos de qualquer
culto, partidos políticos, entidades sindicais dos trabalhadores,
instituições de educação e assistência social sem fins
lucrativos, livros, jornais e periódicos, fonograma e vídeos
fonogramas nacionais de autoria nacional.
Princípios Jurídicos da Tributação

VIII – Princípio da Liberdade de Tráfego


Art. 150, V, CF.
Veda às diversas entidades tributantes o estabelecimento de
limitação ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de
tributos interestaduais ou Jurídicos
Princípios intermunicipais.
da Tributação A proibição aqui
instituída afeta aos tributos cuja a hipótese de incidência seja
elemento essencial a transposição de fronteira municipal ou
estadual. Não se inclui aqui a cobrança de pedágio pela
conservação de vias pelo Poder Público.
Limitações constitucionais ao poder de tributar

Princípios constitucionais vinculados ao valor segurança jurídica

Imagine como seria se você firmasse um contrato para a prestação de um serviço e,


logo após, viesse uma lei nova que aumentasse o tributo incidente justamente sobre
aquele negócio jurídico. Isso é uma insegurança. No Direito, ela é denominada
insegurança jurídica.

Cada ramo do Direito tem a sua forma de limitar ou evitar a insegurança jurídica. No
Direito Tributário, temos como resultado genericamente três grandes princípios –
legalidade, tipicidade e não surpresa –, que, estendidos, correspondem a cinco
normas princípios: legalidade, tipicidade, irretroatividade, anterioridade e noventena.

Aliás, é importante que se esclareça que “a natureza jurídica das limitações ao poder
de tributar é de garantia constitucional”.

Isso porque elas não deverão ser suprimidas ou reduzidas sequer por uma emenda
constitucional.
Legalidade

Em estudo sobre as fontes do Direito Tributário, pudemos avaliar


a história do princípio da legalidade. Vimos que se trata de um
princípio dos mais antigos, remontando ao século XIII. Essa regra
vige até hoje, e é assim que se criam os tributos, na forma do art.
150, I, da CRFB/88.

E apenas para não nos esquecermos: lei é ato normativo


genérico abstrato coercitivo resultado de um processo legislativo
constitucionalmente estabelecido. Assim, não podemos entender
como lei qualquer ato normativo, mas somente aqueles previstos
no art. 59, I a V, da CRFB/88, como capazes de inovar no mundo
jurídico, criando novos direitos e obrigações.
Legalidade

Como visto, a criação de tributos se dá por lei ordinária. Nos termos


do art. 146, III, da CRFB/88, a lei complementar tem como principal
função dispor sobre normas gerais, ou seja, aquelas que estabelecem
um padrão de comportamento a ser observado por todos os entes
federativos na fiscalização e cobrança de qualquer tributo, salvo
exceções fixadas em leis específicas.

Os tributos que serão criados por lei complementar são: os


empréstimos compulsórios (art. 148, CRFB/88), o imposto sobre
grandes fortunas (art. 153, VII, CRFB/88), os im- postos residuais (art.
154, I, CRFB/88) e as contribuições da seguridade social residuais
(art. 195, § 4º, CRFB/88).
Medida Provisória

Ainda outro ponto, que há muito se discutiu, é a possibilidade de medida provisória


criar ou aumentar tributo.

Medida provisória não é lei. Mas tem força de lei. Apesar de ela ser ato normativo
editado diretamente pelo executivo e que já começa a produzir efeitos antes mesmo
de qualquer chancela do legislativo– poder que representa a vontade do povo na
criação de atos normativos –, o STF nunca reconheceu nenhuma inconstitucionalidade
em medida provisória, e recorrentemente temos novas medidas provisórias sobre a
matéria. Aliás, a EC 32/2001, que introduziu novas regras relativas à medida provisória,
determina a sua possibilidade e a sua aplicação. O texto poderia ser inconstitucional –
já que o poder de reforma da Constituição não é ilimitado –, mas, como foi dito, tal
inconstitucionalidade nunca foi reconhecida pelo STF.
Exceções

Alguns tributos têm a função de intervir na economia, de servir de instrumento de


política pública. Assim é com os impostos sobre o comércio exterior (importação e
exportação), sobre produtos industrializados e sobre operações financeiras. E,
nesse sentido, caso fosse necessária a publicação de uma lei para qualquer
aumento ou redução em suas alíquotas, considerando a quantidade de leis que
ocupam a jornada do legislativo, essas alterações somente seriam aprovadas
depois da intervenção não mais ser necessária.

É por isso que esses quatro impostos acima relatados são, na forma do art.153, §
1º, da CRFB/88, verdadeiras exceções à legalidade. Mas isso só no que diz respeito
às suas alíquotas, ou seja, ao percentual correspondente. Todos os outros
elementos desses tributos deverão ser fixados por lei.

Nesse sentido, também devemos somar a regra contida no art. 152, § 2º, IV, da
CRFB/88, que atribui à resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da
República ou de um terço dos Senadores, estabelecer as alíquotas do ICMS
aplicáveis às operações e às prestações interestaduais e de exportação.
Irretroatividade

Não basta para a segurança que o tributo seja fixado por lei, até
porque a lei poderia criar regras para situações já ocorridas, e
isso traria uma grande insegurança.

Então, o art. 150, III, a, da CRFB/88 determina que as leis


somente podem alcançar fatos geradores/situações que
ocorrem em sua vigência.

A redução de tributo pode alcançar fato que ocorreu antes se


assim estabelecer expressamente. É claro que, se a Constituição
não trouxer regra que o proíba (e não há), a lei pode fixar
tratamento mais benéfico para situação anterior.
Exceções

Em verdade, não há exceções à irretroatividade apesar do que dispõe o art. 106


do CTN.

No primeiro inciso, temos a lei interpretativa – aquela que, em vez de trazer um


novo direito ou uma nova obrigação, traz apenas uma definição, uma classi-
ficação. E, como ela não traz nem direito nem obrigação novos, não se submete à
irretroatividade, pois não age.

No segundo inciso, a irretroatividade não diz respeito, em verdade, a uma norma


tributária, e sim a uma norma penal. Estabelece ela que a lei, que reduz
penalidade ou traz qualquer outro tratamento mais benéfico ao infrator, alcançará
infrações já praticadas.
Exceções

Se refletirmos sobre o propósito de garantir segurança jurídica ao


contribuinte, tão somente legalidade e irretroatividade não produzem um
resultado satisfatório. Imagine você firmar um contrato, contando com
uma carga tributária tal, e amanhã ser publicada (com vigência imediata)
uma lei que duplique essa carga tri- butária. Ainda assim, haveria
insegurança. É por isso que o ordenamento jurídico brasileiro conta com o
princípio da anterioridade – a lei que cria ou aumenta um tributo tem de
ter sido publicada até o ano anterior para que possa ser aplicada.
Anualidade. Princípio não mais previsto em nosso ordenamento jurídico, a
anualidade tributária consistia na exigência de uma autorização no
orçamento anual para que, naquele ano, o tributo pudesse ser cobrado. A
ausência de previsão orçamentária impedia a cobrança do tributo naquele
ano. Esse princípio esteve presente na Constituição de 1824, 1946 (até ser
revogado pela EC nº 18/65) e 1967 (até ser também revogado pela EC nº
1/69).
Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima
ou Mitigada

A Constituição mereceu, em 2003, um pequeno reparo, tendo em vista inú-


meras leis aumentando tributos nos últimos dias do ano.

A EC nº 42/03 incluiu no artigo 150, III, a alínea “c” da CRFB/88 que exige,
para além da irretroatividade e da anterioridade, um prazo de 90 dias a
contar da publicação para que a lei possa ser aplicada.

Trata-se de um acréscimo à anterioridade. Leis publicadas no início do ano


nem precisam da noventena, só aquelas do final do ano ou os casos de
exceção à anterioridade que não sejam exceção à noventena.

A noventena também tem exceções calcadas na extrafiscalidade e na


urgência. Essas exceções estão no artigo 150, § 1º, segunda parte, CRFB/88.
Princípios constitucionais vinculados ao valor justiça

A carga tributária brasileira é uma das mais altas do mundo. Na tentativa de proteger o
contribuinte e sua existência digna, a Constituição estabelece limites a essa fome de
tributar.

Isonomia

Esse primeiro princípio seria capaz de englobar todos os demais princípios que serão
neste tópico tratados. A isonomia é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de
forma desigual na exata medida de suas desigualdades.

Encontra-se no art. 150, II, da CRFB/88 e proíbe qualquer tratamento diferenciado que
se constitua em verdadeiro privilégio odioso – benefício que não encontre qualquer
justificativa ou razão. E não apenas no que diz respeito à fixação de tributos por lei,
mas também ao tratamento imposto pela Administração.
Princípios constitucionais vinculados ao valor justiça

Generalidade e universalidade

Como decorrência imediata do princípio da isonomia, encontram-se no art.


153, § 2º, I, da CRFB/88 os princípios da generalidade e da universalidade.
Partindo da regra fundamental de interpretação da Constituição de que ela
não contém palavras inúteis ou desnecessárias, distingamos os dois.

Parte da doutrina vai afirmar que generalidade é uma expressão que traz
uma ideia de subjetividade, de sujeito. Assim, generalidade significa que
todo aquele que manifestar riqueza será, em princípio, contribuinte. É por
isso que a Constituição veda tratamento privilegiado a determinadas
categorias – como é comum ocorrer em regimes ditatoriais que tendem a
privilegiar a categoria que se encontra no poder.
De igual forma, afirma-se que universalidade traz uma ideia de
objetividade, de objeto. Universalidade significa que todo fato que
demonstre riqueza será em princípio gerador de tributo. Então,
encontramos aqui o fundamento para a tributação de várias
situações, até mesmo do ato ilícito – princípio do pecunia non olet.

Também é importante dizer que esses princípios não pertencem


exclusiva- mente ao imposto de renda, sendo aplicáveis a todo
ordenamento tributário.
Capacidade contributiva

Cada um deve contribuir (ainda que forçosamente) para as despesas públicas na medida
das forças de sua riqueza.

O art. 145, § 1°, da CRFB/88 merece uma interpretação cuidadosa. A primeira expressão a
merecer destaque é “Sempre que possível”, pois nem sempre será possível tratar o
contribuinte conforme sua capacidade econômica. Nos chamados tributos indiretos
(aqueles que vêm embutidos no preço daquilo que compramos, que quem recolhe é o
comerciante ou mesmo a indústria), o fisco não teria como saber se aquele que suporta o
encargo tributário tem condições de pagar, uma vez que o contribuinte de fato é
desconhecido por ele.

A segunda expressão é “impostos”. Na realidade, nos outros tributos – os chamados


tributos vinculados –, o maior parâmetro para sua quantificação é o custo estatal. Haja
vista que são vinculados a uma atividade estatal, a capacidade contributiva encontra um
espaço secundário. Não é por isso, contudo, que não será aplicada; afinal de contas, a
gratuidade de justiça é análise de capacidade contri- butiva para uma taxa.
A terceira expressão é “caráter pessoal”. Aqui se destaca outra classificação atribuída
aos tributos: tributo real e tributo pessoal. A distinção correta entre os dois considera
o critério para tributação. Ou seja, não há premissas absolutamente fechadas. Os
reais consideram apenas características do fato gerador para determi- nar seu
aspecto quantitativo. Os pessoais consideram também características do contribuinte
para essa fixação.

No dizer da Constituição, o ideal é que essa classificação não seja fechada. Então, não
seria correto dizer que o IPTU é exclusivamente imposto real, e isso porque nenhum
tributo deveria ser sempre real. Deveria o legislador buscar sem- pre transformá-los
em pessoais – ao menos, sempre que possível. E vemos muitas dessas situações:
municípios que concedem isenção de IPTU para idosos de baixa renda. Isso é
pessoalização do tributo!
A quarta expressão é “capacidade econômica”. Capacidade econômica é diferente de
capacidade financeira. Capacidade financeira diz respeito à liquidez, ou seja, a possuir
ou não o contribuinte dinheiro para pagar o tributo. Já a capacidade econômica diz
respeito a possuir patrimônio, ainda que não em espécie. Se o cons- tituinte falasse em
capacidade financeira, bastaria comprometer todos os recursos com bens e deixar a sua
conta no banco zerada.

Ela será concretizada por uma séria de técnicas ou princípios técnicos.

Pessoalidade é a análise de características do contribuinte como forma de avaliar o


montante de tributo devido. É o que ocorre no imposto de renda quando se avalia a
quantidade de dependentes ou a realização de determinados tipos de despesa, ou
ainda a idade, ou condição de saúde.
Proporcionalidade é a regra geral. Os tributos devem ser proporcionais e não
ter o mesmo valor para todos. A primeira forma de evitar isso é a
proporcionalidade que pode ser definida como alíquota fixa – quanto maior a
riqueza, maior o valor do tributo devido, mas sempre na mesma proporção.
Confira agora na sua legislação a redação da súmula 656 do STF. Ela determina
alíquota fixa para o ITBI.

Ainda assim, não é o critério mais justo. Se o imposto de renda tivesse uma
alíquota só, se todos tivéssemos de pagar 10% de imposto de renda, não seria
nada justo. Afinal, quem seria mais sacrificado: o pobre, ao pagar 10% de seu
salário mí- nimo, ou o rico, ao pagar 10% de um rendimento de 100 mil reais,
por exemplo? Se você pensou que era o rico, imagine-se tentando sobreviver e
pagar suas contas com o que sobra do salário mínimo e com o que sobra do
rendimento de 100 mil reais.
Progressividade. A progressividade pode ser fiscal quando guarda relação
com a capacidade contributiva. Ou a progressividade pode ser extrafiscal –
a alíquota será aumentada de forma a desestimular algum
comportamento do contribuinte, como forma, portanto,
pública. Essa
de é prevista
políticana Constituição para o ITR (art. 153, § 4º, II,I da
CRFB/88) e para o IPTU (art. 182, § 4º, II, da CRFB/88) como forma de
estimular a função social da propriedade.

Mas a progressividade fiscal – técnica de aferição da capacidade


contributiva
– determina que, quanto maior a riqueza, maior será a alíquota. A
Constituição a prevê expressamente para o IR (art. 153, § 2º, I, da
CRFB/88) e IPTU (art. 156,
§ 1º, I, da CRFB/88). Assim, quanto maior a base de cálculo, maior a
alíquota. Durante muito tempo, predominou de forma pacífica que essa
progressividade precisaria de previsão constitucional. Tanto é que tivemos
a edição de duas súmu- las do STF nesse sentido: a 656 e a 668.
Contudo, recentemente o STF admitiu a progressividade de alíquotas para o
ITD – apesar de não haver previsão constitucional para isso, salvo por
aplicação do princípio da capacidade contributiva.

Seletividade. Como última forma de aplicarmos o princípio da capacidade


contributiva, se pode apontar a técnica em que as alíquotas serão fixadas em
fun- ção da essencialidade do bem objeto de tributação. Isso ocorre ao IPI
(art. 153,§ 3º, I, da CRFB/88), ao ICMS (art. 155, § 2º, III, da CRFB/88), ao
IPVA (art. 155, § 6º, II, da CRFB/88) e ao IPTU (art. 156, § 1º, II, da CRFB/88).
Não confisco

Outro princípio afeito ao valor justiça é o não confisco, com previsão expressa no art.
150, IV, da CRFB/88. Uma definição de não confisco estabelece que a tributação
confiscatória é aquela que é tão elevada ao ponto de extinguir a riqueza tributada.

Assim, há uma divergência no fato de como fazer essa análise. Para uns, o confisco
deveria ser analisado de forma geral – pela soma de todos os tributos devidos– ou de
forma isolada – por cada tributo. A última é mais comumente adotada pelo STF. Até
porque, se já o tivesse feito de forma geral, poderia, segundo muitos, ter reconhecido o
confisco no Direito Brasileiro. Afinal, temos uma das maiores cargas tributárias do
mundo.

Esse princípio, como quase todos, não é absoluto e cede espaço para a extra-
fiscalidade. É claro que objetivos maiores podem fazer com que o não confisco seja
abandonado. Por exemplo, uma alíquota de 330% para o cigarro não é con- siderada
como confiscatória. Nem uma alíquota de 60% para as importações. Em ambos os
casos, o propósito do fisco é evitar a ocorrência desses fatos geradores.
Não cumulatividade

Esse princípio está afeito ao valor justiça, pois evita que cada cadeia seja
onerada cada vez mais. Há tributos que se classificam como plurifásicos, ou
seja, incidem por várias vezes na cadeia de circulação do mesmo bem. Caso a
incidência em uma fase fosse completamente independente da outra, haveria
a incidência do mesmo tributo sobre ele várias vezes. Portanto, a não
cumulatividade determina que o valor pago em operações anteriores seja
compensado nas operações seguintes.

Isso impõe uma escrituração extremamente complexa e também promove


problemas relativos a benefícios fiscais no meio da cadeia, já que o não
recolhi- mento de tributos não gera créditos para as operações subsequentes.
Neutralidade

Esse princípio não está positivado em nossa Constituição, mas se


pode do conjunto justiça e ordem econômica o extrair.

A tributação deve ser distribuída nos diversos segmentos da


economia como forma de evitar demasiada oneração para uma
categoria e privilégio para as demais.

Um exemplo para isso pode ser vis- to no art. 146-A da CRFB/88,


que determina que a lei complementar poderá estabelecer
critérios especiais de tributação para evitar desequilíbrios da
concorrência.
Princípios constitucionais vinculados ao valor liberdade

Apesar de não ter sido a primeira a passar por nosso objeto de


análise, a liberdade é o primeiro grande valor a ser construído
contra o Estado. O homem é por natureza livre. A liberdade em
seu exercício depende da vontade humana, de sua consciência,
da condição de seu agir.

Aliás, esse é o primeiro dos valores erigidos no lema da


Revolução Francesa: liberté, egalité, fraternité. O custo de tudo
que fazemos é um grande impeditivo para seguirmos em uma ou
outra direção. Assim, ao fixar os tributos, o Estado pode acabar
tolhendo os particulares de adotarem uma conduta ou outra em
decorrência do custo dos tributos.
Limitação ao tráfego de pessoas e bens

Esse primeiro princípio se encontra no art. 150, V, da CRFB/88. A liberdade


ora tutelada é a liberdade ambulatorial, a liberdade de ir e vir, a liberdade
de locomoção.

É claro que essa liberdade somente tem aplicação ampla dentro do


território nacional, já que não seria possível à Constituição garanti-la no
território de outros países, mas ela se aplica a todo o sistema tributário
brasileiro. Nesse sentido, somente há uma única exceção prevista na
Constituição: o pedágio cobrado em via conservada pelo poder público.

Note bem que, em via que não é conservada pelo poder público, não
podemos falar de pedágio como espécie de tributo, pois o tributo tem de
ser cobrado pelo poder público. Senão não é tributo.
Aliás, aqui se levanta a grande controvérsia sobre a natureza jurídica do
pedágio. Segundo autores como Misabel Derzi, Roque Antônio Carrazza e
Luciano Amaro, esse dispositivo justifica o reconhecimento de que o
pedágio é um tributo, que se submeterá sempre aos limites
constitucionais.

Geraldo Ataliba reconhece-o especificamente como uma taxa, pois


remunera serviço público de conservação das estradas decorrente do
gasto pelo uso delas. Já para Sacha Calmon Navarro Coelho, Ricardo Lobo
Torres e Hely Lopes Meirelles, é um preço público ou uma tarifa, pois não
é cobrada em razão de serviço específico e divisível nem hoje é cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada – haja vista o
enorme número de concessões.
Vedação de diferença tributária em razão da origem ou destino

Essa proteção está no art. 152 da CRFB/88. Assim como o princípio visto
acima, a liberdade tutelada é a de ir e vir. Isso porque origem e destino
trazem a ideia de deslocamento, mas os destinatários dessa regra são
somente os Estados e Municípios.

É por isso que não podemos ter alíquota de IPVA diferenciada em razão dos
veículos serem ou não importados, enquanto o ICMS interestadual pode ter
alíquota distinta conforme o Estado de origem.

No primeiro caso, compete ao legislador estadual fixar as alíquotas, e, no


segundo caso, conforme o art. 155, § 2º, IV, da CRFB/88, compete ao Senado
Federal.
Imunidades

A imunidade tributária é norma constitucional que afasta a competência tributária, ou


seja, é norma negativa de competência, norma de incompetência. Não estamos diante
de uma norma que veda a competência; na verdade, ela não existe.

Do mesmo modo que a Constituição outorga competências, ela também afasta


determinadas situações.

Normalmente, o objetivo é preservar alguns valores ou a manutenção de alguns direi-


tos. As imunidades só vêm previstas na Constituição porque são regras
de competência. A Constituição não utiliza a expressão imunidade: ela é doutrinária e
jurisprudencial. A Constituição veda a instituição de tributo, determina a gratuidade,
isenta ou estabelece a não incidência.
A imunidade afasta somente o dever de pagar tributos, mas não afasta os
deveres instrumentais, como a emissão de notas fiscais, a prestação de
informações ou o dever de declarar. E, na hipótese de que elas não sejam
cumpridas, poderá, se prevista, ser cobrada multa.

É por isso que veremos na próxima disciplina que não estamos em verdade
diante de uma relação de acessoriedade, e sim de uma relação de
instrumentalidade. Isso porque, pela teoria da gravitação jurídica, o acessório
segue a sorte do principal. Mas aqui o principal (recolhimento do tributo) não
existe, mas o “acessório” (ex. declaração) persiste.
Princípios constitucionais vinculados ao valor federalismo

Para fecharmos o estudo dos princípios, é importante tratarmos de um valor que não é
adotado nem pode ser por outros países: o federalismo. Para esclarecermos, federalismo
é o sistema político pelo qual vários Estados se reúnem para formar um Estado Federal,
sem abrir mão de sua autonomia. Assim, é importante em um Estado como o Brasil o
respeito pela União da autonomia de estados e municípios.

Vedação de isenção heterônoma

A União, na forma do art. 151, III, da CRFB/88, somente pode conceder isenção dos
tributos de sua competência. A Constituição atribui a cada ente fede- rativo o poder de
instituir tributos de forma que se garanta autonomia financeira. Dessa maneira, se a
União pudesse conceder qualquer benefício para tributos estaduais e municipais, isso
poderia desequilibrar financeiramente suas contas.
Uniformidade geográfica

Não é só intervindo na tributação dos outros entes que a União pode afron-
tar o pacto federativo e colocar em conflito os vários entes federativos. Isso
pode ocorrer também quando ela conceder algum tratamento mais benéfico
aos contribuintes que estejam em um ente da federação.

Assim, o art. 151, I, da CRFB/88 proíbe que a União conceda tratamento que
não seja uniforme no território nacional, à exceção da concessão de benefício
que tenha por escopo o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico nas
diversas regiões do país. O exemplo disso é a Zona Franca de Manaus.
Obrigação Tributária

A obrigação Tributária deve ser entendida como a relação


jurídica pela qual o Estado tem o direito de exigir do
contribuinte uma prestação (Tributo). Esta obrigação
caracteriza-se pelos seguintes elementos:
Legislação
Fato Gerador
Sujeito Ativo
Sujeito Passivo
Legislação Tributária

É a fonte principal da obrigação tributária, pois que não existe


tributo que não seja criado e exigido em função de uma lei prévia.
É por intermédio da lei que o tributo nasce, pois é ela que
descreve os fatos de conteúdo econômico capazes de gerar a
obrigação tributária.
Tal legislação compreende a Constituição Federal, as leis, os
tratados e convenções internacionais, os decretos e as normas
complementares que versem, no todo ou em parte sobre tributos
e as relações jurídicas a ele referentes.
Fato Gerador

É o evento descrito pela norma e que, ao ser praticado por


alguém, dá origem à obrigação de pagar determinado tributo.
Ex: Imposto sobre exportação: fato gerador = saída de
produtos nacionais ou nacionalizados do território nacional.
Imposto sobre importação: fato gerador = entrada de
produtos estrangeiros em território nacional.
Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana –
IPTU: fato gerador = propriedade, domínio útil ou posse de
bem imóvel localizado na zona urbana do município.
Sujeito Ativo

É a Pessoa Jurídica de Direito Público (União, Estados,


Distrito Federal e Municípios) titular da competência
para exigir o cumprimento da obrigação.
Sujeito Passivo

É a pessoa que tem o dever de pagar o tributo. Em regra o


sujeito passivo da obrigação tributária é o contribuinte, isto é,
o sujeito que tenha relação pessoal e direta com a situação
que constitua o respectivo fato gerador do tributo, mas pode
ser também o responsável.
Contribuinte é portanto, a pessoa que praticou o fato gerador,
estando ligada de modo concreto ao fato tributado.
Responsável é o devedor indireto, é aquele que, embora não
sendo o contribuinte, deve responder pela obrigação
tributária por força de lei. A responsabilidade pode ocorrer
por substituição ou por transferência.
Responsabilidade por Substituição

Na substituição a obrigação constitui-se desde logo


em relação a um substituto, ou responsável, ficando
de fora aquele que seria o contribuinte. Ex: ICMS de
agricultor a ser pago pelo comprador da safra, ou
ICMS de operações posteriores, a ser pago pelos
fabricantes de cerveja e de cigarros.
Responsabilidade por Transferência

Na transferência a obrigação constitui-se inicialmente em relação ao contribuinte,


passando depois para o responsável. A transferência pode dar-se por sucessão,
solidariedade ou subsidiariedade.
Na sucessão o sucessor responde pelo sucedido, como ocorre na transferência da
propriedade de um bem imóvel, na herança ou na incorporação de uma empresa por
outra.
Na solidariedade o devedor solidário responde conjuntamente com o devedor
principal, em condições de igualdade, podendo a dívida ser cobrada de qualquer um
deles no todo ou em parte, à escolha de credor.
Na subsidiariedade o devedor subsidiário também responde conjuntamente com o
devedor principal, porém este só pode ser cobrado após terem sido executados todos
os bens do devedor principal e ainda assim subsistir a dívida. A isto se dá o nome de
“benefício de ordem”.
No Direito Tributário a regra é a da responsabilidade solidária. Ex: Art 134, CTN –
respondem solidariamente os pais pelos tributos devidos pelos sues filhos. Deve-se
ressaltar que a solidariedade deve ser expressa, portanto ou ela decorre da lei ou de
disposição expressa de vontade das partes – contrato.
Obrigado!

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