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Até agora nós falamos sobre as espécies tributárias, competência tributária e sobre quem
pode exercê-la. Contudo, obviamente, não pode o Poder Público cobrar os tributos a seu bel
prazer, não é mesmo? Ele tem limitações ao Poder de Tributar.
As limitações ao Poder de Tributar são freios ao exercício da competência tributária, e es-
tão presentes no arts. 150, 151, 152 e em dispositivos esparsos na CF/88.
Como já vimos, essas limitações são representadas por meio de Imunidades e de
Princípios, de modo que na aula passada tratamos das Imunidades, e nesta aula trataremos
dos Princípios.
Antes de seguirmos para o estudo de cada princípio, lembre-se de que o inc. II do art.
146 da CF/88 prevê que Lei Complementar regulará as limitações ao Poder de Tributar:
É muito simples nesse caso definir a conduta proibida e a consequência de seu des-
cumprimento.
Temos uma situação fática específica delimitada: matar alguém. E temos, ainda, uma con-
sequência relacionada a esse ato: a imposição de uma pena de reclusão de seis a vinte anos.
Por outro lado, os princípios são mais abstratos e não são definidores de condutas
específicas.
Quando a Constituição impõe ao Poder Público a observância do Princípio da Igualdade
– ou da Isonomia no Direito Tributário, não conseguimos, de plano, discernir uma única
situação normatizada, nem visualizar a consequência imediata para o seu descumprimento.
É por isso que os princípios são os chamados “mandados de otimização”, ou seja, 2
eles devem ser utilizados para se alcançar o grau ótimo de concretização da norma.
Também devido a essa abstração dos princípios, eles admitem um cumprimento parcial.
Diz-se que quando duas regras entram em conflito, o aplicador deve cumprir uma ou outra,
nunca as duas, pois uma regra exclui a outra.
Já quando dois princípios entram em conflito, dizemos que houve uma “colisão” de prin-
cípios (nunca uma contradição) e, dessa forma, ambos poderão ser cumpridos, embora em
graus diferentes de cumprimento.
Estuda-se então o caso concreto, e descobre-se qual o princípio que irá prevalecer sobre
o outro, sem que um deles seja totalmente excluído do sistema.
Os princípios tributários podem estar expressos na Constituição (Princípio da
Igualdade, Princípio da Uniformidade Geográfica, Princípio da Anterioridade Tributária...) ou
podem estar implícitos no texto constitucional.
Os princípios implícitos decorrem de normas expressas do texto e dos regimes expressa-
mente adotados pela Constituição, ou então devido a direcionamentos do Direito Constitucio-
nal. Por exemplo, Princípio da Razoabilidade, Princípio da Proporcionalidade.
Essas noções são bastante complexas e a nossa intenção aqui foi apenas resumir para
você de forma que, na prova, resolver as questões desse tema seja mais tranquilo.
Mas não se preocupe muito com essa parte doutrinária do Direito Tributário. Aqui, o que
mais se cobra são as características dos Princípios Tributários que passaremos a expor
a seguir.
O Princípio da Legalidade está previsto no inc. I, art. 150, CF/88, e estabelece que os
tributos somente podem ser instituídos ou aumentados por meio de lei:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.
Isso quer dizer que os entes da federação só podem criar ou aumentar os seus
tributos por meio de lei.
Na definição de tributo constante no art. 3º do CTN, e já estudado em nosso curso, foi visto
que ele (o tributo) somente pode ser instituído por meio de lei, em harmonia com o
previsto no texto constitucional.
O art. 97 do CTN prevê que além da instituição e do aumento, outras peculiaridades do tri- 3
buto devem ser objeto de lei:
Nos termos dos dispositivos já estudados nesta aula, a instituição, a majoração, e algumas
características dos tributos devem ser previstas em lei.
Ocorre que o legislador constituinte exige a edição de lei complementar para tratar
de determinados temas de Direito Tributário.
Lembre-se de que se o legislador constituinte não exigir a edição de lei complementar para
instituição/majoração tributo de sua competência, é possível instituí-lo e majorá-lo por inter-
médio de lei ordinária, ou até mesmo de medida provisória.
No entanto, se ele exigir a edição de lei complementar para tratar de determinada
matéria, deve-se seguir o rito especial dessa espécie, pois o seu quórum de aprovação é
mais exigente. A CF/88, art. 62, § 1º, inc. III destaca ainda que nos casos em que se exige
lei complementar, é vedada a edição de medida provisória.
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provi-
sórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: 6
III – reservada a lei complementar.
Conforme o inc. I desse artigo, caso haja conflito quanto à competência para tratar de de-
terminado tributo, esse deve ser disposto por meio de lei complementar.
Quanto ao inc. II, destaca o legislador constituinte que as limitações ao Poder de Tributar
devem ser reguladas por meio de lei complementar, ou seja, é a lei complementar que deve
dispor sobre imunidades e princípios.
Já a alínea “a”, inc. III desse artigo, afirma que lei complementar deve estabelecer
normas gerais em matéria tributária e destaca que os seguintes assuntos devem ser objeto
dessa espécie normativa:
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Lembre-se de que o art. 97 do CTN exige edição de lei para previsão desses temas, mas
não faz ressalvas quanto à edição de LC.
Como prevalece a previsão constitucional, tenha em mente que, no que se refere aos
impostos, os fatos geradores, a base de cálculo e os contribuintes devem ser previstos
por meio de lei complementar.
Quanto às demais espécies tributárias, o legislador constituinte não fez essa imposição, e,
por isso, basta lei ordinária ou medida provisória.
Ainda tratando do inc. III do art. 146 da CF, devem ser objeto de lei complementar:
Além disso, como já visto, as seguintes espécies tributárias devem ser instituídas e
majoradas por meio de lei complementar:
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Quanto ao ICMS, a CF, art. 155, § 2º, inc. II afirma que cabe à lei complementar:
Quanto ao ITCMD, a CF/88, art. 155, §1º, III destaca que lei complementar deverá regular 9
exigência de ITCMD nos seguintes casos:
• se o doador tiver domicílio ou residência no exterior;
• se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário
processado no exterior.
Quanto ao ISSQN, o §3º do art. 156 da CF/88 prevê que cabe à lei complementar:
• fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;
• excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior; e
• regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão
concedidos e revogados.
Nesse sentido, a majoração do II, IE, IPI e IOF pode se dar por Decreto do Poder
Executivo. Para uma melhor compreensão, recorde-se das classificações já estudadas
quanto aos tributos extrafiscais, que são utilizados pelo Poder Público para regular situações
econômicas. Tendo em vista que o II, IE, IPI e IOF são classificados como tributos
extrafiscais, o legislador constituinte concedeu ao Poder Executivo a possibilidade de
aumentar/diminuir as suas alíquotas quando for importante incentivar ou desestimular
determinadas operações, que repercutam na situação econômica/social do país, sem
interferência do Poder Legislativo.
O § 4º do art. 177 da CF/88 também prevê exceção ao Princípio da Legalidade,
autorizando que a redução e o restabelecimento da alíquota da CIDE-Combustível
sejam determinados pelo Poder Executivo:
§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de im-
portação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool com-
bustível deverá atender aos seguintes requisitos: (Incluído pela Emenda Constitucional n. 33, de
2001)
I – a alíquota da contribuição poderá ser: (Incluído pela Emenda Constitucional n. 33, de 2001) 10
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art.
150, III, b; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 33, de 2001)
Outra hipótese de exceção a esse princípio é relativa ao ICMS, conforme análise dos se-
guintes dispositivos: alínea “h” inc. XII, § 2º, art. 155 e inc. IV, § 4º, art. 155 da CF/88.
Por fim, preste atenção que o Princípio da Legalidade somente pode ser afastado no que
se refere à alteração das alíquotas dos tributos mencionados.
Em resumo, quanto aos tributos que representam exceções ao Princípio da Legalidade, a
sua instituição e a sua extinção devem ser determinadas por meio de lei, enquanto a sua
majoração e a sua redução podem ser implementadas por meio de Decreto do Poder
Executivo.
2. Princípio da isonomia 11
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, inde-
pendentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.
A igualdade deve ser na lei (por intermédio da lei) e perante a lei. No primeiro caso, afir-
ma-se que é o legislador que deve respeitar o Princípio da Igualdade no momento da edição
de comandos normativos, e no segundo caso, afirma-se que são os aplicadores da lei, Poder
Executivo e Poder Judiciário, que devem observá-lo.
Por exemplo, a incidência de IR sobre a renda auferida por traficante de drogas com a
venda de entorpecentes decorre desse princípio.
Afinal, seria injusto tributar o trabalhador honesto e o meliante não ter essa obrigação.
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a
capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para
conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos
da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.
Para compreender melhor a redação do § 1º do art. 145 da CF/88, tendo em vista a ne-
cessidade de observar a realidade fática e jurídica do contribuinte para tributá-lo, imaginemos
como se dá o cálculo do Imposto sobre a Renda – IR.
O IR é um imposto pessoal que se sujeita a deduções legais, a depender das
características pessoais do contribuinte, e pode ser calculado mediante aplicação de
alíquotas diferentes ou não, conforme a sua base tributável.
Por exemplo, duas pessoas que aufiram renda de R$ 6.000,00 podem pagar valores
diferentes de IR, conforme suas realidades.
Se o contribuinte “A” tiver mais gastos com saúde, esses valores serão deduzidos da sua
renda, ocasionando uma base de cálculo de IR menor, e, consequentemente, ele pagará
menos IR do que o contribuinte “B” que não tiver gastos com a saúde.
Embora recebam rendas equivalentes, essas deduções podem acarretar a aplicação de
uma alíquota menor para o contribuinte “A”, caso ele se encaixe numa faixa de tributação
menor do que R$ 4.664,68, em 2020, conforme esta tabela:
I Progressividade
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a
capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para
conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos
da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.
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Por meio desse dispositivo, identifica-se a capacidade econômica dos contribuintes por
meio do exame do seu patrimônio, dos seus rendimentos e das suas atividades econômicas,
que serão considerados para se determinar a apuração do tributo devido.
Nesse sentido, diante de uma análise literal, concluímos que o Princípio da Capacidade
Contributiva seria aplicado somente aos impostos pessoais, não sendo possível utilizá-lo
como base para graduar os impostos reais – IPTU e IPVA, por exemplo.
No entanto, como já mencionado, o STF concluiu que esse princípio é aplicável a todos
os tributos (RE 406.955/2010), o que inclui, obviamente, os impostos reais.
Por essa razão, é admitida a aplicação de alíquotas progressivas aos impostos reais,
com o intuito de concretizar o Princípio da Isonomia.
Ocorre que, segundo jurisprudência pátria, a progressividade inerente aos impostos
reais, que desconsideram as características pessoais do contribuinte e levam em
consideração somente o bem, deve decorrer de expressa previsão no texto constitucional.
Apesar disso, atente-se ao fato de que o STF afastou essa exigência no que se refere ao
ITCD, como você verá ainda nesse tópico.
II IR e a Progressividade
Quando se fala de imposto real, geralmente o critério que ajuda a realizar o Princípio da
Isonomia é o critério da seletividade. Bens supérfluos, como pedras preciosas, sofreriam uma
incidência mais gravosa do que gêneros alimentícios de primeira necessidade.
Diante da oneração de bem mais supérfluo, observa-se a intenção do legislador
constituinte de aplicar o Princípio da Capacidade Contributiva aos impostos reais.
Entretanto, com a redação do texto da Constituição, não se pode afirmar que os
impostos reais estão sujeitos ao Princípio da Capacidade Contributiva, e muito menos
ao critério da progressividade.
Tanto é que esse assunto já levantou discussões que foram parar no STF, como já men-
cionado, vigendo hoje em nosso sistema jurídico o entendimento de que é possível que um
imposto real seja progressivo, desde que a Constituição faça tal previsão de forma
expressa.
Vamos ver os impostos reais que são progressivos.
ITR e Progressividade
IPTU e Progressividade
Segundo esses dispositivos, o IPTU pode ser progressivo por duas razões:
• O IPTU poderá ser progressivo em razão do valor venal do imóvel (progressividade
fiscal);
• Caso não seja promovido o adequado tratamento de solo urbano não edificado, subuti-
lizado ou não utilizado, o IPTU será progressivo no tempo (progressividade extrafiscal).
A primeira hipótese foi inserida no texto constitucional em 2000, por meio da Emenda
Constitucional n. 29, enquanto a segunda hipótese já existe no nosso ordenamento jurídico-tri-
butário desde a publicação original da CF/88.
Com efeito, o IPTU progressivo em razão do valor venal do imóvel só pôde ser
exigido após o ano de 2000.
Em contrapartida, o IPTU incidente sobre propriedade improdutiva, a fim de
estimular o cumprimento da função social da propriedade, pode se sujeitar à alíquota
progressiva antes mesmo da edição dessa emenda, pois desde sua edição original a
Constituição já previu essa hipótese de IPTU progressivo.
Nesse sentido, veja a redação da Súmula 668 do STF:
Súmula n. 668
É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da EC 29/2000, alíquo-
tas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função
social da propriedade urbana.
No caso citado, o Poder Público fixou diversos critérios para apuração da base de cálculo,
em função do tipo de construção (simples, luxuosa), por exemplo.
Segundo o STF, esse escalonamento da base de cálculo, em atenção aos critérios
legais, é um meio hábil para concretizar o Princípio da Capacidade Contributiva, como
ocorre com a aplicação de alíquotas progressivas.
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ITBI e Progressividade
Súmula n. 656
É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas para o imposto de trans-
missão inter vivos de bens imóveis – ITBI com base no valor venal do imóvel.
ITCD e Progressividade
Preste atenção: em que pese isso, atualmente as súmulas trazidas na aula ainda estão
em plena validade e não foram canceladas.
Para fins de prova, a posição a ser adotada é a da literalidade das súmulas, e a que
considera necessária a autorização constitucional expressa para a adoção da
progressividade em impostos reais, salvo para o ITCD.
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Art. 146-A. Lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo
de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de a União, por lei,
estabelecer normas de igual objetivo.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas di-
ferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada a adoção de
bases de cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas “b” e “c” do inciso I do caput. (Redação
dada pela Emenda Constitucional n. 103, de 2019)
Com base nesse dispositivo, o STF reconheceu que a sobrecarga tributária
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imposta aos bancos e às entidades financeiras é constitucional e não fere o Princípio da Isonomia
(AC 1.109 MC/SP).
Outro tema relevante diz respeito à proibição de importação de carros usados no
Brasil. Segundo o STF, essa proibição é constitucional e não fere o Princípio da Isonomia
(RE 215.228/CE).
Sobre o IPVA, o legislador constituinte autoriza a imputação de alíquotas distintas,
conforme o tipo e utilização do automóvel, representando esse mais um mecanismo para
implementação de uma tributação isonômica no país:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
III – propriedade de veículos automotores.
§ 6º O imposto previsto no inciso III:
II – poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização.
Art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financei-
ras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver proces-
so administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.
Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que se refere este
artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação tributária.
Segundo o STF (RE 601.314/SP), esse dispositivo “não ofende o direito ao sigilo
bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da
capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de
sigilo da esfera bancária para a fiscal.”
Nesse sentido, basta a existência de processo administrativo ou procedimento fiscal em
curso, para que o fisco tenha acesso às informações do contribuinte perante o banco, não
sendo preciso pleitear autorização judicial para tanto.
Os Princípios da Não Surpresa, previstos nas alíneas “a”, “b”, “c”, inc. III, art. 150 da
CF/88, representam a garantia ao contribuinte de que ele não será surpreendido com a
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cobrança de um tributo, em atenção ao Princípio Constitucional da Segurança Jurídica.
Segundo o texto constitucional, o Princípio da Não Surpresa desdobra-se nos seguintes
princípios:
O Princípio da Irretroatividade está previsto na alínea “a”, inc. III, art. 150, CF/88:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III – cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído
ou aumentado.
Por meio dessa previsão, o legislador constituinte garante que o contribuinte só seja
obrigado a pagar tributos relativos a fatos geradores que forem praticados após a
vigência da lei que os instituir ou os aumentar.
Esse dispositivo está em conformidade com o inc. XXXVI, art. 5º, CF/88, que dispõe que “a
lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.
Portanto, assegura-se que a previsão legal de instituição ou majoração de tributos não
alcance fatos passados.
Essa garantia está presente também na redação do CTN. Veja:
Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pen-
dentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa nos
termos do artigo 116.
Outro dispositivo do CTN que permite a aplicação retroativa da norma tributária é o art.
144, que trata do lançamento.
O lançamento ainda será objeto de estudo do nosso curso, mas saiba que ele representa
o ato administrativo que constitui o crédito tributário.
Na ocasião do lançamento, para exame da situação fática e para quantificação do tributo,
utiliza-se a lei vigente na data do fato gerador.
No entanto, o §1º autoriza que, após esse evento, seja aplicável a ele nova norma
que tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado
os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito
maiores garantias ou privilégios.
Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela
lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.
§ 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato gerador da
obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os
poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garan-
tias ou privilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária
a terceiros.
Lei que institui ou majora o tributo deve ter efeito prospectivo (para o futuro), em atenção
ao Princípio da Irretroatividade, e deve respeitar os princípios da Anterioridade Anual e da
Anterioridade Nonagesimal.
O Princípio da Anterioridade Anual está previsto na alínea “b” do inc. III do art. 150 da
CF/88, e diz respeito à determinação de que o ente político somente pode cobrar o tributo
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no exercício financeiro seguinte àquele em que for publicada a lei que o criar ou o
aumentar.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III – cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou.
Isso quer dizer, por exemplo, que se um município instituir o ISS por meio de lei publicada
em 1º de julho de 2020, somente poderá cobrá-lo em 2021.
Há questões que afirmam que deve ser observado o Princípio da Anualidade para institui-
ção e majoração de tributos, o que está errado.
O Princípio da Anualidade não se confunde com o Princípio da Anterioridade Anual, e não
é mais aplicável ao Direito Tributário. Esse princípio previa que o tributo só poderia ser
cobrado se tivesse sido previsto na lei orçamentária aprovada no ano anterior à sua
exigência.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III – cobrar tributos:
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b.
Nesse sentido, deve haver um intervalo de pelo menos 90 (noventa) dias entre a data da
publicação da lei e da sua respectiva cobrança.
Visualize a instituição ou o aumento do ISS. Caso lei municipal que institua ou aumente
esse imposto tivesse sido publicada em 1º de julho de 2019, a sua cobrança somente poderia
ter sido feita a partir de 29 de setembro de 2019, 90 (noventa) dias após a referida
publicação. Ocorre que considerar que o citado imposto poderia ser cobrado em 30.09.2019
contrariaria o Princípio da Anterioridade Anual.
Tanto é assim que a parte final da alínea “c” informa que é necessária a observância do
Princípio da Anterioridade Anual (alínea “b”) no momento da aplicação do Princípio da
Noventena. Assim, a data que o Município poderia cobrar efetivamente o imposto seria
01.01.2020, pois essa é a data mais benéfica ao contribuinte e observa as duas vertentes do
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princípio em apreço.
Art. 150, §1º. A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I,
II, IV e V; e 154, II.
Art. 177, §4º. A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às ativi-
dades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados
e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos:
I – a alíquota da contribuição poderá ser:
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art.
150, III, b.
Art. 150, § 1º E a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153,
I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e
156, I.
Conforme esse dispositivo, se a lei que aumenta ou institui um dos tributos mencionados
for publicada em dezembro de 2020, por exemplo, o ente já poderá cobrá-lo em 1º de janeiro
de 2021, tendo em vista que não é necessária a observância do prazo de 90 dias.
Repare que se a questão afirmar que o prazo relativo ao Princípio da Noventena é de
3 meses, a questão estará errada. E se a questão trouxer datas e pedir para contar o prazo
e você contá-lo como 3 meses, você errará a determinação da data correta para efetiva e
constitucional cobrança do tributo. Lembre-se de que o prazo é de 90 (noventa) dias.
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Segue tabela com as exceções ao Princípio da Anterioridade Nonagesimal:
Esses tributos são extrafiscais, e, como já visto em nosso curso, eles são utilizados pelo
governo com o intuito de regular a economia, incentivando ou desestimulando determinadas
ações dos contribuintes, o que faz sentido ter o legislador constituinte autorizado que sua co-
brança se dê de forma imediata.
Súmula Vinculante n. 50
Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao
princípio da anterioridade.
No que se refere à lei que revogar ou reduzir benefício fiscal, há uma certa controvérsia no
âmbito do STF.
Nos casos de concessão de benefício fiscal, parte-se do pressuposto de que o tributo já es-
taria instituído, e, consequentemente, não haveria razão para o contribuinte se adaptar à
nova situação em caso de revogação ou redução desse benefício.
Por isso, o Tribunal Maior entendia que no caso de revogação de isenção não onerosa,
não haveria necessidade de respeito ao Princípio da Anterioridade, podendo a respectiva lei
revogadora do benefício ser aplicável de imediato após a sua publicação.
Inobstante essa posição, em 2014, o STF, em julgado que tratava da revogação de uma
norma concessiva de outra espécie de benefício fiscal (redução de base de cálculo), entendeu
de forma diferente.
Ao julgar o Recurso Extraordinário 564.225, a Corte Maior decidiu que tal alteração no
aspecto quantitativo do tributo gerava ônus para o contribuinte, sendo necessário,
nesse ponto, observar os Princípios da Anterioridade Anual e da Anterioridade
Nonagesimal.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – utilizar tributo com efeito de confisco.
Em que pese tenhamos visto que o STF destaca como limite multas de 100% e 20%,
respectivamente, no que se refere à multa por punição e à multa por atraso, a Lei n.
9.430/1996 prevê que, nos casos de fraude, sonegação e conluio, a multa pode chegar até a
150% sobre a totalidade ou diferença do tributo não recolhido, não declarado ou declarado
de forma incorreta.
Art. 44, Lei 9.430/96. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas:
I – de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou con-
tribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de
declaração inexata.
§ 1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos
casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964,
independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis.
Art. 71, Lei 4.502/64. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar,
total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária:
I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias
materiais;
II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou
o crédito tributário correspondente.
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Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a
ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas caracterís-
ticas essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento.
Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qual-
quer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72.
Essa é uma multa de ofício cobrada pela Fazenda Pública em razão do descumprimento
de obrigação acessória. Tal multa, prevista no §1º do art. 44 da Lei n. 9.430/1996, é conhecida
como multa qualificada.
O seu percentual, com base na norma vigente, pode chegar a 150%, ultrapassando,
nesse sentido, a porcentagem de 100% relativa à multa punitiva, em contrariedade à
jurisprudência majoritária da Suprema Corte.
Sobre esse tema, o STF está prestes a se manifestar quanto à constitucionalidade ou in-
constitucionalidade dessa multa, por meio do julgamento do RE 640.452, na sistemática de
repercussão geral.
No âmbito administrativo, o nosso tribunal federal, o CARF, diverge sobre o tema, mas,
em razão do comportamento delitivo do contribuinte e da previsão legal, tem aplicado a multa
de 150% nos casos em que há comprovada fraude, por exemplo.
Para a sua prova é interessante que você tenha em mente que há Fazendas Públicas
que aplicam multas aparentemente confiscatórias com percentuais acima de 100%, em
atenção às normas vigentes. No entanto, esse tema ainda será decidido pelo STF.
Ademais, vamos ver agora um tema, que embora não costume ser cobrado em provas de
concurso, já foi exigido pela Esaf.
Os tributos incidem sobre o patrimônio e sobre a sua transmissão. Numa perspectiva
estática, constata-se a tributação do patrimônio, enquanto numa perspectiva dinâmica,
tributa-se a sua movimentação (transmissão patrimonial).
Considerando o primeiro caso, se o tributo que incidir sobre a propriedade tiver uma alíquo-
ta exorbitante, ele será considerado confiscatório sob uma perspectiva estática.
Já o segundo caso, no que se refere aos tributos incidentes sobre movimentação e transmis-
são patrimonial, eles podem ter seus efeitos reconhecidamente confiscatórios sob uma pers-
pectiva dinâmica, podendo prejudicar a operação que se sujeite a essa tributação excessiva.
Apesar dessa proibição, a Carta Magna afirma admitir cobrança de pedágio pela utilização
das vias conservadas pelo Poder Público.
O STF, após longos e intensos debates, reconheceu que o pedágio tem natureza jurídica
de tarifa/preço público. Não sendo ele um tributo, não há por que se falar, portanto, que o
pedágio é uma exceção a esse princípio.
No entanto, em sua prova, caso cobrada a literalidade desse dispositivo, deve ser
considerada como correta.
A título de conhecimento, o pedágio cobrado, hoje, por concessionária ou permissionária, com o
intuito de manter conservado determinado trecho da estrada, foi reconhecido como tarifa pelo STF.
Esse pedágio difere-se do antigo “selo-pedágio” (RE 181.475/RS), que teve a sua natureza
jurídica de taxa reconhecida pelo STF. Ele era cobrado por todos que utilizassem rodovias fe-
derais, independentemente da frequência, enquanto o atual pedágio somente é exigido
quando há efetivo uso de via mantida pelo Poder Público.
Como não era possível a identificação da divisibilidade e da especificidade inerente à taxa
cobrada como “selo-pedágio”, majoritariamente, a doutrina e a jurisprudência concluíram pela
sua inconstitucionalidade.
De qualquer forma, se o examinador fizer questionamentos sobre o pedágio, mas não
fizer menção expressa ao “selo-pedágio”, você deve considerá-lo como preço público/tarifa.
Além disso, é possível a cobrança de ICMS em decorrência de circulação de bens e
de prestação de determinados serviços de um estado para outro estado ou até de um
município para outro. Tal hipótese é admitida, pois tem previsão no texto constitucional.
Esse princípio está previsto no inc. I, art. 151, CF/88 e atende ao objetivo fundamental da
república descrito no inc. III, art. 3º, CF/88:
Por meio da redação da segunda parte do inc. I do art. 151, o legislador constituinte reconhece
as diferenças sociais e econômicas entre as diversas regiões do país, e autoriza que sejam con-
cedidos incentivos fiscais às regiões menos favorecidas, a fim de tentar equiparar a situação dos
contribuintes da região menos favorecida àqueles que se situam nas regiões mais desenvolvidas.
O referido princípio está em sintonia com o Princípio da Isonomia, no intuito de buscar uma
cobrança tributária justa para todos.
Entretanto, há quem questione determinados incentivos e alegue afronta ao referido princí-
pio, pleiteando judicialmente a concessão de determinado benefício a pessoas que não foram
diretamente beneficiadas pela lei que concede o incentivo.
No entanto, os beneficiários devem ser somente os que constam na lei, não podendo o
Poder Judiciário, por exemplo, “estender isenção a contribuintes não contemplados pela lei, a
título de isonomia”, nos termos do julgamento do RE 344.331 pelo STF.
Este é mais um princípio decorrente da aplicação do Princípio da Isonomia e que visa ga-
rantir que a União não se beneficie em detrimento dos outros entes federativos (estados/mu-
nicípios/DF), e está previsto no inc. II do art. 151 da CF/88:
Art. 151. É vedado à União:
II – tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis
superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes.
Segundo esse dispositivo, a União não pode tributar de forma mais gravosa:
• as rendas das obrigações dos títulos da dívida pública dos estados, do DF e dos municípios; e
• a remuneração e os proventos recebidos pelos agentes públicos estaduais/distritais/
municipais.
No que se refere à primeira hipótese, saiba que os títulos da dívida pública são títulos emiti-
dos pelo governo como forma de captar recursos, e compreende-se que quem os adquire está
emprestando a quantia ao governo, que o devolverá com juros.
As pessoas compram esses títulos como investimento, sendo objeto do princípio em estu-
do os juros decorrentes dele, que são pagos aos adquirentes no momento da quitação.
Com efeito, a União não pode aplicar sobre o rendimento dos títulos dos estados, dos
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municípios e do DF uma alíquota de Imposto de Renda superior àquela aplicável aos
rendimentos dos seus títulos.
Se as rendas advindas dos títulos da União se submetessem a uma tributação mais
vantajosa, as pessoas optariam por adquiri-los em detrimento dos títulos dos outros entes.
Quanto à segunda hipótese, essa proíbe que a União cobre um Imposto de Renda mais
gravoso sobre a renda e sobre os proventos dos servidores públicos estaduais, distritais e mu-
nicipais do que o que cobra de seus servidores.
A isenção é hipótese de exclusão do crédito tributário, que será estudada mais adiante em
nosso curso.
Nesta aula, basta termos a compreensão de que a isenção é um benefício concedido
pelo ente tributante, por meio de lei, que dispensa o devedor tributário do pagamento
de tributo de sua competência.
Por exemplo, o ITCD é tributo de competência estadual, e, por isso, somente o estado
que o instituir poderá editar lei prevendo as suas hipóteses de isenção. Esse é um exemplo de
isenção autônoma, pois o ente que tributa, isenta.
Por meio do inc. III do art. 151 da CF/88, o legislador constituinte previu o Princípio
da Vedação às Isenções Heterônomas, o qual proíbe a União de conceder isenção de
tributo distrital, estadual ou municipal:
Embora esse dispositivo vede somente à União instituir tributos que não sejam de sua com-
petência, compreende-se que os estados também estão proibidos de editar lei isentando tributos
de competência municipal, em respeito ao pacto federativo e à autonomia de cada ente político.
Contudo, esse princípio comporta exceções, autorizadas pelo legislador constituinte.
Por meio da alínea “e”, inc. XII, § 2º, art. 155, a seguir reproduzida, poder-se-ia admitir que a
União, mediante lei complementar, excluísse ICMS nas exportações.
Como a referida lei complementar só pode ser editada pela União, e o ICMS é imposto es-
tadual, estaríamos diante de um caso de isenção heterônoma.
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II – operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem
no exterior;
XII – cabe à lei complementar:
a) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e outros produtos além
dos mencionados no inciso X, “a”
Diante da análise desse dispositivo, poderíamos concluir que a União pode isentar os
estados de ICMS por intermédio de lei complementar, no caso das exportações.
No entanto, em 2003, por meio da Emenda Constitucional n. 42, foi inserido na Constituição
dispositivo que afirma que não incide ICMS:
Sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a desti-
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natários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobra-
do nas operações e prestações anteriores. (CF/88, art. 155, § 2º, X, “a”)
Mais uma hipótese de exceção ao Princípio da Vedação a Isenção Heterônoma, não pre-
vista expressamente na Constituição, diz respeito a tratados internacionais que concedem
isenção de tributos estaduais e municipais.
Considerando que a União, ao celebrar o tratado internacional desonerando tributos esta-
duais e municipais não atua como pessoa jurídica de direito público interno, mas como pessoa
jurídica de direito internacional público, o STF entende que não se trata de isenção
heterônoma, muito menos de exceção a esse princípio.
Nesse sentido, nos autos da ADI 1.600/UF, a Suprema Corte concluiu que o art. 151 da
CF/88 se aplica aos entes federativos, o que “não tem por objeto a União quando esta se
apresenta na ordem externa”.
No caso em que o Presidente da República assina o tratado internacional que desonera
tributos estaduais e municipais, ele age como Chefe de Estado, em atenção à soberania
inerente à República Federativa do Brasil, e não como Chefe de Governo.
Se ele agisse como Chefe de Governo, aí sim, estaria atuando em atenção à autonomia
que é inerente à União, como ente político, e invadindo a competência do outro ente:
Esse julgamento, além de expor o já afirmado, nos remete a um caso clássico em que
o Estado Federal, por meio do Chefe de Estado, isentou tributos estaduais.
A título de conhecimento, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on
Tariffs and Trade – GATT), mencionado no julgamento, é um tratado internacional multila-
teral de comércio, do qual o Brasil é signatário.
As operações realizadas entre os países signatários se sujeitam a determinados prin-
cípios. Dentre eles, o Princípio do Tratamento Nacional, o qual garante tratar o produto
importado de forma similar ao produto nacional, para não prejudicar a competição entre
esses produtos.
Com base nesse princípio, o STF proferiu a decisão transcrita, reconhecendo a consti-
tucionalidade de concessão de isenção de ICMS pelo Estado Federal a mercadorias impor-
tadas de países signatários.
Art. 20, § 2º A União, mediante lei complementar, atendendo, a relevante interesse social ou econô-
mico nacional, poderá conceder isenções de impostos federais, estaduais e municipais.
Como já explicado, nossa Constituição atual não admite mais essa possibilidade.
9. Princípio da não discriminação baseada em Procedência e destino 38
O pacto federativo assegura autonomia aos entes políticos, e que seja conferido tratamen-
to isonômico entre eles. Assim, veda-se o favorecimento de um ente federativo em detrimen-
to de outro.
As atividades econômicas não podem ser prejudicadas ou favorecidas em razão de con-
tratações e aquisições oriundas de determinadas unidades federadas, bem como em razão da
destinação de determinados bens e serviços a determinados bens.
Em outras palavras, é vedado que os estados, o DF e os municípios tributem de
forma distinta bens, produtos ou serviços, em razão da sua procedência ou do seu
destino.
Por exemplo, o estado do Rio de Janeiro não pode aplicar às operações oriundas do
estado de Minas Gerais uma alíquota de ICMS superior do que aquela aplicável nas
operações advindas do estado de Mato Grosso.
Essa situação não se confunde com as hipóteses em que são aplicadas alíquotas
interestaduais de ICMS menores nas operações que destinem produtos para as regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A garantia de que a tributação não se diferenciará em razão da procedência e do destino
de um bem/serviço se dá com base no Princípio da Não Discriminação em razão da sua Pro-
cedência e Destino, previsto no art. 152 da CF/88:
Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária
entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.