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DIREITO TRIBUTÁRIO

Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar – Princípios Tributários II


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LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR


PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS II

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

CF/1988
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem discutido acerca da chamada


legalidade suficiente. Nesse sentido, o Supremo tem entendido que a legalidade estrita tem
cedido espaço a uma legalidade necessária, ou seja, aquela que está relacionada com o
cumprimento apenas do que for necessário.
A ideia básica do princípio da legalidade é que somente o povo pode autorizar a sua pró-
pria tributação. Por conta disso, com base na atual jurisprudência do Supremo, é possível
que, em alguns casos, a lei estabeleça o máximo dessa tributação. Caso seja necessário
ultrapassar esse patamar, então será necessário elaborar outra lei. Assim, o órgão adminis-
trativo, dentro do teto estabelecido pelo povo, irá dizer o exato valor do tributo.
5m
Um exemplo de órgão não pertencente ao Legislativo com competência para alterar tri-
butos é o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). A lei que prevê a Taxa de
Anotação de Responsabilidade Técnica, que é bastante antiga, não prevê o exato valor da
taxa para cada caso.
Nesse caso, como a fiscalização é feita pelo próprio CREA, com base em seu poder de
política, é o próprio Conselho que tem maior noção dos custos envolvidos para a realização
da atividade fiscalizatória. Logo, o mais adequado é que o regulamento tenha o poder de,
autorizado pela lei, fixar o valor da taxa, isso dentro dos limites estipulados pela lei.
Tal caso é ilustrado a seguir.

A legalidade “suficiente”
Lei n. 6.994/1982
Art. 2º Cabe às entidades referidas no art. 1º desta Lei a fixação dos valores das taxas corres-
pondentes aos seus serviços relativos e atos indispensáveis ao exercício da profissão, restritas
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aos abaixo discriminados e observados os seguintes limites máximos:


(...)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às taxas referentes à Anotação de Res-
ponsabilidade Técnica – ART, criada pela Lei n. 6.496, de 7 de dezembro de 1977, as quais
poderão ser fixadas observado o limite máximo de 5 MVR.

É importante perceber que havia um limite estipulado na lei, que era até cinco MVR.
10m
Vale lembrar que a Lei n. 6.994/1982 chegou a ser revogada, contudo, a lei que a revogou
foi considerada inconstitucional, o que ensejou a repristinação da Lei n. 6.994/1982. Assim, a
polêmica durou até o advento da Lei n. 12.514/2011, que trouxe a seguinte disposição:

Art. 11. O valor da Taxa de Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, prevista na Lei n. 6.496,
de 7 de dezembro de 1977, não poderá ultrapassar R$ 150,00 (cento e cinquenta reais).

A discussão continuou em relação à possibilidade prevista na Lei n. 6.994/1982, assim,


decidiu o Supremo:

STF – RE 838284 / SC (Tema 829)


1. Na jurisprudência atual da Corte, o princípio da reserva de lei não é absoluto. Caminha-
-se para uma legalidade suficiente, sendo que sua maior ou menor abertura depende da
natureza e da estrutura do tributo a que se aplica. No tocante às taxas cobradas em razão
do exercício do poder de polícia, por força da ausência de exauriente e minuciosa definição
legal dos serviços compreendidos, admite-se o especial diálogo da lei com os regulamentos
na fixação do aspecto quantitativo da regra matriz de incidência.

Esse aspecto quantitativo a que o Supremo se refere ao consequente da regra matriz


de incidência, que é “pagar tributo”. O aspecto quantitativo tem relação com alíquota e base
de cálculo. Assim, no caso em tela, a lei deu poder ao Conselho para fixar o valor da taxa,
pois, como é o responsável pela realização das atividades que envolvem o poder de política,
o Conselho tem mais condições que o Poder Legislativo de estipular o valor da taxa para
cada caso.
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É importante perceber que o Supremo aceitou essa espécie de “delegação” para a ela-
boração de regulamentos, pois, no caso narrado, a lei fixou o teto para a cobrança dessas
taxas. Para que isso ocorra, não se pode deixar os valores em aberto.
15m
Com base no julgado acima, o Supremo fixou a seguinte tese: “Não viola a legalidade
tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita ao ato normativo infralegal fixar o valor de
taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser
atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de
correção monetária legalmente previstos”.

A legalidade “insuficiente”
Em um caso que teve como base as anuidades pagas aos conselhos que fiscalizam o
exercício de profissões (exceto a OAB), o Supremo teve um entendimento contrário ao que
foi disposto acima, pois tais anuidades são consideradas tributos da espécie de contribuições
de interesse de categorias profissionais e econômicas.
Quanto a essas anuidades, dispõe a Lei n. 11.000/2004:

Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar, cobrar


e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas
e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas pró-
prias de cada Conselho.

Para que a legalidade trazida pelo dispositivo acima fosse considerada “suficiente”, ela
precisaria fixar o teto para essas contribuições anuais.
Ao julgar o RE 704.292/PR (Tema 540), acerca da Lei n. 11.000/2004, o STF fixou a
seguinte tese: “É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que
delega aos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de
fixar ou majorar, sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das catego-
rias profissionais e econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada,
ademais, a atualização desse valor pelos conselho sem percentual superior aos índices
legalmente previstos”.
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DEMAIS MATÉRIAS SUJEITAS À RESERVA LEGAL

O art. 97 do Código Tributário Nacional (CTN) dispõe sobre várias matérias submetidas à
reserva legal e se trata de um dispositivo de fácil entendimento.
Vale lembrar que a instituição de tributos depende da edição de uma lei, que deve conter
pelo menos quatro aspectos (informações):
20m
1. Dizer qual é o fato gerador do tributo;
2. Dizer quem é o sujeito ativo e o sujeito passivo;
3. Dizer qual é o valor do tributo a ser cobrado:
3.1. Alíquota; e
3.2. Base de cálculo.
Além disso, o art. 97 do CTN também irá se referir a outros dispositivos que estão presen-
tes na lei. Vale lembrar que a fixação de multa é algo que deve constar em lei.

CTN
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:
I – a instituição de tributos, ou a sua extinção;
II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I
do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;
IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos
21, 26, 39, 57 e 65;
V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para
outras infrações nela definidas;
VI – as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou
redução de penalidades.
§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em
torná-lo mais oneroso.

Quando não há um tributo fixo, o cálculo é feito multiplicando a alíquota pela base de
cálculo. Assim, essa previsão do § 1º do art. 97 tem o efeito de dispor que isso só pode ser
feito por lei.
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Obs.: é importante perceber a mudança de uma legislação que citava que a base de cálcu-
lo de um tributo era composta somente pelas receitas que a empresa obtém no exer-
cício de sua atividade-fim, para outra lei que passa a prever que o faturamento irá
compreender a totalidade das receitas e não apenas as operacionais, o que foi feito
é exatamente aquilo que o § 1º, do art. 97 do CTN equipara a majoração de tributos.
Nesse caso, há exigência de lei.

CTN
Art. 97. (...) § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste arti-
go, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

Vale lembrar que correção monetária não é considerada um aumento em si, logo, pode
ser realizada por ato infralegal. Isso é muito comum no caso do IPTU e, por conta disso, foi
elaborada a seguinte jurisprudência:

STJ, Súmula n. 160. É defeso, ao município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em per-
centual superior ao Índice oficial de correção monetária.

Assim, caso a atualização do IPTU seja em percentual superior ao índice oficial de corre-
ção monetária, estará configurado o aumento e, portanto, deve ser feita por lei.
30m

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Ricardo Alexandre de Almeida Santos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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