CONSIDERAÇÕES INICIAIS Antes de estudarmos os princípios constitucionais tributários, previstos no art. 150 da CF, analisaremos os princípios gerais do direito tributário. São eles: 1. Princípio da segurança jurídica; 2. Princípio da isonomia 3. Princípio da capacidade contributiva 4. Princípio da capacidade de colaboração 5. Princípio da praticabilidade da tributação. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA NA TRIBUTAÇÃO É um subprincípio decorrente do Princípio do Estado Democrático de Direito, a fim de evitar surpresas. Segundo o STF, trata-se de um sobreprincípio em matéria tributária, ou seja, servirá de alicerce para todo o Direito Tributário. CONTÉUDO .Certeza do direito Busca evitar excessos e abusos, já que matéria que não é tributada, por exemplo, não pode passar a ser do dia para noite. Decorrem da certeza do direito: • Princípio da legalidade; • Princípio da anterioridade; • Princípio da irretroatividade das leis tributárias. Intangibilidade das posições jurídicas É o respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido. Por exemplo, ao assinar um parcelamento de débito tributário, não pode o fisco querer cancelar, pois está abrangido por um ato jurídico perfeito. Estabilidade das situações jurídicas Significa que há tempo determinado para cobrar, para lançar o tributo, está ligada à prescrição e à decadência. Confiança no tráfico jurídico Significa o respeito à boa-fé, à lealdade. O art. 100 do CTN é um excelente exemplo deste conteúdo. Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo Devido processo legal A tributação deve respeitar o devido processo legal (ampla defesa, contraditório, vedação às provas ilícitas), tanto em seu enfoque formal quanto substantivo PRINCÍPIO DA ISONOMIA Significa igualdade em matéria tributária, nos termos do art. 150, II da CF. Art. 150 - II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. Manifestações da Isonomia Sua intenção é proibir diferenciações abusivas, os chamados privilégios odiosos. Contudo, é possível distinções razoáveis que respeitem a licitude, por exemplo, não são todas as pessoas que irão pagar IR, já que nem todas auferem renda. Também temos a distinção poderá ocorrer sob o enfoque da capacidade contributiva (quem ganha mais, paga mais) e para fim extrafiscal, com o objetivo de desestimular determinado comportamento (diminuir importação, por exemplo) Manifestações da Isonomia O mesmo ocorre com a propriedade, quando não se dá a função social, será possível a cobrança de IPTU progressivo, com a finalidade de desestimular o comportamento do proprietário (fim extrafiscal). O art. 146, III, b da CF permite tratamento diferente, por lei complementar, das micro e pequenas empresas, exemplo do princípio da isonomia. d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) Alguns entendimentos jurisprudenciais sobre a Isonomia Não é possível ao Judiciário estender isenção (alíquota do IPI diferenciada para os produtores de açúcar localizados nos Estados das regiões norte e nordeste, por exemplo) a contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia, visto que a concessão de tal benesse é ato discricionário, no qual o Poder Executivo implementa suas políticas fiscais, sociais e econômicas (RE 344.331-PR). O art. 108, §2º do CTN e o art. 111, II, do CTN, consagram este entendimento. Art. 108, § 2º O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido. Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: II - outorga de isenção; Alguns entendimentos jurisprudenciais sobre a Isonomia Isenção de taxa de inscrição em concurso público para desempregado (ADI 2672): constitucionalidade; • IR incidente sobre produtos financeiros resultantes de atividades criminosas (STF, HC n° 77.530-RS): possibilidade; Simples Nacional: vedação e isonomia - É constitucional a exigência contida no art. 17, V, da LC 123/2006. Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte: V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa Alguns entendimentos jurisprudenciais sobre a Isonomia É INCONSTITUCIONAL lei estadual que concede isenção de ICMS para operações de aquisição de automóveis por oficiais de justiça estaduais. STF, ADI N. 4.276-MT, RELATOR: MIN. LUIZ FUX EMENTA: (...) 3. A isonomia tributária (CF, art. 150, II) torna inválidas as distinções entre contribuintes “em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida”, máxime nas hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razoabilidade, engendra-se tratamento discriminatório em benefício da categoria dos oficiais de justiça estaduais. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (Informativo 755). Alguns entendimentos jurisprudenciais sobre a Isonomia É CONSTITUCIONAL a previsão legal de diferenciação de alíquotas em relação às contribuições previdenciárias incidentes sobre a folha de salários de instituições financeiras ou de entidades a elas legalmente equiparáveis, após a edição da EC 20/1998. Segundo entendeu o STF, não houve a instituição de nova modalidade de contribuição, mas apenas de majoração de alíquota. Em outras palavras, o § 1º do art. 22 não criou uma nova contribuição ou fonte de custeio para a Previdência. Ele apenas previu uma alíquota diferenciada para as instituições financeiras. Logo, não há qualquer inconstitucionalidade sob o ponto de vista formal. As instituições financeiras possuem maior capacidade produtiva, de forma que não há qualquer inconstitucionalidade na exigência de uma alíquota maior para que estas entidades contribuam para a manutenção do sistema de seguridade social. Dessa forma, não houve violação ao princípio da igualdade nem aos seus dois subprincípios: o da capacidade contributiva e o da equidade para manutenção do sistema de seguridade social. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA O Princípio da Capacidade Contributiva encontra-se previsto no art. 145, §1º da CF. Vejamos: Art. 145, § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. (IM) POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO
Conforme se observa pelo dispositivo legal, há menção apenas a impostos. Contudo, no
entender do STF, na medida do possível, tal princípio deve ser aplicado as demais espécies de tributo. IPVA. Progressividade. Todos os tributos submetem-se ao princípio da capacidade contributiva (precedentes), ao menos em relação a um de seus três aspectos (objetivo, subjetivo e proporcional), Independentemente de classificação extraída de critérios puramente econômicos (STF, RE 406.955- AgR). A Súmula 677 do STF que prevê um limite para o pagamento da taxa judiciária é clássico exemplo do princípio da capacidade contributiva. Vejamos: Súmula nº 667, STF: Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa. CONTEÚDO A capacidade contributiva é meio termo, ou seja, compreendida entre o mínimo existencial (vital para a sobrevivência) e o máximo (tributo com efeito confiscatório). É o que ocorre, por exemplo, com as alíquotas diferenciadas do IR. ASPECTOS Subjetivo – devem ser levadas em consideração as particularidades do contribuinte. b) Objetivo – é retratado nos signos presuntivos de riquezas, ou seja, presume- se a capacidade da pessoa para o pagamento de tributos pelos sinais de que dispõe patrimônio. Por exemplo, o dono de uma Ferrari, presumir-se-á sua capacidade para o pagamento de IR. Proporcional – razoabilidade da tributação, quando ultrapassada gera o caráter confiscatório. Súmula 539 do STF consolidada as explicações acima. Vejamos: Súmula nº 539, STF. É constitucional a lei do município que reduz o imposto predial urbano sobre imóvel ocupado pela residência do proprietário que não possua outro. CONCRETIZAÇÃO As formas de concretização do princípio da capacidade contributiva, são elas: imunidade, isenção, seletividade e progressividade. .Imunidades Significa a hipótese de não incidência tributária constitucionalmente qualificada. Será estudada em tópico próprio. O art. 5º, LXXVI da CF, através da imunidade, consagra o princípio da capacidade contributiva, pois garante a não incidência de taxa. Isenção É a dispensa legal do pagamento do tributo. É uma causa de exclusão do crédito tributário, nos termos do art. 175 do CTN. Art. 175. Excluem o crédito tributário: I - a isenção; II - a anistia. Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente. Por exemplo, lei que isenta a taxa de inscrição em concurso público para desempregados. Seletividade Quanto mais essencial for o produto ou o serviço menor deverá ser a tributação. Por isso, os produtos da cesta básica possuem tributação menor e o cigarro possui uma tributação maior. Art. 153, § 3º, CF. O imposto previsto no inciso IV: IPI I - será seletivo, em função da essencialidade do produto; OBRIGATÓRIO. Art. 155, § 2º, CF. O imposto previsto no inciso II (ICMS) atenderá ao seguinte: (...) III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços. FACULTATIVO Art. 155, § 6º, II, CF. O imposto previsto no inciso III (IPVA): (...) II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização Art. 156, § 1º, II, CF. § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o artigo 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I (IPTU) poderá: (...) II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel Progressividade Quanto maior for a base de cálculo maior será a alíquota aplicada. É o que ocorre, por exemplo, com o IR, o mesmo ocorre com o IPTU e com o ITR. Art. 156, § 1º, I, CF. Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o artigo 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; Art. 153, § 4º, I, CF. O imposto previsto no inciso VI do caput: I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas; Impostos reais e pessoais Já os impostos reais, também intitulados “impostos de natureza real”, são aqueles que levam em consideração a matéria tributária, isto é, o próprio bem ou coisa (res, em latim), sem cogitar das condições pessoais do contribuinte (exemplos: IPI, ICMS, IPTU, IPVA, ITR, IOF etc. O exemplo clássico de um imposto pessoal é o imposto de renda. A diferença pode parecer firula teórica, mas afeta diretamente o bolso de todos nós. Enquanto no imposto real o governo olha o valor do bem possuído, no imposto pessoal ele olha a capacidade financeira do contribuinte. Antes O STF, em sua posição tradicional, entendia que a progressividade era aplicada apenas para impostos pessoais, não se aplicando aos impostos reais. Para que fosse possível sua aplicação aos impostos reais, deveria haver a edição de lei. Nesse sentido, a Súmula 668 e 656 do STF: S. 668, STF - É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. S. 656, STF - É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas para o imposto de transmissão inter vivos de bens imóveis - ITBI, com base no valor venal do imóvel. Novo entendimento A partir de 2013, informativo 694, em uma posição mais moderna, o STF passou a entender que, como progressividade é uma forma de concretização do princípio da capacidade contributiva, poderá incidir tanto sobre impostos reais quanto pessoais. STF, RE 562045/RS: (...) todos os impostos, independentemente de sua classificação como de caráter real ou pessoal, poderiam e deveriam guardar relação com a capacidade contributiva do sujeito passivo. (...) Ademais, assinalou-se inexistir incompatibilidade com o Enunciado 668 da Súmula do STF (“É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana”). (...) diferentemente do que ocorreria com o IPTU, no âmbito do ITCD não haveria a necessidade de emenda constitucional para que o imposto fosse progressivo (STF, Informativo 694, fev./2013). STF Em relação ao IR, entende o STF que não cabe ao Poder Judiciário impor correção monetária da tabela progressiva, quando ausente previsão legal nesse sentido. Salienta-se que o STF (Info 890) entendeu que a progressividade das alíquotas de ITR leva em consideração não só o grau de utilização da terra (GU), como também a área do imóvel, tendo em vista que tais critérios não são isolados, mas sim conjugados. Assim, quanto maior for o território rural e menor o seu aproveitamento, maior será a alíquota de ITR. Essa sistemática potencializa a função extrafiscal do tributo e desestimula a manutenção de propriedade improdutiva. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE DE COLABORAÇÃO O contribuinte possui o dever fundamental de pagar tributos, até mesmo em razão do Estado Democrático de Direito, a fim de que os entes federados desempenhem todas as tarefas públicas previstas na CF. Pode ser observado no art. 128 do CTN. Art. 128, CTN. Sem prejuízo do disposto neste Capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. PRINCÍPIO DA PRATICABILIDADE DA TRIBUTAÇÃO Indica a necessidade de buscar efetividade à tributação, garantindo direitos dos contribuintes. E, ainda, assegura a arrecadação e a fiscalização do tributo, evitando inadimplência e sonegação fiscal. Ademais, concretiza-se por presunções, ficções, padronizações, do ponto de vista prático, na tributação. Por exemplo, substitutos tributários, pautas fiscais, substituição tributária para frente (RE 593849). É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago a mais, no regime de substituição tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva da operação for inferior a presumida. (...) A Corte afirmou que a substituição tributária, prevista no art. 150, § 7º, da Constituição Federal, tem como fundamento o princípio da praticidade. Desse modo, promove comodidade, economicidade e eficiência na execução administrativa das leis tributárias. (...) Ponderou, entretanto, que o princípio da praticidade tributária também encontra freio nos princípios da igualdade, capacidade contributiva e vedação do confisco, bem como na arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS