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DIREITO TRIBUTÁRIO

Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar – Princípios Tributários III


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LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR


PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS III

LEGALIDADE E DELEGAÇÃO LEGISLATIVA/MEDIDA PROVISÓRIA

A legalidade não significa uma proibição absoluta de delegação legislativa (em sentido
estrito). No Brasil, isso só é possível na sistemática da lei delegada. Vale lembrar que a
delegação de funções típicas entre os Poderes do Estado só é possível nos casos em que
a Constituição Federal expressamente permite. Nesse sentido, o Congresso Nacional pode-
ria autorizar o Presidente da República a criar um tributo, cumpridos os requisitos previstos
na CF/1988.
No entanto, o Presidente da República ainda tem em suas mãos o poder de editar uma
medida provisória, que dispensa a autorização do Congresso Nacional e é válida para maté-
ria tributária. Para isso, basta existir a situação fática de relevância e urgência.
Nos dois casos, há uma vedação para as matérias reservadas à lei complementar (ex.:
empréstimo compulsório).

ISONOMIA E CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

A capacidade contributiva é um corolário do princípio da isonomia, pois é um critério uti-


lizado para diferenciar os diferentes, dando-lhes um tratamento tributário distinto de acordo
com as diferenças que existem entre eles.
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A isonomia, portanto, é dotada de dois aspectos:
• Horizontal: tratar igualmente os iguais; e
• Vertical: tratar desigualmente os desiguais.
Essa desigualdade que normalmente justifica um tratamento tributário diferenciado é jus-
tamente a de capacidade contributiva. Um exemplo é o que acontece no Imposto de Renda
(IR) e suas alíquotas. Nesse sentido, quem recebe rendas mais altas acaba pagando propor-
cionalmente mais impostos do que aqueles que recebem rendas menores. Inclusive, existe
uma faixa de isenção, em que o sujeito não precisa pagar o IR.
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CF/1988
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, inde-
pendentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

Antes da CF/1988, dizia-se que algumas categorias, tais como os militares, os parla-
mentares e os juristas não pagavam o IR. Na realidade, não havia uma regra informando
isso, mas havia uma espécie de “esperteza” na legislação que os livrava do tributo. Naquela
época, a legislação previa como isentas do IR as ajudas de custo. Dessa forma, por exemplo,
a lei previa um valor baixo de subsídio para os parlamentares e um valor alto de rendimentos
a título de ajuda de custo. Dessa forma, os parlamentares ficariam isentos do IR, pois o seu
subsídio era um valor abaixo da faixa de isenção.
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CF/1988
Art. 145, § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segun-
do a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente
para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos
termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Apesar de o dispositivo acima prever o princípio da capacidade contributiva aplicada aos


impostos, a jurisprudência do STF prevê que nada impede a aplicação dessa regra a outras
espécies tributárias.
A doutrina dispõe que capacidade econômica e capacidade contributiva são conceitos
distintos. No entanto, no momento em que se fala da capacidade econômica do contribuinte,
então há uma equiparação em relação à capacidade contributiva.
Ainda sobre o princípio da isonomia, vale lembrar que há inúmeras decisões do STF que
derrubam benefícios fiscais concedidos a certas categorias sem nenhum fundamento em
capacidade contributiva, o que configura um verdadeiro privilégio.
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De maneira semelhante, decidiu o STF:


STF – ADI 4276/MT – Concessão de isenção à operação de aquisição de automóveis
por oficiais de justiça estaduais. (...) A isonomia tributária (CF, art. 150, II) torna inválidas as
distinções entre contribuintes “em razão de ocupação profissional ou função por eles exer-
cida”, máxime nas hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razo-
abilidade, engendra-se tratamento discriminatório em benefício da categoria dos oficiais de
justiça estaduais.

Obs.: nesse sentido, mesmo que o oficial de justiça necessite de um veículo para trabalhar,
vale lembrar que existem inúmeras outras profissões no país que também dependem
de um veículo, logo, a concessão dessa isenção seria um privilégio inaceitável.

STF RE 614.406/RS (Tema 368) – IMPOSTO DE RENDA – PERCEPÇÃO CUMULATIVA


DE VALORES – ALÍQUOTA. A percepção cumulativa de valores há de ser considerada, para
efeito de fixação de alíquotas, presentes, individualmente, os exercícios envolvidos.
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Obs.: nesse sentido, se uma pessoa deveria receber uma quantia todo mês em um valor
dentro da faixa de isenção do IR, contudo, em virtude de algum problema, acaba
recebendo os valores acumulados de uma só vez, precisaria pagar o IR sobre o so-
matório desses valores. No entanto, não seria isonômica essa cobrança, pois, caso
essa pessoa tivesse recebido os valores na época certa, não precisaria arcar com o
imposto, logo, há um duplo prejuízo, visto que a pessoa deixou de receber os valores
na época certa e, também, foi tributada quando recebeu. É por isso que o Supremo
firmou o entendimento acima, informando que a tributação será feita com base nos
valores recebidos individualmente em cada período.

Sobre o princípio da isonomia, é importante lembrar da decisão marcante que envol-


veu a isenção concedida a pessoas com deficiência na aquisição de veículos sem o paga-
mento do IPI.
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DEFICIENTES AUDITIVOS E A ISENÇÃO DE IPI NA AQUISIÇÃO DE AUTOMÓVEIS:

Lei n. 8.989/1995
Art. 1º Ficam isentos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os automóveis de passagei-
ros de fabricação nacional, equipados com motor de cilindrada não superior a 2.000 cm³ (dois mil
centímetros cúbicos), de, no mínimo, 4 (quatro) portas, inclusive a de acesso ao bagageiro, mo-
vidos a combustível de origem renovável, sistema reversível de combustão ou híbrido e elétricos,
quando adquiridos por:
(...)
IV – pessoas portadoras de deficiência física, visual, mental severa ou profunda, ou autistas,
diretamente ou por intermédio de seu representante legal;

É importante perceber que a lei não dispôs sobre a isenção para os portadores de defi-
ciências auditivas (surdos). Essa questão já foi discutida no Judiciário inúmeras vezes, pois
existia uma omissão relevante na lei. Contudo, o Judiciário sempre entendeu que se a lei não
concedeu o benefício, significa que ele não existe.
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Ou seja, se um benefício fiscal é concedido apenas por lei, o Judiciário não pode estendê-
-lo para uma categoria não contemplada utilizando o princípio da isonomia, pois, caso o faça,
estará agredindo a separação dos Poderes.
No entanto, ao julgar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), o
Supremo entendeu que não conceder o benefício prejudicava a inserção dos surdos na socie-
dade e agredia a dignidade da pessoa humana. Assim, ao reconhecer a omissão, o Supremo
deu um prazo para que o órgão legislativo edite a lei faltante. Além disso, o STF ainda dispôs
que, enquanto não for criada a respectiva lei, os surdos poderão gozar da isenção prevista
para os demais casos de deficiência com base no mesmo dispositivo.

Jurisprudencial:
STF – AD0 30 – 4. O poder público, ao deixar de incluir as pessoas com deficiência audi-
tiva no rol daquele dispositivo, promoveu políticas públicas de modo incompleto, ofendendo,
além da não discriminação, a dignidade da pessoa humana e outros direitos constitucional-
mente reconhecidos como essenciais, como os direitos à mobilidade pessoal com a máxima
independência possível, à acessibilidade e à inclusão social. Tal omissão constitui violação
da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada conforme o art. 5, §
3º, da CF/1988. Necessidade do controle jurisdicional.
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6. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão julgada procedente, declarando-se a


inconstitucionalidade por omissão da Lei n. 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, determinando-
-se a aplicação de seu art. 1º, inciso IV, com a redação dada pela Lei n. 10.690/2003, às
pessoas com deficiência auditiva, enquanto perdurar a omissão legislativa. Fica estabelecido
o prazo de 18 (dezoito) meses, a contar da data da publicação do acórdão, para que o Con-
gresso Nacional adote as medidas legislativas necessárias a suprir a omissão.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Ricardo Alexandre de Almeida Santos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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