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Direito Tributário
Parte 1
Janaina Mascarenhas
2023
LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR
1. Poder de tributar
É o direito do Estado de intervir o patrimônio das pessoas para obter recursos a fim de
realizar suas atividades. A tributação é instrumento para realizar os objetivos
fundamentais da República e tutela dos direitos sociais constitucionalmente garantidos.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
Art. 13. Para a manutenção da força pública e para as despesas da administração, é
indispensável uma contribuição comum que deve ser repartida entre os cidadãos de
acordo com as suas possibilidades.
Nessa perspectiva, há um dever de pagar tributos, sendo um exercício de cidadania,
bem como um dever de colaboração com a Administração Tributária (Paulsen) através
das obrigações acessórias.
Tributo é receita derivada, receita vertical, decorrente do poder de império do Estado.
Tributos fiscais e extrafiscais – Os tributos fiscais tem como finalidade principal a
arrecadação de verbas, enquanto os extrafiscais tem como finalidade conduzir um
comportamento social, incentivar ou dissuadir uma atividade econômica. Todos os
tributos tem as duas características, mas alguns tem a extrafiscalidade mais forte (ex:
IPI, II, IE, ITR, IPTU, IOF).
2. Limitações - Princípios
É preciso compatibilizar a arrecadação com a liberdade e o patrimônio dos contribuintes
para que a tributação seja legítima. O nível da limitação está intimamente relacionado
com a escolha política do Estado, se mais liberal ou mais social.
Os limites estão na Constituição e são: os princípios, as imunidades (limitação negativa)
e as competências. Segundo STF, algumas limitações são cláusulas pétreas (ex: ADI
939, 1993 que tratou da anterioridade).
2.1 Principio da legalidade (art. 150, I CF/88)
No taxation without representation
O principio se fundamenta na ideia de representação popular através dos parlamentares.
A lei tributária é a autoimposição de tributos. O princípio da legalidade serve para
instituir, majorar, extinguir ou diminuir tributos (paralelismo das formas).
A regra é a lei ordinária, mas excepcionalmente a CF/88 prevê lei complementar para:
IGF (art. 153, VII)
empréstimo compulsório (art. 148, I)
impostos residuais (art. 154, I) e contribuições residuais (195 §4°).
Critérios especiais de tributação com base na livre concorrência (art. 146-A)
Aspectos do ICMS (art. 155 §2°, XII)
Prever competência de ITCMD no caso de doador ou morto com domicílio no
exterior (at. 155 §1°, III)
Aspectos específicos do ISS (art. 156 §3°)
Limite da remissão ou anistia para contribuições previdenciárias (art. 195 §11)
Há temas que são tratados por resolução do Senado:
Alíquotas mínimas de IPVA (art. 155 §6°, I)
Alíquotas máximas de ITCMD (art. 155 §1°, IV)
Alíquotas interestaduais e de exportação do ICMS (art. 155 §2°, IV)
Alíquotas mínimas do ICMS interno (ART. 155 §2°, V a)
Alíquotas máximas do ICMS interno para resolver conflito dos Estados (ART.
155 §2°, V b)
Não precisa ser por lei: prazo do pagamento, obrigações acessórias, atualização
monetária, aumento do valor do IPTU abaixo do índice oficial, substituição legal do
índice de correção.
Aumentar alíquota dos impostos (art. 153 §1°):
II, IE, IPI, IOF – podem ser por decreto.
CIDE-combustíveis pode reduzir ou reestabelecer por meio de decreto, nunca
aumentar.
ICMS monofásico – pode aumentar ou diminuir por CONVENIO do CONFAZ,
não é por decreto. Se aumentar, obedece à anterioridade.
Medida provisória – pode instituir tributos que não dependam de lei complementar.
Também não pode tratar da EC 20/90 e EC 29/00 (art. 246 CF)
OBS: Paulo de Barros Carvalho elenca cinco aspectos (art. 97 e 161 §1° CTN) da
obrigação tributária principal que devem ser previstos na lei tributária: (i) material –
hipótese de incidência (ii) temporal – momento do fato gerador (iii) espacial – local do
fato gerador (iv) quantitativo – alíquota e base de cálculo (v) pessoal – sujeitos da
obrigação. É uma visão de legalidade fechada, específica, que tem um conteúdo mínimo
para ser válida.
Podem ser utilizados tipos abertos ou indeterminados (normas tributárias em branco),
desde que não haja delegação total dos aspectos da obrigação tributária. (ex: SAT/RAT)
Isenções e benefícios
Se for isenção onerosa não pode ser revogada para aqueles que já tem o direito
adquirido (art. 178 CTN).
Súmula 544 do STF: “Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não
podem ser livremente suprimidas”.
Se for isenção gratuita pode ser revogada, não há direito adquirido.
STF. 1ª Turma. RE 564225 AgR/RS, 2014 – A revogação de isenção é aumento indireto
do tributo e deve seguir a anterioridade tributária.
2.3 Principio da irretroatividade (art. 150, III, a)
A norma que institui ou majora tributos não pode ser aplicada aos fatos anteriores a sua
vigência, somente aos pendentes e futuros (art. 105 CTN);
Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:
I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação
de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão,
desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de
tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo
da sua prática.
O art. 106 do CTN não é exceção à irretroatividade porque não trata de instituição de
tributos, mas sim de lei interpretativa e de infrações.
A lei expressamente interpretativa, na qual não se incluem imposições de
penalidades, pode retroagir para fatos anteriores. (ex: caso do art. 3° da LC 118/2015
que o STF entendeu não ser lei meramente interpretativa, portanto não retroage)
Quanto às infrações: A lei benéfica que retire infração ou diminua penalidades pode
retroagir, desde que o ato não esteja definitivamente julgado.
RESP n.º 183.994/SP STJ - Para fins de execução fiscal, as decisões finais
devem se estender, segundo o STJ, às fases de arrematação, adjudicação ou
remição.
Confissão e parcelamento de dívida NÃO SÃO atos definitivamente julgados,
podendo haver aplicação de lei benéfica mesmo após elas.
Mesmo que a lei retroaja NÃO CABE repetição de indébito daquilo que foi pago
antes da lei benéfica.
Irretroatividade do lançamento tributário
O lançamento em relação aos aspectos da obrigação principal se dá com base na
lei vigente no momento do fato gerador, e não do momento do lançamento
(art. 144 CTN).
No entanto, pode retroagir lei à época do lançamento que trate de processos de
fiscalização, de poderes de investigação, exceto para atribuir responsabilidade
tributária a terceiros.
Se forem impostos periódicos, que são lançados por certos períodos de tempo, a
lei que se aplica é a do momento em que a lei considera ocorrido o fato gerador
(art. 144 §2°). É o caso do IPVA e IPTU
Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação
e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.
§ 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato
gerador da obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de
fiscalização, ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou
outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último caso, para
o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos lançados por períodos certos de
tempo, desde que a respectiva lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se
considera ocorrido.
RESP 558.633 CASO CPMF – Constitucionalidade da lei da CPMF que deu novos
poderes à Receita, de cruzar dados bancários da CPMF para lançar créditos tributários
de outros tributos. Alegou que tratava-se de mero processo fiscalizatório, não havia
mudança nos elementos do tributo, podendo retroagir.
ADIs n.º 2390/DF, 2386/DF, 2397/DF e 2859/ DF Rel. Min. Dias Toffoli e o RE n.º
601314/SP Repercussão Geral – STF decidiu que era constitucional lei que permitiu aos
agentes fiscais requisitarem diretamente das instituições financeiras informações
bancárias, devendo seguir alguns requisitos:
regulamentação de cada ente
pertinência temática entre as informações requisitadas e o tributo objeto de cobrança;
prévia notificação do contribuinte à instauração do processo e todos os demais atos,
com amplo acesso aos autos, permitido cópias não só de documentos, mas também de
decisões;
sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;
exigência de sistemas eletrônicos de segurança certificados e com registro de acesso;
estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios.
Quem pode requisitar:
Entidades educacionais
Não é apenas a educação formal, mas também associação cultural, teatro,
museus, centros de pesquisa. Há uma interpretação ampliativa.
O fundamento é o art. 205 da CR/88.