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OAB 2ª FASE

Direito Material e Tributário – Aula 02


Eduardo Sabbag

TEMA: PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS O Poder Executivo pode, sim, ter uma atuação miti-
gada ou atenuada (art. 153, §1º, CF): há QUATRO
Considerações iniciais: impostos federais cujas alíquotas poderão ser alte-
radas por ato do Poder Executivo (por exemplo, por
- Princípios tributários: arts. 150, 151 e 152 da CF; portarias, decretos etc.).

- Princípios (conceito) = limitações constitucionais Detalhe: esses quatro impostos foram antes criados
ao poder de tributar (os princípios são balizamentos por meio de lei, cabendo ao Executivo uma atuação
à ação tributante das entidades impositoras: U, E, M superveniente, apenas quanto à alteração de alí-
e DF). quotas. São eles:

(...) LISTA DE IMPOSTOS: II, IE, IPI e IOF.

Daí se dizer que a tributação federal, por exemplo, ATENÇÃO: a EC n. 33/01 ampliou o rol, trazendo
que viole determinado princípio tributário, será inevi- mais dois tributos à lista – CIDE-Combustível (art.
tavelmente “contaminada” de inconstitucionalidade. 177, §4º, I, “b”, CF) e ICMS-Combustível (art. 155,
§4º, IV, “c”, CF).
O mesmo raciocínio vale para a tributação estadual
ou municipal. OBSERVAÇÃO: a alteração para esses dois tributos
diz respeito apenas à redução e restabelecimento
Estudo individualizado dos Princípios Tributá- das alíquotas, portanto, dentro de parâmetros le-
rios: gais.

1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA Portanto, temos, ao todo, SEIS tributos (5 federais;


(ART. 150, I, CF c/c ART. 97, I e II, CTN) 1 estadual) que se enquadram como exemplos de
mitigação ou atenuação (“exceção”) do princípio da
“U, E, M e DF só podem instituir e majorar o tributo legalidade tributária:
por meio de lei”.
II
Dois verbos: instituir e majorar (lei) IE
IPI
- Que lei é essa que cria e aumenta o tributo? Lei IOF
ordinária. CIDE-COMBUSTÍVEL
ICMS-COMBUSTÍVEL
Pergunta-se, ainda: E a lei complementar?
Lógica da mitigação da legalidade tributária:
Ela está explícita na CF como a lei hábil a institu-
ir QUATRO tributos federais: Trata-se de tributos extrafiscais, ou seja, regulado-
res de mercado. Isso pode ser percebido nas redu-
1. Imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII, ções de alíquotas de IPI para facilitar o acesso das
CF); classes menos favorecidas a certos produtos; ou,
ainda, nos aumentos de alíquota de II sobre deter-
2. Imposto RESIDUAL (art. 154, I, CF); minados produtos asiáticos, para proteger a indús-
tria nacional.
3. Empréstimo compulsório (art. 148, caput, CF);
DICAS FINAIS (Princípio da Legalidade Tributária):
4. Contribuições RESIDUAIS da seguridade social
(art. 195, §4º, CF c/c art. 154, I, CF). DICA 1: ler o art. 97 do CTN e perceber que a lei
tributária contém “elementos estruturantes”
Perceba que cabe ao Poder Legislativo o domínio indispensáveis: alíquota, base de cálculo, sujei-
completo do fenômeno tributário, uma vez que o to passivo, multa e fato gerador. (...)
tributo depende de LEI, quer ordinária, quer com-
plementar. Por essa razão, aqui temos a chamada estrita lega-
lidade (reserva legal ou tipicidade fecha-
Por outro lado, uma pergunta deve ser feita: o da/cerrada/regrada).
Poder Executivo não teria algum “espaço” de
atuação, ainda que restrito?

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Exemplo de “vício”: criação de uma taxa por lei, Tal princípio já foi considerado “cláusula pétrea”
ficando o sujeito passivo a cargo de tratamento ulte- pelo STF. Isso o coloca na condição de “núcleo
rior em uma portaria. imodificável”, não passível de alteração, nem mes-
mo por emenda constitucional.
DICA 2: A ALTERAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO
E A RESERVA LEGAL A anterioridade tributária não se confunde com o
“princípio da anualidade”. Tal postulado já esteve
Art. 97, CTN. Somente a lei pode estabelecer: (...) associado à seara tributária em texto constitucional
§1º. Equipara-se à majoração do tributo a modifica- pretérito (CF/46). Na atual CF/88, isso não ocorre.
ção da sua base de cálculo, que importe em torná-lo Memorize: NÃO se aplica o princípio da anualidade
mais oneroso. tributária ao sistema tributário nacional, no bojo dos
aumentos e instituições de tributos. (assertiva recor-
(...) rente em provas...)

§2º. Não constitui majoração de tributo, para os fins A anterioridade, no texto da CF, está ligada a dois
do disposto no inciso II deste artigo, a atualização verbos: INSTITUIR E AUMENTAR. Portanto, o prin-
do valor monetário da respectiva base de cálculo. cípio só vale para esses casos. Quando se tem uma
redução de tributo (ou uma extinção), haverá
(...) PRONTA INCIDÊNCIA DA NORMA, não se cogi-
tando do respeito ao postulado.
Súmula n. 160 do STJ: “É defeso, ao Município,
atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual ALÍNEAS “B” e “C”:
superior ao índice oficial de correção monetária”.
Anterioridade ANUAL ou DE EXERCÍCIO (alínea
Portanto: “b”): a lei que cria/aumenta o tributo vai incidir no
primeiro dia do exercício seguinte ao da cria-
ção/aumento, ou seja, em 1º de janeiro do ano se-
guinte;

Anterioridade NONAGESIMAL, PRIVILEGIADA,


QUALIFICADA, MÍNIMA (ou, ainda, PRINCÍPIO DA
CARÊNCIA (alínea “c”): a lei que cria/aumenta o
tributo vai incidir no nonagésimo primeiro (91º) dia, a
contar da data da criação/aumento. Tal anteriorida-
DICA 3: ler o art. 62, §2º, CF (“A MP e o Princípio de entrou no texto constitucional com a EC n.
da Legalidade Tributária”) 42/2003. Até então, só havia a anterioridade anual.
O dispositivo prevê, literalmente: “Medida provisória IMPORTANTE: devemos aplicar cumulativamente
que implique instituição ou majoração de impos- as duas anterioridades, na detecção da data da
tos...” incidência da lei criadora ou majoradora do tributo.
Tal aplicação cumulativa é bastante simples. Adian-
Não obstante as críticas que são feitas ao dispositi- te, seguem alguns casos práticos que permitirão a
vo constitucional, temos que aceitar como válidas as fácil assimilação.
assertivas:
Casos práticos:
“Pode ser aumentado o IR por MP?”
1. Lei aumenta tributo em 10-12-2015. Quando inci-
Resposta: SIM. dirá?
“Pode ser aumentado o ITR por MP?” CÁLCULO: ANT. ANUAL (01-01-2016) E ANT. NO-
NAGESIMAL (“10-03-2016”)
Resposta: SIM.
GABARITO: escolha a data maior...essa aí... em
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA meados de março de 2016!
(art. 150, III, “b” e “c”, CF)
2. Lei aumenta tributo em 10-10-2015. Quando inci-
Considerações iniciais: dirá?

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CÁLCULO: ANT. ANUAL (01-01-2016) E ANT. NO- Conclusão: nessa hipótese, o tributo deverá apenas
NAGESIMAL (“10-01-2016”) respeitar o prazo de 90 dias. Vamos praticar a me-
morização da hipótese acima: (...)
GABARITO: escolha a data maior...essa aí... em
meados de janeiro de 2016!

3. Lei aumenta tributo em 10-08-2015. Quando inci-


dirá?

CÁLCULO: ANT. ANUAL (01-01-2016) E ANT.


Com relação ao aumento por Decreto, há total vali-
NONAGESIMAL (“10-11-2015”)
dade. Por outro lado, quanto ao princípio da anterio-
ridade, há INCONSTITUCIONALIDADE, porquanto
GABARITO: escolha a data maior...essa aí... em 01-
o IPI majorado só poderá incidir após 90 dias, a
01-2016!
contar da data da publicação do decreto.
REGRA GERAL: percebemos que, se houver au-
3. TRIBUTOS QUE FOGEM À ANTERIORIDADE
mento ou instituição de tributo entre janeiro e se-
NONAGESIMAL, MAS RESPEITAM A ANTERIO-
tembro de um ano (até 2 de outubro, com precisão),
RIDADE ANUAL:
a incidência da norma majoradora/criadora ocorrerá
em 1º-JAN-ANO SEGUINTE. Por outro lado, se isso
se der entre outubro e dezembro, bastará somar à IR e alterações na base de cálculo do IPTU e do
data o prazo de 90 dias. IPVA.

Conclusão: nessa hipótese, o tributo deverá apenas


Não obstante a regra acima, existem exceções (art.
respeitar a data de 1º de janeiro do ano seguinte.
150, §1º, CF) ao princípio da anterioridade tributária:
ressalvas a essas “esperas”. O tributo pode ser Vamos praticar a memorização da hipótese acima:
exceção a uma anterioridade, mas ser regra à outra
(...)
(e vice-versa); ou, ainda, pode ser exceção às duas
anterioridades. Por essa razão, recomenda-se ler o
dispositivo acima e decorar as hipóteses. Vamos
explorar algumas delas:

1. TRIBUTOS DE EXIGÊNCIA IMEDIATA (fogem


às duas anterioridades):

II, IE, IOF, Imposto Extraordinário (de guerra) e o Com relação à alteração na base de cálculo, medi-
Empréstimo Compulsório (nos casos de Calamidade ante a utilização de índices acima da correção mo-
pública e guerra externa). netária do período (= aumento do tributo), (...)

Vamos praticar a memorização da hipótese acima: desponta a lesão ao princípio da estrita legalidade
(...) (art. 97, §§1º e 2º, CTN c/c Súmula 160, STJ). Tal
aumento só poderia ocorrer por meio de lei.

Por outro lado, quanto ao princípio da anterioridade


tributária, há perfeita obediência ao texto constituci-
onal: a alteração na base de cálculo do IPTU foge à
anterioridade nonagesimal, devendo respeitar ape-
nas a anterioridade anual.
O Decreto é perfeitamente consentâneo com a CF,
ou seja, é constitucional. O imposto é hipótese de DICA FINAL: o tributo que não for “exceção”
atenuação da legalidade e é exceção às duas ante- será “regra”!
rioridades.
Pode parecer um tanto óbvio, mas a assertiva é
2. TRIBUTOS QUE FOGEM À ANTERIORIDADE muito relevante. Por exemplo, são tributos que obe-
ANUAL, MAS RESPEITAM A ANTERIORIDADE decem à “regra”: taxas, contribuições de melhoria,
NONAGESIMAL: ISS, ITR, IPVA(alíquotas), ICMS, IPTU(alíquotas),
entre vários outros. (...)
IPI, CIDE-Combustível e o ICMS-Combustível.

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Exemplos: Se é vedado “...cobrar tributos em relação a fatos


geradores ocorridos ANTES do início da vigência da
- Uma lei que institui uma TAXA em 12-11-2015 só lei que os houver instituído ou aumentado;...”,
poderá incidir a partir de “12-02-2016” (= 90 dias
após...a data maior...); SIGNIFICA QUE...

- Uma lei que aumenta o ISS em 05-03-2015 só Só é possível “...cobrar tributos em relação a fatos
poderá incidir a partir de “01-01-2016” (o 1º dia do geradores ocorridos DEPOIS do início da vigência
ano seguinte...a data maior...); da lei que os houver instituído ou aumentado;...”

DICA FINAL: No CTN, o art. 106 traz dois casos de LEIS PRO-
DUTORAS DE EFEITOS JURÍDICOS PRETÉRI-
Súmula 669 do STF: norma legal que altera data de TOS (“exceções”), em seus dois incisos:
pagamento de tributo não respeita o princípio da
anterioridade tributária (nem mesmo o da legalidade Inciso I: lei interpretativa (deve ser expressamente
tributária) – visão prevalecente no STF. (atual Sú- interpretativa). Além disso, memorize que só retroa-
mula Vinculante n. 50, STF) girá a lei interpretativa que for verdadeiramente
interpretativa. (...)
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE TRIBUTÁ-
RIA (art. 150, III, “a”, CF) Vale dizer que, se a lei, a pretexto de interpretar,
infligir penalidade, só poderá ter vigência prospecti-
O termo “irretroatividade” significa “não retroativida- va. Exemplo: publica-se uma lei “interpretativa” no
de” ou “não retroação”. Refere-se à impossibilidade dia 10-06-2015, prevendo a imposição de uma mul-
de a lei retroagir, retrotrair ou retroceder. Desse ta para o dispositivo interpretado. Essa norma, mais
modo, o princípio almeja vedar a vigência retrospec- com viés modificativo do que propriamente interpre-
tiva da lei, impondo que esta venha a “viger para tativo, só poderá ser aplicada para situações futu-
frente”. ras, não retrocedendo.

O fundamento desse princípio tributário vai ao en- Inciso II: lei mais benéfica para o contribuinte, NO
contro do art. 5º, XXXVI, CF, o qual proíbe que a lei CAMPO DAS INFRAÇÕES. Isso significa que essa
retroaja e atinja o ato jurídico perfeito, o direito ad- “lex mitior” retroagirá para beneficiar apenas no
quirido e a coisa julgada. campo diverso do tributo (afeto, por exemplo, às
multas, infrações etc.). Tal retroação benéfica não
Desse modo, a lei tributária deverá atingir fatos que poderá ocorrer no campo das alíquotas, do valor do
lhe são subsequentes ou subsecutivos. E que fatos tributo etc. Trata-se da aplicação do chamado “prin-
são esses? São os fatos geradores dos tributos! cípio da benignidade”. Observemos um caso práti-
co:

Exemplo de vício: lei publicada em 12-11-2015 insti-


tui uma TAXA, visando que tal tributo incida sobre
fatos geradores ocorridos em março de 2015. Resposta: alíquota de 10% e multa de 5%. A alíquo-
ta deverá ser sempre aquela contemporânea ao fato
ANÁLISE: Tal lei é inconstitucional por violação gerador (2013), independentemete do fato de ser
ao princípio da irretroatividade tributária. maior ou menor, enquanto a multa poderá ser a
mais recente (2014), desde que mais benéfica (e
Perceba que o Princípio da Irretroatividade Tributá- respeitada a condição que será detalhada no próxi-
ria NÃO se confunde com o Princípio da Anteriori- mo slide: “desde que o ato não esteja definitivamen-
dade Tributária. O primeiro diz com a vigência da te julgado”).
lei, indicando que esta deve atingir FGs subsequen-
tes à sua edição; o último aponta para o momento (...) Art. 106, II, parte final, CTN: CUIDADO!!!! Há
da eficácia da lei, demonstrando no tempo quando uma CONDIÇÃO!!!
deveremos pagar o tributo.
Só ocorrerá a retroação da norma mais benéfica no
MEMORIZE O DETALHE NO TEOR DO DISPOSI- campo das infrações SE O ATO NÃO ESTIVER
TIVO CONSTITUCIONAL (Art. 150, III, “a”, CF): DEFINITIVAMENTE JULGADO. Isso remonta ao

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caso concreto em que há uma pendência de julga- isonomia tributária não será realizada simplesmente
mento (administrativo ou judicial). Enquanto houver com a técnica de igualar os iguais.
o transcurso da discussão, sobrevindo uma lei mais
benéfica para multa, por exemplo, essa multa be- Os iguais, para o Direito Tributário, são todos aque-
nigna deverá retroagir. les, indistintamente, que realizarem o fato gerador
(irradiação universal e equitativa da incidência tribu-
PRINCÍPIO DA LIBERDADE AO TRÁFEGO DE tária). Assim, havendo o FG, deverá ocorrer a tribu-
PESSOAS E BENS: tação, independentemente da análise sobre quem o
realiza e suas características (idade, profissão, lici-
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias assegu- tude do ato etc.
radas ao contribuinte, é vedado à União, aos Esta-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios:

V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou


bens, por meio de tributos interestaduais ou inter- É a aplicação do princípio da interpretação objetiva
municipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela do FG, o qual, afastando as conotações extrínse-
utilização de vias conservadas pelo Poder Público; cas, resgata a vetusta máxima latina "pecunia non
olet" (= o tributo não tem cheiro). O bordão foi lapi-
PRINCÍPIO DA ISONOMIA TRIBUTÁRIA (art. 150, dado na Roma Antiga, a partir do diálogo célebre
II, CF) entre o imperador Vespasiano e seu filho Tito, em
virtude da tributação que se fazia sobre os mictórios
O princípio da isonomia ou igualdade tributária é um (as cloacas públicas).
postulado específico que proíbe o tratamento tribu-
tário desigual a contribuintes que se encontrem em A interpretação objetiva do FG
situação de equivalência (ou equipolência).
A propósito do art. 118 do CTN, há pouco citado,
É também conhecido por por princípio da proibição sabe-se que veicula normativamente a máxima lati-
dos privilégios odiosos, na medida em que visa coi- na pecunia non olet, segundo a qual prevalecerá, no
bir a odiosidade tributária, manifestável em situa- fenômeno da incidência, a interpretação economi-
ções discriminatórias de tributação, veiculadores de camente objetiva do fato gerador.
certos favoritismos. Observemos o texto da CF:
Daí se dizer que a capacidade tributária passiva é
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias assegu- plena (art. 126, caput, CTN), desconsiderando-se
radas ao contribuinte, é vedado à União, aos Esta- quaisquer aspectos externos à hipótese de incidên-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II - cia e, verdadeiramente, típicos do mundo dos fatos:
instituir tratamento desigual entre contribuintes que ilicitude do ato, incapacidade civil, irregularidade na
se encontrem em situação equivalente, proibida constituição formal da PJ, etc.
qualquer distinção em razão de ocupação profissio-
nal ou função por eles exercida, independentemente Dispositivos no CTN: a Interpretação Objetiva do
da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou FG
direitos;

A CF/88 veio proibir o tratamento tributário desigual


conferido a pessoas, em razão do cargo, ofício ou
profissão. Lamentavelmente, nossa história (cite-se
o período entre 1967 e 1969) registrou inúmeras leis
isentivas endereçadas a certas categorias de profis-
sionais, simplesmente por estes ocuparem determi-
nados cargos à época. Tratava-se de um privilégio
odioso.

Para a aferição da isonomia tributária, devemos Quanto à detecção dos desiguais, para quem deve-
perquirir "quem são os iguais" e "quem são os desi- rá ser destinado um tratamento desigual, é funda-
guais". Aos primeiros, deverá ser dado um trata- mental analisarmos um outro postulado que decorre
mento igual; aos últimos, um tratamento diferencia- do princípio da isonomia tributária: o princípio da
do. E, em ambas as hipóteses, será possível alcan- capacidade contributiva.
çar-se a igualdade tributária. Veja-se, pois, que a

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O princípio da capacidade contributiva é considera- Seletividade: trata-se de técnica de variação de


do uma forma de instrumentalizar-se o princípio da alíquotas na RAZÃO INVERSA da ESSENCIALI-
igualdade, do qual se mostra como natural decor- DADE do bem. Desse modo, quanto mais essencial
rência ou corolário, para uns, ou subprincípio, para for o bem, menor deverá ser a alíquota do imposto
outros. De fato, aquele se avizinha deste ou, em seletivo; e quanto menos essencial for o bem, maior
outras palavras, entrelaça-se com este, sempre na deverá ser a alíquota do imposto seletivo. O atributo
busca da justiça fiscal. liga-se a DOIS impostos seletivos (ICMS e IPI: art.
155, §2º, III, CF e art. 153, §3º, I, CF, respectiva-
Art. 145 (...) §1º. Sempre que possível, os impostos mente).
terão caráter pessoal e serão graduados segundo a
capacidade econômica do contribuinte, facultado à Utilizando-se outras palavras para exprimir o mes-
administração tributária, especialmente para conferir mo fenômeno, podemos dizer que a seletividade
efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados tributária se refere à técnica de variação de alíquo-
os direitos individuais e nos termos da lei, o patri- tas na RAZÃO DIRETA da SUPERFLUIDADE do
mônio, os rendimentos e as atividades econômicas bem. Daí se entender melhor, por exemplo, por que
do contribuinte. se cobra menos ICMS/IPI nos produtos da cesta
básica e mais ICMS/IPI nos perfumes...
Procedendo-se à análise do art. 145, §1º, da CF,
notaremos que o dispositivo faz menção... Por fim, há ainda uma outra perspectiva possível
para o dimensionamento da técnica da seletividade:
(I) a impostos, tão somente; e a variação de alíquotas na RAZÃO DIRETA da NO-
(II) à fluida expressão “sempre que possível”. CIVIDADE do bem. Daí se explicar por que se cobra
mais ICMS/IPI sobre cigarros e bebidas alcoólicas.
Progressividade: técnica de incidência de alíquotas
Conquanto o postulado se prenda apenas a impos- variadas, cujo aumento (não proporcional) ocorre
tos (literalidade da CF), entendemos que o princípio em virtude da majoração da base de cálculo do
em tela também deve ser observado por outros tributo. Temos, atualmente, QUATRO impostos
tributos, obedecendo, todavia, às peculiaridades de progressivos: três deles, com previsão explícita na
cada espécie tributária (por exemplo, vejam-se as CF (IPTU, ITR e IR); e um, por força de entendimen-
taxas progressivas e as progressivas contribuições to do STF, em 2013 (o ITCMD).
da seguridade social (art. 195, §9º, CF).
IPTU PROGRESSIVO:
A expressão sempre que possível deve ser interpre-
tada como “de acordo com as possibilidades técni- O imposto possui uma dupla progressividade: a
cas de cada imposto”. progressividade extrafiscal, que lhe é – e sempre foi
– genuína (art. 182, §4º, II, CF), e a progressividade
Veja que, enquanto o IR se abre para a variação de fiscal, oriunda da EC n. 29/2000 (art. 156, §1º, I e II,
alíquotas, graduando-se segundo a capacidade CF).
econômica de cada um, o ICMS já repudia tal varia-
ção. Como se verá adiante, o IR é progressivo, en-
quanto o ICMS é proporcional (e seletivo).

Embora sendo um princípio de conteúdo aberto e de


difícil aferição, a doutrina costuma apontar para a
existência de meios de exteriorização/concretização
do princípio da capacidade contributiva, a saber: a
progressividade, a proporcionalidade, a seletividade,
entre outros.

Trata-se, em geral, de técnicas de posicionamento ITR PROGRESSIVO:


de alíquotas que permitem tratar diferentemente os
diferentes e, por isso mesmo, alcançar-se a justiça No concernente à progressividade do ITR, frise-se
distributiva. Passemos a elas: que tal gravame deve conter alíquotas fixadas de
forma a desestimular a manutenção de proprieda-
Proporcionalidade: técnica de incidência de alíquo- des improdutivas (o chamado “ausentismo”), visto
tas fixas sobre as bases de cálculo tributáveis. A que é imposto com finalidade regulatória da econo-
maior parte dos tributos possuem tal característica, mia (extrafiscalidade; ver o art. 153, §4º, I, CF)
qualificando-se, portanto, como "proporcionais".

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III - instituir isenções de tributos da competência dos


Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

Análise:

A regra é ...

A universalidade, por sua vez, demarca o critério


atrelável à base de cálculo do gravame, que deve
abranger quaisquer rendas e proventos auferidos
pelo contribuinte, independentemente da denomina-
ção da receita ou do rendimento (vide art. 43, §1º, O que se proíbe? A isenção heterônema.
CTN, à luz da LC n. 104/2001).
UMA HETERONOMIA DEFENSÁVEL...
Por fim, a progressividade do IR – mesmo que insu-
ficiente, como é de todos sabido – prevê a variação COM O ISS...:
positiva da alíquota do imposto à medida que ocorre
o aumento de base de cálculo (Alíquotas atuais do 1. Art. 156, § 3º, II, CF: trata da possibilidade de
IRPF: alíquotas de 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%). concessão pela União, por lei complementar (art. 2º,
I, da LC n. 116/03), de isenção heterônoma do ISS
ITCMD PROGRESSIVO: nas exportações de serviços. O entendimento majo-
ritário é o de que se trata de exceção à regra da
Em 6 de fevereiro de 2013, o STF declarou consti- vedação de prática de isenção heterônoma.
tucional a progressividade para o ITCMD. Com esse
emblemático julgado, a Corte Suprema modificou a A nosso sentir, é um bom exemplo, se não for o
sua tradicional jurisprudência, no sentido da negati- único, de heteronomia expressa no texto constituci-
va. A conclusão do feito levou à aproximação entre onal.
o pensamento doméstico e aquele adotado por vá-
rios países europeus, quanto ao imposto sobre a A NÃO HETERONOMIA NOS TRATADOS...
transmissão de heranças (Espanha, Itália, Alema-
nha etc.). Vejamos a ementa: PERGUNTA-SE: pode haver a concessão de isen-
ção de tributos estaduais e municipais pela via do
EMENTA: EXTRAORDINÁRIO. ITCMD. PRO- tratado internacional?
GRESSIVIDADE. CONSTITUCIONAL.
(...)
No entendimento majoritário do Supremo, surge
compatível com a Carta da República a progressivi- A União, ao celebrar o tratado, não se mostra como
dade das alíquotas do Imposto sobre Transmissão pessoa política de Direito Público Interno, mas como
Causa Mortis e Doação. Precedente: RE nº pessoa política internacional, ou sujeito de direito na
562.045/RS, mérito julgado com repercussão geral ordem internacional, passando ao largo da restrição
admitida. (AgR-RE 542.485, rel. Min. Marco Aurélio, constitucional.
1ª T., j. em 19-02-2013)
Em tempo, o Presidente da República firma tais
DICA FINAL (ITCMD progressivo x ITBI não pro- acordos à frente dos interesses soberanos da na-
gressivo: ção, e não na defesa de seus restritos propósitos
como entidade federada. Daí se assegurar que a
O ITBI NÃO é imposto progressivo (Súmula n. 656 concessão da isenção na via do tratado não se su-
do STF: “É inconstitucional a lei que estabelece jeita à proibição da concessão de isenção heterô-
alíquotas progressivas para o ITBI com base no noma, prevista na CF.
valor venal do imóvel”).
Aliás, em 2007, o STF ratificou que “o Presidente da
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS ISENÇÕES HE- República não subscreve tratados como Chefe de
TERÔNOMAS: Governo, mas como Chefe de Estado, o que desca-
racteriza a existência de uma isenção heterônoma,
Art. 151. É vedado à União: (...) vedada pelo art. 151, inc. III, da Constituição”. (RE

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229.096/RS, Pleno, rel. Min. Ilmar Galvão, rel. p/ o


acórdão Min. Cármen Lúcia, j. 16-08-2007)

Muito obrigado!

#EstudeMais #EstudeSempre

Prof. Sabbag

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