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1.1.1-Princípio da inerência
O Direito Real é intrínseco à coisa a que ela se liga. Por isso é que o conteúdo em concreto
do direito real depende da coisa a que se reporta. E sendo inerente como nos diz o
Professor José Alberto Vieiras, não pode o direito real separar-se da coisa. Esta frase pode
ter diversas formulações, o Professor Menezes Cordeiro diz-nos que a inerência traduz a
conexão direito-coisa. Conexão essa só extinguida quando extinguir o direito real
1.1.2-Princípio da sequela
Este princípio tem a sua força máxima no artigo 1311º do CC. Aliás, fica já aqui o aviso,
em Direitos Reais, como terão oportunidade de o ver, se ainda não o viram, pela falta de
uma parte geral, muitas figuras, ainda que inseridas num direito real em específico, são
aplicáveis a todos ou quase todos os Direitos Reais. Umas vezes saberão logo que se
aplica a todos os direitos reais porque a lei o dirá como no caso do artigo 1315º que
estende a todos os direitos reais os mecanismos de defesa da propriedade, dos artigos
1311º e ss. Outras vezes, terão de chegar lá por interpretação, ou uma maneira ainda mais
fácil, ler o livro do Professor Regente e ele diz lá se se estende a todos os direitos reais
ou não.
Retomando, este princípio diz-nos que o titular pode atingir a coisa mesmo que tenha
andado por mil mãos. Num exemplo absurdo, algum de vós podia furtar o meu código
civil e nem que o mesmo já tivesse sido vendido 30 vezes, ele continuaria a ser meu. Eu
poderia entrar com uma ação de reivindicação da coisa e pedir: 1) o reconhecimento desse
direito, em que o juiz dirá “és, ou então, não és o proprietário, usufrutuário, superficiário,
etc..” 2) pedir a condenação da restituição da coisa contra quem seja, porque o
proprietário, usufrutuário, o que for, sou eu.
1.1.3-Princípio da prevalência
Este subprincípio, a meu ver, não é tão importante que os outros subprincípios que aqui
falei. Sintetizando, usualmente:
• Primeiro, prevalece o direito real mais antigo
• Segundo, prevalece o direito real sobre o direito de crédito
1.2-Princípio da especialidade
Este princípio diz-nos que o direito real incide sobre uma coisa corpórea, mas isto não
basta, podemos dizer que o direito real incide sobre: uma coisa atual, concreta,
determinada e completa.
1.2.1-Concretização
A Concretização determina que o direito real se reporta a uma coisa delimitada. Neste
caso, costuma-se levantar o problema das coisas compostas do artigo 206º do CC que
aborda tanto as coisas compostas (conjunto articulado de peças ou mais corretamente
coisas simples) como aborda as universalidades de facto (consiste em várias unidades
autónomas, mas admitindo um tratamento negocial unitário).
1.3-Princípio da tipicidade
Este princípio está consagrado no art. 1306º do CC. É um exemplo daquilo que vos dizia
há pouco, ou seja, embora este artigo esteja sistematicamente integrado no direito de
propriedade, tem plena aplicação a todos os direitos reais.
Não vamos estar aqui a discutir sobre os tipos, ou seja que há tipos fechados, como os
penais, ou no fiscal, ou então se há tipos abertos como ocorre p.e. no Direito Civil. O que
têm de saber é nos direitos reais os tipos são abertos. Isto porque não limita as suas fontes
contratuais, contudo essa tipicidade opera quanto aos efeitos decorrentes desse direito
real, ou seja, são aqueles e nem mais nem menos que esses. Outra coisa decorrente da
tipicidade é a impossibilidade de recorrer à analogia para criar um direito real, isso
contenderia com o facto de haver uma tipicidade.
1.4-Princípio da publicidade
Este princípio é, a meu ver, de mais fácil apreensão do que os outros que referi. Eu escolhi
referi-lo especificamente porque a seguir vamos falar dos princípios do registo e os efeitos
do registo e parece-me, que percebem melhor isso se tiverem bem presente que na
esmagadora maioria dos casos, o registo não traz mais publicidade do que aquela que
decorre do exercício normal de um direito real. Ou seja, os direitos reais têm pelas suas
características uma publicidade imanente, pense no seguinte exemplo:
• Eu estou aqui a realizar esta tutoria através do meu computador e a maioria de vós
vai achar que eu tenho sobre o computador um direito real, especificamente talvez
um direito de propriedade. Ou seja, vocês identificariam esta coisa como sendo
minha propriedade, ou então, como incidindo sobre ela um direito real no qual eu
sou beneficiário.
Portanto muita atenção quando se diz que o Registo tem um efeito publicitário. Até é
verdade, mas não significa que pelo facto de eu ter o registo dum imóvel a meu favor,
esse facto traga, tirando em certos casos, mais publicidade do que eu ter as chaves da
casa, entrar em casa quando quero, sair quando quero, partir, estragar, arranhar, sujar,
limpar, vender, arrendar, por aí a fora por aí a fora.
Portanto são estes os princípios reais que referi, sem esquecer que há outras, mas temos
de fazer aqui uma seleção.
2.1-Princípio da obrigatoriedade
O DL 116/2008 introduziu no direito português a obrigatoriedade de registo dos atos
elencados no art. 2º e 3º, embora se prevejam algumas exceções – art. 8º-A/1.
Todavia esta obrigatoriedade não contende com a eficácia real dos mesmos. Como tal se
o obrigado ao registo não o promover, não deixam os contratos de produzir os efeitos
reais, pois a regra geral é a do art. 408º/1 do CC, ou seja, a eficácia decorre do contrato.
• Assim, tanto o comprador adquire o direito real – art. 879º/a) CC – como o
donatário – art. 954º/a CC – independentemente de o registo ter sido ou não feito
pelo obrigado ou por outro com legitimidade para tal.
O trato sucessivo não impõe a obrigatoriedade do registo e por isso não se viola o art.
34º/1. Contudo porque o facto não foi registado, o registo existente fica incompleto e
comunica a quem o consulte uma situação jurídica desconforme. Do ponto de vista
substantivo, no primeiro exemplo o proprietário é B, art. 408º/1 e 879º/ e) no caso da
compra e venda, porém, registalmente, o proprietário é A, que continua a ser presumido
enquanto tal situação não for alterada – art. 7º Crp.
Neste caso prevalece a mais antiga, cessando a presunção mais recente. A presunção vale
ainda nos casos de registo nulo, mas já não nos casos de registo juridicamente inexiste,
isto decorre do art. 15º/1 Crp. Já o efeito presuntivo do registo nulo subsiste até ser
cancelado com base numa decisão judicial transitada em julgado – art. 13º e 17º/1 Crp.
2.1.2-Efeito consolidativo
Como já vos disse a constituição ou transmissão do direito real opera por mero efeito do
contrato 408º. Também outros factos aquisitivos de direitos reis como a usucapião ou a
acessão, não carecem de registo para produzir os seus efeitos. Por isso, para além de
permitir a disposição, notarial e judicial, do direito real, o registo evita a aquisição tabular
por terceiro.
2.1.3-Efeito constitutivo
Este efeito é excecional, o único exemplo em que o registo constitui um direito real é no
caso da hipoteca. Diz-nos o artigo 687º CC que: a hipoteca deve ser registada, sob pena
de não produzir efeitos, mesmo em relação às partes.
2.1.4-Efeito atributivo ou aquisição tabular
Vamos aqui distinguir a ordem substantiva da ordem registal.
• A vendeu a B a propriedade do seu carro. B não registou.
No plano substantivo o proprietário é B. No plano Registal o proprietário é A.
Esta desconformidade entre os planos possibilita, nomeadamente que A volte a dispor da
propriedade do carro, ou seja, proceda a uma dupla alienação. O que a doutrina tem dito
é que, embora, a ordem substantiva prevaleça na maioria das vezes sobre a ordem registal,
permitir que a ordem substantiva prevaleça em todo e qualquer caso, no limite, levará que
os terceiros que confiaram no registo emanado pelo Estado ou seja com fé pública, nunca
adquirissem nada e estivessem reféns do plano substantivo. E isto acontece porque o
artigo 9º/1 do Código do Registo Predial legitima o titular do registo a dispor do seu
direito e o artigo 7º funda uma presunção de que quem figura no registo, é titular do
direito. Por isso, em casos excecionais, o legislador troca a prevalência das ordens. Para
proteger os terceiros que com base na fé pública registal celebraram negócios, é que existe
a aquisição tabular.
Existem 4 preceitos onde se radica uma aquisição tabular, são eles:
• Art. 5º Crp
• 17º/2 Crp
• 122º Crp
• 291º CC
O professor José Alberto Vieira adota uma conceção de boa fé subjetiva ética, assim,
se o terceiro conhece ou devia conhecer a desconformidade entre a situação registal e
a situação substantiva, a razão para a proteção do terceiro deixa de se verificar, pois,
o registo, dito isto, não basta um não conhecer tem de indagar a realidade.
iii. O professor João Serras de Sousa, não concorda com esta posição na
medida em que não se deve equiparar o conhecimento efetivo ao dever de
conhecimento, porque existe a fé pública registal, por isso, seria contra o
escopo do registo que uma vez o individuo perante o que emana o registo
ainda tivesse de indagar da conformidade ou não desse registo com a
ordem substantiva.
Por fim referir que o conceito de boa fé para efeitos da proteção tabular encontra-se
previsto no art. 291º/3 CC. Ele vale para todas as hipóteses de efeito atributivo do registo
predial e, portanto, também para os casos dos artigos, 5º/1, 17º/2 e 122º/2 CRP e não
apenas o do preceito do CC.
2.1.5-Efeito enunciativo
O art. 5º/2/a) Crp permite considerar como meramente enunciativo o registo da usucapião
de direitos reais de gozo, ou seja, não desempenha uma função de publicidade. Desde
logo, aquele que tem a usucapião a seu favor pode impedir o efeito atributivo do registo
predial, pois, “a usucapião não é afetada pelas vicissitudes registais, valendo por si,
mesmo contra o registo da aquisição. Neste sentido se afirma a usucapio contra tabulas.
A usucapião que impede o efeito atributivo do registo predial é a que resulta do regime
geral previsto nos arts. 1287º e ss. que pode resultar tanto da sucessão como da acessão
de posses.