Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Processo: 129/15.0YFLSB
Nº Convencional: SECÇÃO DO CONTENCIOSO
Relator: ANA LUÍSA GERALDES
Descritores: SUBSTITUIÇÃO
ACTO ADMINISTRATIVO
ATO ADMINISTRATIVO
REGULAMENTO
JUIZ PRESIDENTE
JUIZ
DELIBERAÇÃO DO CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA
DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO
REJEIÇÃO DO RECURSO
HOMOLOGAÇÃO
Data do Acordão: 23-06-2016
Votação: MAIORIA COM * DEC VOT E * VOT VENC
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: RECURSO DE CONTENCIOSO
Decisão: PROCEDENTE O RECURSO, ANULADA A DELIBERAÇÃO IMPUGNADA
Área Temática:
DIREITO ADMINISTRATIVO - REGULAMENTO ADMINISTRATIVO - ACTO
ADMINISTRATIVO ( ATO ADMINISTRATIVO ) - PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO.
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA - TRIBUNAIS JUDICIAIS DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
/ PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE COMARCA / ACTOS ADMINISTRATIVOS
PRATICADOS PELO PRESIDENTE ( ATOS ADMINISTRATIVOS PRATICADOS
PELO PRESIDENTE ) / RECURSO PARA O CONSELHO SUPERIOR DA
MAGISTRATURA.
Doutrina:
- Afonso Rodrigues Queiró, Direito Administrativo, Vol. I, Coimbra, 1976, 101, 414.
- Freitas do Amaral, Direito Administrativo, Vol. III, Lisboa, 1989, 13, 14.
- Luís Cabral de Moncada, “Código do Procedimento Administrativo” Anotado, Coimbra
Editora, Novembro de 2015, 527.
- Marcelo Rebelo de Sousa e outro, Direito Administrativo Geral, III, 2.ª ed., Lisboa: D.
Quixote, 2006, 76.
- Mário Aroso de Almeida, In «O novo regime do processo nos tribunais administrativos»,
2004, Almedina, 5, 79, 100, 159.
Legislação Nacional:
CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO (CPA): - ARTIGO 148.º.
LEI N.º 62/2013, DE 26-08: - ARTIGOS 36.º, N.ºS 1 E 2, AL. B), 94.º, N.º 3, 98.º.
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO:
I – 1. AA, BB, CC, DD, EE, FF, GG, HH, II, JJ, LL, MM e NN,
Juízes de direito, a exercerem funções no Tribunal Judicial da
Comarca de ...– Instância ... – ... Secção ...,
“I – Objeto do recurso
1º
O ato impugnado é, como se disse, a douta deliberação do Conselho
Plenário do CSM, de ... de 2015, que decidiu “que o objeto de
impugnado pelos Recorrente não é, afinal, um acto administrativo,
mas antes um regulamento e, por decorrência, de considerar que o
mesmo não é susceptível de recurso hierárquico, o que constitui, nos
termos do disposto no art. 173º, alínea b), do Código do
Procedimento Administrativo causa de rejeição do recurso (cf. doc. 1
que se junta e cujo teor se dá por integralmente reproduzido, assim
como o de todos os documentos doravante juntos, para todos os legais
efeitos).
2º
Os AA. são diretamente visados e lesados pela douta deliberação
impugnada, pelo que têm legitimidade.
3º
Os AA. encontram-se a exercer funções no Tribunal Judicial da
Comarca de ... — Instância ... – ... Secção ..., tendo sido notificados
do ato impugnado em 7 de outubro de 2015, pelo que está em tempo
— cf. artigo 169º, nº 1, do EMJ.
4º
O Tribunal é competente, nos termos do disposto no artigo 168º, nº 1,
do EMJ.
IV. Por fim, também, pelo menos no entendimento dos AA., a decisão
reporta a situação concreta e que se prende com os critérios de
substituição dos juízes daquela comarca em específico (e não a
substituição dos juízes de uma qualquer comarca).
Isto é, cremos que sobressai o carácter concreto da situação regulada,
na medida em que o comando proferido (regulação do regime de
substituição) se esgota com a sua prolação e notificação aos seus
destinatários, uma vez que a consequente produção de efeitos
modifica, de forma imediata, os direitos dos juízes visados por tal
decisão no que a essa matéria diz respeito, nomeadamente se se
considerar as preocupações manifestadas por cada um dos
interessados.
Assim, e quanto a nós, o despacho objeto de recurso só evidenciaria
uma natureza abstrata se tivesse determinado, sem qualquer
pronúncia dos senhores juízes que integrassem as várias
secções/instâncias da comarca, que sempre que verificadas
determinadas circunstâncias, as substituições seriam sempre fixadas
de determinada forma e pelo presidente da Comarca.
Salvo melhor opinião, só nesta hipótese se verificaria que os sujeitos
não eram determinados nem determináveis e a abstração da situação
regulada (ou seja, regulação para situação futura perante
determinadas circunstâncias, sem saber, no entanto, onde, quando e
por quem).
De resto, mesmo que se considerasse que o comando em questão não
assumiria uma natureza concreta mas sim abstrata (o que não se
concede), certo é que, face ao que se deixou exposto, o mesmo tem
uma inequívoca natureza individual, pelo que, e como se afirmou em
recentes deliberações do R. (também proferidas no sai 29 de setembro
de 2015), o mesmo não deveria ser “assimilado à figura do
regulamento, mas do acto administrativo, (…) [pois] não reún[e],
cumulativamente, as características de generalidade e da
abstracção” (cf. deliberação do CSM, de 29 de setembro de 2015,
proc. nº 2014-478/OU).
III — Conclusões:
(i) A qualificação de determinado comando como ato ou regulamento
depende de se saber se, numa análise casuística, aquele assume
natureza geral e abstrata ou uma natureza individual e concreta, ou
seja, reconduz-se à questão de se saber se os destinatários dos
comandos normativos são (individual) ou não (gerais) determinados
ou determináveis, enquanto que os conceitos de abstrato e concreto
traduzem a possibilidade de esgotamentos dos efeitos das situações
da vida que se pretende regular (se o efeito do comando normativo se
esgota com a produção do comando diremos que se trata de um ato;
se o comando subsiste no mundo jurídico e não se esgota para e na
situação de determinados sujeitos, então assume a forma de
regulamento);
(ii) Resulta do conteúdo do despacho da Exma. Senhora Presidente da
Comarca de ... e que foi alvo de recurso para o CSM, que se trata de
um comando decisório, na medida em que impõe uma prescrição, ou
seja, uma ordem precisa sobre os critérios a considerar no regime de
substituição dos juízes daquela comarca em caso de falta ou
impedimento, decisão essa que foi proferida no âmbito dos poderes
deveres dos presidentes da comarca, ao abrigo das competências que
lhes são próprias, e que regulou, nos termos definidos na LOSJ, a
situação jurídica dos juízes daquela comarca.
(iii) De resto, é uma decisão (com o sentido e alcance acima
evidenciados) que produz efeitos jurídicos na esfera de terceiros que
com o seu autor mantêm uma relação jurídica administrativa nos
termos da LOSJ, nomeadamente na esfera jurídica dos juízes da
Comarca que Exma. Senhora Juíza Presidente encabeça;
(iv) Por outro lado, é indubitável que a decisão incide sobre uma
situação individual, pois os destinatários daquela decisão ainda que
não estejam concretamente determinados, são efetivamente
determináveis, isto é, destinatários do despacho são efetivamente os
senhores juízes que se encontravam à data da sua prolação e
sucessivas alterações de conteúdo a exercer funções no tribunal da
comarca de ... (e que sobre o despacho reclamado se pronunciaram) e
não qualquer magistrado que aí viesse a ser colocado e/ou que
prestasse as suas funções noutra comarca;
(v) Por fim, sobressai o carácter concreto da situação regulada, na
medida em que o comando proferido (regulação dos critérios a ter
presentes no regime de substituição) se esgota com a sua prolação e
notificação aos seus destinatários, uma vez que a consequente
produção de efeitos limita/restringe, de forma imediata, os direitos
dos juízes daquela comarca no que em matéria de substituições diz
respeito;
(vi) Aliás, mesmo que se considerasse que o comando em questão
não assumiria uma natureza concreta mas sim abstrata (o que não se
concede), certo é que, face ao que se deixou exposto, o mesmo tem
uma inequívoca natureza individual, pelo que, e como se afirma na
douta deliberação R. de 29 de setembro de 2015, proc. nº 2014-
478/OU, o mesmo não deveria ser “assimilado à figura do
regulamento, mas do acto administrativo, (…) [pois] não reún[e],
cumulativamente, as características de generalidade e da
abstracção”;
(vii) Na verdade, a natureza de ato administrativo é ainda mais
evidente se se verificar que o comando normativo proferido pela
Exma. Senhora Presidente da Comarca de ... traduz a aplicação a
situação individual e concreta de uma orientação genérica,
designadamente na sequência das orientações gerais fornecidas pelo
R. a esse respeito (este sim um comando que não se revela como um
ato administrativo), conforme, aliás, é sublinhado no despacho
recorrido;
(viii) A douta deliberação impugnada padece, por isso, de manifesto
erro de julgamento, em clara violação do disposto nos artigos 98º do
LOSJ, e 148º e 193º, nº 1, do novo CPA, motivo pelo qual deve ser
anulada, nos termos do disposto no artigo 163º, nº 1, do CPA, e
substituída por outra que aprecie o objeto do recurso submetido à
apreciação do R., por efetivamente estarmos na presença de uma
impugnação administrativa de um ato administrativo proferido por
um presidente de comarca, sendo entendimento contrário
inconstitucional, por clara violação do direito ao recurso (judicial e
administrativo), instituído nos artigos 20º, nº 1, e 268º, nº 4, da
Constituição da República Portuguesa (CRP).
(ix) Ao suportar o mesmo entendimento, também a deliberação do
CSM, de ....2015, relativa à rejeição da reclamação apresentada pelos
AA. é ilegal, porquanto a mesma opõe-se, de forma manifesta, à
utilidade pretendida nos presentes autos
(x) Termos em que o Recurso deve ser julgado procedente, com as
legais consequências.
“I – OBJETO DO RECURSO:
Vem interposto recurso por AA e outros, todos Juízes de Direito a
exercer funções na ... Secção ..., Instância ..., do Tribunal Judicial da
Comarca de ..., da deliberação do Conselho Superior da Magistratura,
de ... de 2015 (cf. fls. 46-57), que deliberou rejeitar recurso interposto
pelos ora recorrentes (cf. fls. 67-97), de despacho proferido pela
Senhora Juiz Presidente do Tribunal da Comarca de ...(cf. fls. 58-
62), que estabeleceu os critérios para a “substituição de juízes nas
suas faltas e impedimentos”.
Como fundamento do recurso que apresentam, e no qual pede a
anulação da referida deliberação e a sua substituição por outra que
aprecie o recurso nos termos em que lhe foi submetido, alegam os
recorrentes que a deliberação em causa violou o disposto nos artigos
148 e 193º, nº 1 do NCPA, uma vez que o despacho em causa
constitui um ato administrativo, hierarquicamente recorrível,
reputando ainda de inconstitucional o entendimento sufragado na
deliberação recorrida.
Na resposta que apresentou expressa o CSM/Recorrido o
entendimento de que estando-se em presença de um ato que reveste a
natureza de regulamento e, como tal, não suscetível de recurso
hierárquico, a deliberação recorrida não contem os vícios que os
recorrentes lhe imputam e deve ser mantida.
As posições anteriormente assumidas foram mantidas nas alegações
apresentadas.
II – APRECIANDO:
Ao presente recurso e respetiva decisão subjaz a questão de saber
qual a natureza do despacho proferido pela Senhora Juiz Presidente
da Comarca de ..., se um ato administrativo, como defendem os
recorrentes, por ser: “…um comando decisório, na medida em que
impõe uma prescrição, ou seja, uma ordem precisa sobre critérios a
considerar na substituição dos juízes daquela comarca em caso de
impedimento ou falta”; por se tratar “…de uma decisão que foi
proferida no âmbito dos poderes deveres dos presidentes da comarca,
ao abrigo das competências que lhe são próprias, e que regulou, nos
termos definidos pela LOSJ, a situação jurídica dos juízes, e para o
que aqui interessa, da ... Secção ... da Instância Central daquela
comarca no que á matéria de substituição em falta ou impedimento”
diz respeito; por se tratar, também, de uma decisão que “…produz
efeitos jurídicos na esfera de terceiros que com o seu autor mantém
uma relação jurídica administrativa nos termos da LOSJ,
nomeadamente na esfera jurídica dos juízes da ... Secção ...…” (cf.
fls. 11); e, por último argumento, por estar em causa uma “…decisão
[que]incide sobre uma situação individual, pois os destinatários
daquela decisão ainda que não estejam concretamente determinados,
são efectivamente determináveis…”, ou se reveste a natureza de um
regulamento, como defende o recorrido, em virtude de revestir
carácter de generalidade, por ter destinatários indeterminados, não
sendo o facto de o comando em causa ter como destinatários os juízes
– “os presentes e os futuros – em exercício de funções no Tribunal
Judicial da Comarca de ... …(cf. fls. 144-vº) que lhe retira o
carácter de generalidade. .
As partes referem abundantes referências doutrinárias em defesa dos
respetivos pontos de vista.
Sintetizando esses apontamentos doutrinários e também
jurisprudenciais vamos transcrever o que sobre essa matéria escreveu
a Exmª Procuradora-Geral Adjunta ..., em parecer que apresentou no
Processo nº 126/15.2YFLSB, pendente na Secção de Contencioso
deste STJ e versando matéria absolutamente idêntica à que agora nos
ocupa.
Aí se escreveu o seguinte:
“ De acordo com a doutrina e a jurisprudência sedimentada do
Supremo Tribunal Administrativo, os traços diferenciadores entre as
duas figuras jurídicas, são os seguintes:
- o acto normativo caracteriza-se pela generalidade e pela
abstracção;
- a generalidade deriva da indeterminação e indeterminabilidade dos
destinatários do acto, significando que a norma não tem, por
natureza, destinatário ou destinatários determinados, concretamente
mencionados ou mencionáveis;
- a abstracção resulta da circunstância de o acto constituir uma
previsão de uma situação objectiva, que, como tal, se não esgota
numa única aplicação, antes volta a aplicar-se sempre que no caso
concreto concorram os elementos típicos dessa previsão, significando
que se disciplina não um caso ou hipótese determinada, mas um
número indeterminado de casos, uma pluralidade de hipóteses reais
que venham a verificar-se no futuro [ a vigência sucessiva que lhe
mantêm o carácter de regra abstracta[1]], ao passo que o acto
administrativo versa sobre determinada relação jurídica e define com
força obrigatória, no uso de poderes de autoridade, o seu regime
jurídico. Tem carácter concreto e esgota-se com a realização desse
objectivo.
Em síntese, o acto normativo goza dos atributos, cumulativos, de
generalidade e abstracção, diferenciando-se, assim do acto
administrativo que visa a produção de efeitos jurídicos num caso
concreto.
Segundo o Professor Freitas do Amaral, a propósito do artigo 120º
do CPA[2], a ideia do legislador “foi a de encontrar um conceito
operativo para delimitação do âmbito de aplicação material do CPA”
conceito esse que, segundo o mesmo autor, e a jurisprudência do
STA, erigiu a individualidade, isto é a aplicação a sujeito(s)
determinado(s) como o elemento chave da noção e, do mesmo passo,
como critério para distinguir entre acto administrativo e acto
normativo, de molde que, sempre que haja generalidade, isto é
aplicação a um grupo indeterminado de cidadãos, ainda que
determináveis, mas, portanto, sem definição de situações individuais,
o comando deve considerar-se como ato normativo e não como acto
administrativo.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo, abordando a
problemática dos actos plurais, perfilha, há muito, idêntica
abordagem[3]. Assim, no acórdão do Pleno de 16.12.1999, Procº nº
38606, afirmou-se, que “tal possibilidade [a identificação dos
destinatários dos efeitos do acto através de referência a categorias
abstractas mas incluídas num grupo relativamente restrito] ficou
prejudicada a partir da entrada em vigor do CPA, cujo artigo 120º
impõe, como elemento essencial do acto administrativo, a produção
de “efeitos jurídicos numa situação individual e concreta.
Exigência que de modo algum é compatível com a identificação dos
destinatários do acto através de categorias abstractas como são
aquelas que designam cargos da função pública,
independentemente do número de interessados que nelas possam
ser incluídos. A identificação adequada dos destinatários (artº 123º,
do mesmo diploma), obriga, pois a uma referência pessoal”.
Acrescentando, no acórdão do Pleno de 7.6.2006, Procº nº 01257/05,
que:
“(…) do disposto no art. 120º do CPA decorre que o acto singular
(que se aplica apenas a uma situação concreta determinada), se não
for, em simultâneo, individual (se não definir situações individuais)
não é sinónimo de acto administrativo e, portanto, não equivale a
acto não normativo. Temos, portanto, que, nos despachos em causa,
coexistem características de acto administrativo – a singularidade –
e de acto normativo – a generalidade. Nestes casos de actos mistos
de difícil qualificação – actos gerais e concretos - impõe-se que o
intérprete, na opção por um dos sentidos possíveis - acto
administrativo/acto normativo - acolha a vontade do legislador (art.
9º, nº 1 C. Civil). E esta indica, com clareza, que a generalidade,
entendida como definição de destinatários por meio de conceitos ou
categorias abstractas, sem individualização de pessoas, foi erigida
como elemento essencial do conceito de acto normativo (vide, neste
sentido, Freitas do Amaral, in “Curso de Direito Administrativo”,
vol. II, pp. 170 e segs.). Sendo assim, a dúvida haverá de resolver-se
em favor da normatividade. Este é um critério operativo de raiz
legal, que serve o valor da segurança, evitando o vazio nas
situações mais problemáticas que não se encaixam nem na noção
de acto administrativo nem no conceito tradicional de regulamento
(que apelava à verificação simultânea de generalidade e abstracção
ou vigência sucessiva) e que não implica o desfavorecimento
intolerável do valor da protecção judicial dos destinatários, uma vez
que deixa em aberto, conforme a natureza do acto normativo, ou a
possibilidade de impugnação por via directa ou a impugnação por
via incidental, nos recursos contenciosos a interpor dos actos de
aplicação.”
O acto normativo caracteriza-se, pois, pela concorrência das notas
da generalidade e da abstracção, traduzindo-se a primeira na
indeterminação dos respectivos destinatários, que não são
identificados no respectivo texto, e a segunda que se não esgote
num único acto de aplicação e seja antes susceptível de ser aplicada
num número indeterminado de casos””.
II – QUESTÕES A DECIDIR:
III – Decisão:
- Termos em que, na procedência do recurso, se acorda em anular
a deliberação impugnada, bem como a deliberação do CSM de
...2015, a que se reporta o requerimento de fls. 194 dos autos.
- Custas pelo Conselho Superior da Magistratura, com taxa de
justiça de 6 UC (art. 527º, nºs 1 e 2, do Código de Processo Civil, ex
vi art. 1º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, e art.
7º, nº 1, do Regulamento das Custas Processuais, e respectiva Tabela
I-A anexa).
- Valor da causa: € 30.000,01 (art. 34º, nº 2, do Código de Processo
nos Tribunais Administrativos).
Martins de Sousa
------------------
[1] Cf. ProF. Marcelo Caetano, Manual de Direito Administrativo, Vol. I, Almedina, 10ª ed., p.
437.
[2] Prof. Freitas do Amaral e outros, Código do Procedimento Administrativo Anotado,
Almedina, 5ª ed. 2005.
[3] Cf., entre outros, Acs. de 3.11.2004, Procº 0678/04, 7.7.2004, Procº 01011/02, 7.6.2006,
Procº 0125/05, e de 12.4.2007, Procº 0755/06.
[4] Reportamo-nos directamente ao Acórdão do STJ, desta Secção, datado de 31/3/2016,
proferido no âmbito do processo 127/15.2YFLSB, Relatado pelo Cons. Oliveira Mendes,
disponível em www.dgsi.pt., que aqui se reproduz na totalidade, porquanto defendemos igual
entendimento e subscrevemos nos mesmos termos a sua fundamentação.
[5] - Segundo estatui o artigo 8º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 4/2015, de 7 de Janeiro, que aprovou o
Código de Procedimento Administrativo vigente, o disposto nas partes I e II, no capítulo III do
título I da parte III e na parte IV do Código aplica-se aos procedimentos administrativos em
curso à data da sua entrada em vigor, sendo as restantes disposições do Código aplicáveis
apenas aos procedimentos administrativos que se iniciem após a entrada em vigor do presente
decreto-lei, sendo certo que o acabado de transcrever artigo 148º encontra-se inserido na secção
I do capítulo II da parte IV, o que significa ser aplicável ao presente procedimento.
[6] - Este preceito encontra-se inserido na secção I do capítulo I da parte IV do respectivo
Código, pelo que é aplicável ao presente procedimento.
[7] - Cf. Colaço Antunes, A Teoria do Acto e a Justiça Administrativa (Almedina – 2006), 118 e
ss.
[8] - Código do Procedimento Administrativo Anotado e Comentado (Quid Juris – 2009), 328.
[9] - Cf. Colaço Antunes, Ibidem, 133/134.
[10] - Direito Administrativo (1989), 36/37.
--------------------------
Vencido
*Em 5 de Agosto de 2014 foi notificado aos recorrentes. o despacho
proferido pela Presidente do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa,
através do qual, e entre o demais, se fixou os critérios de substituição
de juízes, nas suas faltas e impedimentos, no Tribunal Judicial da
Comarca de Lisboa
O recorrido considera que o recurso hierárquico interposto pelos
recorrentes é inadmissível, por aquele configurar um regulamento e
não um acto administrativo.
Os recorrentes defendem que o despacho proferido configura um acto
administrativo e como tal susceptível de recurso nos termos do art.
98.º do LOSJ.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo, tem-se
pronunciado sobre esta problemática, perfilhando o entendimento
professado pelos primeiros Autores acima citados.
Vejamos, a título de exemplo, alguma desta jurisprudência:
[9] Veja-se, neste sentido, Acórdão do STA de 22-04-2004, Proc. 0933/02, acessível in
www.dgsi.pt: “I - O acto normativo caracteriza-se pela verificação cumulativa dos requisitos da
generalidade e da abstracção, enquanto o acto administrativo visa produzir efeitos jurídicos
numa situação individual e concreta. II - Constitui acto administrativo o Despacho conjunto que
estabelece os critérios para a integração nas categorias da função pública dos trabalhadores
das extintas casas de cultura e juventude, com a publicação em anexo da lista provisória
resultante da aplicação dos aludidos critérios; de facto, os funcionários a quem as
determinações do referido despacho se aplicam estão concretamente determinados ab initio,
constando de lista normativa publicada e esgotam-se com uma única aplicação, embora com
pluralidade de destinatários concretos.”
[10] Cf. Afonso Rodrigues Queiró in «Direito Administrativo», Vol. I, Coimbra, 1976, pág. 414
segundo o qual abstracção significa que regulam ou disciplinam não um caso ou hipótese
determinada, concreta ou particular, mas um número indeterminado de casos, uma pluralidade de
hipóteses reais que venham a verificar-se no futuro. “(…)Enquanto os regulamentos possuem
“uma pretensão imanente de duração” (Forsthoff) e não se consomem na sua primeira
aplicação, voltando a aplicar-se de cada vez que a situação abstractamente prevista se
verifique”.
[11] Cf. refere Carlos Blanco Morais in ob. cit., pág. 5 “Os regulamentos são normas jurídicas
gerais e abstratas. Daqui resulta o reconhecimento, a contrario sensu, de que há em direito
público normas jurídicas, desprovidas de generalidade e abstração (como é o caso de leis-
medida) bem como o entendimento, segundo o qual não são regulamentos para efeitos de
aplicação do CPA, os atos administrativos gerais ou os regulamentos desprovidos de aplicação
permanente.”
[12] In ob. cit, pág. 79.
[13] In «Direito Administrativo», Vol. III, Lisboa, 1989, pág. 13.
[14] V. Freitas do Amaral in ob. cit. pág. 14 “regras de conduta da vida social, dotadas das
características da generalidade e da abstração.”
[15] V. Afonso Rodrigues Queiró in ob. cit., pág. 101: “função administrativa é uma função que
em parte é realizada, directamente, pelo Estado e noutra parte é realizada por comunidades
territoriais menores, formadas justamente, no quadro mais amplo da comunidade personificada
no Estado, para gerirem interesses colectivos ou comuns locais. Estes interesses não são
irrelevantes ou indiferentes em relação aos interesses gerais de toda a comunidade nacional, e
são, de algum modo, simultaneamente, interesses públicos gerais, cabendo ao Estado controlar
a sua prossecução por parte das comunidades locais autónomas.”
[16] Nos termos do artigo 115.º, n.º 7, da CRP “os regulamentos devem indicar expressamente
as leis que visam regulamentar ou que definem a competência subjectiva e objectiva para a
sua emissão”. Como refere Mário Aroso de Almeida in ob. cit. pág. 100 “O art. 112.º, n.º 7 da
CRP admite a emanação de regulamentos apenas precedidos de uma pura norma de produção
normativa, isto é, de uma lei que se limite a atribuir aos órgãos que os emanem (competência
subjectiva) a competência para introduzirem disciplina normativa de conteúdo inovador sobre
determinada matéria (competência objectiva)”.
[17] Norma esta expressamente constante do despacho em causa.