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Processo: 044141 Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Data do Acordão: 29-06-2006

Tribunal: 1 SUBSECÇÃO DO CA

Relator: PAIS BORGES

Descritores: INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DISCIPLINAR.


ACTO PREPARATÓRIO.
ACTO LESIVO.
MAGISTRADO JUDICIAL.

Sumário: I - O acto que ordena a instauração de um processo disciplinar é, em


princípio, um acto preparatório, não directamente lesivo, como tal, não
recorrível contenciosamente.
II - Só assim não será nos casos em que o acto preparatório ou
interlocutório possuir, em concreto, características de lesividade
autónoma e imediata, desencadeando directamente na esfera jurídica do
interessado consequências lesivas imediatas.
III - Fora destes casos, comummente qualificados como actos destacáveis
para efeitos de impugnação contenciosa, só o acto final do processo
disciplinar assumirá a natureza de acto lesivo, aí se podendo invocar
todas as ilegalidades ocorridas durante o procedimento, designadamente
as reportadas aos actos preparatórios ou de trâmite, não destacáveis, e
que, desse modo, se reflectem no acto final.
IV - A “lesividade” de que fala o texto constitucional (art. 268º, nº 4 da
CRP), como pressuposto da impugnabilidade contenciosa, é uma
lesividade objectiva e actual, e não meramente potencial ou abstracta, ou
seja, com virtualidade para provocar uma alteração objectiva da ordem
jurídica, visando e que visa definir inovatoriamente uma concreta
situação jurídico-administrativa.
V - O art. 17º, nº 1 al. g) do EMJ (Lei nº 21/85, de 30 de Julho), confere
aos magistrados judiciais a isenção de preparos e custas relativamente às
acções ou recursos em que sejam parte, principal ou acessória, por causa
do exercício concreto da sua função de julgar, entendida “stricto sensu”,
o que não ocorre quando estamos perante um processo em que o
magistrado intervém por virtude do apuramento da sua responsabilidade
disciplinar.

Nº Convencional: JSTA00063309
Nº do SA120060629044141
Documento:
Data de Entrada: 30-07-1998
Recorrente: A...
Recorrido 1: CONSELHO SUPERIOR DOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS
Votação: UNANIMIDADE
Meio Processual: REC CONTENCIOSO.
Objecto: DEL CSTAF DE 1998/03/30.
Decisão: REJEIÇÃO REC CONT.
Área Temática 1: DIR ADM CONT - ACTO.
Área Temática 2: DIR JUDIC - EST MAG.
Legislação ETAF84 ART98 N3 ART77.
Nacional: CONST ART268 N4 ART20 N1.
LPTA85 ART25.
EMJ85 ART108 N1 ART116 N1 ART17 N1.
L 10/94 DE 1994/05/05.
Jurisprudência AC STAPLENO PROC327/02 DE 2005/10/06.; AC STAPLENO PROC41801 DE
Nacional: 1999/02/09.; AC STA PROC1626/03 DE 2005/01/11.; AC STA PROC44195 DE 1999/05/05.;
AC STA PROC44036 DE 1998/09/23.
Referência a SANTOS BOTELHO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO 4ED PAG287.
Doutrina:

Aditamento:

Texto Integral
Texto Acordam, em conferência, na Secção do Contencioso Administrativo do
Integral: Supremo Tribunal Administrativo:
( Relatório )
I. A..., Juiz Desembargador do Tribunal Central Administrativo, identificado
a fls. 2, interpôs neste STA recurso contencioso da deliberação do
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF), de
30.03.98, que determinou a instauração de processo disciplinar ao
recorrente, por factos participados pelo Presidente do TCA, imputando
àquela deliberação diversas ilegalidades.
Requereu a isenção de custas no processo, ao abrigo do disposto no art.
17º, nº 1, al. g) da Lei nº 21/85, de 30 de Julho, na redacção da Lei nº
10/94, de 5 de Maio, ex vi art. 77º do DL nº 129/84, de 27 de Abril.
No seu visto inicial (fls. 70), o Exmo magistrado do Ministério Público
neste Supremo Tribunal Administrativo emitiu parecer no sentido da
irrecorribilidade do acto, por falta de lesividade própria, sustentando que o
recurso deveria ser rejeitado por manifesta ilegalidade da sua
interposição, nos termos do art. 57º, § 4º do RSTA.
Ouvido nos termos do art. 54º, nº 1 da LPTA, veio o recorrente (fls. 73 e
segs.) sustentar o indeferimento da questão prévia suscitada pelo
Ministério Público, considerando, em síntese, que é inconstitucional a
interpretação ali acolhida dos arts. 120º do CPA, 25º da LPTA e 57º, § 4º
do RSTA, por violação dos arts. 20º nº 1, 268º nº 4 e 112º nº 6, todos da
CRP, na redacção resultante da revisão constitucional de 1997.
Por despacho do relator (fls. 82), foi relegada para final a decisão da
referida questão prévia.
Na sua resposta, subscrita pelo Presidente do CSTAF “no uso de
competência delegada, nos termos do documento em anexo” (fls. 85 e
segs.), a entidade recorrida sustentou a improcedência da questão
incidental do impedimento do Presidente do CSTAF, bem como a
procedência da questão prévia da irrecorribilidade do acto suscitada pelo
Ministério Público, e, subsidiariamente, a legalidade do acto impugnado,
pronunciando-se ainda pela não isenção de custas por parte do
recorrente.
Por requerimento de fls. 112 e segs., veio o recorrente requerer a
declaração de nulidade da resposta apresentada, por nulidade da
delegação de poderes do CSTAF no seu Presidente, bem como o
desentranhamento da mesma e documentos com ela juntos, por
impertinência.
A entidade recorrida pronunciou-se, nos termos do requerimento de fls.
163 e segs., pelo indeferimento da pretensão, invocando a sua
deliberação de 23.11.98, pela qual foram delegados no respectivo
Presidente todos os poderes de intervenção em sede contenciosa,
relativamente à impugnação das deliberações do Conselho.
Na sua alegação final, formula o recorrente as seguintes e extensas
conclusões:
Questão Prévia
I - Considerar que o concreto acto impugnado – acto instaurativo de
processo disciplinar ao recorrente – é um mero acto procedimental
necessário à existência de um procedimento punitivo é não atender,
contra lei constitucional expressa, ao direito que o recorrente tem de
"impugnar qualquer acto administrativo que lese os seus direitos ou
interesses legalmente protegidos, qualquer que seja a sua forma", direito
este garantido como tutela jurisdicional efectiva (art. 268°, nº 4, da
Constituição).
II - O acto administrativo tem a função delimitadora de garantia contida no
art. 268°, nº 4, da Constituição, cujo critério resulta da necessidade de
assegurar uma garantia judicial efectiva.
III - A responsabilidade disciplinar que o órgão recorrido pretende exercer
acarreta a possibilidade de modificação da situação actual do juiz que o
recorrente é.
IV - A actuação da responsabilidade disciplinar começa logo com a
instauração do processo disciplinar, e não apenas com a punição
disciplinar.
V - Tanto o órgão recorrido, como o recorrente e o Dr ... são, desde
30.3.98, sujeitos do processo disciplinar nº 439 do Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, estatuto processual de contornos
jurídicos precisos.
VI - Desde essa data – 30.3.98 – o ora recorrente é "arguido", não
podendo ser promovido (art. 108°, nº 1, da Lei nº 21/85, de 30 de Julho), e
estando em situação em que pode ser suspenso preventivamente (art.
116°, nº 1, da Lei nº 21/85, de 30 de Julho), ao contrário dos outros juízes.
VII - A situação de arguido do recorrente, impeditiva da sua promoção
enquanto durar a pendência do processo disciplinar, e susceptível de
acarretar a sua suspensão preventiva, com a suspensão de funções
prevista no art. 71°, alínea h), da Lei nº 21/85, de 30 de Julho, é uma
situação jurídica concreta definida pelo acto instaurativo do processo
disciplinar.
VIII - Tal situação é lesiva do direito a ser promovido e do direito à
estabilidade, direitos subjectivos conferidos pela Constituição e pela Lei.
IX - No caso sub judice, as ilegalidades que o recorrente imputa ao acto
instaurativo do processo disciplinar não dependem, para a sua
subsistência, da ulterior tramitação do processo disciplinar, verificando-se
logo desde a instauração.
X- A entender-se o contrário, está-se a admitir que haja ilegalidades que
não constituem invalidades sindicáveis, o que, desde logo, contraria o
disposto no art. 268°, nº 4, da Constituição.
XI - O acto instaurativo do processo disciplinar é pressuposto do acto
punitivo e, nessa medida, o acto impugnado nos presentes autos
condiciona irremediavelmente a decisão final que se adivinha, constituindo
fonte imediata deste.
XII - É indefensável o princípio da impugnação unitária contido no art. 25°,
1, do Decreto-Lei nº 267/85, de 16 de Julho, acentuando que o critério de
recorribilidade contenciosa assenta no carácter lesivo do acto.
XIII - Para além da "paz jurídica" do recorrente que é afectada pela
instauração do processo disciplinar em causa, potenciada pelas
circunstâncias descritas na petição relativas à actual politica de gestão de
pessoal do CONSELHO SUPERIOR DOS TRIBUNAIS
ADMINISTRATIVOS E FISCAIS, temos que, como acima se referiu, a
insusceptibilidade actual do recorrente ser promovido, bem como a
possibilidade de ser preventivamente suspenso, não podem deixar de ser
consideradas como actualmente lesivas do "status" do recorrente.
IV - Considerar-se que o acto impugnado, nos presentes autos, não define
a situação jurídica concreta do recorrente, que apenas inicia o processo
disciplinar, sendo meramente preparatório ou instrumental de um eventual
acto punitivo, não sendo imediatamente lesivo dos direitos ou interesses
legalmente protegidos do recorrente, é interpretar o complexo normativo
dado pelos arts 120° do CPA, 25°, nº 1, do Decreto-Lei nº 267/85, de 16
de Julho, e 57°, § 4°, do RSTA, em sentido não suportado pelos arts 20°,
nº 1, e 268°, nº 4, da Constituição, na redacção resultante da Revisão
Constitucional de 1997.
XV- Se, por outro lado, com a invocação da jurisprudência do Supremo
Tribunal Administrativo se pretende interpretar vinculativamente o disposto
nos arts 120° do CPA, 25°, nº 1, do Decreto-Lei nº 267/85, de 16 de Julho,
e 57°, § 4°, do RSTA está-se afinal a "conferir a actos de outra natureza o
poder de, com eficácia externa, interpretar" o referido complexo normativo,
com violação do disposto no art. 112°, nº 6, da Constituição.
Impedimento do Presidente do C.S.T.A.F.
XVI - No caso de recursos interpostos de actos do Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, o presidente do órgão recorrido é,
simultaneamente, o presidente do órgão jurisdicional.
XVII - Esta simultaneidade verifica-se sempre e em concreto.
XVIII - Desempenhando o Presidente do Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais, simultaneamente e por força da lei, funções no
pleno da Secção do Contencioso do Supremo Tribunal Administrativo,
vem a revelar-se incompatíveis tais funções entre si, na medida em que
vem aquela entidade a julgar-se a si própria.
XIX - O interesse público prosseguido pelo Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, qual seja o de assegurar a gestão e a
disciplina dos juízes da jurisdição administrativa e fiscal (art. 98°, nº 1, do
Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril), briga com o interesse também
público de administrar justiça em nome do povo (arts 1° e 3° do Decreto-
Lei nº 129/84, de 27 de Abril), numa posição de desinteresse, neutra,
imparcial.
XX - O que remete para a dependência em que, por um lado, vem a ficar a
Secção de Contencioso do Supremo Tribunal Administrativo face ao
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, para além da
circunstância de os juízes serem nomeados por este e lhe estarem
sujeitos disciplinarmente.
XXI - É totalmente irrelevante a inexistência de dependência funcional –
basta a dependência disciplinar para que os juízes deixem de ser
independentes perante o CONSELHO SUPERIOR DOS TRIBUNAIS
ADMINISTRATIVOS E FISCAIS.
XXII - As normas que determinam que o Presidente do Conselho Superior
dos Tribunais Administrativos e Fiscais, enquanto Presidente do Supremo
Tribunal Administrativo, compõe as subsecções da Secção de
Contencioso Administrativo deste Tribunal, com competência para decidir
os recursos de acto daquele Conselho – arts 26°, nº 1, alínea c), e 27°, nº
1, do Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril – violam directamente a
Constituição, nomeadamente, os arts 20°, 111°, nº 1, 202°, nºs 1 e 2,
203°, 212°, nº 3, 266°, nº 1, 268°, nºs 4 e 5.
XXIII - No processo disciplinar instaurado pelo acto impugnado estão em
causa declarações que o recorrente teria proferido, durante a conferência
da lª Secção do Tribunal Central Administrativo do passado dia 12.3.98,
alegadamente ofensivas de um membro do CONSELHO SUPERIOR DOS
TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS, o referido Dr ....
XXIV - As infracções cometidas no exercício destes direitos [de expressão
do pensamento] ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal
ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação
respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade
administrativa independente, nos termos da lei" – art. 37°, nº 3, da
Constituição, na redacção resultante da IV Revisão Constitucional.
XXV - A leitura do art. 37°, nº 3, implica a competência exclusiva, ou dos
tribunais judiciais, ou de entidade administrativa independente, para
apreciar as referidas infracções.
XXVI - Aliás, a alteração dada pela IV Revisão Constitucional ao art. 37º,
nº 3 (infracções submetidas aos princípios gerais do ilícito de mera
ordenação social, e da apreciação da competência de entidade
administrativa independente) vem reforçar o entendimento de
competência exclusiva.
XXVII - Não se pode estender a expressão "infracções cometidas no
exercício destes direitos" além de infracções criminais ou infracções
contra-ordenacionais, no sentido de admitir infracções administrativas aos
mesmos direitos, da competência de entidades administrativas.
XXVIII - Não é constitucionalmente admissível que a expressão normativa
"infracções cometidas no exercício do direito de exprimir livremente o
pensamento" integre infracção administrativa a deveres profissionais de
agentes ou funcionários do Estado ou da Administração pública.
XXIX - Se a apreciação das infracções cometidas no exercício do direito
em causa é, constitucionalmente, da competência dos tribunais judiciais
ou de entidades administrativas independentes, isso significa que não é
da competência de entidades que não se configuram como tribunais
judiciais ou como entidades administrativas independentes com essa
competência contra-ordenacional.
XXX - É manifesto que o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos
e Fiscais não é um tribunal, muito menos é um "tribunal judicial".
XXXI - Por outro lado, o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos
e Fiscais se bem que configurável como entidade administrativa
independente, não tem atribuições no domínio da expressão do
pensamento, não tem competências contra-ordenacionais, e muito menos
tem a competência contra-ordenacional relativa às infracções em causa.
XXXII - Daí que seja inconsistente considerar que as afirmações feitas ou
actos praticados pelo recorrente podem constituir ilícito criminal e ou ilícito
disciplinar, uma vez que de acordo com o art. 37º, nº 3, da Constituição
apenas podem constituir ilícito criminal ou contra-ordenacional – nunca
disciplinar.
XXXIII - O presente processo disciplinar administrativo, tramitado pelo
órgão administrativo recorrido implica a violação do princípio da separação
de poderes, constituindo a prática de procedimentos por órgão
administrativo incluído nas atribuições dos tribunais judiciais, o que
configura o vício de usurpação de poder, e acarreta a sua nulidade, nos
termos do art. 133°, nº 2, alínea a), do Código do Procedimento
Administrativo.
XXXIV - Por outro lado, a carência de atribuições e competências contra-
ordenacionais configura o vício de incompetência absoluta, punido com a
nulidade nos termos do art. 133°, nº 2, alínea b), do Código do
Procedimento Administrativo.
XXXV - A não ser assim, está-se a interpretar o disposto nos arts 77° do
Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais, e 82°, 90°, n° 1, e 95°, nº
1, alínea a), da Lei nº 21/85, de 30 de Julho, normas que suportam o acto
administrativo expulsivo em oposição com o estabelecido nos art. 37°, nº
2, e art. 216°, nº 1, da Constituição.
Inexistência de acta da sessão de 12.3.98 da 1ª Secção do Tribunal
Central Administrativo.
XXXVI - Não existe qualquer acta da sessão de 12.3.98 da 1ª Secção do
Tribunal Central Administrativo, sessão em que, de acordo com a
acusação do vogal do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais Dr ..., e do instrutor Dr ..., o recorrente terá proferido as
expressões "ofensivas".
XXXVII - No Tribunal Central Administrativo deve haver um livro de actas
das sessões, onde o secretário de tribunal superior elabora as actas das
sessões, para o que assiste às reuniões, e em que relata todas as
vicissitudes dignas de menção ocorridas durante a sessão.
XXXVIII - No Tribunal Central Administrativo não existe, nem nunca
existiu, qualquer livro de actas das sessões, nunca tendo o secretário de
tribunal superior assistido às sessões para efeitos de elaboração de acta.
XXXIX As sessões dos tribunais superiores são de funcionamento
reservado.
XL - O Dr ..., se pretende ser juiz e presidente do Tribunal Central
Administrativo está sujeito ao dever de sigilo imposto pelo art. 12° da Lei
nº 21/85, de 30 de Julho.
XLI - A única forma de ultrapassar este dever, era ter feito consignar em
acta as expressões que o recorrente terá proferido.
XLII - Mas, o Dr ... sempre recusou que houvesse um livro de actas.
XLIII - Mostra-se assim violado o disposto nas disposições conjugadas
dos art. 14.°, do Decreto-Lei nº 374/84, de 29 de Novembro, na redacção
do Decreto-Lei nº 114/97, de 12 de Maio, art. 5°, nº 1, do Decreto-Lei nº
374/84, de 29 de Novembro, art. 10°, nº 2, alínea d), do Decreto-Lei nº
376/87, de 11 de Dezembro (Lei Orgânica das Secretarias Judiciais),
Mapa anexo ao Decreto-Lei nº 376/87, de 11 de Dezembro, alínea a), art.
73° do Regulamento do Supremo Tribunal Administrativo, aprovado pelo
Decreto-Lei nº 41.234, de 20 de Agosto de 1957, art. 145°, n° 1, do CPC,
e art. 12° da Lei nº 21/85, de 30 de Julho.
XLIV - Uma vez que esta ilegalidade implica a violação de segredo de
justiça, e tal constitui crime, a mesma gera nulidade nos termos do art.
133°, nº 2, alínea c), do CPA.
O "vogal" Dr ... não é vogal do C.S.T.A.F.
XLV - Como se refere na certidão que constitui o Doc 1, a legitimidade do
vogal Dr ... resulta de o mesmo ter sido eleito vice-presidente do Supremo
Tribunal Administrativo em 12.11.97.
XLVI - Daí que por carência de designação, o Dr ... não possa ser
considerado vogal do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais, mostrando-se violado o disposto nos arts. 99°, nº 1, alínea b), nº
3, e art. 18°, nºs 1 e 2, do Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril, bem
como no art. 20°, nº 1, do CPA.
O Dr ... não pode ser considerado presidente do T.C.A.
XLVII - Dr ... não pode ser considerado presidente do Tribunal Central
Administrativo pois as eleições para Presidente do Tribunal Central
Administrativo estão impugnadas, processo jurisdicional que tem efeito
suspensivo – Recurso nº 43060, da lª Secção, 2ª Subsecção, do Supremo
Tribunal Administrativo, apenas decidido em 15.7.98, actualmente no
Tribunal Constitucional em recurso de constitucionalidade admitido com
efeito suspensivo.
XLVIII - Já decorreu o prazo legal para o Dr ... ser considerado o
presidente do Tribunal Central Administrativo em exercício.
XLIX - A impugnação das eleições pelas quais o Dr ... obteve o cargo de
presidente do TCA tem efeito suspensivo e obstativo de designação, pelo
que a partir de 13.1.98 o Dr ... não tem qualquer legitimidade para presidir
ao Tribunal Central Administrativo.
L - Daí que por inerência também, a partir de 13.1.98, não pode ocupar o
cargo de vogal do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais.
LI - Em ambos os casos, a ocupação dos cargos pertence ao Vice-
presidente do Tribunal Central Administrativo.
LII - A presença do Dr ... na sessão de 30.3.98 decorre de uma situação
ilegal e ilícita, sendo certo que o mesmo não pode estar presente,
mostrando-se violado o disposto nos art. 116°, nºs 1 e 2, e art. 99°, nº 1,
alínea d), e nº 4, do Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril, bem como no
art. 20°, nº 1, do CPA.
O Dr ... está impedido de intervir na instauração do processo disciplinar
LIII - O Dr ..., pela circunstância de ser interessado no processo disciplinar
desencadeado pela sua participação, está impedido de intervir no mesmo
atento o disposto no art. 44°, nº 1, alínea a), do CPA.
LIV - Por outro lado, por força de ter instaurado um processo crime ao
recorrente, está o mesmo impedido de intervir no procedimento disciplinar
– art. 44°, nº 1, alínea f), do CPA.
LV - Mostra-se assim violado o disposto no art. 44°, nº 1, alíneas a), e f),
do CPA, o que gera nulidade nos termos conjugados das normas ínsitas
nos art. 45°, nº 1, art. 46°, nº 1, art. 382° do Código Penal, e art. 133°, nº
2, alínea c), do CPA.
Incompatibilidade do vogal Dr ... por ser presidente da AACS
LVI - O vogal Dr ... é presidente da Alta Autoridade para a Comunicação
Social.
LVII - O presidente da AACS Dr ..., exercendo simultaneamente as
funções de vogal do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais, incorre em incompatibilidade, pelo que não podia estar presente
na reunião do referido conselho de 30.3.98, mostrando-se violado o
disposto nos art. 39° da Constituição, art. 3°, alínea c), da Lei nº 64/93, de
26 de Agosto, na redacção da Lei nº 12/96, de 18 de Abril, art. 7° da Lei nº
64/93, de 26 de Agosto, art. 16°, nº 1, da Lei nº 15/90, de 30 de Junho, art.
1°, nº 1, da Lei nº 12/96, de 18 de Abril, art. 99º, nº 1, alíneas g) a l), do
Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril, bem como no art. 20°, nº 1, do CPA.
Impedimento do vogal Dr ...
LVIII - No que toca à intervenção do vogal Dr ... na reunião do Conselho
Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais de 30.3.98 verifica-se a
presença de pessoa contra a qual o recorrente tinha instaurado processo
judicial.
LIX - Mostra-se assim violado o disposto no art. 44°, nº 1, alíneas a), e f),
do CPA, o que gera nulidade nos termos conjugados das normas ínsitas
nos art. 45°, nº 1, art. 46°, nº 1, art. 382° do Código Penal, e art. 133°, nº
2, alínea c), do CPA.
Incompatibilidade do vogal Dr ...
LX - Da deliberação recorrida, verifica-se que foi tomada por 9 membros
do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, entre eles,
o Dr ..., eleito para o cargo pela Assembleia da República.
LXI - Aos vogais dos Conselhos Superiores é aplicável, com as devidas
adaptações, o regime de incompatibilidades dos magistrados judiciais (art.
148°, nº 1, da Lei nº 21/85, de 30 de Julho, na redacção original, aplicável
ao tempo) as quais, face à disposição daqueles órgãos de garante da
independência dos juízes, assumem um carácter estrutural, importando a
perda de posição jurídica de vogal: é o caso que se sobreleva de
incompatibilidade entre as funções de vogal e o exercício da advocacia,
nos termos do art. 69°, nº 1, alínea e), do Estatuto da Ordem dos
Advogados, aprovado pelo Decreto-Lei nº 84/84, de 16 de Março.
LXII - Há incompatibilidade entre a funções de juiz e o exercício da
advocacia, nos termos do art. 69°, nº 1, alínea e), do Estatuto da Ordem
dos Advogados, aprovado pelo Decreto-Lei nº 84/84, de 16 de Março, pelo
que, por aplicação do art. 148°, nº 1, da Lei nº 21/85, de 30 de Julho, há
incompatibilidade entre as funções de vogal dos conselhos superiores de
gestão de juízes e o exercício da advocacia.
LXIII - Por outro lado, é de assinalar que pela Lei nº 10/94, de 5 de Maio,
foi grandemente alterada a Lei nº 21/85, de 30 de Julho, sendo certo que o
referido art. 148°, nº 1, manteve a anterior redacção, isto é, continuou a
mandar aplicar aos membros do Conselho Superior da Magistratura o
regime de garantias e de incompatibilidades dos magistrados judiciais.
LXIV - Aqui releva a circunstância de a Lei nº 10/94, de 5 de Maio, ser
posterior à II Revisão Constitucional, pela qual a expressão "e
incompatibilidades" foi suprimida do segmento "as regras sobre garantias
e incompatibilidades dos juízes são aplicáveis a todos os vogais do
Conselho Superior da Magistratura" (art. 223°, nº 2, da Constituição,
redacção de 1982).
LXV - Numa época em que releva a transparência no funcionamento da
máquina do Estado, em que a incompatibilidade entre o exercício de
cargos públicos e o de outras actividades tem valor constitucional – art.
269°, nº 5, da Constituição – é inadequado que advogados em exercício
tenham a faculdade de contribuir para a gestão dos juízes, junto dos quais
aqueles membros/advogados tenham a possibilidade de patrocinar
interesses de outrem.
LXVI - A independência do juiz é posta em causa pelos
membros/advogados dos conselhos superiores de gestão de juízes, pois
deixa de se poder afirmar a inexistência de qualquer vínculo entre o juiz e
o advogado/membro dos conselhos.
LXVII - Uma vez que o citado art. 148º, nº 1, da Lei nº 21/85, de 30 de
Julho, não sofre de inconstitucionalidade – cfr Acórdão do Tribunal
Constitucional (lª) nº 627/98, de 3.11.98, in Diário da República, II Série, nº
66, de 19.3.99, fls 4085 e seguinte – o mesmo deve ser aplicado, o que
implica que na deliberação recorrida interveio membro ferido de
incompatibilidade.
LXVIII - A intervenção, em órgão colegial, de membro ferido de
incompatibilidade significa que na formação da vontade normativa
interveio membro insusceptível de preencher o quorum estrutural.
LXIX - Mostra-se violado o disposto nos art. 148°, nº 1, da Lei nº 21/85, de
30 de Julho, art. 77°, do Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril, e art. 20°,
nº 1, do CPA.
Consequências
LXX - No Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
enquanto autor do acto administrativo recorrido, verificamos a presença do
Dr ... que não tem a qualidade de vogal, uma vez que não foi como tal
designado; a presença do Dr ... que perdeu a qualidade de vogal; a
presença do Dr ... que, sendo considerado vogal, está impedido; a
presença do Dr ... e do Dr ..., ambos feridos de incompatibilidade; a
presença do Dr ... que, sendo considerado vogal, está impedido – sendo
certo que nenhum deles detém a posição jurídica de membros do
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.
LXXI - Assim, a presença de quatro "vogais", sem a posição jurídica de
membro do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
entre os 9 agentes reunidos na colegialidade de que resulta o acto
impugnado, constitui um vício inerente ao momento de imediação
orgânica do vogal no oficio.
LXXII - Por outro lado, a presença dos quatro "vogais" sem a posição
jurídica de membro do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais, significa que o autor do acto recorrido é uma colegialidade de 5
membros, insusceptível de traduzir o conceito legal de reunião do
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.
LXXIII - Daí que, estamos perante uma deliberação tomada com a
inobservância do quorum legalmente exigido, o que integra a previsão do
art. 133°, nº 2, alínea g), do Código do Procedimento Administrativo, e
constitui fundamento de nulidade do acto recorrido.
Inconstitucionalidade da intervenção do Ministério Público
LXIV - Nos termos do art. 15º do Decreto-Lei nº 267/85, de 16 de Julho, na
redacção do Decreto-Lei nº 229/96, de 29 de Novembro, "no Supremo
Tribunal Administrativo [...] o representante do Ministério Público a quem,
no processo, esteja confiada a defesa da legalidade assiste às sessões de
julgamento e é ouvido na discussão".
LXXV - De acordo com o art. 3º do Regulamento do Supremo Tribunal
Administrativo (Decreto-Lei nº 41.234, de 20 de Agosto de 1957, as sua
sessões "serão públicas, mas as decisões serão tomadas em conferência
particular"..
LXXVI - No Supremo Tribunal Administrativo, o julgamento compete ao
relator e a dois outros juízes, sem prejuízo das decisões que caibam
àquele, sujeitas a reclamação para a conferência (art. 27°, nº 2, do
Decreto-Lei nº 129/84, de 27 de Abril).
LXXVII - Se a sessão é pública, tal audição deve ser emanação do acesso
ao tribunal e à justiça, mediante um processo equitativo, pelo que deve o
recorrente ser notificado para estar presente na mesma (art. 20°, nºs 1 e
4, da Constituição).
LXXVIII - Se a sessão afinal não é pública, então o Ministério Público
configura-se como juiz, desvirtuado do seu papel constitucional (arts 202°,
nº 2, 203°, 219°, nºs 1 e 2, da Constituição).
LXXIX - Daí que o art. 15° do Decreto-Lei nº 267/85, de 16 de Julho, seja
inconstitucional por violação do disposto nos arts 202°, nº 2, 203°, 219°,
nºs 1 e 2, da Constituição
Isenção de custas
LXXX - Na medida em que os juízes, sendo o recorrente juiz, só nos
casos especialmente previstos na lei podem ser responsabilizados
disciplinarmente em razão do exercício das suas funções (art. 5°, nº 2, da
Lei nº 21/85, de 30 de Julho), por definição, qualquer processo
administrativo sancionador de juiz pressupõe necessariamente que a
respectiva infracção disciplinar tenha sido praticada "em razão das
funções de magistrado judicial".
LXXXI - O recorrente vem ao tribunal defender-se de razões de índole
disciplinar directamente conexionadas com o exercício das suas funções –
porque se as razões de índole disciplinar não estivessem directamente
conexionadas com o exercício das funções do recorrente, o processo
disciplinar em causa era inadmissível.
LXXXII - O processo disciplinar de que o recorrente é alvo – o processo
disciplinar nº 439 do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais – assenta na circunstância de que a respectiva infracção
disciplinar tenha sido praticada "em razão das funções de magistrado
judicial".
LXXXIII - Se a expressão "exercício das suas funções" é idêntica nos art.
5°, nº 2, e no art. 17°, nº 1, alínea g), ambos da Lei nº 21/85, de 30 de
Julho, não se vislumbra motivo jurídico para a interpretar de forma diversa:
para perseguir o recorrente, a expressão tem um determinado significado
jurídico; para o recorrente se defender dessa perseguição, a expressão já
tem outro significado jurídico!
LXXXIV - Qualquer Estatuto, enquanto conjunto de direitos e deveres
aplicáveis a titulares de órgãos do Estado – um juiz é titular de um órgão
jurisdicional – deve ser aplicado unitariamente, isto é, as suas expressões
normativas têm de manter o mesmo significado jurídico face às diversas
hipóteses em que suscite a sua aplicação, sob pena de relevar a
facticidade dos resultados pretendidos, em detrimento da conformação
resultante do dever-ser jurídico.
LXXXV- O direito conferido pelo art. 17°, nº 1, alínea g), da Lei nº 21/85,
de 30 de Julho, é direito especial dos juízes, traduzido em isenção de
preparos e custas em qualquer acção em que o juiz seja parte principal ou
acessória, por via do exercício das suas funções.
LXXXVI - A isenção é concedida (aos juízes) nos expedientes judiciais em
que é pedida, por ou contra um juiz, uma determinada composição de um
litígio suscitado por causa do exercício das suas funções.
LXXXVII - Para efeito da isenção de custas em causa, um juiz está no
exercício de funções quando se encontra em posição de poder actuar os
poderes funcionais implicados na competência do tribunal a que está
adstrito.
LIIIVIII - Por isso, o exercício de funções deve coconstituir a causa de
pedir da acção, de tal forma que aqui são contidos os litígios de natureza
estatutária em que o juiz é parte; ou seja, a acção há-de fundar-se em
factos directamente conexionados com o exercício das funções do juiz,
pelo que a isenção concedida é uma isenção de tipo subjectivo – vide
Acórdão do Tribunal Constitucional nº 466/97, in Diário da República, II, nº
245, de 22.10.97.
LXXXIX - No caso dos autos, o litígio surge em virtude de o "exercício de
funções de juiz do Tribunal Central Administrativo", em comissão
permanente de serviço, do recorrente, já que a pretexto de punição
disciplinar mediante processo disciplinar pretende o órgão recorrido puni-
lo por eventual abuso de liberdade de expressão no decurso de uma
sessão do órgão jurisdicional de que o recorrente é titular.
XC - Assim não considerando, está-se a interpretar restritivamente o art.
17°, nº 1, alínea g), da Lei nº 21/85, de 30 de Julho, na redacção da Lei nº
10/94, de 5 de Maio, com violação do disposto nos arts 18°, nº 3, e 20°, nº
1, da Constituição.
Termos em que requer:
- o afastamento da interpretação dos arts 120° do CPA, 25°, nº 1, do
Decreto-Lei nº 267/85, de 16 de Julho, e 57°, § 4°, do RSTA, por violação
do disposto nos arts 20°, nº 1, e 268°, nº 4, bem como do art. 112°, nº 6,
todos da Constituição, na redacção resultante da Revisão Constitucional
de 1997;
- a aplicação do disposto nos arts 20°, nº 1, e 268°, nº 4, da Constituição,
na redacção resultante da Revisão Constitucional de 1997, por força do
art. 18°, nº 1, da mesma Lei Fundamental, indeferindo-se a questão prévia
levantada;
- o provimento do recurso contencioso, com a declaração da nulidade do
acto impugnado – deliberação de 30.3.98 do Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e Fiscais, que determinou a instauração de
processo disciplinar ao recorrente – ou a sua anulação.
II. Contra-alegou a entidade recorrida, nos termos do articulado de fls. 167
e segs., sustentando a procedência da questão prévia da irrecorribilidade
do acto, e a consequente rejeição do recurso, e, subsidiariamente, a
improcedência de todas as ilegalidades imputadas pelo recorrente à
deliberação impugnada.
III. O Exmo magistrado do Ministério Público neste Supremo Tribunal
emitiu parecer em que reafirma a irrecorribilidade do acto, por falta de
lesividade própria, sustentando que o recurso deve ser rejeitado por
manifesta ilegalidade da sua interposição, nos termos do art. 57º, § 4º do
RSTA.
*
Com dispensa de vistos, vêm os autos à conferência para decisão.
( Fundamentação )
OS FACTOS
Com interesse para a decisão a proferir, consideram-se provados nos
autos os seguintes factos:
a) Em reunião do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais (CSTAF), de 30.03.98, foi deliberado instaurar processo disciplinar
(P.D. nº 439) contra o Juiz-Desembargador da Secção do Contencioso
Administrativo do TCA, Dr. ..., ora recorrente (doc. de fls. 43 a 45, cujo
conteúdo se dá por integralmente reproduzido);
b) Esta deliberação teve origem, como no seu próprio texto se refere, em
participação remetida àquele Conselho, em 19.03.98 (entrada a 20.03.98),
pelo Juiz-Presidente do TCA, na qual se imputa ao recorrente conduta
susceptível de integrar infracção disciplinar (doc. de fls. 54, cujo conteúdo
se dá por integralmente reproduzido);
c) O recorrente foi informado da instauração do processo disciplinar por
ofício de 03.04.98 (doc. de fls. 56, cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido);
d) A 22.05.98, foi deduzida acusação contra o arguido (doc. de fls. 60 e
segs., cujo conteúdo se dá por integralmente reproduzido);
e) A 08.03.99, foi proferida decisão final no processo disciplinar, tendo o
CSTAF deliberado aplicar ao arguido a pena de inactividade graduada em
1 ano, dando por finda a comissão permanente de serviço como Juiz
Desembargador da Secção do Contencioso Administrativo do TCA
(certidão de fls. 197 e segs., cujo conteúdo se dá por integralmente
reproduzido);
f) Desta decisão foi interposto neste STA recurso contencioso de anulação
– Proc. nº 44.884/99, que corre termos na 2ª Subsecção, (p.i. junta a fls.
54, cujo conteúdo se dá por integralmente reproduzido);
*
O DIREITO
Vem impugnada contenciosamente a deliberação do Conselho Superior
dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF), de 30.03.98, pela qual
foi determinada a instauração de processo disciplinar ao recorrente, por
factos participados pelo Presidente do TCA, passíveis de integrarem
infracção disciplinar.
1. Importa, antes do mais – e porque ainda não foi feito –, apreciar a
pretensão formulada no requerimento de fls. 112 e segs., em que o
recorrente pede a declaração de nulidade da resposta apresentada, por
nulidade da delegação de poderes do CSTAF no seu Presidente, bem
como o desentranhamento da mesma e documentos com ela juntos, por
impertinência.
A pretensão é manifestamente infundada.
Ao contrário do que afirma o recorrente, não há falta de lei habilitante para
tal delegação, que é justamente a do art. 98º, nº 3 do ETAF/84, como, em
situação de todo similar à dos autos, decidiu o Pleno da Secção no Ac. de
06.10.2005 – Rec. 327/02, no qual se afirma que “nenhuma nulidade
processual adveio de se ter admitido e considerado em juízo a resposta
subscrita pelo membro do CSTAF em que este órgão delega poderes para
o representar na falta ou impedimento do Presidente”, considerando que a
lei habilitante dessa delegação “precisamente consistia no art. 98º, nº 3 do
anterior ETAF”.
Ora, como se vê dos autos (fls. 102), o CSTAF, na sua sessão de
23.11.98, deliberou “delegar no seu Presidente, Senhor Juiz
Conselheiro ..., todos os poderes para tomar posição, responder, alegar e
praticar todos os actos que legalmente caibam ao CSTAF, no âmbito dos
processos de suspensão de eficácia e recursos contenciosos que sejam
interpostos das deliberações deste Conselho”.
E, como bem salienta esta entidade, ao pronunciar-se sobre tal pretensão
(fls. 163 e segs.), tal deliberação do CSTAF foi determinada por razões de
estrita funcionalidade, uma vez que, “tendo em conta a configuração legal
da sua composição e funcionamento, resultaria inviável convocar os
membros e reunir o Conselho, amiúde e com o necessário "quorum", com
vista à intervenção em juízo, em tempo útil, na defesa dos actos
impugnados”, sendo inequívoco que, através de tal instrumento, se
salvaguarda o funcionamento adequado e atempado do Conselho, não
deixando o seu Presidente, por acto expresso de delegação conferida pelo
órgão colegial, de intervir em representação deste.
A entidade recorrida, como é prática usualmente observada nos
processos em que é demandada, juntou cópia desta deliberação ao
articulado “resposta”, o qual se mostra subscrito pelo “Presidente do
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais”, mas sem que
isso signifique ou traduza uma intervenção a título individual ou singular,
antes sim uma intervenção do órgão autor da deliberação impugnada, que
justamente mandatou o seu Presidente, pelas razões atrás apontadas,
para o representar em juízo.
Inexiste, nesta conformidade, a invocada nulidade processual.
2. Há, agora, que conhecer da questão prévia da irrecorribilidade do acto,
suscitada pelo Ministério Público e pela entidade recorrida, e cuja decisão
foi relegada para final.
O objecto da presente impugnação contenciosa é, como se adiantou já, a
deliberação do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais
(CSTAF), de 30.03.98, pela qual foi determinada a instauração de
processo disciplinar ao recorrente, por factos participados pelo Presidente
do TCA, passíveis de integrarem infracção disciplinar.
A jurisprudência deste Supremo Tribunal Administrativo vem de há muito a
considerar que o acto que ordena a instauração de um processo
disciplinar, tendo em vista habilitar o órgão competente a exercer
fundadamente o direito disciplinar, é, em princípio, um acto preparatório,
não directamente lesivo, como tal, não recorrível contenciosamente, e que
só a decisão final punitiva pode ser objecto de impugnação, aí podendo
ser invocada qualquer ilegalidade reportada aos actos preparatórios ou
interlocutórios do procedimento, com base no princípio da impugnação
unitária (cfr., por todos, os Acs. de 11.01.2005 – Rec. 1626/03, de
25.02.2003 – Rec. 1962/02, de 09.02.99 – Rec. 41.801 (Pleno), de
14.01.99 – Rec. 41.854 (Pleno), de 22.04.97 – Rec. 39.881, e de 12.12.96
– Rec. 40.330).
Segundo esta orientação jurisprudencial, só assim não será nos casos em
que o acto preparatório ou interlocutório possuir, em concreto,
características de lesividade autónoma e imediata, desencadeando
directamente na esfera jurídica do interessado consequências lesivas
imediatas.
Fora destes casos, comummente qualificados como actos destacáveis
para efeitos de impugnação contenciosa, só o acto final do processo
disciplinar assumirá a natureza de acto lesivo, aí se podendo invocar
todas as ilegalidades ocorridas durante o procedimento, designadamente
as reportadas aos actos preparatórios ou de trâmite, não destacáveis, e
que, desse modo, se reflectem no acto final.
Este entendimento, assente numa concepção finalista consagradora do
princípio da impugnação unitária, em nada ficou alterado ou prejudicado
com a revisão constitucional de 1989, no âmbito da qual foi introduzida a
actual redacção do nº 4 do art. 268º da CRP, que colocou a tónica da
recorribilidade contenciosa no aspecto da lesividade do acto, deixando de
ser decisivas as características de definitividade e executoriedade
referidas no art. 25º da LPTA.
Com efeito, embora este preceito constitucional tenha colocado a
exigência da lesividade como pressuposto da impugnabilidade
contenciosa, a lesividade de que fala o texto constitucional é uma
lesividade objectiva e actual, e não meramente potencial ou abstracta, ou
seja, “com virtualidade para provocar uma alteração objectiva da ordem
jurídica e que visa definir inovatoriamente uma concreta situação jurídico-
administrativa” (Ac. STA de 05.05.99 – Rec. 44.195).
Neste sentido, de exigência de uma lesividade actual e não meramente
potencial, pode ver-se José Manuel Santos Botelho, Contencioso
Administrativo, 4ª edição, pág. 287, onde se refere que “o próprio preceito
em análise parece só contemplar esta interpretação ao falar de «actos
administrativos…que lesem», pressupondo, por isso, a actualidade da
lesão e não a sua mera potencialidade lesiva”.
E este entendimento em nada colide, igualmente, com a garantia
constitucional do acesso ao direito e à tutela jurisdicional efectiva,
consagrada nos arts. 20º, nº 1 da CRP, nos termos do qual “A todos é
assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser
denegada por insuficiência de meios económicos”.
Tal garantia, igualmente prevista no art. 268º, nº 4 da CRP, consiste no
direito a ver efectivamente solucionados os conflitos, segundo a lei
aplicável, e dentro de prazos razoáveis, por um órgão jurisdicional, com
todas as garantias de imparcialidade e independência, e face ao qual as
partes se encontrem em condições de plena igualdade no que diz respeito
à defesa das respectivas posições.
Ora, como se deixou referido, a inimpugnabilidade contenciosa dos actos
preparatórios (concretamente daquele que determina a instauração de
processo disciplinar), pela simples razão de que não são dotados de
lesividade autónoma e imediata, não implica qualquer supressão ou
limitação do direito de ver apreciada a legalidade do referido acto, uma
vez que, à luz do apontado princípio da impugnação unitária, as eventuais
ilegalidades que afectem o acto preparatório podem ser convocadas e
apreciadas no recurso interposto do acto final do procedimento, no qual se
mostram naturalmente reflectidas.
Aliás, e como se vê do documento junto a fls. 223 e segs., o recorrente
acaba por reportar na petição do recurso interposto da decisão final
punitiva (Rec. 44.884/99, actualmente em fase de designação de
julgamento) algumas das ilegalidades apontadas nestes autos ao acto de
instauração do processo disciplinar, nomeadamente as que se prendem
com a alegada “ilegitimidade” ou impedimento dos vogais do CSTAF
Dr. ..., Dr. ..., Dr. ... e Dr. ...a, que intervieram em ambas as deliberações,
assim reeditando ao acto final punitivo algumas das ilegalidades que já
reportara ao acto (preparatório) objecto da presente impugnação.
Mas, mesmo que o não tivesse feito, ou seja, mesmo que, podendo tê-lo
feito, não tivesse convocado relativamente ao acto final punitivo as
ilegalidades que, em seu entender, afectaram o acto preparatório, isso
nada relevaria em contrário, pois que bastaria a possibilidade dessa
impugnação unitária para considerar o acto final do procedimento
disciplinar como o único dotado de lesividade autónoma.
Resta apreciar um argumento esgrimido pelo recorrente em apoio da sua
posição de recorribilidade do acto ora impugnado, que é o de que, com a
instauração do processo disciplinar, o recorrente deixou de poder ser
promovido (art. 108º, nº 1 do EMJ) e pode ser suspenso preventivamente
do exercício de funções (art. 116º, nº 1 do EMJ).
Cremos que o argumento não procede, e que até conforta, de algum
modo, a posição que sufragamos e que está em sintonia com a orientação
jurisprudencial já referida.
Antes do mais, e como foi referido pelo Exmo magistrado do Ministério
Público, poderá dizer-se que a qualidade de magistrado judicial implica
naturalmente, por força do seu Estatuto, a sujeição a determinados
direitos e deveres, bem como a susceptibilidade de ser alvo de eventuais
sanções disciplinares que, sob pena de nulidade, só poderão ser
aplicadas na sequência de prévia instauração e instrução de um processo
disciplinar.
Por outro lado, e se bem atentarmos no conteúdo das referidas
disposições legais estatutárias, elas não comportam, ao contrário do
pretendido pelo recorrente, uma dimensão ou alcance normativo que
colida com o entendimento jurisprudencial exposto, ou seja, que nos
oriente necessariamente no sentido da imediata e autónoma lesividade do
acto.
Quanto à possibilidade de promoção, dispõe o art. 108º do EMJ, aprovado
pela Lei nº 21/85, de 30 de Julho:
1 – Durante a pendência de processo criminal ou disciplinar o magistrado
é graduado para promoção ou acesso, mas estes suspendem-se quanto a
ele, reservando-se a respectiva vaga até decisão final.
2 – Se o processo for arquivado, a decisão condenatória revogada ou
aplicada uma pena que não prejudique a promoção ou acesso, o
magistrado é promovido ou nomeado e vai ocupar o seu lugar na lista de
antiguidade, com direito a receber as diferenças de remuneração.
3- Se o magistrado houver de ser preterido, completa-se o movimento em
relação à vaga que lhe havia ficado reservada.
Decorre linearmente desta disposição que o magistrado alvo de processo
disciplinar não deixa de ser promovido por tal circunstância, apenas se
suspendendo a promoção – com reserva da respectiva vaga – até à
decisão final do processo disciplinar, efectivando-se então, a partir desta
decisão final do procedimento, a sua promoção ou nomeação, com
salvaguarda de todos os efeitos de antiguidade e remuneratórios que lhe
caberiam, ou, sendo caso disso, a sua não promoção, mas então por
virtude da aplicação de uma determinada pena disciplinar.
No que toca à possibilidade da suspensão preventiva, dispõe o art. 116º:
1 – O magistrado arguido em processo disciplinar pode ser
preventivamente suspenso das funções, sob proposta do instrutor, desde
que haja fortes indícios de que à infracção caberá, pelo menos, a pena de
transferência e a continuação na efectividade de serviço seja prejudicial à
instrução do processo, ou ao serviço, ou ao prestígio e dignidade da
função.
2 – (…)
3 – A suspensão preventiva não pode exceder noventa dias, prorrogáveis
mediante justificação por mais trinta dias, e não tem os efeitos
consignados no artigo 104º.
A suspensão aqui prevista é preventiva, não pode exceder 90 dias,
decorre de proposta do instrutor, e depende da existência de fortes
indícios de que venha a ser aplicada uma pena de transferência ou outra
mais grave, e de que a manutenção em funções seja prejudicial ao
prestígio ou dignidade da função.
Ou seja, decorre directa e substancialmente da verificação dos apontados
pressupostos, e a sua aplicação (aliás sem os efeitos consignados no art.
104º, como se dispõe no nº 3) está igualmente projectada na decisão final
do procedimento disciplinar e na gravidade da pena previsivelmente
aplicável.
De ambos os preceitos decorre, em suma, a ideia de não lesividade
autónoma e actual do acto de instauração do procedimento disciplinar,
lesividade essa que está associada ao acto final punitivo, no qual, como
se referiu, são cognoscíveis as ilegalidades de que aquele eventualmente
enferme.
Procede pois a questão prévia da irrecorribilidade do acto, por falta de
lesividade autónoma imediata, o que determina a rejeição do recurso por
manifesta ilegalidade da sua interposição (art. 57º, § 4º do RSTA).
3. Porque o recorrente suscita antecipadamente essa questão na petição
de recurso, importa sublinhar que, contrariamente ao pretendido, ele não
goza neste processo da isenção de custas prevista no art. 17º, nº 1, al. g)
do EMJ (citada Lei nº 21/85, de 30 de Julho, com as alterações
introduzidas pela Lei nº 10/94, de 5 de Maio, aplicável nos termos do art.
77º do ETAF/84).
Com efeito, e como sublinha a entidade recorrida, é constante o
entendimento jurisprudencial deste STA no sentido de que a referida
disposição legal estatutária confere aos magistrados judiciais a isenção de
preparos e custas relativamente às acções ou recursos em que sejam
parte, principal ou acessória, por causa do exercício concreto da sua
função de julgar, entendida “stricto sensu”, o que não ocorre quando
estamos perante um processo em que o magistrado intervém por virtude
do apuramento da sua responsabilidade disciplinar (cfr., por todos, os Acs.
de 22.06.2004 – Rec. 2.070/03, de 05.05.99 – Rec. 44.195, e de 23.09.98
– Rec. 44.036, estes dois últimos, aliás, reportados a idênticos pedidos
formulados pelo aqui recorrente).
( Decisão )
Com os fundamentos expostos, acordam em
a) Indeferir a arguição de nulidade processual suscitada a fls. 112;
b) Rejeitar o recurso por manifesta ilegalidade da sua interposição, nos
termos do art. 57º, § 4º do RSTA;
c) Condenar o recorrente em custas, fixando-se a taxa de justiça e a
procuradoria, respectivamente, em €300 e €150.
Lisboa, 29 de Junho de 2006. – Pais Borges (relator) – Adérito Santos –
Angelina Domingues.

Segue acordão de 24 de Abril de 2007.

Acordam, em conferência, na Secção do Contencioso Administrativo do


Supremo Tribunal Administrativo:
O recorrente A…, tendo interposto recurso para o Pleno do acórdão de fls.
277 e segs., suscita na respectiva alegação (nº 102 e conclusão XXVII) a
nulidade do acórdão por omissão de pronúncia [art. 668°, n° 1, d) do
CPCivil], “na medida em que deixou de se pronunciar sobre os factos
alegados e provados pelo recorrente nos nsº 24 a 40 da petição (aqui
dados por reproduzidos)”.
Cumpre à Subsecção pronunciar-se quanto a tal arguição, nos termos e
para os efeitos do disposto nos arts. 668°, nº 4 e 744° do CPCivil, em
conformidade com o despacho de fls. 362 v°.
E importa sublinhar que a isso se restringe, imperiosamente, a pronúncia
a emitir nesta sede.
Dir-se-á, desde já, que nenhuma razão assiste ao recorrente, pois que
inexiste, em nosso entender, qualquer omissão de pronúncia, no sentido
de o tribunal ter deixado de “pronunciar-se sobre questões que devesse
apreciar”.
Na verdade, o art. 660° do CPCivil impõe ao juiz que resolva “todas as
questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas
aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras” (n°
2), e prescreve, por outro lado, que “a sentença conhece, em primeiro
lugar, das questões processuais que possam determinar a absolvição da
instância” (n° 1).
Ora, e em primeiro lugar, o recorrente não sinaliza ou identifica qualquer
“questão” que o tribunal devesse apreciar e que se tenha abstido de
decidir, referindo tão só que deixou de se pronunciar sobre determinados
“factos” alegados na petição.
Por outro lado, e decisivamente, o acórdão limitou a sua pronúncia a uma
questão processual — a da irrecorribilidade do acto por falta de lesividade,
determinante da rejeição do recurso por manifesta ilegalidade da sua
interposição (art. 57°, §4° do RSTA) - pelo que não tinha que conhecer de
qualquer outra questão, designadamente das reportadas ao mérito do
recurso, em estreita aplicação do disposto no nº 2 do citado art. 660° do
CPCivil.
Pelo exposto, e sem necessidade de outras considerações, acordam em
manter a decisão impugnada por se entender que não ocorre a arguida
nulidade.
Lisboa, 24 de Abril de 2007. Pais Borges (relator) — Adérito Santos –
Angelina Domingues.

Segue acórdão de 27 de Junho de 2007.

Acordam, em conferência, na Secção do Contencioso Administrativo do


Supremo Tribunal Administrativo:
O recorrente A…, notificado do acórdão de fls. 368 e segs., que, nos
termos do disposto nos arts. 668º, nº 4 e 744º do CPCivil, manteve a
decisão impugnada, por entender inexistir a nulidade por ele invocada na
sua alegação para o Pleno, veio:
a) por requerimento de fls. 375, suscitar a nulidade deste último acórdão;
b) por requerimento de fls. 385, requerer a notificação prévia da data de
realização das sessões que venham a decidir o presente processo, ou a
notificação da respectiva tabela, a fim de que possa ser ouvido
publicamente.
Cumpre apreciar.
Requerimento de fls. 375
Como se disse já no próprio acórdão de fls. 368 e segs., a Subsecção
limitou necessariamente a sua pronúncia à matéria da arguição de
nulidade, nos termos e para os efeitos do disposto nos arts. 668º, nº 4 e
744º do CPCivil, uma vez que, proferido o acórdão de fls. 277 e segs., a
Subsecção esgotou o seu poder jurisdicional quanto à matéria da causa,
apenas lhe sendo lícito, a partir daí, proceder à rectificação de erros
materiais, ao suprimento de nulidades e ao esclarecimento ou reforma da
decisão (art. 666º do CPCivil).
Só para o efeito referido (cfr. despacho do relator do Pleno) o processo
baixou à Subsecção, ou seja, para que, tendo sido arguida na alegação de
recurso para o Pleno a nulidade por omissão de pronúncia do acórdão de
fls. 277 e segs., a Subsecção proferisse despacho a sustentar a decisão
ou a reparar o agravo.
Isso não obsta, naturalmente, a que a decisão da Subsecção, ainda que
com esse limitado âmbito cognitivo, seja passível de ser, ela própria, e
dentro desse âmbito, arguida de nula, o que determina o conhecimento da
arguição.
O requerente invoca três fundamentos de nulidade do acórdão que
sustentou a decisão agravada:
(i) ser ele subscrito por uma magistrada do Ministério Público em
comissão permanente de serviço como Juiz do STA, fazendo aplicação do
art. 60º, nº 2 do ETAF, norma inconstitucional por violação dos arts. 6º, nº
1 e 13º da CEDH, e arts. 20º/nºs 1 e 4, 110º/nº 1, 111º/nº 1, 202º/nº 1,
203º e 219º/nºs 1, 4 e 5 da CRP;
(ii) ter sido proferido em sessão pública sem que o recorrente tenha sido
previamente notificado, denegando-se-lhe a possibilidade de ser ouvido
publicamente, em violação do direito ao processo equitativo garantido
pelos arts. 6º/nº 1 da CEDH e 20º/nº 4 da CRP, na vertente da publicidade
do procedimento jurisdicional determinada pelos arts. 656º/nº 1 e 229º/nº 1
do CPCivil;
(iii) por ter deixado de se pronunciar sobre os factos alegados e provados
pelo recorrente nos nºs 24 a 40 da petição, configurando omissão de
pronúncia (arts. 668º, nº 1, al. d) do CPCivil e 6º/nº 1 da CEDH.
Quanto ao primeiro fundamento, dir-se-á apenas que o acórdão da
Subsecção que se pronunciou sobre a arguição de nulidades foi proferido
e assinado pelos mesmos três Juízes da 1ª Subsecção do STA que
assinaram o anterior acórdão.
Nesse contexto, e sem necessidade de outras considerações, que, pelo
motivo atrás referido, nesta sede não têm cabimento, não se reconhece a
apontada nulidade do acórdão.
Quanto ao segundo fundamento, é falsa a sua base de sustentação, uma
vez que o acórdão em causa não foi proferido em sessão pública, como
vem sustentado.
Como inicialmente se referiu, o processo baixou do Pleno, não para
decidir matéria da causa (sobre a qual se esgotara já o seu poder
jurisdicional), mas sim, e exclusivamente, para que a Subsecção
proferisse, em conferência, o despacho a que alude o art. 668º, nº 4 do
CPCivil, a sustentar a decisão ou a reparar o agravo.
Assim, e independentemente do conteúdo do invocado Ac. de 20.03.2007
(Proc. 44884), e das qualificações jurídicas nele contidas, não ocorre, in
casu, a invocada violação do direito ao processo equitativo, ou das
disposições legais referidas pelo requerente.
Quanto ao terceiro e último fundamento, há um manifesto despropósito na
sua invocação, pois que o requerente vem arguir o acórdão de fls. 368,
que sustentou a decisão agravada, de uma nulidade por omissão de
pronúncia que ele imputara ao primeiro acórdão, e que justamente
determinou a prolação daquele outro, nos termos dos arts. 668º, nº 4 e
744º do CPCivil.
Ou seja, o requerente pretende que o acórdão de sustentação, que se
pronunciou no sentido de que inexistia a alegada nulidade por omissão de
pronúncia, incorre afinal nessa mesma nulidade por omissão de
pronúncia, o que é, no mínimo, bizarro.
Conclui-se, sem mais, pela inexistência das invocadas nulidades do
acórdão de sustentação, de fls. 368.
Requerimento de fls. 385
Neste requerimento dirigido à Subsecção, pretende o requerente a sua
notificação prévia da data de realização das sessões que venham a
decidir o presente processo, ou a notificação da respectiva tabela, a fim de
que possa ser ouvido publicamente.
Trata-se de matéria que extravasa manifestamente o âmbito de cognição
da Subsecção, nesta fase, pelos motivos já atrás repetidamente indicados
(esgotamento do poder jurisdicional), pelo que tal matéria só poderá ser
apreciada pelo Pleno da Secção, ao qual os autos regressarão para
conhecimento do recurso interposto pelo ora requerente.
Pelos fundamentos expostos, acordam em:
a) indeferir a arguição de nulidades invocadas no requerimento de fls. 375;
b) não tomar conhecimento do requerido a fls. 385.
c) Condenar o requerente em custas pelo incidente, fixando-se a taxa de
justiça em 90 €.
Lisboa, 27 de Junho de 2007. – Pais Borges (relator) – Adérito Santos –
Maria Angelina Domingues

Segue Acórdão de 4 de Outubro de 2007


Acordam, em conferência, na Secção do Contencioso Administrativo do
Supremo Tribunal Administrativo:
O recorrente A..., notificado do acórdão de fls. 389 e segs., que indeferiu a
arguição de nulidades por ele invocadas no requerimento de fls. 375, veio
pedir a aclaração desse acórdão, por, em seu entender, “o mesmo sofrer
de obscuridade”, e requerer a sua notificação prévia da data de realização
da sessão que venha a decidir o presente requerimento, ou a notificação
da respectiva tabela, “a fim de poder estar presente e convencer os juízes
da bondade da sua pretensão”.
Quanto ao pedido de aclaração, refere, em suma, que, tendo o acórdão
indeferido a nulidade resultante da não notificação do recorrente para
poder estar presente na sessão pública de julgamento, “uma vez que o
acórdão em causa não foi proferido em sessão pública, como vem
sustentado”, e não constando da acta da sessão que tenha havido
despacho a ordenar o encerramento da sala de audiências, pede que se
esclareça se a audiência foi pública, se foi secreta, ou o que é que foi.
Proferido acórdão, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do
tribunal. Podem, porém, as partes pedir o esclarecimento de alguma
obscuridade ou ambiguidade da decisão (arts. 669º, nº 1 e 716º, nº 1 do
CPCivil).
A obscuridade é a imperfeição da decisão que se traduz na sua
ininteligibilidade. A ambiguidade verifica-se quando à decisão podem
razoavelmente atribuir-se dois ou mais sentidos diferentes (Rodrigues
Bastos, Notas ao CPCivil, 2ª ed., Vol. III, p. 249).
Ora, o acórdão cuja aclaração se pretende, ao afirmar que o acórdão de
24.04.2007 não foi proferido em sessão pública, teve singelamente em
conta o disposto no art. 17º do ETAF/84, nos termos do qual “As
decisões são tomadas em conferência” do relator e de dois juízes
adjuntos (nºs 1 e 5).
A referida sessão foi em conferência, não em audiência, sendo a esta
luz perfeitamente clara e entendível a afirmação, contida no acórdão, de
que a decisão anterior “não foi proferido em sessão pública”, pois que
públicas são as audiências, não as conferências de juízes.
Não há, assim, qualquer obscuridade ou ininteligibilidade que importe
aclarar, pelo que se indefere o pedido de aclaração.
Quanto ao pedido de notificação prévia da data de realização da sessão
que venha a decidir o presente requerimento, ou a notificação da
respectiva tabela, reafirma-se o já decidido no acórdão em reclamação, de
não conhecimento do requerido: “Trata-se de matéria que extravasa
manifestamente o âmbito de cognição da Subsecção, nesta fase, pelos
motivos já atrás repetidamente indicados (esgotamento do poder
jurisdicional), pelo que tal matéria só poderá ser apreciada pelo Pleno da
Secção, ao qual os autos regressarão para conhecimento do recurso
interposto pelo ora requerente.”.
Pelo exposto, acordam em indeferir o pedido de aclaração formulado, e
em não tomar conhecimento do demais requerido.
Condena-se o requerente em custas pelo incidente, fixando-se a taxa de
justiça em 90 €.
Lisboa, 4 de Outubro de 2007. – Pais Borges (relator) – Adérito Santos –
Angelina Domingues.

Segue Acórdão de 28 de Novembro de 2007


Acordam, em conferência, na Secção do Contencioso Administrativo do
Supremo Tribunal Administrativo:
O recorrente A…, notificado do acórdão de fls. 406/407, que indeferiu o
pedido de aclaração do acórdão de fls. 389 e segs., veio arguir a nulidade
daquele acórdão por alegada omissão de pronúncia.
Alega, em suma, que “oportunamente requereu a aclaração do Ac. de
27.6.2007, na parte em que fundamentou o indeferimento de nulidade,
invocando o «manifesto despropósito» «bizarro» do alegado por aquele”,
e que o acórdão ora arguido de nulidade “nada decide quanto a tal
matéria”.
Nos termos da lei de processo civil, a sentença deve identificar as partes e
o objecto do litígio, fixando as questões que ao tribunal cumpre solucionar
(art. 659°, nº1 do CPC), impondo-se expressamente ao juiz que resolva
todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação,
exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a
outras (art. 660°, n° 2).
E no art. 668°, n°1 do mesmo Código estão indicadas taxativamente as
causas de nulidade da sentença, prescrevendo a al. d) que a sentença é
nula “quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse
apreciar...”
Sobre o sentido da expressão “questões”, escreveu Anselmo de Castro,
Direito Processual Civil Declaratório, Vol. III, a págs. 142:
“A palavra questões deve ser tomada aqui em sentido amplo:
envolverá tudo quanto diga respeito à concludência ou inconcludência das
excepções e da causa de pedir (melhor, à fundabilidade ou
infundabilidade dumas e doutras) e às controvérsias que as partes sobre
elas suscitem.”
Ou seja, a omissão de pronúncia só existirá enquanto reportada a
questões jurídicas colocadas pelas partes, e sobre as quais o tribunal não
tenha emitido pronúncia, quando deveria tê-lo feito.
Vejamos então se isso ocorre in casu.
O segmento do acórdão de fls. 389 e segs., que indeferiu arguição de
nulidades, e que constitui o alvo desta nova arguição de nulidade por
omissão de pronúncia, é do seguinte teor:
“Quanto ao terceiro e último fundamento, há um manifesto despropósito
na sua invocação, pois que o requerente vem arguir o acórdão de fls. 368,
que sustentou a decisão agravada, de uma nulidade por omissão de
pronúncia que ele imputara ao primeiro acórdão, e que justamente
determinou a prolação daquele outro, nos termos dos arts. 668°, n°4 e
744° do CPCivil.
Ou seja, o requerente pretende que o acórdão de sustentação, que se
pronunciou no sentido de que inexistia a alegada nulidade por omissão de
pronúncia, incorre afinal nessa mesma nulidade por omissão de
pronúncia, o que é, no mínimo, bizarro.
Conclui-se, sem mais, pela inexistência das invocadas nulidades do
acórdão de sustentação, de fls. 368.”
Pretende o requerente que a afirmação de que há um “manifesto
despropósito” na invocação de um dos fundamentos de nulidade, e de que
a sua pretensão, atentas as razões que de seguida explicita, era “no
mínimo bizarra”, constituem omissão de pronúncia sobre a questão de o
acórdão de sustentação, proferido nos termos dos arts. 668°, n°4 e 744°
do CPCivil) não ter conhecido (como se o pudesse fazer ...!) do
“aditamento, à matéria de facto dada como provada, dos factos alegados
e provados pelo recorrente nos n°s 24 a 40 da petição”.
É evidente que o segmento do acórdão acima transcrito não silenciou a
questão colocada pelo requerente como 3° fundamento da nulidade por
ele invocado: ter o tribunal deixado de se pronunciar sobre os factos
alegados pelo recorrente nos n°s 24 a 40 da petição (arts. 668°, n° 1, al. d)
do CPCivil).
Aliás, o Tribunal, nas várias decisões já tomadas, tem salientado de forma
clara que a Subsecção, nesta sede, foi chamada pelo Pleno tão só para
efeitos de sustentação da decisão agravada ou de reparação do agravo,
tendo-se esgotado, quanto ao mais, o seu poder jurisdicional.
Conclui-se, assim, que inexiste a invocada omissão de pronúncia, termos
em que se indefere a arguição de nulidade.
Custas pelo incidente a cargo do requerente, fixando-se a taxa de justiça
em 90€.
Lisboa, 28 de Novembro de 2007. — Pais Borges (relator) — Adérito
Santos — Angelina Domingues.

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