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Processo: 00008/10.8BCPRT
Secção: 2ª Secção -
Contencioso
Tributário
Sumário: I - O DL 67-A/2010, de
14-6 [diploma que
identifica, para as auto-
estradas SCUTs
“Grande Porto”, “Norte
Litoral” e “Costa de
Prata”, os lanços e os
sublanços sujeitos ao
regime de cobrança de
taxas de portagem aos
utilizadores (arts 1º, 2º e
anexo I); determina o
início da cobrança em
1-06-2010 (art. 3º);
estabelece alguns
critérios a ter em conta
na determinação das
taxas a aplicar (art. 4º);
e identifica os lanços e
os sublanços das
referidas auto-estradas
em que os utilizadores
ficam isentos do
pagamento de taxas de
portagem (art. 5º e
anexo II)], produzido
por órgão competente
ao abrigo da al. a) do nº
1 do art. 198º da CRP
(ou seja, pelo Governo
no uso da competência
legislativa em matérias
não reservadas à
Assembleia da
República) é um acto
que se integra no
exercício da função
legislativa do Governo,
pelo que a sindicância
das suas disposições
está excluída da
jurisdição
administrativa e fiscal
nos termos da al. a) do
nº 2 do art. 4º do
ETAF..
II - Esta exclusão
verificar-se-ia ainda que
se reconhecesse (e não
se reconhece) uma
natureza materialmente
administrativa ao
conteúdo dessas
disposições, pois as
normas secundárias
emanadas do Governo –
órgão simultaneamente
legislativo e
administrativo – sob a
forma de decreto-lei são
sempre, para efeitos
contenciosos, actos
praticados no exercício
da função legislativa.
III - A Resolução do
CM nº 75/2010, de 22-
09, insere-se num
procedimento político-
legislativo que
culminou com os
diplomas legais e
regulamentares a
acolher as orientações
político-administrativas
nela estabelecidas [o nº
1 da Resolução
estabelece a “adopção
do princípio da
universalidade na
implementação do
regime de cobrança de
taxas de portagem em
todas as auto-estradas
sem custos para o
utilizador (SCUT)”; os
nº 2 e nº 3 decidem,
respectivamente,
“Introduzir um regime
efectivo de cobrança de
taxas de portagens nas
auto-estradas SCUT
Norte Litoral, Grande
Porto e Costa de Prata a
partir de 15 de Outubro
de 2010, em
conformidade com o
disposto no Decreto-Lei
n.º 67-A/2010, de 14 de
Junho”, e “Introduzir
um regime efectivo de
cobrança de taxas de
portagem nas restantes
auto-estradas SCUT,
designadas por SCUT
Interior Norte, Beiras
Litoral e Alta, Beira
Interior e Algarve, até
15 de Abril de 2011,
nos termos de diploma
legal a aprovar”; os nºs
4 a 8 também
estabelecem apenas
princípios e critérios a
acolher em regulação
jurídica posterior, que
vieram a ser vertidas
nas Portarias
1033-A/2010,
1033-B/2010,
1033-C/2010
(relativamente às Scuts
Interior Norte, Grande
Porto e Costa de Prata)
e DL 111/11, de 28-11
(relativamente às
SCUTs Interior Norte,
Beiras Litoral e Alta,
Beira Interior e
Algarve)].
IV - A expressa
referência feita na
referida Resolução à al.
g) do art. 199º da CPR,
ou seja, de que é
tomada no exercício da
competência
administrativa do
Governo prevista nessa
disposição, não
determina
necessariamente que
essa Resolução não
contenha, ainda que
parcialmente, actos de
natureza política,
estando, quanto a estes,
afastada a sua
sindicabilidade na
jurisdição
administrativa.
V - Ainda que emitidos
formalmente no
exercício de uma
competência
administrativa, os actos
em que se estabelecem
os princípios e critérios
a acolher em regulação
jurídica posterior não
podem qualificar-se
como efectivos
normativos
regulamentares por
serem destituídos de
eficácia jurídica
externa.
VI - De todo o modo, os
Tribunais
Administrativos, atento
o disposto no art. 281°,
n° 1 da CRP e 72º, nº 2
do CPTA, não dispõem
de competência para a
fiscalização abstracta da
conformidade de
normas regulamentares
com princípios
constitucionais, mesmo
que estes princípios se
encontrem também
consagrados em
preceitos de direito
ordinário.
Aditamento:
Parecer Ministério
Publico:
1
Decisão Texto I - RELATÓRIO
Integral:
Os Municípios de C P (…), F (…), L (…), M (…), P F
(…), P (…) e P(…) instauraram, ao abrigo dos do
disposto nos arts 9º, nº 2, 72º e seguintes do CPTA e
2º, nº 2 da Lei 83/95, de 31-08, a presente acção
administrativa especial de impugnação de normas
contra o Conselho de Ministros (doravante CM) e
contra-interessadas EP (…), S.A e L (…),
SA (actualmente denominada A (…), SA, pedindo que
seja decretada a ilegalidade, com força obrigatória
geral, das normas constantes:
1- «da Resolução do Conselho de Ministros n.º
75/2010, de 22 de Setembro, (i) de adoptar o princípio
da universalidade na implementação do regime de
cobrança de taxas de portagem em todas as auto-
estradas sem custos para o utilizador (SCUT); (ii) de
introduzir um regime efectivo de cobrança de taxas de
portagens nas auto-estradas SCUT Norte Litoral,
Grande Porto e Costa da Prata a partir de 15 de
Outubro de 2010; (iii) de introduzir um regime efectivo
de cobrança de taxas de portagem nas restantes
auto-estradas SCUT, designadamente SCUT Interior
Norte, Beiras Litoral e Alta, Beira Interior e Algarve,
até 15 de Abril de 2011;
A contra-interessada EP(…), S.A
A contra-interessada L(…), S.A.,
Assim:
Nos termos da alínea g) do artigo 199.º da Constituição, o
Conselho de Ministros resolve:
(…)
Assim:
III- O DIREITO
Como já se disse, na presente acção administrativa
especial de impugnação das normas do DL
67-A/2010, de 14-06, e das pretensas normas da
Resolução do Conselho de Ministros nº 75/2010, de
22-09, os Autores pedem a declaração de ilegalidade,
com força obrigatória geral, desses “normativos”, com
fundamento exclusivo na violação de princípios
constitucionais: «da legalidade» e «da igualdade»
pelas normas do DL 67-A/2010; da legalidade e «da
precedência de lei e do congelamento de grau
hierárquico» pelas pretensas normas da Resolução nº
75/2010; «Da coesão territorial dos domínios
económico e social»;«Da protecção da confiança; da
violação das obrigações de satisfação de pretensões
dos habitantes da região instrumentais dos direitos
fundamentais à vida e à integridade física, e das
liberdades fundamentais de deslocação, trabalho e de
iniciativa económica», «da igualdade material ou
real»; e «Da liberdade de circulação de pessoas e
bens».
O Réu e as contra-interessadas opuseram a excepção
de incompetência da jurisdição administrativa e fiscal
para apreciar os pedidos formulados pelos Autores.
Avancemos, então.
Assim,
Vejamos.
A Resolução n.º 75/2010, integralmente transcrita no
nº 14 do ponto II supra, insere-se num longo e
complexo processo político-legislativo iniciado pela
Resolução nº 157/2004 transcrita no nº 1 daquele
ponto, na qual é anunciada pela primeira vez como
meio indispensável à sustentabilidade da totalidade do
sistema rodoviário nacional a necessidade de
alteração do modelo que vigorava - de utilização das
auto-estradas sem custos para o utilizador - por um
modelo de utilizador-pagador.
É nesse complexo procedimento que se inserem as
Resoluções do Conselho de Ministros e da
Assembleia da República (nºs 3, 4 e 5 do ponto II
supra) definindo, em termos gerais, as opções,
orientações e os meios a utilizar para alcançar
aquelas finalidades de sustentabilidade do sistema
rodoviário (conservação, manutenção e desenvolvimento) e
o reequilíbrio das contas públicas, orientações
acolhidas nos diplomas legais e regulamentares
referidos nos nºs 6 a 13 do ponto II supra. E é
precisamente nesse procedimento político-legislativo
que surge a Resolução nº 75/2010.