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1 INTRODUGAO. O OBJETO DO PRESENTE ESTUDO, O ACIDENTE IN ITINERE EA SUA DESCARACTERIZAGAO. UMA FIGURA “HERETICA” OU UM CASO NORMAL DE ACIDENTE DE TRABALHO? A IMPORTANCIA DA EVOLUGAO HISTORICA. O ACIDENTE IN ITINERE COMO CRIACAO PRETORIANA. A GENESE DO RECONHECIMENTO DE UMA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR E AS OBJEGOES HISTORICAS A.ESSA RESPONSABILIDADE O tema do presente estudo serd o tratamento, legal e jurisprudencial, no sistema juridico portugués, dos acidentes in itinere "” e da sua possi- vel descaracterizagio. Torna-se quase desnecessirio sublinhar a impor- tincia social deste tema, que, no entanto, ¢ com algumas significativas ¢ meritérias excegées, néo tem merecido grande atengio por parte da doutrina nacional, mormente da doutrina universitéria ®. Pensamos, (©) Usaremos geralmente esta expressio 20 longo deste trabalho, expressio que preferimos a outras como a de acidente de tajeto. Hémica preferncia ¢expresa por Sercio SILVA DE ALMEIDA, Reflexdes sobre a nogio de acidente i iinere, Boletim da ‘Assciagio Sindical dos Jutzes Portuguese, 2006, pi. 155, pigs. 161-162, que subli- nha que aexpressio acidence in itinre€ “uma expresso precisa que nfo é meramente ddescrtiva nem susceptivel de confusio", considerando que a expressio acidente de trajeo seria quase um galicismo. @) MARia MANUELA AGUIAR, Acidentes “in itinere’, Estudos Sociais e Corpora- tivos, Ano VII, 1968, n.° 25, pags. 36 € ses. pig. 36, considerava o tema dos aciden- tes ip itinere “um dos capiculos mais esgotantemente versados adenteo da infortunistica Coimbra Evra 0 Acidente de Trabalho aliés, que, ainda hoje, se pode afirmar que a douttina pom he acidentes de trabalho em geral no 6 infeliamentes Muro POTN O estudo justificar-se-4, quanto a nés, pela grande cai de 7 da vida com que ajurisprudéncia se tem deparado ¢ Pet rabalho”. reconduair a espécie “acidente in iinere” a0 gener ea el paris Criagfo pretoriana, também entre nés, tem sido 8 JT ey, fixar lhe os contomnos, limitando-se, normalment€ ° SBS, modg ter em letrade lel a jurisprudéncia dominante 5 WO solucto, que sugere uma cerca incengéo de rigidificar of Te mostrando-se a (escassa) doutrina frequentemente i Oe, panhar a tarefa criativa da jurisprudéncia._ Este ray pee “ também o escopo de render o devido preito 8S col cee, Trabalho e Procuradores do Ministério Publico que, pt Belen construiram 0 acidente im isinere, colmatando, ST TE remos legislacio silenciosa ou muito restritiva. No entanto, Te igualmente a apreensio que Nos susia alguna jurapradenca Me mais recente em matéria ‘de descaracteriza¢ao dos acidentes ¢, designadamente, dos acidentes itinere. ou assim 0 esperamos, Este estudo permitié, es alguns consideram que o acidente fm itnere € uma cexplicar por que é que figura “herética” ®, do trabalho”, mas supomos que S¢ FepOr a doutrina estrangcira ‘rosie e certeiro sarcasmo obscrvava FREDERICO MrrERMAYER MADU- cava ou 4 jurisprudéncia, também patria, ou ©) Com inegavel seit, Acidentes no Trabalho — Significado c alcance da expressio ESTAR A CARGO ‘DA VETIMA usada na alinea d) do [artigo 9.° do] Decreto 5.637, Forum, Quinzené- rio da Vida Juridica e Forense, 1932, n.° 13, pags. 202 seg., pag. 202, a este respeito aque “parece que 0 decantado “espiico democrético” que se diz ter inspirado a nossa [egislagio operira nfo encontrou eco no espirito dos estudiosos de direito, a quem outros estudos despertam maior curiosidade e febre de investigacéo, talvez porque, no sendo mas rcos fides de indagaséo ¢ estudo, o so, contudo, de mais abundante © proveitoso interesse argentario (...) esse terreno que outros, mais experimentados ¢ sabedores desprezam, dele fugindo nio como o cio o faz das vinhas vindimadas, mas, pior do ques, como o cf o fark de tera que munca possa dar nem uva, nem cag, spac A cepoca de Lau Mi arden ie eee ache, pgs. 430 e segs. pig. 430, para quem o acidente in itinere teria um cardc- Coimbra aitor® 1,_Introducto._O objeto do presente estudo, 0 acdente in itinee 7 ou, pelo menos, um caso que convém continuar a distinguir do niicleo duro dos acidentes de trabalho ©, enquanto outros negam qualquer autonomia aos acidentes in itinere Fundamental para a compreensio do acidente in icinere parece set a sua génese histérica. Neste aspeto, pelo menos, parecem-nos certeiras as palavras de MARIA AMPARO BALLESTER PASTOR quando afirma que “(0) desenvolvimento histérico do conceito ¢ regime juridico basico do acidente de trabalho nao sé explica 0 modo como hoje se concebe 0 acidente de trabalho in isinere, como também parte dos muitos parado- x0s colocados pelo seu regime jurfdico actual”, E dai que comecemos este estudo por uma referéncia aquele desenvolvimento hist6rico, 20 aparecimento ¢ posterior evolucio do préprio conceito de acidente de trabalho que terd operado “uma verdadeira revolugéo de conceitos juri- dicos, operando, necessariamente, sobre aqueles dois nexos — 0 de imputagio € 0 de causalidade que se opunham 3 responsabilidade patro- nal por este sinistro” ®. ter herético, porque se teria emancipado do crtério da autoridade do empregador que ia 0 fundamento da definicéo jurisprudencial do acidente de trabalho clissco. © Assim, por exemplo, JACQUES GHESTIN, La diinction entre lesaccdents da travail et les acidents de tnajet depuis la loi du 6 aot 1963, JCP, La SemaineJuridique (EditionGénérale), 1967, I, 2109, n.® 5, para quem “a distingio deve, aliés, contribuir para precisar melhor a prépria nogdo de acidente de trabalho”. (© Assim, designadamente, M.+ AMPARO BALLESTER PASTOR, Significado actual del acidente de inabajo in itinere: paradojasy pepectvas, Colecsi0 "Bisicos de Dere- cho Social”, n.° 29, Editorial Bomarzo, Albacete, 2007, pags. 25 ¢ 31, que nega a autonomia do acidente in itinere, considerando que este € uma manifestagso do aci- dente de trabalho a que se aplicam as mesmas tegras, 0s mesmos limites, as mesmas especficagdese caraersticas. Entre nds um dos autores que de mado mas incenso ¢ profundo tratou toda a temética dos acidentes de trabalho, CaRLos ALEGRE, Aci- dentes de Trabalho ¢ Doengas Profissionais, Regime Juridico Anotado, 2.+ed., Alme- dina, Coimbra, 2000, pigs. 47 ¢ segs., afirmou igualmente que “esta particular configuragio do acidente de trajecto nao Ihe concede um especial estatuto de auto- rnomia em relagio ao acidente de trabalho de que é juridicamente, apenas uma das formas possiveis” © Ma AMPAaRO BALLESTER PASTOR, ob, cit, pag. 7. MARIA MANUELA AGUIAR, ob cit, pag, 39. Cima Eden I Aa Tp Same Le pe Hie ela i eh a Sea Sas a : ee Cie owas fanaa & de corcaaemaggn € corrective, € a vitima fatal do tio que a renee miquina moitiplaca € aguca. Risco inerente & maquina, Risco inerente an tchihlen, Vacn iexeces 2 profesdo. Risco que nao sc arranca nem da miquina, nem, ds yeh, noes do tedoalno. Pisco que nao se evita ¢ que no se vence nem pelo lgioapaanerta tasicn eer, He pela dssibuigéo do pessoa, nem pela atengio do pethia Sarsbatnabo core 0 petiga”. © como cereiramente observa PEDRO ROMANO MARTINEZ, Acidentes de Vabalbo, Yodo Feetcica — EAivor, Lisboa, 1996, pag, 31, a ideia da perigosidade da whepiva dinda vio desaparecey da nossa \ei: assim, ndo sera exclutda a obtigagio de toys serdipe, mesmo que eventuais ¢ de curta duragio ¢ prestados a pessoas singu- haves em wividades que nao tem por objevo exploragéo lucrativa, se o acidente resultat “da wiiirdo de sbquinas ¢ de outros equipamentos de especial perigosidade” (solu- ho bye consaygada no 0.° 2. do artigo 16.° da Lei n.° 98/2009). foes pesiygn contrastavam, de resto, com a telativa auséncia de perigo criado ele miquinn (com a excegio do caminho-de-ferro) no remanescente da vida, © que ‘os rvier snus evident, como destaca Jer VAN LANGENDONCK, La situation dans les mnie jan communautaives, Droit Social 1990, pags. 699 ¢ segs., pag. 699. Coimbra Baivorn® 1._Intraduse, 0 objeto do presente exude, o acidente in itinere 9 por seu turno, reduziu uma certaatitude de resignagao face a0 sofrimento que seria alimentada pela concepgio medieval de que o sofrimento & “a resposta divina aos pecados do homem ou a obra do deménio atormen- ma ee tador das almas” \"", E a exploragio medistica de alguns grandes aci- dentes industria vitimas e seus famil ¢ das respectivas consequéncias desastrosas para as res terd agudizado a divergéncia entre a consciéncia social dominante ¢ o direito da responsabilidade civil vigente & época. Importa, no entanto, reconhecer que, por um lado, a resistencia & introducio de uma responsabilidade do empregador por acidentes de trabalho (¢ também por doencas profissionais) nao se devia apenas a0 (normal) conservadorismo dos juristas, mas fundava-se em uma pré-com- preensio ideolégica que, por vezes, s6 aparentemente era ingénua ¢, frequentemente, soa mesmo com uma estranha modernidade, como se 0 século XX1 persistisse em repetir 0 século XIX. E, depois, importa também ter presente que, mais uma vez, as primeiras respostas em mui- tos ordenamentos foram jurisprudenciais, antecipando a resposta legal ". ‘A resisténcia & responsabilidade por infortiinios laborais ou, como Ihes chamou uma das nossas primeiras legislagbes, “desastres no trabalho”, fundava-se na visio de que as partes de um contrato eram iguais € auto-responséveis “®, Uma vez que 0 contrato de trabalho néo se tinha 19 Assim, PHiLinre-JEAN Hesse, 06 cit, pig. 638. {9 Em Franca, porexemplo, FRANGoIS EWALD, Formation de la notion dacident ‘du sraval, Sociologic du Travail 1981, n° 1, pags. 3 segs. considera que terd sido fundamental um Acérdio de 21 de Junho de 1841, afirmando que o referido AcérdG0 abriu a via para 0 dircito dos acidentes de trabalho ¢ até mesmo para um direito do trabalho, impondo ao empregsdor obrigagées que resultavam da lei, mas no propria- rmente do contrato. Nas palavras do autor, a lei de 9 de Abril de 1898 “limitou-se a cconsagrarlegalmente uma velhae longa pritica juidica” (ob cit, pig. 5). {io Uma visio critica extremamente interessante da evolugio nos USA, neste aspeto paralela 3 europcia, pode encontrar-se, por exemplo, em JOHN Fasian W1rT, The Transformation of Work and the Law of Workplace Accident, 1842-1910, The Yale Law Journal, vol. 107, 1998, pigs. 1467 e segs. Sublinhe-se a afirmacio do autor — , pig. 1477 — de que “in work accident cases courts put the nineteenth-century ‘work ethic to dubious use by affirming the importance of worker control over their ‘work and their working conditions in ways that placed the blame for the accidents on CointrsEtorn®| a" - O Ariens de Taba Insoduce 0 oben sad verdadstamente do cOMtE0 dE Presto de ye i ainda autonomi aaa cen eee fe que, por um ado, ot pe vigos, acreditav Se vasventes e que no podia desconhecer ma pre contas, tum limpa-chaminés, para d, Mo de tabalho. No fim de conta, um Fimpacchamings para der py See plo, nao pode ignorar que tabalhard “nasal citarko Como destaca F de 2 de Junho de ve igs nio exept aplicagio de princt re es Smpregador nio the deveria mais do que © sal Ean es eal Ove reado, ou melhor, num mercado, perfeno, a, come responsi conta aileti o rsco acrescido, Além disso, nfo $6 a asungto dy thar "pas dens saree eabalhador era considerada wma expressio da sua liberdade, de esponsii oe eitar ettos riscos a uum regime especifico seria profundamence Vea ep Ges injusto, criando-se um regime de privilégio ¢ esquecendo-se que toda a She. rastae suividade humana comporta tiscos ", als, do lecer quané «workers themselves (..) By turning the work ethic in a moral imperative, ate his responsability forthe conditions of his work”. oe we Seyundo esa visio © empregador deve 20 tabalhador o equivalent do sey an trabalho enada mais. Em suma, 0 pateio oferece e 0 trabathadoraccita a insegutane, ston © perigee a posbilidade de um acidente (assim, TARBOUNIECH, cit, apud EWALD, a, Mabalh wit, plo, 8, #4). Tambémn LuFEAVRE (Gt. apud ENALD, ob. cit. pig, 8) dava oseguinte aa Cecmplo:o pateio oferece o trabalhador a possibilidade de fazer um trabalho perigos, ai ‘fe eebalhar num teto com certas hipéteses de queda; néo lhe promete que nko havers ead peigo © que o trabalhador estaréem seguranga, mas pelo contrvio mostrathe que o on Trabulhador vai exporse a um petigo, perigo esse que o operitio aceta a0 contata, Sr (8) "Trata-se aqui de um argumento, quanto a nés mais profundo, que afitma es rio existir um problema especfico dos acidentes de trabalho; pelo conttitio, o taba: & Tho e os seus riscos no mereceriam qualquer tratamento especializado. Além disso, a como ia GUYOT (ct. apud EWALD, ob. cit, pg 8, n. 8) qualquer ato da vida, por mais insignficante que seja, implica um isco. Em suma, os riscos do trabalho no poderiam ser separados ou isolados do risco da vida ¢ dos riscos da humanidade. O trabalho pode scr perigoso ¢ executado em condigbes de risco espectficas, mas tal sucede com outras atividades humanas ¢ até, em certo sentido, com toda ¢ qualquer atividade humana. © operirio como qualquer outra pessoa deve saber assumir ¢ enfrentar os riscos da sua vida, © que setia a contrapartida da sua liberdade, Como destaca FRANCOIS EWALD, esta posicio liberal entrelacava-se com a ideia de que a seguranga s6 poderia ser um assunto ou tema individual, cabendo a cada um tomar as, correspondentes medidas (designadamente em matéria de seguro). A seguranga nunca poderia corresponder a um direito, o que seria impossivel, até porque a inseguranca ¢ Coimbra Editorat 1 Inrodupto, O objet do presente etude 0 acidente in tinere nt Como destaca FRANCOIS EWALD, 0 Acérdio da Cour de cass de 21 de Junho de 1841 20 afirmar que 0 contato de prenasso de servigos nfo esgotava a relago juridica entre as partes ¢ io value 4 aplicasio de principios de ordem publica qu regem a responsabilidad dedireito comum, tratando a responsailidade por acidents de tabalh como responsabilidade deliual,reconheceu aos tribunais o ditive de har “para dentro” da fabricajé que a fibtica nfo escapa ao dicito geral da responsabilidade civil dliual™, E muito embor alguma doutrina jf época tivessesugerido uma via contratual einvocado uma obtigagio contratual de seguranga a cargo do empregador ® — a semelhanca, als, do que se passava nos contatos de depésio e de transporte af obviamente a respeito de mercadorias — seré esta via delitual a preva- lecer quando, a partir da publicacao da lei alemé &” 2°) em 1884, 6 risco “exprimem a relagio fundamental do homem consigo mesmo, com os outros, com o mundo ¢ a natureza” (ob, cit, pag, 10). : 0 Ese Acérdio é considerado pelo autor nfo apenas decisvo no tratamento juridico dos acidentes de trabalho, mas para proprio nascimento do Diteto do ‘Tabalho. Como o autor refere, of ct, pég. 12, “o acidente industrial vai ganhar corpo como acidente de trabalho isolado e dstinto dos riscos da humanidade, Inver- samente o trabalho, a empresa industrial eas suas relagSes de produsio vo ser obje- tivados a partir do facto do acidente. nas regras da responsablidade de direito ‘comum aplicada aos aidentes que pattOese operitios vao encontrar a sua identidade jurica. O pateio nfo serd apenas aqule que remunera segundo as leis de mercado 2 forga de trabalho que outro temporariamente locou. Vai pasar a ser aquele de quem dlepende a seguranga do opecii; 0 operirio aquele que pode exgir de quem o emprega a sua sepurangt, aquele caja Seguranga dependeri de um outro e aio apenas desi préprio”. (20 Sobre o tema wide, por exemplo, Yves SatwT-Jouns, De obligation contrac- twelle de sécurité de résultat de Vemplayeur, Recueil Dalloz. 2007, pags. 3024 e segs. © autor refere que a obrigacéo contratual de resultado de seguranga por parte do cemmpregador foi jf invocada pelos tribunas franceses em 1878, mas nao vcio a sera base da tesponsabilidede por acidentes de trabalho na Lei de 1898. ©) Como é sabido, a Alemanha ineroduziu em 1884 um sistema legal de wutela de acidentes de trabalho, que acabou por ter uma influéncia considerdvel sobre a cexperiéncia de outros patses industrialzados. O sistema cobria todos os acidentes de trabalho, mas apenas uma lista de doengas profissionas, ainda que uma norma relat ‘vamente pouco invocada permitsse que discrcionariamente se pudesse dar relevincia Citra Edo O Acidente de Trabalho comecam a proliferar legislagdes ¢ in Gri-Bretanha em 1897 ®, em Franga "e ‘sistema era tinico, no sentido ante da lista dase da responsabilidade civil para regras gai ela das repre’ Br acidentes de trabalho ¢ doengas rabalhador por C. ARTHUR WILLIAMS, Jr, An cfr, por todos, pi, Kluwer, Dordrecht, 1991, pégs. 119 por outro lado, a uma doenga nfo const Por outro I de que excluia a invocagio paral responsabilizar o empregador face 20 1 aleriio, profisionais. Sobre o sistem: ae eamaronal Comparison of workerscompersel” ce segs seursora nesta matéria, poi, segundo 2) Nio tert sido, contudo, ane a obec pig, 699, 2 lei sulga de 0 Lacon loa ropes emp fos trabalhadores na empresa (0 mesmo lei alem, a pre informa J VAN La sobre o trabalho nas fal i tes de trabalho sofridos : et ne Oe dns du Trav, Facuké Internationale ae En a a ‘du Droit Comparé, ‘Trieste, 1964, pag, 3). Por outro lado, a lei aoe ere os caminhos-de-ferro de 1838 jé previa a responsabilidade da empresa argo apenas pelos acidentcs de tabalhos¢Sim Pot todos os acidentes causados pela rplragao do caminho-de-Fero, ainda qu 2 responsibilidade da empresa oss afastada ee Ye forga maior e de culpa do lesado (A BERENSTEIN, ob. € lug. cit) 2 do gaan, iff WokRelted Inury Compensation. Background ‘hemes, in Shifts in Compensating tnalss: the Concurrence of Compensation Se Sree ed Injuries and Diseases, coord por Saskia Kloss © Ton Hardie, Tort and Pare: Liv vl 20 Springer-Verlag, Wien, New York, 2007 gs 9 e segs, pig. 13, caplicn as inciaivas de Bismark como tendo maivagies cdaramence polticas pelo risco ers voto dos trabalhadores benficiarem o SPD, bem como pela erescente instabi- tg cecal devda¥ aluéncia de trabalhadoresoriundos de zonasrurss aos entros ‘emo autor, 0b. cit, pag. 18, destaca que o sistema aero ent compleamene “itocent”: nfo incluindo danos parimoniis¢ danos ido dano na capacidade de trabalho, limitou os orais que nio fossem os resultantes tists pa osempregadores que tinham visto quadruplicar os prémios de seguro de sarsntiblidad evi os sci anos antares 3 entrada em vigor do regime alemio sobre acidentes de trabalho. i eurioso que tendo sido o Reino Unido, ¢ mais precisamente a Inglaterra re da evolgio industrial, nfo tenha sido igualmente o precursor em Iasdo sobre acidentes de trabalho. E. F. D, ENGELHARD, ob. fenémeno e considera que nio ha uma explicagio fécil io no século XIX dos sindicatos ingleses nas- turbanos da regio do Ruhr. O m: o grande pionci matéria de legis! pig, 20, itertoga-se sobre 0 para o mesmo, A principal preocupaga tontes tend sido a de ascegurar a sua propria sobrevivéncia ¢ a melhoria dos sal: Existiam também mecanismos de apoio aos pobres (c, portanto, também aos sinis- teados do trabalho...) designadamente mecanismos associativos criados pelos préprios Coimbra Eaitora® 41,_Introduele._O objeto de presente etude, 0 acident in nnee 6B em Espanha em 1900, na Belgica em 1903 ¢ em Portugal, como melhor veremos adiante, em data significativamente mais tardia: 1913 Ainda que estas diferentes legislagbes apresentassem diferencas sen- siveis entre si, podem apontar-se tragos comuns a todas elas oul, pelo menos, tragos dominantes. Assim, em boa parte delas a responsabilidade trabalhadores asim ao lado das Chatty Organization Societies, as charadas Friendly Spiga Até & entrada em vigor da nova lei sobre acidentes de trabalho, o empre- we pee ‘culpa do lesado (contributory negligence) eo principio volenti "Nao € nosso propésito analisar pormenorizadamente estas primeiras legisla- 6es, mas cumpre assinalar que divegiam consideravelmente em alguns aspetos. ASsim, por exemplo, o sistema inglés diferia jd na sua génese do sistema alemio. O Workers’ Compensation Act de 1897 permitia ao tabalhador ou accitar a compensagio de acordo com a lei ou avancar com uma agio de responsabilidade civil em que teria que alegar ¢ provar a culpa do empregador. Se 0 trabalhador nio 0 conseguise far jeria ainda solicitar a compensagio ao abrigo do Workers’ Compensation Act, Este sistema do Workers’ Compensation Act er financiado por impostos cobrados 20s cempregadores, mas, por outro lado, os empregadores nao etam obrigados a celebrar qualquer seguro para a eventualidade de o rabalhador os acionatjudicialmente. sise tema britinico era em alguns aspectos semelhante ao sistema alemio (no era relevante para a compensaco a consideracio da culpa ¢ o sistema era financiado pelos empre- gadores), mas em muitos outros distanciava-se do sistema alemo (no estava inserido no ssterna mais amplo da segurana socal, no cudavapriostariamente a prevengio de acidentes, da reabiltagioe nfo afistava a rsponsabilidade cv). Sobre o tema cle. CARTHUR WILLIAMS, Jp ob cit, pigs. 150 e segs 29 Segundo observa YvES SAINT-JOURS, eb. cit, apés dezoito anos de trabalhios preparatrio. 2 De acordo com a informagio de MATTIA PERSIANI, Dirito della Previdenza Sociale, Cedam, Padova, 18.* ed., 2011, pig, 153, a cutela contra acidentes de trabalho foi prevista pela primeira vee em kia pela Lei n.° 80, de 1898 que impunha aos empregadores, na indistra, a obrigagio de celebrarem um seguro de responsabilidade Civil dos danos resultantes de acidentes de uabalho de que fossem wicimas os seus opertios. Pelo Real Decreto de 23 de Margo de 1933, n. 264, a gestio do sistema foi confiada a um instituto piblico, atualmente o Instituto Nacional para o Seguro ‘contra Acidentes de Trabalho (INAIL). 28) Mas néo em 1960 (!) como pretende Je VAN LANGENDONCK, ob. cit, pig, 699, num artigo que, de resto, apesar desta impreciso, se revela de grande inte- CCoimtea Ediors® 0 Acidente de Trabalho 4 es \r-' ris abjetiva do empregador ® assente no ave vio a eapreee, 3 a do : profisional, se, por um lado, nfo pressupunha a P oe Hor 6, por iso mesmo que ers Um calidade de responsbilidade rn so visava objetiva, por outro lado era uma responstbildads . sane ae reparagao_ integral do dano sofrido pelo trabalhat Be eet en fal, temporaria : reeultance da perda, coral ou parciah Fe™PO™ "an, pio sendo capacidade de trabal trabalhador ©, ho e de ganho do traba yo abrangidos outros danos, tanto pavrimoniais como nfo parrimo- on Em todo 0 cas0s € tian P, SUMIEN, Lévolution de la notion daecident du tranil, Reewcil Dallon 547, Chronique Ill, pigs. 9 € segs © ave adonalmentecaratefiza 0 novo ditto “Jos acidentes de trabalho quando este nasce, Pare do se, XIX € 0 seu carder ind tualista: “no é a coletividade quem ‘pemnina 0 acidentado, é 0 empregador considerado individualmente na sua emprest re empregador nem sequer esta suet 2 S640 Inicialmente, de resto, r ie gapto de reparagio nada tina de coletiv, permanesa ——— como bem enfa particular” obrigatério. Em suma, ol individual dual mo entre nds destacou JORGE F. SINDE MONTES, Estudos sobre a Responsbilidade Civil, Coimbr, se (distibuisat ‘Almedina), 1983, pag. 23, . 37, iene natural no seio de uma sociedade predo- “principio da culpa inka o seu am se repre agricola eatesanal, onde o indviduoy na velhice como perante outros osu imasem a sua cpacidade de trabalho ou de ganho, poderia contar com protec no sei da comunidade orga da grande fami ou do trabalho, E sabido que a industrializagio alterow profundamente estes presupostos sociolégicos". Por sew aaron ROMANO MARTINEZ, Acdentes de Tahal, ci PB. 75, refere que “mas sar pais importante do que a dificldade da prova da culpa ¢ d& aludie a uma {ust socioldgia rlacionada com o facto de, com 0 individualismo liberal, 0s deve- seer aoperaao, em particular de asistencia do empregador reativamente 20 tuaba- thador, rerem caido no olvido”. wi gue levou YES SatNT-OURS, Les leaner del isleion de accidents de nnoail Droit Social 1990, pags. 692 e segs. pag. 693; a afirmar que “4 vitima de um area de tabalho & redurida ao mero valor da sua forga de trabalho representada plo alii. E asim considrada como uma vulgar mercadoria € néo como um ser fhumano na sua plenitude”. No mesmo sentido critic eft. GERARD LYON-CAEN, Ler vices dcidnsd tavil vicmes en dune diverimination, Droit Social 1990, pigs. 737 e segs, pg. 738: “a desumanizagio atinge o seu ctimulo: o set humano é vis apr da pempeie do seu corpo — ¢ este como uma simples méquina de Coimbra Editoea® 1._Introdusio._O objeto do presente extudo, 0 acidente in itinere. niais © ©, Além disso, tal responsabilidade nao s6 no eta afastada na hipétese de caso fortuito, como tio pouco desaparecia em muitas situagGes em que se podia afirmar a culpa do trabalhador lesado jd que, como melhor veremos seguidamente, 0 risco profissional abrangia (pelo menos em parte) a culpa do trabalhador ©. Quase todas estas legis- lagdes — embora ao que parece com exceges, porquanto a lei suica Parece ter seguido outra orientagao — assentavam também na destringa entre acidentes de trabalho ¢ doencas profissionais. Pode mesmo © _E daf que Puttirpé-Jean Hesse, ob, cit, pig, 641, afieme que a responsabi- acidentes de trabalho assente no risco profisional conduziu historicamente 4 uma reparticio dos danos pelo empregador e pelos trabalhadores GF Tratou-se, pois, de um compromisso, de uma “transacgio" histérica. Como referiu EVARISTO DE MENEzes PascOaL, Acidentes de Trabalbo — Fundamentos da reponsabilidade em acidentes de trabalho, Revista de Dircito do Trabalho ¢ da Previ- déncia, ano II, 1953, pigs. 255 e segs. “a fim de ndo agravar demasiadamente 6 pattio © por outro lado, garantir sempre a vitima uma indemnizagio, optou-se por uma fparasio transaccional na qual 0 operdrio ganha e perde ao mesmo tempo. Ganha, Porque consegue ser indemnizado mesmo nos casos em que por auséncia de culpa do patrio a nada teria diteito; perde, porque © quantum de indemnizacio € menor do ue seria se conseguisse provar a culpa do patrio. A cargo deste ultimo ficam os sinistros que emergem de falta nfo intencional do operiria de caso fortuito ou de forca maior ou ainda os resultantes de causa indeterminada’. Na verdade, os termos da “transacgao” alteraram-se em parte: a chamada “descaracterizagio" do acidente ampliou-se, abrangendo agora situages em que nao ha dolo do trabalhador e desapa- Feceu a presungio de que um acidente ocorrido no tempo ¢ local de trabalho é em principio, um acidente de trabalho. (0 MANUEL DE VASCONCELOS, Da nogio de risco profissional em matéria de Acidentes de Trabalho, © Diteito, Revista de Jurisprudéncia, 1932, ano 64.%, n.° 6, Pigs. 162 e segs., pig. 164: “Pouco a pouco se foi dilatando o Ambito das reparacdes «se foi substituindo a ideia de culpa, ora atributda ao patrio ora ao operitio, Da ideia do risco criado resultou, a breve trecho, a nogio de risco profissional, isto é do risco inerente & natureza ¢ condigio do trabalho © & profissio. A culpa do patrdo, a culpa do operirio, a culpa das coisas inanimadas, o acaso, fundiram-se em uma s6 nogio: a indiistria que cria 0 mal deve reparé-lo". Neste sentido, expressamente, ALDO GRECHI, Occasione del lavoro ¢ causa violenta nella teoria dellinfortunio sul lavore, Casa Fedittice Poligrafica Universitaria del Dott. Carlo Cya, Firenze, 1935, pig. 26, afirmava que 0 risco profissional abrangia também eventos danosos resultantes da culpa do prdprio trabalhador. lidade por Coimbra Eitora® __OAcidente de Trabalhy ese que 0 conceit de acidente de trabalho, tal como hoje g eve sem esquecer que em alguns sistemas 0 conceite praticamente jé desapareceu — se condensou praticamente nesta época, ainda que se encontre hoje em plena evolugio (outros dirdo erosio %), Talver se justiique, por iso, centrarmo-nos nesse conceio, ta como foi emergindo, ¢, do mesmo passo, apontar a relagao estreita que man- tinha,inicialmente, com a designada teoria do rsco profssional 09 &, ia o tisco profissional era um risco espectfico, que no se | da vida ©, a que o trabalhador estava afirmal conhecemos Para esta teori confundia com 0 risco getal eee > Para Jose ANTONIO FERNANDEZ AVILES, El accident de abajo en tema 1 sree Seal (x ena proc de inion jer), Aci, “ al es 36 oconcito de acidente de trabalho 6, no fim de coms, um Ba ere sid via do seu prio sus, refeindo o co lands, ps co eam es Vim stan a dsiniodlsa ese cn ds debe i ei deg aden po cn Siderarsediscriminaéria iderarse dscpo caninaccan, nortan in itinere el stoma di tutela con j se ne tp form de 2000, Riva deg lf e dele Ml ii ao pg 29 «i. 240 mit enor cone 1 Pole opin dope devin snc pode pn cnt ee re Fm a ql desig un cones om aig dune 2 ee que zag wil dese cone exprim fans es dentes de trabalho segundo o qual “os emprega- io hist6rico do seguro contra aci a ram utidade do desenvolvimento dt actividad bral que expo do eto oro deaidente deve suport com opagumento dos prémis daa ecqubncia negative esulantes da vera de ais risen, estumindo ene ‘como outros riscos da empresa. vests Gane ORTEGA, EL acidente de trabajo Actualiad de un conepto 1 2000, pigs. 26 e segs. pig. 27, observa que mesmo em itela dos acidentes de trabalho foi integrada no de isco continua na matéria a ser fundamen- centonario), Tibuna Soca sistemas como o espanhol em que atu sistema de Seguranga Social 0 conceito tal e nfo deve considerar-se superado, {8 ensinamento tradicional exigia, na verdade, que o acidente para ser um acidente de wabalho fosse expressio de um isco que encontrasse a sua fonte no u2- batho. A dovtrina italiana usava para este feito a expressio ocasido de trabalho, férmula alids também empregue por CARNELUTTI, autor que teve, de resto, uma influéncia verdadeiramente decisiva na evolusao desta matétia em Itdlia, designadamente com os seus vrios estudos sobre acidentes de trabalho. Deveriatratar-se de um risco especifico Cima Eaitora® 1._Intredupio._O objeto do presente etudo, o acidente in itinere iz Sujeito por forga do exercicio da sua profissdo e esse, € apenas ess, era 0 risco suportado pelo empregador, do trabalho cuja existéncia ou intensidade decorra das condigées peculiares daquela indistria,incidindo apenas sobre os trabalhadores dessa industria ou, pelo menos, sobre cles em maior medida que sobre os outros seres humanos. Assim se exprimia CARNE- LUTT! incluindo neste tisco especifico o que depois se veio a considerar um isco genético agravado ou seja um risco que na sua intensidade, ainda que nio na sua propria existéncia, dependia das condig&es espcificas da atvidade. Para CARNELUTTTL «este rsco contrapunha-st o risco genérico nao indemniadvel que, tanto na sua exis- téncia, como na sua intensidade ou quantidade, era independente das condigBes cspecificas daquela indistria recaindo do mesmo modo sobre © homem médio ¢ 0 operirio, Esta distingéo foi, durante muito tempo, decisiva eaplicad, de resto, como vveremos, também no contexto dos acidentes de trajeto de tal sorte que se péde afirmar, aliés, que 0s acidentes de tajeco constivufam "uma das figuras mais importantes do risco genético agravado e um ponto quente da ocasiéo de trabalho” (EDOARDO GAM- BACCIANI, ob. cit, pig. 266). Coimbra toa 2 O CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO E SUAS CARATERISTICAS DIFERENCIADORAS. DO RISCO PROFISSIONAL AO RISCO DE AUTORIDADE E SUA SUPERACAO A noglo de acidente de trabalho sempre foi problemética ao ponto de, por vezes, as leis — e nfo apenas as portuguesas — optarem por prescindir de uma definigao legal de acidente de trabalho ”, sendo que, ‘mesmo quando tal definigio existe, ela, frequentemente, pouco clegante abrangendo-se na definicio o definide “, E nio surpreende que assim scja. Desde logo, porque a prépria nocéo de acidente tout court é, j4 ela, © fo que acontece, por exemplo, na Austria em que a lei nfo define acidemte, como destaca KONRAD Gaittaencen, Osterichisches Sozialech, 8. ed., Springer, ‘Wien, New York, 2010, pig. 65 (“Was unter einem Unfll zu verstchen ist, erkiutert das Gesetz nicht) (© Mania ADELAIDE DOMINGOS, Algumar questes relacionadas com o conceito de acidente de rabatho, Prontuésio de Dirito do Trabalho, nimetos 76-77-78, 2007, pigs. 37 € segs. pg. 39, n. 8, “a Ici fz entrar 0 definido na definigio, nfo nos for rnccendo um conceito naturalistico de acidemte de trabalho, fazendo apelo a0 sentido ccomum ¢ usual do termo acidente, permitindo que nesse Fendmeno sejam inclufdas virias ocorréncias materais que precedem,ligicae cronologicamente, a acorténcia da lesio, Esta dificuldade na defini do que sejaacidente de trabalho tem jf alguma tradigéo no nosso ordenamento juridico”. Também MARia bE Deus Cau. Siwva, ed, Milan, pig. 367, afirma que “o trabalho é a verdadcira e prépria causa do isco, a causa ocasional do infortinio © nfo a causa eficente ou exclusiva. A efit, ¢ assim o deteinismo do acdent, €consituda plo complexo das vnss componentes caus do evento, que a actuagio da causa oasionalatalzae prof naliza”. Por detrds destas palavras algo ‘enigmiticas parece estar a Tepugnancia de. alguns jurtasem admis que €o trabalho a causa derradcira ds acidents. Sobre. tems de uma peapetvascioligeaecom a referéncia a mulkiplos casos pessoais de. Asm Tatsau Mon, Tawi peut nie grevement 2 votre samt, La DécouverelPochs Patis, 2008, FesitG VAN Cossims, Ls acide di tral, Larciet,7 ed, Bruxelles, 2007, Pigs. 56-57, di os segumtes exemplos:o tétano apés um ferimento, arava conunid, 296s uma mordedua, a hepatiteou o SIDA contaido por um enfetmiro na veudn, de uma injeso por uma sein infetada.Jé em Espanta, e segundo informa Jats Souro PRIETO, El accident de taba en el derecho compardo:caracteritcuy endin Ge Boa Porga,Acidenes de Trabajo y Mutuas, coord. por Efitn Borrajo Deere La Ley, Madrid, 2008, pigs. 757 e segs., pig, 763, os acidentes de trabalho, desde 1908; abrangem em Espanha, néo apenas ages sibitase vilentas produvides por i 'm “process patoligicos de cardcter mais leno e pro- Pols, acidentes de trabalho certas doencas (embora nio Prove que a docnca teve por causa exclusiva a execucio do \allho. Assim, jie inclulram no conceto de acidente de trabalho enfaree dt ase aie « womboret. Também em Franca, e segundo informa Ootuie Gotu Le Ugiatoneacident du tari, un chef oeuvre en péril, Droit Socal 199, és. 345 © S65» pig, 351, a jurisprudéncia jd considerou acidente de trabalho a morte sibita Por enfarte do miocérdio de um chefe de seegao que tivera uma altercagio violenta ‘om um operso no dia ds morte (Casition sociale, 27 sept. 1990, Rie Renan), Coimbra Faiora® RAND, 1994, mas apenas causlidade ram-sc, profisionas), desde que se 2._O conctito de acidente de trabalho ¢ suas carateriticas diferenciadoras FE) também, que deveria tratar-se de um facto anémalo, Como veremos, aquase todas estas caracteristicas tém sido gradualmente postas em causa, de tal modo que sé parece mesmo subsistir hoje a exigéncia de subita- neidade ¢, ainda assim, entendida em termos habeis ou flexiveis. HIrrowye MARESTAING, por exemplo, que de maneira algo otimista defendia que o acidente de trabalho se definia a si proprio, pelos seus préprios termos ©, acrescentava que 0 risco estava necessariamente no trabalho: “se 0 corpo humano ¢ atingido, 0 perigo nao esté nele, no vem dele, mas sim do trabalho que ele efetua ott que é efetuado em redor dele, por conta de um empresdrio, de um patrio”, sendo a lesio sempre devida a uma causa externa ‘* 69 69, Mas jé ADRIEN SACHET duvidava 6 Nas suas palavras, ob, cit, pg. 120, tratar-se-ia de “um acidente necessaria~ mente causado pela a¢io direta de um trabalho individual ou coletivo num comércio, numa fabrica, num servico”. (69 Recorde-se que, de algum modo, esta exigéncia era feita pelo artigo 2.° da ‘nossa Lei n.° 83, de 24 de Julho de 1913: “Considera-se acidente de trabalho para os efeitos de aplicagao desta lei: 1.° Toda a lesio externa ou interna ¢ toda a perturbagio frervosa ou psiquica, que resultem da acgéo duma violencia exterior stiita, produzida durante o exercicio profissional; 2.° As intoxicagbes agudas produzidas durante ¢ por ‘ausa do exercicio profissiona, ¢ as inflamagGes das bAlsas serosas profissionas" 169) FRANCESCO CARNELUTTI, Causa violenta..., cit., pég. 421, entendia, preci- samente, ue 2 causa violenta era, também, uma causa externa ou exterior relativamente xo corpo. O acidente nio podera exstr sem a causa externa, enguanto a doenga poderia ter uma causa interna ou externa [esta seria uma primeira diferenga entre acidente Edoencal. E sublinhe-se que alguma doutrina italiana recente continua a fazer referén- ‘cia & causa externa: assim, EDOARDO GAMBACCIANI, ‘La causa violenta, in {| Sistema di Tutcla degli Infortuni ¢ delle Malattie Professionali. Soggetti, furzioni, procedure, dir. por Francesco Facello, Giufit, Milano, 2005, pigs. 205 « segs» pig. 206 firma que ‘Segundo o ensinamento tradicional a causa violenca que identifica qualquer factor que lese 0 organismo do trabalhador operando ab estrimeco com uma accao rSpida e con- centrada no tempo, para ser rlevante deve ser no apenas violent, mas também cficiente, ripida e externa” ¢ acrescenta que o caricter exterior ou externo da causa violenta *individualiza a sua ligagio com 0 ambiente de trabalho” (ob. cit, pig. 207), embora também reconhega que a exigéncia de uma causa externa tem sido questionada ou mesmo abandonada em alguma jurisprudéncia italiana mais recente, (8A referéncia a uma origem externa aparece ainda em jurisprudéncia recente nacional. Sirva de exemplo o seguinte excerto do Acérdio do ST} de 14/04/2010 Coimbra Eaitor® OAcidente de Trap 4 —_$______— Publ desea exigéncia de uma causa externa ao corpo do bala, afitmands jue “certas manifestagdes mérbidas ém uma causa violenta e siibita ue Soe ude ecndien coime Iniaronn hasten bk lumbagos, das cistigs ”. E entretanto foram-se my), das ruturas musculares, das hérnias, et 7 tiplicando as vores dos que — ¢ bem, a nosso ver, — acreditam que nig 57 5 i ha que exigit sempre uma causa externa “ou exterior a0 corpo da trabalhador , (Sousa Granofo): “A caricterzagio de um acidente de trabalho pressupde(.,.) verifcagio cumulativa de trés elementos: um elemento espacial (em regra, 0 local de trabalho) um elemento temporal (corespondente, por norma, 20 tempo de trabalho) ¢ um clemento causal (nexo de causa e cfeto entre 0 evento e a lesf0, perturbacgo funcional ou doenga, por um lado e entre estas situagées e a redusto da capacidade de trabalho ou de ganho ou a mort). Porém, a montante dessa verificagio cumulativg de pressupostos torna-s imperioso, desde logo, que 0 evento possa ser havido como acidente, o que exige a sua produsio ocasional, sibita e com origem externa’, 1 pssim A. AkY DOs SANTOS, Acidntes de trabalho, Eitudo de Dirito Obj tivo seguido de uma complagao dos diplomas legais publicados sobre a materia, Livaig Clissica Edivora, Lisboa, 1932, pig. 13: “serd absolutamente necessétio que a causa ssja exranha & constituigio orginica da vitima? No nos parece. Nos casos de hée nia, por exemplo, nfo se pode negara caractrizagio de acidence de trabalho ea cause nem por isso é completamente extranha & constitu orginica" & Como destaca Mania Dé Deus CRuz Siva, ob cit, pig, 18,‘por caus exe- For wma entende-se um facto que nada tem a ver com asa constitu orn’ A autora reaga, no entanto, que “temos os exemplos de hémias,entorses, disenséec ‘musculaes que néo podem dear de integrase nos acidentes de trabalho e contude io resutam de causa exterior, mas de esforgo, realizado pelo trabalhador” (eh ei, big. 19). Por seu turno, Ets MARINA Rosa Dias Ouvetta, Da “Descaracterizagio" dos Acidentes de Trabalho, Relatério apresentado no Curso de Aperfeigoamenco da Area de Ciencias Juridica, na Discplina de Diteto do Trabalho, subordinado ve tema Aci dents de Trabalho, soba coordenasio de Pedro Romano Martine, Faeuldadace Direito da Universidade de Lisboa, 1998, pig 7, considera que nig se exige, para que se possa son dre ytle meramente exemplifcativo veja-se Jean-Jacques Dureyroux, La rovion decider davai, Recueil Dallas, 196, Chronique V, Pigs. 23 e segs, pig, 24, ‘sponta come exempls de poss acidemes sem causa exe ao cone hipére- Coimbra Editora 1 2_O concete de acideme de taba as caversion Afirenciadar 3 B uradicional, também, a refered a, ja lento sofrida pelo trabalhadoe tn ine 0. exig)a era win urna cause violenta Sublinhesse que o q ses “mult simple das lexdes ead das por ue mexoago muel 1 do lho entorse 00 héinia, A diningtu No muse ral intre doen pruflasional w acidente silo deveria, pole, Wi do acide, Com ofc, hh quer entencde que 0 0 acto exirno a quctn a sft ‘wn esualo patogh inet, ul concegio é "Wie arbitiiiia con aque é precisamente 0 49 dlo contipio por aye 1 inalago dle gaveswaicon, wma certa ponigho da vin duvanve ns abl tan podem conduzi a docngas como a acidente, ‘timbém LAicien PRAM OI, Hal erg sur la mation diaccidemt de vail, Revue de Ve Vaculd de Dvoi de Universe de Lieye 1963, pgs 229 © seyn.. pty, 252, criti w kde de que a seklente compete necesoaia vente w ntervengo de urna fonga exterior dé evempla do aubalaor qr, ade Jocar-se por umn eorredor inal th fazer recorrendo & caus cierto rvulen de yan erga enti ann ina ra JAN JACKS DPrYNCA, ob ih, ply 2 faloa ins doe i ong plana on va ao eet allo © pode venuly « patohigios la tvanipulayio le wbutivicie vaio ot ins, vir, ee), Cero (raumuatinnnn seni, nd, choca com una jeg de fer equi’ 4 al forga exterior seria aqul apenas w resistncin da pega de err, ( Mesmo patses om que, como cele wn Almanh, «propria defini lepab de acldente de trabalho fiz expressmenie mengan a esta caus externa — wees 0 aque ainda hoje rera 0 9 1 (1), segunda parte, do SCE VEE wo aliniar que "Uolille sind reilich begrenate, von aussen auf den Koxper einwirkende Lreiyniove, die nu einen Geaundheitschaden oder au Tod fahren” — a doutsinaesclavece que tal exighneia ceatd superada ¢ desprovida de contetido (assim, Gunbore Wauwi, Anotagae an $M, SGB VII, Gesetzliche Unfallversichetung, coord, por Prof. Dr Stephan Heunudeburg, in Schlegel/Vocleke, juris Praxiskornientar, juris, Saarlriicken, 200, pay, 103, nimmera de margem 107, que, na esteien de SCHULIN, considera esta exighnicia “inhalaleer” € rerichtbat; atibui ainda importinciab expresso Lenten JUnts Anatagta aa § 0 do SGB VIF, in KicHentiovin Hennes, Kommentar aim Sezialyesertuch VIN, Luchterhand/Wolters Kluwer, Kiln, 2010, nimeros de margem 15 4 18, pays. 90-91). Deste modo, jf se consierou que exsia um acidente de taba com x ruura sub cantinca de vasos sangulneos, provacada pela tentativa, durante 0 trabalho, de levanuar tuma pedra de 70 quilos (BSG, 12.04.2005), Sobre o tema cfr, tamblim Arwen Scrronnencen £ GeRiAKD Mesnerins | HeLaaut Vatsaerisi, Arbeiuunfall und Berw fitrankheit, ESV, Eich Schmidt Verlag, 8.* ed., Berlin, 2010, ply, 13. Ct, entse nbs, CUNKA Goncatvs, Reponsabilidade Cw... ci, ph, 3) para quem a causa deveria ser fsica, sibita, ¢ forgosamente violenta, (2 Vejarn-se as palavras de Javien GAtare CASH0, Comideraciney, deds el derecho copa, sobre el dafio producida com cast del trabaja coma clememta del conapt italiana de accidente de trabajo, Anatio Corubiés de Derecho Comparado del Trabajo, vo. 5, 208, Colma eatcrs® 6 O Acidente de Trabalhy causa violenta da lesio nfo, propriamente, uma causa violenta para 1 evento desencadeador da lesio, isto é, para o acidente. Mas mesmo assim, embora esta causa violentaexitafrequentemente, parece excessvo configuré-la como indispensivel para a existéncia de um acidente de trabalho, como entre n6sjé fer notar A. VeIGA RODRIGUES: “nem sem- pre a violencia, isto é, a brutalidade do contacto do objecto material lesionador com 0 corpo da vitima existe nos acidentes. Os contactos mesmo nao violentos podem originar o acidente” “ , Em suma, gs. 55 e segs, pig. 56: “Para que um evento possa ser qualificado como acidente de trbalho ig iil ‘que seja produzido por causa violenta, por ocasido do trabalho e que cause a quem o sofa um dano que afecte a sua integidade fica ou psiquica’ © Assim, Canneturrt, Causa violenta..., cit, pig. 416: a causa a que deve reconhecerse a nota de violéncia & a causa da morte ou da lesio ¢ no a causa do adi- dente. O autor invoca o exemplo real ocorrdo em Iclia de um trabalhador que, ta- balhando na montanha, ciu de um burro e partiu o erinio; o segurador recusou a «xisténcia de uma causa violenta para o acidente porque nenhuma causa desse tipo tinha determinado que o trabalhadortivessecaido do burto. Mas como o autor observa, tl nfo €necessério, Muito mais recentemente também EDOARDO GAMBACCIANI, La causa olenta... city pig, 206, afrma que “a violéncia exprime a potenciaidade dindmica de um facto relativamente a lesio ¢ & caracterstca da causa, nio sendo indispensivel que o préprio facto ou consequéncis sejam vilents". A forma como a douttina por veees se refere causa violenta como uma causa que opera de modo concentrado no tempo (assim, por exemplo EDOARDO GaMBACCIANI, ob. cit, pig, 208, para quem requisito da rapidex€o indice externo da violencia e implica que a causa estea concen trada num breve espaga de tempo) aproxima consideravelmente esta exigéncia da subitaneidade ou rapide. O mesmo autor, em um outro estudo, A propsite dela cama violenta nellinfrtani sl lever, I Disito det Lavoro 2003, part I, pigs. 267 ¢ se, Pig, 271, anota um Aco da Cassazione de 10 de Jancto de 2003, n. 239, em que se decid que a causa vilenta pode encontrarse no simples esorgo realizado por um teabalhador que se concretizou num ato laboral normal. Daf que 0 autor observe que 4 violéncia tem perdido o seu caréter central para individualza ecieunscrever 3 nosio de acidente de trabalho. E conclui que “a necessiria fungéo de diseriminagio entre acidentes doeneas profssionais & agora confiada & rapider e concencragao da caus’, “A. Veica Ropaicuts, Acidentes de Trabalho, Anotacaes & Lei n.° 1942, Coimbra Editora, Coimbra, 1951, pég. 17. O autor dava como exemplo "a infiltragso. do bacilo do tétano e a gangrena gasosa ‘© “Também para LUCIEN FRANCOIS, ob. cit, pdg. 240, a exigincia de uma causa ‘olenra nfo é correta — pense-se em uma inalaggo de gis — a nio ser que se diga Coimbra Editor 2_Orconceito de acidente de trabalho e sas canatertaicasdifrenciadors a arecem-nos certeiras as asserges de DE Curis de que “a violéncia sig- nifica aqui apenas uma causa répida que tem uma forga concentrada no 6) tempo” “ e de ViTOR RiBEIRO quando afitma que violento nao abrange apenas “o sentido algo estrondoso comum? 6 (s, Uma parte da doutrina ™ exigia, também, no passado, que 0 a dente correspondesse a um evento anémal cional ", Tal exigéncia, que o termo comporta na linguagem lo ou, de algum modo, exce- ‘mais uma ver, carece de razio de ser, como {que um evento sibito que produz uma lesio constitui sempre uma violéncia, caso em que a exigéncia de violéncia parece antes supérflua. De igual modo JEAN JACQUES Durevroux, La notion daccident... ct. pig, 25, afirma set duvidoso que a violencia apresente aqui autonomia relativamente ao caritersibito da lesio € refere que ji se centendeu em Franga que o tifo contrafdo por forga de uma injesio podia caber na nogio de acidente, Entre nds, também Matta Dé Dsus CRvz SVs, ob. cit. pig, 19, ‘observa que também a violéncia & um crtério falivel edi o exemplo do rebentamento de uma ampols, ainda que, reportando-se tanto & causa externa, como 3 violéncia, acabe por afirmar que esses critérios no devem set abandonados: “slém de vilidos, na raioria dos casos, siocritérios acessios importantes, usceptiveis de reforsar a con- viesGo do julgador, quando existem’ (© ADRIANO DE Cums, La concause nel dirto degli inforsui ei principi del dirtto comune, Societa Edittice del “Foro Italiano”, Roma, 1934, pig, 92. © ViroR RumsIRo, Acidenies de rabalbo: reflexes emotes pris, Rei dos Livros, Lisboa, 1984, pig. 210. O autor actescenta que violento "é afinal tudo 0 que é sus- cepttvel de alterar 0 equilrio anterior; udo quanto viole esse equilbrio, quer seja uma explosio, quer seja uma emanacio de gis tdxico, um golpe de fro ou calor, ou mesmo uma situacio partcularmente angustiante ou de trabalho excessvo que faa, por exemplo desencadear um ataque cardiaco ou uma perturbagio mental”, \) “Também Etsa Marina Ross Dias OuiverRa, ob, cit, pg, 7, observa que “a critéio da violéncia mio nos parece determinante: nem todos os acidentes tém como causa acontecimentos violentos”. © & comegar,aliés, por um dos autores historicamente mais influentes na -matéria, ADRIEN SACHET... ; 9 Terd sido esse 0 ponto de vista de DURAND, cit. apud JEaN-JAcQues Durevnourx, ab, cit, pig. 25, segundo o qual a qualifcagio de acidentes deveria set atribuida apenas a eventos imprevisiveis que nfo sio consequéncia normal da aividade do trabalhador. Esta exigéncia parece ter sido feta, designadamente, para evtar que se pudesse considerar que 2 exccusio normal do trabalho podia se a causa do acidente, E frequente, aids, afirmar-se que o tabalho nio € a causa do acidente, mas sim o peigo Coimtea Editor O Acidente de Tabtyy 28 puaritinani ee, tum autor belga, LUCIEN FRANGOIS, a ser assim, scéncia de acidentes numa certa profi. mais ‘normal”, mais provivel seria que identes de trabalho ™ criticamente observou quanto mais frequente fosse a ex sio ou atividade, e nesse sentido, Ihes fosse recusada a natureza de aci se fo rabalhador. Sirvam de exemplo as palavras de Fasig en mle prfsional eosin coeaag Spuntiricerttv’ de! dana da lavoro, in Il Sistema di Tutela degli Inforcunie delle alti Pofesonal, Sogget,funcion, procedure, dit. por Francesco Facllo, Gia, Milano, 2005, pigs. 163 e segs pig 165: “o trabalho, 56 ors, nfo pode ser obviamenie consideado fete de dano: 0 que rera € rso de acdente ou doenga deorrente da tetvdade a que 0 sblhador se expe par caus do trabalho que desenvoye” 7) Prima desta doutrina é aqueloutra que muito embora nao exija que o acontcimento sea anormal ow anémal,entende que o acidente deve distingut-e do decurso normal do trabalho. Assim gestos bana, do dia-adia, como subir um degray, pegar num objecto leve num arméro, sentar-s¢ ou levanar-se de uma cadeira andar, info poderiam constituir acidences de trabalho. Esta é uma posigdo assumida por alguma doutrina — eft, por exemplo, Luc VaN GossuM, ob cts pg. 61 — e juts prudéncia belgas e parece associada a uma visio estita do rsco garantido pelo sistema de reparagio dos acidentes de trabalho, quase como um vestigio ou um féssil da dou. a que o trabalho exp Powtranpourt, Ano trina do risco profisional © LucteN FRaNgons, ob. city pgs. 244-245, Nas palavras do autor, a leséo muscular causada por um esforgo de um pedreiro ao erpuer uma pedra através de uma alavanca nio &a realizagio de um risco profssional? E seré um evento anormal”. E acrescena,referindo-se a um caso belga que nfo hé também nada de anormal na circunstincia de um operério encarregado da limpeza da chaminé de uma fabrica respirar pocrase vaporesinsalubres esendo exposto 2 uma intensa corrente de ar, tex morrido no dia seguinte por broncopneumonia aguda, © Nao falta, hoje, aucores, que falam desassombradamente em “acidentes normas’. Sirva de exemplo a obra de CHARLES Pexnow, Normal Accidens, Living with High-Risk Technolgies, Princeton University Press, Princeton, reimpressio de 1999 (ed, 1984). Este autor considera que hi certascaractristicas inerentes a tecnologas dealt isco (centraisnucleares, mas também indiistria quimica,controlo de tifegoaéteo c engenharia genésica para mencionar apenas alguns dos exemplos propostos pelo autor) em que, jam quas forem as medidas de prevengio e seguranca adotadas, alguns aci- dente so ineviéves¢ neste sentido natura Tatas, segundo 0 autor, de uma earac- ‘eritca tpi de teenologas em que existe uma complexidade inceractva, bem como © «que designa por “tight coupling”, ou seja, processos de producéo muito répidas ¢ em «que fll de uma componente ndo pode sr isolada das restates. Assim, a pertubagio 4e urn dos componente alastrard inevitavelmente as rstanes, de modo fulgurante € Coins Eaton 12 Ovcncit de cident de rabalo us cara ifreciae ze AO Ht eaters difereciadera » Modernamente uma caracteris consenso & a subitancidade que damental que permite distinguir 9 acident No entanto, também aqui se nota uma ey carleter sibito do acidente nao signifcs insrantaneo "9, mas apenas concen alis, ser hoje o critétio fun- da doenca profissional olugio. Em primeito lugar, 0 pe Eee iremedidel, pelo menos durante algum tempo (ck. pégs. 5 ¢ a pla, por cosets a expresso sede mal a cases ee aE ee aque tals acidenes sio uma caracteritica integral do sistema embore nee samen Fequenes. Ness seas com uma grande compleidade mien com que a componentesextio mutuamente dependentes (tight coupling), tos staagbes em que €impossivelprever todas as poss imeracges de potenss fas, pelo inceansmos de seguranga ou redundantes se reveam fequenement ics se de protic Spero humano cof radas ¢ misteriosas entre miilipas falhas, sendo que de uma perspectiva ex po pode fil mar que devra te eto io, em ver daqule, oa enn eee: dif, ou mesmo impossvel, determinar em tempo itil qual a conduts covets, 9 TrTO ARANTES, Doenga — Acidente, Revista dos Tribunais, ano 85°, 1967, pigs 5 € Seg pig. 6, afizmou que "gmatclectimologcamente ete palavta acidence ji encera em sia nogio de subitanidade”, Como destaca ANA RIBEIRO Costa, O Acto Suicida do Trabelhador — A Tiaela a0 Abrign dos Regimes das Contingtncias Profisionas, Questées Laborais 2012, 1.240, pégs. 203 segs. pig, 206: “a cateterstiea fundamental para a detrminagio da exstincia de acidente de trabalho, bem como & distingSo entre este © a docnga profs- sional, é a subitaneidade” 70 LUCIEN FRANCOIS, ob, et, pig, 240, embora defends que “a subitancidade Go elemento essencial & nogio de acidente”, acrescenta que “no hi acontecimento algum que ocorra de modo absolutamenteinstantineo, pelo que a causa das esdes leva sempre algum tempo a produzir-s: entre um evento sibito ¢ um evento continuo caste uma diferenca de grau, mas no de naturera”. E dai, para o autor, “o cardcter necessariamente arbitriio de toda a definigdo de subitancidade". Lucien FRANCOIS considera ser nesta sede indispensével 0 apelo 3 intuigio e x0 bom senso e afrma, a titulo de exemplo, que as explosbes, picadas, choques, golpes, quedas, sio aconteci- mentos sibitos, mas jd ndo & tao ébvio que o sejam emanagies de gis, de pocira ou feicgbes. von LasreA Nott, oh cpl 319; afema que ¢ tino qu soomcempi- cdamente, em pouco tempo, e ocorre abrupramente, bruscamente. Por seu turno, [MARYSE BADEL, ob, cit, pig. 206, destaca que o cardcter sito ¢ o cttério essencial, pelo que nt incapa- ntado com interacgesinespe- Coimbra Ediora®

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