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Normas de conflitos unilaterais

• 1. Perante uma norma unilateral, deve verificar-se se há lacuna. Deve colocar-se,


para tanto, a questão: o legislador queria aqui tutelar certos interesses, mas fê-lo
mais limitadamente do que queria? Ou: a ordem jurídica, tutelando aqui certos
interesses locais ou de cidadãos portugueses, exigia (por via dos mesmos
princípios e valorações) que tais interesses fossem tutelados in abstractu?
• 1.1. Necessário olhar a estrutura valorativa do DIP.
• 1.2. Há lacuna? Se sim, qual a sua extensão? Ou seja, quais as situações
que, devendo ser tuteladas, não foram?
• 2. Havendo lacuna: bilateralização como modo de a suprir depende de a ratio da
norma unilateral poder ser elevada a um princípio geral, aplicável à mesma
categoria de casos independentemente da ligação ao Estado Português.
• 2.1. Nas normas unilaterais ad hoc há que, primeiro, generalizar a ratio
subjacente, alargando o âmbito da previsão, e apenas depois proceder à
bilateralização se e só se no outro Estado houver normas equivalentes
àquelas que no nosso OJ existem e para as quais a norma unilateral ad hoc
remete. Pergunta-se ainda se é necessária vontade de aplicação.

Quanto ao art. 28.º CC:

N.º 1 – Pessoa incapaz segundo a sua lei pessoal (31.º - nacionalidade) que celebre NJ em Portugal é considerada
capaz se for essa a solução material do Direito português (art. 122.º CC), salvo se:
N.º 2 – o outro contraente estiver de má fé subjetiva ética (soubesse ou devesse saber).

Norma de conflitos unilateral especial (face ao art. 25.º - lei da capacidade é a lei pessoal).

N.º 3 – “Se o NJ for celebrado pelo incapaz em país estrangeiro, será observada
a lei desse país que consagrar regras idênticas às fixadas nos nos. anteriores”.

Podem defender-se duas teses:


Haver aqui uma bilateralização (de base Haver aqui uma bilateralização (de base
legal) perfeita; ou legal) imperfeita.
Tese da bilateralização perfeita:

Estando o declaratário de
boa fé: aplica-se o art. 28.º/1
(lei da lugar da celebração
do NJ)  NJ válido.
Se o NJ tiver sido
celebrado em Portugal:
Estando o declaratário de má
fé ética: aplicação do art.
25.º ex vi 28.º/2 (vale a lei
pessoal)  NJ inválido;

Estando o declaratário de
boa fé e esse país tiver
normas iguais às do 28.º/1 e
2: aplica-se o 28.º/1  NJ
Se o NJ tiver sido válido
celebrado no
estrangeiro: Estando o declaratário de má
fé E/OU esse país não tiver
normas iguais ao 28.º/1 e 2:
aplica-se o 25.º  NJ
inválido

Tese da bilateralização imperfeita:


 28.º/3 visto como apenas dizendo respeito a portugueses no estrangeiro – a
limitação da parte final dizendo, no fundo, que a nossa lei apenas admite que a lei
portuguesa, enquanto lei pessoal de alguém, seja afastada e o nacional português
incapaz à luz do 122.º CC seja considerado capaz para efeitos de validade do NJ,
quando o outro país admita o mesmo quanto aos seus nacionais, de modo a não
deixar os nacionais portugueses mais desprotegidos do que os nacionais de outros
países são protegidos. O legislador, com o princípio da equiparação de
estrangeiros a portugueses, admite que os estrangeiros tenham os mesmos direitos
em Portugal que os portugueses, mas nunca mais do que eles.
• LLP diz que o n.º 3 bilateraliza “de certo modo” o n.º 1. Parece, portanto, hesitar
quanto à perfeição/plenitude dessa bilateralização.
• Isabel de Magalhães Collaço vê no n.º 1 uma tentativa de alargamento do âmbito
de aplicação da lei portuguesa e parece entender que o n.º 3 não o bilateraliza
legalmente, já que nega nomeadamente a possibilidade de bilateralização sequer
por via da supressão de lacunas; defende, antes, aqui, uma generalização da ratio
subjacente.
Se o NJ tiver sido celebrado por estrangeiro em Portugal:

Estando de boa fé: aplica-se o art. 28.º/1 (lei da lugar da celebração do NJ) 
NJ válido.
Estando o outro contraente de má fé ética: aplicação do art. 25.º ex vi 28.º/2
(vale a lei pessoal)  NJ inválido;

Se o NJ tiver sido celebrado por português no estrangeiro: [bilateralização


imperfeita operada pelo 28.º/3]

Estando o outro contraente de boa fé e esse país tiver normas iguais às do


28.º/1 e 2: aplica-se o 28.º/1  NJ válido
Estando o outro contraente de má fé E/OU esse país não tiver normas iguais
ao 28.º/1 e 2: aplica-se o 25.º  NJ inválido

Se o NJ tiver sido celebrado por estrangeiro no estrangeiro: [bilateralização


perfeita operada pelo intérprete - supressão de lacuna]

Se o outro contraente estiver de boa fé independentemente de o país ter


normas iguais à do nosso 28.º/1 e 2: aplica-se o 28.º/1 (lei do lugar da
celebração do negócio)  NJ válido.
Se o outro contraente estiver de má fé: aplica-se o art. 25.º  NJ inválido

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