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Curso/Disciplina: Direito Civil - Parte Geral

Aula: Direito Transitório - Parte 1.


Professor (a): Rafael da Mota
Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Aula 05

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

5. Direito Transitório

É o Direito intertemporal.

Lei nova pode atingir ato jurídico praticado, situação jurídica constituída ou direito adquirido no
império de lei antiga? Ela pode atingir fato pretérito, retroagir?

Retroatividade:

LINDB, art. 6º - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.
§1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de
outrem.
§3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

CF, art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Pela leitura dos dispositivos, a retroatividade da norma é admitida. Lei nova pode retroagir,
desde que não viole ato jurídico perfeito, coisa julgada e direito adquirido.

Há 2 tipos de retroatividade: a justa e a injusta. Isso decorre da doutrina de Gabba, teórico do


Direito intertemporal, que inspirou os arts. acima.
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Justa: admitida. Não viola ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido.
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Injusta: proibida. Viola ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido.

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Ex. de retroatividade justa:
STF, RE 184099/DF - 1ª Turma - Min. Octavio Gallotti - Julgamento em 10.12.1996.
EMENTA: - O princípio insculpido no inciso XXXVI do art. 5º da Constituição (garantia do direito
adquirido) não impede a edição, pelo Estado, de norma retroativa (lei ou decreto) em benefício do particular.

Leis que outorgam benefícios retroativos a determinadas carreiras públicas: há muitas


hipóteses de retroatividade justa. Podem ser discutidas do ponto de vista ético, mas do ponto de vista legal
são admitidas.
Ex: auxílio-moradia da Magistratura, do MP e da Defensoria Pública. No RJ, o PL que falou do
auxílio pela 1ª vez sugeriu retroatividade de 10 anos. Não passou. O auxílio foi admitido, mas sem
retroatividade.
Houve um MP que concedeu a seus membros auxílio-alimentação com retroatividade de 5
anos. Os membros receberam à vista e a retroatividade foi justa. Pode não ser ético. É discutível se é moral
ou não, mas é legal. A lei nova está estabelecendo benefício retroativo sem violar ato jurídico perfeito, coisa
julgada ou direito adquirido.

O grande opositor de Gabba na discussão sobre Direito intertemporal foi Roubier, que achava
muito radical a proibição de retroatividade injusta, pois existem graus dela:
- Retroatividade injusta em grau máximo;
- Retroatividade injusta em grau médio;
- Retroatividade injusta em grau mínimo.

Para Roubier, a de grau mínimo deveria ser admitida.

CC, art. 2035 - A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor
deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a
vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada
forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como
os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.

Esse art. admitiu a retroatividade injusta em grau mínimo.

A CF e a LINDB proibiram a retroatividade injusta. O CC admite a retroatividade injusta em


grau mínimo. Esta viola a CF?

Obs: o conflito de leis no tempo envolve tão somente o plano da eficácia dos atos jurídicos.
Não há qualquer tipo de discussão acerca do plano da validade dos atos jurídicos. CC, art. 2035. Às vezes o
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negócio jurídico é celebrado durante o vigor de uma lei e à frente, quando da produção de efeitos, discute-
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se algo no plano da eficácia e outra lei está regulando. Aí há choque, conflito, entre leis. Discute-se se a lei
nova será aplicada à determinada situação constituída ao tempo do vigor de lei antiga.

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O plano da validade está muito bem definido. Aplica-se sempre a norma em vigor à época da
celebração, prática ou constituição do ato. Os graus de retroatividade dizem respeito apenas ao plano da
eficácia dos atos jurídicos.
Ex: imagine-se que um negócio jurídico, um mútuo feneratício, foi celebrado no ano de 2001.
Mútuo feneratício tem fins econômicos. É celebrado com instituição financeira. Quando da celebração
estava em vigor o CC/1916. As partes convencionaram que os juros moratórios na hipótese de
inadimplemento do devedor seriam os da lei, que tinha como taxa 6% ao ano (0,5% ao mês).
No dia 11 de janeiro de 2003 entrou em vigor o CC/2002.

CC, art. 406 - Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada,
ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Alguns dizem que essa taxa é a SELIC e outros que é a do CTN, que é de 1% ao mês ou 12% ao
ano.
Imagine-se que seja de 12% ao ano, que é a orientação da doutrina. O STJ aplica a SELIC.

Obs: tudo que é referente a inadimplemento está no plano da eficácia.

Imagine-se que o devedor ficou inadimplente por 1 mês, em agosto de 2002, não pagando as
parcelas do mútuo feneratício. No mesmo mês o banco cobrou a parcela em atraso, com juros de 0,5%.
Em 11 de janeiro de 2003 entrou em vigor o CC/2002, lei nova. O mútuo feneratício celebrado é
ato jurídico perfeito. O banco vai até o devedor e diz que a lei nova preceitua que os juros são de 1% ao
mês, cobrando a diferença de 0,5%. Se a lei nova incidir dessa forma está-se admitindo a retroatividade em
grau máximo.

Retroatividade injusta em grau máximo: lei nova atinge situação jurídica em que os efeitos já
tiveram início e fim durante o vigor de lei velha, anterior. No ex., o início dos efeitos ocorreu com a
inadimplência. Eles cessaram quando o banco cobrou e o devedor pagou, tudo durante o vigor do CC/1916.
A retroatividade em grau máximo geraria uma insegurança jurídica enorme.
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