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Aulas Práticas de Introdução ao Direito

20 de setembro

1. Direito Civil (privado)


2. Direito publico
Todas as semanas será disponibilizado o sumário desenvolvido do que foi dado em cada
semana  ler bem e apontar as dúvidas
“confusão” – em sentido jurídico é a reunião na mesma pessoa da qualidade de devedor e
de credor
Trazer o Código civil para todas as aulas.
Avaliação  exame final + oral
Matéria – normas jurídicas, características, modalidades, autotutela, métodos de
interpretação de lei, aplicação da lei no tempo (art. 12.º)
27 de setembro

Conhecimento do método de organização do legislador


Código de Varela ou código civil – feito por uma comissão presidida pelo Professor Antunes
Varela em 1966. O antigo código civil vigorou durante 100 anos – o código de Seabra. A
comissão legislativa que o fez era presidida pelo Visconde de Seabra.
Nota: “o legislador” é aquele que em Portugal desempenha a função legislativa – a AR e o
Governo. Ser publicado não significa que entra em vigor! www.dre.pt
vigência da lei/entrada em vigor – a partir daí a lei tem de ser aplicada e cumprida, e não for
são aplicadas sanções jurídicas
durante estes 7 meses já havia um código civil, mas continuou-se a aplicar o antigo –
vacatio legis  tempo que medeia a publicação de uma lei e a sua entrada em vigor
Pode acontecer que a vacatio legis de algumas leis seja 1 dia, 1 mês, 5 dias, 3 meses, etc.
O que varia?
A vacatio legis é o período de tempo que medeia entre a publicação de um diploma no jornal oficial e a sua
entrada em vigor no ordenamento jurídico. O legislador é, em princípio, livre quanto à fixação do período de tempo
de vacatio legis, existindo, contudo, a limitação legal de os atos legislativos e os outros atos de conteúdo genérico
não poderem, em caso algum, iniciar a sua vigência no próprio dia da publicação (cfr. artigo 2.º, n.º 1, da Lei
n.º 74/98, de 11 de novembro, na sua versão atual). Atos com maior complexidade, como por exemplo, um novo
código, podem ter uma vacatio de meses ou até de um ano ou tempo superior; já em situações em que o
legislador considere urgente a entrada em vigor do diploma, o ato pode iniciar a vigência logo no dia posterior ao
da sua publicação. Quando o legislador nada refere quanto ao momento da entrada em vigor de um diploma,
existe um prazo supletivo para a vacatio legis, que está previsto no n.º 2 do artigo 2.º da Lei n.º 74/98 cuja versão
atual determina que, “na falta de fixação do dia, os diplomas referidos no número anterior entram em vigor, em
todo o território nacional e no estrangeiro, no quinto dia após a publicação.” O prazo conta-se a partir do dia
imediato ao da sua disponibilização no sítio da Internet gerido pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A. (cfr.
n.º 4 do artigo 2.º da Lei n.º 74/98) e é um prazo de calendário, ou seja, contam-se dias corridos e não dias úteis,
pelo que um diploma pode entrar em vigor a um sábado, domingo ou feriado. Por exemplo, se uma lei da
Assembleia da República for publicada no dia 26 de abril de 2018 entrará em vigor no dia 1 de maio de 2018, dia
feriado.
Artigo 2.º nº2 da lei dos formulários – se a lei que foi publicada não disser o dia em que
entra em vigor, será no 5º dia (não é útil) após a sua publicação.
O que dita que um período vacatio legis seja maior ou menor? A urgência, a complexidade
da lei, etc. Tem de haver tempo para que a pessoa conheça a lei!  ignorância legis non
excusat. Não conhecer uma lei não isenta ninguém das sanções previstas nela – artigo 6.º.
Vacatio Legis – artigo 5.º nº2 CC
Coação moral = chantagem – o negócio é anulável
Menção: 133.º emancipação

Código Civil:
1. Livro 1 – Parte Geral (1º a 396.º - introdução estuda do 1º ao 13.º)
2. Livro 2 – Direito das Obrigações (397.º a 1250.º)
o Modalidades:
 Responsabilidade civil:
 Extracontratual – 483.º princípio geral da responsabilidade civil
 Contratual
 Contratos
 Gestão de negócios
 Enriquecimento sem causa (ESC)
3. Livro 3 – Direito das Coisas (Direitos Reais – Res rei) – 1251.º
o Direito de Propriedade
o Posse
4. Livro 4 – Direito da Família – 1576.º a 2023.º
o Casamento
o Divorcio
o Regimes de bens
5. Livro 5 – Direito das Sucessões – 2024.º a 2334.º
o Abertura da sucessão

Questões: Vão ser colocadas no moodle!


Um menor de 17 anos recebe uma trotinete da avó em pequenito e quer vender a trotinete
 a regra é o 123.º e a exceção é o 127.º nº1 b)
O que é de pequena importância? O legislador usa como técnica legislativa algumas
expressões cujo significado não é exato, é relativo, é subjetivo, vai depender do caso em
concreto.
O António parou o para-brisas à Anabela por ela ter um autocolante do FCPorto e ele ser do
Benfica – artigo 483.º
O António quando fez 18 anos enviou uma mensagem no WhatsApp à Patrícia e disse que
ia comprar um computador para ela por 3 mil euros, à qual ela não respondeu. – não há lei
que diga que quando alguém não diz algo quer dizer que quer, e também não resultou de
convenção entre eles, muito menos decorre dos usos. É claro que não vai ter de pagar.
Ex. de quando o silêncio tem valor declarativo – artigo 616.º nº2
A Margarida emigrou para a Suíça em 2000. Neste ano Ana e Frederico partiram as
fechaduras da casa e mudaram-nas, mudaram as lamparinas, fizeram festas de aniversario,
casamento, comunhões, pagam o IMI, etc, comportando-se como se fosse casa deles. Hoje
margarida chega, em 2022, e quer morar na casa. De quem é a casa? De Ana e Frederico.
O Gabriel fugiu de casa, o que é que os pais podem fazer? Tem 12 anos e foi para casa da
namorada, da Margarida. 1887.º nº1 e nº2.
Inês morreu e deixou em testamento 20 mil euros para pagar missas e homenagem dela.
Os filhos dizem que não querem pagar e vão arguir a nulidade do testamento. 2224.º
disposições a favor da alma.
4 de outubro
A regra jurídica é imperativa – todos têm de seguir a regra jurídica.
Estrutura do exame: 3 partes, 1 teórica e 2 práticas. Para o primeiro grupo, são perguntas
teóricas do Doutor Horster.
1ª pergunta - Explicar o que é o direito natural e se o direito natural pode ser alterado pela
vontade do Homem, pelas leis positivadas (leis escritas)
Se o homem pode criar uma regra jurídica que altere o direito natural. O direito natural é um
conjunto de regras pré-elaboradas, supra-positivas, ou seja, impõem-se, vigoram, acima do
direito escrito. O direito natural resulta da natureza das coisas imanentes e é igual em
qualquer parte do mundo. Não pode ser alterado porque não emana da vontade do Homem.
Ex. a lei da gravidade é uma lei que pode ser alterada pelo Homem? Não. O direito natural
existe muito antes de nós cá estarmos, e o Homem não pode nem se deve sobrepor.
Ordem natural (é igual em todo o lado) vs. Ordem social (regras ditadas pela convivência
entre o Homem e pode alterar-se dependendo do meio sociocultural onde nasce)
A ordem social pode subdividir-se em 4 espécies:
1. Ordem religiosa
2. Trato social – regras de convivência social, não estão impostas em lado nenhum
3. Ordem jurídica ou normativa, a que vamos estudar
4. Ordem Moral
Pergunta teórica ou de oral  o que é a ordem moral e o seu conflito com a ordem jurídica
Um juiz pode deixar de aplicar uma norma por a achar imoral? Não – artigo 8.º nº2
Se a grande maioria da população contestar uma norma jurídica é um grande convite ao
incumprimento  Ajuste da ordem jurídica
A ordem moral é indiferente para o direito? O direito deve, por inerência, ser moral,
porque se não for aceite pela maioria há grandes chances de não ser acatado. Ao ajustar a
norma, o legislador pode remeter para a ordem moral. O legislador não pode nunca ceder à
tentação de juridificar princípios morais – de numa norma jurídica dizer o que é moralmente
certo ou moralmente errado.
280.º nº2  o que são os bons costumes? A lei diz quais são os bons costumes? Mas
remete para lá. Esta técnica legislativa permite que esta norma vigore desde 1967.º. a moral
nesta altura não era a mesma, mas o legislador diz para interpretarmos o que é certo ou
errado consoante o tempo em que nos encontramos.
A maior parte das normas escritas jurídicas são condizentes com a ordem moral instalada
neste momento, mas nem sempre foi assim. Por exemplo: 1567.º, que antes dizia que o
casamento só era permitido entre pessoas de sexo diferente.
Temos normas moralmente reprováveis!! O direito pode ser imoral  exemplo: A Doutora
vende um carro, um móvel, verbalmente à Rita – liberdade de forma do artigo 219.º. A Rita
leva o carro a dar um passeio até ao Algarve e não paga nenhuma das portagens. As
coimas chegam e é a doutora que tem de as pagar, mas moralmente deveria ter sido a Rita.
Não se pode dizer que não se vai pagar, então, por razoes de segurança jurídica e paz
social, a Doutora vai pagar.
Se um irmão nosso necessitar de alimentos, somos obrigados a pagar alimentos? Sim,
juridicamente. Artigo 2009.º
Pergunta: pode invocar-se leis divinas ou de consciência moral para não seguir uma regra
jurídica? Não.

Visualização de um vídeo sobre Antígona – primeiro exemplo de resistência conhecido na


história. Contestou leis escritas utilizando leis morais e divinas, mas sabia a consequência
que dali advinha – em toda a vivência da sociedade vamos confrontar-nos muitas vezes
com normas com as quais não concordamos, mas se não as cumprirmos vamos ter de
arcar com as consequências dessa nossa escolha  imperatividade e coercibilidade.

Características da Ordem Jurídica

 Necessidade
 Alteridade
 Exterioridade
 Estatalidade
 Imperatividade
 Obrigatoriedade
 Coercibilidade – caraterística que se impõe depois de eu violar a norma
Distinguir coercibilidade de coação
Tanto a coação como a coercibilidade vamos traduzir para forças = força da norma jurídica.
A coação é a força que deve funcionar no sentido de evitar que a norma seja violada, mas,
todavia, esta força às vezes não é suficiente, e a norma é violada. Assim, funciona outra
força, a coercibilidade – a aplicação da sanção por via da força quando a norma é violada.
Exemplo de caráter penal: quando alguém comete um crime e o tribunal aplica a prisão
preventiva, isto é um reflexo da violação da norma. Esta medida de coação é um
mecanismo legal para forçar a pessoa a receber as sanções prescritas pelo direito.
Exemplo de caráter civil: A Bianca deve-me 5 mil euros e não paga. Tenho uma ação de
condenação que a condena a pagar, e ela não paga. Tenho um mecanismo que é a
penhora e na ação executiva tiro-lhe os bens para satisfazer o meu crédito.
Nota: não confundir esta coação com a coação física e com a coação moral e com as
medidas de coação. São palavras homónimas, escrevem-se de maneira igual, mas têm
significados diferentes.
Exemplo da coação  a coação é a força que, com a existência de sanções, me desmotiva
a cometer atos ilícitos – exemplo da Doutora: eu quero matar alguém e vou ver a moldura
penal – se fosse 1 semana, por exemplo, haveria muito pouca força para me fazer não
cometer esse crime, mas sendo 8 a 16 anos, essa força já é forte para me fazer perder a
vontade de matar alguém.

Norma Jurídica
É uma regra para assegurar a segurança jurídica e a paz social.
Todas as normas jurídicas têm consequências jurídicas/ sanções? Não.
Artigo 202.º - qual a consequência jurídica? Nenhuma.
Artigo 1305.º igual

Normas jurídicas:

 Imperativas perceptivas  “tu deves”, há um dever jurídico


 Imperativas proibitivas ou sancionatórias  “tu não podes” – proibições de
condutas
 Permissivas (atributivas, concessivas, facultativas)  “tu podes” – 1305.º

Qual é, então, a diferença entre estar moralmente obrigado e estar juridicamente obrigado?
A existência de sanção jurídica. Há uma norma jurídica que lhe impõe ou lhe proíbe um
certo comportamento. Se não o fizer há coercibilidade, aplicar-se-ão as sanções. Se estiver
moralmente obrigado, não há nenhuma norma escrita, não há consequência jurídica, mas
há sanções de ordem moral – remorsos, arrependimento.

11 de outubro
A Doutora não vai dar a aula pois há a Advocatus Summit.

18 de outubro
Notas iniciais
Ipso iure – por força da lei
De onde provém o direito natural? Há quem entenda que provém de uma entidade divina,
das leis divinas, e há quem acredite que resulta da natureza das coisas. Ainda não há uma
definição certa de onde vem o direito natural. No entanto, é algo inerente a todos.
O direito positivo ou ius positivo é o conjunto de normas positivadas, escritas, e sendo fruto
da vontade do homem e pode por ele ser alterado diverge de sociedade para sociedade.
Temos, em primeiro lugar, o direito objetivo – conjunto de normas jurídicas escritas,
positivas, que tem como finalidades 1. manter a paz social, 2. segundo critérios de justiça,
3. segurança jurídica e visa regular a convivência do homem em sociedade pautando
comportamentos, ditando quem tem direitos e quem tem deveres. Ele dita direitos, que
direitos é que ele dita? Direitos subjetivos.
Eu, sujeito, arrogo-me titular de um direito de pedir uma indemnização. A pessoa a quem eu
peço diz que não tenho direito nenhum. Que se passa aqui?
Jamais posso invocar ter um direito subjetivo se não tiver uma norma de direito objetivo a
conceder-me esse direito subjetivo. Quando digo que tenho direito a uma indemnização,
tenho de indicar a norma do direito objetivo que me dá esse direito, neste caso o 483.º.
O tipo de direito subjetivo pode ter várias modalidades:
Direito subjetivo em sentido amplo:
1. Direitos subjetivos
o Em sentido estrito/ Propriamente dito – temos o titular ativo e o titular passivo
e o titular ativo tem sempre um Direito e o titular passivo tem o dever jurídico
respetivo (obrigação)
 Direitos subjetivos relativos/ de crédito – a eficácia deste direito é
interpartes – os direitos relativos de crédito nascem de contratos que
as partes podem celebrar entre elas. (artigo 405.º liberdade
contratual, são livres de contratar, dentro dos limites da lei). 406.º nº2
– princípio da relatividade dos contratos. O objeto dos direitos
subjetivos relativos é uma prestação, um comportamento
ativo/positivo/de fazer. Por isto, dizemos que estes direitos são
direitos de colaboração.

 Direitos subjetivos absolutos – não é ilimitado! Não há direitos


subjetivos ilimitados, têm de ser exercidos segundo a boa-fé e a lei e
há limites (ex. 1305.º). Estes direitos têm eficácia erga omnes (impor-
se a todos). Quando tenho um direito absoluto, esse direito impõe-se
a todos. Dizemos que estes são direitos de exclusão – o objeto nos
direitos de domínio incide diretamente sobre uma coisa. não preciso
que ninguém faça nada, o que eu pretendo é que ninguém faça nada
que interfira com o meu direito. O que pretendo do devedor é um
comportamento negativo, de não fazer. Preciso de uma abstenção. O
devedor tem uma obrigação passiva (pretendo que o devedor não
faça nada) e universal (o meu devedor são todos, o universo).
 Direitos de Domínio – o objeto é uma coisa. não espero
prestação de ninguém, mas no meu direito de domínio o
direito incide sobre a coisa, e exerço o meu direito sozinha.
 Direitos de personalidade – direitos intrinsecamente ligados à
condição de pessoa. Nasci de forma completa e com vida,
então tenho direito à vida. Não preciso de ninguém para ter
direito à vida, só preciso que ninguém faça algo que interfira
com esse meu direito, por exemplo, não me matar. Aqui não
incide sobre um coisa, incide sobre um conteúdo. Há direitos
de personalidade que são inatos e outros que se adquirem
posteriormente. Direito à vida é inato, bem como a integridade
física, tal como o direito à identificação pessoal. No entanto, o
direito ao nome é posterior, é registado depois, tendo
adquirido posteriormente. O direito à honra e ao meu bom
nome (71.º cc) prolonga-se para além da morte. A partir do
artigo 70.º do cc temos a tutela da personalidade – a proteção
dos direitos de personalidade. Todos os direitos absolutos são
direitos de domínio? Não, pois há mais direitos absolutos,
como os de personalidade. Todos os direitos de personalidade
são direitos absolutos? Sim.

2. Direitos potestativos – temos sempre um titular ativo e temos um titular


passivo. O titular ativo tem um direito e do lado passivo temos o quê? Está num
estado de sujeição. Acima temos o direito de exigir que alguém faça alguma
coisa ou não faça alguma coisa. aqui, temos um direito potestativo, e potestativo
significa potestas = poder. Posso impor o meu direito a outra pessoa que vai
sofrer os efeitos jurídicos desse direito e ela não pode reagir, está num estado
de sujeição. Os direitos potestativos são invioláveis = verdade absoluta. Não se
consegue violar um direito potestativo pois imponho o meu direito à pessoa e ela
tem de suportar. Os direitos potestativos têm de ser conseguidos pela lei, e às
vezes uma norma jurídica dá direitos subjetivos propriamente ditos e às vezes dá
direitos potestativos. A pessoa que o tem sabe que, exercendo-o, vai produzir
efeitos na esfera jurídica de outra pessoa, que tem de se sujeitar. Nenhum direito
potestativo é concedido, ou existe, sem que previamente exista uma relação
jurídica constituída entre as pessoas.

o Constitutivos – vou constituir uma nova relação jurídica, criar um novo


direito – servidão de passagem. Se o B puser uma grade com aloquete na
servidão de passagem já criada, ele violou o direito potestativo de A? Não. o
que o B violou foi o direito subjetivo criado com o exercer do direito
potestativo, o direito de passar e o dever de B de deixar passar. Os direitos
absolutos são invioláveis.
o Modificativos – vou modificar a relação jurídica que já existe. Exemplo:
separação de pessoas e bens.
o Extintivos – vou extinguir essa relaçao jurídica com a pessoa mesmo que
ela não queira. Exemplo: divórcio.

Os direitos potestativos, por via de regra, exercem-se judicialmente, mas há exceções,


como o divórcio, que pode tomar lugar na conservatória.
O direito potestativo esgota-se quando é exercido – ele é exercido e depois extingue-se. Ex.
exerço o direito potestativo extintivo, divorcio-me, e o direito potestativo extingue-se com
esse exercício.

Uma das finalidades do direito objetivo é que as pessoas vivam com segurança e certeza
jurídica – ninguém pode estar obrigado ad aeternum. “o devedor não pode estar sempre
com a cabeça na guilhotina”, não há direitos eternos. Da mesma maneira que o legislador
(direito objetivo) concede às pessoas direitos subjetivos, dá-lhes prazos dentro dos quais as
pessoas podem exercer esses direitos. Ao não exercer esse direito no prazo, subentende-
se que não o queria fazer- assim, deixa a pessoa de ter o direito ou deixa de ser a proteção
do legislador.
Existem factos ajuridicos – os que não produzem efeitos jurídicos. Ex. “hoje está vento”
Factos jurídicos – acontecimentos da vida real que têm consequências jurídicas. Ex. eu
destruí o telemóvel da Doutora, isto produz efeitos jurídicos.
Factos jurídicos

 Voluntários – foi da minha vontade destruir o telemóvel, vai ter consequências


jurídicas.
 Involuntários – ex. a morte, o tempo. O decurso do tempo ninguém controla.

Efeitos jurídicos

 Constitutivos
 Modificativos
 Extintivos – o tempo produz efeitos jurídicos instintivos – quais? A prescrição e a
caducidade de direitos subjetivos.

Que tipo de direitos caducam?


Só os direitos potestativos caducam. Se não são exercidos dentro do prazo que a lei dá,
esse direito potestativo caducou.

Que tipo de direitos prescrevem?


Os direitos relativos.

Os direitos subjetivos absolutos não caducam, não prescrevem e não se extinguem pelo
não uso. Porém, existem alguns direitos absolutos, nomeadamente de domínio, que
excecionalmente podem extinguir-se pelo não uso. Ex. direito de uso de águas (poço).
A semelhança entre a prescrição e a caducidade é que ambas acontecem devido ao
decurso do tempo.
O direito caducado é um direito extinto – o direito desaparece da esfera jurídica da
pessoa. A pessoa nunca mais vai ter esse direito.
A única consequência da prescrição para um direito subjetivo relativo é
simplesmente a perda da proteção judicial – eu sou titular de um direito subjetivo
relativo, dentro do prazo que a lei me dá tenho proteção. Ex. a doutora deve-se 50 mil
euros, posso exigir à doutora que me pague. Ela não paga, e eu vou ao tribunal – proteção
judicial. Dentro do prazo que a lei me dá, a lei dá-me proteção. Se eu vou exercer o meu
direito subjetivo relativo fora do prazo que a lei me deu para eu exigir, o que acontece? O
meu direito não se perde, continuo a tê-lo, mas o Direito abandona-me. Ou seja, posso
pedir à Doutora que me pague, mas o direito objetivo não me dá proteção judicial, não
posso ir ao tribunal exigir o pagamento, a doutora só paga se quiser, ela já não é
juridicamente obrigada a cumprir. O direito torna-se enfraquecido, perde a tutela judicial.
Artigo 309.º - 20 anos (regra geral).
Artigo 402.º - obrigação natural – quando não é judicialmente exigível e corresponde a um
dever de justiça moral e ético, mas o devedor se quiser não paga.
O prazo para exercer direitos subjetivos relativos não é sempre de 20 anos. Ex do artigo
310.º, 316.º, etc.
Exemplo: se formos ao 310.º, o direito de cobrar rendas num contrato de arrendamento
prescreve ao fim de 5 anos. A, senhorio, celebrou com B, arrendatário e inquilino, um
contrato de arrendamento habitacional. Podem celebrar? Sim. Deste contrato nasceu um
direito para o senhorio de receber rendas. A este direito corresponde o dever de pagar
rendas. Com isto, nasceu para o senhorio o dever de ceder o uso e fruição do locado, e
aquele dever corresponde o direito do inquilino de usar e fruir a casa. Ambos são direitos
subjetivos relativos, nasceram do contrato e têm eficácia interpartes. Este contrato foi feito
em 2016. Estamos em 2022. O inquilino não paga rendas desde 2016. O senhorio o que vai
fazer? Exigir o pagamento das rendas judicialmente.
As rendas de 2016 e 2017 estão prescritas, então não vai ter de pagar. Assim, alego a
prescrição relativamente a estas rendas. Em relaçao às outras terá de pagar. O senhorio
pode exigir as rendas de 2018, 2019, 2020 e 2021 e pode pretender as rendas de 2016 e
2017.
Imagine-se que o B não invoca a prescrição. o juiz pode detetar que um direito está
prescrito, mas não pode declarar a prescrição sem que a pessoa a quem esta aproveita a
tiver invocado. B tem de invocar a prescrição. se não invocou, o juiz condena em tudo
desde 2016.
Pergunta: o direito do senhorio de receber as rendas de 2016 e 2017 extinguiu-se? Não.
apenas se tornou fraco, deixando de ter tutela judicial.
E na caducidade? O direito potestativo não foi exercido no prazo que a lei dava – nota: há
direitos potestativos que não tem prazo, como é o caso do divórcio. Caducando, nunca mais
aquela pessoa tem esse direito. Exemplo: a joana (eu) tem umas fotografias da doutora em
pijama de luxo. Eu digo que se não me der 18 valores a introdução eu mostro a toda a
gente. Houve coação moral! Artigo 287.º nº1 – o direito de arguir a anulabilidade, a
anulação do negócio, caduca, se não for exercido no prazo de um ano. O direito de
anulação do negócio é um direito potestativo extintivo. A doutora deu-me o 18 e as
fotografias vazaram. Continua a estar coagida? Não. o vicio que a levou a dar-me o 18
cessou. Tenho um ano para anular o negócio. Intentei a ação de anulação 15 meses
depois. Tenho o direito de anulação? Não. o meu direito extinguiu-se, caducou. Eu esqueci-
me e não invoquei a caducidade, mas o juiz detetou que o direito da doutora tinha
caducado. O juiz pode declarar? SIM. Esta é a diferença do regime – dever ex officio. A
caducidade não precisa de ser invocada pela pessoa que a aproveita.
O negócio que era inválido tornou-se num negócio válido, convalidou-se. A única pessoa
que podia pedir a anulação do negócio perdeu esse direito.
303.º vs. 333.º - fazer a remissão para os artigos (um para o outro)
Artigo 303.º - (Invocação da prescrição)
O tribunal não pode suprir, de ofício, a prescrição; esta necessita, para ser eficaz, de ser invocada, judicial
ou extrajudicialmente, por aquele a quem aproveita, pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo
Ministério Público.
Artigo 333.º - (Apreciação oficiosa da caducidade)
1. A caducidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal e pode ser alegada em qualquer fase do processo,
se for estabelecida em matéria excluída da disponibilidade das partes.
2. Se for estabelecida em. matéria não excluída da disponibilidade das partes, é aplicável à caducidade o
disposto no artigo 303.º

Perguntas:
1. Qual a diferença entre estado de sujeição e obrigação passiva e universal?
O estado de sujeição é aquela pessoa que está sujeita à produção de efeitos
jurídicos derivado do exercício de um direito potestativo. Uma obrigação passiva e
universal surge no contexto dos direitos subjetivos absolutos em que, quando
alguém se arroga a um direito subjetivo absoluto, tem um direito que tem eficácia
erga omnes em que todos, o universo, têm uma obrigação passiva de não interferir
com o direito em questão.
2. Exemplificar em que contexto surge e significa uma obrigação natural – esta
encontra-se no âmbito dos direitos subjetivos relativos, que têm efeitos interpartes. A
esta obrigação natural contrapõe-se um direito subjetivo relativo enfraquecido, ou
seja, que deixa de ter tutela judicial, e isto acontece quando o direito não é exercido
no prazo previsto para a prescrição. o devedor deixa de ter uma obrigação civil, mas
uma obrigação natural.

25 de outubro
Ius strictum – quando o juiz não está autorizado a maleabilizar a lei, é a aplicação da lei tal
e qual ela está redigida “principio da dura lex sed lex”
Ius aequum – equidade – poder que o juiz tem de, perante um determinado caso, poder
não aplicar os estritos termos que a lei dita, aplicando uma solução mais suave. Pode ter
uma maior margem de manobra, pode afastar-se ligeiramente da rigidez da lei e encontrar
uma solução mais suave que cumpra os propósitos mas não seja duro, pode levar, para
efeitos de solução, a consideração dos casos em concreto. A própria lei estrita, rigorosa, ius
strictum, autoriza, em algumas circunstâncias, que o juiz tenha margem de decisão, que
possa recorrer à equidade. Toma em atençao as circunstâncias do caso, pondera, aplica
uma solução, mas esta mais suave do que a solução que resultaria da aplicação estrita da
lei.
Ex. a Doutora está chateada com a Juliana, quer-lhe causar dano, e parte-lhe o
computador. Violei o direito subjetivo absoluto de domínio. A doutora teve culpa ou não teve
culpa? Sim. A culpa é quando nós percebemos que o agente teve uma conduta censurável,
agiu sabendo que a pessoa vai ter um dano e mesmo assim atuar.
A culpa tem duas principais modalidades: o dolo e a negligência, conhecida como mera
culpa ou culpa leve. – assim, parece que temos duas modalidades de culpa.
Quando a doutora se dirigiu ao computador da juliana, não tinha intencionalidade de lhe
causar um dano? Sim. Isto é dolo  quando a pessoa tem intenção ou não tem intenção
mas, sabendo que dali vai resultar um dano, conforma-se e não se importa.
Imaginemos que a doutora vai a correr e, por causa dos fios, cai, e parte o computador da
juliana. Teve intenção de o fazer? Não, mas foi desastrada, não teve o cuidado devido – isto
é negligencia. A negligencia é afrouxar os níveis de zelo e de cuidado e, como isso, causar
um dano.
Artigo 483.º - artigo basilar sobre a indemnização “com dolo ou mera culpa” – ius strictum
Artigo 494.º - “Quando a responsabilidade se fundar na mera culpa, poderá a indemnização
ser fixada, equitativamente” – ius aequum

Uma das finalidades do direito objetivo não era a justiça e a segurança? E a equidade não
pode ser um fator de insegurança? O juiz poder no âmbito da sua discricionariedade (dentro
dos limites da lei o juiz poder justa compor melhor o litígio) tomar decisões injustas? A
equidade é apenas para atenuar as injustiças e dar margem de manobra ao juiz para que
possa tomar decisões, sempre dentro dos limites da lei.

Direito Objetivo – aprendemos que era o conjunto de normas e o direito subjetivo é o direito
que alguém invoca
Nós invocamos direitos no âmbito e relações jurídicas que temos com pessoas, sejam
contratuais ou não.
Ou seja, os cidadãos mantém relações jurídicas não apenas entre eles! Estabelecemos,
também, relações de direito publico. Isto acontece quando os cidadãos constituem relações
jurídicas com o Estado ou outros entes públicos.
O que determina que o ramo seja publico ou privado? A primeira teoria que tentou fazer
esta divisão foi a teoria dos interesses. Esta teoria falha, porquê?
875.º - ela está no código civil, não há dúvidas que o código civil é direito privado. No
entanto, essa norma não protege interesses privados! Protege interesses públicos.
Teoria da supra ou infra ordenação – o direito regula relações privadas? É direito privado. O
direito regula relações jurídicas entre entes públicos? Publico. E quando há uma relaçao
entre um ente publico e um cidadão? Esta teoria dizia que bastava estar envolvido um ente
publico para ser direito público – isto não poderia vingar porque muitas vezes o Estado tem
relações privadas com entidades. O Estado não está a usar o seu poder, está a negociar
com os cidadãos/entidades, está no domínio do direito privado.
A última teoria diz que depende da posição em que o Estado está a atuar – se está a atuar
numa posição de igualdade com o cidadão, despido do seu poder, estamos no âmbito do
direito privado. Quando o Estado cobra impostos aos cidadãos está numa posição de
igualdade? Não, está investido no seu poder publico, soberano. Quando está no papel de
Estado, com soberania, é uma entidade publica. Por isso é que o Direito Fiscal é um ramo
de direito publico. Esta teoria da posição dos sujeitos é a que distingue os ramos de direito
publico de privado.

Para se ser Estado, um sujeito de direito publico internacional, o que é preciso?

 Nação – conjunto de pessoas ligadas entre si por etnia, tradição e língua ou idioma
 População – são as pessoas residentes num determinado estado, sejam eles
nacionais ou não. o que os une é o local de residência num país
 Povo – conjunto de pessoas que recebeu a nacionalidade do país
 Território – qualquer estado tem de ter espaço sito, que engloba a terra, o espaço
aéreo e o mar.
 Poder político – é o poder de definir uma ideologia, uma estratégia política, para um
país.
 Soberania
Existindo Povo, Território e poder político pode existir Estado. São as 3 principais
caraterísticas.
A nação é um estado? Não, no entanto pode ser reconhecida uma nação. O exemplo mais
carismático que temos de nação é a Palestina. Temos ainda o exemplos dos Curdos, a
Catalunha, a Chechénia e temos os caxemires, que são uma nação distribuída entre o
Paquistão e a índia. Nota: Não é preciso que um estado seja soberano para que seja
considerado Estado! Ex. do Texas.

Um Estado tem como funções


Função Legislativa

 Atos legislativos – leis em sentido formal (todo o preceito legal emanado


pela entidade competente no âmbito da função legislativa)
o Governo – DL
o Assembleia da República – Leis
o Assembleias Legislativas Regionais – DLR (decretos legislativos regionais)

Função Executiva/administrativa

 Cabe ao Governo, e é no uso desta função que o Governo emana portarias.


É uma lei em sentido formal? Não. é uma lei em sentido material (todo o
preceito legal emanado pela entidade competente)
Função Política

 É o Governo que tem a função política.


Função Jurisdicional

 Tribunais – aplicam a justiça em nome do povo – é um órgão de soberania?


Sim (110.º CRP)
Será que existe interpenetração entre estas funções? Há uma
interdependência mas com respeito do Princípio da separação de poderes.
Os tribunais são independentes, irresponsáveis, inamovíveis

Entre cidadãos ou entre cidadãos e o Estado despido de ius imperium


– R.J. de Direito Privado – surgem direitos subjetivos privados
Relação Jurídica
Entre entidades publicas ou entre os cidadão e o Estado investido do
ius imperium – R.J. de direito público – direitos subjetivos públicos
Nesta última disposição, O estado em que eu estou determina 4 tipos de status:
1. Passivus – nós, na relaçao jurídica de direito publico que temos com o estado,
estamos no pólo passivo. Qual o dever que tenho com o Estado? Por exemplo, o
dever de pagar impostos.
2. Activus – quando estou do lado ativo da relaçao jurídica, significa que tenho o
direito de participar ativamente na esfera publica.
3. Negativus – tenho o direito de exigir do Estado um comportamento de
abstenção, de omissão. Que nada faça que interfira com os meus direitos e que
os garanta. Artigo 18.º e ss. da CRP – direitos, liberdades e garantias de cada
cidadão.
4. Positivus – ação positiva. Ex. apoio judiciário – o estado positivo determina que
possamos exigir ao Estado uma atitude positiva protecionista dos nossos
direitos.

Importante – quais são as duas grandes finalidades do direito objetivo? Segurança e


Justiça.
Quais são os reflexos de segurança que parecem aparentemente injustas mas o legislador
adotou?
Ex. 1 - artigo 6.º cc – não é pelo facto de a pessoa desconhecer a lei que ela não se vai
aplicar
Ex. 2 – a da verdade efetiva e verdade processual
Ex. 3 – prescrição aquisitiva – o legislador não gosta de situações em aberto. Quem é a
propriedade do terreno, a pessoa do registo ou a que está a praticar atos há 20 e tal anos?
A segunda, pela usucapião invocada.

Princípio da não retroatividade da lei – aplicação da lei no tempo


Artigo 12.º nº1 primeira parte – regra de que a lei só dispõe para o futuro
Muito importante
A exceção da não retroatividade é haver retroativa, é a lei nova ser retroativa. Vai aplicar-se
não só aos factos futuros, mas também a passados – mas em que medida/grau? não vai
mexer nos efeitos passados, esses ficam salvaguardados, vai-se apenas aplicar daí em
diante, do momento da sua entrada em vigor. A lei nova é retroativa quando abrange factos
futuros e factos passados, mas quando os abrange respeita-se o que já foi estabelecido, os
efeitos que já se produziram.  grau mínimo de retroatividade

Artigo 12.º - (Aplicação das leis no tempo. Princípio geral)

1. A lei só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.
2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os
seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos; mas, quando dispuser diretamente
sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem, entender-se-á que a
lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor.

TPC – aprendemos que a norma jurídica tem uma previsão e uma estatuição:
483.º
220.º
874.º e 879.º
122.º
1324.º
1305.º
787.º
1601.º
921.º
805.º
503.º
2152.º
1766.º
 dizer, nestes artigos, onde está a previsão da norma e onde está a estatuição da norma

8 de novembro
(resolução do trabalho de casa)
TPC – aprendemos que a norma jurídica tem uma previsão e uma estatuição:
 dizer, nestes artigos, onde está a previsão da norma e onde está a estatuição da norma:
483.º
Previsão – Aquele que com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios
Estatuição – Fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação

220.º
Estatuição – é nula quando outra não seja a sanção especialmente prevista na lei
Previsão - a declaração negocial que careça de forma legalmente

874.º e 879º
Previsão - (art. 874)
Estatuição - (art.879)

122.º
Previsão – quem não tiver ainda completado dezoito anos de idade
Estatuição – é menor

1324.º
Previsão – 1. Se aquele que descobrir coisa movel de algum valor, escondida ou enterrada,
não puder determinar quem é o dono dela
2. O achador
Estatuição – 1. torna-se proprietário de metade do achador, a outra metade pertence ao
proprietário da coisa movel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado
2. deve anunciar o achado nos termos do nº1 do artigo anterior, ou avisar as
autoridades, exceto quando seja evidente que o tesouro foi escondido ou enterrado há mais
de vinte anos.

1305.º
Previsão – O proprietário de um animal
Estatuição – goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das
coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela
impostas.

787.º
Previsão – Quem cumpre a obrigação
Estatuição – tem o direito de exigir quitação daquele a quem a prestação é feita, devendo a
quitação constar de documento autêntico ou autenticado ou ser provida de reconhecimento
notarial, se aquele que cumpriu tiver nisso interesse legitimo.

1601.º
Previsão – a), b), c)
Estatuição – são impedimentos dirimentes, obstando ao casamento da pessoa a quem
respeitam como qualquer outra

921.º
Previsão – Se o vendedor estiver obrigado, por convenção das partes ou por força dos
usos, a garantir o bom funcionamento da coisa vendida
Estatuição – cabe-lhe repará-la, ou substituí-la quando a substituição for necessária e a
coisa tiver natureza fungível, independentemente de culpa sua ou de erro do comprador.
805.º
Previsão – O devedor depois de ter sido judicial ou extrajudicialmente interpelado para
cumprir
Estatuição – fica constituído em mora

503.º
Previsão – Aquele que tiver a direção efetiva de qualquer veículo de circulação terrestre e o
utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermedio de comissario
Estatuição – responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que
este não se encontre em circulação

2152.º
Previsão – Na falta de cônjuge e de todos os parentes sucessíveis
Estatuição – é chamado à herança o Estado

1766.º
Previsão – a), b), c)
Estatuição – A doação entre casados caduca

Caso pratico

O António tem 14 anos e celebrou um negócio jurídico com a Beatriz que tem 18 anos. O negócio celebrado
entre ambos, traduziu-se numa permuta (contrato que tem 2 bens que são trocados).

O António em troca da caderneta de cromos, entregou a sua bicicleta, sendo que a bicicleta ronda o valor de 500
e a caderneta completa ronda esse mesmo valor.

Paralelamente António vendeu a Luís, de 20 anos, um Corvete que a sua avó lhe deixou em herança

Aprecie juridicamente os negócios apresentados.

Negócio entre António e Beatriz


António é menor – art. º122
Por ser menor, António carece de capacidade de exercício – art.º 123
O António pode participar no negócio, mas não pode ser ele a “fechar” o negócio
A incapacidade negocial de exercício é suprível – art.º 124
Art.º 127 – situações de negócios em que os menores podem praticar
o negócio entre o António e a Beatriz – b) negócios de “pequena importância” – conceito
jurídico indeterminado – cabe ser dado o significado em concreto – está ao alcance é valido,
se não estiver ao alcance é invalido
o negócio entre o António e o Luís – não se subsume no art. 127 por isso não tem
capacidade de exercício, nem está representado então o negócio é invalido
Consequência: art.º anulabilidade

15 de novembro
Capacidade jurídica – artigo 67.º - a pessoa pode ser parte numa relação jurídica
Há determinadas relações jurídicas em que a pessoa não pode ser parte? Testar, perfilhar e
casar – os negócios estritamente pessoais (a capacidade negocial de gozo é conditio sine
qua non) – toda a gente pode ser sujeito das relações jurídicas? Não. por via de regra, as
incapacidades são temporárias, pois uma pessoa não pode estar numa relaçao de
casamento mas é só até aos 16 anos, pois aí adquire a capacidade negocial de gozo. Se a
pessoa não tem a capacidade negocial de gozo, alguém pode suprir esta incapacidade?
Não, é insuprível.
Se olharmos para o artigo 67.º - as pessoas podem ser sujeitos de relações jurídicas, esta é
a regra. “salvo disposição em contrário” – é nos 3 negócios estritamente pessoais que as
pessoas não podem ser sujeitos da relaçao jurídica, falta-lhes capacidade negocial de gozo.
Não podem ser sujeito dessas relações jurídicas. (fazer as remissões para estes negócios
da expressão “salvo disposição em contrário”)
Uma pessoa com 17 anos, menor, pode fazer testamento? Depende – se não for
emancipado de forma plena, não pode. Se for um menor emancipado pode.
Um menor de 15 anos pode casar? Não. é um impedimento dirimente.

2189.º -menor não emancipado


Ex. 1 – um menor de 15 anos casou, emancipou-se? Não, ele não pode casar, logo, não se
emancipou.
Ex.2 – o menor de 16 anos casou, emancipou-se? Depende se teve ou não autorização dos
pais para casar.
Ex. 3 – o menor casou, tinha 16 anos, teve autorização dos pais – emancipou-se
totalmente, plenamente – 133.º
O casamento do menor de 16 anos que não teve autorização dos pais é valido? Sim,
perfeitamente válido. Todavia, o menor não se emancipa plenamente. Continua a “fingir-se”
menor para efeitos de disposição dos bens, não adquiriu emancipação plena.
Artigo 133.º - (Efeitos da emancipação)

A emancipação atribui ao menor plena capacidade de exercício de direitos, habilitando-o a reger a sua
pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto no artigo 1649.º
1649.º - o menor que casar sem ter obtido autorização dos pais continua a ser considerado
menor para efeitos de disposição de bens – o menor de 16 anos tem capacidade de gozo
para casar mas, se não tiver tido autorização dos pais, não adquire emancipação plena e
continua sem ter capacidade para testar.
Nota: quando se fala de emancipado, é emancipado pleno!!
Fazer remissão do artigo 2189.º para os artigos 133.º e 1649.º

Uma coisa é eu ser parte, outra coisa é eu poder agir – ter capacidade de exercício. A
capacidade de exercício atinge-se somente com a maioridade, pois um dos efeitos de
atingir a maioridade é ter capacidade de exercício, de poder participar sozinha no tráfico
jurídico comercial. até lá, posso estar nestas relações jurídicas? Posso ser sujeito? Sim,
mas através da representação legal. De quem é o direito que está a ser exercido? Meu. Ao
contrário da capacidade negocial de gozo, que ou se tem ou não se tem, no caso da
capacidade de exercício, se eu não tiver, o artigo 124.º diz que o meu representante legal
vai exercer os meus direitos em meu nome e no meu interesse.
Não confundir representação legal com representação voluntária – é voluntaria pois
resulta da minha vontade, ao contrário da representação legal, que surge pois a pessoa
representante não tem capacidade de exercício.
Nota: uma pessoa, quando vai fazer um negócio jurídico, tem de ter atenção a requisitos
formais ou substanciais ou materiais – para que um negócio seja valido e eficaz, é preciso
que seja respeitada a forma exigida por lei, pois será invalido, até por nulidade, se não for
observada a forma. É preciso, também, que eu possa fazer esse negócio, que haja
condições de validade material/substancial. Se um menor que não tem capacidade de
exercício para exercer o negócio, não está representado, e chegou lá e assinou a escritura
da venda de uma casa de meio milhão, este negócio é valido? É nulo por faltar um requisito
material, de substância, ele não tem capacidade
Condições de validade – requisitos que têm de ser respeitados para o negócio ser válido.
Temos requisitos formais e substanciais/materiais.

 Formais – só tem a ver com forma, tem de ser respeitada a forma que a lei
manda. Por via de regra, o negócio é invalido, e a consequência é a nulidade
(220.º)
 Substanciais/materiais – são requisitos de ordem material, tem a ver com
pressupostos que a pessoa tem de reunir para celebrar o negócio. O negócio
será invalido e a consequência será a anulabilidade. Ex. duas pessoas são
casadas em regime de comunhão de adquiridos. Eu levo para o casamento
uma casa, é bem próprio, eu quero vender. Posso vender sem o
consentimento do meu marido? Não. apesar de o bem não ser dele, ele tem
uma palavra a dizer.

Capacidade delitual – vem da palavra delito, que quer dizer quando alguém pratica um facto
jurídico ilícito (um facto jurídico é um facto que vai gerar efeitos jurídicos)
Menção: Distinção de facto jurídico voluntário e involuntário – derivam da vontade do
homem, enquanto que os factos jurídicos involuntários não dependem da vontade do
homem, como o decurso do tempo. Depois, dentro dos factos jurídicos voluntários, temos
os lícitos e os ilícitos. A ilicitude consiste na prática de um facto/ ato que viola um direito
subjetivo de alguém (e maioritariamente direitos subjetivos absolutos) ou viola uma norma
que visa proteger o interesse alheio.
483.º - determina que a ocorrência desse facto tem consequências jurídicas – determina a
obrigação de indemnizar, reparar a lesão ou dano que eventualmente tenha causado
Para que o autor do ato, para que o agente, seja obrigado a indemnizar, é preciso que essa
pessoa tenha capacidade delitual – 488.º - o que é a imputabilidade? É a capacidade para
compreender e entender o que se está a fazer, o que advirá do ato. Se é inimputável, não
tem capacidade delitual.
488.º nº2 – a lei presume que uma pessoa que seja menor de 7 anos, em razão da sua
capacidade natural de imaturidade, não tem normalmente capacidade para perceber as
consequências do seu ato.

Exercício
420.º - atendendo à tipologia das normas que já estudámos, classifica a norma

TIPOLOGIA DAS NORMAS JURIDICAS


1) CRITÉRIO TERRITORIAL
 Normas locais
 Normas regionais
 Normas nacionais, globais

2) ÂMBITO PESSOAL DAS NORMAS


 Normas de direito comum
 Normas de direito especial
 Normas excecionais
 Normas gerais
3) CLASSIFICA A NORMA COM BASE NA SUA APLICAÇÃP E A VONTADE DOS
DESTINATÁRIOS
 Normas imperativas
 Preceptivas
 Proibitivas

 Normas dispositivas
 Permissivas, atributivas, concessivas, facultativas
 Interpretativas (diferente de leis interpretativas!)
 Supletivas

4) CLASSIFICA A NORMA QUANTO AO TIPO DE SANÇÃO QUE A NORMA


APLICA
 Lei mais que perfeita
 Lei perfeita
 Lei menos que perfeita
 Lei imperfeita
5) QUANTO É PLENITUDE DO SENTIDO DA NORMA JURÍDICA
 Norma autónoma
 Norma não autónoma
 Remissões
o Intrassistemática
o Extrassistemática
o Expressa
o Implícita
 Ficções legais/ equiparação legal
 Presunções
 Judiciais
 Legais
Relativas
Absolutas
Híbridas

Exercício: Classificar todas as normas mencionadas segundo o critério


Relembrando: Normas gerais, excecionais ou especiais – as normas gerais são as que
estabelecem um regime-regra para uma categoria de situações, e normalmente garante o
princípio da igualdade; toda a regra tem a sua exceção, e a exceção significa que há um
regime jurídico oposto ao regime-regra. Estas nunca podem ser usadas de forma
complementar. Nota importante para as normas excecionais: se o regime-regra garante o
princípio da igualdade, sempre que há uma exceção há um desvio a esse princípio da
igualdade, mas é um desvio ponderado pelo legislador. Uma norma excecional e uma
norma geral são contrárias. Uma norma geral e uma norma especial não são contrárias,
complementam-se, mas se houver uma situação para qual esta norma especial está
prevista, temos de olhar para esta primeiro.
As normas imperativas são normas que não podem, nunca, ser afastadas pelos seus
destinatários. São de obediência obrigatória. O legislador culmina com a nulidade qualquer
clausula contratual que contrarie uma norma imperativa (294.º). as normas dispositivas
estão na disponibilidade dos destinatários e então estes, se concordarem com o regime
jurídico da norma, ela aplica-se aos contratos, mas se não concordarem podem estipular
coisa diferente no contrato e o que impera é a vontade das partes, e não a norma
dispositiva.
Quando falamos de normas imperativas, ou o legislador nos impõe determinados
comportamentos, ou nos proíbe certos comportamentos. Todas as normas que consagrem,
na sua estatuição, a atribuição de direitos, limitando-se a atribuir poderes, estamos perante
normas permissivas/atributivas/concessivas/facultativas.
Quando as partes se esquecem de contemplar algum aspeto essencial do contrato para o
bom cumprimento, a lei vem suprir essa falha com a aplicação de normas dispositivas
supletivas. Se as partes utilizaram uma linguagem um pouco rebuscada, suscetível de
surgirem duvidas da sua interpretação, pode acontecer que a lei disponha de normas que
contemplem essa interpretação, e aqui temos as normas dispositivas interpretativas.
Quando dizemos que uma determinada norma dispositiva se aplicou ao contrato, se se
aplicou foi porque as partes o quiseram, pois tê-la-iam afastado se fosse essa a sua
vontade.

Artigo 67.º - norma de direito comum, norma geral – impõe o regime regra
Artigo 1601.º - norma de direito comum, norma excecional
Artigo 309.º - norma geral
Artigo 310.º - norma excecional – todos os prazos inferiores a 20 anos, a regra geral, são
situações excecionais
Artigo 219.º - os princípios presentes na parte geral do código são princípios gerais – é uma
norma geral
Artigo 875.º - norma excecional – só podem ser feitas por escritura publica ou DPA
Artigo 287.º - norma geral – será que no regime da nulidade não está regulada a
consequência de um menor praticar um negócio inválido?
Artigo 125.º - norma especial – o regime regra pode complementar o regime especial! “sem
prejuízo do disposto no artigo 287.º”
Artigo 1038.º alíneas a), b) e c):
Alinea a) norma imperativa preceptiva
Alinea b) norma imperativa preceptiva
Alinea c) norma imperativa proibitiva
Artigo 1081.º nº3 – norma imperativa preceptiva
Artigo 1081.º nº4 – norma dispositiva supletiva
Artigo 420.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 1078.º - o nº1 é uma norma dispositiva facultativa, o nº2 e seguintes são normas
dispositivas supletivas
Artigo 985.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 878.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 877.º - norma imperativa proibitiva
Artigo 787.º - para quem cumpre a obrigação é uma norma permissiva, e para quem tem de
dar a quitação é uma norma imperativa preceptiva
Artigo 784.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 492.º - norma imperativa preceptiva – não é uma opção dele, ele é obrigado a
indemnizar

Atenção: na próxima aula teórica o Doutor vai dar presunções e ficções – ter muita atenção
às ficções legais e às presunções legais
22 de novembro
Perguntas:
1. Qual é a finalidade de uma ficção legal?
2. Qual é a finalidade de uma presunção legal?
3. Em que circunstancias podem-se formular presunções judiciais?
4. O que entende por meios coercivos normais?
5. Quais são os meios de autotutela que conhece e em que consistem?

Normas autónomas vs. normas não autónomas


Remissivas
Intrassistemática
Extrassistemática – normas de conflito
Explicitas – explicitamente remete para outra
Por artigo
Por texto
Implícitas
Através de ficções legais
Através das presunções legais
ficções legais (3 situações)
1. A lei finge que um facto ou uma relação jurídica sucedeu, quando, na realidade, não
sucedeu. O que não aconteceu na realidade, que não se verificou na realidade, é o
facto real. A lei finge que aconteceu, então isto é o facto fingido.
2. A lei também pode negar que algum facto ou relação jurídica que ocorreu/sucedeu
tenha ocorrido – qual é o facto real aqui? É algo que aconteceu, sucedeu. a lei nega
que esse facto tenha ocorrido (facto fingido). Ex. casamento sem registo
3. Ou a lei simplesmente não considera, ignora que tenha acontecido ou não o facto
para beneficiar certas e determinadas pessoas – quem? Os chamados terceiros
adquirentes de boa fé
Intuito do nº2  Aplicar ao facto real o regime do facto fingido
Intuito do nº1  aplicar o regime jurídico como se tivesse acontecido; exemplo da
notificação prevista em legislação avulsa; exemplo do 805.º nº2 alinea c) o devedor evita de
má fé ser interpelado então o legislador finge que ele foi
Objetivo das ficções: O legislador, ao fingir determinadas realidades consegue desbloquear
o que está a bloquear a aplicação de um regime jurídico e com o fingimento torna possível a
aplicabilidade deste regime.
As presunções legais absolutas aparecem na forma de “considera-se sempre”, mas estas
são muito circunscritas. A maioria das presunções legais são relativas.
O que é uma presunção legal?
Artigo 349.º - que facto conhecido é esse que a lei fala? O facto alegado e provado. Desse
facto alegado e provado a lei presume um outro, o facto desconhecido, que é o facto
presumido. Esse facto presumido tem de ser provado e alegado?
Não confundir: ónus de alegação vs. Ónus de prova – um ónus jurídico é um encargo que a
lei impõe a cada um, e beneficiamos se cumprirmos esse encargo. Um grande exemplo de
ónus jurídico é o ónus da prova. Ónus é algo que a lei impõe às pessoas e se não
cumprirem não são beneficiadas.; quando intentamos uma ação em tribunal, temos o ónus
de alegar (ónus de alegação, invocar) e o ónus de provar os factos que eu invoco. Ou seja,
o ónus de alegação e o ónus de prova andam de mãos dadas.
342.º - regra do ónus de prova – se para sustentar o meu direito tenho de alegar o facto 1 e
o facto 2, por exemplo, eu tenho de provar o facto 1 e o facto 2.
Quando o legislador sabe que o facto 2 provavelmente acontece se acontecer o facto 1, diz
à pessoa para alegar os dois factos e provar o facto 1, aliviando o ónus de prova. Este
segundo facto dá-se como presumido. Quem beneficia destes dois factos? Quem alegou, e
por via de regra teria de provar os 2, mas agora foi aliviado do seu ónus pesado. Quem
beneficia da presunção é quem alegou o facto.
Beneficiando alguém, também prejudica. Quem terá de fazer prova para afastar a
presunção que me beneficia é a pessoa a quem a presunção prejudica  344.º - inversão
do ónus de prova

Pressupostos da Responsabilidade Civil


1. Facto voluntário
2. Ilicitude
3. Dano
4. Culpa
5. Nexo de causalidade entre o facto e o dano

Parece-nos um ónus probatório pesado. O que nos parece mais pesado de provar? A culpa.
O legislador sabe que, por via de regra, por exemplo, quem está obrigada a vigiar alguém
por causa da sua incapacidade, deve ter cautela e ser diligente, zelosa, etc.
À partida, por razoes de normalidade, estes acidentes acontecem porque os vigilantes
abrandaram as suas funções. Quando uma pessoa que precisa de ser vigiada causa dano a
uma pessoa é porque houve uma quebra nas funções de vigia. Presume-se que o vigilante
abrandou a sua diligência, é porque o vigilante foi negligente – o legislador presume a culpa
do vigilante.
Artigo 491.º - (Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem)

As pessoas que, por lei ou negócio jurídico, forem obrigadas a vigiar outras, por virtude da incapacidade natural
destas, são responsáveis pelos danos que elas causem a terceiro, salvo se mostrarem que cumpriram o seu
dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido.
As presunções legais são factos que o legislador presume a partir de factos que já
foram alegados e provados.
Nota: temos de saber distinguir uma ficção legal de uma presunção absoluta! Ambas podem
dizer “considera-se”, mas nas presunções temos dois factos, sendo que um se considera
assente e o outro é presumido. Se disser “considera-se sempre” já sabemos que isto é uma
presunção legal absoluta. Torna-se dúbio quando apenas começa com “considera-se”.
Exemplos:
Artigo 243.º - (Inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé)

1. A nulidade proveniente da simulação não pode ser arguida pelo simulador contra terceiro de boa fé.
2. A boa fé consiste na ignorância da simulação ao tempo em que foram constituídos os respectivos direitos.
3. Considera-se sempre de má fé o terceiro que adquiriu o direito posteriormente ao registo da ação de
simulação, quando a este haja lugar.

243.º nº3 – presunção absoluta – quando alguém compra depois de a ação de simulação
estar registada, a lei considera-o sempre de má fé, mas se comprou antes pode estar de
boa fé. A lei diz “se não sabia, soubesse, porque havia forma de fazer ao consultar o
registo”.

Artigo 1260.º - (Posse de boa fé)

1. A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de outrem.
2. A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé.
3. A posse adquirida por violência é sempre considerada de má fé, mesmo quando seja titulada.

Nº3 - Quando alguém alega e prova que outra pessoa adquiriu a posse por violência, a lei
diz logo que este possuidor é de má fé – “considera-se sempre”.
Nº2 – “presume-se” – se eu tiver uma posse titulada, com título, presume-se que sou
possuidora de boa fé, mas isso não quer dizer que não tenha adquirido de má fé. O nº2 são
presunções relativas, enquanto que o nº3 são presunções absolutas.
Questão: o que é uma presunção legal híbrida?
As presunções híbridas são aquelas que são estabelecidas no contexto da paternidade. A
mãe é sempre certa, o pai é que pode ser qualquer um. Existem dois contextos para
estabelecer a paternidade: saber quem é o pai da criança se a mãe está casada. Quando
uma mulher, casada, tem um filho, quem é que normalmente é o pai? O marido.
Então, presume-se que o pai da criança é o marido da mãe. É preciso que o pai prove
cabalmente que não é o pai da criança? Não. basta alegar que há sérias dúvidas que ele
seja o pai.
Artigo 1871.º - (Presunção)

1. A paternidade presume-se:

a) Quando o filho houver sido reputado e tratado como tal pelo pretenso pai e reputado como filho
também pelo público;
b) Quando exista carta ou outro escrito no qual o pretenso pai declare inequivocamente a sua
paternidade;
c) Quando, durante o período legal da concepção, tenha existido comunhão duradoura de vida em
condições análogas às dos cônjuges ou concubinato duradouro entre a mãe e o pretenso pai;
d) Quando o pretenso pai tenha seduzido a mãe, no período legal da concepção, se esta era virgem e
menor no momento em que foi seduzida, ou se o consentimento dela foi obtido por meio de promessa de
casamento, abuso de confiança ou abuso de autoridade;
e) Quando se prove que o pretenso pai teve relações sexuais com a mãe durante o período legal de
concepção.

2. A presunção considera-se ilidida quando existam dúvidas sérias sobre a paternidade do


investigado.

A segunda situação é quando o pai presumido surge e é estabelecida a paternidade quando


a mãe não é casada – 1871.º - a mãe não está na constância do matrimónio. Quem é o pai
desta criança que nasceu de uma senhora que não estava casada? Presume-se que são as
pessoas referidas no artigo 1871.º.
Na primeira situação bastava provar que a mãe era casada com o pai. Na segunda, o que
se prova? Não sendo casada, prova-se o que está nas alíneas do artigo 1871.º. A serem
alegados e provados, retira-se a presunção da paternidade, e esta presunção considera-se
ilidida se existirem serias dúvidas da paternidade.

Questão: O que são presunções judiciais?


O juiz retira de factos conhecidos e provados outros factos que ele presumiu. Não foram
provados, mas o juiz presumiu que eles ocorreram.
Sobre que tipo de factos é que o juiz pode retirar presunções? Ex. o juiz presumiu um
determinado facto, para isso é preciso que tenha existido prova testemunhal? Ou o juiz
pode presumir sobre aquele facto mesmo não tendo havido sobre ele prova testemunhal?
 Para o juiz poder presumir um determinado facto no processo, sobre ele facto tem
de ter havido prova testemunhal? Se aquele facto só houver de ser provado por
prova documental, não pode haver presunção judicial.

Artigo 351.º - (Presunções judiciais)

As presunções judiciais só são admitidas nos casos e termos em que é admitida a prova testemunhal.

Imaginemos que num caso em concreto, num julgamento, há um facto sobre o qual poderia
existir prova testemunhal mas não houve testemunhas. O juiz, sobre esse facto, pode
estabelecer uma presunção judicial? Sim. “é admitida”, é admitida mas pode não haver.
Nota: Há factos que só podem ser provados por documentos – 393.º - se isto acontecer,
não pode haver prova testemunhal sobre ele ou esta é absolutamente irrelevante. Se esse
facto que for provado por documento e o documento surgir, as testemunhas nem podem
depor a contrário do que está lá.
29 de novembro
Caso Prático 1

Maria Luísa caiu em casa quando subia a um banco para chegar a uma caixa de chocolates que tinha no seu
armário de cozinha.

Maria Luísa, na sequência desta queda, fez uma fratura exposta na zona do seu tornozelo e foi imediatamente
encaminhada para o hospital pela equipa de emergência médica que a socorreu 15 min depois de ter sido
chamada por Maria Luísa que, apesar das dores, conseguiu fazer a chamada de emergência pelo seu telemóvel
que tinha no bolso.

Rafael, namorado de Maria Luísa e contacto de emergência desta, foi chamado ao hospital e quando lá chegou
Maria Luísa disse-lhe que estava bem mas que se lembrara que deixara o ferro de engomar ligado em casa e tem
receio que este cause um incêndio, pedindo-lhe que lá fosse de imediato desligá-lo.

Rafael, com a azáfama, esquecera-se de pedir a chave de casa de Maria Luísa, a qual ainda não tinha, pois
apesar de namorarem há dois anos, a Maria Luísa não queria precipitar-se e quer que “as coisas decorram com
calma na relação” e tinha decidido ainda não ser o passo certo para os dois viverem juntos.

Quando Rafael constata que não tem a chave, já está em frente à porta da casa de Maria Luísa. Decidiu, então,
entrar pelas traseiras onde há uma pequena janela junto à porta, partindo a janela o prejuízo será menor do que
ter a casa incendiada devido ao ferro de engomar estar ligado sem supervisão. Assim o fez.

Contudo, dentro da casa estava a mãe de Maria Luísa que lá tinha ido mudar os lençóis e não sabia ainda que
Maria Luísa estava no hospital.

Assustada com o barulho da quebra do vidro da janela, a mãe de Maria Luísa julgou que a casa da filha estava a
ser assaltada e mal Rafael coloca a mão por dentro da janela partida para alcançar a fechadura da porta das
traseiras e abri-la, a mãe de Maria Luísa pega no ferro de engomar que estava ligado e coloca-o em cima da mão
de Rafael que gritou devido às fortes dores que tal queimadura lhe provocou.

Responda, de forma fundamentada e com apoio legal, às seguintes questões:

1. A mãe de Maria Luísa agiu licitamente?

2. Rafael teria algum direito a ser indemnizado pelos seus danos patrimoniais e por danos morais que haja
sofrido? Se a sua resposta for negativa, imagine que Rafael teria de ser indemnizado e diga como responderia
partindo desse pressuposto.

Pergunta 1 – a mãe de maria Luísa agiu licitamente?


Houve, à partida, ilicitude da parte da mãe de Maria Luísa, pois houve a violação de um
direito subjetivo absoluto, direito de personalidade. O direito à integridade física é um direito
inato. Sempre que existe um ato ilícito que causa danos a terceiros isso gera para o autor
do ato a obrigação de indemnizar. quais são os pressupostos da responsabilidade civil?
facto voluntario, ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade. Isto são os factos constitutivos
da responsabilidade civil, e estando verificados dão lugar ao dever de indemnizar – 483.º.
Se o nosso comportamento deixar de ser ilícito, deixa de haver o dever de indemnizar – se
a mãe da maria Luísa atuar ao abrigo de uma causa de exclusão da ilicitude.
Qual é a previsão do artigo 337.º? é que só se a mãe da maria Luísa se subsumir na
previsão deste artigo é que se integra na estatuição.
337.º legitima defesa – pressupostos:
o Qualquer agressão humana
o Atual ou iminente e contrária à lei
o Contra pessoa ou património
o Do agente ou de 3º
o Não é possível fazê-lo por meios coercivos normais
o O prejuízo causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que pode resultar
da agressão – proporcionalidade – temos de ver que tipo de dano vamos provocar
e este dano não pode ser manifestamente superior, ou seja, pode ser superior, não
pode é ser fora do aceitável, excessivo. Saber o que é manifestamente superior ou
não, sendo um conceito indeterminado, decorre do entendimento do juiz no caso
concreto.
 Meio idóneo, adequado  travar/parar/estritamente necessário 
proporcionalidade animus defendendi – a pessoa tem de ter o propósito único de se
defender, e não de se vingar ou atacar
Ex. se uma pessoa vem ter comigo com uma faca e eu tenho a possibilidade
de me fechar dentro da sala, isto é um meio idóneo de me defender da
agressão. Se sacar de uma arma secalhar já é excessivo, havendo outros
meios idóneos.
 Danos

Estavam verificados todos os pressupostos? Há proporcionalidade de danos? Contra a


agressão ao património da filha parece-nos excessivo, mas havendo uma agressão
iminente à integridade física dela, já parece proporcional. E quanto aos meios, haveria outro
meio? Aparentemente não.
Estaríamos num cenário de legitima defesa.
Se a mãe da maria Luísa atua em legitima defesa, a atuação dela é licita, deixando de ter o
dever de indemnizar.

Artigo 339.º Estado de Necessidade - a estatuição é “é licita”, a previsão é o restante do


nº1.
Rafael partiu a janela, coisa alheia, e faz-lho para remover um perigo atual. O dano que ele
causa é inferior àquele que poderia resultar se ele não fizesse nada.
“quer do agente, quer de terceiro” – ele atua para proteger o património da Maria Luísa
Poderia recorrer em tempo útil aos meios coercivos legais? Coloca-se a dúvida porque não
sabemos em que posição estaria o ferro.
O estado de necessidade é agressivo ou defensivo? Agressivo, pois ele destrói a janela.
Ele atua, então, em Estado de Necessidade, e quer uma indemnização.

Há um erro acerca dos pressupostos da legitima defesa – 338.º - por parte da mãe de Maria
Luísa pois não há uma agressão! Ela agiu em legitima defesa, mas a legitima defesa dela
não é, na verdade legitima defesa. É legitima defesa putativa. Ela errou nos pressupostos.
338.º parte final – o erro é desculpável? Como sabemos? 487.º nº2 – vamos colocar na
posição da mãe da maria Luísa o homem médio – bónus pater família. Qualquer pessoa na
situação dela pensaria que iria ser assaltado.
A primeira coisa que Rafael poderia pedir era ou prova documental por fotografia ou perícia,
para entender como teria sido a situação. Mediante o caso concreto, veríamos se seria
possível a mãe de Maria Luisa saber quem é que estava a tentar entrar na casa.
Se o erro não fosse desculpável, a mãe de Maria Luísa teria de indemnizar. Em que
termos? Que tipo de danos temos? Morais (não patrimoniais) e patrimoniais. Se os danos
forem morais, então, não quantificados em dinheiro, pediremos uma compensação ao
abrigo do artigo 486.º. nota: este artigo diz que só os danos suficientemente graves é que
merecem a tutela do direito. O que é grave ou não vai ser o juiz a aferir no caso concreto.
Em relaçao ao dano patrimonial, que tipo de danos é que o Rafael sofreu? Os dois. Os
danos morais são a dor, provavelmente ficará com a cicatriz para sempre na mão, secalhar
vai-se sentir com pior autoestima, etc. isso tudo é merecivel de compensação. Mas ele tem
danos patrimoniais, como, por exemplo, as despesas dos tratamentos, internamento,
cremes, sessões de fisioterapia, etc. por exemplo, imaginemos que ele seria pianista,
deixaria de ter alguns trabalhos (lucros cessantes).
o 362.º - o legislador pretende uma reconstituição in natura (natural) – esta é a
preferida. Em que situações é que ela passa para a indemnização em dinheiro?
 Se não for possível, de todo. Ex. partiu um jarro chinês da dinastia Ming – aí,
há lugar a uma substituição por indemnização em dinheiro
 Se não é suficiente. Ex. o Rafael tem um hematoma e depois da fisioterapia
ficou bem. No entanto, por causa disso, deixou de trabalhar durante um mês.
É possível reconstituir naturalmente? Para o dano físico sim, mas isso não
chega, falta o dinheiro que ele deixou de auferir. Assim, complementamos
com dinheiro.
 Se é possível mas é excessivamente oneroso para o devedor – exigir a
reconstituição natural ao devedor é muito mais custoso do que o dano que se
visa reparar.

o 564.º - indemnização = dano emergente + lucro cessante (benefícios que deixou de


ter por causa do dano). Preferencialmente o legislador entende que é preferível a
reconstituição natural (562.º- colocar o lesado exatamente na posição onde ele
estava antes da lesão), menos nos danos morais, em que não é possível. se não for
possível, olhando para a natureza do dano, o legislador manda passar para a
indemnização em dinheiro.

o 566.º
o 496.º - compensação

Pergunta 2 – Rafael teria algum direito a ser indemnizado pelos seus danos patrimoniais e
por danos morais que haja sofrido? Se a sua resposta for negativa, imagine que Rafael teria
de ser indemnizado e diga como responderia partindo desse pressuposto.
Caso Prático 3

Durante a aula de Introdução ao Direito, a aluna Cremilde repara que o aluno Gervásio, sentado duas filas à
sua frente, tem um telemóvel exatamente igual ao que fora furtado a Cremilde dois dias antes no bar da
Universidade, inclusive, até a capa protetora era igual.

Furiosa, Cremilde espera pelo término da aula e quando Gervásio se abeira da porta de saída da sala com o
telemóvel na mão, Cremilde barra-lhe a saída puxando-o pelo braço para conseguir alcançar o telemóvel das
mãos de Gervásio e tirá-lo.

Gervásio refere que o telemóvel é seu, foi presente de Natal de seus pais e não lhe admite tal acusação.
Cremilde não se detém e insiste em puxar-lhe o braço e em tomar das mãos de Gervásio o telemóvel que diz
ser dela. Gervásio dá-lhe um pontapé e um empurrão para afastar Cremilde e vai embora. Cremilde que caíra
ao chão com o empurrão e pontapé, ficou com sérias lesões nas pernas e com um traumatismo no cóccix.

Apurou-se depois que o telemóvel era na realidade de Gervásio que efetivamente o recebera no Natal como
presente, tendo a fatura da compra na loja.

Analise e enquadre juridicamente a atitude de ambos os intervenientes no caso.

A Cremilde pretende alegar que atuou em Ação Direta – artigo 336.º


A ação direta tem de ser para proteger um direito do próprio agente!
Qual a previsão da norma do artigo 336.º? “o recurso à força com o fim de assegurar o
próprio direito (direito absoluto de domínio, direito de propriedade) (…)”
Para assegurar o direito, ela fez uma espécie de retenção.
Se considerarmos que se verificaram os pressupostos, então a sua atuação será licita,
atuando de acordo com uma causa de exclusão de ilicitude.
Será que ela tem aquele direito que ela pensa que tem? Estamos perante a ação direta
putativa, pois o telemóvel não é dela. Falta, então, o pressuposto de assegurar o direito
próprio.
O erro dela é desculpável? Qual é o critério para aferir? O critério do Bom Pai de Família –
487.º nº2 – qualquer pessoa atuaria daquela forma? depende das características do
telemóvel. Se for um telemóvel absolutamente comum, é normal que ela não devesse ser
tão precipitada. Ainda que o telemóvel fosse raro, talvez não fosse desculpável porque
agarrar nos braços não nos parece a atitude correta para o assegurar do direito. Então, terá
de indemnizar.
E o Gervásio, terá de indemnizar? ele atuou em legitima defesa? Há excesso de legitima
defesa. Há uma agressão atual, é humana, contra a pessoa, etc, mas o empurrão por si já
travaria a agressão. O pontapé já não é um meio idóneo de parar a agressão.
Ele violou o princípio da proporcionalidade de meios, havendo excesso da legitima defesa –
pode ainda assim ser desculpável? Sim, se houver medo ou perturbação – 487.º nº2. O
Gervásio não estava, neste caso, com medo da Cremilde.
Assim, ele não atuou em legitima defesa, excedeu-se, e vai ser obrigado a indemnizar
Cremilde.
Nota: sempre que concluirmos que temos de indemnizar, o caminho a fazer é o que já
vimos (pressupostos e tipo de indemnização) + (neste caso em concreto) concluir com o
artigo 570.º - culpa do lesado – sempre que alguém sofre um dano mas sofre-o porque
concorreu com culpa para esse dano, contribuiu para o mesmo, o juiz pode até excluir o
dever de indemnizar.
Artigo 570.º - (Culpa do lesado)

1. Quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou agravamento dos danos,
cabe ao tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas consequências
que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída.
2. Se a responsabilidade se basear numa simples presunção de culpa, a culpa do lesado, na falta de
disposição em contrário, exclui o dever de indemnizar.

570.º - “concorrência de culpas”


Nota: caso prático nº6  não evitou dano superior e não respeitou o requisito da
proporcionalidade – não há estado de necessidade; ele estava dentro da responsabilidade
civil, terá de indemnizar nos termos normais
Nota: ver acórdão do moodle que a Doutora vai colocar

6 de dezembro
PERGUNTAS
1. O que entende por meios de tutela reconstitutivos?
Violação de um direito
Obrigação de indemnizar – 564.º
Nota: reconstituição in natura/ natural – 562.º
Quando é que não é possível? Num dano moral, nunca é possível a reconstituição natural
(496.º ressarcimento dos danos morais); na indemnização em dinheiro vamos para o artigo
566.º

2. O que entende por meios de tutela compulsórios?


Uma parte está obrigada com outra à realização de uma prestação, e não o fez. O
ordenamento jurídico traz alguns meios que viabilizam que o credor possa demandar o
devedor, em sede judicial, por uma medida compulsiva, pedir que ele seja condenado numa
medida compulsiva, de forma a compelir. Podem ser divididos em dois grandes polos uns
só podemos recorrer através dos tribunais, e outros viabilizam a que nós mesmos
possamos fazê-lo.
Juros de mora (806.º); sanção pecuniária compulsória (829.º-A)
Direito de retenção – 754.º e 755.º - o critério geral está no artigo 754.º e quais são os
pressupostos? Tem de haver reciprocidade entre a coisa que eu retenho e o crédito que
viso garantir. Excecionalmente, a lei prevê algumas situações especiais, situações em que
se pode reter coisas que não estejam diretamente relacionadas com o crédito, que são as
situações do artigo 755.º f)
428.º - entre particulares, possibilidade de invocarmos a exceção de não cumprimento do
contrato
3. Que sanções conhece que se traduzem na negação de efeitos jurídicos dos
negócios?
405.º - as partes podem celebrar livremente contratos
Há uma grande preocupação na elaboração de contratos e na sua celebração.
Se tiver clausulas violadoras de normas imperativas, o contrato é nulo. Consoante o tipo de
normas que violarmos, as consequências são diferentes. Exemplos de contratos que violam
a lei:
o A doutora vendeu-me um planeta. Este contrato é valido? Não, é nulo – 280.º o
objeto é impossível
o A doutora faz um contrato com a Rita em que ela atira acido sulfúrico a todos os
homens que aparecem – é valido? Não, pelo 280.º nº2, é um contrato contrário à
ordem publica
o A doutora faz um contrato de compra e venda da sua casa à Rita mas não quer
pagar impostos, nem a Rita vai pagar imposto de selo nem IMT. Decidem fazer por
documento particular. O contrato é válido? Não, é nulo por vicio de forma – 220.º -
quando um contrato, ao ser celebrado, não respeita a forma que a lei impõe, o
contrato é nulo.
o A Doutora quer um anel da Rita por meio de doação e se ela não doar a doutora
vaza fotos comprometedoras. A Rita sente medo. A isto chamamos de coação
moral. A declaração negocial da Rita coincide com a vontade real dela? Não, a
vontade está viciada. O que é que acontece a um negócio que foi feito com coação
moral? É anulável. Já não é a nulidade que está aqui em causa, é a anulabilidade.
o A Doutora quer que a Rita lhe venda a casa dela e a Rita diz que não vende. Numa
primeira hipótese, a Doutora droga a Rita e faz-lha assinar o documento, não tendo
consciência do que estaria a assinar. Numa segunda hipótese, ameaça a Rita com
uma faca para que ela assine. Tanto num caso, como outro, falta de consciência ou
coação física, o negócio não é inválido, é inexistente. A lei nem sequer reconhece a
isto qualquer materialidade de contrato. Há aqui uma resposta do direito para a
violação de certas normas. Dependendo do tipo de normas que violamos, o direito
traz a solução de negar a produção de efeitos. As sanções que preveem a negação
de efeitos jurídicos são:

Ineficácia jurídica em sentido amplo

Inexistência jurídica invalidade jurídica invalidade em sentido


estrito

Anulabilidade Nulidade
Inexistência jurídica – violações de tal modo graves e grosseiras que o legislador
considera que não há sequer negócio, não existe. A lei nem acha que houve negócio. Uma
coisa que é inexistente não produz efeitos. Ex. 245.º, 246.º.
Invalidade jurídica – o que vai determinar que um negócio seja nulo ou anulável? Vai ter a
ver com o tipo de norma violada. Para ser nulo, a lei tem de o dizer.

Nulidade (286.º + 289.º) Anulabilidade (287.º + 288.º + 289.º)

Invocável a todo o tempo; Invocável dentro de 1 ano após a cessação


Invocável por qualquer interessado; do vício;
Pode/deve ser declarada oficiosamente (ex Direito potestativo extintivo – quando acaba
officio, por força do ofício que se ocupa, por o prazo, extingue-se por caducidade;
força das funções que se ocupa, pelo Invocável por aquele em cujo o interesse a
tribunal); lei estabeleceu a anulabilidade;
É insanável – um negócio nulo jamais pode Não é possível de ser declarada
tornar-se válido; oficiosamente sem declaração prévia;
Não produz os efeitos jurídicos pretendidos É sanável – há duas formas: 1.
pelas partes; Confirmação (288.º) e 2. Decurso do
O negócio jurídico é nulo quando viola uma tempo, do ano que tinha para invocar
norma que protege um interesse público. O negócio jurídico é anulável quando viola
Por exemplo, qual é o interesse publico que uma norma que protege um interesse
o artigo 875.º visa proteger? Só exigindo particular. O negócio feito sob coação
esta forma é que se protege e se garante o moral é anulável porque se pretende
pagamento de impostos sobre esse bem. proteger o interesse da pessoa coagida, e
não de todos nós.
O negócio jurídico anulável produz efeitos
jurídicos provisórios – até que um negócio
anulável se torne válido, os efeitos são
provisórios, pois a qualquer momento
dentro daquele ano podem ser desfeitos.

4. Quais as fontes de direito no ordenamento jurídico português?


MUITO IMPORTANTE – PONTO 12 DO SUMÁRIO 10 – SAI IMENSO EM EXAME
Fontes de Direito

Imediatas Mediatas

Lei (artigo 1.º) normas corporativas Equidade (4.º) Usos (3.º)

Um uso não é um costume! O Costume, na ordem jurídica interna, não é fonte de direito. A
nível internacional, de direito internacional publico, o costume é a principal fonte de direito.
Qual é a diferença entre um uso e o costume? No costume, a pessoa tem a convicção de
que, se não o fizer, vai ser punida. No uso, a pessoa faz, mas sabe que se não o fizer não
ocorre nenhuma sanção. Todas as práticas sociais reiteradas que as pessoas faziam por
obrigação foram escritas na lei. exemplo de um uso que as pessoas fazem mas não há
convicção de obrigatoriedade: cumprimentar alguém. Os usos passam a ser obrigatórios se
a lei o disser.
Apesar de o artigo 1.º não escrever em lado nenhum os princípios fundamentais de direito,
estes são fonte de direito – o artigo 1º não é taxativo.

5. Quando é que se torna obrigatória uma lei e para que serve a vacatio legis?
Quando é publicada no DR – artigo 5.º nº1
Mesmo que calhe a um domingo, entra no 5º dia a contar da publicação se a própria lei não
disser em que dia entrará em vigor.
Remeter do artigo 5.º nº2 para o artigo 2.º nº2 da lei dos formulários
A vacatio legis é, como sabemos, o período que medeia entre a publicação e a entrada em
vigor da lei. para que serve? Para que os destinatários da lei a leiam, a compreendam, a
entendam, e, quando entrar em vigor, já estarem conscientes dela – artigo 6.º, ninguém
pode usar a desculpa de que desconhecia a lei.

6. Quais os modos de cessação de vigência da lei?


Caducidade (diferente da caducidade de direitos)
o Leis temporárias
o Perda do objeto (leis transitórias. Ex. leis do
covid)
o Deixa de haver destinatários (ex. subsídio dos
combatentes do Ultramar)
Cessação da vigência da lei
Revogação
o Global – se revogar a lei toda, é global
o Parcial – se revogar apenas umas normas, é
parcial
o Expressa
o Tácita

Para que uma lei cesse a vigência por caducidade, é preciso que se faça outra lei a dizer
isso? não é automático. Por sua vez, na revogação, isto implica que tenhamos uma lei que
revogue a anterior. A lei revogatória vem cessar a vigência de uma lei anterior. Precisamos
sempre que o legislador legisle uma nova lei para sabermos que a outra lei cessou.

Trazer resolvidas estas questões na próxima aula:


7. Quando é que ocorre a revogação tácita de uma lei?
8. Diga em que consiste o princípio da não repristinação da lei

9. Em que consiste o princípio da não retroatividade da lei?

10. Quais os graus de retroatividade e em que consistem?

Nota: ver os casos práticos de aplicação da lei no tempo – na próxima aula vamos trabalhar
sobre eles; ver a lei 74/2008 (imprimir e levar para o exame + código civil e CRP)

PARA O EXAME – relembrar de levar a Lei n.º 74/98, com as alterações introduzidas pelas Lei nº
2/2005, de 24 de Janeiro, Lei nº 26/2006, de 30 de Junho, Lei nº 42/2007, de 24 de Agosto, e Lei n.º
43/2014, de 11 de Julho; a CRP E O CC

13 de dezembro
Princípio da não repristinação da lei  artigo 7.º nº4 – quando uma lei revoga outra,
temos uma lei revogatória e uma lei revogada. Uma lei cessou a vigência de outra lei,
quando esta lei revogatória também ela for revogada, será que este facto implica que a lei
revogada anteriormente renasça? Este princípio diz-nos que não. o facto de a lei 3 revogar
a lei 2 não determina que a lei 1 renasça, mas há exceções. O legislador pode dizer que
quer que a lei 1 renasça, ou o tribunal constitucional considerar a lei 2 não constitucional, e
então o que ela revogou volta a renascer (282.º CRP).
(casos práticos do 1 ao 6) – aplicação da lei no tempo
Para começar um caso prático de aplicação da lei no tempo (ver os critérios de correção)
temos de entender se estamos perante um conflito de lei no tempo. Quais os 2
pressupostos que se tem de verificar cumulativamente?
1. Uma lei posterior que revogue uma lei anterior que trate da mesma matéria; faz-lho
de forma expressa, ou não, e se não, quais os critérios para concluirmos que a lei a
revoga? Critério da especialidade – 7.º nº3 uma lei que tem natureza especial não
revoga uma lei que tem natureza geral e vice-versa, exceto se for vontade
inequívoca do legislador; critério da superioridade – a lei revogatória tem de ser pelo
menos hierarquicamente igual ou superior à lei revogada; critério da posterioridade –
a lei mais recente revoga a lei mais antiga, pois corresponde a uma vontade mais
atualizada do legislador.
Tem de haver duas leis, sobre a mesma matéria, que sucedem no tempo.
2. Para além disto, as duas leis tem de ter conexão com a mesma relaçao jurídica –
quando uma relaçao jurídica é duradoura. Ela foi constituída ao abrigo da lei antiga,
e durante a produção dos seus efeitos foi criada uma lei nova sobre essa relaçao. É
preciso que a relaçao jurídica esteja a produzir efeitos! Senão, não há conflito entre
as 2 leis.
O primeiro ponto para começarmos a responder a qualquer caso prático é explicar quando é
que estamos perante um conflito de leis no tempo, e se no caso concreto estamos perante o
dito conflito.
O segundo tópico é percebermos que a lei nova vem criar um conflito, e então onde vamos
buscar a nossa solução prioritária? Disposições transitórias da lei nova – a própria lei nova
pode resolver o problema. A própria lei nova limita-se a dizer expressamente que lei se
aplica àquela relaçao. A disposição transitória também pode ter carater material – vem
estipular um regime misto, um terceiro regime  não é o regime igual ao da lei antiga, mas
também não é igual ao da lei nova. Destina-se a fazer uma transição suave entre os 2
regimes.
Se a lei nova for omissa, não há disposições transitórias, como resolvemos? É preciso aqui
atentar: uma lei nova é diferente de lei interpretativa! Esta última é uma lei que não traz
nenhum regime jurídico novo, simplesmente existe uma lei anterior e essa lei anterior está a
gerar muitas dúvidas de interpretação. O legislador vem fixar qual é o sentido com que deve
valer aquela lei anterior.
Se for uma lei nova que fale sobre prazos, não é o artigo 12.º. o artigo 12.º aplica-se
quando a lei nova não é interpretativa (13.º), não fala sobre prazos e não tem disposições
transitórias.
Nota: temos de explorar o nº1 do artigo 12.º!
Por via de regra, o princípio plasmado no artigo 12.º nº1 primeira parte é o princípio da não
retroatividade da lei. Temos de o explicar! Significa que esta lei vai apenas aplicar-se a
relações jurídicas a constituir-se dai para a frente. Aos factos jurídicos que se vão constituir
(factos futuros e seus efeitos) aquando a entrada em vigor da lei nova. A exceção é que a
lei pode ter eficácia retroativa  o que significa? A lei aplica-se a factos futuros mas
também se aplica a factos jurídicos que tenham sido constituídos antes da sua entrada em
vigor e que ainda estejam a produzir efeitos.
Em que grau/profundidade de retroatividade é que a lei nova se aplica se for retroativa?
Grau mínimo, ordinário, ou normal – o que significa? a lei nova não vai alterar nenhum
efeito que tenha sido produzido antes da entrada em vigor da lei nova, mas os efeitos que
ainda se vão produzir, esses efeitos futuros, vão ser abrangidos pela lei nova. A efeitos
futuros dos factos passados, e é retroativa porque se está a aplicar a factos passados.
(artigo 12.º, nº1, segunda parte).
Agora sim vamos analisar o caso prático em questão.
No artigo 12.º nº2 temos 3 hipóteses: duas previstas e uma terceira que implicitamente
retiramos do que lá está escrito (interpretação enunciativa a contrário sensu)
1ª parte – lei nova versa sobre condições de validade (formal;
substancial) – não é retroativa!!
Artigo 12.º nº2 lei nova versa sobre conteúdo da r.j. abstraído do facto que
deu origem – a lei nova É retroativa!!! Quando se abstrai.
2ª parte
Lei nova versa sobre conteúdo da r.j. não se abstraindo dos
factos que deram origem – esta não está escrita, mas se não
se abstrair é porque a lei não é retroativa, entende-se contrário
sensu do que vimos anteriormente.
Conteúdo – quando a lei nova vem falar dos direitos e deveres jurídicos que as partes na
relaçao jurídica têm. Ex. direitos do dono da obra. Ou a lei vem falar desse conteúdo
fazendo expressa referencia ao facto que esteve na origem dessa r.j., ou ela fala desse
conteúdo não distinguindo como é a que a pessoa chegou àquela relaçao jurídica. Se ela
não fizer referência, abstrai-se dos factos.
Nota: superficiário – dono, titular, de um direito de superfície. Ex. da bomba de gasolina
(1524.º); (1528.º) há 3 factos que podem constituir a r.j., contrato, testamento, usucapião.
Quando a lei nova não se abstrai do facto que deu origem, ela não é retroativa. Se a lei
disser “os superficiários passam a ter os seguintes deveres”, está-se a abstrair do modo
como se constituiu a r.j, e então será retroativa.
Interpretação enunciativa – “para bom entendedor meia palavra basta” – o legislador não
precisa de dizer tudo. O legislador não precisa de dizer a mesma coisa pela negativa e pela
positiva. Nós lemos o implícito. Esta interpretação faz-se por recurso a instrumentos lógicos.
Contrário sensu – este argumento só pode ser usado na interpretação de normas
excecionais, e porquê? Porque se nós lermos o contrário do que a norma excecional diz,
caímos no regime-regra. São o oposto uma da outra.

Teste – 3 partes (uma primeira parte teórica em que vão sair questões como a das fontes
do direito, ou direitos subjetivos, modalidades da justiça, presunções…; o grupo 2 e o grupo
3 são casos práticos, e o grupo 3 é um caso prático de aplicação da lei no tempo; o grupo 2
pode ser caducidade e prescrição de direitos ou tutela)

Caso Prático 1

Amílcar celebrou com Bernardo, a 25 de Maio de 2016, um contrato de compra e venda de uma coleção de
selos pelo valor de 20.000 euros por um mero documento particular assinado por ambos, segundo exigia a lei
vigente. O valor seria pago em 20 prestações de 1.000 euros, sendo que a primeira vencer-se ia no primeiro
dia útil de julho de 2016 e as restantes em igual dia dos meses subsequentes. Todavia, a 15 de Outubro de
2016 foi publicada uma nova lei que exige escritura pública para os contratos do mesmo tipo que Amílcar e
Bernardo celebraram.

Deverá o contrato entre Amílcar e Bernardo ser considerado inválido em face da entrada em vigor da lei nova?

Nota importante: “publicada” – se a lei não disser, entra em vigor no 5º dia após a
publicação; art. 2.º nº4 da lei dos formulários.
O dia 15 não conta – no dia 20 entra em vigor (5.º nº2 cc e 2.º nº2 da lei dos formulários –
temos de os citar SEMPRE que virmos a palavra publicada)
Se o caso pratico disser que a lei nova entrou em vigor, não é preciso fazer isto. Só quando
temos a palavra “publicada”, achar o dia em que ela entrou em vigor.
O contrato foi celebrado dia 25 de maio, ele produz efeitos ao longo do tempo ou não? pelo
menos durante 20 meses, pois está dividido em prestações.
No momento em que fizeram este contrato, a lei antiga dizia que era preciso Documento
Particular.
Em outubro de 2016 foi publicada uma lei nova, que só vai entrar em vigor dia 20 de
outubro como vimos antes. temos conflito de lei no tempo? Sim, porque a relaçao jurídica
ainda está a produzir efeitos. Assim, verifica-se o conflito da lei no tempo.
Como resolvemos? A lei nova tem disposições transitórias? No enunciado não nos é dito
(temos de dizer em exame se tem ou não e explicar o que são). É uma lei interpretativa?
Não. fala de prazos? Não. então, caímos no artigo 12.º - princípio da não retroatividade,
exceção, grau mínimo etc (explicar).
12.º nº2 – esta lei nova diz que agora, para o contrato de compra e venda, é preciso
escritura publica. Fala de conteúdo ou forma? É uma lei que dispõe sobre condições de
validade formal – 12.º nº2 primeira parte  a lei nova não é retroativa. Assim, não se aplica
ao contrato deles.
Se não fosse a prestações, já seria de execução instantânea, e então os efeitos já não se
estariam a produzir. Não haveria um conflito de lei no tempo neste caso.

Caso Prático 2

Imagine que António foi intercetado pela Brigada de Trânsito enquanto conduzia com uma taxa de alcoolémia de
1,2 gramas por litro de sangue, o que atualmente consubstancia a prática de um crime punível com pena de
prisão até 1 ano ou multa até 120 dias, para além da inibição de conduzir por um período de 3 meses a 3 anos.
António é submetido a julgamento por esse facto, sendo que entretanto surge uma lei que refere que só
consubstancia a prática de crime a condução sob efeito do álcool acima de 1,5 g/ por litro no sangue.

Esta lei aplica-se a António? Justifique legalmente a sua resposta.

Retroatividade in mitius – está plasmada na CRP em relaçao ao direito penal; este, por via
de regra, nunca é retroativo; aqui é retroativa em grau máximo; a doutrina e a jurisprudência
tem estendido esta retroatividade in mitius a outros campos;
Nota: há 3 situações em que, por via de regra, e são previstas constitucionalmente, em que
não existe retroatividade NUNCA:
1. Direito penal – 29.º CRP
2. Direito fiscal – 103.º nº3 CRP – não pode criar-se um imposto sobre rendimentos
que seja aplicável a rendimentos auferidos anteriormente à entrada em vigor da lei
nova
3. Direitos, liberdades e garantias – 18.º nº3
No nosso caso aplicava-se o artigo 29.º nº4 CRP da retroatividade in mitius.

Caso Prático 3

Albino vendeu a Berta, no dia 30 de Janeiro e na Praia de Ribeira de Ilhas, um jet ski, da marca Kawasaki, pelo
preço de 4.000,00 euros. Albino entregou de imediato o jet ski a Berta. Todavia, acordaram que Berta só pagaria a
Albino o montante acordado no dia 25 de Fevereiro. A lei em vigor no momento da celebração do contrato
estipulava que o lugar de pagamento, na falta de estipulação das partes, deveria ser o lugar da celebração do
negócio. A 3 de Fevereiro de 2016, foi publicado em Diário da República uma lei que refere que, na falta de
estipulação das partes, o lugar para pagamento seria o domicílio do credor. Berta, apercebendo-se que ela e
Albino nada estipularam acerca do local de pagamento, quer agora saber qual a lei aplicável à sua situação.

O momento em que a Berta ia pagar era 1 mês depois do contrato celebrado


O lugar ser ali resultou ou não resultou da vontade indireta das partes? Sim.
“foi publicado” – lembrar de analisar em que dia entra em vigor a lei – entra em vigor a 8 de
fevereiro;
Estamos perante um conflito de lei no tempo? Sim.
A lei nova refere que, na falta de estipulação das partes, o lugar do pagamento seria o
domicílio do credor  a lei nova altera o local.
Onde é que vamos ver a resolução? Na lei nova. Tem disposições transitórias? Nada nos
diz o enunciado. É interpretativa? Não, nem tem prazos, então aplica-se o art. 12.º - explicar
o princípio regra, a exceção, o grau mínimo.
A lei nova vem falar sobre a forma do contrato? Não. a lei nova vem falar sobre requisitos
para que se possa celebrar o contrato? Não. a lei nova vem falar do conteúdo da relaçao
jurídica – 12.º nº2 segunda parte.
A lei nova abstrai-se do facto que deu origem à relaçao jurídica, ou não? não se abstrai,
pois está a referir-se ao contrato ao dizer “na falta de estipulação das partes”. Assim, a lei
nova não é retroativa, então o lugar do pagamento será na praia.
Nota: As normas dispositivas podem ser afastadas, então, se a lei nova for de natureza
dispositiva, ela nunca se abstrai do facto que deu origem à relação.
Há uma situação em que, nos contratos, mesmo que a lei nova não se abstraia do contrato,
mesmo assim ela é retroativa, que é quando falamos dos contratos de longa duração e se o
novo regime jurídico for mais benéfico à parte mais débil do contrato.

Caso Prático 4

Suponha que no dia 02 de Janeiro deste ano (2016) entrou em vigor uma lei que estabelece entre os
pressupostos para o exercício da profissão de assistente social que o candidato não tenha sido condenado por
violência doméstica nos últimos cinco anos.

António candidata-se para exercer a profissão. Sucede, todavia, que em 2012 foi condenado por decisão
transitada em julgado pela prática do crime referido. António considera que a lei é retroativa e, como tal, não lhe
pode ser aplicada.

Terá razão?

Batista Machado – “função estabilizadora e função dinamizadora”


Ninguém pode ter a expectativa de que a lei nunca vai mudar.
Se no dia 2 de janeiro ele já fosse assistente social, esta lei retirar-lhe-ia o estatuto? Não.
ele já tinha adquirido. Quando ele ingressou na categoria, não existiria este pressuposto, e
ele respeitava os requisitos, no entanto, ele ainda não ingressou, apenas quer ingressar, e
para o fazer ele tem de respeitar determinados requisitos – pressupostos, condições de
validade substancial. Assim, esta lei não é retroativa. Ele não tem razão, a lei aplica-se a
ele.
Caso Prático 5

O artigo 2166.º do Código Civil prevê no n.º 1, alíneas a) a c), os fundamentos para a deserdação. Suponha
agora que uma nova lei surge e vem acrescentar ao n.º 1 daquele artigo uma nova alínea d), na qual se
estipula como fundamento para a deserdação ainda os maus tratos e abandono praticados contra o autor da
sucessão (falecido). Inácio faleceu em 31 de Março de 2015. A partilha foi feita em 30 de Setembro de 2015. A
nova lei foi publicada no Diário da República a 20 de Setembro de 2015, nada referindo acerca do seu início de
vigência. Augusto, filho de Inácio, preenche os pressupostos enunciados na nova alínea d) do art. 2166.o
acrescentada pela lei nova. Filipe, irmão de Augusto, sustenta que este não pode, por isso, ser herdeiro de
Inácio.

a) Terá Filipe razão?

b) E se a nova lei tivesse sido publicada em 20 de Março de 2015, a sua resposta seria a mesma?

Nota: relembrar que o facto que origina o direito de herdar é a morte do de cujus.
A nova lei foi PUBLICADA no dia 30 de setembro, sem referir o início da sua vigência –
entra em vigor em 25 de setembro de 2015
O augusto já é herdeiro a 31 de março, com o facto da morte do pai. Quando a pessoa
falece, ele não tinha nenhum dos pressupostos das alíneas a) a c). Ele preenche as
condições de validade substancial para ser herdeiro. Filipe não tem razão.
E se a lei tivesse sido publicada a 20 de março de 2015? Entraria em vigor em dia 25 de
março. Aqui, seria antes da morte do pai, então ver-se-ia se o augusto cumpria os
requisitos.
Nota: de qualquer forma este caso prático foi abandonado porque apenas o autor da
sucessão pode, em testamento, declarar alguém indigno ou deserdar.

Caso Prático 6

Joaquim considera-se citado no dia 10 de Outubro para apresentar a sua contestação, no âmbito de um
processo judicial que fora contra si intentado por Susana, dispondo de um prazo de 30 dias para o efeito. Diga,
com base em cada uma da hipóteses abaixo mencionadas em que dia terminará o prazo para Joaquim
apresentar a sua contestação, justificando legalmente a sua resposta.

a) Uma lei nova entrou em vigor a 25 de outubro de 2016 dispondo que o prazo para apresentar contestação é
de 40 dias;

b) Uma lei nova entrou em vigor a 28 de outubro de 2016 dispondo que o prazo para apresentar contestação é
de 15 dias;

c) Uma lei nova entrou em vigor a 17 de outubro de 2016 dispondo que o prazo para apresentar contestação é
de 15 dias;

Nota: tem de haver um prazo que começou a ser contado, ainda está em curso, e durante o
seu curso entrou em vigor uma lei com um prazo diferente para aquele tipo de ato.
Conjugação do artigo 297.º e do artigo 279.º - o que diz o 279.º alinea b) e alinea e)
O dia a partir do qual se começa a contar o prazo, esse dia, nunca conta. Ex. sou notificada
para fazer algo, e nesse dia em que fui notificada esse dia não conta. A alinea e) um prazo
que termine num sábado, domingo ou feriado transfere-se para o dia útil seguinte.
A lei nova pode vir aumentar o prazo que a lei antiga previa, ou pode vir encurtar o prazo
que a lei nova previa. Se a lei nova aumentar o prazo que estava previsto, a solução está no
artigo 297.º nº2. Se vier encurtar, vier estipular um prazo mais curto, a resposta está no
297.º nº1.
Joaquim tem 30 dias para contestar.
a) Nota: diz “entrou em vigor”, e não “publicado”. Tendo entrado em vigor, não temos
de analisar.; há um conflito de lei no tempo aqui ou não? o prazo ainda está em
curso? O dia 10 não conta (279.º alinea b)), então o primeiro dia dos 30 dias é dia
11. Quando termina o prazo? Dia 9 de novembro (279.º alinea e)). Então, temos um
conflito. A lei nova aumenta ou encurta o prazo antigo? Aumenta, então aplicamos o
artigo 297.º nº2 – sublinhar “mais longo” – a lei nova aplica-se aos prazos que estão
em curso, mas desconta-se o prazo que já correu ao abrigo da lei antiga. Pegamos
nos 40 dias que temos agora e contamos a partir do dia em que foi citado.
b) Fixou 15 dias – temos conflito de lei no tempo? Pela lei antiga acabava a 9 de
novembro, e a lei entra em vigor a 28 de outubro. Temos um conflito de lei no tempo.
297.º. encurta o prazo – 297.º nº1; sublinhar “mais curto”; desde quanto se conta o
prazo? Só se conta a partir da entrada em vigor da lei nova, ou seja, do dia 28 de
outubro. Quando acaba o novo prazo pela lei nova? O dia 28 não conta pelo artigo
279.º alinea b); acaba a 12 de novembro. “a não ser que”, deixa de se aplicar a lei
nova, se segundo a lei antiga falte menos tempo para se completar, que é o nosso
caso. A lei antiga é que se vai aplicar! Porque é que o legislador diz que continua a
ser a antiga sendo que acaba mais cedo? Pela aplicação de uma lei que prevê
menos prazo, a pessoa ia ter mais tempo. Isto não faria sentido. Aplica-se a exceção
do artigo 297.º nº1 segunda parte.
Nota importante: se a lei nova ampliar o prazo, pegamos na lei nova e contamos desde a
citação. Se a lei nova encurtar o prazo, temos imediatamente de contar o prazo da lei antiga
até ao fim, e contamos o prazo da lei nova desde a sua entrada em vigor. Aquela que
acabar primeiro é aquela que se aplica!

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