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20 de setembro
Código Civil:
1. Livro 1 – Parte Geral (1º a 396.º - introdução estuda do 1º ao 13.º)
2. Livro 2 – Direito das Obrigações (397.º a 1250.º)
o Modalidades:
Responsabilidade civil:
Extracontratual – 483.º princípio geral da responsabilidade civil
Contratual
Contratos
Gestão de negócios
Enriquecimento sem causa (ESC)
3. Livro 3 – Direito das Coisas (Direitos Reais – Res rei) – 1251.º
o Direito de Propriedade
o Posse
4. Livro 4 – Direito da Família – 1576.º a 2023.º
o Casamento
o Divorcio
o Regimes de bens
5. Livro 5 – Direito das Sucessões – 2024.º a 2334.º
o Abertura da sucessão
Necessidade
Alteridade
Exterioridade
Estatalidade
Imperatividade
Obrigatoriedade
Coercibilidade – caraterística que se impõe depois de eu violar a norma
Distinguir coercibilidade de coação
Tanto a coação como a coercibilidade vamos traduzir para forças = força da norma jurídica.
A coação é a força que deve funcionar no sentido de evitar que a norma seja violada, mas,
todavia, esta força às vezes não é suficiente, e a norma é violada. Assim, funciona outra
força, a coercibilidade – a aplicação da sanção por via da força quando a norma é violada.
Exemplo de caráter penal: quando alguém comete um crime e o tribunal aplica a prisão
preventiva, isto é um reflexo da violação da norma. Esta medida de coação é um
mecanismo legal para forçar a pessoa a receber as sanções prescritas pelo direito.
Exemplo de caráter civil: A Bianca deve-me 5 mil euros e não paga. Tenho uma ação de
condenação que a condena a pagar, e ela não paga. Tenho um mecanismo que é a
penhora e na ação executiva tiro-lhe os bens para satisfazer o meu crédito.
Nota: não confundir esta coação com a coação física e com a coação moral e com as
medidas de coação. São palavras homónimas, escrevem-se de maneira igual, mas têm
significados diferentes.
Exemplo da coação a coação é a força que, com a existência de sanções, me desmotiva
a cometer atos ilícitos – exemplo da Doutora: eu quero matar alguém e vou ver a moldura
penal – se fosse 1 semana, por exemplo, haveria muito pouca força para me fazer não
cometer esse crime, mas sendo 8 a 16 anos, essa força já é forte para me fazer perder a
vontade de matar alguém.
Norma Jurídica
É uma regra para assegurar a segurança jurídica e a paz social.
Todas as normas jurídicas têm consequências jurídicas/ sanções? Não.
Artigo 202.º - qual a consequência jurídica? Nenhuma.
Artigo 1305.º igual
Normas jurídicas:
Qual é, então, a diferença entre estar moralmente obrigado e estar juridicamente obrigado?
A existência de sanção jurídica. Há uma norma jurídica que lhe impõe ou lhe proíbe um
certo comportamento. Se não o fizer há coercibilidade, aplicar-se-ão as sanções. Se estiver
moralmente obrigado, não há nenhuma norma escrita, não há consequência jurídica, mas
há sanções de ordem moral – remorsos, arrependimento.
11 de outubro
A Doutora não vai dar a aula pois há a Advocatus Summit.
18 de outubro
Notas iniciais
Ipso iure – por força da lei
De onde provém o direito natural? Há quem entenda que provém de uma entidade divina,
das leis divinas, e há quem acredite que resulta da natureza das coisas. Ainda não há uma
definição certa de onde vem o direito natural. No entanto, é algo inerente a todos.
O direito positivo ou ius positivo é o conjunto de normas positivadas, escritas, e sendo fruto
da vontade do homem e pode por ele ser alterado diverge de sociedade para sociedade.
Temos, em primeiro lugar, o direito objetivo – conjunto de normas jurídicas escritas,
positivas, que tem como finalidades 1. manter a paz social, 2. segundo critérios de justiça,
3. segurança jurídica e visa regular a convivência do homem em sociedade pautando
comportamentos, ditando quem tem direitos e quem tem deveres. Ele dita direitos, que
direitos é que ele dita? Direitos subjetivos.
Eu, sujeito, arrogo-me titular de um direito de pedir uma indemnização. A pessoa a quem eu
peço diz que não tenho direito nenhum. Que se passa aqui?
Jamais posso invocar ter um direito subjetivo se não tiver uma norma de direito objetivo a
conceder-me esse direito subjetivo. Quando digo que tenho direito a uma indemnização,
tenho de indicar a norma do direito objetivo que me dá esse direito, neste caso o 483.º.
O tipo de direito subjetivo pode ter várias modalidades:
Direito subjetivo em sentido amplo:
1. Direitos subjetivos
o Em sentido estrito/ Propriamente dito – temos o titular ativo e o titular passivo
e o titular ativo tem sempre um Direito e o titular passivo tem o dever jurídico
respetivo (obrigação)
Direitos subjetivos relativos/ de crédito – a eficácia deste direito é
interpartes – os direitos relativos de crédito nascem de contratos que
as partes podem celebrar entre elas. (artigo 405.º liberdade
contratual, são livres de contratar, dentro dos limites da lei). 406.º nº2
– princípio da relatividade dos contratos. O objeto dos direitos
subjetivos relativos é uma prestação, um comportamento
ativo/positivo/de fazer. Por isto, dizemos que estes direitos são
direitos de colaboração.
Uma das finalidades do direito objetivo é que as pessoas vivam com segurança e certeza
jurídica – ninguém pode estar obrigado ad aeternum. “o devedor não pode estar sempre
com a cabeça na guilhotina”, não há direitos eternos. Da mesma maneira que o legislador
(direito objetivo) concede às pessoas direitos subjetivos, dá-lhes prazos dentro dos quais as
pessoas podem exercer esses direitos. Ao não exercer esse direito no prazo, subentende-
se que não o queria fazer- assim, deixa a pessoa de ter o direito ou deixa de ser a proteção
do legislador.
Existem factos ajuridicos – os que não produzem efeitos jurídicos. Ex. “hoje está vento”
Factos jurídicos – acontecimentos da vida real que têm consequências jurídicas. Ex. eu
destruí o telemóvel da Doutora, isto produz efeitos jurídicos.
Factos jurídicos
Efeitos jurídicos
Constitutivos
Modificativos
Extintivos – o tempo produz efeitos jurídicos instintivos – quais? A prescrição e a
caducidade de direitos subjetivos.
Os direitos subjetivos absolutos não caducam, não prescrevem e não se extinguem pelo
não uso. Porém, existem alguns direitos absolutos, nomeadamente de domínio, que
excecionalmente podem extinguir-se pelo não uso. Ex. direito de uso de águas (poço).
A semelhança entre a prescrição e a caducidade é que ambas acontecem devido ao
decurso do tempo.
O direito caducado é um direito extinto – o direito desaparece da esfera jurídica da
pessoa. A pessoa nunca mais vai ter esse direito.
A única consequência da prescrição para um direito subjetivo relativo é
simplesmente a perda da proteção judicial – eu sou titular de um direito subjetivo
relativo, dentro do prazo que a lei me dá tenho proteção. Ex. a doutora deve-se 50 mil
euros, posso exigir à doutora que me pague. Ela não paga, e eu vou ao tribunal – proteção
judicial. Dentro do prazo que a lei me dá, a lei dá-me proteção. Se eu vou exercer o meu
direito subjetivo relativo fora do prazo que a lei me deu para eu exigir, o que acontece? O
meu direito não se perde, continuo a tê-lo, mas o Direito abandona-me. Ou seja, posso
pedir à Doutora que me pague, mas o direito objetivo não me dá proteção judicial, não
posso ir ao tribunal exigir o pagamento, a doutora só paga se quiser, ela já não é
juridicamente obrigada a cumprir. O direito torna-se enfraquecido, perde a tutela judicial.
Artigo 309.º - 20 anos (regra geral).
Artigo 402.º - obrigação natural – quando não é judicialmente exigível e corresponde a um
dever de justiça moral e ético, mas o devedor se quiser não paga.
O prazo para exercer direitos subjetivos relativos não é sempre de 20 anos. Ex do artigo
310.º, 316.º, etc.
Exemplo: se formos ao 310.º, o direito de cobrar rendas num contrato de arrendamento
prescreve ao fim de 5 anos. A, senhorio, celebrou com B, arrendatário e inquilino, um
contrato de arrendamento habitacional. Podem celebrar? Sim. Deste contrato nasceu um
direito para o senhorio de receber rendas. A este direito corresponde o dever de pagar
rendas. Com isto, nasceu para o senhorio o dever de ceder o uso e fruição do locado, e
aquele dever corresponde o direito do inquilino de usar e fruir a casa. Ambos são direitos
subjetivos relativos, nasceram do contrato e têm eficácia interpartes. Este contrato foi feito
em 2016. Estamos em 2022. O inquilino não paga rendas desde 2016. O senhorio o que vai
fazer? Exigir o pagamento das rendas judicialmente.
As rendas de 2016 e 2017 estão prescritas, então não vai ter de pagar. Assim, alego a
prescrição relativamente a estas rendas. Em relaçao às outras terá de pagar. O senhorio
pode exigir as rendas de 2018, 2019, 2020 e 2021 e pode pretender as rendas de 2016 e
2017.
Imagine-se que o B não invoca a prescrição. o juiz pode detetar que um direito está
prescrito, mas não pode declarar a prescrição sem que a pessoa a quem esta aproveita a
tiver invocado. B tem de invocar a prescrição. se não invocou, o juiz condena em tudo
desde 2016.
Pergunta: o direito do senhorio de receber as rendas de 2016 e 2017 extinguiu-se? Não.
apenas se tornou fraco, deixando de ter tutela judicial.
E na caducidade? O direito potestativo não foi exercido no prazo que a lei dava – nota: há
direitos potestativos que não tem prazo, como é o caso do divórcio. Caducando, nunca mais
aquela pessoa tem esse direito. Exemplo: a joana (eu) tem umas fotografias da doutora em
pijama de luxo. Eu digo que se não me der 18 valores a introdução eu mostro a toda a
gente. Houve coação moral! Artigo 287.º nº1 – o direito de arguir a anulabilidade, a
anulação do negócio, caduca, se não for exercido no prazo de um ano. O direito de
anulação do negócio é um direito potestativo extintivo. A doutora deu-me o 18 e as
fotografias vazaram. Continua a estar coagida? Não. o vicio que a levou a dar-me o 18
cessou. Tenho um ano para anular o negócio. Intentei a ação de anulação 15 meses
depois. Tenho o direito de anulação? Não. o meu direito extinguiu-se, caducou. Eu esqueci-
me e não invoquei a caducidade, mas o juiz detetou que o direito da doutora tinha
caducado. O juiz pode declarar? SIM. Esta é a diferença do regime – dever ex officio. A
caducidade não precisa de ser invocada pela pessoa que a aproveita.
O negócio que era inválido tornou-se num negócio válido, convalidou-se. A única pessoa
que podia pedir a anulação do negócio perdeu esse direito.
303.º vs. 333.º - fazer a remissão para os artigos (um para o outro)
Artigo 303.º - (Invocação da prescrição)
O tribunal não pode suprir, de ofício, a prescrição; esta necessita, para ser eficaz, de ser invocada, judicial
ou extrajudicialmente, por aquele a quem aproveita, pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo
Ministério Público.
Artigo 333.º - (Apreciação oficiosa da caducidade)
1. A caducidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal e pode ser alegada em qualquer fase do processo,
se for estabelecida em matéria excluída da disponibilidade das partes.
2. Se for estabelecida em. matéria não excluída da disponibilidade das partes, é aplicável à caducidade o
disposto no artigo 303.º
Perguntas:
1. Qual a diferença entre estado de sujeição e obrigação passiva e universal?
O estado de sujeição é aquela pessoa que está sujeita à produção de efeitos
jurídicos derivado do exercício de um direito potestativo. Uma obrigação passiva e
universal surge no contexto dos direitos subjetivos absolutos em que, quando
alguém se arroga a um direito subjetivo absoluto, tem um direito que tem eficácia
erga omnes em que todos, o universo, têm uma obrigação passiva de não interferir
com o direito em questão.
2. Exemplificar em que contexto surge e significa uma obrigação natural – esta
encontra-se no âmbito dos direitos subjetivos relativos, que têm efeitos interpartes. A
esta obrigação natural contrapõe-se um direito subjetivo relativo enfraquecido, ou
seja, que deixa de ter tutela judicial, e isto acontece quando o direito não é exercido
no prazo previsto para a prescrição. o devedor deixa de ter uma obrigação civil, mas
uma obrigação natural.
25 de outubro
Ius strictum – quando o juiz não está autorizado a maleabilizar a lei, é a aplicação da lei tal
e qual ela está redigida “principio da dura lex sed lex”
Ius aequum – equidade – poder que o juiz tem de, perante um determinado caso, poder
não aplicar os estritos termos que a lei dita, aplicando uma solução mais suave. Pode ter
uma maior margem de manobra, pode afastar-se ligeiramente da rigidez da lei e encontrar
uma solução mais suave que cumpra os propósitos mas não seja duro, pode levar, para
efeitos de solução, a consideração dos casos em concreto. A própria lei estrita, rigorosa, ius
strictum, autoriza, em algumas circunstâncias, que o juiz tenha margem de decisão, que
possa recorrer à equidade. Toma em atençao as circunstâncias do caso, pondera, aplica
uma solução, mas esta mais suave do que a solução que resultaria da aplicação estrita da
lei.
Ex. a Doutora está chateada com a Juliana, quer-lhe causar dano, e parte-lhe o
computador. Violei o direito subjetivo absoluto de domínio. A doutora teve culpa ou não teve
culpa? Sim. A culpa é quando nós percebemos que o agente teve uma conduta censurável,
agiu sabendo que a pessoa vai ter um dano e mesmo assim atuar.
A culpa tem duas principais modalidades: o dolo e a negligência, conhecida como mera
culpa ou culpa leve. – assim, parece que temos duas modalidades de culpa.
Quando a doutora se dirigiu ao computador da juliana, não tinha intencionalidade de lhe
causar um dano? Sim. Isto é dolo quando a pessoa tem intenção ou não tem intenção
mas, sabendo que dali vai resultar um dano, conforma-se e não se importa.
Imaginemos que a doutora vai a correr e, por causa dos fios, cai, e parte o computador da
juliana. Teve intenção de o fazer? Não, mas foi desastrada, não teve o cuidado devido – isto
é negligencia. A negligencia é afrouxar os níveis de zelo e de cuidado e, como isso, causar
um dano.
Artigo 483.º - artigo basilar sobre a indemnização “com dolo ou mera culpa” – ius strictum
Artigo 494.º - “Quando a responsabilidade se fundar na mera culpa, poderá a indemnização
ser fixada, equitativamente” – ius aequum
Uma das finalidades do direito objetivo não era a justiça e a segurança? E a equidade não
pode ser um fator de insegurança? O juiz poder no âmbito da sua discricionariedade (dentro
dos limites da lei o juiz poder justa compor melhor o litígio) tomar decisões injustas? A
equidade é apenas para atenuar as injustiças e dar margem de manobra ao juiz para que
possa tomar decisões, sempre dentro dos limites da lei.
Direito Objetivo – aprendemos que era o conjunto de normas e o direito subjetivo é o direito
que alguém invoca
Nós invocamos direitos no âmbito e relações jurídicas que temos com pessoas, sejam
contratuais ou não.
Ou seja, os cidadãos mantém relações jurídicas não apenas entre eles! Estabelecemos,
também, relações de direito publico. Isto acontece quando os cidadãos constituem relações
jurídicas com o Estado ou outros entes públicos.
O que determina que o ramo seja publico ou privado? A primeira teoria que tentou fazer
esta divisão foi a teoria dos interesses. Esta teoria falha, porquê?
875.º - ela está no código civil, não há dúvidas que o código civil é direito privado. No
entanto, essa norma não protege interesses privados! Protege interesses públicos.
Teoria da supra ou infra ordenação – o direito regula relações privadas? É direito privado. O
direito regula relações jurídicas entre entes públicos? Publico. E quando há uma relaçao
entre um ente publico e um cidadão? Esta teoria dizia que bastava estar envolvido um ente
publico para ser direito público – isto não poderia vingar porque muitas vezes o Estado tem
relações privadas com entidades. O Estado não está a usar o seu poder, está a negociar
com os cidadãos/entidades, está no domínio do direito privado.
A última teoria diz que depende da posição em que o Estado está a atuar – se está a atuar
numa posição de igualdade com o cidadão, despido do seu poder, estamos no âmbito do
direito privado. Quando o Estado cobra impostos aos cidadãos está numa posição de
igualdade? Não, está investido no seu poder publico, soberano. Quando está no papel de
Estado, com soberania, é uma entidade publica. Por isso é que o Direito Fiscal é um ramo
de direito publico. Esta teoria da posição dos sujeitos é a que distingue os ramos de direito
publico de privado.
Nação – conjunto de pessoas ligadas entre si por etnia, tradição e língua ou idioma
População – são as pessoas residentes num determinado estado, sejam eles
nacionais ou não. o que os une é o local de residência num país
Povo – conjunto de pessoas que recebeu a nacionalidade do país
Território – qualquer estado tem de ter espaço sito, que engloba a terra, o espaço
aéreo e o mar.
Poder político – é o poder de definir uma ideologia, uma estratégia política, para um
país.
Soberania
Existindo Povo, Território e poder político pode existir Estado. São as 3 principais
caraterísticas.
A nação é um estado? Não, no entanto pode ser reconhecida uma nação. O exemplo mais
carismático que temos de nação é a Palestina. Temos ainda o exemplos dos Curdos, a
Catalunha, a Chechénia e temos os caxemires, que são uma nação distribuída entre o
Paquistão e a índia. Nota: Não é preciso que um estado seja soberano para que seja
considerado Estado! Ex. do Texas.
Função Executiva/administrativa
1. A lei só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.
2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os
seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos; mas, quando dispuser diretamente
sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem, entender-se-á que a
lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor.
TPC – aprendemos que a norma jurídica tem uma previsão e uma estatuição:
483.º
220.º
874.º e 879.º
122.º
1324.º
1305.º
787.º
1601.º
921.º
805.º
503.º
2152.º
1766.º
dizer, nestes artigos, onde está a previsão da norma e onde está a estatuição da norma
8 de novembro
(resolução do trabalho de casa)
TPC – aprendemos que a norma jurídica tem uma previsão e uma estatuição:
dizer, nestes artigos, onde está a previsão da norma e onde está a estatuição da norma:
483.º
Previsão – Aquele que com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios
Estatuição – Fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação
220.º
Estatuição – é nula quando outra não seja a sanção especialmente prevista na lei
Previsão - a declaração negocial que careça de forma legalmente
874.º e 879º
Previsão - (art. 874)
Estatuição - (art.879)
122.º
Previsão – quem não tiver ainda completado dezoito anos de idade
Estatuição – é menor
1324.º
Previsão – 1. Se aquele que descobrir coisa movel de algum valor, escondida ou enterrada,
não puder determinar quem é o dono dela
2. O achador
Estatuição – 1. torna-se proprietário de metade do achador, a outra metade pertence ao
proprietário da coisa movel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado
2. deve anunciar o achado nos termos do nº1 do artigo anterior, ou avisar as
autoridades, exceto quando seja evidente que o tesouro foi escondido ou enterrado há mais
de vinte anos.
1305.º
Previsão – O proprietário de um animal
Estatuição – goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das
coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela
impostas.
787.º
Previsão – Quem cumpre a obrigação
Estatuição – tem o direito de exigir quitação daquele a quem a prestação é feita, devendo a
quitação constar de documento autêntico ou autenticado ou ser provida de reconhecimento
notarial, se aquele que cumpriu tiver nisso interesse legitimo.
1601.º
Previsão – a), b), c)
Estatuição – são impedimentos dirimentes, obstando ao casamento da pessoa a quem
respeitam como qualquer outra
921.º
Previsão – Se o vendedor estiver obrigado, por convenção das partes ou por força dos
usos, a garantir o bom funcionamento da coisa vendida
Estatuição – cabe-lhe repará-la, ou substituí-la quando a substituição for necessária e a
coisa tiver natureza fungível, independentemente de culpa sua ou de erro do comprador.
805.º
Previsão – O devedor depois de ter sido judicial ou extrajudicialmente interpelado para
cumprir
Estatuição – fica constituído em mora
503.º
Previsão – Aquele que tiver a direção efetiva de qualquer veículo de circulação terrestre e o
utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermedio de comissario
Estatuição – responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que
este não se encontre em circulação
2152.º
Previsão – Na falta de cônjuge e de todos os parentes sucessíveis
Estatuição – é chamado à herança o Estado
1766.º
Previsão – a), b), c)
Estatuição – A doação entre casados caduca
Caso pratico
O António tem 14 anos e celebrou um negócio jurídico com a Beatriz que tem 18 anos. O negócio celebrado
entre ambos, traduziu-se numa permuta (contrato que tem 2 bens que são trocados).
O António em troca da caderneta de cromos, entregou a sua bicicleta, sendo que a bicicleta ronda o valor de 500
e a caderneta completa ronda esse mesmo valor.
Paralelamente António vendeu a Luís, de 20 anos, um Corvete que a sua avó lhe deixou em herança
15 de novembro
Capacidade jurídica – artigo 67.º - a pessoa pode ser parte numa relação jurídica
Há determinadas relações jurídicas em que a pessoa não pode ser parte? Testar, perfilhar e
casar – os negócios estritamente pessoais (a capacidade negocial de gozo é conditio sine
qua non) – toda a gente pode ser sujeito das relações jurídicas? Não. por via de regra, as
incapacidades são temporárias, pois uma pessoa não pode estar numa relaçao de
casamento mas é só até aos 16 anos, pois aí adquire a capacidade negocial de gozo. Se a
pessoa não tem a capacidade negocial de gozo, alguém pode suprir esta incapacidade?
Não, é insuprível.
Se olharmos para o artigo 67.º - as pessoas podem ser sujeitos de relações jurídicas, esta é
a regra. “salvo disposição em contrário” – é nos 3 negócios estritamente pessoais que as
pessoas não podem ser sujeitos da relaçao jurídica, falta-lhes capacidade negocial de gozo.
Não podem ser sujeito dessas relações jurídicas. (fazer as remissões para estes negócios
da expressão “salvo disposição em contrário”)
Uma pessoa com 17 anos, menor, pode fazer testamento? Depende – se não for
emancipado de forma plena, não pode. Se for um menor emancipado pode.
Um menor de 15 anos pode casar? Não. é um impedimento dirimente.
A emancipação atribui ao menor plena capacidade de exercício de direitos, habilitando-o a reger a sua
pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto no artigo 1649.º
1649.º - o menor que casar sem ter obtido autorização dos pais continua a ser considerado
menor para efeitos de disposição de bens – o menor de 16 anos tem capacidade de gozo
para casar mas, se não tiver tido autorização dos pais, não adquire emancipação plena e
continua sem ter capacidade para testar.
Nota: quando se fala de emancipado, é emancipado pleno!!
Fazer remissão do artigo 2189.º para os artigos 133.º e 1649.º
Uma coisa é eu ser parte, outra coisa é eu poder agir – ter capacidade de exercício. A
capacidade de exercício atinge-se somente com a maioridade, pois um dos efeitos de
atingir a maioridade é ter capacidade de exercício, de poder participar sozinha no tráfico
jurídico comercial. até lá, posso estar nestas relações jurídicas? Posso ser sujeito? Sim,
mas através da representação legal. De quem é o direito que está a ser exercido? Meu. Ao
contrário da capacidade negocial de gozo, que ou se tem ou não se tem, no caso da
capacidade de exercício, se eu não tiver, o artigo 124.º diz que o meu representante legal
vai exercer os meus direitos em meu nome e no meu interesse.
Não confundir representação legal com representação voluntária – é voluntaria pois
resulta da minha vontade, ao contrário da representação legal, que surge pois a pessoa
representante não tem capacidade de exercício.
Nota: uma pessoa, quando vai fazer um negócio jurídico, tem de ter atenção a requisitos
formais ou substanciais ou materiais – para que um negócio seja valido e eficaz, é preciso
que seja respeitada a forma exigida por lei, pois será invalido, até por nulidade, se não for
observada a forma. É preciso, também, que eu possa fazer esse negócio, que haja
condições de validade material/substancial. Se um menor que não tem capacidade de
exercício para exercer o negócio, não está representado, e chegou lá e assinou a escritura
da venda de uma casa de meio milhão, este negócio é valido? É nulo por faltar um requisito
material, de substância, ele não tem capacidade
Condições de validade – requisitos que têm de ser respeitados para o negócio ser válido.
Temos requisitos formais e substanciais/materiais.
Formais – só tem a ver com forma, tem de ser respeitada a forma que a lei
manda. Por via de regra, o negócio é invalido, e a consequência é a nulidade
(220.º)
Substanciais/materiais – são requisitos de ordem material, tem a ver com
pressupostos que a pessoa tem de reunir para celebrar o negócio. O negócio
será invalido e a consequência será a anulabilidade. Ex. duas pessoas são
casadas em regime de comunhão de adquiridos. Eu levo para o casamento
uma casa, é bem próprio, eu quero vender. Posso vender sem o
consentimento do meu marido? Não. apesar de o bem não ser dele, ele tem
uma palavra a dizer.
Capacidade delitual – vem da palavra delito, que quer dizer quando alguém pratica um facto
jurídico ilícito (um facto jurídico é um facto que vai gerar efeitos jurídicos)
Menção: Distinção de facto jurídico voluntário e involuntário – derivam da vontade do
homem, enquanto que os factos jurídicos involuntários não dependem da vontade do
homem, como o decurso do tempo. Depois, dentro dos factos jurídicos voluntários, temos
os lícitos e os ilícitos. A ilicitude consiste na prática de um facto/ ato que viola um direito
subjetivo de alguém (e maioritariamente direitos subjetivos absolutos) ou viola uma norma
que visa proteger o interesse alheio.
483.º - determina que a ocorrência desse facto tem consequências jurídicas – determina a
obrigação de indemnizar, reparar a lesão ou dano que eventualmente tenha causado
Para que o autor do ato, para que o agente, seja obrigado a indemnizar, é preciso que essa
pessoa tenha capacidade delitual – 488.º - o que é a imputabilidade? É a capacidade para
compreender e entender o que se está a fazer, o que advirá do ato. Se é inimputável, não
tem capacidade delitual.
488.º nº2 – a lei presume que uma pessoa que seja menor de 7 anos, em razão da sua
capacidade natural de imaturidade, não tem normalmente capacidade para perceber as
consequências do seu ato.
Exercício
420.º - atendendo à tipologia das normas que já estudámos, classifica a norma
Normas dispositivas
Permissivas, atributivas, concessivas, facultativas
Interpretativas (diferente de leis interpretativas!)
Supletivas
Artigo 67.º - norma de direito comum, norma geral – impõe o regime regra
Artigo 1601.º - norma de direito comum, norma excecional
Artigo 309.º - norma geral
Artigo 310.º - norma excecional – todos os prazos inferiores a 20 anos, a regra geral, são
situações excecionais
Artigo 219.º - os princípios presentes na parte geral do código são princípios gerais – é uma
norma geral
Artigo 875.º - norma excecional – só podem ser feitas por escritura publica ou DPA
Artigo 287.º - norma geral – será que no regime da nulidade não está regulada a
consequência de um menor praticar um negócio inválido?
Artigo 125.º - norma especial – o regime regra pode complementar o regime especial! “sem
prejuízo do disposto no artigo 287.º”
Artigo 1038.º alíneas a), b) e c):
Alinea a) norma imperativa preceptiva
Alinea b) norma imperativa preceptiva
Alinea c) norma imperativa proibitiva
Artigo 1081.º nº3 – norma imperativa preceptiva
Artigo 1081.º nº4 – norma dispositiva supletiva
Artigo 420.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 1078.º - o nº1 é uma norma dispositiva facultativa, o nº2 e seguintes são normas
dispositivas supletivas
Artigo 985.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 878.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 877.º - norma imperativa proibitiva
Artigo 787.º - para quem cumpre a obrigação é uma norma permissiva, e para quem tem de
dar a quitação é uma norma imperativa preceptiva
Artigo 784.º - norma dispositiva supletiva
Artigo 492.º - norma imperativa preceptiva – não é uma opção dele, ele é obrigado a
indemnizar
Atenção: na próxima aula teórica o Doutor vai dar presunções e ficções – ter muita atenção
às ficções legais e às presunções legais
22 de novembro
Perguntas:
1. Qual é a finalidade de uma ficção legal?
2. Qual é a finalidade de uma presunção legal?
3. Em que circunstancias podem-se formular presunções judiciais?
4. O que entende por meios coercivos normais?
5. Quais são os meios de autotutela que conhece e em que consistem?
Parece-nos um ónus probatório pesado. O que nos parece mais pesado de provar? A culpa.
O legislador sabe que, por via de regra, por exemplo, quem está obrigada a vigiar alguém
por causa da sua incapacidade, deve ter cautela e ser diligente, zelosa, etc.
À partida, por razoes de normalidade, estes acidentes acontecem porque os vigilantes
abrandaram as suas funções. Quando uma pessoa que precisa de ser vigiada causa dano a
uma pessoa é porque houve uma quebra nas funções de vigia. Presume-se que o vigilante
abrandou a sua diligência, é porque o vigilante foi negligente – o legislador presume a culpa
do vigilante.
Artigo 491.º - (Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem)
As pessoas que, por lei ou negócio jurídico, forem obrigadas a vigiar outras, por virtude da incapacidade natural
destas, são responsáveis pelos danos que elas causem a terceiro, salvo se mostrarem que cumpriram o seu
dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido.
As presunções legais são factos que o legislador presume a partir de factos que já
foram alegados e provados.
Nota: temos de saber distinguir uma ficção legal de uma presunção absoluta! Ambas podem
dizer “considera-se”, mas nas presunções temos dois factos, sendo que um se considera
assente e o outro é presumido. Se disser “considera-se sempre” já sabemos que isto é uma
presunção legal absoluta. Torna-se dúbio quando apenas começa com “considera-se”.
Exemplos:
Artigo 243.º - (Inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé)
1. A nulidade proveniente da simulação não pode ser arguida pelo simulador contra terceiro de boa fé.
2. A boa fé consiste na ignorância da simulação ao tempo em que foram constituídos os respectivos direitos.
3. Considera-se sempre de má fé o terceiro que adquiriu o direito posteriormente ao registo da ação de
simulação, quando a este haja lugar.
243.º nº3 – presunção absoluta – quando alguém compra depois de a ação de simulação
estar registada, a lei considera-o sempre de má fé, mas se comprou antes pode estar de
boa fé. A lei diz “se não sabia, soubesse, porque havia forma de fazer ao consultar o
registo”.
1. A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de outrem.
2. A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé.
3. A posse adquirida por violência é sempre considerada de má fé, mesmo quando seja titulada.
Nº3 - Quando alguém alega e prova que outra pessoa adquiriu a posse por violência, a lei
diz logo que este possuidor é de má fé – “considera-se sempre”.
Nº2 – “presume-se” – se eu tiver uma posse titulada, com título, presume-se que sou
possuidora de boa fé, mas isso não quer dizer que não tenha adquirido de má fé. O nº2 são
presunções relativas, enquanto que o nº3 são presunções absolutas.
Questão: o que é uma presunção legal híbrida?
As presunções híbridas são aquelas que são estabelecidas no contexto da paternidade. A
mãe é sempre certa, o pai é que pode ser qualquer um. Existem dois contextos para
estabelecer a paternidade: saber quem é o pai da criança se a mãe está casada. Quando
uma mulher, casada, tem um filho, quem é que normalmente é o pai? O marido.
Então, presume-se que o pai da criança é o marido da mãe. É preciso que o pai prove
cabalmente que não é o pai da criança? Não. basta alegar que há sérias dúvidas que ele
seja o pai.
Artigo 1871.º - (Presunção)
1. A paternidade presume-se:
a) Quando o filho houver sido reputado e tratado como tal pelo pretenso pai e reputado como filho
também pelo público;
b) Quando exista carta ou outro escrito no qual o pretenso pai declare inequivocamente a sua
paternidade;
c) Quando, durante o período legal da concepção, tenha existido comunhão duradoura de vida em
condições análogas às dos cônjuges ou concubinato duradouro entre a mãe e o pretenso pai;
d) Quando o pretenso pai tenha seduzido a mãe, no período legal da concepção, se esta era virgem e
menor no momento em que foi seduzida, ou se o consentimento dela foi obtido por meio de promessa de
casamento, abuso de confiança ou abuso de autoridade;
e) Quando se prove que o pretenso pai teve relações sexuais com a mãe durante o período legal de
concepção.
As presunções judiciais só são admitidas nos casos e termos em que é admitida a prova testemunhal.
Imaginemos que num caso em concreto, num julgamento, há um facto sobre o qual poderia
existir prova testemunhal mas não houve testemunhas. O juiz, sobre esse facto, pode
estabelecer uma presunção judicial? Sim. “é admitida”, é admitida mas pode não haver.
Nota: Há factos que só podem ser provados por documentos – 393.º - se isto acontecer,
não pode haver prova testemunhal sobre ele ou esta é absolutamente irrelevante. Se esse
facto que for provado por documento e o documento surgir, as testemunhas nem podem
depor a contrário do que está lá.
29 de novembro
Caso Prático 1
Maria Luísa caiu em casa quando subia a um banco para chegar a uma caixa de chocolates que tinha no seu
armário de cozinha.
Maria Luísa, na sequência desta queda, fez uma fratura exposta na zona do seu tornozelo e foi imediatamente
encaminhada para o hospital pela equipa de emergência médica que a socorreu 15 min depois de ter sido
chamada por Maria Luísa que, apesar das dores, conseguiu fazer a chamada de emergência pelo seu telemóvel
que tinha no bolso.
Rafael, namorado de Maria Luísa e contacto de emergência desta, foi chamado ao hospital e quando lá chegou
Maria Luísa disse-lhe que estava bem mas que se lembrara que deixara o ferro de engomar ligado em casa e tem
receio que este cause um incêndio, pedindo-lhe que lá fosse de imediato desligá-lo.
Rafael, com a azáfama, esquecera-se de pedir a chave de casa de Maria Luísa, a qual ainda não tinha, pois
apesar de namorarem há dois anos, a Maria Luísa não queria precipitar-se e quer que “as coisas decorram com
calma na relação” e tinha decidido ainda não ser o passo certo para os dois viverem juntos.
Quando Rafael constata que não tem a chave, já está em frente à porta da casa de Maria Luísa. Decidiu, então,
entrar pelas traseiras onde há uma pequena janela junto à porta, partindo a janela o prejuízo será menor do que
ter a casa incendiada devido ao ferro de engomar estar ligado sem supervisão. Assim o fez.
Contudo, dentro da casa estava a mãe de Maria Luísa que lá tinha ido mudar os lençóis e não sabia ainda que
Maria Luísa estava no hospital.
Assustada com o barulho da quebra do vidro da janela, a mãe de Maria Luísa julgou que a casa da filha estava a
ser assaltada e mal Rafael coloca a mão por dentro da janela partida para alcançar a fechadura da porta das
traseiras e abri-la, a mãe de Maria Luísa pega no ferro de engomar que estava ligado e coloca-o em cima da mão
de Rafael que gritou devido às fortes dores que tal queimadura lhe provocou.
2. Rafael teria algum direito a ser indemnizado pelos seus danos patrimoniais e por danos morais que haja
sofrido? Se a sua resposta for negativa, imagine que Rafael teria de ser indemnizado e diga como responderia
partindo desse pressuposto.
Há um erro acerca dos pressupostos da legitima defesa – 338.º - por parte da mãe de Maria
Luísa pois não há uma agressão! Ela agiu em legitima defesa, mas a legitima defesa dela
não é, na verdade legitima defesa. É legitima defesa putativa. Ela errou nos pressupostos.
338.º parte final – o erro é desculpável? Como sabemos? 487.º nº2 – vamos colocar na
posição da mãe da maria Luísa o homem médio – bónus pater família. Qualquer pessoa na
situação dela pensaria que iria ser assaltado.
A primeira coisa que Rafael poderia pedir era ou prova documental por fotografia ou perícia,
para entender como teria sido a situação. Mediante o caso concreto, veríamos se seria
possível a mãe de Maria Luisa saber quem é que estava a tentar entrar na casa.
Se o erro não fosse desculpável, a mãe de Maria Luísa teria de indemnizar. Em que
termos? Que tipo de danos temos? Morais (não patrimoniais) e patrimoniais. Se os danos
forem morais, então, não quantificados em dinheiro, pediremos uma compensação ao
abrigo do artigo 486.º. nota: este artigo diz que só os danos suficientemente graves é que
merecem a tutela do direito. O que é grave ou não vai ser o juiz a aferir no caso concreto.
Em relaçao ao dano patrimonial, que tipo de danos é que o Rafael sofreu? Os dois. Os
danos morais são a dor, provavelmente ficará com a cicatriz para sempre na mão, secalhar
vai-se sentir com pior autoestima, etc. isso tudo é merecivel de compensação. Mas ele tem
danos patrimoniais, como, por exemplo, as despesas dos tratamentos, internamento,
cremes, sessões de fisioterapia, etc. por exemplo, imaginemos que ele seria pianista,
deixaria de ter alguns trabalhos (lucros cessantes).
o 362.º - o legislador pretende uma reconstituição in natura (natural) – esta é a
preferida. Em que situações é que ela passa para a indemnização em dinheiro?
Se não for possível, de todo. Ex. partiu um jarro chinês da dinastia Ming – aí,
há lugar a uma substituição por indemnização em dinheiro
Se não é suficiente. Ex. o Rafael tem um hematoma e depois da fisioterapia
ficou bem. No entanto, por causa disso, deixou de trabalhar durante um mês.
É possível reconstituir naturalmente? Para o dano físico sim, mas isso não
chega, falta o dinheiro que ele deixou de auferir. Assim, complementamos
com dinheiro.
Se é possível mas é excessivamente oneroso para o devedor – exigir a
reconstituição natural ao devedor é muito mais custoso do que o dano que se
visa reparar.
o 566.º
o 496.º - compensação
Pergunta 2 – Rafael teria algum direito a ser indemnizado pelos seus danos patrimoniais e
por danos morais que haja sofrido? Se a sua resposta for negativa, imagine que Rafael teria
de ser indemnizado e diga como responderia partindo desse pressuposto.
Caso Prático 3
Durante a aula de Introdução ao Direito, a aluna Cremilde repara que o aluno Gervásio, sentado duas filas à
sua frente, tem um telemóvel exatamente igual ao que fora furtado a Cremilde dois dias antes no bar da
Universidade, inclusive, até a capa protetora era igual.
Furiosa, Cremilde espera pelo término da aula e quando Gervásio se abeira da porta de saída da sala com o
telemóvel na mão, Cremilde barra-lhe a saída puxando-o pelo braço para conseguir alcançar o telemóvel das
mãos de Gervásio e tirá-lo.
Gervásio refere que o telemóvel é seu, foi presente de Natal de seus pais e não lhe admite tal acusação.
Cremilde não se detém e insiste em puxar-lhe o braço e em tomar das mãos de Gervásio o telemóvel que diz
ser dela. Gervásio dá-lhe um pontapé e um empurrão para afastar Cremilde e vai embora. Cremilde que caíra
ao chão com o empurrão e pontapé, ficou com sérias lesões nas pernas e com um traumatismo no cóccix.
Apurou-se depois que o telemóvel era na realidade de Gervásio que efetivamente o recebera no Natal como
presente, tendo a fatura da compra na loja.
1. Quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou agravamento dos danos,
cabe ao tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas consequências
que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída.
2. Se a responsabilidade se basear numa simples presunção de culpa, a culpa do lesado, na falta de
disposição em contrário, exclui o dever de indemnizar.
6 de dezembro
PERGUNTAS
1. O que entende por meios de tutela reconstitutivos?
Violação de um direito
Obrigação de indemnizar – 564.º
Nota: reconstituição in natura/ natural – 562.º
Quando é que não é possível? Num dano moral, nunca é possível a reconstituição natural
(496.º ressarcimento dos danos morais); na indemnização em dinheiro vamos para o artigo
566.º
Anulabilidade Nulidade
Inexistência jurídica – violações de tal modo graves e grosseiras que o legislador
considera que não há sequer negócio, não existe. A lei nem acha que houve negócio. Uma
coisa que é inexistente não produz efeitos. Ex. 245.º, 246.º.
Invalidade jurídica – o que vai determinar que um negócio seja nulo ou anulável? Vai ter a
ver com o tipo de norma violada. Para ser nulo, a lei tem de o dizer.
Imediatas Mediatas
Um uso não é um costume! O Costume, na ordem jurídica interna, não é fonte de direito. A
nível internacional, de direito internacional publico, o costume é a principal fonte de direito.
Qual é a diferença entre um uso e o costume? No costume, a pessoa tem a convicção de
que, se não o fizer, vai ser punida. No uso, a pessoa faz, mas sabe que se não o fizer não
ocorre nenhuma sanção. Todas as práticas sociais reiteradas que as pessoas faziam por
obrigação foram escritas na lei. exemplo de um uso que as pessoas fazem mas não há
convicção de obrigatoriedade: cumprimentar alguém. Os usos passam a ser obrigatórios se
a lei o disser.
Apesar de o artigo 1.º não escrever em lado nenhum os princípios fundamentais de direito,
estes são fonte de direito – o artigo 1º não é taxativo.
5. Quando é que se torna obrigatória uma lei e para que serve a vacatio legis?
Quando é publicada no DR – artigo 5.º nº1
Mesmo que calhe a um domingo, entra no 5º dia a contar da publicação se a própria lei não
disser em que dia entrará em vigor.
Remeter do artigo 5.º nº2 para o artigo 2.º nº2 da lei dos formulários
A vacatio legis é, como sabemos, o período que medeia entre a publicação e a entrada em
vigor da lei. para que serve? Para que os destinatários da lei a leiam, a compreendam, a
entendam, e, quando entrar em vigor, já estarem conscientes dela – artigo 6.º, ninguém
pode usar a desculpa de que desconhecia a lei.
Para que uma lei cesse a vigência por caducidade, é preciso que se faça outra lei a dizer
isso? não é automático. Por sua vez, na revogação, isto implica que tenhamos uma lei que
revogue a anterior. A lei revogatória vem cessar a vigência de uma lei anterior. Precisamos
sempre que o legislador legisle uma nova lei para sabermos que a outra lei cessou.
Nota: ver os casos práticos de aplicação da lei no tempo – na próxima aula vamos trabalhar
sobre eles; ver a lei 74/2008 (imprimir e levar para o exame + código civil e CRP)
PARA O EXAME – relembrar de levar a Lei n.º 74/98, com as alterações introduzidas pelas Lei nº
2/2005, de 24 de Janeiro, Lei nº 26/2006, de 30 de Junho, Lei nº 42/2007, de 24 de Agosto, e Lei n.º
43/2014, de 11 de Julho; a CRP E O CC
13 de dezembro
Princípio da não repristinação da lei artigo 7.º nº4 – quando uma lei revoga outra,
temos uma lei revogatória e uma lei revogada. Uma lei cessou a vigência de outra lei,
quando esta lei revogatória também ela for revogada, será que este facto implica que a lei
revogada anteriormente renasça? Este princípio diz-nos que não. o facto de a lei 3 revogar
a lei 2 não determina que a lei 1 renasça, mas há exceções. O legislador pode dizer que
quer que a lei 1 renasça, ou o tribunal constitucional considerar a lei 2 não constitucional, e
então o que ela revogou volta a renascer (282.º CRP).
(casos práticos do 1 ao 6) – aplicação da lei no tempo
Para começar um caso prático de aplicação da lei no tempo (ver os critérios de correção)
temos de entender se estamos perante um conflito de lei no tempo. Quais os 2
pressupostos que se tem de verificar cumulativamente?
1. Uma lei posterior que revogue uma lei anterior que trate da mesma matéria; faz-lho
de forma expressa, ou não, e se não, quais os critérios para concluirmos que a lei a
revoga? Critério da especialidade – 7.º nº3 uma lei que tem natureza especial não
revoga uma lei que tem natureza geral e vice-versa, exceto se for vontade
inequívoca do legislador; critério da superioridade – a lei revogatória tem de ser pelo
menos hierarquicamente igual ou superior à lei revogada; critério da posterioridade –
a lei mais recente revoga a lei mais antiga, pois corresponde a uma vontade mais
atualizada do legislador.
Tem de haver duas leis, sobre a mesma matéria, que sucedem no tempo.
2. Para além disto, as duas leis tem de ter conexão com a mesma relaçao jurídica –
quando uma relaçao jurídica é duradoura. Ela foi constituída ao abrigo da lei antiga,
e durante a produção dos seus efeitos foi criada uma lei nova sobre essa relaçao. É
preciso que a relaçao jurídica esteja a produzir efeitos! Senão, não há conflito entre
as 2 leis.
O primeiro ponto para começarmos a responder a qualquer caso prático é explicar quando é
que estamos perante um conflito de leis no tempo, e se no caso concreto estamos perante o
dito conflito.
O segundo tópico é percebermos que a lei nova vem criar um conflito, e então onde vamos
buscar a nossa solução prioritária? Disposições transitórias da lei nova – a própria lei nova
pode resolver o problema. A própria lei nova limita-se a dizer expressamente que lei se
aplica àquela relaçao. A disposição transitória também pode ter carater material – vem
estipular um regime misto, um terceiro regime não é o regime igual ao da lei antiga, mas
também não é igual ao da lei nova. Destina-se a fazer uma transição suave entre os 2
regimes.
Se a lei nova for omissa, não há disposições transitórias, como resolvemos? É preciso aqui
atentar: uma lei nova é diferente de lei interpretativa! Esta última é uma lei que não traz
nenhum regime jurídico novo, simplesmente existe uma lei anterior e essa lei anterior está a
gerar muitas dúvidas de interpretação. O legislador vem fixar qual é o sentido com que deve
valer aquela lei anterior.
Se for uma lei nova que fale sobre prazos, não é o artigo 12.º. o artigo 12.º aplica-se
quando a lei nova não é interpretativa (13.º), não fala sobre prazos e não tem disposições
transitórias.
Nota: temos de explorar o nº1 do artigo 12.º!
Por via de regra, o princípio plasmado no artigo 12.º nº1 primeira parte é o princípio da não
retroatividade da lei. Temos de o explicar! Significa que esta lei vai apenas aplicar-se a
relações jurídicas a constituir-se dai para a frente. Aos factos jurídicos que se vão constituir
(factos futuros e seus efeitos) aquando a entrada em vigor da lei nova. A exceção é que a
lei pode ter eficácia retroativa o que significa? A lei aplica-se a factos futuros mas
também se aplica a factos jurídicos que tenham sido constituídos antes da sua entrada em
vigor e que ainda estejam a produzir efeitos.
Em que grau/profundidade de retroatividade é que a lei nova se aplica se for retroativa?
Grau mínimo, ordinário, ou normal – o que significa? a lei nova não vai alterar nenhum
efeito que tenha sido produzido antes da entrada em vigor da lei nova, mas os efeitos que
ainda se vão produzir, esses efeitos futuros, vão ser abrangidos pela lei nova. A efeitos
futuros dos factos passados, e é retroativa porque se está a aplicar a factos passados.
(artigo 12.º, nº1, segunda parte).
Agora sim vamos analisar o caso prático em questão.
No artigo 12.º nº2 temos 3 hipóteses: duas previstas e uma terceira que implicitamente
retiramos do que lá está escrito (interpretação enunciativa a contrário sensu)
1ª parte – lei nova versa sobre condições de validade (formal;
substancial) – não é retroativa!!
Artigo 12.º nº2 lei nova versa sobre conteúdo da r.j. abstraído do facto que
deu origem – a lei nova É retroativa!!! Quando se abstrai.
2ª parte
Lei nova versa sobre conteúdo da r.j. não se abstraindo dos
factos que deram origem – esta não está escrita, mas se não
se abstrair é porque a lei não é retroativa, entende-se contrário
sensu do que vimos anteriormente.
Conteúdo – quando a lei nova vem falar dos direitos e deveres jurídicos que as partes na
relaçao jurídica têm. Ex. direitos do dono da obra. Ou a lei vem falar desse conteúdo
fazendo expressa referencia ao facto que esteve na origem dessa r.j., ou ela fala desse
conteúdo não distinguindo como é a que a pessoa chegou àquela relaçao jurídica. Se ela
não fizer referência, abstrai-se dos factos.
Nota: superficiário – dono, titular, de um direito de superfície. Ex. da bomba de gasolina
(1524.º); (1528.º) há 3 factos que podem constituir a r.j., contrato, testamento, usucapião.
Quando a lei nova não se abstrai do facto que deu origem, ela não é retroativa. Se a lei
disser “os superficiários passam a ter os seguintes deveres”, está-se a abstrair do modo
como se constituiu a r.j, e então será retroativa.
Interpretação enunciativa – “para bom entendedor meia palavra basta” – o legislador não
precisa de dizer tudo. O legislador não precisa de dizer a mesma coisa pela negativa e pela
positiva. Nós lemos o implícito. Esta interpretação faz-se por recurso a instrumentos lógicos.
Contrário sensu – este argumento só pode ser usado na interpretação de normas
excecionais, e porquê? Porque se nós lermos o contrário do que a norma excecional diz,
caímos no regime-regra. São o oposto uma da outra.
Teste – 3 partes (uma primeira parte teórica em que vão sair questões como a das fontes
do direito, ou direitos subjetivos, modalidades da justiça, presunções…; o grupo 2 e o grupo
3 são casos práticos, e o grupo 3 é um caso prático de aplicação da lei no tempo; o grupo 2
pode ser caducidade e prescrição de direitos ou tutela)
Caso Prático 1
Amílcar celebrou com Bernardo, a 25 de Maio de 2016, um contrato de compra e venda de uma coleção de
selos pelo valor de 20.000 euros por um mero documento particular assinado por ambos, segundo exigia a lei
vigente. O valor seria pago em 20 prestações de 1.000 euros, sendo que a primeira vencer-se ia no primeiro
dia útil de julho de 2016 e as restantes em igual dia dos meses subsequentes. Todavia, a 15 de Outubro de
2016 foi publicada uma nova lei que exige escritura pública para os contratos do mesmo tipo que Amílcar e
Bernardo celebraram.
Deverá o contrato entre Amílcar e Bernardo ser considerado inválido em face da entrada em vigor da lei nova?
Nota importante: “publicada” – se a lei não disser, entra em vigor no 5º dia após a
publicação; art. 2.º nº4 da lei dos formulários.
O dia 15 não conta – no dia 20 entra em vigor (5.º nº2 cc e 2.º nº2 da lei dos formulários –
temos de os citar SEMPRE que virmos a palavra publicada)
Se o caso pratico disser que a lei nova entrou em vigor, não é preciso fazer isto. Só quando
temos a palavra “publicada”, achar o dia em que ela entrou em vigor.
O contrato foi celebrado dia 25 de maio, ele produz efeitos ao longo do tempo ou não? pelo
menos durante 20 meses, pois está dividido em prestações.
No momento em que fizeram este contrato, a lei antiga dizia que era preciso Documento
Particular.
Em outubro de 2016 foi publicada uma lei nova, que só vai entrar em vigor dia 20 de
outubro como vimos antes. temos conflito de lei no tempo? Sim, porque a relaçao jurídica
ainda está a produzir efeitos. Assim, verifica-se o conflito da lei no tempo.
Como resolvemos? A lei nova tem disposições transitórias? No enunciado não nos é dito
(temos de dizer em exame se tem ou não e explicar o que são). É uma lei interpretativa?
Não. fala de prazos? Não. então, caímos no artigo 12.º - princípio da não retroatividade,
exceção, grau mínimo etc (explicar).
12.º nº2 – esta lei nova diz que agora, para o contrato de compra e venda, é preciso
escritura publica. Fala de conteúdo ou forma? É uma lei que dispõe sobre condições de
validade formal – 12.º nº2 primeira parte a lei nova não é retroativa. Assim, não se aplica
ao contrato deles.
Se não fosse a prestações, já seria de execução instantânea, e então os efeitos já não se
estariam a produzir. Não haveria um conflito de lei no tempo neste caso.
Caso Prático 2
Imagine que António foi intercetado pela Brigada de Trânsito enquanto conduzia com uma taxa de alcoolémia de
1,2 gramas por litro de sangue, o que atualmente consubstancia a prática de um crime punível com pena de
prisão até 1 ano ou multa até 120 dias, para além da inibição de conduzir por um período de 3 meses a 3 anos.
António é submetido a julgamento por esse facto, sendo que entretanto surge uma lei que refere que só
consubstancia a prática de crime a condução sob efeito do álcool acima de 1,5 g/ por litro no sangue.
Retroatividade in mitius – está plasmada na CRP em relaçao ao direito penal; este, por via
de regra, nunca é retroativo; aqui é retroativa em grau máximo; a doutrina e a jurisprudência
tem estendido esta retroatividade in mitius a outros campos;
Nota: há 3 situações em que, por via de regra, e são previstas constitucionalmente, em que
não existe retroatividade NUNCA:
1. Direito penal – 29.º CRP
2. Direito fiscal – 103.º nº3 CRP – não pode criar-se um imposto sobre rendimentos
que seja aplicável a rendimentos auferidos anteriormente à entrada em vigor da lei
nova
3. Direitos, liberdades e garantias – 18.º nº3
No nosso caso aplicava-se o artigo 29.º nº4 CRP da retroatividade in mitius.
Caso Prático 3
Albino vendeu a Berta, no dia 30 de Janeiro e na Praia de Ribeira de Ilhas, um jet ski, da marca Kawasaki, pelo
preço de 4.000,00 euros. Albino entregou de imediato o jet ski a Berta. Todavia, acordaram que Berta só pagaria a
Albino o montante acordado no dia 25 de Fevereiro. A lei em vigor no momento da celebração do contrato
estipulava que o lugar de pagamento, na falta de estipulação das partes, deveria ser o lugar da celebração do
negócio. A 3 de Fevereiro de 2016, foi publicado em Diário da República uma lei que refere que, na falta de
estipulação das partes, o lugar para pagamento seria o domicílio do credor. Berta, apercebendo-se que ela e
Albino nada estipularam acerca do local de pagamento, quer agora saber qual a lei aplicável à sua situação.
Caso Prático 4
Suponha que no dia 02 de Janeiro deste ano (2016) entrou em vigor uma lei que estabelece entre os
pressupostos para o exercício da profissão de assistente social que o candidato não tenha sido condenado por
violência doméstica nos últimos cinco anos.
António candidata-se para exercer a profissão. Sucede, todavia, que em 2012 foi condenado por decisão
transitada em julgado pela prática do crime referido. António considera que a lei é retroativa e, como tal, não lhe
pode ser aplicada.
Terá razão?
O artigo 2166.º do Código Civil prevê no n.º 1, alíneas a) a c), os fundamentos para a deserdação. Suponha
agora que uma nova lei surge e vem acrescentar ao n.º 1 daquele artigo uma nova alínea d), na qual se
estipula como fundamento para a deserdação ainda os maus tratos e abandono praticados contra o autor da
sucessão (falecido). Inácio faleceu em 31 de Março de 2015. A partilha foi feita em 30 de Setembro de 2015. A
nova lei foi publicada no Diário da República a 20 de Setembro de 2015, nada referindo acerca do seu início de
vigência. Augusto, filho de Inácio, preenche os pressupostos enunciados na nova alínea d) do art. 2166.o
acrescentada pela lei nova. Filipe, irmão de Augusto, sustenta que este não pode, por isso, ser herdeiro de
Inácio.
b) E se a nova lei tivesse sido publicada em 20 de Março de 2015, a sua resposta seria a mesma?
Nota: relembrar que o facto que origina o direito de herdar é a morte do de cujus.
A nova lei foi PUBLICADA no dia 30 de setembro, sem referir o início da sua vigência –
entra em vigor em 25 de setembro de 2015
O augusto já é herdeiro a 31 de março, com o facto da morte do pai. Quando a pessoa
falece, ele não tinha nenhum dos pressupostos das alíneas a) a c). Ele preenche as
condições de validade substancial para ser herdeiro. Filipe não tem razão.
E se a lei tivesse sido publicada a 20 de março de 2015? Entraria em vigor em dia 25 de
março. Aqui, seria antes da morte do pai, então ver-se-ia se o augusto cumpria os
requisitos.
Nota: de qualquer forma este caso prático foi abandonado porque apenas o autor da
sucessão pode, em testamento, declarar alguém indigno ou deserdar.
Caso Prático 6
Joaquim considera-se citado no dia 10 de Outubro para apresentar a sua contestação, no âmbito de um
processo judicial que fora contra si intentado por Susana, dispondo de um prazo de 30 dias para o efeito. Diga,
com base em cada uma da hipóteses abaixo mencionadas em que dia terminará o prazo para Joaquim
apresentar a sua contestação, justificando legalmente a sua resposta.
a) Uma lei nova entrou em vigor a 25 de outubro de 2016 dispondo que o prazo para apresentar contestação é
de 40 dias;
b) Uma lei nova entrou em vigor a 28 de outubro de 2016 dispondo que o prazo para apresentar contestação é
de 15 dias;
c) Uma lei nova entrou em vigor a 17 de outubro de 2016 dispondo que o prazo para apresentar contestação é
de 15 dias;
Nota: tem de haver um prazo que começou a ser contado, ainda está em curso, e durante o
seu curso entrou em vigor uma lei com um prazo diferente para aquele tipo de ato.
Conjugação do artigo 297.º e do artigo 279.º - o que diz o 279.º alinea b) e alinea e)
O dia a partir do qual se começa a contar o prazo, esse dia, nunca conta. Ex. sou notificada
para fazer algo, e nesse dia em que fui notificada esse dia não conta. A alinea e) um prazo
que termine num sábado, domingo ou feriado transfere-se para o dia útil seguinte.
A lei nova pode vir aumentar o prazo que a lei antiga previa, ou pode vir encurtar o prazo
que a lei nova previa. Se a lei nova aumentar o prazo que estava previsto, a solução está no
artigo 297.º nº2. Se vier encurtar, vier estipular um prazo mais curto, a resposta está no
297.º nº1.
Joaquim tem 30 dias para contestar.
a) Nota: diz “entrou em vigor”, e não “publicado”. Tendo entrado em vigor, não temos
de analisar.; há um conflito de lei no tempo aqui ou não? o prazo ainda está em
curso? O dia 10 não conta (279.º alinea b)), então o primeiro dia dos 30 dias é dia
11. Quando termina o prazo? Dia 9 de novembro (279.º alinea e)). Então, temos um
conflito. A lei nova aumenta ou encurta o prazo antigo? Aumenta, então aplicamos o
artigo 297.º nº2 – sublinhar “mais longo” – a lei nova aplica-se aos prazos que estão
em curso, mas desconta-se o prazo que já correu ao abrigo da lei antiga. Pegamos
nos 40 dias que temos agora e contamos a partir do dia em que foi citado.
b) Fixou 15 dias – temos conflito de lei no tempo? Pela lei antiga acabava a 9 de
novembro, e a lei entra em vigor a 28 de outubro. Temos um conflito de lei no tempo.
297.º. encurta o prazo – 297.º nº1; sublinhar “mais curto”; desde quanto se conta o
prazo? Só se conta a partir da entrada em vigor da lei nova, ou seja, do dia 28 de
outubro. Quando acaba o novo prazo pela lei nova? O dia 28 não conta pelo artigo
279.º alinea b); acaba a 12 de novembro. “a não ser que”, deixa de se aplicar a lei
nova, se segundo a lei antiga falte menos tempo para se completar, que é o nosso
caso. A lei antiga é que se vai aplicar! Porque é que o legislador diz que continua a
ser a antiga sendo que acaba mais cedo? Pela aplicação de uma lei que prevê
menos prazo, a pessoa ia ter mais tempo. Isto não faria sentido. Aplica-se a exceção
do artigo 297.º nº1 segunda parte.
Nota importante: se a lei nova ampliar o prazo, pegamos na lei nova e contamos desde a
citação. Se a lei nova encurtar o prazo, temos imediatamente de contar o prazo da lei antiga
até ao fim, e contamos o prazo da lei nova desde a sua entrada em vigor. Aquela que
acabar primeiro é aquela que se aplica!