Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAPÍTULO I
CONCEITO E DIVISÃO DO DIREITO
1- CONCEITO DE DIREITO
Direito Natural é a ideia abstrata de direito, o ordenamento ideal, corresponde a uma justiça
superior.
Direito objetivo é o conjunto de normas impostas pelo Estado, de caráter geral, para cuja
observância os indivíduos podem ser compelidos mediante coerção.
Direito público é o que regula as relações de um estado com outro estado ou de um estado
com os indivíduos.
Direito privado é o direito que disciplina a relação entre os indivíduos como tais, nas quais
predomina o interesse de ordem particular.
1
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
CAPÍTULO II
1- CONTEÚDO E FUNÇÃO
A LINDB consiste em legislação anexa ao CC, mas autônoma, dele não fazendo parte. Tem
caráter universal, sendo aplicada a todos os campos do direito (é lei de introdução às normas do
Direito brasileiro).
2- FONTES DO DIREITO
A lei é o objeto da LINDB e a principal fonte do direito. Segundo Goffredo Telles Jr., a
norma jurídica é um imperativo autorizante. Trata-se de um imperativo, pois emanada de
autoridade competente, sendo dirigida a todos (generalidade). Constitui um autorizamento, pois
autoriza ou não autoriza determinadas condutas.
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
2
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Como outra característica básica, está consagrado no art. 3º da Lei de Introdução o princípio
da obrigatoriedade da norma, pelo qual ninguém pode deixar de cumprir a lei alegando não a
conhecer. Três são as correntes doutrinárias que procuram justificar o conteúdo da norma:
a) Teoria da ficção legal, eis que a obrigatoriedade foi instituída pelo ordenamento para a
segurança jurídica;
b) Teoria da presunção absoluta, pela qual haveria uma dedução iure et de iure de que
todos conhecem as leis;
c) Teoria da necessidade social, amparada, segundo Maria Helena Diniz, na premissa “de
que as normas devem ser conhecidas para que melhor sejam observadas”, a gerar o
princípio da vigência sincrônica da lei.
c) Quanto à natureza as leis são substantivas (tratem de direito material) ou adjetivas (tratam de
direito processual).
4- VIGÊNCIA DA LEI
3
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
De acordo com o art. 1º da LICC, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias após ser
publicada, salvo disposição em contrário. Portanto, a sua vigência não se inicia no dia de sua
publicação, salvo se assim seu texto o determinar.
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada.
A LC 95/98, que dispõe sobre elaboração, redação, alteração e consolidação das leis,
assevera, em seu art. 8º, que: A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a
contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula
"entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
O intervalo entre a sua publicação e a sua entrada em vigor chama-se vacatio legis. Em
matéria de duração do referido intervalo, foi adotado o critério do prazo único, porque a lei entra
em vigor na mesma data em todo o território nacional (princípio da vigência sincrônica da
lei).
Quando a lei é admitida no exterior a sua obrigatoriedade se inicia três meses depois de
oficialmente publicada.
IMPORTANTE!!! Se durante a vacatio legis ocorrer nova publicação de seu texto, para
correção de erros oficiais ou falha de ortografia, o prazo da obrigatoriedade começará a
correr a partir da nova publicação. Se a lei já entrou em vigor, tais modificações são
consideradas lei nova, tornando-se obrigatória após o decurso da vacatio legis.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores
começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Os direitos adquiridos na vigência da lei emendada são resguardados. O juiz ao aplicar a lei
pode corrigir os erros materiais evidentes, mas não os erros substanciais.
Conta-se o prazo de vacatio legis fazendo a inclusão da data da publicação e do último dia
do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.
Salvo alguns casos especiais, a lei tem caráter permanente, permanecendo em vigor até ser
revogada por outra lei (princípio da continuidade). O costume não revoga lei, assim como a lei
não perde sua eficácia pela não aplicação.
4
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
A lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes não revoga
nem modifica a lei anterior. No caso de incompatibilidade entre a lei geral e especial é possível a
prevalência/preponderância de uma pela outra.
§ 2o A LEI NOVA, QUE ESTABELEÇA DISPOSIÇÕES GERAIS OU
ESPECIAIS A PAR DAS JÁ EXISTENTES, NÃO REVOGA NEM MODIFICA
A LEI ANTERIOR (CAI MUITO EM PROVA – DECORAR!!!!!)
IMPORTANTE!!! A lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo
disposição em contrário. Não há, portanto, o efeito repristinatório, restaurador da primeira lei
revogada, salvo quando houver pronunciamento expresso do legislador nesse sentido.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência
Como consequência, não se faz necessário provar em juízo a existência da norma jurídica
invocada, pois parte-se do pressuposto de que o juiz conhece o direito (iura novit curia). Esse
princípio não se aplica ao direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário (CPC/15,
art. 376), ou seja, o juiz só tem obrigação de conhecer o direito federal e o daquele do local em que
jurisdiciona.
A teoria que explica a obrigatoriedade da lei para todos é a da necessidade social. Sustenta,
tal teoria, que a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um
conhecimento presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, ou seja, para que
seja possível a convivência social.
IMPORTANTE!!! O erro de direito só pode ser invocado quando não houver o objetivo de furtar-
se o agente ao cumprimento da lei. Ex.: Serve para justificar a boa-fé.
Como o juiz não pode se eximir de proferir a decisão sob o pretexto de que a lei é omissa,
deve se valer dos mecanismos legais destinados a suprir as lacunas da lei, que são: a analogia, os
costumes e os princípios gerais do direito.
5
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
A primeira dúvida concreta que surge em relação ao comando legal é se a ordem nele
prevista deve ou não ser rigorosamente obedecida (hierarquia ou preferência entre os instrumentos
de integração). Em uma visão clássica, a resposta é positiva. Filiado a essa corrente, pode ser citado,
entre tantos outros, Sílvio Rodrigues, para quem “No silêncio da lei, portanto, deve o julgador, na
ordem mencionada, lançar mão desses recursos, para não deixar insolvida a demanda”. No mesmo
sentido, posiciona-se Rubens Limongi França.
Todavia, até pode-se afirmar que essa continua sendo a regra, mas nem sempre o respeito a
essa ordem deverá ocorrer, diante da força normativa e coercitiva dos princípios, notadamente
daqueles de índole constitucional. Em suma, deve-se reconhecer eficácia normativa imediata aos
princípios (constitucionalização dos princípios gerais do direito e o reconhecimento de que os
princípios são normas primárias), em alguns casos, particularmente naqueles que envolvem os
direitos fundamentais da pessoa, ou de personalidade. Isso porque com o Estado Democrático de
Direito houve a transposição dos princípios gerais de direito para princípios constitucionais
fundamentais. Dessa forma, a orientação contemporânea prevalecente sustenta não ser obrigatória a
ordem constante do art. 4º da LINDB de forma rígida e incontestável.
A analogia consiste em aplicar a um caso não previsto em lei um dispositivo legal previsto
para caso semelhante. A analogia pode ser classificada em analogia legal ou legis (aplicação de
somente uma norma próxima, a exemplo da aplicação de norma que prevê uma situação entre
cônjuges à situação entre companheiros) e analogia jurídica ou juris (aplicação de um conjunto de
normas próximas, extraindo elementos que possibilitem a analogia, a exemplo da aplicação por
analogia das regras da ação reivindicatória para a ação de imissão de posse).
6
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
c) Contra legem: que se opõe à lei. Em regra, o costume não pode modificar a lei, pois a lei só
se revoga, ou se modifica, por outra lei.
Não se encontrando solução na analogia e nem nos costumes, devem ser utilizados os
princípios gerais do direito. São estes constituídos de regras que se encontram na consciência dos
povos e são universalmente aceitos, mesmo não escritos. Ex.: “ninguém pode lesar outrem”, “é
vedado o enriquecimento sem causa” etc.
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a
interpretação, não apenas as obscuras e as ambíguas. Por mais clara que seja a lei, esta deve ser
interpretada.
A hermenêutica é a ciência de interpretação das leis, e como toda ciência, tem seus métodos.
A seguir, os principais métodos de interpretação:
7
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Para solucionar os conflitos da lei no tempo, são utilizados dois critérios: o das disposições
transitórias e o da irretroatividade das normas. Disposições transitórias são elaboradas pelo
legislador no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão
emergir do confronto da lei nova com a lei antiga, tendo vigência temporária. Irretroativa é a lei
que não se aplica às relações constituídas anteriormente. Tem por objetivo assegurar a certeza, a
segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico. Não possui caráter absoluto, pois razões de
política legislativa podem recomendar que em determinados momentos a lei seja retroativa,
atingindo os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada.
O art. 6º da LINDB preceitua que a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitado o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença, não mais sujeita a recurso.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recursos.
A regra geral é de que dentro do território brasileiro se aplica a lei brasileira. O art. 7º
permite, excepcionalmente, a aplicação da lei estrangeira no Brasil, nos casos previstos em lei.
a) nome
8
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
b) capacidade
c) personalidade
d) direito de família
e) bens móveis que o interessado traz consigo
f) penhor
g) capacidade sucessória
Ex.: Sujeito alemão que na Alemanha é casado e aqui quer casar novamente não pode se casar
porque se aplica o estatuto pessoal.
Exceção da exceção!!! Existem três casos de aplicação ou não da lei estrangeira no território
brasileiro com base em critério distinto (e não o estatuto pessoal):
Conforme ensina Flávio Tartuce (Manual de Direito Civil, volume único), com o surgimento
de qualquer lei nova, ganha relevância o estudo das antinomias, também denominadas lacunas de
conflito. A antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade
competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto
(lacunas de colisão). Este estudo não está relacionado com a revogação das normas jurídicas, mas
com os eventuais conflitos que podem existir entre elas.
Dos três critérios acima, o cronológico, constante do art. 2.º da Lei de Introdução, é o mais
fraco de todos, sucumbindo diante dos demais. O critério da especialidade é o intermediário e o da
hierarquia o mais forte de todos, tendo em vista a importância do Texto Constitucional.
9
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
a) Antinomia aparente: situação que pode ser resolvida de acordo com os metacritérios antes
expostos;
b) Antinomia real: situação que NÃO pode ser resolvida de acordo com os metacritérios antes
expostos.
De acordo com essas classificações, devem ser analisados os casos práticos em que estão
presentes os conflitos:
a) No caso de conflito entre norma posterior e norma anterior, valerá a primeira, pelo critério
cronológico, caso de antinomia de primeiro grau aparente.
b) Norma especial deverá prevalecer sobre norma geral, emergencial, que é o critério da
especialidade, outra situação de antinomia de primeiro grau aparente.
c) Havendo conflito entre norma superior e norma inferior, prevalecerá a primeira, pelo
critério hierárquico, também situação de antinomia de primeiro grau aparente.
Esses são os casos de antinomia de primeiro grau, todos de antinomia aparente, uma vez
que presente a solução de acordo com os metacritérios antes analisados.
Na última hipótese, como bem expõe Maria Helena Diniz, não há uma metarregra
geral de solução do conflito surgindo a denominada antinomia real. Segundo a autora: “No
conflito entre o critério hierárquico e o de especialidade, havendo uma norma superior geral e
outra norma inferior especial, não será possível estabelecer uma metarregra geral, preferindo o
critério hierárquico ao da especialidade ou vice-versa, sem contrariar a adaptabilidade do direito.
Poder-se-á, então, preferir qualquer um dos critérios, não existindo, portanto, qualquer
prevalência. Todavia, segundo Bobbio, dever-se-á optar, teoricamente, pelo hierárquico; uma lei
constitucional geral deverá prevalecer sobre uma lei ordinária especial, pois se se admitisse o
princípio de que uma lei ordinária especial pudesse derrogar normas constitucionais, os princípios
fundamentais do ordenamento jurídico estariam destinados a esvaziar-se, rapidamente, de seu
conteúdo (...)”.
10
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
CAPÍTULO III
Para que o estudioso entenda efetivamente a codificação privada de 2002, é preciso conhecer
a linha filosófica adotada pela norma emergente.
PRINCÍPIO DA ETICIDADE:
Esse princípio pode ser percebido pela leitura de vários dispositivos no CC:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.
PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE:
11
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
A função social da propriedade já estava prevista na CF 88 (art. 5º, XXII e XXIII, e art.
170, III), tendo sido reforçada pelo art. 1.228, §1º do CC.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.
Como novidade de grande impacto, a função social dos contratos passou a ser tipificada em
lei, no art. 421 do CC. Trata-se de um princípio contratual de ordem pública, pelo qual o contrato
deve ser, necessariamente, visualizado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade.
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do
contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019).
PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE:
Tem dois significados: primeiro, há o sentido de simplicidade, uma vez que o CC/02 segue
tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos nele previstos (ex.: distinção feita
entre prescrição e decadência). Segundo, há o sentido de efetividade, ou concretude do Direito
Civil, o que foi seguido pela adoção do sistema de cláusulas gerais.
As cláusulas gerais podem ser conceituadas como janelas abertas deixadas pelo legislador
para preenchimento pelo aplicador do Direito, caso a caso. São exemplos de cláusulas gerais
constantes no CC 02:
As cláusulas gerais têm um sentido dinâmico, o que as diferencia dos conceitos legais
indeterminados, construções estáticas que constam da lei sem definição. Assim, pode-se afirmar
que quando o aplicador do direito cumpre a tarefa de dar sentido a um conceito legal
indeterminado, passará ele a constituir uma cláusula geral.
Muitas das cláusulas gerais são princípios, mas não necessariamente. A função social do
contrato é princípio contratual, mas a cláusula geral de atividade de risco não é princípio da
responsabilidade civil.
A adoção do sistema de cláusulas gerais pelo CC/02 tem relação direta com a linha
filosófica adotada por Miguel Reale. É notório que o jurista criou a sua própria teoria do
conhecimento e da essência jurídica, a ontognoseologia jurídica, baseando-se em duas subteorias: o
culturalismo jurídico e a teoria tridimensional do direto:
12
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Fato, valor e norma serão imprescindíveis a apontar o caminho seguido para a aplicação do
Direito. Dessa forma, dar-se-á o preenchimento das cláusulas gerais, das janelas abertas. Por esse
processo os conceitos legais indeterminados ganham determinação jurídica, diante da atuação do
magistrado, sempre guiado pela equidade.
Primeiro, o magistrado julgará de acordo com a sua cultura, bem como do meio social. Os
elementos culturais e valorativos do juiz serão imprescindíveis para o preenchimento da
discricionariedade deixada pela norma privada. Ganha destaque o valor como elemento formador
do direito.
Por fim, a experiência do aplicador do direito, que reúne fato e valor simbioticamente,
visando à aplicação da norma. Esta, sim, elemento central daquilo que se denomina
ontognoseologia, a teoria do conhecimento, da essência jurídica, criada por Reale. Encaixa-se,
assim, perfeitamente a proposta de Reale, para que sejamos juristas (no ponto de vista das normas),
sociólogos (diante da análise dos fatos) e filósofos (sob o prisma dos valores).
O aplicador do direito deve estar atento à evolução tecnológica, para não tomar decisões
descabidas, como a de determinar o bloqueio de todos à internet para proteger determinada pessoa.
As cláusulas gerais são abertas e devem ser analisadas caso a caso. Frase símbolo do atual
sistema: direito é fato, valor e norma.
Em princípio, o Direito Público tem como finalidade a ordem e a segurança geral, enquanto
o Direito Privado reger-se-ia pela liberdade e pela igualdade. Enquanto no Direito Público somente
seria válido aquilo que está autorizado na norma, no Direito Privado tudo aquilo que não está
proibido por ela seria válido. Mas essa dicotomia não é um obstáculo intransponível e a divisão não
é absoluta, como nada é absoluto nos nossos dias atuais.
13
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Por tal interação, o D. Civil não deixará de ser D. Civil; e o D. Constitucional não deixará de
ser D. Constitucional. O D. Civil Constitucional nada mais é do que um novo caminho
metodológico, que procura analisar os institutos privados a partir da CF, e, eventualmente, os
mecanismos constitucionais a partir do CC e da legislação infraconstitucional, em uma análise
de mão dupla.
1) Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF): superprincípio ou princípio dos
princípios. A valorização da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa
do Brasil. A proteção da dignidade da pessoa humana, a partir do modelo de Kant, constitui
o principal fundamento da personalização do Direito Civil, da valorização da pessoa
humana em detrimento do patrimônio.
3) Princípio da isonomia ou igualdade lato sensu (art. 5º, caput, CF): “todos são iguais
perante a lei, sem qualquer distinção, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade”. Essa igualdade pode ser a mesma concebida pela seguinte expressão,
atribuída a Aristóteles e Ruy Barbosa: A lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de
maneira desigual os desiguais. Do texto, nota-se na sua 1ª parte a consolidação do princípio
da igualdade stricto sensu (a lei deve tratar de maneira igual os iguais), enquanto a 2ª traz o
princípio da especialidade (...e de maneira desigual os desiguais). Essa é a essência da
igualdade substancial. Fala-se, atualmente, em igualdade NA lei (sob o aspecto formal) e
igualdade PERANTE a lei (sob o aspecto material).
A eficácia horizontal dos direitos fundamentais é mecanismo que torna possível o D. Civil
Constitucional.
Essa eficácia horizontal traz uma nova visão da matéria, uma vez que as normas de proteção
da pessoa previstas na CF sempre foram tidas como dirigidas ao legislador e ao Estado (normas
programáticas). Essa concepção anterior não mais prevalece.
14
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Do ponto de vista da terminologia, não se justifica mais denominar a CF/88 como uma
Carta Política, fazendo crer que é dirigida ao legislador, tendo uma eficácia vertical. Melhor
denominá-la, portanto, como uma Carta Fundamental, pela prevalência de sua horizontalidade, ou
seja, pela sua subsunção direta às relações privadas. Por exemplo, a dignidade humana é conceito
que pode ser aplicado em qualquer relação, independentemente de qualquer ponte
infraconstitucional.
Como exemplo tem-se um julgado do STF em que a tese foi adotada para assegurar a ampla
defesa a associado que fora excluído do quadro de uma pessoa jurídica (STF, RE 201.819/RJ,
Informativo 405). Segundo Gilmar Mendes, “Um meio de irradiação dos direitos fundamentais
para as relações privadas seriam as cláusulas gerais (Generalklausel) que serviriam de ‘porta de
entrada’ (Einbruchstelle) dos direitos fundamentais no âmbito do Direito Privado”. Trata-se
daquilo que se denomina eficácia horizontal mediata, pois há uma ponte infraconstitucional para as
normas constitucionais: as cláusulas gerais. Tal mecanismo é perfeitamente possibilitado pelo
Código Civil de 2002, diante da adoção de um modelo aberto, conforme antes demonstrado.
Existe uma relação inafastável entre essa eficácia das normas que protegem a pessoa nas
relações entre particulares e o sistema de cláusulas gerais adotado pelo CC.
A tese do diálogo das fontes foi desenvolvida na Alemanha por Erik Jayme e trazida ao
Brasil por Claudia Lima Marques, da UFRGS.
Claudia Lima Marques demonstra três diálogos possíveis a partir da teoria exposta:
a) Em havendo aplicação simultânea das duas leis, se uma lei servir de base conceitual
para a outra, estará presente o DIÁLOGO SISTEMÁTICO DE COERÊNCIA. Ex.: os
conceitos dos contratos em espécie podem ser retirados do CC mesmo sendo o contrato de
consumo, caso de uma compra e venda (art. 481, CC).
b) Se o caso for de aplicação coordenada de duas leis, uma norma pode completar a outra,
de forma direta (DIÁLOGO DE COMPLEMENTARIDADE) ou indireta (DIÁLOGO DE
SUBSIDIARIEDADE). Ex.: contratos de adesão que também são de consumo – em relação
às cláusulas abusivas, pode ser invocada a proteção dos consumidores constante do art. 51
do CC e ainda a proteção dos aderentes (art. 424 do CC).
15
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Isso porque, em muitas situações atualmente comuns à prática trabalhista, não há normas de
D. do Trabalho regulamentando a matéria. Em tais casos é que as normas do CC serão aplicadas. A
EC 45/2004 ampliou enormemente a competência da Justiça do Trabalho.
Destaque-se que a teoria do diálogo das fontes surge para, no futuro, substituir e superar os
critérios clássicos de solução das antinomias jurídicas (hierárquico, especialidade e cronológico).
No momento, ainda é possível conciliar tais critérios com a referida tese.
Para que essa proteção seja possível, deve-se reconhecer a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, ou seja, que as normas que protegem a pessoa, previstas no Texto Maior, têm
aplicação imediata nas relações entre particulares. A porta de entrada dessas normas protetivas, nas
relações privadas, pode se dar por meio das cláusulas gerais (eficácia horizontal mediata), ou
mesmo de forma direta (eficácia horizontal imediata), independentemente de qualquer atuação
legislativa infraconstitucional ou até mesmo judicial.
Em síntese, percebe-se que todas essas teorias possibilitam a visão de um sistema unitário,
em que há mútuos diálogos e o reconhecimento da interdisciplinaridade. Assim está sendo
construído o D. Civil Contemporâneo.
16
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
LIVRO I
DAS PESSOAS
CAPÍTULO I
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
É o ser humano considerado sujeito de direitos e deveres. Para ser pessoa basta existir.
Toda a pessoa é dotada de personalidade, isto é, tem capacidade para figurar em uma
relação jurídica. Toda pessoa tem aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações
(personalidade).
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
IMPORTANTE!!! Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão para a prática de
determinados atos jurídicos (necessidade de outorga conjugal para vender imóvel, sob pena de
anulabilidade).
Quem tem as duas espécies de capacidade tem a capacidade plena. Quem só tem a de
direito, tem capacidade limitada, por isso são chamados de incapazes.
2- DAS INCAPACIDADES
Não existe incapacidade de direito , pois todos se tornam capazes ao nascer. Existe,
portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício. Incapacidade, portanto, é a restrição
ao exercício de atos da vida civil. E pode ser de duas espécies: absoluta e relativa.
A absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente
poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de nulidade.
17
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
A relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido, sob pena
de anulabilidade. Alguns atos, entretanto, podem ser praticados pessoalmente, sem a assistência de
seu representante legal, como por exemplo: ser testemunha, aceitar mandato, fazer testamento etc.
São menores púberes. Podem praticar apenas determinados atos sem a assistência. Não se
tratando desses atos, precisam estar assistidos, sob pena de anulabilidade do ato.
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, NÃO PODE, para eximir-se
de uma obrigação, invocar a sua idade se DOLOSAMENTE a ocultou quando
inquirido pela outra parte, ou SE, NO ATO DE OBRIGAR-SE, DECLAROU-
SE MAIOR.
Se não houver malícia do menor, anula-se o ato para protegê-lo. Como ninguém pode
locupletar-se às custas alheias, determina-se a restituição da importância paga ao menor, se ficar
provado que o pagamento nulo se reverteu em proveito dele (art. 181 CC).
2.2.3. Os Que, Por Causa Transitória ou Permanente, Não Puderem Exprimir Sua
Vontade
Abrange as pessoas que não puderem exprimir suas vontades por causa transitória, ou em
virtude de alguma patologia (incluindo eventuais deficiências cognitivas). Com o advento do
Estatuto das Pessoas com Deficiência, é POSSÍVEL a interdição daqueles que não puderem
exprimir sua vontade tanto por causa permanente, como por causa transitória, estando tais
pessoas sujeitas à curatela, conforme art. 1767, inc. I, do CC:
2.2.4. Os Pródigos
IMPORTANTE!!! O pródigo só ficará privado de praticar, sem curador, atos que extravasam mera
administração e implicam comprometimento do patrimônio, como emprestar, transigir, alienar etc.
Pode praticar validamente e sem necessidade de assistência os atos da vida civil que não envolvam
o seu patrimônio. Ex.: contrair matrimônio, autorizar casamento dos filhos etc.
3- CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE
Cessa a incapacidade quando cessar a sua causa e pela emancipação. A menoridade cessa
aos dezoito anos completos (primeiro instante do aniversário de 18 anos). Se nascido no dia 29 de
fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade em 1º de março.
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento PÚBLICO, independentemente de homologação judicial
(VOLUNTÁRIA), ou por sentença do juiz, ouvido o tutor (tutor não emancipa),
se o menor tiver dezesseis anos completos; (JUDICIAL).
(abaixo são as hipóteses de emancipação LEGAL)
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria.
IMPORTANTE!!! A emancipação voluntária não produz efeito no que toca à obrigação dos pais
de indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor emancipado. Isto se dá para evitar
emancipações maliciosas (essa regra somente se aplica às emancipações voluntárias). A
responsabilidade será SOLIDÁRIA entre os pais e o menor.
Se o menor estiver sob tutela, deve requerer sua emancipação ao juiz, que a concederá por
sentença, depois de verificar a conveniência do deferimento para o bem do menor.
20
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Emancipação NÃO tem efeitos penais (o direito penal só se preocupa com a idade
biológica do sujeito para fins de imputabilidade). Por óbvio, cabe prisão civil, que não é penal.
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, o que se constata com
a respiração. “Se a pessoa respirou, viveu”.
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Nascendo vivo ainda que morra em seguida, o novo ente chegou a ser pessoa, adquiriu
direitos, e com sua morte os transmitiu.
1ª) TEORIA NATALISTA: prevalecia entre os autores modernos ou clássicos do Direito Civil
brasileiro, para quem o nascituro não poderia ser considerado pessoa, pois o CC exigia e ainda
exige, para a personalidade civil, o nascimento com vida. Sustenta, pois, que a personalidade
somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria
considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito.
Obs.: Vale acrescentar que no sistema brasileiro, diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, não
se exige do recém-nascido forma humana, nem sobrevida mínima (teste do pulmão na água. Teste
de Galeno).
É a que foi adotada (de modo mais claro) pelo CC/02. Por ser mais prática. Entretanto,
a teoria natalista esbarra em dispositivos do Código Civil que consagram direitos àquele que
foi concebido e não nasceu. Essa negativa de direitos é mais um argumento forte para
sustentar a total superação dessa corrente doutrinária.
21
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
IMPORTANTE!!! O nascituro tem direito a alimentos. Com a nova lei de alimentos gravídicos
não há discussão. São devidos sim, alimentos ao nascituro.
Pai do nascituro assassinado. STJ reconheceu os danos morais por não ter podido
conhecer o pai. O fato de não ter conhecido o pai em vida vai diminuir o quantum. (REsp
399028/SP).
SIM. O STJ decidiu que, se uma gestante se envolve em acidente de carro e, em virtude disso,
sofre um aborto, ela terá direito de receber a indenização por morte do DPVAT, nos termos
do art. 3º, I, da Lei 6.194/74. O Ministro Relator afirmou expressamente que, em sua
opinião, “o ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de 2002 –
alinhou-se mais à teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do
nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea”.
Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também
simultânea (comoriência).
a) Morte real: prevista no art. 6º CC, ocorre com o diagnóstico da paralisação da atividade
encefálica. A sua prova se faz pela justificação, em caso de catástrofe e não encontro do corpo.
Acarreta a extinção do poder familiar, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção da
obrigação de pagar alimentos, dissolução do vínculo conjugal etc.
b) Morte simultânea ou comoriência: A comoriência traduz uma situação em que duas ou mais
pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos.
Comoriência é um termo do Direito Civil que indica presunção legal de morte simultânea de
duas ou mais pessoas ligadas por vínculos sucessórios. Quando não se sabe quem morreu
primeiro, presumem-se simultâneos.
22
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
No Brasil não há presunção da ordem dos óbitos (ex.: o mais velho morre antes). Não
se podendo indicar a ordem dos óbitos, presumem-se simultâneos.
c) Morte civil: Há um resquício dela no CC, art. 1.816, que trata o herdeiro, afastado da herança
por indignidade, como se “morto” fosse antes da abertura da sucessão. Mas somente para afastá-lo
da herança. Conserva, porém, a personalidade para os demais efeitos.
d) Morte presumida: com ou sem a declaração de ausência. Presume-se a morte quanto aos
ausentes quando a lei autoriza a sucessão definitiva.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
A pessoa natural se identifica na sociedade pelo nome, pelo estado e pelo domicílio.
6.1. NOME
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá
ao nome.
O CC trata o nome como um direito da personalidade. Toda pessoa tem direito ao nome
(art. 16 CC).
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Trata-se de direito inalienável e imprescritível, essencial para o exercício regular dos direitos
e cumprimento das obrigações.
Obs.: Agnome traduz a utilização dos termos “filho, neto, júnior, sobrinho...” (William bossaneli
Araujo neto). O agnome é elemento opcional.
6.1.2.1. Prenome
Pode ser livremente escolhido pelos pais desde que não exponham o filho ao ridículo.
Irmãos não podem ter o mesmo nome, a não ser que seja duplo, estabelecendo a distinção.
6.1.2.2. Sobrenome
Sinal que identifica a pessoa indicando a sua filiação ou estirpe. É imutável. Adquire-se com
o nascimento e, portanto, não é escolhido. É obrigatório.
Obs.: No caso de filho havido fora do casamento, não será lançado o nome do pai sem que este
expressamente o autorize. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e
será feito pelos modos previstos no art. 1609 CC (escrito particular e testamento).
Obs.: Pseudônimo (ou cognome). Trata-se do nome utilizado por alguém para fins profissionais
lícitos. O pseudônimo não é elemento componente do nome, mas merece a mesma proteção (art. 19
da lei de registros públicos)
24
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: O hipocorístico pode ser acrescentado ao nome (Luiz Inácio “lula” da Silva).
(1) adoção
(2) programa de proteção à testemunha (PROVITA)
(3) nome vexatório
(4) nomes ridículos ou exóticos
(1) acréscimo do sobrenome do padrasto (com base na tutela jurídica do afeto. É pacífico no
STJ).
(2) viuvez (É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução
do vínculo conjugal pelo falecimento do cônjuge. STJ. 3ª Turma. REsp 1724718-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 - Info 627).
(3) retirada do sobrenome do pai que nunca deu atenção ao filho (STJ).
Art. 1565, §1º: permite a qualquer dos noivos acrescerem o nome um do outro. A
mudança de nome é uma faculdade, não uma obrigação.
25
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
6.2 ESTADO
6.2.1. Aspectos
a) estado individual: modo de ser da pessoa quanto à idade, sexo, cor, altura, saúde (são ou insano)
etc.
b) estado familiar: é o que indica a situação na família em relação ao matrimônio (solteiro, casado,
viúvo...) e ao parentesco (pai, filho...).
c) estado político: é a qualidade jurídica que advém da posição do indivíduo na sociedade política,
podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro.
6.2.2. Caracteres
26
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
1- CONCEITO
Distinguem-se dos direitos de ordem patrimonial por não terem conteúdo econômico
imediato e não se destacarem da pessoa de seu titular. São inerentes à pessoa humana, estando a
ela ligados de maneira perpétua.
Segundo Maria Helena Diniz são “direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é
próprio, ou seja, a sua integridade física; a sua integridade intelectual; e a sua integridade
moral.”
#E os entes despersonalizados?
Não têm personalidade jurídica, mas são sujeitos de direitos (podem ser contratantes, podem ser
empregado) e têm, em determinados casos, capacidade/personalidade judiciária (capacidade de
ser parte = pode ir a juízo). Frisa-se que, por não ter personalidade jurídica, os entes
despersonalizados NÃO gozam de direitos da personalidade.
Obs.: Discussão na ADI 3510 sobre a possibilidade de pesquisa com células tronco embrionárias. O
STF entendeu que o embrião laboratorial não tem direitos da personalidade, uma vez que o
pré-embrião não se enquadra na condição de nascituro, pois a este, a própria denominação o
esclarece bem, se pressupõe a possibilidade, a probabilidade de vir a nascer, o que não
acontece com esses embriões inviáveis ou destinados ao descarte.
IMPORTANTE!!! O direito brasileiro traz uma cláusula geral de proteção à personalidade. Esta
cláusula geral é a dignidade da pessoa humana (art. 1º da CF), de modo que todos os direitos da
personalidade (tipificados ou não) perpassam pela dignidade da pessoa humana.
27
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
2- FUNDAMENTOS E CARACTERÍSTICAS
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.
IMPORTANTE!!! O parágrafo único do art. 12 estabelece que “em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”.
Dano moral é resultado, pois, da violação aos direitos da personalidade (violação da honra,
da imagem, da privacidade, da integridade física). Não é imprescindível, para caracterização do
dano moral, a ocorrência de dor, sofrimento (são decorrências do dano moral, não sua causa).
É o que dispõe o enunciado aprovado na V Jornada de Direito Civil: “O dano moral indenizável
não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou
sofrimento” (Enunciado n. 445).
#É possível cumular dano moral com dano moral (duas categorias de dano moral)?
Sim. Ex.: dano estético + dano à imagem. Isso é dano moral + dano moral.
O STJ aceita, de forma pacífica, a cumulação de danos morais com danos estéticos. Tal
entendimento encontra-se, inclusive, emoldurado na Súmula 387 do Superior Tribunal de Justiça.
personalidade (no caso imagem), mesmo sem ter havido depreciação do sujeito (dano à imagem
sem dano à honra).
Obs.: Dano moral coletivo. Hoje já se fala em dano moral coletivo (art. 6º, VI, do CDC e art. 1º da
lei da ACP). Ex.: dano ao meio ambiente do trabalho. Essa indenização reverte-se em favor da
coletividade, direcionado a um fundo (Fluid Recovery - art. 13 da lei da ACP), e não em favor de
cada um dos lesados (que podem ingressar com ações individuais).
IMPORTANTE: “O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de uma comunidade, isto é, a
violação de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade atingidos do
ponto de vista jurídico, de forma a envolver não apenas a dor psíquica, mas qualquer abalo
negativo à moral da coletividade, pois o dano é, na verdade, apenas a consequência da lesão à
esfera extrapatrimonial de uma pessoa.” (Min. Mauro Campbell Marques).
O dano moral coletivo não significa a soma de uma série de danos morais individuais. A
ocorrência de inúmeros episódios de danos morais individuais não gera, necessariamente, a
constatação de que houve um dano moral coletivo.
IMPORTANTE: Não basta a mera infringência à lei ou ao contrato para a caracterização do dano
moral coletivo. É essencial que o ato antijurídico praticado atinja alto grau de reprovabilidade
e transborde os lindes do individualismo, afetando, por sua gravidade e repercussão, o círculo
primordial de valores sociais. O dano moral coletivo não pode ser banalizado para evitar o seu
desvirtuamento. STJ. 3ª Turma. REsp 1473846/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 21/02/2017.
#No que consiste o critério bifásico para fixação de dano moral aplicado por alguns dos
ministros do STJ?
29
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Pelo método bifásico, fixa-se inicialmente o valor básico da indenização, levando-se em conta a
jurisprudência sobre casos de lesão ao mesmo interesse jurídico. Assim, assegura-se "uma razoável
igualdade de tratamento para casos semelhantes". Em seguida, o julgador chega à indenização
definitiva ajustando o valor básico para mais ou para menos, conforme as circunstâncias específicas
do caso (gravidade do caso, sofrimento das vítimas, condição financeira do responsável, número
de autores etc.).
IMPORTANTE!!! A indenização por dano moral é calculada de acordo com o dano - sistema
aberto. Dessa forma, NÃO pode existir lei que limite a indenização (indenização tarifada).
O dano social vem sendo reconhecido pela doutrina como uma nova espécie
de dano reparável, decorrente de comportamentos socialmente reprováveis, pois diminuem o nível
social de tranquilidade, tendo como fundamento legal o art. 944 do CC (A indenização mede-se
pela extensão do dano).
Dano social não é sinônimo de dano moral coletivo. Danos sociais, segundo Antônio
Junqueira de Azevedo, “são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de
seu patrimônio moral — principalmente a respeito da segurança — quanto por diminuição na
qualidade de vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa
grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de
indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice
de qualidade de vida da população.” (p. 376).
Segundo explica Flávio Tartuce, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve ser
destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio ambiente
etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz (Manual de Direito do
Consumidor. São Paulo: Método, 2013, p. 58). É a aplicação da função social da responsabilidade
civil (PEREIRA, Ricardo Diego Nunes. Os novos danos: danos morais coletivos, danos sociais e
danos por perda de uma chance).
Registre-se, ainda, que na V Jornada de Direito Civil do CJF foi aprovado o Enunciado 455,
reconhecendo a existência do denominado dano social: "A expressão dano no art. 944 abrange não
só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e
individuais homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas". Para
que haja a condenação em danos sociais, é necessário pedido nesse sentido, sob pena de
julgamento extra petita (STJ - Rcl 12.062-GO -2015).
30
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
IMPORTANTE!!! Aprovou-se na quarta jornada de Direito Civil o enunciado 276, com o seguinte
teor: “O art. 13 do CC, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza a
cirurgia de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo CFM,
e a consequente alteração do prenome e do sexo no registro civil.”
A reprodução da imagem para fins comerciais (ou não, conforme a jurisprudência), sem
autorização do lesado, enseja direito a indenização, ainda que não lhe tenha atingido a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade.
31
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
aquilo que foi auferido mediante indevida interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra
pessoa. A obrigação de restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento
sem causa (art. 884 do CC). A ação de enriquecimento sem causa é subsidiária. Apesar disso, nada
impede que a pessoa prejudicada ingresse com ação cumulando os pedidos de reparação dos danos
(responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente auferido (lucro da intervenção). Para a
configuração do enriquecimento sem causa por intervenção, não se faz imprescindível a existência
de deslocamento patrimonial, com o empobrecimento do titular do direito violado, bastando a
demonstração de que houve enriquecimento do interventor. O critério mais adequado para se fazer a
quantificação do lucro da intervenção é o do enriquecimento patrimonial (lucro patrimonial). A
quantificação do lucro da intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de
liquidação de sentença, devendo o perito observar os seguintes critérios: a) apuração do quantum
debeatur com base no denominado lucro patrimonial; b) delimitação do cálculo ao período no qual
se verificou a indevida intervenção no direito de imagem da autora; c) aferição do grau de
contribuição de cada uma das partes e d) distribuição do lucro obtido com a intervenção
proporcionalmente à contribuição de cada partícipe da relação jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp
1698701-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/10/2018 (Info 634).
6- PROTEÇÃO À INTIMIDADE
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do
interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato
contrário a esta norma.
IMPORTANTE: Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária a autorização prévia do
indivíduo biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização
prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes: “É inexigível o consentimento de pessoa
biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual
desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de
pessoas falecidas ou ausentes”. Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia
entenda que seus direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser
feita não apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a
publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc. STF. Plenário. ADI
4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
32
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
CAPÍTULO III
DA AUSÊNCIA
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de
fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo
curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o
cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.
2- SUCESSÃO PROVISÓRIA
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
33
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos
quinhões respectivos.
§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia
exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste
essa garantia.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge , uma vez provada a sua
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse
dos bens do ausente.
3- DA SUCESSÃO DEFINITIVA
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão
definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
34
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão
definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão
só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou
o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens
alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não
regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União,
quando situados em território federal.
TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS
1- CONCEITO
Pessoas jurídicas são entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-as a serem
sujeitos de direitos e obrigações. Atuam na vida jurídica com personalidade diversa dos indivíduos
que a compõem.
2- NATUREZA JURÍDICA
Várias teorias procuram explicar o fenômeno da “pessoa jurídica”. Podem ser divididas em
dois grupos: teorias da ficção e teorias da realidade.
Ficção legal: (Savigny) pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei.
Obs.: Não são aceitas. O Estado é uma pessoa jurídica. Dizer que o estado é uma ficção é o mesmo
que dizer que o direito que dele provém também o é.
Teoria da realidade objetiva: Sustenta que a pessoa jurídica é um ser com vida própria, realidade
sociológica, nasce por imposição das forças sociais. Críticas: grupos sociais não tem vida própria,
personalidade.
35
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
São três: vontade humana (intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros),
observância das condições legais e licitude de seus objetivos (objetivos ilícitos ou nocivos
constituem causa de extinção da pessoa jurídica art. 69 CC).
O ato constitutivo deve ser levado a registro para que comece, então, a personalidade
jurídica da pessoa de direito privado. Antes do registro, não passará de mera sociedade de fato,
sociedade não personificada. O “nascimento” da pessoa jurídica se dá com o REGISTRO DO
ATO CONSTITUTIVO.
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para
seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se
conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua
dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às
demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa
jurídica.
36
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
De acordo com o art. 75, inc. IX do CPC/15, as sociedades sem personalidade jurídica serão
representadas ativa e passivamente, em juízo, pela pessoa a quem couber a administração de seus
bens.
A corporação visa à realização de fins internos, voltados para seus sócios. A fundação ao
contrário tem fins externos, estabelecidos pelo instituidor. Na corporação também existe
patrimônio, mas é elemento secundário. Na fundação o patrimônio é elemento principal.
IMPORTANTE!!! Art. 57 CC
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim
reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos
termos previstos no estatuto.
As sociedades simples têm fim econômico e visam lucro, que deve ser distribuído entre os
sócios. Em geral são constituídas por profissionais da mesma área. As sociedades empresárias
também visam lucro. Distinguem-se da sociedade simples porque têm por objeto o exercício de
atividade própria de empresário. Aplicam-se-lhe, no que couber, as disposições concernentes às
associações.
Fundações constituem acervo de bens, que recebem personalidade para a realização de fins
determinados. Compõem-se de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor
e não lucrativo). Somente poderão se constituir para fins religiosos, morais, culturais ou de
assistência.
1ª) Ato de dotação ou de instituição (reserva de bens livres com indicação dos fins). Faz-se por
escritura pública ou testamento.
2ª) Elaboração dos estatutos. Elaboração direta (pelo próprio instituidor) ou fiduciária (por
pessoa de confiança, por ele designada).
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo
ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o
estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da
autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo
instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá
ao Ministério Público.
37
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
As fundações serão sempre supervisionadas pelo MP, que atua como fiscal da lei por
intermédio da curadoria/veladura das fundações (art. 66). Por regra, a atuação cabe ao MP
estadual, com uma exceção, pois a outra foi declarada inconstitucional pelo STF: para as
fundações que funcionarem em várias unidades da Federação ao mesmo tempo, ou que estenderem
sua atividade por mais de um Estado ou Território, cabe a intervenção conjunta do MP de todos os
estados envolvidos (art. 66, §2º).
4ª) A do registro. Indispensável o registro, que se faz no CRPJ. Só com o registro a fundação
começa a ter existência legal.
c) Quanto à função: as pessoas jurídicas podem ser de direito público ou privado. As de direito
público podem ser de direito público externo (República federativa do Brasil, santa sé, outras
nações, ONU etc.) e de direito público interno. Estas podem ser da administração direta e indireta.
As pessoas jurídicas de direito privado são as corporações (sociedades e associações, partidos
políticos, associações religiosas, sindicatos) e fundações particulares.
Atenção!!! República Federativa do Brasil é pessoa de direito público externo; a União é pessoa
jurídica de direito público interno.
38
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Requisitos:
1) Insolvência da pessoa jurídica IMPORTANTE: Nas causas em que a relação jurídica for
cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica será regulada pelo
art. 50 do Código Civil. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é
condição para a desconsideração da personalidade jurídica. O que se exige é a demonstração
da prática de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial (art. 50 do CC). Assim, o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode ser instaurado mesmo nos casos em
39
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
que não for comprovada a inexistência de bens do devedor. STJ. 4ª Turma. REsp 1729554/SP, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/05/2018
Obs.: Desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e
para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
A teoria maior, adotada no art. 50 do CC, exige, além da insolvência (há entendimento do
STJ de maio de 2018 que dispensa esse requisito, por inexistir referência legal), a prova de
requisitos legais específicos – desvio de finalidade OU confusão patrimonial.
40
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
41
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Observa-se, pois, que o ordenamento jurídico doméstico abraçou a TEORIA MAIOR no art. 50 do
CC/2002 e a teoria menor no art. 28, § 5º, do CDC.
2) Analise, resumidamente, as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica
previstas no CC/2002.
O CC/2002 retratou a teoria maior da desconsideração da personalidade. Para tanto, basta
que se constate uma disfunção da empresa, ou seja, um abuso da personalidade social que pode se
dar de duas formas: a) pelo desvio de finalidade; b) pela confusão patrimonial.
42
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
A CONFUSÃO PATRIMONIAL, por sua vez, ocorre na medida em que o sócio se utiliza
do patrimônio da pessoa jurídica para efetuar pagamentos de dívidas pessoais ou vice-versa, bem
como quando há transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de
valor proporcionalmente insignificante, atentando, assim, contra o princípio da separação
patrimonial da entidade e de seus membros.
Por fim, é de se rememorar o teor do enunciado 146 da Jornada de Direito Civil: “nas
relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade
jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade ou confusão patrimonial)”.
É o que sintetiza o enunciado 283 da Jornada de Direito Civil que reconhece ser “cabível a
desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se
valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiro”.
43
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Inclusive, a doutrina civilista mais abalizada sustenta que a própria pessoa jurídica pode
pedir a desconsideração de sua personalidade para atingir o patrimônio de seus membros. É o que se
concluiu no Enunciado 285 da Jornada de Direito Civil: “a teoria da desconsideração, prevista no
art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor”.
Quanto à necessidade de citação pessoal dos sócios, com o advento do CPC/15, restou assim
regrado:
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-
se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
Esta regra aplica-se, inclusive, quando os administradores da pessoa jurídica praticam atos
estranhos ao objeto social e com isso causam prejuízo a terceiros por aplicação da teoria da
aparência. Ressalvam-se, no entanto, as hipóteses em que a limitação de poderes do administrador
conste do estatuto social ou, de alguma forma, seja do conhecimento do terceiro ou, ainda, o ato
praticado seja evidentemente estranho ao objeto social da pessoa jurídica (art. 1.015, parágrafo
único, do CC/2002 – teoria dos atos ultra vires – a pessoa jurídica não responde por ato praticado
por seus administradores quando evidentemente estranhos ao objeto social da pessoa jurídica). Com
efeito, a solução adotada pelo Código Civil de 2002 se dá no sentido do acolhimento da teoria dos
atos ultra vires, afirmando, a partir disso, que a sociedade não se vincula se os atos foram
evidentemente estranhos ao objeto social. O STJ já afirmou expressamente que a referida teoria foi
acolhida no direito brasileiro.
Portanto, a princípio, são situações diversas com soluções jurídicas díspares. Há, porém,
certa aproximação nas hipóteses que configuram a teoria ultra vires, pois, nestes casos, também os
administradores responderão com seu patrimônio pessoal pelas dívidas que contraíram em nome da
pessoa jurídica com excesso de poderes, mas, em tais situações, os requisitos legais são diversos.
44
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Por certo, devem ser observados os requisitos legais dispostos no art. 50, do CC/2002, além
do devido processo legal, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa. É o que explicam
ROSENVALD e CHAVES ao lecionar que: “independentemente de decisão judicial, é possível
ao Poder Público desconsiderar a personalidade jurídica para obstar que sociedades de
fachada celebrem contratos com o Estado ou declarar a ineficácia de determinados atos que
impliquem em prejuízo aos interesses públicos ou violação a texto legal. Sempre, porém,
dependendo da prova de ocorrência de um dos requisitos contemplados no art. 50 do Código
Civil”.
Também o STJ já teve oportunidade de abraçar a teoria, asseverando que “a Administração
Pública pode, em observância ao princípio da moralidade administrativa e da indisponibilidade dos
interesses públicos tutelados, desconsiderar a personalidade jurídica de sociedade constituída com
abuso de forma e fraude à lei, desde que facultado ao administrado o contraditório e a ampla defesa
em processo administrativo regular” (STJ, ROMS 15166/BA, DJU 08/09/2003).
Todavia, enquanto não integralizado por completo o capital social, o sócio responde
solidária e integralmente pelas dívidas da empresa, caso esta se mostre insolvente. Observa-se, pois,
que a sub capitalização implica na tentativa de reduzir os riscos do empreendimento, na medida em
que o sócio que deixa de integralizar sua cota social não arrisca perder seu patrimônio se a atividade
da empresa acarretar prejuízos.
45
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Por tal razão, ROSENVALD e CHAVES defendem que “em casos tais, nos quais ocorre a
infra capitalização de uma sociedade, há de se aplicar a desconsideração da personalidade jurídica
com base no abuso praticado pelo sócio que pretendeu fugir dos prováveis riscos do negócio,
atendido um de seus pressupostos legais”.
A DESCONSIDERAÇÃO INDIRETA, por sua vez, subsiste com frequência nos casos de
empresas controladora e controlada, sobretudo quando a primeira se utiliza da segunda para
praticar fraudes e abusos diversos, sendo possível, nestes casos, levantar o véu da sociedade
controlada para atingir o patrimônio da controladora. É o que ensinam ROSENVALD e
CHAVES:“Nessa hipótese, encontra-se a chamada desconsideração indireta da personalidade
jurídica, através da qual é permitido o levantamento episódico do véu protetivo da empresa
controlada para responsabilizar a empresa-controladora (ou coligada...) por atos praticados com
aquela de modo abusivo ou fraudulento”.
46
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
TÍTULO III
DO DOMICÍLIO
É em regra no foro de seu domicílio que o réu é procurado para ser citado.
1.1. CONCEITO
É a sede jurídica da pessoa. É onde ela se presume presente para efeitos de direito. Onde
pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos.
Domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo (art. 70
CC). Portanto RESIDÊNCIA é o elemento objetivo do conceito de domicílio . O elemento
subjetivo é o ÂNIMO DEFINITIVO. Domicílio não se confunde com habitação ou morada,
sendo esses os locais que a pessoa ocupa esporadicamente.
Uma pessoa pode ter um só domicílio e várias residências. Pode também ter mais de um
domicílio. Basta que tenha diversas residências onde alternativamente viva.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
47
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
É possível que alguém tenha domicílio sem ter residência fixa. Caso dos ciganos,
andarilhos etc. Eles têm seu domicílio onde forem encontrados.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual,
o lugar onde for encontrada.
Voluntário: pode ser geral (fixado livremente) ou especial (fixado com base no contrato:
foro contratual ou de eleição). O geral pode ser mudado de acordo com o art. 74 CC.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta
de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às
municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não
fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.
O foro de eleição está previsto no art. 63 do CPC/15. A parte beneficiada pelo foro de
eleição pode abrir mão do benefício e ajuizar a ação no domicílio do réu. Não se tem admitido o
foro de eleição no contrato de adesão, salvo demonstrando a inexistência de prejuízo para o
aderente.
48
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
LIVRO II
DOS BENS
1- NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Bens são coisas materiais ou imateriais úteis aos homens e de expressão econômica,
suscetíveis de apropriação.
Corpóreos são os bens que tem existência física ou material, e podem ser tangidos pelo
homem (podem ser objetos de compra e venda). Incorpóreos são os que têm existência abstrata,
mas têm valor econômico, como o direito autoral, o crédito etc. (é objeto de cessão). Ambos
integram o patrimônio da pessoa.
Certas coisas, insuscetíveis de apropriação pelo homem, como o ar atmosférico, o mar etc.
são chamados de coisas comuns e, por conseguinte, não podem ser objeto de relação jurídica.
Entretanto, sendo possível sua apropriação em porções limitadas, tornam-se objeto de direito.
As coisas sem dono são chamadas de res nullius. Podem ser apropriadas por quem a
encontrar. A coisa móvel abandonada é chamada de res derelicta. O seu titular a lançou fora com
a intenção de não a ter mais para si, de forma que pode ser apropriada por outra pessoa.
2- CLASSIFICAÇÃO
49
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Conceito – O bem de família voluntário é instituído por ato de vontade do casal (casado ou
em união estável – unidade familiar) ou por ato de terceiro e registrado no Cartório de
Imóveis (art. 167, I, 1, da LRP).
Para instituir o bem de família voluntário na forma do Código Civil deve-se lavrar um
instrumento constituindo aquele imóvel como bem de família e levar a registro perante o cartório de
imóveis. Exige-se, pois:
1) manifestação de vontade e
2) registro.
Efeitos - Feita essa inscrição no cartório de imóveis, dois efeitos decorrem do bem de
família voluntário:
Impenhorabilidade
Relativas
Inalienabilidade
Então, para vender o bem de família, tem de colher a manifestação de todos os interessados,
não só da minha vontade, mas também da minha esposa e, se houver incapazes, haverá intervenção
do MP. Para poder vender, é preciso CANCELAR o registro do bem de família.
“Registrado o bem de família voluntário, ele se torna impenhorável por dívidas futuras,
com as ressalvas do art. 1.715.”
Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua
instituição, SALVO as que provierem de TRIBUTOS relativos ao prédio, ou de
despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo
existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da
dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem
outra solução, a critério do juiz.
50
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
a) O bem de família não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos
instituidores.
Não pode o bem de família voluntário ultrapassar 1/3 do patrimônio dos instituidores.
O terceiro aí é um avô, por exemplo, que poderá destinar um apartamento como bem de
família voluntário.
O Código permite que na mesma escritura que afeta o apartamento como bem de família, se
afete também um VALOR MOBILIÁRIO, uma renda que mantém o imóvel. Não é qualquer
renda, mas uma renda que conserva o imóvel.
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com
suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar,
e PODERÁ ABRANGER VALORES MOBILIÁRIOS, cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Então, o valor que tenho depositado em fundo de investimento, por exemplo, é valor
mobiliário. Posso dizer, na escritura, que transformo em bem de família o apartamento e a renda
que o mantém.
Obs.: Situação diversa pode ocorrer: por necessidade econômica, o casal poderá ser compelido a
alugar o seu único imóvel residencial. Pergunta-se: #Neste caso, a renda proveniente do aluguel é
impenhorável pelas regras do bem de família?
Por necessidade econômica, o casal teve que sair do imóvel. Alugou a única casa que tinha e
passou a viver na casa de parentes, vivendo da renda de aluguel do seu único imóvel. #A renda de
aluguel que seu imóvel produz e que mantém a família é impenhorável?
Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado
a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia
da sua família.
IMPORTANTE: Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel
RESIDENCIAL do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação
seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família." A 2ª Turma do STJ, contudo,
ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel COMERCIAL do
devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento
51
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
de locação residencial por sua entidade familiar. STJ. 2ª Turma. REsp 1616475-PE, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).
IMPORTANTE!!! Essa lei que consagrou o bem de família legal poderia ser aplicada para
situações de penhora anteriores a ela? Sabemos que lei civil, como regra, não retroage. O que
retroage é norma penal benéfica. O STJ, em uma interpretação social de resgate à dignidade da
pessoa humana, a despeito do posicionamento no sentido de que o ato jurídico perfeito deve ser
preservado, sumulou que a Lei 8.009 poderia ser aplicada para situações anteriores à sua
vigência.
52
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Súmula 449-STJ: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis
não constitui bem de família para efeito de penhora.
A lei não diz o que está protegido. Diz o que não está protegido.
Exemplos, na jurisprudência brasileira e doutrina, de bens móveis protegidos pela Lei 8.009:
Freezer, máquina de lavar, máquina de secar, computador, televisão, ar-condicionado, instrumento
musical (teclado).
#Vaga de garagem é protegida pela Lei 8009? Cuidado com CESPE porque STJ tem firmado
entendimento a respeito disso:
A garagem, se tiver registro separado, vai ser penhorada. Se estiver conjugada com a área
privativa do apartamento, está protegida. A questão é investigar se há matrícula e registros
separados ou não para efeito de penhora.
O teto de 1/3 do patrimônio líquido é instituído para o bem de família voluntário. A lei 8.009
protege o seu apartamento independentemente de teto.
IMPORTANTE: A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode
ser afastada por renúncia do devedor ao privilégio, pois é princípio de ordem pública,
prevalente sobre a vontade manifestada. A despeito disso, o bem de família legal não gera
inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique atos de disposição dele,
podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia. A
utilização abusiva do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e,
portanto, não deve ser tolerada. Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de
família que exerce o direito em desconformidade com o ordenamento jurídico. STJ. 4ª Turma. REsp
1595832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/10/2019 (Info 664).
São aquelas trazidas pelo art. 3º. Doutrinariamente, entende-se que essas exceções à
impenhorabilidade do bem de família da lei 8009/90, que são de ordem pública, devem ser
53
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
aplicadas também ao bem de família voluntário, sob pena de se abrir uma grande brecha para
fraudes no direito brasileiro:
O inc. I trazia a hipótese em que o bem de família poderia ser penhorado para o pagamento
dos créditos dos trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias,
porém tal possibilidade foi REVOGADA pela LC 150/2015.
Se o agente financeiro financiou a construção ou a aquisição de sua casa própria, não lhe
será oponível a proteção/impenhorabilidade decorrente da figura do bem de família.
IMPORTANTE: O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial,
de imóvel residencial, encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família. Ex.:
João comprou uma casa antiga para reformar e passar a morar ali com a família. Ele contratou a
empresa FB Engenharia para fazer a reforma. A empresa terminou o serviço e João passou a residir
no local. Ocorre que ele não pagou as últimas parcelas do contrato com a empresa e ficou devendo
R$ 40 mil, materializado em notas promissórias. O imóvel onde João reside poderá ser penhorado
para pagar a dívida, sendo essa uma exceção à impenhorabilidade do bem de família. Fundamento:
art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90. Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo
titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no
limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; STJ. 4ª Turma.
REsp 1221372-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/10/2019 (Info 658).
IMPORTANTE: O art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90 prevê que o bem de família poderá ser penhorado
para a cobrança de “crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato”. A
exceção prevista neste inciso II do art. 3º deve ser estendida também aos casos em que o
proprietário firma contrato de promessa de compra e venda do imóvel e, após receber parte do preço
ajustado, se recusa a adimplir com as obrigações avençadas ou a restituir o numerário recebido, e
não possui outro bem passível de assegurar o juízo da execução. STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp
806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 08/03/2016.
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem,
do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal,
observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; (Redação
dada pela Lei nº 13.144 de 2015)
Não haverá proteção inerente à figura do bem de família se o processo foi movido pelo
credor de pensão alimentícia. A esposa ingressou com execução, o apartamento do ex-marido
devedor pode ser penhorado.
54
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: “O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento, seguido pelo STJ, no sentido de que A
COBRANÇA DE TAXA DE CONDOMÍNIO RESULTA TAMBÉM NA PENHORA DO
IMÓVEL (RE 439.003/SP)”.
Condomínio não é tributo, mas o STF deu uma interpretação extensiva pelo fundamento de
política social.
55
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
de família, nos termos do art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90. STJ. 4ª Turma. REsp 1473484-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info 631).
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo
casal ou pela entidade familiar;
IMPORTANTE!!! “O STJ, por outro lado, como se lê no agravo regimental REsp 813.546/DF,
tem entendido que a simples indicação do bem à penhora NÃO implica renúncia ao benefício da
lei 8009/90.”
IMPORTANTE: Em regra, o bem de família não pode ser penhorado (art. 1º da Lei nº 8.009/90).
O inciso V do art. 3º diz, contudo, que o bem de família pode ser penhorado se o imóvel foi
oferecido em hipoteca como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. A hipoteca é uma
espécie de direito real de garantia, disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil. Se a parte
que deu o bem em hipoteca não cumprir a sua obrigação, o credor poderá executar a hipoteca,
hipótese na qual o imóvel dado em garantia será alienado e o valor obtido utilizado para pagar o
débito. Assim, em regra, é possível a penhora do imóvel que tiver sido oferecido como garantia
real pelo casal ou pela entidade familiar. O STJ, contudo, ao interpretar esse inciso, faz a
seguinte observação: a penhora do bem de família somente será admitida se o imóvel foi dado
em garantia de uma dívida que beneficiou o casal ou entidade familiar. Desse modo, a exceção
prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica aos casos em que a hipoteca é dada como
garantia de empréstimo contraído em favor de terceiro, somente quando garante empréstimo
tomado diretamente em favor do próprio devedor. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp
665.233/SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 06/02/2018.
Este era o mais polêmico. Fiador em contrato locatício não tem bem de família no Brasil,
conforme já decidido pelo STJ e pelo STF.
56
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
“O Supremo Tribunal Federal, por seu plenário, já afirmou ser constitucional a penhora do
imóvel residencial do fiador na locação (RE 352.940-4/SP).”
Classificação fundada na efetiva natureza dos bens. Seus principais efeitos são: os bens
móveis são adquiridos por tradição, enquanto os imóveis dependem de escritura pública
(registro). Os imóveis exigem outorga uxória para serem alienados, já os móveis não precisam
da outorga. Prazos diferentes para a usucapião. A hipoteca é o direito real de garantia para os bens
imóveis e o penhor para os bens móveis.
São as coisas que não podem ser removidas de um lugar para o outro sem a sua destruição
(conceito que não abrange os imóveis por determinação legal).
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.
Os bens imóveis em geral podem ser classificados dessa forma: imóveis por natureza, por
acessão natural, por acessão artificial e por determinação legal.
a) Imóveis por natureza: em rigor somente o solo, com sua superfície, espaço aéreo, é imóvel por
natureza. Tudo que é aderido será considerado imóvel por acessão.
b) Imóveis por acessão natural: são as árvores, frutos pendentes, bem como todos os acessórios e
adjacências naturais.
57
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
c) Imóveis por acessão artificial ou industrial: é a produzida pelo trabalho do homem. São as
construções e plantações. Não se incluem as construções provisórias tais como circos e parques de
diversão.
Obs.: O CC 2002, ao contrário do CC 1916, não faz alusão à acessão intelectual. A razão é que o
CC 2002 trouxe o conceito de pertença.
De acordo com o art. 84 CC “Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não
forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes
da demolição de algum prédio.”
IMPORTANTE!!! A renúncia à herança é, portanto, renúncia de imóvel, devendo ser feita por
escritura pública mediante autorização do cônjuge.
IMPORTANTE!!! Navios e aeronaves são bens móveis. São considerados bens imóveis apenas
para fins de hipoteca.
Existem ainda os móveis por antecipação. São bens incorporados ao solo, mas com a
intenção de separá-lo oportunamente. Ex.: Árvore plantada para o corte.
58
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Bens fungíveis são os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade. Infungíveis são os bens que não têm esse atributo.
A fungibilidade é característica dos bens móveis. Mas em situações específicas pode ocorrer
que venha a alcançar os imóveis. Ex.: ajuste sobre loteamento, cada um é dono de X lotes.
A fungibilidade pode resultar da vontade das partes. Ex.: A moeda é um bem fungível, mas
se for de um colecionador se torna infungível.
O art. 86 diz que são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância (consumíveis de fato), sendo também considerados tais os destinados à
alienação (consumíveis de direito).
Inconsumíveis, ao contrário, são os que admitem o uso reiterado da coisa sem importar
destruição.
Pode o bem consumível se tornar inconsumível por vontade das partes e vice-versa. Ex.:
Garrafa de vinho em uma exposição e um livro posto à venda.
Obs.: O usufruto, em regra, não pode recair sobre bens consumíveis. Caso recaia, será chamado de
usufruto impróprio.
Os bens podem ser indivisíveis por natureza (não se pode fracionar sem alteração da
substância, diminuição de valor), por determinação legal (servidões, hipotecas) e por vontade das
partes (convencional). No caso da convencional, o acordo NÃO poderá tornar a coisa indivisa por
prazo maior de CINCO ANOS.
De acordo com o art. 89 CC, são singulares os bens que, embora reunidos, se
consideram de per si, independentemente dos demais. Ex.: A árvore pode ser bem singular ou
coletivo, conforme seja encarada individualmente ou agregada a outras (floresta).
59
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Principal é o bem que tem existência própria, que existe por si só. Acessório é o bem cuja
existência dependa do principal. Ex.: Solo é bem principal, e a árvore plantada ao solo é um bem
acessório.
O art. 92 CC diz que “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;
acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.” Em consequência disso, como regra, o
bem acessório segue o principal (princípio da gravitação jurídica). Para que tal não ocorra é
necessário que se tenha estabelecido o contrário ou que haja previsão legal (art. 1284 CC).
Na grande classe dos bens acessórios compreendem-se os frutos e produtos que, de acordo
com o art. 95 do CC, podem ser objeto de relações jurídicas.
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos
PODEM ser objeto de negócio jurídico.
Frutos são utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa
sem lhe acarretar destruição no todo ou em parte. Dividem-se quanto à origem em naturais,
industriais e civis. Naturais são os que se renovam periodicamente em virtude de força orgânica
Ex.: Fruto de uma árvore. Industriais são os que aparecem pela mão do homem. Ex.: Produção de
uma fábrica. Civis são os rendimentos produzidos pela coisa. Ex.: Aluguéis.
Os frutos também podem ser classificados quanto a seu estado em pendentes (enquanto
unidos à coisa que o produziu), percebidos ou colhidos (depois de separados), estantes (separados
para venda), percipiendos (os que deviam ser, mas não foram colhidos ou percebidos) e
consumidos (os que não existem mais porque foram utilizados).
60
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
2.3.1 Pertenças
Ex.: Máquinas de uma propriedade agrícola (inclusive trator), objetos de decoração de uma casa.
O art. 94 CC nos traz a diferença entre pertença e parte integrante ao dizer que “Os negócios
jurídicos que dizem respeito ao bem principal NÃO ABRANGEM AS PERTENÇAS, salvo se
o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso”.
Esta classificação não tem caráter absoluto, pois uma mesma benfeitoria pode ser
enquadrada em uma ou outra espécie dependendo da circunstância.
As benfeitorias necessárias não são apenas as que se destinam à conservação da coisa, mas
são também aquelas que permitem a normal exploração econômica do bem.
61
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei
determinar.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído,
conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração
pertencerem.
Conceito: são os do domínio nacional pertencente às pessoas jurídicas de direito público interno.
Os bens de uso comum do povo e os de uso especial são bens de domínio público do estado.
Os dominicais são do domínio privado do estado.
Os bens de uso comum do povo podem ser utilizados por qualquer um do povo sem
formalidades. NÃO perdem essa característica se o poder público regulamentar seu uso, ou tornar
seu uso oneroso. A administração também pode restringir seu uso em razão de segurança nacional.
O povo somente tem o direito de usar tais bens, não tem, portanto, seu domínio.
Os bens de uso especial são os bens que se destinam especialmente à execução dos serviços
públicos.
Por exclusão, são todos os outros bens não pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno, mas a pessoa natural ou jurídica de direito privado.
LIVRO III
DOS FATOS JURÍDICOS
TÍTULO I
DO NEGÓCIO JURÍDICO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
1- CONCEITOS
Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em fatos naturais e fatos
humanos. Os primeiros decorrem da natureza e os segundos da atividade humana. Os fatos naturais
63
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
por sua vez se dividem em ordinários (nascimento, morte etc.) e extraordinários (terremoto, chuva
etc.).
Os fatos humanos ou ato jurídico em sentido amplo são ações humanas que criam,
modificam, transferem ou extinguem direitos; dividem-se em lícitos e ilícitos. Lícitos são as ações
humanas em que a lei defere o efeito almejado pelo agente. Ilícito, por ser praticado em desacordo
com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas impostos pelo
ordenamento.
c) Ato-fato jurídico: no ato-fato jurídico ressalta-se a consequência do ato, o fato resultante, sem
se levar em consideração a vontade de praticá-lo. O efeito do ato não é buscado nem imaginado
pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei, como no caso da pessoa que acha
casualmente um tesouro.
Unilaterais são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade, como o
testamento, codicilo, promessa de recompensa etc. São de duas espécies, os receptícios, que são
aqueles em que a declaração de vontade tem que se tornar conhecida do destinatário para produzir
efeitos, a exemplo da revogação de mandato. Os não receptícios, por sua vez, são aqueles em que o
conhecimento por parte de outras pessoas é irrelevante. Ex.: testamento etc.
Bilaterais são os que se perfazem com duas manifestações de vontade, coincidentes sobre
o objeto. Podem existir várias pessoas no polo passivo sem que o negócio jurídico deixe de ser
bilateral.
IMPORTANTE!!! Contratos bilaterais são aqueles que são onerosos para ambas às partes,
sinalagmáticos. Sendo diferente de negócio jurídico bilateral (duas manifestações de vontade).
Plurilaterais são os contratos que envolvem mais de duas partes. Ex.: Contrato de sociedade
com mais de dois sócios.
64
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Gratuitos são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou benefícios. Ex.:
Doação pura.
Onerosos são aqueles em que ambos os contratantes auferem vantagens, as quais, porém,
correspondem a uma prestação. Ex.: Compra e venda.
Neutros se caracterizam pela destinação do bem. Ex.: Tornar um bem inalienável, instituir
determinado bem como bem de família.
Bifrontes são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das
partes, como mútuo, o mandato e o depósito. Só é possível se o contrato é definido em lei como
gratuito, pois tornar gratuito um negócio que a lei prevê como oneroso implicaria ou poderia
implicar na subversão de sua causa. Nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos em
onerosos por convenção das partes. Ex.: doação e comodato ficariam desfigurados, pois se
tornariam venda e locação respectivamente.
Os negócios celebrados inter vivos produzem efeitos desde logo, com as partes ainda vivas.
Mortis causa são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente.
Principais são os que têm existência própria e não dependem, pois, da existência de
qualquer outro.
Acessórios são os que têm sua existência subordinada à existência do contrato principal
(cláusula penal, fiança). Os acessórios seguem o destino do principal (princípio da gravitação
jurídica). Nulo o principal, também será nulo o acessório, sendo que a recíproca não é
verdadeira.
Solenes são os negócios que devem obedecer a forma prescrita para se aperfeiçoar. A
solenidade pode consistir em elemento da própria substância do ato, ou pode ser exigida apenas
como prova do ato.
Não solenes são os negócios de forma livre. Podem ser celebrados inclusive verbalmente.
Complexos são os que resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente.
Estes são alguns artigos que ajudam a interpretar o negócio jurídico. Algumas regras devem
ser observadas em relação à interpretação do negócio jurídico. A melhor maneira de se apurar a
intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual as partes vinham o executando de comum
acordo. Na dúvida se interpreta de maneira menos onerosa ao devedor. As cláusulas contratuais
devem ser interpretadas em conjunto com as demais, e não isoladamente.
66
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: Princípio da obrigatoriedade dos contratos: o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt
servanda), não podendo, por regra, ser modificado pelo judiciário. Opõem-se à obrigatoriedade dos
contratos os princípios da revisão do contrato e da onerosidade excessiva, baseados na cláusula
rebus sic stantibus e na teoria da imprevisão, que autoriza o judiciário a rever os contratos ante a
ocorrência de fatos extraordinários e imprevisíveis.
A capacidade do agente é a aptidão para intervir nos negócios jurídicos como declarante ou
declaratário. A incapacidade de exercício é suprida pela representação e pela assistência.
Objeto lícito é o que não atenta contra a moral, a lei ou os bons costumes. O objeto deve
também ser possível. Quando impossível o negócio é nulo. A impossibilidade pode ser física ou
jurídica. O objeto deve ser também determinado ou determinável (indeterminado relativamente
ou suscetível de determinação no momento da execução).
A forma deve ser prescrita ou não defesa em lei. Em regra, a forma é livre, mas, em
algumas situações, a lei pode exigir forma determinada para garantir a segurança jurídica.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir.
IMPORTANTE!!! Art. 108 CC. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial
à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.
67
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
b) Forma especial: é a exigida pela lei como requisito de validade para determinados negócios
jurídicos.
c) Forma contratual: é a convencionada pelas partes. Ex.: art. 109 CC.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
instrumento público, este é da substância do ato.
5- RESERVA MENTAL
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento.
Ocorre a reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é,
quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro
contratante. Se este, entretanto, não souber da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o
declarante não desejava. A reserva é indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere à
validade e eficácia do negócio jurídico.
Enquanto a reserva mental estiver só no íntimo do agente, não há qualquer repercussão para
o Direito. Porém, quando a reserva mental se manifesta, existem efeitos jurídicos.
68
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
CAPÍTULO II
DA REPRESENTAÇÃO
69
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome
do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o
fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.
CAPÍTULO III
DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO
1- INTRODUÇÃO
70
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
IMPORTANTE!!! Essas convenções acessórias são admitidas nos atos patrimoniais em geral, mas
não podem integrar os de caráter eminentemente pessoal como os direitos de família e os
direitos personalíssimos. Ex.: Reconhecimento de filho, casamento, adoção etc.
2- CONDIÇÃO
Conceito:
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, DERIVANDO
EXCLUSIVAMENTE DA VONTADE DAS PARTES, subordina o efeito do
negócio jurídico a EVENTO FUTURO E INCERTO.
IMPORTANTE!!! Condição não pode ser relativa a fato passado (ex.: loteria que correu ontem)
IMPORTANTE!!! A morte não é uma condição. Não há incerteza. Exceção: a morte é condição se
o sujeito limitar o evento a um período de tempo. Ex.: Vou doar a minha fazenda se meu tio que lá
mora morrer até o dia 02/02.
IMPORTANTE!!! Toda cláusula que estabelece condição deriva da vontade das partes. Não pode
a lei estabelecer condição (a condiciones júris não é mais possível).
a) Suspensiva: a condição suspensiva é aquela que suspende ou paralisa o início dos efeitos
jurídicos do negócio jurídico. Impede que o ato produza efeitos até a realização do evento
futuro e incerto.
De acordo com o art. 125 CC, subordinando-se o negócio jurídico a uma condição
suspensiva, os direitos e obrigações decorrentes ainda não se produzem (o negócio jurídico ainda
não é exigível). A condição suspensiva não se harmoniza com o pagamento antecipado da dívida.
b) Resolutiva: enquanto esta não se implementa, o negócio jurídico produz seus válidos efeitos. É a
que extingue, resolve o direito transferido pelo negócio, ocorrendo o evento futuro e incerto.
71
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
De acordo com o art. 128 CC, a regra geral é que a ocorrência de condição resolutiva não
interfere no que já foi cumprido em um contrato de prestação sucessiva ou periódica.
IMPORTANTE!!! O art. 130 CC permite ao titular do direito eventual, nos casos de condição
suspensiva ou resolutiva, praticar os atos destinados a conservá-lo.
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou
resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.
IMPORTANTE!!! Enquanto não se verifica ou não se frustra o evento futuro e incerto a condição
encontra-se pendente. A verificação da condição se chama implemento. A sua não ocorrência se
chama frustração.
Preceitua o art. 129 “Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo
implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao
contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o
seu implemento”.
Prescreve o art. 126: “Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e,
pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição,
se com ela forem incompatíveis.” Quem adquire um domínio resolutivo está assumindo um risco,
não podendo alegar prejuízo se advier a resolução”.
a) Lícita: a que não é contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
b) Ilícita: a que for contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
IMPORTANTE!!! Consideram-se ilícitas também as condições puramente potestativas, como
também o são as condições perplexas (condição perplexa é a condição contraditória, que priva o
negócio jurídico de efeitos. Ex.: Contrato de locação, onde firma-se a condição de não morar no
imóvel).
IMPORTANTE!!! A condição ilícita invalida todo o negócio jurídico e não apenas a cláusula
que impõe a condição.
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico (perplexas), ou o sujeitarem ao puro
arbítrio de uma das partes (puramente potestativa).
72
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
a) Casual (ou causal): uma condição casual é uma condição relativa à um evento da natureza. (Ex.:
Se chover).
b) Mista: são as que dependem, ao mesmo tempo, de um ato volitivo, somado a um evento natural.
Ex.: “dou-lhe um veículo se você cantar amanhã, desde que esteja chovendo durante o espetáculo”.
c) Potestativa: a que deriva da vontade da parte (dependem do elemento volitivo). Existem dois
tipos de condição potestativa.
IMPORTANTE!!!
Obs.: Caso a condição simplesmente potestativa se torne impossível, passa a se chamar condição
promíscua. (Ex.: O jogador quebra a perna, logo ele não poderá ser o artilheiro).
a) Fisicamente impossíveis: são as que não podem ser cumpridas por nenhum ser humano. Desde
que a impossibilidade física seja genérica, têm-se por inexistentes quando resolutiva, isto é, serão
consideradas não escritas. Quando suspensivas, por outro lado, invalidam o negócio jurídico.
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando
RESOLUTIVAS, e as de não fazer coisa impossível.
3- TERMO
Termo é o dia que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. Termo condicional
é a cláusula contratual que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo (difere
da condição que a subordina a evento futuro e incerto). O termo, em regra, é identificado pela
conjunção “quando”.
73
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
IMPORTANTE!!! Pode ocorrer que o termo, embora certo e inevitável no futuro, seja incerto
quanto à data de sua verificação. Ex.: Te darei tal bem a partir da morte de tal pessoa.
Sob o aspecto referido acima, o termo pode ser incerto (exemplo acima), ou certo (quando se
reporta a data do calendário ou lapso certo de tempo).
IMPORTANTE!!! Termo de direito é o que decorre da lei e termo de graça é a dilação do prazo
concedido ao devedor.
O termo também pode ser inicial ou suspensivo e final ou resolutivo. O termo inicial
suspende o exercício, mas não a aquisição do direito (diferente da condição suspensiva – que
suspende a aquisição do direito).
Dispõe o art. 135 CC: Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva.
IMPORTANTE!!! Termo não se confunde com prazo. Prazo é o intervalo entre o termo a quo e o
termo ad quem. Está regulamentado nos arts. 132 a 134 CC.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os
prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até
o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo,
salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.
4- ENCARGO OU MODO
Conceito: com base na doutrina italiana, podemos conceituar o encargo como sendo um
ônus que se atrela a uma liberalidade (suporta-se um prejuízo em nome de um benefício maior).
Segundo dispõe o art. 136 CC o encargo NÃO suspende a aquisição do direito . O direito
desde já é seu. Se este encargo não for cumprido, a liberalidade pode ser revogada.
Art. 136. O encargo NÃO suspende a aquisição nem o exercício do direito,
SALVO quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente,
como condição suspensiva.
74
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Dispõe o art. 137 CC: Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico .
Em regra, não invalida o negócio jurídico todo, apenas o encargo. Porém, invalida-se todo o
negócio jurídico se o encargo ilícito for o motivo determinante do negócio jurídico.
CAPÍTULO IV
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
1- INTRODUÇÃO
Trata-se das hipóteses em que a vontade se manifesta com algum vício que torne o negócio
anulável.
O CC trata de seis defeitos: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra
credores. É ANULÁVEL o negócio jurídico que contenha tais vícios.
75
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
I - por INCAPACIDADE RELATIVA do agente;
II - por vício resultante de ERRO, DOLO, COAÇÃO, ESTADO DE PERIGO,
LESÃO OU FRAUDE CONTRA CREDORES.
Segundo o art. 178 do CC, é de QUATRO ANOS o prazo de decadência para pleitear-se a
anulação do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia
em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
A simulação é também considerada um vício social. O art. 167 CC declara nulo o negócio
jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
2- ERRO OU IGNORÂNCIA
IMPORTANTE!!! Não é todo erro que vicia o negócio jurídico. A doutrina clássica costumava
afirmar que o erro, para ser invalidante do negócio jurídico precisa observar dois requisitos:
a) Ser escusável, perdoável - um erro que uma pessoa normal cometeria.
b) Ser SUBSTANCIAL, essencial, capaz de influir no negócio jurídico - o erro deve atacar a
essência do negócio jurídico.
IMPORTANTE!!! Na doutrina moderna, sustenta-se que o erro deva ser essencial, porém não se
deve investigar se a pessoa atuou ou não com diligência normal (não precisa ser escusável). A
doutrina moderna diz que o requisito da escusabilidade não mais é exigível (art. 138), uma vez que
o CC adotou o princípio da confiança (valorização da eticidade). É o que dispõe o Enunciado 12 da
I Jornada de Direito Civil do CJF: “na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o
erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”. Portanto, para o juiz anular o negócio
jurídico por erro, não precisa mais investigar a escusabilidade do erro.
76
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
a) Erro sobre o negócio: aquele que incide na estrutura e na causa da declaração negocial, de
maneira que se celebra equivocadamente um negócio por outro (acha que é doação, mas é
empréstimo).
b) Erro sobre o objeto: ataca a natureza ou as características do objeto do negócio jurídico (acha
que é ouro, mas é latão, acha que é marfim, mas é osso de gambá).
c) Erro sobre a pessoa: incide nas características e nos elementos de identificação do outro
declarante. Incide muito no casamento.
d) Erro de direito: ao contrário dos demais, essa modalidade de erro não é erro sobre o fato, mas
sim é um erro jurídico, sobre a ilicitude do fato.
IMPORTANTE!!! O erro de direito trata-se de uma modalidade de erro que, sem traduzir
intencional recusa à aplicação da lei, incide no âmbito de atuação permissiva da norma. O erro é de
interpretação da norma, acha permitido o que é proibido. Constitui exceção ao princípio da
obrigatoriedade da lei, pelo qual ninguém pode deixar de cumprir a lei alegando não a conhecer. A
título de exemplo, imagine-se o caso de um locatário de imóvel comercial que celebra novo contrato
de locação, mais oneroso, pois pensa que perdeu o prazo para a ação renovatória. Sendo leigo no
assunto, o locatário assim o faz para proteger seu ponto empresarial. Cabe, pois, a alegação de erro
de direito essencial ou substancial, a motivar a anulação desse novo contrato.
IMPORTANTE!!! Erro acidental se opõe ao substancial e real. O erro acidental não invalida
o negócio jurídico. Refere-se a circunstâncias de menor importância, que, se conhecida a realidade,
o negócio ainda seria realizado.
IMPORTANTE!!! Não havendo prejuízo, na forma do art. 144, não existirá erro invalidante - pas
de nullité sans grief.
prazo (30 dias em se tratando de bem móvel e um ano se for imóvel). O erro quanto às qualidades
essenciais do objeto é SUBJETIVO, pois reside na manifestação de vontade . Dá ensejo ao
ajuizamento de ação anulatória, sendo de quatro anos o prazo decadencial.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos
mesmos casos em que o é a declaração direta.
O motivo do negócio NÃO precisa ser mencionado pelas partes. Motivos são as ideias,
razões subjetivas, interiores, consideradas acidentais e sem relevância para a validade do negócio. O
motivo de um negócio jurídico pode ser conceituado como sendo a razão pessoal da sua celebração,
estando no seu plano subjetivo. O motivo, portanto, diferencia-se da causa do negócio, que está no
plano objetivo. Ilustrando, quando se analisa um contrato de compra e venda, a causa é a
transmissão da propriedade. Os motivos podem ser os mais variados, de ordem pessoal das partes: o
preço está bom, o imóvel é bem localizado, o comprador quer comprá-lo para presentear alguém
etc.
Ex.: O testador beneficia seu sobrinho José, mas descobre-se que ele não tem sobrinho, mas sim,
um afilhado José.
Segundo o art. 143, o erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
IMPORTANTE!!! Interesse negativo (uma compensação para o contratante que não concorreu
para o erro). O CC não prevê essa hipótese, mas ela decorre dos princípios gerais do direito,
especialmente o que protege a boa-fé.
3- DOLO
O dolo traduz um artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, com o
propósito de prejudicar outrem, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro. Obs.: Dolus bonus é
socialmente aceito e juridicamente permitido (tolerável e aceito nos meios comerciais). Ex.:
Propaganda que realça as características do produto (o que não se aceita é a deturpação das
características do produto ou a omissão de informação).
78
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Dentro do âmbito da atuação dolosa proibida está inserida a vedação das mensagens
subliminares (mensagem subliminar traduz uma forma sub-reptícia de transferência de informação
não perceptível pelos mecanismos racionais do destinatário). Hoje a proibição é implícita, decorre
dos princípios do CDC.
O dolo invalida o negócio jurídico tornando-o anulável. Para a doutrina brasileira, o dolo se
subdivide em:
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
(dolo principal)
É chamado principal, pois o dolo foi a causa da celebração do negócio jurídico. Ou seja,
sem o dolo o negócio não seria realizado.
b) Dolo acidental: este dolo não invalida o negócio jurídico, mas apenas gera a obrigação de pagar
perdas e danos. (art. 146 CC). É acidental quando apesar do dolo, o negócio seria realizado,
embora de outra maneira. Esse dolo não ataca a substância do negócio.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional (dolo negativo)
de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado,
constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Resumindo!!! Portanto, o dolo de terceiro só anula o negócio se a parte a quem este aproveita
tivesse ou devesse ter conhecimento.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a
parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário,
ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e
danos da parte a quem ludibriou.
79
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização.
4- COAÇÃO
IMPORTANTE!!! A coação invalidante é a coação moral (vis compulsiva). A coação física (vis
absoluta) interfere na existência do negócio jurídico, uma vez que não há sequer manifestação da
vontade (há corrente doutrinária que critica a tese da inexistência sob o pretexto de que o CC não
trata da inexistência dos negócios jurídicos, resolvendo os vícios que os alcançam no plano da
validade da escada de Pontes de Miranda – escada ponteana da existência, validade e eficácia – a
corrente doutrinária que tece críticas à inexistência afirma que a coação física implica nulidade
absoluta por indeterminação do objeto, diante de uma vontade que não existe).
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua
família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente,
o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Nem toda ameaça configura coação, o artigo 151 especifica os requisitos para que a coação
possa viciar o consentimento. São eles:
a) Deve ser a causa do ato: sem a coação o negócio não se teria concretizado.
b) Deve ser grave: a coação deve ter tal intensidade que efetivamente incuta ao paciente um
fundado temor de dano. “Não se considera coação o simples temor reverencial”.
c) Deve ser injusta: deve ser contrária ao direito, ou abusiva. “não se considera coação a ameaça do
exercício normal de um direito.”
d) Deve ser dano atual ou iminente: dano próximo, afastando assim o dano distante ou remoto.
e) Deve acarretar justo receio de dano.
f) Deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou aos bens da vítima, ou às pessoas da sua
família: o termo família tem hoje acepção ampla (casamento, união estável). O parágrafo único do
art. 151 dispõe que se a coação disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o
juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
80
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
De acordo com o art. 152 do CC, a análise de toda coação é feita de acordo com cada caso
concreto, ou seja, ao apreciar a coação levam-se em conta as características da pessoa coagida.
Ex.: Coagir um terrorista, homem-bomba das FARC, não é o mesmo que coagir uma velhinha
ingênua.
Art. 148 CC. Dolo de terceiro: o negócio jurídico só é anulado se a parte a quem aproveita
soubesse ou, pelas circunstâncias, devesse saber do dolo usado pelo terceiro. Caso contrário, o
negócio jurídico subsiste, mas o terceiro responde pelos danos.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo, se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da
parte a quem ludibriou.
Ex.: Um terceiro fica na porta da loja de relógios falsificados falando para os outros que eram Rolex
originais. Se o dono da loja souber do dolo do terceiro, o negócio jurídico (compra-venda) será
anulado. Se o dono da loja não souber do dolo do terceiro, o negócio jurídico é válido, mas o
terceiro responde pelas perdas e danos.
Art. 154/155 CC. Coação de terceiro: o negócio jurídico só é anulado se a parte a quem
aproveita soubesse ou, pelas circunstâncias, devesse saber da coação usada pelo terceiro. Na coação
de terceiro, foi prevista SOLIDARIEDADE no pagamento da indenização. Se o beneficiário não
souber da coação, o negócio jurídico subsiste, caso em que o autor da coação responde (sozinho)
pelos danos.
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente
com aquele por perdas e danos.
INTERPRETANDO*** Só haverá solidariedade entre o terceiro que pratica a coação e a parte que
se beneficia se aquele sabia (ou devia saber) da coação praticada pelo terceiro.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a
parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da
coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto .
INTERPRETANDO*** No caso de a parte que se beneficia não saber (ou não devesse saber) da
coação praticada pelo terceiro, o negócio jurídico subsiste (pois estava de boa-fé). O terceiro, só ele,
responderá pelas perdas e danos.
81
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
5- ESTADO DE PERIGO
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade
de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o
juiz decidirá segundo as circunstâncias.
Ex.: Pai que teve filho sequestrado e vende casa por preço muito inferior ao de mercado para pagar
o resgate.
IMPORTANTE!!! A parte beneficiada deve ser conhecedora do grave perigo por que passa o
declarante.
6- LESÃO
Vício que mais de perto toca o abuso do direito econômico. Configura-se quando alguém
obtém um lucro exagerado, desproporcional, aproveitando-se da inexperiência ou da situação de
necessidade do outro contratante.
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor
da prestação oposta.
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
(revisão contratual: princípio da conservação do negócio)
IMPORTANTE!!! O contrato será anulado, mesmo que o outro contratante não tenha tido
conhecimento das condições de necessidade ou inexperiência do lesado.
quebra da equivalência entre as prestações, verificada, de forma objetiva, mesmo que não exista
vício na formação do acordo de vontades” (Min. Nancy Andrighi, REsp 1.737.428-RS”. No campo
do CC, em contrapartida, gera a anulabilidade do negócio jurídico.
IMPORTANTE: “Cumpre anotar que o Código Civil de 2002 consagrou a lesão como vício do
consentimento, a gerar a anulação do negócio jurídico correspondente (arts. 157 e 171 do CC).
Todavia, a lesão civilista tem uma feição subjetiva, por exigir a premente necessidade ou
inexperiência, ao lado da onerosidade excessiva. A lesão tratada pelo art. 51, inc. IV, é uma lesão
objetivada, como o é todo o sistema consumerista; bastando o mero desequilíbrio pela quebra da
boa-fé e da função social para a sua configuração. Ato contínuo, a lesão consumerista gera a
nulidade absoluta e não relativa do contrato, trazendo uma consequência de maior gravidade.”
(TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor. 7ª
ed., São Paulo: Método, 2018, p. 336).
No art. 157 do CC não há menção ao dolo de aproveitamento. O art. 157 não trouxe critérios
objetivos para avaliar a lesão. O CC usou o sistema aberto, o juiz deve analisar cada caso concreto.
Art. 157.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente,
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. (revisão contratual:
princípio da conservação do negócio jurídico)
É vício social. A fraude contra credores consiste na prática de um ato negocial que diminui o
patrimônio do devedor insolvente prejudicando credor preexistente.
83
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: Parcela respeitável da doutrina (Maria Helena Diniz) sustenta que determinados negócios
fraudulentos, por sua gravidade, têm a má-fé (consilium fraudis) presumida. Em tais casos, restaria
apenas a prova do dano. Ex.: Pessoa atolada de dívidas que está doando gratuitamente bens.
a) Negócios de transmissão gratuita de bens. Art. 158 CC. (Ex.: Doação). O sujeito é insolvente e
ainda está doando bens. Nesses casos os credores não precisam provar o conluio fraudulento, pois a
lei presume a existência do propósito de fraude.
84
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: O devedor insolvente que está realizando um contrato oneroso pode não estar cometendo
fraude. A demonstração da fraude depende da comprovação do eventus damni e do consilium
fraudis, e que a outra parte estava agindo em conluio, seja porque a insolvência era notória ou
porque havia motivo para que a insolvência fosse conhecida do outro contraente.
e) Outorga de garantia de dívida dada a um dos credores em detrimento dos demais (art. 163).
O que se anula nessa hipótese é somente a garantia, a preferência concedida a um dos credores.
Continua ele, porém, como credor, retornando à condição de quirografário.
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
Dispõe o art. 164 CC que “presume-se, porém, de boa fé e valem os negócios ordinários
indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à
subsistência do devedor e de sua família”. O dono do estabelecimento pode continuar vendendo
suas mercadorias. Não pode, entretanto, alienar o próprio estabelecimento.
Ação Pauliana é um tipo de ação revocatória à disposição do credor para alegar fraude
contra credores.
85
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
(art. 161). Deverá propor a ação contra todos para que a sentença também produza efeitos em
relação a eles.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159 poderá (DEVERÁ) ser intentada contra
o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada
fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.
Obs.: Se o bem já foi alienado a terceiro de boa-fé, o bem não é devolvido, cabendo ao credor
buscar outros bens do devedor (homenageia-se a boa-fé do terceiro). Princípio da eticidade (boa-
fé objetiva) e teoria da aparência.
IMPORTANTE: Em uma ação pauliana, se ficar comprovado que o bem foi sucessivamente
alienado fraudulentamente para diversas pessoas, mas que, ao final, o atual adquirente estava de
boa-fé, neste caso deverá o juiz reconhecer que é eficaz o negócio jurídico por meio do qual o
último proprietário adquiriu o bem, devendo-se condenar os réus que agiram de má-fé a indenizar o
autor da pauliana, pagando o valor do bem que foi adquirido fraudulentamente. STJ. 4ª Turma.
REsp 1100525-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013 (Info 521).
Súmula 195-STJ: em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra
credores.
A segunda corrente sustenta que o negócio não é inválido, mas apenas ineficaz em relação
ao credor, o contrato pode surtir efeitos (se o devedor ganhar na megasena, ele não será mais
insolvente, e o negócio fraudulento surtirá efeitos), o negócio é apenas ineficaz em face do credor.
IMPORTANTE!!! Não confundir fraude contra credores com a fraude à execução. A fraude à
execução é instituto processual, mais grave do que a fraude contra credores. A fraude à execução
desrespeita a administração da justiça, na fraude à execução já existe demanda contra o devedor.
IMPORTANTE!!! Súmula 195 STJ, “em embargos de terceiro não se anula ato jurídico por
fraude contra credores.” A fraude contra credores não pode ser usada como matéria de defesa.
Assim, imperiosa a necessidade de se promover a dita ação pauliana, não substituída pelos
embargos de terceiro.
86
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
a) É incidente de processo, regulado pelo direito público, enquanto a fraude contra credores
é regulada pelo direito civil.
b) Pressupõe demanda em andamento, capaz de reduzir o alienante à insolvência.
Configura-se quando o devedor já havia sido citado. A alienação fraudulenta feita antes
da citação caracteriza fraude contra credores.
c) Pode ser reconhecida mediante simples petição, nos próprios autos. A fraude contra
credores deve ser pronunciada em ação pauliana, não reconhecida em embargos de
terceiro (STJ Sumula 195).
d) A má-fé do terceiro adquirente deve ser provada, para a caracterização da fraude contra
credores nas alienações onerosas, bem como da fraude à execução, conforme dispõe a
súmula 375 STJ.
e) Torna ineficaz, em face dos credores o negócio jurídico; a fraude contra credores torna
anulável.
CAPÍTULO IV
DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
1- INTRODUÇÃO
A invalidade pode se manifestar de duas maneiras: por meio da nulidade absoluta e por
meio da nulidade relativa.
IMPORTANTE!!! Ter em mente que sempre que o juiz puder, deverá aproveitar o negócio
jurídico inválido, à luz do princípio da conservação.
87
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: Exemplificando a aplicação do princípio da conservação, temos o art. 184 do CC que cuida
da redução do negócio jurídico. Não é porque uma cláusula do contrato é inválida, que todo o
contrato o será.
O negócio é inexistente quando lhe falta algum elemento estrutural (requisitos de existência,
tal como a manifestação de vontade). Se a vontade foi manifestada, mas encontra-se eivada de dolo
ou coação, por exemplo, o negócio existe, mas é anulável. Se a vontade emana de um
absolutamente incapaz, maior é o defeito, o ato é nulo.
O negócio nulo atinge norma de ordem pública, norma cogente; o negócio é anulável,
quando atinge norma dispositiva, de interesse particular.
3- NULIDADE ABSOLUTA
Obs.: Art. 166 III CC. É nulo o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a AMBAS
as partes, for ilícita. Também é nulo o negócio jurídico quando sua causa for ilícita.
88
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: Motivo e causa são coisas diferentes. Motivo é psicológico, é íntimo, não precisa aparecer,
são razões interiores (reserva mental). Já a causa, é a razão típica, é aquilo que se exterioriza (ex.:
na doação é a liberalidade; na venda é a transferência patrimonial).
Pois bem, sempre que em determinado negócio o motivo determinante for ilícito (ainda
que a causa seja lícita), o negócio jurídico será nulo. Ex.: Contrato de locação (cuja causa é a
transmissão da posse) que tenha por motivo determinante a instalação no local de casa de
prostituição é nulo de pleno direito.
a) A nulidade absoluta, dada sua gravidade, pode ser arguida por qualquer pessoa e inclusive
reconhecida de ofício pelo juiz (art. 168). É de ordem pública, decretada no interesse da própria
coletividade.
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes (absolutas) podem ser alegadas por
qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer
do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, NÃO lhe sendo
permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
b) A nulidade absoluta não admite confirmação nem se convalesce pelo decurso do tempo (art.
169). O negócio jurídico nulo nunca poderá ser ratificado, nem se convalesce pelo passar do tempo
(é imprescritível). A nulidade absoluta não pode ser sanada pela confirmação nem suprida pelo
juiz.
c) O negócio nulo deve ser declarado por meio de sentença com efeitos retroativos (ex tunc). O
negócio jurídico é nulo desde o início, como se o negócio nulo nunca tivesse gerado efeitos.
d) A nulidade deve ser pronunciada de ofício pelo juiz e seu efeito é ex tunc, pois retroage à data do
negócio, para lhe negar efeitos. O negócio nulo não produz efeito nenhum. A sentença que declara
a nulidade tem natureza declaratória.
a) Decretada no interesse privado da pessoa prejudicada. A anulabilidade deve ser arguida pelo
legítimo interessado, NÃO podendo o juiz reconhecê-la de ofício (art. 177).
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.
IMPORTANTE!!! Em todos os defeitos do negócio jurídico o prazo é de quatro anos (erro, dolo,
coação, fraude contra credores, estado de perigo e lesão). Será de dois anos quando a lei não
dispuser prazo próprio.
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.
90
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
IMPORTANTE!!! A sentença anulatória do negócio jurídico gera efeitos retroativos (ex tunc),
dada a sua natureza especial (Humberto Theodoro Jr.).
Art. 177. A ANULABILIDADE não tem efeito antes de julgada por sentença,
nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, SALVO o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.
Em regra, as nulidades são analisadas quando da celebração do negócio jurídico. Todavia, parte da
doutrina admite a possibilidade de um negócio jurídico sofrer nulidade superveniente.
RESUMINDO!!! A declaração de nulidade absoluta tem efeito ex tunc, levando as partes ao status
quo ante; já a reconhecimento da nulidade relativa na sentença produz efeitos ex nunc (há
divergência), de modo que o negócio produz efeitos até aquele momento!!
91
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Obs.: A conversão não é igual à confirmação do negócio jurídico inválido. Converter é transformar
o negócio jurídico inválido em negócio jurídico válido.
IMPORTANTE!!! A conversão pode ser aplicada tanto ao negócio jurídico nulo, quanto ao
anulável (lembrar que o negócio jurídico anulável possui outras medidas sanatórias. Aplica-se mais
a conversão ao negócio jurídico nulo porque a conversão é a única medida de salvação desse
negócio).
O art. 170 só fala em negócio nulo, mas, quem pode o mais, pode o menos. De acordo com o
CC só cabe a conversão ao negócio nulo.
Princípio Da Conversão
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o
teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
Ex.: Na compra e venda de imóvel acima de 30 salários mínimos sem o registro o negócio é nulo.
Porém, pode-se converter o contrato particular de compra e venda em promessa de compra e venda.
5- DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
a) Princípio da conservação
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre
que este puder provar-se por outro meio.
b) Dispõe o art. 184 CC que “respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação
principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação
principal.”
INTERPRETANDO*** 1ª parte. Ex.: Invalidade da hipoteca por falta de outorga uxória impede a
constituição do ônus real, mas é aproveitável como confissão de dívida. 2ª parte. Consiste na
aplicação da regra de que o acessório segue o principal (princípio da gravitação jurídica).
d) Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não
provar que reverteu em proveito dele a importância paga. Provado que o pagamento nulo se
reverteu ao incapaz, determina-se a restituição, pois ninguém pode locupletar-se a custa alheia. O
ônus da prova incumbe a quem pagou.
6- SIMULAÇÃO
92
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Na simulação, o negócio jurídico tem aparência normal, mas na verdade não pretende
atingir o efeito que deveria produzir. Na simulação, as duas partes se unem para enganar um
terceiro ou a sociedade (ex.: casamento só para obtenção de “visto”). É chamada de vício social
porque objetiva iludir terceiros ou violar a lei. Se divide em simulação absoluta ou relativa.
Obs.: Não confundir simulação com dissimulação. Embora em ambas haja o propósito de
enganar, na simulação procura-se aparentar o que não existe; na dissimulação se oculta o que é
verdadeiro.
É nulo o negócio simulado, mas, poderá ser aproveitado o que se dissimulou se for válido na
constituição ou na forma (princípio da conservação do negócio jurídico).
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais
realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.
IMPORTANTE!!! No CC/16, o art. 104 proibia que um dos simuladores alegasse a simulação
contra o outro. Ocorre que o CC/02 não reproduziu esse artigo, porque trata a simulação como
NULIDADE ABSOLUTA, que pode ser alegada por qualquer um, a qualquer tempo.
93
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
TÍTULO II
DOS ATOS JURÍDICOS LÍCITOS
Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se,
no que couber, as disposições do Título anterior.
TÍTULO III
DOS ATOS ILÍCITOS
94
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes. (abuso de direito – responsabilidade objetiva)
TÍTULO IV
DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
CAPÍTULO I
DA PRESCRIÇÃO
1- INTRODUÇÃO
95
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
No dia 21/12/08, Tício e Caio celebram um negócio jurídico, pelo qual Caio se torna credor
de R$ 100 e Tício devedor de R$ 100. O termo fixado para o vencimento da obrigação é o dia
12/04/09. Chegado esse dia, Ticío frustra seu dever de pagar. Surge nessa data, o poder para Caio,
de coercitivamente, exigir o cumprimento da obrigação (surge a pretensão). Porém, o ordenamento
jurídico só confere esse poder coercitivo dentro de um certo prazo (o prazo prescricional). A
pretensão nasce no dia da violação do direito e morre no fim do prazo.
A prescrição tem como requisitos: a) a inércia do titular ante a violação de um direito seu; b)
decurso do tempo fixado em lei.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
Obs.: Os prazos prescricionais só estão nos artigos 205 e 206 do CC (se estiver fora desses artigos,
o prazo será decadencial).
IMPORTANTE!!! Vencido o prazo prescricional ainda subsiste o direito de ação. Ora, isso é
simples, O DIREITO DE AÇÃO É AUTÔNOMO, é o direito de ir a juízo. Se o exercício do
direito de ação for efetivado após o prazo prescricional, simplesmente a ação será improcedente (o
direito de ação não é o direito a um provimento jurisdicional positivo, como diziam os concretistas).
2- PRETENSÕES IMPRESCRITÍVEIS
O art. 205 do CC trata do prazo prescricional máximo de 10 anos e o art. 206 trata dos
prazos prescricionais especiais. De acordo com esses artigos, tem-se em vista que, como regra, não
há ações imprescritíveis. Entretanto a doutrina aponta várias pretensões imprescritíveis. Sendo
assim a prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade a exceção.
A PRECLUSÃO consiste na perda de uma faculdade processual por não ter sida exercida
no momento próprio e oportuno. Só produz efeitos dentro do mesmo processo. A preclusão pode
ser: temporal, referente ao tempo; consumativa, quando o ato já se consumou, não podendo fazê-
lo novamente; lógica, quando se pratica determinado ato que o impeça de fazê-lo de outra forma.
Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, que se extingue pela prescrição nos
prazos a que aludem os arts. 205 e 206 CC, única e exclusivamente. A exceção prescreve nos
mesmos prazos (direito de defesa).
O que se procura evitar com este dispositivo é que, prescrita a pretensão, o direito com
pretensão prescrita possa ser utilizado perpetuamente a título de exceção como defesa.
O art. 191 do CC não admite a renúncia prévia da prescrição, isto é, antes que se tenha
consumado, pois a renúncia somente é possível após se consumar a prescrição. Não se admite
a renúncia prévia nem da prescrição em curso.
Art. 191. A RENÚNCIA DA PRESCRIÇÃO pode ser expressa ou tácita, e só
valerá, sendo feita, SEM PREJUÍZO DE TERCEIRO, DEPOIS QUE A
PRESCRIÇÃO SE CONSUMAR; tácita é a renúncia quando se presume de fatos
do interessado, incompatíveis com a prescrição.
97
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Em respeito ao caráter defensivo da prescrição, e nos termos do art. 191, cumulado com o
enunciado 295 da 4ª jornada, o juiz deve, antes de pronunciar de ofício a prescrição, abrir prazo
para manifestação das partes (princípio da cooperação).
IMPORTANTE!!! Todo prazo prescricional decorre da lei, por isso mesmo, é que NÃO
podem ser alterados pelas partes (art. 192 CC). A prescrição em curso não cria direito adquirido,
podendo seu prazo ser reduzido ou ampliado por LEI superveniente.
Dispõe o art. 193 CC que a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição,
pela parte a quem aproveita. Pode ser arguida em qualquer fase ou estado da causa, em primeira
ou em segunda instância. Não significa a renúncia tácita a falta de invocação da prescrição na
primeira oportunidade em que falar no processo.
Obs.: Nada impede que o STJ ou STF declarem a prescrição de ofício uma vez admitido o recurso,
porém, devem, anteriormente, intimar as partes a se manifestarem sobre a prescrição ou decadência.
Atenção!!! Entretanto, este artigo NÃO abrange os absolutamente incapazes, mencionados no art.
3º CC, porque contra estes não corre a prescrição.
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu
sucessor.
Assim, o herdeiro do de cujus disporá apenas do prazo faltante para exercer a ação quando
esse prazo se iniciou em desfavor do autor da herança. O prazo, desse modo, não se inicia
novamente com a morte desse.
98
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Os prazos prescricionais, em regra (art. 197 a 202 CC), e os decadenciais, só por exceção
(art. 26 do CDC, que trata da reclamação do consumidor ao fornecedor e instauração de inquérito
civil), podem se submeter a causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas.
Causa impeditiva/suspensiva: art. 197 a 199 do CC. O mesmo acontecimento pode ser ou
causa impeditiva (impede que comece), ou causa suspensiva (impede que prossiga), dependendo do
momento em que ocorra.
O motivo nesses casos é a confiança e a relação afetiva que existe entre as partes.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o; (ABSOLUTAMENTE
INCAPAZES)
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos
Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Nas duas primeiras hipóteses o direito ainda não se tornou exigível, não sendo possível,
pois, se falar em prescrição. Se o terceiro propõe ação de evicção, fica suspensa a prescrição até o
desfecho final.
Dispõe o art. 200 que “quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.”
99
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Dispõe ainda o art. 201 “que suspensa a prescrição em favor de um dos credores
solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.” A prescrição é benefício
pessoal e só favorece as pessoas taxativamente mencionadas, mesmo na solidariedade. Assim,
existindo três credores de dívida em dinheiro, sendo um deles absolutamente incapaz, a prescrição
fluirá normalmente contra os outros dois credores, ficando suspensa apenas em relação ao menor.
Se se tratar, porém, de direito indivisível a prescrição somente começará a fluir para todos quando
o incapaz completar 16 anos. Sendo o direito indivisível, a suspensão aproveita a todos os
credores.
O art. 202 do CC diz que o prazo prescricional só pode ser interrompido UMA VEZ
(para evitar abusos), e nos diz as hipóteses de interrupção. De acordo com seu parágrafo único, “a
prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último
ato do processo para a interromper.”
A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado (art. 203 CC), incluindo
terceiros que tenham legítimo interesse.
Art. 202. A interrupção da prescrição, que SOMENTE PODERÁ OCORRER
UMA VEZ, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato
que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
LEMBRAR SEMPRE!!! No direito civil a citação interrompe a prescrição, já no direito penal NÃO!
100
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
preciso também que a citação seja válida, isto é, que não seja nula por inobservância das
formalidades legais.
Obs.: Tem-se admitido que a citação ordenada em processo anulado é idônea para se interromper a
prescrição, não tendo a nulidade sido decretada exatamente por vício de citação.
Como a fiança é contrato acessório, este segue o destino do principal. A recíproca não é
verdadeira.
A maioria dos prazos do Código Civil foi reduzida. Qual é o prazo prescricional da
pretensão de reparação civil? Para a famosa ação de perdas e danos era de 20 anos. Hoje é de 3
anos. O STJ tem reafirmado a seguinte tese, caso: um determinado ato ilícito, acidente de que
derivou uma vítima, o credor, titular da pretensão tinha prazo de 20 anos para formular a pretensão
em juízo. O credor não fez isso. Deixou o prazo correr. No 12º ano do prazo, entrou em vigor o
Código de 2002, que havia reduzido o prazo de 20 para 3 anos. O prazo prescricional era de 20, o
credor não se movimentou. #Faltariam quantos anos para a prescrição? 3 anos, pelo código
novo ou 8 anos para totalizar 20, pelo código velho? Apesar de o código não ter sido muito
minucioso, adotou uma regra geral sobre isso. A resposta a essa pergunta (quantos anos faltariam
para a prescrição) encontra-se no art. 2028, do Código Civil:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e
se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.
O prazo foi reduzido? Sim. De 20 para 3 anos. Então, se no concurso cair uma questão desta,
a primeira pergunta que se deve fazer é se o prazo foi reduzido. Tendo sido reduzido, você aplica o
2.028: se transcorreu mais da metade do prazo da lei velha, continua a aplicar a lei velha.
Faltariam, no exemplo, quantos anos para a prescrição? 8 anos.
101
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
#Esses três anos, que é o prazo da lei nova, se conta da consumação do ilícito ou da entrada
em vigor do código novo?
A esmagadora maioria da doutrina e a jurisprudência do STJ já firmaram o entendimento no
sentido de que o prazo menor da lei nova deve ser contado a partir da entrada em vigor do
novo Código Civil e não do momento em que o direito é descumprido (ver REsp 896635/MT).
CAPÍTULO II
DA DECADÊNCIA
102
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
1- CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
Conceito: é a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no período determinado
em lei.
Obs.: O prazo para o exercício de um direito potestativo será sempre um prazo decadencial.
Dispõe o art. 207, “salvo disposição legal em contrário, NÃO se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.”
Prazo decadencial legal: direito de anular um negócio jurídico por vício, a exemplo do dolo
(o que se quer é a anulação do negócio, não quer nada da outra parte).
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por
lei (DECADÊNCIA LEGAL).
Entretanto,
O art. 208 CC determina que se aplique a “decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso
I”, que dizem respeito aos incapazes.
TÍTULO V
DA PROVA
104
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
1- CONCEITO E INTRODUÇÃO
É o meio empregado para demonstrar a existência do ato ou negócio jurídico. Deve a prova
ser admissível (não proibida por lei), pertinente (adequada a demonstração dos fatos em questão) e
concludentes (esclarecedora dos fatos controvertidos).
Não basta alegar, é preciso provar (nada alegar e alegar e não provar quer dizer a mesma
coisa). O que se prova é o fato alegado, não o direito a aplicar, pois é atribuição do juiz conhecer e
aplicar o direito. Por outro lado, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato e não a quem o
contesta, sendo que os fatos notórios independem de prova.
O art. 212 enumera os meios de prova. Esse rol, porém, é exemplificativo e não taxativo.
2- MEIOS DE PROVA
2.1 CONFISSÃO
Pode ser judicial (em juízo) ou extrajudicial (fora do processo), espontânea ou provocada,
expressa ou presumida.
Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que
se referem os fatos confessados. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos
limites em que este pode vincular o representado.
2.2 DOCUMENTO
Pode ser público ou particular. Tem função apenas probatória. Público são os elaborados
por autoridade pública no exercício de suas funções. Particulares quando elaborados por
particulares.
Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer
peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do
escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas, assim
como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados.
Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por
tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas
notas.
2.3. TESTEMUNHA
105
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – atualizado por Carlos Eduardo da Silva Limonge - maio de 2020
Podem ser instrumentárias ou judiciárias. Estas são as que prestam depoimento em juízo.
Aquelas são as que assinam um instrumento.
Importante observar quem não pode ser admitido como testemunha, e em quais casos
ninguém pode ser obrigado a depor (respectivamente arts. 228 e 229 CC):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II – (Revogado);
III – (Revogado);
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau
de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento
das pessoas a que se refere este artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015)
§ 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com
as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
2.4 PRESUNÇÃO
Podem ser legais (são as que decorrem da lei) ou comuns (os que se baseiam no que
ordinariamente acontece).
2.5 PERÍCIA
Exame: apreciação de alguma coisa, por peritos, para auxiliar o juiz a formar sua convicção.
Obs.: Sumula 301 STJ, “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se a exame de
DNA, induz presunção júris tantum (relativa) de paternidade”.
106