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UNIVERSO – UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

Apostila de Direito Civil I

DIREITO CIVIL I
1 – Noção de Direito
1.1 – Conceito de Direito:
Segundo Maria Helena Diniz, “todo conhecimento
jurídico necessita do conceito de direito. O conceito é um esquema prévio, um
ponto de vista anterior, munido do qual o pensamento se dirige à realidade,
desprezando seus vários setores e somente fixando aquele que corresponde
às linhas idéias delineadas pelo conceito.”
Entretanto, como bem observa Lourival Vilanova,
quando buscamos uma definição para o direito, não estamos tentando formular
uma definição nominal consistente em dizer o que a palavra significa. Na
verdade, “buscamos a definição real, essencial, que consiste em dizer o que
uma coisa é, desvendando as essências das próprias coisas que essa palavra
designa.”
Contudo, não há entre os autores um certo
consenso sobre o conceito de direito, pelo fato de que seria impossível
estabelecer uma fórmula única, dada a variedade de elementos e
particularidades que apresenta.
A escolha da perspectiva em que se vai conhecer
está condicionada pelo sistema de referência daquele que conhece o direito,
pressupondo uma reflexão sobre as finalidades da ordem jurídica.
Desta forma, chegamos à conclusão de que o direito
só pode existir em função do homem. Pelo fato de ser o homem um ser
eminentemente social, este necessita viver em sociedade para atingir seus
objetivos, sendo necessária essa convivência para sua própria coexistência.
Desta necessidade, o homem é levado naturalmente
a formar grupos sociais (família, escola, associação, trabalho, etc).
Em virtude disso, estabelecem os indivíduos entre si,
relações de coordenação, subordinação, integração e delimitação, relações
estas que não se dão sem o concomitante aparecimento de normas de
organização de conduta social.
Assim, podemos dizer que a norma pertence à vida
social, pois tudo o que há na sociedade é suscetível de revestir a forma da
normatividade jurídica. A norma jurídica existe para estabelecer um equilíbrio
social imanente à própria coexistência dos seres humanos, possibilitando a
todos e a cada um, o pleno desenvolvimento das suas virtualidades e a
consecução e gozo de suas necessidades sociais, ao regular a possibilidade
objetiva das ações humanas.
À vista do exposto, surge para nós o que chamamos
de Direito Positivo, que nada mais é que o conjunto de normas, estabelecidas
pelo poder político, que se impõem e regulam a vida social de um dado povo
em determinada época.
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Apostila de Direito Civil I

2 – DIREITO OBJETIVO X DIREITO SUBJETIVO


2.1 – CONCEITOS:
Costuma-se distinguir direito objetivo do subjetivo.
“O Direito Objetivo é o conjunto de normas
jurídicas que regem o comportamento humano, de modo obrigatório,
prescrevendo uma sanção no caso de sua violação (jus est norma agendi).”
(MHD)
“O Direito Subjetivo, para Goffedro Telles Jr., é a
permissão dada por meio da norma de norma jurídica, para fazer ou não fazer
alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para exigir, por
meio dos órgãos competentes do poder público ou por meio de processos
legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o cumprimento da
norma infringida ou a reparação do mal sofrido.”
Para César Fiúza, Direito Subjetivo é a faculdade
de agir conforme as normas de Direito Objetivo. Como exemplo, podemos
imaginar a situação do credor de determinada importância que não se disponha
a cobra-la. O direito objetivo lhe dá essa possibilidade mas, por comiseração,
conveniência, amizade ou outro motivo qualquer, o credor se abstêm de efetuar
a cobrança, apesar de ter a faculdade de faze-lo a qualquer momento, antes da
prescrição da dívida.
Várias Teorias tentaram explicar o Direito Subjetivo.
Dentre elas, as que se destacaram forma as seguintes:
1ª - TEORIA DA VONTADE – concebida por Savigny e Windscheid, esta teoria
entendia que o direito subjetivo é o poder da vontade reconhecido pela ordem
jurídica. Esta teoria sofreu séria resistência, e suas principais objeções foram
as seguintes:
- Sua definição é menos extensa que o definido, pois há direitos em que
não existe uma vontade real de seu titular.(Ex.: o nascituro tem direito à
vida, ao nome, à sucessão, embora não possua vontade própria);
- Casos existem em que há uma vontade real, porém o ordenamento
jurídico não protege, propriamente a vontade do titular, mas sim, o seu
direito.
- O direito subjetivo não depende da vontade de seu titular. Pode existir
sem fundamento nessa vontade (Ex.: o direito de propriedade pode
surgir sem que o proprietário o deseje, como no recebimento de
doação).

2ª - TEORIA DO INTERESSE – concebida por Ihering, para a qual, Direito


Subjetivo é o interesse juridicamente protegido por meio de uma ação judicial.
Também não foi aceita pelos seguintes argumentos:
- Há interesses, protegidos pela lei, que não constituem direitos subjetivos
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(Ex.: no caso de leis de proteção aduaneira à industria nacional, onde as


empresas têm interesse na cobrança de altos tributos pela importação
dos produtos estrangeiros, mas não possuem direito subjetivo a tais
tributos).
- Há hipóteses de direitos subjetivos em que não existe interesse por
parte do titular (Ex. os direitos do tutor em relação aos tutelados são
instituídos em benefício dos menores e não do titular).

3ª - TEORIA MISTA – concebida por Jellinek, Saleilles e Michoud, que define o


direito subjetivo como o poder da vontade reconhecido e protegido pela ordem
jurídica, tendo por objeto um bem ou interesse. Para ela, de nada valeria o
interesse se a vontade de exigir não fosse amparada pelo Direito Objetivo.
Essa teoria colocava que direito subjetivo seria o poder conferido a alguém que
somente poderia ser exercido por meio da vontade. Também não foi aceita
pelos mesmos motivos das anteriores.

4ª - TEORIA DA SUBJETIVAÇÃO DA NORMA – teoria criada pela doutrina


moderna para encontrar uma solução para a questão, ou seja, a da
subjetivação da norma. Para esta teoria, os direitos subjetivos são um simples
reflexo da norma, um efeito seu. O que se leva em conta é a vontade do
ordenamento jurídico e o interesse destacado pelo direito. O Direito Subjetivo
não passa de efeito do Direito Objetivo aplicado ao indivíduo. O direito
subjetivo é sempre uma permissão que tem o ser humano de agir conforme o
direito objetivo. Um não pode existir sem o outro. Esta é a teoria que melhor
explica o Direito Subjetivo.

3 – DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO


A clássica divisão em Direito Público e Direito
Privado é oriunda do direito romano.
Várias Teorias procuram explicar essa dicotomia.
Dentre estas, duas se destacam:

1º - TEORIA MONISTA – desenvolvida por Kelsen, esta teoria nega a


existência do direito privado. Para ele, todo direito é público, por ter no Estado
sua origem.

2ª - TEORIA DUALISTA – Os defensores da dicotomia do Direito Positivo, por


seu turno, fazem uma distinção entre Direito Público e Direito Privado, se
dividindo em dois grupos: Dualista Substancialista e Dualista Formalista.
a) Substancialista – adotada por Saviny, afirma que
se o objetivo da norma for o Estado, o Direito será Público; caso seja o
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particular, o Direito será Privado. Leva em consideração o fim a ser alcançado.


b) Formalista – Leva em consideração as relações
jurídicas tuteladas. Nesse sentido, Direito público é aquele que delimita o perfil
do Estado e de seu funcionamento, bem como cuida das relações entre
pessoas jurídicas de Direito Público e das relações destas com os particulares.
Já o Direito Privado regula as relações entre particulares. Esta é aceita pela
doutrina como a que melhor define tal dicotomia.

4 – FONTES DO DIREITO
4.1 – CONCEITO: O termo fonte do direito é empregado metaforicamente, pois
em sentido próprio – fonte – é a nascente de onde brota uma corrente de água.
Justamente por ser uma expressão figurativa, tem mais de um significado.

4.2 – DIVISÃO:
- Materiais – aponta para a origem do direito;
- Formais:
a) estatais (legislativa, jurisprudencial e convencional);
b) não estatais (consuetudinárias, doutrinária).

II – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO


1 - NOÇÕES:
A lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei n.º
4.657/42), desde sua edição, sofreu alterações introduzidas por diplomas legais
subseqüentes (Lei 3.238/57 – alterou o art. 6º, 7º, § 2º; a Lei 6.515/77, alterou o
art. 7º, § 5º e 6º) para finalmente ter sofrido sua última alteração em 2010
através da Lei 12.376/10.
A aludida Lei não tem por objeto apenas a disciplina
de questões relacionadas ao Código Civil. Pelo contrário, tal lei tem conteúdo e
funções bem mais amplos.

2 - CONTEÚDO:
1º - disciplina as próprias normas jurídicas, assinalando-lhes a maneira de
aplicação e entendimento, predeterminando as fontes de direito positivo,
indicando-lhes a vigência e a eficácia no tempo e no espaço.
2º - ultrapassa o âmbito do próprio direito civil, vinculando o direito privado
como um todo e alcançando o direito público, atingindo apenas indiretamente
as relações jurídicas;
3º - contém normas de sobredireito ou de apoio que disciplinam a atuação da
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ordem jurídica.

3 - FUNÇÕES:
1º - regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas (art. 1º, 2º)
2º - fornecer critérios de interpretação (art. 5º)
3º - estabelecer mecanismos de integração das normas, quando houver
lacunas (art. 4º)
4º - garantir a eficácia global da ordem jurídica, não admitindo a ignorância da
Lei como escusa ao seu cumprimento (art. 3º)
5º - garantir a certeza, segurança e estabilidade do ordenamento, preservando
as situações consolidadas em que o interesse individual prevalece (art. 6º)

4 - VIGÊNCIA DA LEI
As normas nascem com a promulgação, tornando-se
obrigatórias e entrando em vigor com a publicação e o decurso da vacatio legis.
A vacatio legis trata-se do período compreendido
entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor. Atualmente, a Lei
Complementar n.º 95/98 estabelece que “a vigência da lei será indicada de
forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha
amplo conhecimento”(art. 8º).
Entretanto, a Lei de Introdução ao Código Civil
contém regra geral destinada a suprir a omissão do prazo de vacatio legis
preceituando que, “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em
todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”(art. 1º,
caput) e que, “nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente
publicada”(art. 1º, § 1º).
O critério da vacatio legis adotado atualmente é
único, uma vez que a lei entra em vigor em todo o país a um só tempo. No
exterior, de igual forma, entra em vigor a um só tempo, ressalvando-se que, em
regra, isso ocorre após sua entrada em vigor dentro do país.
A Lei de Introdução ao Código Civil anterior adotava
o critério progressivo, ou seja, estabelecia prazos diferenciados para a entrada
em vigor da lei em diversas partes do território nacional.
O cômputo do prazo da vacatio legis obedece ao
disposto no art. 8º, § 1º da LC 95/98, segundo o qual, “a contagem do prazo
para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-
se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral.”
Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova
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publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo da vacatio legis


recomeçará a correr da nova publicação. Por outro lado, se a mesma já estiver
em vigor, a correção de seu texto considerar-se-á lei nova.
Pelo princípio da continuidade, não se destinando a
vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
A lei posterior revoga anterior quando
expressamente o declare (revogação expressa), seja com ela incompatível
(revogação tácita ou indireta) ou regule inteiramente a matéria de que tratava a
lei anterior( revogação tácita ou indireta).
Revogação total denomina-se ab-rogação. Em se
tratando de revogação parcial ou simples modificação da lei, trata-se de
derrogação.
A repristinação, ou seja, a restauração da lei já
revogada por ter a lei revogadora perdido a vigência não é admitida, salvo no
caso de disposição expressa nesse sentido.

5 – OBRIGATORIEDADE DA LEI
Pelo princípio da obrigatoriedade da lei, ninguém se
escusa de cumpri-la alegando que não a conhece.
Esse princípio tem por fundamento a necessidade
de preservação do império da ordem jurídica e da própria segurança jurídica.

6 – APLICAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS


A aplicação das normas jurídicas pode se dar de
duas formas:
1º - por subsunção, quando o fato individual se enquadra no conceito abstrato
contido na norma;
2º - por integração, quando o juiz não encontrar norma aplicável ao caso
concreto.
 Integração – é o preenchimento de lacunas, mediante aplicação e
criação de normas individuais, atendendo ao espírito do sistema jurídico.
A LICC prevê as seguintes formas de integração:
1º - Analogia – consiste na aplicação de uma solução prevista pelo legislador
para um caso específico a outra hipótese diversa, mas com alguma
semelhança, para a qual não exista disciplina legal específica.
Espécies:
- Legis – aplicação de norma (lei) existente destinada a reger caso
semelhante ao previsto.
- Juris – se estriba num conjunto de normas para extrair elementos que
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possibilitem sua aplicação ao caso concreto não previsto, mas similar.


Requisitos:
- Inexistência de previsão do caso concreto em norma jurídica
- Relação de semelhança entre o caso concreto não previsto na norma
com o nela previsto.
- Identidade essencial entre os casos, havendo efetiva semelhança entre
eles e semelhantes razões entre ambos.

2º - Costumes – fonte jurídica em plano secundário, eis que somente pode ser
utilizada no caso de omissão da lei.
Conceito: É o uso implantado numa coletividade e considerado por ela como
juridicamente obrigatório. Provém da prática reiterada e uniforme de um certo
procedimento, a qual vai gerar, no espírito da comunidade, a persuasão de sua
necessidade e de sua obrigatoriedade. Tem como elementos principais, o uso
e a convicção jurídica.
Espécies:
- Secundum legem – está previsto em lei, que reconhece sua eficácia
obrigatória.
- Praeter legem – é o que tem caráter supletivo, suprindo a lei nos casos
omissos.
- Contra legem – é o costume contrário à lei e não admitido no direito
brasileiro. Ordinariamente não se afigura aplicável, tendo em vista que a
lei somente se revoga por outra lei.
O juiz pode aplica-lo de ofício, se for notório ou de
seu conhecimento. Na falta de conhecimento, pode exigir comprovação por
quem o alega, podendo a parte interessada produzir essa prova por todos os
meios permitidos em direito.

3º - Princípios Gerais do Direito – são aquela normas que orientam ao


legislador na elaboração da sistemática jurídica, ou seja, aqueles princípios
que, baseados na observação sociológica e tendo por escopo regular os
interesses conflitantes, se impõem, inexoravelmente, como uma necessidade
da vida do homem em sociedade. Ex.: a proibição de locupletamento ilícito.

4º - Equidade – não encontrando solução na lei, na analogia, nos costumes e


nos princípios gerais do direito, cabe ao juiz recorrer à equidade, que, segundo
Maria Helena Diniz, possui as seguintes acepções:
a) Latíssima – suprema regra da justiça a que os
homens devem obedecer.

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b) Lata – confunde-se com os princípios gerais do


direito e com o direito natural.

c) Restrita – ideal de justiça aplicado na


interpretação, integração, individualização judiciária.
Espécies:
- Legal – contida no texto normativo;
- Judicial – o legislador implícita ou explicitamente incumbe ao juiz a
decisão, por equidade, do caso concreto.
Requisitos:
- Autorização legal, expressa ou implícita – o seu emprego decorre do
sistema e do direito natural;
- Ausência de norma clara e inflexível;
- Existência de lacuna na lei, não resolvida pelos recursos do art. 4º da
LICC;
- Harmonia com o sistema e com os princípios que informam o instituto,
vez que, ao julgar por equidade, o juiz age discricionariamente e não
arbitrariamente.

7 – INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS


7.1 – CONCEITO: interpretação é a operação que tem por objeto precisar o
conteúdo exato de uma norma jurídica.
 Quanto ao meio, pode ser:
- Gramatical ou literal: funda-se nas regras de lingüística. Consiste no
exame dos termos constantes do texto da norma, observando-se a
pontuação, origem etimológica, colocação de vocábulos, etc.
- Lógica: busca precisar o conteúdo da norma, através de raciocínios
lógicos.
- Sistemática: considera o sistema em que se insere a norma,
relacionando-a com outras concernentes ao mesmo objeto.
- Teleológica(sociológica ou social): leva em consideração os fins
sociais a que a norma se destina e as exigências do bem comum.
OBS: observe-se que essas técnicas interpretativas não se excluem
reciprocamente, mas se completam.
 Quanto à fonte ou origem, podem ser:
- Autêntica: provém do legislador. O sentido da norma é explicado por
outra lei (interpretação autêntica não contextual) ou pela própria lei
(interpretação autêntica contextual);
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- Doutrinária: provém dos doutrinadores;


- Jurisprudencial: provém das decisões do Judiciário.
 Quanto ao resultado, podem ser:
- Extensiva: amplia o sentido do texto; conclui que a lei diz menos do que
o legislador desejava;
- Restritiva: restringe o sentido do texto, visando conter a interpretação
aos estritos limites da norma; conclui que a lei diz mais do que o
legislador desejava;
- Declarativa: conclui que a letra da lei corresponde exatamente ao que
desejava o legislador.

8 - CONFLITOS ENTRE LEI NOVA E AS RELAÇÕES JÁ DEFINIDAS SOB A


VIGÊNCIA DA LEI ANTERIOR.
Comumente, quando ocorrem alterações no
ordenamento jurídico, surgem conflitos entre a disciplina estabelecida pela lei
nova e as relações jurídicas já definidas sob a vigência da lei anterior.
Em tais casos, duas soluções se apresentam:
- Disposições Transitórias: também chamadas direito intertemporal.
São regras elaboradas pelo legislador, no próprio texto normativo,
visando conciliar a nova norma com as relações já definidas na vigência
da lei anterior. Têm eficácia temporária e visam a possibilitar a transição
de um regramento para outro, sem maiores dificuldades.
- Princípios da retroatividade e irretroatividade: Norma retroativa é
aquela cujos efeitos retroagem ou alcançam atos jurídicos praticados na
vigência da norma revogada. Norma irretroativa é a que se aplica
apenas às situações jurídicas constituídas após o início de sua vigência.
Em regra, a lei não deve ser retroativa. Entretanto, esses princípios não
são absolutos, havendo casos em que se admite a retroatividade da
norma e outros em que o mesmo não ocorre, em respeito ao ato
jurídico perfeito (ato que já se consumou de acordo com a norma
vigente ao tempo em que se efetuou); ao direito adquirido (direitos que
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo
do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida
inalterável, a arbítrio de outrem – é o que já se incorporou
definitivamente ao patrimônio e à personalidade de seu titular) e, a coisa
julgada (decisão judicial da qual não caiba recurso). Não podendo a lei
retroagir em determinados casos, ocorre a denominada ultratividade da
lei anterior, fenômeno pelo qual a lei revogada continua a ser aplicada
às situações ocorridas ao tempo de sua vig6encia, em virtude da
irretroatividade da lei nova.
É oportuno ressaltar que o direito adquirido não se
confunde com a expectativa de direito nem com as meras faculdades legais.
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Com efeito, direito adquirido é o que já se incorporou ao patrimônio e à


personalidade de seu titular; é o direito adimplido, completo.
Expectativa de direito é a simples esperança,
resultante de um fato aquisitivo incompleto.
Mera faculdade legal é o poder conferido pela lei ao
indivíduo e do qual ele ainda não fez uso. Apenas o primeiro está a salvo da
retroatividade da lei nova.
Vide ainda art. 5º, XXXVI da Constituição
Federal/88. Tal princípio se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional,
independente de ser ela de direito público ou privado, de ordem pública ou
dispositiva.

9 – EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO (DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO)


Para definir a eficácia da lei no espaço, o
ordenamento jurídico pátrio adotou a territorialidade moderada, pela qual, em
regra, aplicam-se no território nacional apenas as leis brasileiras, com vistas a
preservação da soberania nacional (territorialidade).
Entretanto, em certas hipóteses, admite-se a
aplicação da lei estrangeira no território nacional e vice-versa, segundo os
princípios e convenções internacionais (extraterritorialidade). Sobre isso,
Arnoldo Wald leciona que “embora geralmente seja aplicável a lei do país em
que o conflito é apresentado, chamada lex fori, ou lei do foro, admite-se a
aplicação da lei nacional da pessoa ou lei da nacionalidade, da lei do seu
domicílio, da lei da situação do objeto, ou seja, do lugar onde se encontra (lex
rei sitae), e da lei do lugar em que se processou o ato jurídico (locus regit
actum).”
Há que se salientar, contudo, que mesmo nos casos
em que a extraterritorialidade se apresenta admissível, sua aplicação no
território nacional submete-se às limitações impostas pela legislação brasileira.
Nesse sentido, as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Também não se pode olvidar a possibilidade de
surgimento de conflitos de leis no espaço. Esses conflitos podem ser positivos
(quando duas leis se consideram competentes para solucionar o litígio) e
negativos (quando duas leis se consideram incompetentes para solucionar a
demanda). No caso de conflito negativo, entende-se que a lei estrangeira a
ser aplicada é a de direito civil, e não a de Direito Internacional Privado adotada
pelo outro país. No caso de conflito positivo, há a aplicação da lei do país por
seu tribunal nacional dentro de sua área de jurisdição, ou seja, há a adoção do
princípio da renúncia, segundo o qual cada sistema legislativo determina o
cumprimento de suas normas dentro de seu território, reconhecendo a
aplicação da lei estrangeira no território respectivo.
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III – DAS PESSOAS, DO ESTADO, DA PERSONALIDADE NATURAL, DO


NOME
1 – PERSONALIDADE:
1.1 – CONCEITO DE PESSOA – para a doutrina tradicional, pessoa é o ente
físico ou coletivo suscetível de direitos e obrigações.
Kelsen entende que a pessoa é tão somente a
unidade personificada das normas jurídicas que lhe impõe deveres e lhe
conferem direitos. Desta forma, sob seu prisma, a pessoa é uma construção da
ciência do direito, o que afasta o dualismo: direito objetivo e direito subjetivo.
Entre essas duas concepções, nosso Código adotou
a primeira. (art.1º)

1.2 – ANÁLISE DA PERSONALIDADE JURÍDICA


A personalidade, que nada mais é do que a aptidão
genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. Sendo a personalidade
elemento necessário para se ser sujeito, temos então que toda pessoa é
dotada de personalidade. O legislador adotou esse entendimento e o dispôs no
Código Civil.(art. 1º CC).
Entretanto, usou o termo “capaz” para exprimir a
aptidão para contrair direitos e obrigações. Assim, “capacidade”, passa a ser a
medida jurídica da personalidade, ou seja, passa a ser condição ou
pressuposto de todos os direitos.
Portanto, para ser pessoa, basta que o homem
exista, entretanto, para ser capaz, necessário o preenchimento de algumas
condições para agir por si, como sujeito ativo ou passivo nas relações jurídicas.

1.3 – DIREITOS DA PERSONALIDADE – são os direitos subjetivos da pessoa


de defender o que lhe é próprio, ou seja, a identidade, a honra, a integridade
física, intelectual, etc.
1.3.1 – ATRIBUTOS:
- Os direitos da personalidade são assim, imprescritíveis, intransmissíveis,
indisponíveis, irrenunciáveis, ilimitados, inatos, inapropriáveis,
extrapatrimoniais, e impenhoráveis, dando ao seu titular, inclusive, o
direito de indenização em caso de violação (art. 2º, 11 e 12).

1.4 – COMEÇO E FIM DA PERSONALIDADE:


a) Começo da personalidade natural (art. 2º CC)
b) Extinção da personalidade natural (art. 6º CC)
c) Comoriência (art. 8º CC)
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IV – PESSOA NATURAL:
1 – CONCEITO: expressão adotada pelo nosso Código Civil (Título I) e pode
ser conceituado como o ser humano enquanto sujeito de direitos e obrigações.
2 – CAPACIDADE JURÍDICA: como já dito, é a medida jurídica da
personalidade (art. 1º).
 Divide-se em:
- capacidade de gozo ou de direito – que é a aptidão oriunda da
personalidade para adquirir direitos e contrair obrigações na vida civil;
- capacidade de fato ou de exercício – que é a aptidão para exercer por
si só os atos da vida civil, dependendo, portanto, do preenchimento de
certos requisitos que a lei determina. (arts. 3º e 4º do CC).
3 – REGISTRO CIVIL DA PESSOA NATURAL: A lei 6.0015/73 exige que todo
nascimento deve ser registrado (art. 50 e 53), norma que também é prevista no
Código Civil (art. 9º, I). É uma norma criada a fim de identificar os cidadãos,
garantindo seus direitos.
Essa individuação da pessoa natural se dá através
dos seguintes pontos:
- Nome civil (art. 54, 4º item da Lei 6.015/73 e art. 16 do CC): É o sinal
exterior através do que se individualiza a pessoa. Integra a personalidade,
possuindo, portanto todos os atributos já mencionados (inalienáveis, etc).
O nome da pessoa natural é composto pelo
prenome e sobrenome (nome de família), podendo ter ainda o agnome. (art. 16
CC)
Possui entretanto, elementos secundários tais como:
títulos nobiliárquicos ou honoríficos(conde, duque, etc.), títulos eclesiásticos
(bispo, cardeal), qualificativos de dignidade ou identidade oficial (senador,
prefeito) além de títulos acadêmicos ou científicos (mestre, doutor).
Temos ainda a alcunha, que é o mesmo que
apelido, podendo, inclusive, incorporar-se ao nome da pessoa. Por último
temos o hipocorístico, que é o nome que se dá a uma pessoa para exprimir
carinho ( Betinho, Tião).
O art. 58 da LRP diz que o prenome é definitivo, só
podendo ser modificado nos casos previstos em lei (art. 55 e 56)

- Estado da pessoa natural – É a soma de suas qualificações permitindo sua


apresentação perante a sociedade numa determinada situação jurídica para
que ela possa usufruir dos benefícios e vantagens dela decorrentes e sofrer os
ônus e obrigações que dela emanam.
Pode ser encarado sob o aspecto individual ou físico
(idade, sexo, saúde mental), familiar (solteiro, casado, etc) e político (nacional,

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estrangeiro, naturalizado).
Também integram a personalidade com todos os
seus atributos.
- Domicílio – É a sede jurídica da pessoa. No caso da pessoa natural, a regra
é de que seu domicílio será o lugar onde ele estabelece sua residência com
ânimo definitivo, ou seja, é o lugar onde ela se presume presente para os
efeitos de direito e onde ela exerce e pratica com habitualidade seus atos e
negócios jurídicos.
Pluralidade domiciliar: se a pessoa natural possui
diversas residências onde viva alternadamente, considerar-se-á domicílio seu,
qualquer destes.
Falta de domicílio certo: no caso de não possuir
residência habitual, seu domicílio será o lugar onde for encontrada.
 Espécies:
- VOLUNTÁRIO – fixado livremente pelo indivíduo. Pode ser:
a) geral (fixado pela própria vontade);
b) especial (estabelecido de acordo com os interesses das pares em um
contrato) e;
- NECESSÁRIO OU LEGAL (determinado por lei – art. 76 CC)
 Perda do domicílio: se dá pela mudança, por determinação legal ou por
contrato.

V - INCAPACIDADE
1 – NOÇÃO – É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Deve-se
levar em consideração de que a incapacidade é exceção e a capacidade a
regra.
1.1 – Incapacidade absoluta (art. 3º) – serão sempre representados.
1.2 – Incapacidade relativa (art. 4º) – serão assistidos.
1.3 – Proteção aos incapazes – O ordenamento jurídico estabelece
instrumento de proteção aos incapazes, entre os quais se sobressai a
representação e a assistência, que são formas de se suprir a incapacidade. A
incapacidade cessa quando desaparecem as causas que a determinaram
(maioridade, emancipação (16) – que pode se dar pó concessão dos pais por
instrumento público ou por determinação judicial no caso de tutela, pelo
casamento, emprego público efetivo, colação de grau e pelo estabelecimento
civil ou comercial com economia própria). – art. 142 do ECA , art. 166, 171 do
CC. Entretanto, essa proteção aos incapazes não admite o chamado benefício
da restituição (restitutio in integrum – art. 180 CC). Este instituto era utilizado
em caráter extraordinário quando o menor, lesado em seus direitos, pleiteava a
devolução do que pagou, mesmo quando o ato lesivo era válido, por ter sido
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praticado de acordo com as formalidades legais. Resguardou-se assim a


segurança jurídica dos negócios.

1.4 – Estatuto da pessoa com deficiência (Lei 13.146/15)


Para os fins da lei, “considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas” (artigo 2º).

Na esfera civil, estabeleceu-se que “a deficiência não afeta a plena


capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união
estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de
decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas
sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo
vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à
convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à
curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas” (artigo 6º).

Parte-se da premissa que a deficiência não é, em princípio, causadora


de limitações à capacidade civil. Diante desse panorama, o EPD irá revogar
expressamente os incisos II e III do artigo 3º do Código Civil. Doravante haverá
apenas uma causa de incapacidade absoluta, qual seja, ser a pessoa menor de
16 anos. Não serão mais considerados absolutamente incapazes “os que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para a prática desses atos” e “os que, mesmo por causa transitória, não
puderem exprimir sua vontade”.

A incapacidade relativa passará a abranger as seguintes hipóteses: a)


maiores de 16 e menores de 18 anos; b) ébrios habituais e os viciados em
tóxico (a lei deixa de fazer menção aos que, por deficiência mental, tenham
discernimento reduzido); d) e aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir sua vontade (foi excluída a menção aos os
excepcionais, sem desenvolvimento mental completo); e) os pródigos.

Ao lado da curatela, passará a existir o processo de “tomada de decisão


apoiada”, ou seja, “o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
menos duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem
de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da
vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que
possa exercer sua capacidade” (artigo 1.783-A do Código Civil, introduzido pelo
EPD).

Assim, em síntese, a pessoa com deficiência que tenha qualquer


dificuldade prática na condução de sua vida civil, poderá optar pela curatela,
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diante de incapacidade relativa, ou pelo procedimento de tomada de decisão


apoiada. Deve-se frisar que pessoas com deficiência mental severa continuam
sujeitas à interdição quando relativamente incapazes. A alteração legislativa,
que excluiu a expressão "deficiência mental" do texto do artigo 4º, CC, não
veda a interdição quando o deficiente não possa, por causa transitória ou
permanente, manifestar sua vontade.

O artigo 84, §1º, EPD, enfatiza que, “quando necessário, a pessoa com
deficiência será submetida a curatela”, “proporcional às necessidades às
circunstâncias de cada caso”, durando o menor tempo possível (§3º). A
manutenção da legitimidade ativa do Ministério Público para ajuizar a interdição
nos casos de "deficiência mental ou intelectual", nos termos do artigo 1.769,
Código Civil, apenas explicita a manutenção dessa possibilidade de interdição
de deficientes que não consigam expressar sua vontade.

2 – AUSÊNCIA: ocorre quando alguém desaparece de seu domicílio, sem que


dela haja notícias, não podendo se determinar se está vivo ou morto e, que não
deixa representante ou procurador a quem toque administrar-lhe os bens ou,
cujo mandatário, não possa ou não queira continuar o mandato. (art. 22 e ss.
CC)
2.1 – FASES DA AUSÊNCIA:
1ª - Curatela do ausente: O juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do
MP, verificando a ausência, declarará esta (por sentença que deve ser
registrada no registro civil de pessoas naturais). Em seguida, mandará
arrecadar os bens do ausente, nomeando curador a estes, fixando os poderes
e obrigações conforme as circunstâncias.
2ª - Feita a arrecadação, o juiz mandará publicar editais na rede mundial de
computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de
editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 1 (um) ano,
ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, durante 1
(um) ano, reproduzida de 2 (dois) em 2 (dois) meses, anunciando a
arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens.
OBS: Cessa a curadoria pelo comparecimento do ausente, do seu procurador
ou de quem o represente; pela certeza de sua morte; pela sucessão provisória.
- Pessoas que podem ser curadoras: cônjuge não separado de fato por mais de
dois anos da declaração de ausência; pai ou mãe, descendentes (mais
próximos excluem mais remotos e os do mesmo grau, varões preferem as
mulheres) nesta ordem, desde que não haja impedimento que os iniba de
exercer o cargo.
3ª - Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a
abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.
4ª - Sucessão Provisória: Pode ser requerida por qualquer interessado
(cônjuge não separado de fato por mais de dois anos da declaração de
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ausência; pai ou mãe, descendentes (mais próximos excluem mais remotos e


os do mesmo grau, varões preferem as mulheres) que são os herdeiros
presumidos legítimos e testamentários. Pode ainda requerer aqueles que
tiverem sobre os bens do ausente direito subordinado à condição de morte; os
credores de obrigações vencidas e não pagas. Não havendo interessado, cabe
ao MP promover a sucessão provisória do ausente.
OBS: Cumpre aos herdeiros imitidos na posse dos bens do ausente, prestar
caução de os restituir, sob pena de os bens que lhe deviam caber manterem-se
sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz e que
preste a dita garantia. O excluído poderá, justificando a falta de meios, requerer
que lhe seja entregue a metade dos rendimentos do quinhão que lhe caberia.
Os imóveis do ausente somente poderão ser
alienados, não sendo o caso de desapropriação, ou hipotecar, quando o
ordene o juiz para lhes evitar a ruína ou quando convenha convertê-los em
títulos da dívida pública.
5ª - Empossados nos bens, os sucessores provisórios representarão ativa e
passivamente o ausente.
6ª - Sucessão definitiva: Escoados os 10 anos da abertura da provisória, os
herdeiros ou o MP poderá requer a abertura da sucessão definitiva, quando
então adquirirão os bens em definitivo. Ela se converterá ainda em definitiva
quando houver certeza da morte do ausente ou, quando o ausente contar com
mais de 80 anos e houver decorrido mais de 05 anos das últimas notícias suas.
OBS: Se o ausente regressar nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão
provisória só poderá requerer ao juiz a entrega dos bens existentes no estado
em que se acharem, ou sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros
e demais interessados houverem recebido pelos alienados depois daquele
tempo.
OBS: Não podemos confundir ausência com morte presumida. O ausente não
é considerado morto, mas apenas desaparecido até que se decrete a sucessão
definitiva. Entretanto, existem situações em que o desaparecido é presumido
morto, mesmo sem ser declarada sua ausência(naufrágio, inundação, incêndio,
etc.). Ler art. 7º CC e 88 da LRP.

VI – DAS PESSOAS JURÍDICAS


1 – CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA: unidade de pessoas naturais ou
patrimônios visando a consecução de certos fins, reconhecida pela ordem
jurídica como sujeito de direitos e obrigações, ou seja, é a união de pessoas +
capital para a consecução de determinado fim.

2 – REQUISITOS:
I – organização de pessoas ou de bens;

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II – licitude de propósitos;
III – capacidade jurídica reconhecida por norma;
IV – observância das condições legais para sua formação.
 Natureza Jurídica - Teorias:
- Teoria da ficção legal (Saviny): para ele, só o homem é capaz
de ser sujeito de direito, logo, a pessoa jurídica é uma ficção
legal, ou seja, é uma criação artificial da lei para exercer direitos
patrimoniais e facilitar a função de certas entidades. Não se pode
aceitar esta concepção por ser abstrata e não corresponder à
realidade, pois, se o Estado que é uma pessoa jurídica fosse uma
ficção legal, o direito que dele emana também o seria.
- Teoria da equiparação (Windscheid e Brinz): para esta teoria, a
pessoa jurídica é um patrimônio equiparado no seu tratamento
jurídico às pessoas naturais. Também inaceitável por elevar os
bens à categoria de sujeito de direitos e obrigações, confundindo
pessoas com coisas.
- Teoria da realidade objetiva ou orgânica(Gierke e Zitelmann):
para eles, há junto às pessoas naturais, que são organismos
físicos, organismos sociais constituídos pelas pessoas jurídicas,
que têm existência e vontade própria e distinta da de seus
membros, tendo por finalidade realizar um objetivo. Essa
concepção cai quando afirma que a pessoa jurídica tem vontade
própria, já que, o fenômeno volitivo é peculiar do ser humano e
não do ente coletivo.
- Teoria da realidade das instituições jurídicas(Hariou): essa
teoria admite que há um pouco de verdade em cada uma das
anteriores. Como a personalidade humana deriva de um do direito
(tanto que já privou seres humanos de personalidade – escravos),
da mesma forma ele pode concede-la a agrupamentos de
pessoas ou de bens que tenham por objetivo a realização de
interesses humanos. Assim, a personalidade jurídica é um
atributo que a ordem jurídica estatal outorga a entes que o
merecem. Esta é, portanto, a teoria que melhor define a natureza
jurídica das pessoas jurídicas.
 Classificação da pessoa jurídica:
- Quanto à nacionalidade: nacional (art. 1.126 CC) e
estrangeira(1.134 CC). Leva em conta a subordinação à ordem
jurídica que lhe conferiu personalidade, e não a nacionalidade de
seus membros ou a origem do seu controle financeiro.
- Quanto à estrutura interna: universitas
personarum(universidade de pessoas) que, coletivamente, goza
de direitos e os exerce por vontade única. Ex.: sociedades e

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associações; universitas bonorum( universidade de bens) que é o


patrimônio personalizado destinado a um fim que lhe dá unidade.
Essa finalidade é determinada pelo seu instituidor e se torna
imutável, sendo, inclusive, fiscalizada pelo MP. Ex.: fundações.
- Quanto às funções e capacidade:
1) de direito público externo – regulamentadas pelo direito internacional
público. Ex.: organismos internacionais(ONU, OEA, UNESCO) e as nações
estrangeiras;
2) de direito público interno – União, Estados, Municípios, Autarquias e
demais entidades de caráter público criadas por lei.
3) de direito privado – instituídas por iniciativa de particulares, conforme o art.
44 CC e dividem-se em: a) Associações; b) Sociedades; c) Fundações.

3 – INÍCIO E CAPACIDADE:
As pessoas jurídicas de direito público iniciam-se em
razão de fatos históricos, de criação constitucional, de lei especial e de tratados
internacionais, no caso de pessoa jurídica de direito público externo.
Já as pessoas jurídicas de direito privado tem o
início de sua existência legal com o registro de seus atos constitutivos, nos
termos do art. 119 da LRP e art. 45 CC.
O processo genético da pessoa jurídica de direito
privado apresenta duas fases: 1) a do ato constitutivo, que deve ser escrito; 2)
a do registro público.
A capacidade da pessoa jurídica decorre da
atribuição de personalidade pela ordem jurídica. Tem capacidade para exercer
todos os direitos compatíveis com a sua natureza jurídica, observadas as
limitações legais (Por sua natureza: não se sujeita ao direito de família; Por
norma jurídica: impossibilidade de pessoa jurídica estrangeira ser acionista em
empresa jornalística)
Segundo o art. 47, os atos dos administradores
obrigam a pessoa jurídica.
Importante notar inovação do NCC ao prever
claramente a desconsideração da pessoa jurídica, atingindo assim os bens
particulares dos sócios. Antes, tal procedimento somente existia no Código do
Consumidor e vinha sendo estendido aqueles efeitos pela jurisprudência.

4 – RESPONSABILIDADE CIVIL: Quanto à responsabilidade civil, há que se


fazer a seguinte distinção:
- Pessoas jurídicas de direito público e privadas prestadoras de
serviço público – De acordo com o art. 37, § 6º da CF, as pessoas

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jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de


serviço públicos, responderão pelos danos que seus agentes,
nesta qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Trata-
se da adoção da teoria objetiva, na modalidade do risco
administrativo. Assim, para que haja responsabilização, é
necessário: a) ocorrência do dano; b) nexo causal entre a conduta
do agente e o dano provocado; c) que o causador do dano o
tenha provocado na qualidade de agente público, ou seja, no
exercício de suas atribuições ou a pretexto de exerce-las. Atinge
tanto a conduta comissiva quanto a omissiva.
- As pessoas jurídicas de direito privado possuem responsabilidade
subjetiva e se dá da seguinte forma: a) contratual: respondem por
perdas e danos nos termos do art. 389 do CC, e seus bens
respondem pelo inadimplemento contratual; b) extracontratual ou
aquiliana: respondem pelos atos ilícitos praticados por seus
agentes, desde que haja culpa in vigilando ou in eligendo,
presumindo-se esta quando a pessoa jurídica tiver finalidade
lucrativa (presunção juris tantum) e exigindo prova quando não
tiver a mesma finalidade.

5 – TÉRMINO DA PESSOA JURÍDICA: As pessoas jurídicas de direito público


tem seu fim pelo mesmo meio que se criam. Já as de direito privado por
decisão de seus membros, por sua dissolução, quando a lei determinar, por ato
do governo que lhe casse a autorização para funcionar, quando incorra em
atos nocivos ao bem público, por dissolução judicial, quando por tempo
determinado.

6 – AS ASSOCIAÇÕES DE FINS NÃO ECONÔMICOS: o que os estatutos


dispuserem a respeito ou, em não havendo deliberação eficaz, devolução do
patrimônio a estabelecimento municipal, estadual ou federal de fins idênticos
ou semelhantes. Não havendo no Município ou no Estado, no DF ou Território
ainda não constituído em Estado em que a associação teve sua sede
estabelecimento nas condições indicadas, o patrimônio se devolverá à
Fazenda do Estado, DF ou à União.

7 – SOCIEDADE DE FINS ECONÔMICOS – o remanescente de seu


patrimônio (pagas as dívidas) será distribuído entre seus sócios ou herdeiros.

8 – FUNDAÇÕES: se não houver disposição em contrário no ato constitutivo


ou nos estatutos, seu patrimônio será incorporado em outras fundações que se
proponham a fins iguais ou semelhantes.

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9 – DOMICÍLIO: O domicílio da pessoa jurídica é a sua sede jurídica, ou seja, é


o local onde presumivelmente ela pode ser encontrada para fins de direito e
onde tem o centro de suas atividades.
No caso de pessoas jurídicas de direito público
interno seu domicílio é: União: o DF; Estado: as respectivas Capitais;
Município: o lugar onde funcione a administração municipal; Autarquias: o
fixado na lei que as criar e, na ausência desta fixação, o lugar onde funcionem
as respectivas diretorias e administrações.
No caso de pessoas jurídicas de direito privado, seu
domicílio é o lugar onde funcionarem suas respectivas diretorias e
administrações ou, onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos ou
atos constitutivos. Havendo diversidade de estabelecimentos, cada um será
considerado domicílio para os atos nele praticados. Tratando-se de pessoa
jurídica de direito privado com sede da administração no estrangeiro,
considerar-se-á domicílio, no tocante as obrigações contraídas por cada uma
de suas agências, o local do estabelecimento, sito no Brasil a que ela
corresponder (art. 88 do CPC).

VII – DOS BENS


1 – CONCEITO: São coisas materiais ou imateriais que têm valor econômico e
que podem servir de objeto a uma relação jurídica.
Podemos perceber que nem todas as coisas
interessam ao direito, pois o homem só se apropria de bens úteis à satisfação
de suas necessidades. De maneira que, se o que ele procura for uma fonte
inesgotável ou extremamente abundante, como a luz solar, o ar atmosférico,
etc. não há motivo para que esse tipo de bem seja regulado por norma de
direito, porque não há nenhum interesse econômico em controlá-lo.
Portanto, só são incorporadas ao patrimônio da
pessoa física ou jurídica as coisas úteis que despertam disputas entre as
pessoas, dando, essa apropriação, origem a um vínculo jurídico que é o
domínio.
Daí, a gente observa que os bens são coisas,
porém, nem todas as coisas são bens, pois somente consideramos “bens”
as coisas existentes que proporcionam ao homem uma utilidade e são
suscetíveis de apropriação, podendo constituir o seu patrimônio. Coisa é
gênero, do qual bem é espécie.
 Portanto, o bem apresenta os seguintes caracteres:
a) idoneidade para satisfazer um fim econômico (excluem-se assim, os
elementos morais da personalidade, por serem inapreciáveis economicamente,
como a vida, a liberdade, a honra, etc.);
b) gestão econômica autônoma (o bem deve possuir uma autonomia
econômica, constituindo uma entidade econômica distinta. Ex. se objeto
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corpório, esta individualidade representa sua delimitação e lhe confere valor.


Se incorpório deve possuir autonomia própria como o gás e a eletricidade,
considerados pelo CP como móveis)
c) subordinação jurídica ao seu titular, ou seja, deve ser subordinado ao
domínio do homem. Assim, o ar, o sol, as estrelas, etc. são coisas porém estão
fora da seara jurídica por serem insuscetíveis de apropriação.
2 – CLASSIFICAÇÃO:
2.1) Finalidade – A classificação vem a ser uma operação lógica que tem por
objetivo facilitar a compreensão de uma instituição jurídica, agrupando as
várias espécies de um gênero, para aproximar as que apresentem um
elemento comum, afastando as que não o apresentem.
Foi o que fez o nosso legislador ao classificar as
várias espécies de bens, ante o fato de que não se podem aplicar as mesmas
normas a todos, seja no modo de adquiri-los e aliená-los, seja quanto aos atos
que o titular pode praticar.
Critérios adotados pelo Código ao classificar; foram 04:
1º - Examinou-os de modo objetivo, considerando-os em si mesmos, sem
qualquer relação com outros bens ou com seu titular, atendo-se a sua
mobilidade, fungibilidade, consumibilidade, etc.
2º - Após, classificou-os em principais e acessórios, examinando-os agora em
relação aos outros.
3º - Ultrapassada esta fase, verificou-se sua relação com o titular do
domínio, para distingui-los entre públicos e privados.
4º Por último, observou-se quanto à sua suscetibilidade de serem
negociados, dividindo-os em coisas do comércio e coisas fora do comércio.
Portanto, a classificação baseia-se numa
característica peculiar do bem, o que não impede que este bem se enquadre
em várias categorias, desde que tenha múltiplos caracteres. Ex. o rio (imóvel,
público, fora do comércio).

2.2) Ultrapassada esta definição passemos a classificação propriamente


dita:

Bens considerados em si mesmos:

a) CORPÓREOS/ INCORPÓREOS – os corpóreos são os que tem existência


material e os incorpóreos os que não possuem existência tangível sendo
aqueles relativos aos direitos que as pessoas físicas ou jurídicas possuem
sobre as coisas, sobre os produtos de seu intelecto e apresentam valor
econômico.
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b) MÓVEIS/ IMÓVEIS – os móveis são aqueles suscetíveis de movimento


próprio (semoventes) ou aqueles passíveis de remoção por força alheia
(móveis propriamente ditos); os imóveis são aqueles que, por sua natureza,
não podem ser transportados de um lugar para outro sem destruição ou
alteração de sua substância.
b.1) espécies de bens móveis:
- Móveis por natureza – são os suscetíveis de movimento próprio ou de
remoção por força alheia, excetuados aqueles considerados imóveis por
acessão física artificial (construção, plantação); intelectual ou por
destinação do proprietário(escultura) e por determinação legal(ação,
apólice).
OBS: o navio e o avião são considerados bens móveis podendo, entretanto,
ser hipotecados.
- Móveis por antecipação – inicialmente considerados imóveis, mas
mobilizados pela vontade humana em virtude de finalidade econômica.
Ex. árvores convertidas em lenha.
- Móveis por determinação legal (art. 83) – os direitos reais sobre
objetos móveis e as ações correspondentes (art. 1.225, IV, V, VIII CC),
os direitos de obrigação e as ações respectivas, os direitos do autor, os
direitos de propriedade industrial.
b.2) Espécies de bens imóveis:
- Imóveis por natureza: o solo com sua superfície, os seus acessórios e
adjacências naturais, compreendendo as árvores e os frutos pendentes,
o espaço aéreo e o subsolo. Ex. a mata nativa.
- Imóveis por acessão física artificial ou industrial: tudo aquilo que o
homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada
à terra, os edifícios e construções, de modo que não se possa retirar
sem destruição, modificação, fratura ou dano. Não perdem o caráter de
imóveis os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele
mesmo se reempregarem.
- Imóveis por determinação legal: os direitos reais sobre imóveis,
inclusive o penhor agrícola e as ações que os assegurem, as apólices
da dívida pública oneradas com a cláusula de inalienabilidade e o direito
à sucessão aberta.

OBS: O novo Código Civil não mais contempla os imóveis por acessão
intelectual ou por destinação do proprietário, que de acordo com o Código
Civil de 1.916 era tudo quanto ao imóvel o proprietário mantivesse duradoura e
intencionalmente empregado em sua exploração industrial, aformoseamento ou
comodidade, que, entretanto, poderiam ser a qualquer tempo mobilizados por
mera declaração de vontade. Ex. escultura, uma obra de arte, etc.
Agora, estes bens são considerados apenas
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como pertenças, enquadrando-se na categoria de bens móveis por


natureza.
OBSERVAÇÕES GERAIS:
- As árvores se forem destinadas ao corte, os frutos se forem colhidos, os
metais e pedras separados do solo, passam a ser móveis por
antecipação;
- A regra de que a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e a do
subsolo sofre algumas limitações, podendo-se citar, dentre outras, as
seguintes: I - a propriedade está limitada na proporção de utilidade de
seu exercício; II – a propriedade superficial não abrange a água, o álveo
do curso no trecho em que se abre queda d’água, nem a respectiva
energia hidráulica para fins de aproveitamento industrial; III – os
recursos minerais, inclusive os do subsolo, os potenciais de energia
hidráulica, as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos
e pré-históricos constituem propriedade distinta da do solo e pertencem
à União;
- Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem
empregados, conservam a sua qualidade de móveis e readquirem essa
qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.(art. 84).
c) FUNGÍVEIS/ INFUNGÍVEIS – os fungíveis são os móveis que podem ser
substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. São os
bens homogêneos, equivalentes (carvão, açúcar, arroz, etc); os infungíveis
são os bens móveis que não podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, quantidade e qualidade. São os que possuem valor especial e não
podem ser substituídos sem que ocorra uma alteração em seu conteúdo
(quadro de Picasso)
Os bens fungíveis têm força liberatória, ou seja,
liberam o devedor de sua obrigação pelo simples fato de entregar ao credor
uma coisa em substituição pela outra, desde que do mesmo gênero, qualidade
e quantidade.
Em regra, a fungibilidade é própria dos bens móveis
e a infungibilidade dos bens imóveis. Entretanto, há bens móveis infungíveis
(como um cavalo campeão) e, imóveis fungíveis (loteamento entre sócios
distribuídos em quantidade para cada um).
 Importância da distinção:
- O empréstimo de coisas fungíveis denomina-se mútuo (art. 586) e o de
coisas infungíveis, comodato (art.579).
- O depósito de coisas fungíveis em que o depositário se obrigue a
restituir objetos do mesmo gênero, quantidade e qualidade regulam-se
pelo disposto acerca do mútuo (art.586).
- A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas
fungíveis (art.369).
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- Embora só valha o pagamento efetuado por pessoa que possa alienar o


objeto em que ele consistiu, se o pagamento se deu em coisa fungível,
não se poderá cobrar do credor de boa-fé que a recebeu e
consumiu.(art. 307, § único).
- Se o legado for de coisa móvel, que se determine pelo gênero ou pela
espécie, será cumprido, ainda que tal coisa não exista entre os bens do
testador (art. 1.915).
- O credor de coisa certa (portanto infungível) não é obrigado a receber
outra ainda que mais valiosa (art. 313).
- O contrato de locação de coisas visa o uso e gozo de coisas
infungíveis.(art.565)

d) CONSUMÍVEIS/ INCONSUMÍVEIS – os consumíveis são os móveis, cujo


uso importe em sua destruição imediata da própria substância. Podem ter
consuntibilidade natural (alimentos, dinheiro) ou consuntibilidade jurídica (art.
1.392, § 1º - usufruto impróprio); os inconsumíveis são os que podem ser
usados continuamente, possibilitando que se retirem todas as suas utilidades
sem importar em destruição imediata de sua substância (roupa em relação à
pessoa, pois em relação à loja ela possui consuntibilidade jurídica, tornando-se
consumível).
e) DIVISÍVEIS/ INDIVISÍVEIS – os divisíveis são os que podem ser divididos
em porções reais e distintas sem alteração das qualidades essenciais do todo e
sem desvalorização, formando cada qual um todo perfeito (ex.: uma saca de
café – manterá cada parte a mesma qualidade do produto);
Os indivisíveis são os que não podem se partir em
fração sem que haja alteração na sua substância ou no seu valor. Podem ser
indivisíveis por natureza, quando não puderem ser divididos sem alteração
de sua substância (cavalo, uma obra de arte) sem alteração de sua natureza;
indivisíveis por determinação legal (art. 1.386 – servidões prediais e art.
1.791, § único); indivisíveis por vontade das partes (convencional) (art.
314).
f) SINGULARES/ COLETIVOS – singulares, segundo o art. 89 CC, são
aqueles que embora reunidos, se consideram de per si, independentemente
dos demais. Podem estar unidas pela ação humana, não perdendo, entretanto,
sua singularidade (folha de papel); coletivas são aquelas que embora
constituídas de várias coisas singulares, são consideradas como um todo,
distinto daquelas que a compõe (Universalidades de fato “universitas rerum” –
rebanho, biblioteca, etc.; Universalidades de direito “universitas juris” – massa
falida, herança, patrimônio, etc.)

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Bens reciprocamente considerados:


1 – PRINCIPAL/ACESSÓRIO:
a) Principal é a coisa que existe sobre si, abstrata ou concretamente, ou seja,
não depende de qualquer outra.(o solo);
b) Acessório é a coisa cuja existência supõe a principal, ou seja, é aquela que,
para existir juridicamente, depende da outra.(construção em relação ao solo).
- Tanto os bens corpóreos quanto os incorpóreos comportam tal distinção
Ex. incorpóreo: crédito (principal) e os juros (acessório)
- Salvo disposição em contrário, o acessório segue o principal. Assim, a
natureza daquela deve ser a mesma desta (se móvel o principal, móvel
o acessório).
- Se nula a obrigação principal, nula também será a acessória (fiança)
- Somente em um caso o acessório domina o principal. Trata-se da
hipoteca, que é acessório em relação à dívida, mas se sobrepõe a esta
devido à importância social desse direito real.
 Espécies de Bens Acessórios:
a) Frutos: são as utilidades que a coisa
periodicamente produz, cuja percepção não lhe altera a substância.
- Quanto à origem podem ser: naturais (cria animal); industriais
(produção de uma fábrica); civis (aluguéis, rendas, juros);
- Quanto ao seu estado: pendentes (enquanto unidos a coisa);
percebidos ou colhidos (depois de separados); estantes
(depois de separados e enquanto encontrarem-se armazenados
para venda; percipiendos (que deviam ser mas não forma
percebidos); consumidos (que não mais existem).
 Importância da distinção:
Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-
fé do possuidor devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas de
produção e custeio. Devem também ser restituídos os frutos colhidos por
antecipação.
Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos
e percebidos logo que são separados. Os civis reputam-se percebidos dia por
dia.
O possuidor de má-fé responde por todos os frutos
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de
perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito, porém,
às despesas de produção e custeio.
O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela
durar, aos frutos percebidos.

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b) Produtos: são as utilidades que se retiram da


coisa, com prejuízo para a sua substância e com diminuição gradativa até o
esgotamento (petróleo)
c) Rendimentos: são os frutos civis, ou seja,
prestações periódicas oriundas da utilização da coisa frugífera por outrem que
não o proprietário (aluguéis, juros)
d) Benfeitorias: melhoramentos sobrevindos à coisa
com a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor a fim de conserva-la
(necessárias), facilitar o seu uso (úteis) ou de mero deleite (voluptuárias).

 OBS: Importância da distinção das espécies de benfeitorias:


O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias úteis necessárias, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe
forem pagas, o direito de levanta-las quando o puder sem detrimento da coisa.
Pelo valor das benfeitorias úteis e necessárias poderá exercer o direito de
retenção.
Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente
as benfeitorias necessárias, mas não lhe assiste o direito de retenção pela
importância desta e nem o de levantar as voluptuárias.
No condomínio, quando a coisa for indivisível ou se
tornar, pela divisão, imprópria ao seu destino e os consortes não quiserem
adjudica-la a um só, indenizando os outros, será vendida e repartido o preço,
preferindo-se na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao
estranho. Entre os condôminos, o que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas
e, não as havendo, o de maior quinhão.
No regime da comunhão parcial de bens, entram na
comunhão as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge.
Não é lícito ao locatário reter a coisa alugada, exceto
no caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas
houverem sido feitas com expresso consentimento do locador.
Só o valor dos bens doados ou dotados entrará na
colação, não assim o das benfeitorias acrescidas, as quais pertencerá ao
herdeiro donatário.
 Não se consideram benfeitorias:
Os melhoramentos sobrevindos à coisa sem a
intervenção do proprietário, do possuidor ou do detentor (*acessões naturais –
aluvião, avulsão, abandono de álveo e a formação de ilhas que será explicado
adiante) e as obras que criam coisa nova, que se adere à propriedade
anteriormente existente, como as construções e plantações (acessões
artificiais);
A pintura em relação à tela, a escultura em relação à
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matéria prima e a escritura ou qualquer outro trabalho gráfico em relação à


matéria prima que os recebe (especificação). Nestes casos, a propriedade do
bem cabe ao especificador, sem prejuízo da obrigação de indenizar.(art. 1.269
a 1.271 CC).
* Acessões: são os melhoramentos sobrevindos à
coisa sem a intervenção do proprietário, do possuidor ou do detentor
(acessões naturais – aluvião, avulsão, abandono de álveo e a formação de
ilhas) e as obras que criam coisa nova, que se adere à propriedade
anteriormente existente, como as construções e plantações (acessões
artificiais). Distingue-se das benfeitorias, eis que estas se destinam à
conservação, melhoria ou embelezamento da coisa enquanto que, as acessões
alteram a substância do bem (art. 1.248 e ss. CC). Não obstante isso existem
julgados que conferem às acessões artificiais, tratamento semelhante ao
atribuído pela lei às benfeitorias úteis efetuadas pelo possuidor, conforme se
infere do precedente a seguir transcrito:
“... possuidor de boa-fé tem direito a indenização
das benfeitorias. As edificações ou construções, conquanto acessões
industriais, equiparam-se às benfeitorias úteis (RESP 739); quanto a elas,
cabe, também, indenização ao possuidor de boa-fé...” 1
e) Pertenças: coisas acessórias destinadas a
conservar ou facilitar o uso do bem principal, sem ser parte integrante.
Conservam sua individualidade e autonomia, ou seja, ainda que sejam
separadas da coisa principal, esta continuará sendo considerada completa. Ex.
acessório de carro; quadro pendurado na parede de uma casa, etc..
f) Partes integrantes: são acessórios que unidos ao
principal, formam com ele um todo, sendo desprovidos de existência material
própria, embora mantenham a identidade. Se forem separadas da coisa
principal, esta ficará incompleta. Ex.: Peças de um relógio.

OBS: Maria Helena Diniz ainda classifica os bens acessórios em:


a) Naturais: originários de fatos da natureza. Ex.:
acessões naturais, frutos naturais.
b) Industriais: que se aderem ao principal em
virtude do engenho humano. Ex.: frutos industriais, acessões artificiais,
benfeitorias.
c) Civis: resultantes de uma relação jurídica
abstrata e não de vinculação material. Ex.: frutos civis, ônus relativamente à
coisa gravada, etc..

1
STJ, 3ª Turma, RESP 98191/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, decisão de 04/12/1997, DJ de
09/03/1998, p.88.
*RESP significa Recurso Especial.
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Bens considerados em relação ao titular do domínio:


I – BENS PÚBLICOS – são públicos os bens do domínio nacional pertencentes
à União, Estados, Municípios, bem como a outras pessoas jurídicas de direito
público.
 Classificam-se em:
- Bens de uso comum do povo ou do domínio público: são aqueles
que podem ser utilizados sem restrição, gratuita ou onerosamente, por
qualquer pessoa, sem qualquer permissão especial. Ex.: ruas, praças,
jardins, mar, praias, rios, etc.
- Bens de uso especial ou do patrimônio administrativo: são os
destinados a algum serviço da pessoa jurídica de direito público a que
pertencem. Ex.: Os edifícios públicos.
- Bens dominicais ou dominiais ou do patrimônio disponível:
constituem o patrimônio da pessoa jurídica de direito público, como
objeto de direito pessoal ou real da entidade. São os bens do Estado,
quaisquer que seja a sua proveniência, dos quais se possa efetuar a
venda, permuta, ou cessão, ou com os quais se possam fazer
operações financeiras em virtude de disposições legais especiais de
autorização. Comportam função patrimonial ou financeira porque se
destinam a assegurar rendas ao Estado, submetendo-se a regime de
direito privado, onde a Administração age, em relação a eles, como um
proprietário privado. Ex.: créditos, terras devolutas, etc. O dinheiro
arrecadado pelos tributos, para MHD é bem dominial. Para José Cretela
Jr. é bem de uso especial.
 Os bens públicos apresentam os seguintes caracteres:
- Inalienabilidade: só a perdendo nos casos e nas formas que a lei
prescrever. Apresentam essa característica enquanto guardarem
afetação pública.
- Imprescritibilidade: não podem ser adquiridos por usucapião. Existia,
contudo, até recentemente o usucapião especial sobre as terras
devolutas situadas na área rural após o período de 05(cinco) anos de
posse ininterrupta e sem oposição, além dos requisitos do usucapião
pró-labore (morada e cultivo da terra com o próprio trabalho, inexistência
de outro imóvel, área não superior a 25 ha). Não é mais aceito.
- Impenhorabilidade: visto serem inalienáveis. Além disso, a execução
contra os entes de direito público interno sujeitam-se a expedição de
precatório e não à penhora dos bens da entidade devedora.
II – BENS PRIVADOS – São todos aqueles que pertencem às pessoas
naturais e jurídicas de direito privado.

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Bens considerados em relação à sua comercialidade:


1 - Bens que estão fora do comércio (res extra commercium): São aqueles
que ordinariamente não podem ser alienados, podendo se classificar em:
a) Inapropriáveis por natureza – bens de uso
inexaurível, bens sem utilidade e os direitos da personalidade. Ex.: o sol, as
estrelas, direito à vida, à honra. Os primeiros perdem a natureza de bens fora
do comércio, quando forem captados, por meio de aparelhagem, para extrair
certos elementos, com o objetivo de atender certas finalidades.
b) Legalmente inalienáveis – aqueles que tem sua
comercialidade excluída por lei e, somente mediante autorização legal, podem
ser alienados. Ex.: bens públicos, bens de fundações, bens de menores;
c) Inalienáveis pela vontade humana – aqueles a
que o indivíduo, por ato inter vivos ou causa mortis, impõe a cláusula de
inalienabilidade, temporária ou vitalícia, nos casos e formas previstos em lei.
Ex.: cláusula constante de testamento e de doação. A cláusula de
inalienabilidade implica em impenhorabilidade e incomunicabilidade.
2 - Bens do comércio (res in commercio): os bens que estão no comércio e
podem ser alienados e adquiridos livremente.

VIII – BEM DE FAMÍLIA


1 – CONCEITO: É todo imóvel que, por força de lei ou da própria vontade do
dono, se torna inalienável e/ou impenhorável, ficando reservado à sua família.
É um instituto que visa assegurar um lar à família,
excluindo-o da penhora para o pagamento de débitos posteriores a sua
instituição.
Pode se dar de duas espécies:
1.1 – BEM DE FAMÍLIA LEGAL (Lei 8.009/90)
1.1.1 – CONCEITO – Consiste na exclusão, determinada por lei, da
penhorabilidade do imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar,
fazendo com que ele não responda pelas dívidas civis, comerciais, fiscais,
previdenciárias ou de qualquer outra natureza, contraída pelos cônjuges ou
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas
hipóteses previstas em lei. Tal impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o
qual se assentam as construções, plantações, benfeitorias de qualquer
natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis
que guarnecem a casa, desde que quitados. No caso de imóvel locado, a
impenhorabilidade alcança os móveis quitados que guarnecem a residência e
que sejam de propriedade do locatário. Para efeito de tal impenhorabilidade,
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela família
para moradia permanente. No caso de o casal ou a família possuir mais de um
imóvel utilizado como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor
valor, salvo se outro tiver sido registrado para tal fim (bem de família
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voluntário). Excluem-se da impenhorabilidade os automóveis, obras de


arte e adornos suntuosos.
Exclusão da impenhorabilidade (art. 3º da Lei 8.009/90):
-
- Créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas
contribuições previdenciárias; (Revogado pela Lei Complementar nº 150, de
2015)
- Crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em
função do respectivo contrato;
- pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o
bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou
conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela
dívida; (Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015)
- Impostos, predial e territorial, taxas e contribuições devidas em função
do imóvel familiar.2
- Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo
casal ou pela entidade familiar;
- Aquisição do imóvel com produto de crime;
- Execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização
ou perdimento de bens;
- Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação;

OBS: residência que constitui imóvel rural – a impenhorabilidade alcança


apenas a sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do
art. 5º, XXVI da CF/88, a área limitada como pequena propriedade rural.
Aquisição de imóvel mais valioso para transferir a
residência familiar, por devedor que se sabe insolvente, desfazendo-se ou não
da moradia antiga: não se beneficia da impenhorabilidade relativamente ao
novo imóvel. Neste caso, pode o juiz transferir a impenhorabilidade para a
residência antiga ou anular-lhe a venda, liberando o imóvel mais valioso para
execução ou concurso, conforme o caso.

1.2 – BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO (art. 1.711 ao 1.722 CC)


1.2.1 – CONCEITO: Consiste na destinação, pelos chefes de família, de um só
prédio para domicílio desta, com a cláusula de ficar isento de execução por
dívidas, salvo as que provierem de impostos relativos ao mesmo prédio.
2
Esta exceção, prevista no inciso IV do art. 3º da Lei 8.009/90 abrange a dívida oriunda das despesas de
condomínio, podendo, portanto, ser penhorado imóvel residencial. Precedentes do STJ, RESP 99685/RS,
Rel Min. Sálvio de FigueiredoTeixeira.
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- Duração: enquanto viverem os cônjuges e até que os filhos alcancem a


maioridade.
- Instituição: por escritura pública devidamente registrada no cartório
competente, após publicação na imprensa local e, na falta desta, da
Capital do Estado. Há prazo de 30 dias para reclamação por qualquer
interessado (art. 260 e ss. da LRP).
- Requisito: é necessário que os instituidores, no ato da instituição, não
tenham dívidas, cujo pagamento possa ser prejudicado pelo exercício de
tal direito.
- Dívidas a que se referem a isenção: dívidas posteriores ao ato de
instituição, exceto as que provierem de impostos relativos ao mesmo
prédio. Não atinge as dívidas anteriores à instituição, se se provar que a
solução destas se tornou inexeqüível em virtude do ato de instituição.
- Limite de valor: Após o advento da Lei n.º 6.742/79, deixou de existir
limite de valor para o bem de família, desde que o imóvel seja a
residência dos interessados por mais de dois anos.
- Morte do instituidor ou do cônjuge: o prédio instituído em bem de
família não entrará em inventário, nem será partilhado, enquanto
continuar a residir nele o cônjuge sobrevivente ou o filho menor de
idade.
- Bem de família consistente em prédio residencial rural: podem ser
incluídos na instituição a mobília e utensílios de uso doméstico, gado e
instrumentos de trabalho, mencionados discriminadamente na escritura
respectiva.
- Eliminação da cláusula: mediante requerimento do instituidor ou, no
caso de morte deste ou de seu cônjuge, de qualquer interessado, se o
prédio deixar de ser domicílio da família ou por outro motivo relevante
devidamente comprovado.
- Alienação: mediante consentimento dos interessados e de seus
representantes legais.

IX – DOS FATOS JURÍDICOS


1 – Teoria Geral
1.1– Conceito de fato jurídico em sentido amplo – são todos aqueles
eventos, provindos da atividade humana ou decorrentes de fatos naturais,
capazes de ter influência na órbita do direito, por criarem ou transferirem, ou
conservarem ou modificarem ou extinguirem relações jurídicas.
São todos os acontecimentos que, de forma direta
ou indireta, ocasionem efeito jurídico.
Assim, são fatos jurídicos a chuva, o vento, o
terremoto, a morte, bem como, o usucapião, a construção de um imóvel, a
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pintura de uma tela.


1.2 – CLASSIFICAÇÃO:
- Fatos jurídicos em sentido estrito ou fatos naturais: são aqueles que
advêm de fenômenos naturais, sem intervenção da vontade humana, e
que produzem efeitos jurídicos. Podem ser ordinários (nascimento,
maioridade, etc.) e extraordinários (decorrentes de caso fortuito – ex:
desabamento, naufrágio, etc).
- Fatos humanos ou fatos voluntários – são aqueles que dependem da
vontade humana. Podem ser:
I - Lícitos (atos jurídicos em sentido amplo) –
aqueles praticados em conformidade com a lei. São os atos humanos a que a
lei defere os efeitos almejados pelo agente. Dividem-se em:
a) atos jurídicos em sentido estrito ou
meramente lícito – não é exercício de autonomia privada, de forma que o
interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a sua satisfação se
concretiza no modo determinado em lei. Independe, portanto, da vontade do
agente. O que existe é uma ação humana combinada com o ordenamento
jurídico. O homem pratica alguma ação sem intenção direta de ocasionar
efeitos jurídicos. Ex.: Os atos de registro civil. Quando o pai registra seu filho,
não tem em mente nenhum objetivo específico, como criar, modificar ou
extinguir relação ou situação jurídica. Fá-lo por mero respeito à Lei e por
questão de segurança. Os efeitos do registro, porém, não nascem desta ação e
sim, da própria Lei.
b) Negócios jurídicos – o fim procurado pelas
partes baseia-se no exercício da autonomia privada a que o ordenamento
confere efeitos jurídicos, ou seja, a ação humana visa diretamente alcançar um
fim prático permitido na lei. Por essa razão, é necessária uma vontade
qualificada, sem vícios. Ex.: testamento, contrato, etc.

II – Ilícitos – aqueles praticados em


desconformidade com a Lei. Assim, temos que atos ilícitos são aquelas ações
ou omissões da conduta humana, desejadas (dolosas) ou indesejadas
(culposas), que produzem efeitos contrários ao Direito. Em vez de direitos,
criam deveres. Geram, como conseqüência, a obrigação de reparar o dano.

1.3 – AQUISIÇÃO DE DIREITOS


Os direitos podem ser adquiridos pelos seguintes
modos:
- Originário – quando não existe entre o adquirente e seu antecessor
qualquer vínculo jurídico. Ex.: ocupação.
- Derivado – quando existir uma relação jurídica entre o atual titular e o
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anterior. Ex.: compra e venda.


Esta distinção é importante para fins de aplicação da
regra de que ninguém pode transferir mais direitos do que possui.
- Gratuito – se não houver contraprestação. São atos de liberalidade. Ex.:
doação, testamento.
- Oneroso – se houver contraprestação. O agente que o pratica espera
algo em seu retorno. Ex.: compra e venda, promessa de recompensa,
etc.
- A título universal – tem por objeto uma universalidade ou uma quota
ideal de uma universalidade. Ex.: direito do herdeiro.
- A título singular – tem por objeto um ou alguns direitos determinados.
Ex.: compra e venda.
- Simples – se o fato gerador da relação jurídica consistir num só ato. Ex.:
assinatura de título de crédito.
- Complexo – se for necessária a prática de mais de um ato,
sucessivamente ou simultaneamente, sendo que cada ato tem eficácia
independente. Compõem-se de várias declarações de vontade que se
completam, emitida pelo mesmo sujeito, ou por diferentes sujeitos, para
a obtenção dos efeitos pretendidos na sua unidade. Ex.: a alienação de
um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração do contrato de
compromisso de compra e venda, mas se completa pela outorga da
escritura definitiva.

1.4 – DIREITOS ATUAIS E DIREITOS FUTUROS


Apenas para fins didáticos é importante um estudo
sobre o tema, já que o novo Código Civil não mais repetiu a norma descrita no
Código anterior. É importante para que tenhamos uma compreensão melhor da
teoria geral dos negócios jurídicos.
Direito atual é o que, tendo sido adquirido, está em
condições de ser exercido, por estar incorporado ao patrimônio do adquirente.
Direito futuro é aquele cuja aquisição ainda não se
operou, que não pode ser exercido. Sua realização depende de uma condição
ou prazo. Há fatos que necessitam acontecer para que esse direito se
aperfeiçoe. Ex.: compromisso de compra e venda a prazo, cujo direito real
somente surgirá com o pagamento final do preço e o registro no Cartório
competente.
O direito futuro pode ser deferido, ou seja, aquele
que para a sua aquisição depende exclusivamente de um ato do próprio sujeito
ou de sua própria aceitação (Ex.: aceitação da herança); ou não deferido,
quando para o seu aperfeiçoamento houver dependência de condições falíveis,
que escapam do mero arbítrio do interessado (Ex.: doação feita em
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contemplação de casamento, onde o casamento pode não vir a ser realizado).


Direito a termo é noção que não se deve confundir.
Há uma situação jurídica perfeita e acabada apenas subordinada a efeito
temporal. O que se relega para o futuro é a execução. O direito surge de
imediato, apenas sob o efeito temporal (Ex.: me disponho a entregar um objeto
que vendi daqui a 30 dias, a obrigação já está plena e acabada, apenas
aguardando o decurso do prazo e achegada do termo.

1.5 – DIREITOS EVENTUAIS


O direito eventual é direito incompleto, que pode ter
vários aspectos. O direito eventual é um direito futuro, pois depende de um
acontecimento para completar-se, mas já apresenta características
embrionárias, isto é, em alguns de seus elementos constitutivos. Trata-se de
relação jurídica ainda incompleta. Ex.: Os contratos aleatórios estampam
direitos eventuais, como no caso de venda de um bem que ainda não possui,
ficando na dependência de adquirir a coisa para poder transmiti-la.
Por ser direito quase completo, apresentando-se
como direito futuro, mas com certa relação com o presente, já desfruta de
alguma proteção jurídica.

1.6 – EXPECTATIVAS DE DIREITO


A expectativa de direito é a mera possibilidade ou
simples esperança de adquirir um direito. O direito não existe ainda, apenas
existe uma potencialidade de existência. Ex.: os direitos do nascituro, que só se
tornarão direito realmente se ele nascer com vida; o direito do herdeiro, que
somente existirá após a morte do de cujus.

1.7 – DIREITOS CONDICIONAIS


Os direitos condicionais partem da noção de
condição dada pelo art. 121 do Código Civil, ou seja, é a cláusula que,
derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio
jurídico a evento futuro e incerto.
Tanto nos direitos eventuais como nos condicionais
existe subordinação a evento futuro e incerto. Entretanto, os direitos eventuais
trazem elemento futuro e incerto inerente e essencial ao próprio negócio
jurídico, enquanto que nos direitos condicionais, o fato dito condicional é
externo ao ato. Assim, nem todo elemento futuro e incerto deve ser
considerado condição. O negócio jurídico eventual é negócio ainda incompleto
que necessita que algo ocorra para completar-se. É de índole interna.Ex.:
quem vende coisa que ainda não tem, depende de obtê-la para poder transmiti-
la.

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No direito condicional o direito já se perfez, apenas


se agregando a um elemento externo, uma condição, para ser exercido, uma
vez que sua existência depende desse elemento condicional. Ex.: Prometo a
uma pessoa que se ela não se mudar empresto-lhe o meu carro, ou seja,
enquanto a pessoa morar no lugar desejado, poderá usar o meu carro.
Entretanto, a doutrina mais clássica entende que,
para fins práticos, tanto o direito eventual como o direito condicional, devem ser
tratados de maneira idêntica.

1.8 – MODIFICAÇÃO DOS DIREITOS


A modificação dos direitos pode ocorrer por uma das
seguintes formas:
- Objetiva – atinge a quantidade (quantitativa) ou a qualidade do objeto
ou o conteúdo da relação jurídica (qualitativa). No caso de modificação
qualitativa, altera-se o objeto do direito sem que sua essência seja
alterada. É o caso de obrigação cujo pagamento foi acertado em
dinheiro e é realizado em cheque. Quando a modificação é quantitativa,
o direito permanece o mesmo, mas com acréscimo ou diminuição, como
é o caso do aluvião, em que as terras marginais de cursos d’água
podem aumentar ou diminuir, alterando a “quantidade” da propriedade.
- Subjetiva – atinge algum ou alguns dos sujeitos da relação jurídica, sem
que esta se extinga. A relação jurídica permanece a mesma, mas o
sujeito se altera, transmite todas as prerrogativas do direito que possuía.
Nem todos os direitos comportam modificação subjetiva, tendo em vista
que alguns deles têm caráter personalíssimo. Ex.: a cessão de crédito,
quando o credor transfere sua posição ativa no vínculo obrigacional a
um cessionário que passa a fazer as vezes do credor originário. A
relação jurídica, porém, permanece a mesma. No caso de direito
personalíssimo (que não comportam modificação subjetiva) podemos
citar os direitos da personalidade.

1.9 – DEFESA DOS DIREITOS


A defesa dos direitos se exercita dentre outras
formas, através de alguns mecanismos extrajudiciais preventivos (Ex.: cláusula
penal, arras, fiança), de alguns mecanismos de autodefesa (Ex.: legítima
defesa da posse e desforço imediato – art. 1.210, § 1º do CC) e da via judicial (
Ver Art. 5º ,inciso XXXV da CF).

1.10 – PERECIMENTO DO DIREITO


O Código Civil de 1916 estabelecia que “perece o
direito, perecendo o seu objeto, bem como perece o objeto do direito quando
perde suas qualidades essenciais ou o valor econômico; quando se confunde
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com outro, de modo que se não possa distinguir; ou quando fica em lugar de
onde não pode ser retirado” (art. 77 e ss. do CC antigo). Embora essas regras
não tenham sido repetidas pelo novo Código Civil, elas continuam a ser
aplicadas, uma vez que decorrem do sistema jurídico como um todo.
Isso se deve ao fato de que, como tudo que existe
na realidade que nos cerca, os direitos nascem, tem existência mais ou menos
longa, com ou sem modificações, e se extinguem, ou seja, morrem, perecem.
Assim, o direito pode perecer por alienação,
renúncia, abandono, pelo falecimento do titular do direito, pela confusão ou
ainda, pelo implemento de uma condição resolutiva. Exs.: arts. 381, 385, 682,
etc.

2 – FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO


2.1 – CONCEITO: São aqueles acontecimentos que advêm de fenômenos
naturais, sem a intervenção da vontade humana e que produzem efeitos
jurídicos.

2.2 – CLASSIFICAÇÃO (QUANTO À NORMALIDADE):


- Ordinários, como o nascimento, a maioridade, o decurso de tempo, etc.
- Extraordinários ou irresistíveis, como o caso fortuito, que se
caracteriza pela existência de dois requisitos: um Objetivo, que consiste
na inevitabilidade do evento, e um Subjetivo, que consiste na ausência
de culpa na produção do acontecimento. Ex.: desabamento, naufrágio,
etc.

3 – ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO


3.1 – CONCEITO: é o acontecimento que gera efeitos jurídicos previstos em lei
e não pelas partes, não havendo regulamentação da autonomia privada. Os
vícios de vontade são quase irrelevantes, eis que a intenção da parte encontra-
se em plano secundário. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios
jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições relativas a estes. (art. 185
do CC).

3.2 – CLASSIFICAÇÃO
- Atos materiais ou reais – “consistem numa atuação de vontade que
lhes dá existência imediata, porque não se destinam ao conhecimento
de determinada pessoa, não tendo, portanto, destinatário.” (MHD). Ex.:
abandono, ocupação.
- Participações – “consistem em declarações para ciência ou
comunicação de intenções ou de fatos, tendo como conseqüência,
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destinatário. Têm por finalidade dar conhecimento a outrem de que o


agente tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato.” (MHD).
Ex.: interpelação, intimação.

4.1 – NEGÓCIO JURÍDICO


4.1.1 – CONCEITO: É o ato lícito através do qual as partes exercem a
autonomia privada, auto-regulando, nos limites legais, seus interesses
particulares.
Trata-se de uma declaração de vontade que não
apenas constitui um ato livre, mas pela qual o declarante procura uma relação
jurídica entre as várias possibilidades que oferece o universo jurídico. É por
meio do negócio jurídico que se dá vida às relações jurídicas tuteladas pelo
direito.
No negócio jurídico, há uma composição de
interesses, um regramento geralmente bilateral de condutas, como ocorre na
celebração de contratos. A manifestação de vontade tem finalidade
negocial, que em geral é criar, adquirir, transferir, modificar, extinguir direitos,
etc. Mas existem também, negócios jurídicos unilaterais, em que ocorre o seu
aperfeiçoamento com uma única manifestação de vontade, como por exemplo,
no testamento.

4.2 – CLASSIFICAÇÃO
4.2.1 – Quanto às vantagens que produzem:
- Gratuitos: sem contraprestação, ou seja, são aqueles em que só uma
das partes aufere vantagens ou benefícios (Ex.: doação pura).
- Onerosos: com contraprestação, ou seja, ambos os contratantes
auferem vantagens. Subdividem-se em:
a) Comutativos – se as prestações forem
equivalentes e certas. Ex. compra e venda.
b) Aleatórios – se ao menos uma das prestações
não for certa, dependendo o benefício de evento futuro. Ex. contrato de seguro.
c) Bifrontes – podem ser considerados onerosos ou
gratuitos, conforme a intenção das partes. Ex.: o mútuo, o mandato, o depósito.
A conversão só se torna possível se o contrato é definido na lei como negócio
gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar um contrato oneroso
em benéfico, visto que subverteria sua causa. Ex.: o contrato de doação e o
comodato se fosse permitida sua conversão, transformariam-se em venda e
locação.
d) Neutros – não implicam em atribuição
patrimonial. Caracteriza-se pela destinação dos bens. Enquadra-se nessa
modalidade os negócios que têm por finalidade a vinculação de um bem, como
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o que torna indisponível pela cláusula de inalienabilidade e o que impede a sua


comunicação ao outro cônjuge, mediante cláusula de incomunicabilidade. A
instituição do bem de família também se inclui na categoria dos negócios de
destinação, não se qualificando como oneroso, nem como gratuito, embora
seja patrimonial.

4.2.2 - Quanto às formalidades:


- Solenes ou formais: requerem forma especial prescrita em lei, ou seja,
devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem.
Quando a forma é exigida como condição de
validade do negócio, este é solene e a formalidade é ad solemnitatem, isto é,
constitui a própria substância do ato. Ex.: escritura pública na alienação de
imóvel, o testamento.
Quando a forma é exigida apenas como prova do
ato, chamamos de formalidade ad probationem tantum. Ex.: assento de
casamento no livro de registro (art. 1.536 do CC).
- Não solenes ou de forma livre: não exigem forma legal. Como a lei não
exige nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, podem ser
celebrados por qualquer forma, inclusive a verbal. Ex.: compra e venda.

4.2.3 - Quanto ao conteúdo:


- Patrimoniais: versam sobre questões suscetíveis de aferição
econômica. Ex.: compra e venda, contratos em geral, testamentos.
- Extrapatrimoniais: versam sobre direitos personalíssimos ou direitos de
família. Ex.: casamento, reconhecimento de filho, guarda de filhos
menores, emancipação, etc.
 Quanto à manifestação de vontade:
I – Unilaterais: o ato volitivo provém de um ou mais sujeitos, desde que
estejam na mesma direção e tenham um único objetivo. Aperfeiçoam-se com
uma única manifestação de vontade. Ex.: renúncia, testamento.
Dividem-se em:
a) Receptícios: seus efeitos somente se produzem após o conhecimento
da declaração pelo destinatário, ou seja, a declaração de vontade tem
que se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos. Ex.:
revogação de mandato, resilição de um contrato.
b) Não-receptícios: sua efetivação independe do endereço a certo
destinatário, ou seja, o conhecimento por parte de outrem é irrelevante.
Ex.: o testamento e a confissão de dívida.

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II – Bilaterais: o ato volitivo provém de dois ou mais sujeitos, dirigidos em


sentido contrário.
Subdividem-se em:
a) Simples: concedem benefícios a apenas uma das partes e encargos à
outra. Ex.: doação.
b) Sinalagmáticos: concedem benefícios e encargos a ambas as partes.
Ex.: compra e venda.
 Quanto ao tempo em que produzem seus efeitos:
- Inter vivos: acarretam conseqüências jurídicas em vida dos
interessados. Ex: mandato, compra e venda.
- Causa mortis: acarretam conseqüências jurídicas após a morte
do sujeito. Ex.: testamento.
 Quanto aos efeitos:
- Constitutivos: sua eficácia opera-se com efeitos ex-nunc, ou
seja, a partir do ato. Ex: compra e venda.
- Declarativos: sua eficácia opera-se com efeitos ex-tunc, ou seja,
retroage ao passado. Ex.: divisão amigável.
 Quanto à existência:
- Principais: se independerem de qualquer outro, ou seja, são os
que têm existência própria. Ex.: compra e venda, locação.
- Acessórios: se sua existência depender da existência do
principal, ou seja, está subordinado ao principal. Seguem o
destino do principal. Nulo este, nulo será também o negócio
acessório, sendo que a recíproca não é verdadeira. Ex.: cláusula
penal, fiança, etc.
 Quanto ao exercício do direito:
- De disposição: implicam no exercício de amplos direitos sobre o
objeto, ou seja, implicam a transferência de direitos, havendo aí,
diminuição do patrimônio do declarante. Ex.: doação.
- De simples administração: implicam no exercício de direitos
restritos sobre o objeto, sem que haja alteração em sua
substância, ou seja, não implicam transferência do domínio ou
disposição de direitos. Ex.: mútuo.

4.3 – INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO


4.3.1 – CONCEITO: É a operação que têm por objeto precisar o conteúdo
exato de um negócio jurídico, diante da possibilidade de este conter cláusulas
duvidosas, pontos obscuros ou contradições.

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 A interpretação pode ser:


- Declaratória: se tiver por finalidade precisar a intenção das
partes;
- Integrativa: se pretender preencher lacunas contidas no negócio,
através de normas supletivas, costumes, etc.
- Construtiva: se objetivar reconstruir o ato negocial, a fim se
salva-los.
Algumas regras a serem observadas na
interpretação dos negócios jurídicos:
I – Previstas no Código Civil:
- Nas declarações de vontade atender-se-á mais à intenção nelas
consubstanciadas do que ao sentido da linguagem. (art. 112);
- Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
usos do lugar de sua celebração. (art. 113)
- Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se
estritamente. (art. 114)
- Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao
aderente. (art. 423)
- A transação interpreta-se restritivamente. (art. 843)
- fiança não admite interpretação extensiva. (art. 819)
- Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações
diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade
do testador. (art. 1.899)
II – Decorrentes de interpretações jurisprudenciais e doutrinárias:
- Em relação aos contratos, deve-se ater à boa-fé, às necessidades de
crédito e à equidade.
- Nos contratos que contiverem palavras que admitam dois sentidos,
deve-se preferir o que mais convier a sua natureza.
- Nos contratos de compra e venda, no que concerne à extensão do bem
alienado, deve-se interpretar em favor do comprador.
- Na compra e venda, todas as dúvidas devem ser interpretadas contra o
vendedor.
- Na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção
ao que pode ser exeqüível.
- No que concerne às cláusulas contratuais, estas deverão ser
interpretadas umas pelas outras.

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4.3.2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS OU ESTRUTURAIS


Essenciais: são os imprescindíveis à existência e
validade do negócio jurídico, sem os quais este deixa de existir ou se
transforma em outro. Podem ser:
a) gerais: comuns a todos os negócios jurídicos;
sujeito capaz, objeto lícito, possível e determinado ou determinável, licitude do
motivo e consentimento dos interessados;
b) particulares: peculiaridades a determinados
negócios jurídicos, por se referirem à forma dos mesmos.3
c) naturais: efeitos decorrentes do negócio jurídico
e previstos em lei, sem ensejarem menção expressa para que existam e sem
serem indispensáveis à existência do negócio a que se referem. Ex.: a
responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção.
d) acidentais: estipulações acessórias e facultativas
introduzidas pelas partes nos negócios jurídicos. São elas a condição, o termo
e o modo ou encargo.

4.4 – ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS


4.4.1 – CAPACIDADE DO AGENTE: O negócio jurídico pressupõe declaração
de vontade, de forma que se afigura indispensável que a pessoa que a emite
possua capacidade geral e, em alguns casos, capacidade especial ou
legitimação.
Capacidade geral é aquela que se refere a
qualidades intrínsecas da pessoa, tornando-as mais ou menos apta para
exercer sua autonomia privada. O agente deve ser plenamente capaz ou estar
devidamente representado (absolutamente incapazes) ou assistido
(relativamente incapazes).
Capacidade especial ou legitimação é aquela que
se refere à aptidão do agente para atuar em negócios jurídicos que tenham
determinado objeto. Ex.: a pessoa casada é absolutamente capaz, mas não
pode vender bens imóveis sem a outorga do cônjuge ou suprimento judicial,
salvo certos regimes de bens.
A incapacidade relativa de uma das partes não pode
ser invocada pela outra em proveito próprio, nem aproveita aos co-interessados
capazes, salvo se for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
Trata-se de exceção pessoal.

3
Há autores, como Sílvio Rodrigues, que encaram a capacidade do agente, a licitude do objeto e
a forma prescrita em lei como “pressupostos de validade do ato jurídico”, e não como elementos
essenciais.
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4.4.2 – OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL:


Para a validade do negócio jurídico, exige-se que o objeto seja lícito, ou seja,
que não atente contra a lei, contra a moral ou contra os bons costumes. Além
disso, não pode ser impossível física (quando não pode ser prestado pela
própria natureza. Ex.: levar um relógio ao Japão em um minuto) ou
juridicamente (quando contrariar o ordenamento jurídico. Ex.: adotar pessoa da
mesma idade).
Note-se que a impossibilidade inicial do objeto não
invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a
condição a que ele estiver subordinado. O objeto deve, ainda, ser determinado
ou determinável.
A impossibilidade relativa é aquela que atinge o
devedor, mas não outras pessoas. Não constitui obstáculo ao negócio jurídico
(art. 106). A impossibilidade absoluta é aquela que atinge a todos
indistintamente, constituindo um obstáculo ao negócio jurídico, ou seja,
inviabilizando-o.

4.4.3 – MOTIVO DETERMINANTE LÍCITO: sobre o motivo determinante, Sílvio


Salvo Venosa leciona: “Toda atividade humana tem um motivo. Todo negócio é
composto por um motivo, ou melhor, há motivação para se atingir um fim.
Numa compra e venda, por exemplo, o comprador pode ter os mais variados
motivos para realizar o negócio: pode querer especular o mercado; pode
pretender utilizar-se da coisa para seu próprio uso; pode querer adquiri-la para
revender. Todos esses motivos, porém, não têm relevância jurídica. O motivo
com relevância jurídica será receber a coisa, mediante pagamento. Para o
vendedor, por outro lado, o motivo juridicamente relevante é receber o preço.
Pouco importa para o Direito, se o vendedor aplicará o dinheiro recebido no
mercado de capitais ou pagará dívida.”
Embora grande parte da doutrina ainda venha
entendendo que o motivo determinante – ou como preferem, a causa – não
constitui elemento essencial do negócio jurídico, a verdade é que o Código de
2.002 mudou tal situação. Com efeito, de acordo com o seu art. 166, III, “é nulo
o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a ambas as partes,
for ilícito”.
Logo, resta claro que a licitude do motivo
determinante, de certa forma, passou a ser elemento essencial do negócio
jurídico, tanto que sua ilicitude, se for comum a ambas as partes, poderá
implicar na nulidade absoluta do ato.

4.4.4 – CONSENTIMENTO: É a válida manifestação de vontade do sujeito no


sentido de concordar com o estabelecimento de uma relação jurídica a respeito
de um objeto. Pode ser expresso ou tácito, desde que o negócio, por sua
natureza ou determinação legal, não exija que seja expresso.

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4.5 – ELEMENTOS ESSENCIAIS PARTICULARES


4.5.1 – Forma: é o meio através do qual se exterioriza o negócio jurídico, para
que possa produzir efeitos.
A regra é a da liberdade da forma (princípio da forma
livre). “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir” (art. 107).
 A forma pode ser:
- Livre ou geral: o negócio jurídico pode realizar-se por qualquer
forma, pela qual se verifique a manifestação da vontade.
Ademais, o Código Civil, em seu artigo 111, preceitua que “o
silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o
autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade
expressa”. Ex.: art. 539 CC.
- Especial ou solene: conjunto de solenidades que a lei exige para
a validade de determinados negócios jurídicos, subdividindo-se
em:
a) forma única: a lei prevê apenas uma forma para
a prática do ato. Ex.: a exigência de escritura pública para a realização de
determinados negócios jurídicos (pactos antenupciais, exigência de escritura
pública como essencial à validade das alienações imobiliária (art. 108 CC),
deserdação somente por meio de testamento (art. 1.964 CC).
b) forma plural ou múltipla: quando o ato é solene
mas a lei prevê mais de uma forma para a prática do ato, sendo possível às
partes optarem por alguma delas. Ex.: reconhecimento voluntário de filho (art.
1.609 CC); a transação, que pode efetuar-se por termo nos autos ou por
escritura pública (art. 842 CC); instituição de fundação (art. 62 CC); renúncia à
herança (art. 1.806 CC), etc.
c) forma genérica: a lei exige uma solenidade mais
geral. Ex.: exigência de “meras instruções escritas” para a prática de algum
negócio (art. 619 CC).
d) forma contratual: eleita pelos contratantes. A
propósito, no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem o
instrumento público, este é da substância do ato (art. 109 CC). Os contratantes
podem, portanto, mediante convenção, determinar que o instrumento público
torne-se necessário para a validade do negócio.
Também se diz que a forma pode ser ad
solemnitatem ou ad probationem tantum. A primeira, quando determinada
forma é da substância do ato, indispensável para que a vontade produza
efeitos (Ex.: a escritura pública, na aquisição de imóvel, art. 108 CC). A
segunda, quando a forma destina-se a facilitar a prova do ato. Entre nós, a
distinção não tem importância, pois se a lei exige determinada forma, o negócio
é necessariamente ad solemnitatem; se não exige, o negócio pode ser provado
por qualquer dos meios permitidos em Direito (art. 332 CPC).
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Não se deve confundir forma, que é meio de


exprimir a vontade, com prova do ato ou negócio jurídico, que é meio para
demonstrar a sua existência.

4.6 – ELEMENTOS ACIDENTAIS


4.6.1 – Conceito: são estipulações acessórias e facultativas introduzidas pelas
partes nos negócios. Por serem acessórias, seguem a mesma sorte que o
principal. Não são admitidas em alguns atos de natureza eminentemente
pessoal, como por exemplo, o casamento e o reconhecimento de filho.
4.6.2 – CONDIÇÃO: Cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das
partes, subordina, total ou parcialmente, o efeito do negócio jurídico a evento
futuro e incerto. Não afeta a existência do negócio jurídico, mas apenas sua
eficácia. Se se referir a evento passado ou presente, ainda que desconhecido,
não é condição. Se se referir a evento futuro, mas certo, caracteriza termo e
não condição.
As condições classificam-se em:
 Quanto à possibilidade:
- Física ou juridicamente possíveis: se puderem se realizar em
conformidade com as leis físico-naturais e o ordenamento
jurídico. Ex.: formar-se em direito ou medicina.
- Física ou juridicamente impossíveis: se não puderem se
realizar por contrariar as leis naturais (Ex.: dar a volta ao mundo
em uma hora) ou o ordenamento jurídico (Ex.: se casar com um
irmão).
 Quanto à licitude:
- Lícitas: quando não contrariarem a lei, a moral, a ordem pública
e os bons costumes;
- Ilícitas: quando contrariarem a lei, a moral ou os bons costumes.
São lícitas, em geral, todas as condições não
contrárias à lei, à ordem pública e os bons costumes; entre as condições
defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico
(condições perplexas – Ex.: doação de um bem sob a condição de o
donatário não exercer os poderes inerentes à propriedade ou de não aceitar a
doação), ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (condições
puramente potestativas – Ex.: estipula-se a condição com a redação “se eu
quiser”).
 Quanto à participação dos sujeitos:
- Casuais: se dependerem de fatos alheios à vontade das partes,
por se referirem a fatos da natureza ou por dependerem
exclusivamente da vontade de um terceiro;

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- Potestativas: se decorrerem da vontade de uma das partes.


Podem ser:
- Puramente potestativas: advindas de mero arbítrio do agente
(são proibidas as condições que sujeitarem o efeito do ato ao
arbítrio de uma das partes. Ex.: se eu quiser, se eu levantar o
braço, etc.);
- Simplesmente ou meramente potestativas: dependem não só
da vontade de uma das partes, como também de algum
acontecimento ou circunstância exterior que não se confunde
exclusivamente com o seu arbítrio. Ex.: te darei este bem se você
levar esse objeto até o centro da cidade.
- Mistas: decorrem em parte de um evento natural ou de ato de
terceiro e em parte da vontade do sujeito. Ex.: condição de se
casar com determinada pessoa.
Alguns autores citam uma outra categoria, qual seja,
a das condições promíscuas, que se trata de uma condição potestativa
qualificada pela ocorrência posterior de um evento alheio à vontade do agente
e que dificulta sua realização. Neste caso, a condição é de início puramente
potestativa, perdendo esse caráter se o agente, inesperadamente, vier a
padecer de algum problema físico que dificulte ou torne incerto o implemento
da condição. Ex.: escalar um determinado morro, porém, o agente após a
colocação da condição torna-se paraplégico.
 Quanto ao modo de atuação:
- Suspensivas: protelam, temporariamente, a eficácia do negócio
jurídico até a sua verificação (da condição), ou, nos termos do art.
126 do CC, “subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à
condição suspensiva, enquanto esta não se verificar, não se terá
adquirido o direito, a que ela visa”.
- Resolutivas: subordinam a ineficácia do negócio jurídico à sua
verificação (da condição). Se for resolutiva a condição, enquanto
esta não se realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-
se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido (art.
127 CC).
 Observações Gerais:
- Condições necessárias: não se considera condição a cláusula
que não derive exclusivamente da vontade das partes, mas
decorra necessariamente da natureza do direito, a que acede.
Ex.: cláusula que subordina a eficácia de um contrato de compra
e venda de imóvel à transferência por escritura pública.
- O Código Civil de 2.002 preceitua que “invalidam os negócios
jurídicos que lhes são subordinados as condições física ou
juridicamente impossíveis, quando suspensivas; as condições

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ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; as condições incompreensíveis ou


contraditórias”(art. 123 CC) e que “têm-se por inexistentes as
condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer
coisa impossível”(art 124 CC).
- A capacidade das partes e a forma do negócio jurídico regem-se
pela norma jurídica que vigorar ao tempo de sua constituição, e
não ao tempo em que ocorrer o implemento da condição.
- Ao titular de direito eventual, nos casos de condição suspensiva
ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-
lo.

4.6.3 – TERMO: é o dia em que começa ou se extingue a eficácia de um novo


negócio jurídico. Considera-se um evento futuro e certo. O lapso temporal a ser
decorrido, entretanto, pode ser incerto.
O Código Civil determina a aplicação de certas
regras referentes à condição suspensiva ao termo inicial e de certas regras
referentes à condição resolutiva ao termo final (art. 135 CC). Entretanto,
distingue-se o termo da condição, porque, enquanto aquele considera um
evento futuro e certo, esta leva em conta um evento futuro e incerto. Além
disso, o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do
direito, enquanto que a condição suspensiva protela a própria aquisição do
direito.
 O termo pode ser:
- Inicial (dies a quo ou suspensivo): suspende o exercício do
direito, sem suspender sua aquisição. Ex.: lhe darei o livro no dia
12/11/2004) ou final (dies ad quem ou resolutivo): seu advento
acareta o fim de um direito. Ex.: lhe darei o livro até o dia
12/11/2004);
- Certo: estabelece um prazo ou uma data certa, ou seja, o lapso
temporal a ser decorrido é conhecido desde o início. Ex.: lhe darei
o livro na quinta-feira; ou incerto: estabelece um evento certo,
cujo momento de verificação é indeterminado. Ex.: lhe darei este
livro quando o João falecer.
 Observações:
- Termo não se confunde com prazo, também regulamentado pelo
novo Código Civil. Prazo é o intervalo entre o termo a quo e o
termo ad quem, estando regulamentado nos arts. 132 a 134 do
CC.
- Salvo disposição em contrário, computam-se os prazos excluindo
o dia do começo e incluindo o dia do vencimento (art. 132 CC).
Se este cair em feriado, considera-se prorrogado até o primeiro
dia útil seguinte (art. 132, § 1o).
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- Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia


(art. 132, § 2o).
- Os prazos de meses e anos, expiram no dia de igual número do
de início, ou no imediato, se faltar esta correspondência (art. 132,
§ 3o).
- Os prazos fixados em horas contam-se minuto a minuto (art. 132,
§ 4o).
- Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro e,
nos contratos, em proveito do devedor, salvo quanto a esses, se
do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se
estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes.

4.6.4 – MODO OU ENCARGO: cláusula acessória, geralmente relativa a


liberalidades – mas também admissível em declarações unilaterais de vontade,
como a promessa de recompensa – que impõe um ônus ou uma obrigação ao
beneficiário do ato jurídico. Pode constituir numa prestação a favor de quem o
instituiu, de terceiros ou de nenhuma pessoa em particular.
 Efeitos:
- Não suspende a aquisição, nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no ato, pelo disponente, como condição
suspensiva;
- Sua ilicitude ou impossibilidade leva a considerá-lo como não escrito,
liberando o ato negocial de qualquer restrição, a não ser que se apure
que o encargo foi motivo determinante do negócio, caso em que este
se invalida;
- É compulsório, não podendo ser destacado do negócio. Seu
descumprimento pode acarretar a revogação da liberalidade;
- Se constituir em prestação personalíssima, a morte do devedor sem o
devido cumprimento do encargo acarretará resolução do negócio. Não
sendo personalíssima, transmite-se aos sucessores do gravado;
- Podem exigir o cumprimento do encargo seu instituidor, os herdeiros
deste ou o beneficiário. Após a morte do instituidor, se o encargo for de
interesse público, pode o Ministério Público exigir o cumprimento;
- A resolução do negócio jurídico em virtude de inadimplemento não
prejudica direitos de terceiros.

4.6.5 – REPRESENTAÇÃO: Segundo Sílvio Salvo Venosa. “a noção


fundamental, pois, é a de que o representante atua em nome do representado,
no lugar do representado. O representante conclui o negócio não em seu
próprio nome, mas como pertencente ao representado. Quem é a parte no
negócio é o representado e não o representante. Reside aí o conceito básico
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da representação. Estritamente falando, o representante é um substituto do


representado,porque o substitui não apenas na manifestação externa, fática do
negócio, como também na própria vontade do representado”.
A representação pode ser legal ou convencional,
sendo que no primeiro caso os poderes conferem-se por lei (ex.: poder familiar,
tutela, curatela) e no segundo, pelo interessado (ex.: mandato convencional).
Em qualquer desses casos, a manifestação de vontade pelo representante, nos
limites dos seus poderes, produz efeitos em relação ao representado.
Entretanto, é anulável o negócio jurídico concluído
pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato
era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. O prazo
decadencial para pleitear tal anulação é de 180 dias, a contar da conclusão do
negócio ou da cessação da incapacidade.
Admite-se ainda a figura do representante judicial,
que se verifica em relação aos administradores nomeados pelo Juiz, no curso
de processos, como os depositários judiciais.
O representante é obrigado a provar às pessoas,
com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de
seus poderes, sob pena de, não fazendo, responder pelos atos que a estes
excederem.
Salvo se a lei ou o representado o permitir, é
anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta
de outrem, celebrar consigo mesmo (autocontrato ou contrato consigo
mesmo). Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o
negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido
substabelecido. Anteriormente à entrada em vigor do atual Código Civil, o STJ
já havia sumulado que “é nula a obrigação cambial assumida por procurador
do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse dele (súmula 60)”.
Atualmente, a obrigação cambial em tal hipótese é apenas anulável.

4.7 – DEFEITOS DOS ATOS JURÍDICOS


4.7.1 – Noções: O Código Civil prevê alguns defeitos dos atos jurídicos, que
podem ser classificados da seguinte forma:
I – Vícios de consentimento: consistem na disparidade entre a declaração de
vontade e o efetivo desejo do agente. Trata-se do erro, ignorância, dolo,
coação, lesão e estado de perigo;
II – Vícios sociais: consistem numa manifestação de vontade que, embora de
acordo com o efetivo desejo dos agentes, afigura-se dissociada da lei ou da
boa-fé, infringindo o direito e prejudicando terceiros. Trata-se da fraude contra
credores.
Em todos esses casos o ato se torna anulável,
sendo de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do
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negócio jurídico, a contar, no caso de coação, do dia em que ela cessar e, nos
demais casos, do dia em que se realizou o negócio jurídico.

4.7.2 – ERRO OU IGNORÂNCIA: erro é a falsa idéia da realidade e ignorância


é o total desconhecimento acerca de algo, sendo ambos capazes de conduzir o
declarante a manifestar sua vontade de maneira diversa da que manifestaria se
porventura tivesse o correto conhecimento da realidade. O legislador equiparou
o erro e a ignorância nos seus efeitos jurídicos.
I – erro substancial ou essencial: é o que recai sobre a natureza do negócio
(o agente quer praticar um ato, mas pratica outro. Ex.: recebe a título de
doação, quando, na verdade, se trata de compra e venda), o objeto principal
da declaração (o objeto do negócio não é pretendido pelo agente. Ex.: adquire
acreditando tratar-se de certo imóvel na Capital, quando, na verdade, se trata
de imóvel situado no interior), a algumas das qualidades e ele essenciais (o
objeto não apresenta alguma das qualidades essenciais que o agente
imaginava. Ex.: adquire candelabros prateados acreditando serem de prata
quando, na verdade, não o são), a identidade ou a qualidade essencial da
pessoa, a quem se refira a declaração de vontade (a pessoa a quem se
refere a declaração de vontade não possui a identidade física ou moral que o
agente imaginava e sem a qual não teria praticado o ato. Ex.: faz doação a
alguém acreditando ser quem lhe salvou a vida, quando, na verdade, isso não
ocorreu) ou a vigência ou interpretação de norma de direito, desde que
não implique em recusa à aplicação da lei e seja motivo único e principal
do negócio (Ex.: contratação da importação de mercadoria cujo ingresso não é
admitido legalmente).
Somente o erro substancial acarreta a anulação do
ato jurídico (art. 138 CC). Exige-se ainda, que ele seja escusável (é o erro
justificável, tendo em vista as circunstâncias do caso), real (que dele decorra
prejuízo para o interessado) e, reconhecível pela outra parte (que pudesse
ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio).
II – Erro acidental: diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da
pessoa ou do objeto. Não acarreta a anulação do ato. “O erro de indicação da
pessoa, ou coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o
negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a
coisa ou a pessoa cogitada (art. 142 CC)”.
III – Erro de fato: recai sobre a circunstância de fato, ou seja, decorre de uma
noção falsa das circunstâncias. Ex.: paga dívida a conhecido e acha que não
precisa pegar quitação.
IV – Erro de direito: recai sobre a existência de uma norma jurídica, podendo
se caracterizar pelo seu desconhecimento, por seu falso conhecimento ou por
sua interpretação errônea. Somente será considerado escusável desde que
não se objetive, com sua alegação, descumprir a lei ou subtrair-se à sua força
imperativa e seja motivo único ou principal do negócio jurídico. Ex.: para afastar
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a imputação de má-fé.
V – erro quanto ao fim colimado (falso motivo): o falso motivo só vicia a
declaração de vontade, quando expresso como razão determinante (art. 140
CC). Ex.: o testamento em que o doador deixa determinado bem com expressa
declaração do motivo determinante (filiação, parentesco, etc.), que entretanto
se revelam,posteriormente, falsos.
 Observações:
A transmissão errônea da vontade por meios
interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta. Ex.:
declaração por fax, internet ou interposta pessoa que não se faz com fidelidade
e chega truncada.
O erro não prejudica a validade do negócio jurídico
quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer
para executa-la na conformidade da vontade rela do manifestante. Com essa
conduta, afasta-se o prejuízo da pessoa que agiu em situação de erro e,
conseqüentemente, o caráter real deste defeito.
O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da
declaração de vontade.
- Interesse negativo: leciona Sílvio Venosa que, “a anulação por erro redunda
em situação toda especial, ou seja, a responsabilidade é exatamente daquele
que pede a anulação do negócio, já que é o único responsável por sua má
destinação. Seria sumariamente injusto que o declaratário que não errou, nem
concorreu para o erro do declarante, arcasse com duplo prejuízo, duplo
castigo: a anulação do negócio e a absorção do prejuízo pelas importâncias a
serem pagas ou devolvidas, conforme o caso, além dos ônus da sucumbência
processual. Devem, portanto, os juízes atentar para essa importante
particularidade ao decretar a anulação do negócio jurídico por erro”.
Maria Helena Diniz ressalta no mesmo sentido que,
“têm-se observado com razão, que basta o erro de uma das partes para que o
negócio seja anulável. Mas o contratante que se achou em erro e promove a
invalidade do contrato pode ser condenado a ressarcir os danos que causar à
outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu
consentimento.”
Pelo novo Código Civil, não há mais que se falar em
responsabilidade exclusiva do contratante que agiu em situação de erro pela
anulação do ato. Não bastasse isso, o novo Código confere ao destinatário da
declaração proveniente de erro, o direito de evitar a anulação do negócio
jurídico, desde que se ofereça para executa-lo na conformidade da vontade
real do manifestante, o que leva em conta a ausência de dolo na conduta
daquele.

4.7.3 – DOLO: artifício ou expediente astucioso, utilizado para induzir alguém a


praticar um ato que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro.
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Distingue-se do erro, porque neste, o engano é espontâneo, enquanto que no


dolo, é provocado.
 Espécies de dolo:
I – Dolus Bônus: comportamento lícito e tolerado, que não induz anulabilidade.
É o dolo menos intenso. Ex.: exagero do vendedor nas qualidades do bem que
está vendendo; dolus malus: é o dolo mais intenso, ou seja, aquele exercido
com a intenção de causar prejuízo, por isso, induz anulabilidade.
II – Dolus causam ou principal: é o que dá causa ao negócio, que não se
realizaria de outro modo. Acarreta a anulabilidade do ato (art. 145 CC) e, dolus
incidens ou acidental: é o que acarreta a prática do ato em condições mais
onerosas ou menos vantajosas, sendo que, no caso de sua ausência, o ato se
realizaria, embora por outro modo. Acarreta apenas a obrigação de reparar o
dano;
III – Dolo positivo: consiste numa conduta comissiva e negativo, consiste
numa conduta omissiva. Nos negócios jurídicos bilaterais,o silêncio intencional
de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja
ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela não se teria
celebrado o contrato;
IV – Dolo de terceiro: é o praticado por terceira pessoa que não seja parte no
negócio jurídico. Pode o negócio jurídico ser anulado por dolo de terceiro, se a
parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso
contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas
as perdas e danos da parte a quem ludibriou;
V – Dolo de representante: o dolo do representante de uma das partes só
obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que
teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado
responderá solidariamente com ele pelas perdas e danos. Cabe ao
representado o direito de ajuizar ação regressiva;
VI – Dolo de ambas as partes: se ambas as partes procederam com dolo,
nenhuma pode alega-lo para anular o negócio jurídico ou, reclamar
indenização.

4.7.4 – COAÇÃO: pressão física ou moral exercida sobre a pessoa, a família,


os bens ou a honra de um contratante, para obrigá-lo ou induzi-lo a praticar um
ato. Pode se física (vis absoluta) ou moral (vis compulsiva). No primeiro caso,
o ato é nulo para alguns autores e inexistente para outros, pois implica na
ausência total de consentimento. No segundo caso, o ato é anulável, pois resta
mantida uma liberdade relativa para a vítima.
 Requisitos:
- deve ser causa determinante do ato;
- deve incutir no paciente, fundado temor;

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- o temor deve se referir a dano atual ou iminente;


- o dano deve ser grave ou considerável. Não mais se exige que o
dano seja igual, pelo menos, ao receável do ato extorquido;
- o dano deve recair sobre a pessoa ou os bens do paciente, ou
ainda, sobre sua família. Admite-se, excepcionalmente, que o
dano ameaçado recaia sobre terceiro. (noiva, amigo) e sobre o
próprio coator (filho que ameace suicidar caso o pai não pratique
determinado ato), desde que se prove que a ameaça foi suficiente
para viciar o consentimento;
- a ameaça deve ser injusta.
 Observações:
O exercício normal de um direito não é considerado
coação, uma vez que, esta deve ser injusta (art. 153, 1ª parte do CC). Da
mesma forma, também não é considerada coação, o simples temor reverencial
(receio de desagradar pessoas as quais se deve respeito e obediência – art.
153, 2ª parte do CC).
Ao se apreciar a coação, deve-se ter em conta a
idade, o sexo, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as
demais circunstâncias que lhe possam influir na gravidade (art. 152 CC).
A coação exercida por terceiro vivia o negócio
jurídico, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que se
aproveita e, esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos
(art. 154 CC).
Subsistirá o negócio jurídico se a coação decorrer de
terceiro sem que a parte a que aproveite dela, tivesse ou devesse ter
conhecimento, mas, o autor da coação responderá por todas as perdas e
danos que houver causado ao coacto (art. 155 CC).

4.7.5 – ESTADO DE PERIGO: Trata-se de defeito do ato jurídico previsto no


novo Código Civil, caracterizando-se “quando alguém, premido da necessidade
de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, assume obrigação excessivamente onerosa (art. 156)”.
Ex.: pessoa que está se afogando e, desesperada, promete toda sua fortuna
para ser salva. O novo CC ainda admite que “tratando-se de pessoa não
pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias
(art. 156, § único).”
O estado de perigo ocorre, assim, quando alguém,
se achando em situação equiparada ao “estado de necessidade” e, por isso,
assume obrigação excessivamente onerosa. Compõe-se de dois elementos: o
objetivo, que é a assunção de “obrigação excessivamente onerosa”; e o
subjetivo, caracterizado pelo constrangimento causado pela necessidade de
“salvar-se” ou de “salvar pessoa de sua família” do risco grave existente.
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Este último deve ser complementado pela adesão da


parte beneficiada ao desvio psicológico, que há de ser conhecedora do grave
perigo por que passa o declarante.
Sustenta uma parte da doutrina que o estado de
perigo se aproxima da coação moral, pois a vítima não se encontra em
condições de declarar livremente a sua vontade. Não se confundem, contudo,
esses dois vícios do consentimento. No estado de perigo inocorre a hipótese
de um dos contratantes constranger o outro à prática de determinado ato ou a
consentir na celebração de determinado contrato.
O artigo 178, II do CC declara anulável o negócio
jurídico celebrado em estado de perigo. Tal preceito, segundo alguns autores,
prejudica a parte beneficiada que não provocou a situação de perigo. Outra
parte da doutrina defende que o negócio deve ser anulado, pois, do contrário, a
vítima sofreria um empobrecimento desproporcional ao serviço prestado.
Alguns julgados têm admitido a redução do valor do pagamento ao justo limite
pelo serviço prestado ao invés de anular o negócio, atribuindo caráter
indenizatório ao beneficiado.

4.7.6 – LESÃO: Segundo Caio Mário da Silva Pereira, “a lesão qualificada


ocorre quando o agente, premido pela necessidade, induzido pela
inexperiência ou conduzido pela leviandade, realiza um negócio jurídico que
proporciona à outra parte um lucro patrimonial desarrazoado ou exorbitante da
normalidade.”4
O CC incluiu também a lesão no rol dos vícios do
consentimento. Segundo dispõe o art. 157, ocorre o referido vício do
consentimento “quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor
da prestação oposta”. Não se contenta o dispositivo com qualquer
desproporção: há de ser manifesta. Exige-se ainda, que a avaliação da
desproporção entre as prestações seja feita segundo os valores vigentes ao
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico”(art. 157, § 1º).
A lesão compõe-se de dois elementos: o objetivo,
consistente na manifesta desproporção entre as prestações recíprocas,
geradora de lucro exagerado; e o subjetivo, caracterizado pela inexperiência ou
premente necessidade do lesado.
O contrato é anulável porque foi viciado o
consentimento da parte prejudicada, mesmo que o outro contratante não tenha
tido conhecimento das suas condições de necessidade ou inexperiência, pois o
Código não se preocupa em punir a atitude maliciosa do favorecido.
OBS: Não se confunde a lesão com o estado de perigo, pois no primeiro,
exige-se desequilíbrio de prestações, enquanto que, no segundo, pode-se

4
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, 19. ed.,v.1, p.349. Rio de Janeiro:
Forense, 1.999. p. 349.
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conduzir os negócios unilaterais em que a prestação assumida seja


unicamente da vítima (promessa de recompensa, doação).
A lesão ocorre quando não há estado de perigo,
decorrente da necessidade de salvar-se. Além disso, não se exige, para
caracterização da lesão, que a outra parte saiba da necessidade ou da
inexperiência do lesado, enquanto que no estado de perigo tal ciência é
considerada requisito essencial para a sua configuração.
O Código considera a lesão um vício do
consentimento, que torna anulável a contrato (art. 178, II). Porém, faz uma
ressalva: não se decretará a anulação do negócio “se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito”(art.157, § 2º).
O lesado poderá assim, optar pela anulação ou pela
revisão do contrato. Assim, mesmo que escolha a anulação, será facultado ao
outro contratante ilidir a pretensão de ruptura do negócio, mediante o referido
suplemento, suficiente para afastar a manifesta desproporção entre as
prestações e recompor o patrimônio daquele.

4.7.7 – FRAUDE CONTRA CREDORES: A fraude contra credores é vício


social. É praticada com o intuito de prejudicar terceiros, ou seja, os credores. A
sua regulamentação assenta-se no princípio do direito das obrigações.
É o princípio da responsabilidade patrimonial, ou
seja, o patrimônio do devedor constitui a garantia geral dos credores. Assim, se
ele o desfalca maliciosa e substancialmente, a ponto de não garantir mais o
pagamento de todas as dívidas, tornando-se assim insolvente, com o seu
passivo superando o ativo, configura-se a fraude contra credores.
 Elementos:
I – objetivo: eventus damni, ou seja, o ato prejudicial ao credor;
II – subjetivo: consilium fraudis, ou seja, a intenção de prejudicar do devedor
ou deste aliado a terceiro. Para Washington de Barros Monteiro, não é
necessária a má-fé, bastando o conhecimento de que do ato advirão prejuízos
para os credores. Nos casos de transmissão gratuita de bens e de remissão de
dívida, não se exige a existência de má-fé para a anulação do ato.
 Negócios jurídicos em que pode ocorrer a fraude:
I – negócios de transmissão gratuita de bens ou de remissão de dívida –
tais atos, quando praticados pelo devedor que já se encontre em situação de
insolvência, ou por eles seja reduzido a tal situação, ainda quando o ignore,
podem ser anulados pelos credores quirografários, que já o eram ao tempo
daqueles atos, como lesivos dos seus direitos. Igual direito assiste aos
credores cuja garantia se tornar insuficiente. Não se exige má-fé.
II – contratos onerosos – quando praticados pelo devedor insolvente, desde
que a insolvência seja notória ou presumida (se houver motivo para ser
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conhecida do outro contratante). Se o preço ainda não houver sido pago e se


for aproximadamente o corrente (preço justo), o adquirente desobrigar-se-á,
desde que deposite em juízo, com citação editalícia de tosos os interessados.
Se o preço ajustado for inferior ao corrente, o adquirente, para conservar os
bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
III – pagamento antecipado de dívidas – o credor quirografário que receber
do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará
obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o
concurso de credores, aquilo que recebeu.
IV – outorga de garantias reais – presumem-se fraudatórios dos direitos de
outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a
algum credor.
OBS: Presume-se de boa-fé e valem, os negócios ordinários, indispensáveis à
manutenção do estabelecimento mercantil, rural ou industrial, bem como os
relativos à subsistência do devedor e de sua família.
A fraude contra credores é atacável através de ação
pauliana ou revocatória, cujos pressupostos são os seguintes:
- ser o crédito do autor anterior ao ato fraudulento;
- ser o devedor insolvente ou ter se reduzido a esta situação pela
liberalidade praticada;
- provocação de prejuízo ao autor;
- intenção de fraudar, presumida pela consciência do estado de
insolvência (exceto no caso de atos de transmissão gratuita de bens e
remissão de dívidas);
- deve ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele
celebrou a estipulação considerada fraudulenta e os terceiros
adquirentes que hajam procedido de má-fé (litisconsórcio passivo
necessário);
- Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em
proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores. Se os negócios anulados tinham por único objetivo atribuir
direitos preferenciais, mediante hipoteca, anticrese ou penhor, sua
invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.
- Distinção entre fraude contra credores e fraude à execução:
- a última exige para sua caracterização a existência de ação em curso
contra o devedor, enquanto o mesmo não ocorre em relação à primeira;
- a primeira gera anulabilidade do ato, enquanto que a segunda, apenas a
sua ineficácia em relação ao credor;
- a primeira deve ser pronunciada em ação pauliana, enquanto que a
segunda pode ser reconhecida incidentalmente nos próprios autos da
execução;
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- alguns casos de fraude contra credores depende de demonstração de


má-fé, enquanto que, na fraude à execução, a malícia é irrelevante.

4.8 – INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


4.8.1 – CONCEITO: sanção imposta pela lei, que determina a privação dos
efeitos jurídicos do negócio praticado com inobservância das disposições
legais.

4.8.2 – CLASSIFICAÇÃO: nosso Código Civil cogita apenas duas espécies se


atos inválidos: os nulos e os anuláveis. Entretanto, a doutrina admite uma
terceira espécie, qual seja, a dos atos inexistentes.
I – Inexistência – negócios inexistentes são os que reúnem os elementos de
fato que sua natureza ou seu objeto supõem, e sem os quais é impossível
conceber a sua própria existência. A regra é a de que os negócios inexistentes
não produzem qualquer efeito jurídico e, por isso, independem de declaração
judicial, sendo imprescritíveis, por não se convalidarem. Entretanto, sempre
que houver necessidade de produção de provas ou nos casos de
documentação formal e aparentemente perfeita, há necessidade do
ajuizamento de ação judicial de natureza declaratória.
II – Nulidade (nulidade absoluta) – de acordo como o Código Civil, o negócio
jurídico é nulo quando:
- celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
- for ilícito, impossível ou indeterminado o seu objeto;
- o motivo determinante comum a ambas as partes, for ilícito. É preciso,
nesse caso, que o motivo determinante ilícito seja comum a ambas as
partes, não bastando que seja do conhecimento de apenas um dos
contratantes. Sílvio de Salvo Venosa cita o seguinte exemplo: “a compra
e venda de um lupanar possui em si a finalidade ilícita. O financiamento,
conhecido de ambas as partes, com a finalidade de adquirir esse
conventilho ingressa no motivo determinante que tornará o negócio
nulo”;
- não revestir a forma prescrita em lei;
- for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para sua
validade;
- tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
- a lei taxativamente o declarar nulo (nulidade textual ou expressa,
quando a dispositivo trouxer as expressões “não terá validade”, “é nulo”,
“será de nenhum efeito”, “não produzirá efeito”, etc. Ex.: art. 489;1548
CC), ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção (nulidade virtual ou
implícita, quando contiver as expressões “não pode”, “é vedado”, etc.
Ex.: art. 556; 1691 CC).
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Também será nulo o negócio jurídico simulado. A


simulação é a declaração enganosa de vontade, visando produzir efeitos
diversos sos ostensivamente indicados.
 Caracteres:
I – falsa declaração bilateral de vontade;
II – a vontade exteriorizada diverge da interna ou real, não correspondendo à
intenção das partes;
III – é sempre consertada com a outra parte, sendo intencional o desacordo
entre a vontade interna e a declarada;
IV – é feita no sentido de iludir terceiro.
 A simulação pode ser:
a) absoluta: a declaração enganosa de vontade exprime um negócio jurídico
bilateral ou unilateral, não havendo a intenção de realizar negócio algum. As
partes apenas fingem para criar uma aparência, uma ilusão externa.
Ex: a emissão de títulos de crédito em favor de amigos e a posterior dação em
pagamento de bens a fim de quitar esses títulos por marido que pretende se
separar da esposa e subtrair da partilha esses bens.
b) relativa: a declaração enganosa de vontade exprime um negócio jurídico
fictício (contrato aparente) enquanto que, na realidade, deseja-se realizar outro
negócio (contrato real) diverso do primeiro. As partes pretendem realizar
determinado negócio prejudicial a terceiro ou em fraude à lei.
Ex: quando as partes, em um contrato de compra e venda, passam a escritura
por preço inferior ao real com a intenção de pagar imposto menor ou burlar o
fisco.
 A simulação relativa pode ser:
- subjetiva: se a parte contratante não for o indivíduo que tira proveito do
negócio. Quando o negócio jurídico apresentar conferir ou transmitir
direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem ou
transmitem;
- objetiva: relativa à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um
dos elementos contratuais. Quando o negócio jurídico contiver
declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira ou quando
os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados;

O Código Civil de 2002 não mais distingue entre


simulação inocente e maliciosa (art. 103 e 104 do CC/1916), pois ambas
produzem o mesmo efeito: nulidade do negócio simulado e a subsistência do
dissimulado, se válido for na sua substância e na forma.
Ex: homem solteiro que faz doação à sua concubina
mas sob a forma de compra e venda. Por não haver nenhum impedimento legal
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para essa doação, a concretização do ato sob a forma de compra e venda era
considerada simulação inocente, por não objetivar fraudar à lei.
Observações:
Dissimulação não é o mesmo que simulação, pois
nesta se quer enganar sobre a existência de uma situação não verdadeira,
enquanto que naquela simplesmente se oculta de outrem uma situação
existente, ou seja, há o propósito de enganar sobre a inexistência de situação
real. Todavia, a simulação relativa se destina a encobrir um negócio
dissimulado. Diante disso, o Código Civil estabelece que, apesar de nulo o
negócio simulado, subsiste o que se dissimulou, se válido for na sua substância
e na forma (art. 167 CC).
O § 1º do art. 167 do Código Civil dispõe que haverá
simulação:
- por interposição de pessoa. Ex.: terceiro que adquire bem de homem
casado e o transfere à concubina deste;
- por ocultação da verdade. Ex.: declaração de valor inferior na escritura.
- Por falsidade de data.
Reserva mental ou reticência é a emissão de uma
intencional declaração não querida em seu conteúdo, nem em seu resultado,
tendo por único objetivo enganar o declaratário. Equipara-se à simulação, em
seus efeitos jurídicos, no caso de ser bilateral. Caso contrário (se for unilateral),
não pode ser invocada pelo declarante para invalidar o negócio. A esse
respeito, o Código Civil estabelece que “a manifestação de vontade subsiste
ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”.
Assim, se o declaratário efetivamente sabe da
reserva e com ela compactua, os efeitos serão de simulação, com
aplicabilidade do art. 167 do CC.
Portanto, a reserva mental configura-se por uma
mentira do declarante, sendo que, essa mentira somente será relevante para o
negócio se tiver efeitos jurídicos. No dizer de Serpa Lopes, “à mentira pura e
simples, que não traduza nenhum reflexo no âmbito do direito, não pode se dar
importância para o fim de conceituar a reserva mental”.
Desta forma, essa mentira deve permitir a anulação
do negócio por parte do declaratário, que foi induzido maliciosamente em erro
(dolo).
Na vigência do Código Civil de 1916, os contraentes
não poderiam alegar, ou requerer em juízo quanto à simulação maliciosa, em
litígio de um contrato contra o outro, ou contra terceiros. Tratava-se de
aplicação do princípio de que ninguém pode ser ouvido em juízo alegando a
própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans). Entretanto,
diante do Código Civil de 2002, a regra não mais se afigura aplicável, uma vez
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que a simulação passou a ser causa de nulidade absoluta do negócio jurídico,


razão pela qual pode ser alegada por qualquer interessado, inclusive por
aqueles que realizaram o negócio simulado.
Apesar de ser nulo o negócio simulado, ressalvam-
se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do aludido
negócio (efeito ex-nunc, ou seja, retroativo). Trata-se, pois, de exceção à
regra de que a declaração de nulidade produz efeitos ex tunc (não retroativos).
Efeitos da nulidade absoluta:
- pode ser alegada por qualquer interessado ou pelo Ministério Público
(quando lhe couber intervir), produzindo efeitos erga omnes (contra
todos);
- pode ser conhecida de ofício pelo juiz, quando conhecer do negócio
jurídico ou dos seus efeitos e a encontrar provada;
- não admite confirmação pelas partes, nem suprimento pelo juiz;
- a declaração judicial produz, em regra, efeitos ex tunc(desde o início),
salvo em hipóteses excepcionais, como no caso do casamento putativo
(art. 1561 do CC);
- admite conversão, vez que, se o negócio jurídico nulo contiver os
requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes
permitir supor que o teriam querido, se houvesse previsto a nulidade.
Ex.: poder-se-á ter a transformação de um contrato de compra e venda,
nulo por defeito de forma, num compromisso de compra e venda.
III – Anulabilidade (nulidade relativa) – de acordo com o Código Civil, o
negócio jurídico é anulável quando:
- celebrado por pessoa relativamente incapaz;
- viciado por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores;
- a lei expressamente o declarar.
Efeitos da anulabilidade (nulidade relativa):
- pode ser alegada somente pelos interessados e somente aproveita aos
que a alegarem, salvo solidariedade ou indivisibilidade;
- não pode ser conhecida de ofício pelo juiz;
- somente produz efeitos depois de julgada por sentença;
- a declaração judicial produz efeitos ex nunc;
- submete-se aos seguintes prazos decadenciais:
- quatro anos, contados, no caso de coação, do dia em que ela cessar;
no caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão,
do dia em que se realizou o negócio jurídico e; no de atos de incapazes,
do dia em que cessar a incapacidade;
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- dois anos, a contar da conclusão do ato, quando a lei dispuser que


determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a
anulação;
- admite confirmação pelas partes, que retroage à data do ato, ressalvado
os direitos de terceiros. O ato de confirmação deve conter a substância
do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. Pode ser
tácita, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente
do vício que a inquinava (execução voluntária do negócio anulável).
Importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que dispusesse
o devedor contra o negócio confirmado. Quando a anulabilidade do
negócio resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se
este a der posteriormente.
Observações:
I – A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico, sempre que
este puder provar-se por outro meio;
II – Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não prejudicará na parte válida, se esta for separável;
III – A invalidade da obrigação principal implica a das acessórias, mas a destas
não induz a da obrigação principal;
IV – O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de
uma obrigação, invocar a sua idade, se dolosamente a ocultou quando
inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior;
V – Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um
incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga;
VI – Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que
antes dele se achavam e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas
com o equivalente.

* Há autores que se referem à ineficácia do negócio


jurídico, a qual não se trata de invalidade, mas, sim, da não produção de
efeitos em virtude, principalmente, da existência de uma condição suspensiva
ainda não implementada ou de um termo inicial ainda não verificado.

5 – ATO ILÍCITO
5.1 – CONCEITO: É o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica,
violando direito subjetivo individual, ou seja, é aquele praticado com infração ao
dever legal de não lesar a outrem.
Tal dever é a todos impostos no artigo 186 do CC,
que dispõe que, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
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Adotando a teoria do abuso do direito, que será


melhor estudada em direito das obrigações, o Código Civil ainda estabelece no
artigo 187 que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Em conseqüência, o
autor do dano fica obrigado a repará-lo (art. 927 CC).
O ato ilícito é, portanto, fonte de obrigação: a de
indenizar ou ressarcir o prejuízo causado.

5.2 – ATO ILÍCITO E INFRAÇÃO PENAL: O ato ilícito tem o mesmo


fundamento ético da infração penal (infração a um dever preexistente e a
imputação do resultado à consciência do agente), distinguindo-se desta, eis
que, enquanto o primeiro consiste na ofensa ao interesse privado de alguém, a
segunda se caracteriza numa violação de norma imprescindível à existência da
sociedade.

5.3 – ATO ILÍCITO E NEGÓCIO ILÍCITO: O ato ilícito distingue-se do negócio


ilícito, pois este é punido com a invalidade, ao passo que, aquele é reprimido
com a obrigação de indenizar. Segundo Orlando Gomes é ilícito o negócio
quando, sua causa ou seu motivo determinante não for conforme ao
direito, ou quando o objeto e o comportamento das partes não forem
idôneos.

5.4 – ELEMENTOS:
1º - Prática pelo agente de ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência – culpa em sentido amplo, que abrange o dolo (violação
intencional de um dever jurídico) e a culpa em sentido estrito (violação não
intencional de um dever jurídico por imprudência, negligência ou imperícia).
O agente deve ter conhecimento da ilicitude do seu
ato. Excepcionalmente a legislação contempla hipóteses de responsabilidade
objetiva (independente de culpa). A esse respeito, preceitua o parágrafo único
do artigo 927 do CC, onde diz que, “haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem”. Os “casos especificados em lei” são
os previstos no próprio Código Civil (art. 933, por exemplo) e em leis esparsas
(Lei de acidentes do trabalho, Código Brasileiro de aeronáutica, Lei 6.453/77
que estabelece a responsabilidade do operador de instalação nuclear, etc). Já
no caso relativo à natureza da atividade desenvolvida pelo autor do dano temos
como exemplo a caso do transporte de passageiros (empresas de ônibus),
onde a responsabilidade é objetiva (independente de culpa) em virtude da
existência de riscos para os usuários simplesmente pelo fato de usarem os
serviços da empresa.
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Classificação da culpa (segundo Maria helena Diniz):


I – Em função da natureza do dever violado: contratual (se tal dever se fundar
num contrato, como no caso de um cantor que não comparece para dar o
espetáculo contratado, cujo inadimplemento acarreta a responsabilidade de
indenizar as perdas e danos, nos termos do art. 389, 395 e seguintes do CC)
ou extracontratual ou aquiliana (se tal dever decorre de preceito de direito,
arts. 186, 187 e 927 do CC);
II – Quanto à graduação: grave (quando, dolosamente, houver negligência
extrema do agente, não prevendo aquilo que é previsível ao comum dos
homens); leve (a lesão de direito seria apenas evitável com atenção ordinária)
e; levíssima (se a falta for evitável por uma atenção extraordinária ou especial
habilidade e conhecimento singular). Essa distinção, geralmente, não tem
relevância na fixação do valor da indenização por danos materiais, pois, a
indenização mede-se pela extensão do dano (art. 944 CC). Entretanto, se
houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, pode o
juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização por danos morais (art.944, § único).
A extensão do dano também influi na fixação do valor da indenização por
danos morais;
III – Em relação aos modos de sua apreciação: in concreto (quando se
examina a imprudência ou a negligência do agente no caso concreto) ou in
abstrato (quando se faz a análise comparativa da conduta do agente com a do
homem normal);
IV – Quanto ao conteúdo da conduta culposa: in committendo (se houver a
prática de um ato positivo, ou seja conduta comissiva); in omittendo (se
houver uma conduta omissiva, ou seja, uma omissão); in eligendo (decorre da
má escolha daquele a quem se atribui a prática de um ato ou o adimplemento
de uma obrigação, como no caso daquele que entrega a direção de veículo a
pessoa não habilitada); in vigilando (advém da falta de atenção para com o
comportamento de outra pessoa, por cujo ato ilícito o responsável deve
responder, no caso do patrão em relação aos empregados) e; in custodiendo
(é a falta de atenção ou cautela relativamente a pessoa, animal ou objeto, sob
os cuidados do agente, como no caso do cachorro que não é devidamente
guardado pelo dono e causa dano a terceiro).
2º - Ocorrência de um dano: pode ser moral ou patrimonial. Este, por sua vez,
compreende danos emergentes (o que a vítima perdeu) e lucros cessantes (o
que a vítima deixou de ganhar).

5.5 – CONSEQUÊNCIA: A principal conseqüência do ato ilícito é a obrigação


de reparar o dano.

5.6 – ATOS LESIVOS QUE NÃO SÃO ILÍCITOS: Alguns atos lesivos não são
ilícitos, tais como:
- os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito;
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- a deterioração ou destruição de coisa alheia, ou lesão a pessoa, a fim de


remover perigo iminente, quando as circunstâncias tornarem o ato
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável
para a remoção do perigo (estado de necessidade). Apesar do ato não
ser considerado ilícito, encontra-se o agente obrigado a indenizar a
vítima, se esta não for culpada pelo perigo. Neste caso, o autor do dano
terá direito regressivo contra o terceiro causador do perigo e contra o
terceiro em defesa de quem causou o dano.

6 – PRESCRIÇÃO
O Código Civil trata das disposições gerais sobre a
prescrição extintiva nos artigos 189 a 196; e dos prazos prescricionais nos
artigos 205 (geral) e 206 (especiais).

6.1 – CONCEITO: “Extinção de uma ação ajuizável, em virtude da inércia de


seu titular durante certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de
seu curso” (Câmara Leal).
O Código Civil estabelece que a prescrição é causa
extintiva da pretensão, que nasce quando violado o direito, atingindo tanto a
ação como a exceção relacionada ao mesmo.
O decurso de tempo tem influência na aquisição e
na extinção de direitos. Distinguem-se, pois, duas espécies de prescrição: a
extintiva ou liberatória e a aquisitiva (usucapião).
Alguns países tratam conjuntamente dessas duas
espécies em um único capítulo. O Código Civil, entretanto, regulamentou a
extintiva na parte geral, dando ênfase à força extintora do direito. No direito das
coisas, na parte referente aos modos de aquisição do domínio, tratou da
prescrição aquisitiva, em que predomina a força geradora.
Em ambos os casos, no entanto, ocorrem dois
fenômenos: alguém ganha e, em conseqüência, alguém perde. Como o
elemento “tempo” é comum às duas espécies de prescrição, as causas que
obstam, suspendem ou interrompem a prescrição se aplicam a ambas (art.
1.244 CC).

6.2 – IMPORTÂNCIA DO INSTITUTO: O instituto da prescrição é importante e


necessário, para que haja tranqüilidade na ordem jurídica, pela consolidação
de todos os direitos. Dispensa, assim, a infinita conservação de todos os
recibos de quitação, bem como o exame dos títulos do alienante e de todos os
seus sucessores, sem limite de tempo.
Com a prescrição da dívida, basta conservar os
recibos até a data em que esta se consuma, ou examinar o título do alienante e
os de seus predecessores imediatos, em um período de dez anos apenas.
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6.3 – REQUISITOS:
- existência de uma pretensão, que possa ser exercida através de uma
ação ou exceção (defesa);
- inércia de seu titular;
- ausência de algun fato ou ato a que a lei confere eficácia impeditiva
(impede o curso da prescrição), suspensiva (paralisa temporariamente
o curso da prescrição e, superada, o prazo prescricional continua a
correr pelo tempo restante) ou interruptiva de curso prescricional
(inutiliza o lapso prescricional já decorrido e, superada, o prazo
prescricional recomeça a correr por inteiro da data do ato que a
interrompeu ou do último ato do processo que a interromper). A
interrupção da prescrição pode ocorrer somente por uma única vez.
- Exceção quanto às regras pertinentes à interrupção: “A interrupção
em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a
partir do ato interruptivo, mas não fica reduzido aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do
prazo”.(Súmula 383 do STF)
As principais causas impeditivas e suspensivas da
prescrição encontram-se elencadas nos arts. 197 a 201 do CC. Já as principais
causas interruptivas da prescrição encontram-se previstas no art. 204 do CC.

6.4 – PRESCRIÇÃO AQUISITIVA (usucapião) e EXTINTIVA ou


LIBERATÓRIA (extingue a ação):
São institutos diversos, entretanto, aplicam-se a
ambos, como já mencionado, as causa que obstam, suspendem ou
interrompem a prescrição.

6.5 – NORMAS GERAIS:


- Admite renúncia expressa ou tácita (quando decorre de atos do
interessado que se presumem incompatíveis com a prescrição), que só
vale depois de consumada a prescrição e desde que não haja prejuízo
para terceiros (art. 191 CC);
- A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte
a quem aproveita (art. 193 CC);
- As pessoas naturais e as pessoas jurídicas sujeitam-se aos efeitos da
prescrição;
- Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm direito de propor
ação regressiva contra os seus assistentes ou representantes legais que
derem causa à prescrição ou não a alegarem oportunamente (art. 195
CC);

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- A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu


sucessor (art. 196). No caso de o sucessor ser absolutamente incapaz,
aplica-se a causa impeditiva e suspensiva da prescrição, prevista no art.
198, I do CC;
- O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se
favorecer a absolutamente incapaz (art. 194 CC). De igual modo, não
pode o Ministério Público, atuando como custus legis (fiscal da lei),
alegar a prescrição, exceto a favor de pessoa absolutamente incapaz.
- Com o principal prescrevem os direitos acessórios;
- A prescrição em curso não acarreta direito adquirido, podendo seu prazo
ser modificado por norma posterior. O Código Civil de 2002 estabeleceu
em seu art. 2028 as regras de transição, dispondo que, “serão os da lei
anterior (CC de 1916) os prazos, quando reduzidos por este Código, e,
se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da
metade do tempo estabelecido na lei revogada”.
- O curso do prazo prescricional começa a correr, em regra, com
surgimento da pretensão, ou melhor, da data em que a ação poderia ser
proposta (art. 189 CC).
- Nas obrigações de não fazer: no momento em que o devedor deixar de
cumprir a obrigação;
- Nas obrigações de não fazer: no momento que o obrigado faz o que se
encontrava obrigado a deixar de fazer;
- No que concerne aos direitos reais: no momento da violação do direito;
- Nas obrigações condicionais: no momento em que se realiza a condição
suspensiva.

6.6 – PRAZOS:
- Prescrição ordinária comum: 10 (dez) anos – art. 205 CC;
- Prescrição especial: aquela que está sujeita a prazos mais exíguos
previstos em lei – art. 206 do CC.
OBS: Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
(art. 192 CC)

6.7 – AÇÕES IMPRESCRITÍVEIS:


As ações são, em regra, prescritíveis. Entretanto, a
doutrina aponta várias pretensões imprescritíveis, afirmando que a
prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade a exceção.
São imprescritíveis, dentre outros casos, as ações
que tiverem por objeto, direitos da personalidade (direito à vida, à liberdade,
etc), estado da pessoa (filiação, cidadania, estado conjugal, etc).
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Não prescrevem assim, as ações de separação


judicial; de interdição; de investigação de paternidade; as de exercício
facultativo (ou potestativo), em que não existe direito violado (como as
destinadas a extinguir condomínio – ação de divisão e venda de coisa comum:
art. 1320 e 1323 do CC); as referentes a bens públicos de qualquer natureza,
que são imprescritíveis (art.101 do CC); as que protegem o direito de
propriedade, que é perpétuo (art. 5º, XXII da CF); as pretensões de reaver
bens confiados à guarda de outrem, a título de depósito, penhor ou mandato
(art. 1228 CC).

7– DECADÊNCIA:
7.1 – CONCEITO: Extinção do direito pela inação de seu titular, que deixa
escoar o prazo legal ou voluntariamente fixado para o seu exercício. Extingue,
indiretamente, a ação correspondente ou impede o seu nascimento.
Na vigência do Código Civil antigo, foram várias as
tentativas de se encontrar a linha divisória entre prescrição e decadência, uma
vez que aquele Código somente fazia referência à prescrição.
Entretanto, o novo Código Civil, considerando que a
doutrina e a jurisprudência tentaram, durante anos a fio, sem sucesso,
distinguir os prazos prescricionais dos decadenciais, optou por uma fórmula
segura: prazos de prescrição são unicamente os taxativamente
discriminados na Parte Geral (arts. 205 e 206), sendo de decadência todos
os demais, estabelecidos como complemento de cada artigo que rege a
matéria, tanto na Parte Geral como na Especial. Adotou ainda, de forma
expressa, a tese da prescrição da pretensão.
Acrescente-se que a prescrição resulta
exclusivamente da lei, enquanto que a decadência pode resultar da lei, do
contrato e do testamento.

7.2 – REGRAS:
- Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição
(art. 207 CC). Entretanto, a decadência não corre contra os
absolutamente incapazes e, uma vez iniciado o seu prazo, é obstada
apenas pelo exercício do direito ou da ação;
- Corre contra todos, exceto contra os absolutamente incapazes;
- O prazo decadencial estabelecido em lei é irrenunciável e, portanto,
apreciável de ofício pelo juiz. É nula a renúncia à decadência fixada
em lei (art. 209 e 210 CC);
- O prazo decadencial estabelecido pelas partes relativamente a direito
disponível pode ser renunciado, razão pela qual, não pode ser
apreciado de ofício pelo juiz, cabendo à parte a quem aproveita, alegá-la
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em qualquer grau de jurisdição (art. 211 CC);


- Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação regressiva
contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à
decadência ou não a alegarem oportunamente (art. 208 c/c o art. 195
CC).

7.3 – PRAZOS:
Podem ser previstos em lei (art. 501 do CC, por
exemplo) ou convencionado pelas partes se não houver previsão legal. Só há
prazos especiais.
7.4 – DISTINÇÃO PRÁTICA ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA:
Os institutos apresentam as seguintes diferenças:
- A decadência acarreta a extinção do direito, enquanto que a prescrição
acarreta a extinção da pretensão (o direito continua a existir, tanto que
se considera válido o pagamento voluntário de dívida prescrita, cuja
restituição não pode ser reclamada – art. 882 CC);
- O prazo decadencial pode ser estabelecido pela lei ou pela vontade
unilateral ou bilateral, enquanto que, o prazo prescricional decorre
apenas da lei;
- Na prescrição, o direito preexiste à ação, pois pressupõe pretensão
resistida; na decadência, ambos – direito e ação – nascem num mesmo
momento;
- A decadência, em regra corre contra todos, salvo contra os
absolutamente incapazes, não admitindo suspensão ou interrupção; a
prescrição não corre contra algumas pessoas que se encontrem em
determinadas situações previstas em lei e pode ser suspensa, impedida
ou interrompida em certos casos;
- A decadência decorrente de prazo legal não pode ser renunciada pelas
partes; a prescrição, após sua consumação, pode ser renunciada;
- A decadência só tem prazos especiais e expressos; a prescrição tem
prazos gerais e especiais;
- Só as ações condenatórias podem sofrer os efeitos da prescrição, pois
são as únicas que se destinam a proteger os direitos que irradiam
pretensões (apenas os direitos a uma prestação são suscetíveis de
violação);
- A Decadência atinge as ações constitutivas com prazo para exercício
estabelecido em lei, pois se referem a direitos sem pretensão ou sem
prestação que se caracterizam pelo fato de não poderem ser violados,
uma vez que, tendem basicamente à alteração de um estado jurídico
preexistente.

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BIBLIOGRAFIA
ALBERNAZ, Marcelo Velasco Nascimento. Direito Civil – Parte Geral, Goiânia:
Axioma Jurídico, 2002.
AMORIM FILHO, Agnelo. Critério Científico para distinguir a prescrição da
decadência e para identificar as ações imprescritíveis. Revista dos Tribunais,
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DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1, Saraiva, 2015.
FIÚZA, César. Direito Civil – Curso Completo, 6. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil – Parte Geral. Sinopses Jurídicas,
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MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil – Parte Geral, 35.ed.
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RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – Parte Geral, 34.ed. São Paulo: Saraiva,
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Parte Geral, Atlas, 2014.

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