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O estudo da Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro – LINDB é muito importante

porque: a) se aplica a qualquer ramo do direito no Brasil; b) apresenta critérios de solução de


conflito de leis no tempo e no espaço; c) apresenta métodos de preenchimento de eventuais
lacunas na ordem jurídica e d) oferece instrumentos de interpretação da lei a partir de
princípios fundamentais da ordem jurídica, conforme veremos a seguir.

Irretroatividade da Lei

LINDB - Art. 6º - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou.

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa
exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

A sucessão de leis no tempo pode acarretar o problema sobre saber qual lei deve ser aplicada
a determinado fato, especialmente quando esse fato ocorreu na vigência de uma lei que foi
revogada. A esse problema dá-se o nome de conflito de leis no tempo ou conflito
intertemporal de leis. As leis são elaboradas para valer para o futuro. No entanto, como é
sempre possível a inovação da ordem jurídica pela introdução de outras leis, como se viu com
o art. 2º, da LINDB.

O art. 6º da LINDB traz um critério de solução desse conflito que é o princípio da


irretroatividade da lei. Este princípio quer significar que vigente uma lei, ela produz efeitos a
partir de sua vigência para o futuro, ou seja, a lei quando se torna obrigatória não produz
efeitos para trás, atingindo o passado. Trata-se do princípio da irretroatividade que busca dar
certeza, estabilidade e segurança ao ordenamento jurídico.

No entanto, o princípio da irretroatividade não é absoluto, o que significa dizer que é possível
que uma lei quando entra em vigência possa produzir efeitos para atingir o passado, sem ser
retroativa. A eventualidade da retroatividade, ainda que criticada, se justifica por questões de
política legislativa.
Assim, a regra no direito brasileiro é a irretroatividade da lei. Somente em casos excepcionais e
determinada na própria lei é que ela pode ser retroativa. A retroatividade, portanto, é uma
exceção e que por isso deve sempre ser interpretada restritivamente.

É importante observar que sendo retroativa ou irretroativa, a lei sempre há de respeitar o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

O Direito brasileiro estabelece que a lei nova se aplica aos fatos presentes, aos fatos
pendentes e aos fatos futuros e o quando autorizada a retroatividade, a lei se aplica aos fatos
pretéritos, desde que não afete o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

A retroatividade pode ser: a) máxima; b) média ou c) mínima. Será máxima a retroatividade


quando afetar o ato jurídico perfeito e acabado e o negócio jurídico; será média a
retroatividade, quando a lei alcançar apenas os fatos pendentes e os direitos ainda não
incorporados ao patrimônio e será mínima, a retroatividade quando a lei afetar apenas os
efeitos dos atos pretéritos que se produzirem depois de a lei nova entrar em vigor.

É exemplo de retroatividade máxima, Lei francesa de 2 de outubro de 1795 na parte em que


anulou e mandou refazer as partilhas já julgadas, para os filhos naturais serem admitidos à
herança dos pais, desde 14 de julho de 1789; exemplo, de retroatividade média uma lei que
limitando a taxa de juros, não se aplicasse aos juros vencidos e não pagos e por fim, para
ilustrar a retroatividade mínima, pode-se citar o Decreto-Lei n° 22.626, de 7 de abril de 1993,
que reduziu a taxa de juros e determinou no seu art. 3º que ela fosse aplicada a partir de sua
data, aos contratos existentes, inclusive aos ajuizados.

O ato jurídico perfeito e acabado é aquele que foi praticado segundo a lei vigente ao tempo
em que o ato ocorreu, tendo o direito produzido sido já exercido. Se o ato jurídico não estiver
perfeito e acabado, a lei revogada se aplica às fases que ocorreram na sua vigência e a lei nova,
para as fases que acontecerem posteriormente a sua vigência.

Os contratos têm várias fases: a pré-contratual, a fase contratual e a fase pós-contratual.


Figure a hipótese de estar em vigência a Lei A. Se o contrato tiver sido concluído na vigência da
Lei A, a Lei B que a revogar, não atingirá o contrato, que como ato jurídico perfeito e acabado
deve ser respeitado.
De outro lado, imagine que ao final da fase pré-contratual, a Lei A seja revogada pela Lei B.
Como o contrato não está concluído, a Lei A se aplica à fase pré-contratual, caso ela tenha se
encerrado na vigência dela e a Lei B às demais fases, que ocorrem na sua vigência.

Direito adquirido é aquele que já se incorporou ao patrimônio e à personalidade do titular e


que pode desde logo ser exercido pelo próprio titular ou por alguém a seu mando. O direito
adquirido é o direito atual, cujo exercício depende da vontade do titular ou de seu
representante.

Diverso de direito adquirido é o direito futuro, que é aquele que ainda não se completou
porque está dependente de outro fato ou do decurso do tempo. O direito futuro é um direito
ainda não formado e não se confunde com a expectativa de direito, que consiste na esperança
de se adquirir um direito.

O direito futuro pode ser condicional, porque sujeito a um evento futuro e incerto, que se ao
ocorrer produz efeitos retroativos, fazendo que o interesse se incorpore ao patrimônio do
titular desde o instante que o ajuste foi realizado.

Coisa julgada é a imutabilidade das sentenças judiciais, das quais não cabe mais qualquer tipo
de recurso. A coisa julgada poderá ser material ou formal. Apenas a coisa julgada formal está
protegida pela irretroatividade da lei.

Contudo, cada vez mais latente a tendência da relativização da coisa julgada em alguns casos,
particularmente, quanto a questão da investigação de paternidade não comprovada, nas
palavras de Maria Helena Diniz “sem embargo, diante da quase certeza do DNA, dever-se-ia,
ainda, admitir a revisão da coisa jugada para fins de investigação de paternidade, me casos de
provas insuficientes, produzidas na ocasião da prolação da sentença, para garantir o direito à
identidade genética e a filiação, sanando qualquer injustiça que tenha ocorrido em razão de
insuficiência probatória” (DINIZ, 2002, v. 5, p. 408).

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