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Ao lado da pessoa humana, a ordem jurídica reconhece personalidade jurídica a uma criação

humana denominada de pessoa jurídica. Trata-se de uma estratégia, de uma técnica


desenvolvida para que as pessoas humanas atinjam mais facilmente seus objetivos na ordem
social, política e econômica.Neste momento do curso, vamos examinar as diversas forma de
que pode se revestir a pessoa jurídica de direito privado e sua forma de constituição.

Classificação das pessoas jurídicas: Associações, fundações e sociedades

I - Associação

Ato constitutivo da associação

A associação é a pessoa jurídica de direito privado constituída por pessoas que se reúnem para
a realização de atividades sem fim lucrativo, desde que lícita, possível e determinada.

É o caso de Associação de Moradores de Bairro, Associação de Pais e Amigos do Excepcional –


APAE, Associação de Pais e Mestres – APM, Associação Paulista de Magistrados – APAMAGIS,
por exemplo.

Os objetivos da associação são sempre de natureza não lucrativa e só podem realizar


atividades altruísticas, científicas, artísticas, beneficentes, educativas, culturais, políticos,
esportivas ou recreativas. Isso não quer significar que a Associação não possa realizar
atividades como bazar, bingos e atividades que arrecadem fundos que são aplicados nas suas
atividades fins.

O art. 54, CC traz os elementos necessários para a elaboração do ato constitutivo da


associação. A falta de qualquer dos elementos indicados no referido artigos leva à aplicação
da pena de nulidade do ato constitutivo, ou seja, os estatutos serão declarados nulos e a
pessoa jurídica não terá se constituído validamente.
Exclusão de Associado

Questão relevante no desenvolvimento da associação é a possibilidade de o associado


somente poder ser excluído por justa causa, que deverá ser apurada em regular procedimento
administrativo que assegure a ampla defesa, incluído nesse aspecto o direito de recorrer à
assembléia geral dos associados, segundo os art. 57, CC

E considerando que ninguém é obrigado a manter-se associado, aquele que pretender retirar-
se da associação poderá fazê-lo a qualquer tempo sem necessidade de justificar sua saída

Assembleia Geral de Associados

A assembleia geral de associados é o órgão deliberativo da associação, isto porque a


associação atua no atendimento de interesses coletivos de seus associados e nesse sentido,
compete à assembleia eleger os administradores da associação bem como destituí-los, aprovar
as contas que devem ser prestadas na forma determinada pelo estatuto e aprovar eventuais
alterações estatutárias, além de decidir sobre a exclusão de associados.

A decisões são tomadas em assembleias a partir de quóruns estabelecidos pela lei e que não
podem ser alterados. Assim, para destituir administradores e alterar estatutos, determina o
art. 59, parágrafo único, CC que seja convocada uma assembleia especialmente para esse fim,
que somente pode ser instalada com a presença de pelo menos dois terços dos associados.

Presentes dois terços dos associados, as deliberações no sentido da destituição do


administrador e alteração dos estatutos somente poderá ocorrer com maioria absoluta dos
associados em primeira convocação.
Nas demais convocações, as deliberações podem ocorrer com menos de um terço dos
associados. Assembleia geral de associados poderá ser convocada por um quinto dos
associados.

Figure um associação que tenha um quadro associativo composto por 40 pessoas. Se o


presidente da associação não convocar a assembleia geral para deliberar sobre a alteração dos
estatutos, um quinto dos associados podem fazê-lo, ou seja, 8 associados podem fazer um
abaixo assinado convocando a realização da assembleia geral, indicando dia, hora, local e
assunto da reunião.

Feita a convocação, de acordo com o art. 59, a assembleia somente pode ser instalada se
estiverem presente dois terços dos associados, ou seja, 26 pessoas. Se houver menos pessoas
do que o quórum especial estabelecido para abertura, a reunião deverá ser suspensa e
redesignada para outro dia.

Se presentes dois terços dos associados, a aprovação da destituição dos administradores bem
como a alteração dos estatutos dependerá do voto favorável da maioria absoluta dos
associados em primeira convocação. A maioria absoluta corresponde à metade dos associados
mais 1.

Nesse sentido, para a deliberação dos temas a que se refere o art. 59, parágrafo único, em
primeira convocação seriam necessários para o caso do exemplo o voto favorável de 21 dos
associados.

Em segunda convocação, que acontece, costumeiramente, meia hora depois da primeira, será
preciso o voto favorável de um terço dos associados, ou seja, dos 26 presentes, 13 associados
devem votar favoravelmente à destituição do administrador ou da alteração dos estatutos.

Se houver deliberação assemblear com quórum diferente do que foi estabelecido pelo art. 57,
CC a decisão poderá ser declarada nula em ação judicial ajuizada pelos prejudicados.

Para os demais assuntos que a assembleia seja convocada, por não se tratar de assunto que
afete a coletividade de associados, não se exige quórum qualificado para a instalação e nem
mesmo para as deliberações, podendo, portanto, qualquer que seja a pauta, haver deliberação
com a maioria dos presentes.
Dissolução da Associação

Deliberada a dissolução da associação, os bens da associação deverão ser entregues para outra
entidade de fins não lucrativos. Não tendo os estatutos determinado a destinação dos bens
remanescentes, uma assembleia deverá ser convocada para a deliberação dos associados que
poderão decidir sobre o encaminhamento do patrimônio líquido a entidade municipal,
estadual ou federal.

Os associados não podem ficar com os bens da associação. Eles poderão, quando muito,
reaver os valores que entregaram como pagamento de suas contribuições, para o que deve
haver expressa previsão nos estatutos ou no caso de omissão, ser convocada assembleia geral
para esse fim específico. Os valores serão apenas atualizados, não incidindo sobre o valor juros
moratórios, pois a associação não tem fim lucrativo.

II - Sociedade

A sociedade é uma das formas de que se pode revestir a pessoa jurídica de direito privado e
consiste na reunião de pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com seus bens e
serviços, para o exercício de atividade lucrativa.

A sociedade pode ser simples ou empresária. Será simples a sociedade que se constituir por
profissionais que atuam numa mesma atividade ou por prestadores de serviço. Será
empresária, a sociedade que se destinar a realizar atividade específica de empresário, nos
moldes do art. 966, CC. A sociedade como forma da pessoa jurídica de direito privado será
estudada no Direito Empresarial.
III - Fundação

A fundação consiste na personalização de um determinado acervo patrimonial que fica


afetado para a realização de atividades não lucrativas. A fundação, portanto, não depende da
reunião de pessoas, mas do atrelamento de um patrimônio a um fim de natureza assistencial,
filantrópica, cultural, educativa, artística para o que, a atribuição de personalidade jurídica ao
patrimônio é indispensável.

Disso decorre que dois são os elementos constitutivos de qualquer fundação, seja ela
particular seja pública: BENS e FINALIDADE.

Finalidade das Fundações Privadas

Conforme a redação dada pela Lei 13.151 de 2015 para o artigo 62 - Parágrafo único do Código
Civil, a fundação somente poderá constituir-se para fins de:

I – assistência social;

II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico

III – educação;

IV – saúde;

V – segurança alimentar e nutricional;

VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento


sustentável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de
sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos;

VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;

IX – atividades religiosas;

Fases da Constituição da Fundação

A fundação se constitui em quatro fases:

a) ato de dotação: consiste na reserva, isto é, na destinação de bens livres e suficientes para a
realização das atividades não lucrativas. A dotação pode ser feita por meio de escritura pública
ou por meio de testamento, devendo desde logo ser transferida a propriedade dos bens para a
fundação. No entanto, o bem ficará no patrimônio do instituidor até o momento em que a
pessoa jurídica denominada fundação for instituída.;

b) elaboração dos estatutos: feita a dotação dos bens, será preciso elaborar os estatutos da
fundação, que poderá ser feita pelo próprio instituidor ou por pessoa por ele indicada. Quando
a elaboração dos estatutos é feita pelo próprio instituidor da fundação, diz-se que a
elaboração é direta ou própria; se contudo, é feita por pessoa indicada pelo instituidor, diz-se
que se trata de elaboração fiduciária. Poderá também o Ministério Público elaborar os
estatutos da fundação, mas isso só poderá ocorrer se nem o instituidor não nem a pessoa
indicada o fizer no prazo assinado pelo instituidor.
c) aprovação dos estatutos: depois de elaborados, os estatutos devem ser apresentados ao
Ministério Público para exame, de que poderá resultar a aprovação, a emenda ou a reprovação
dos estatutos. Nos casos de emenda e de reprovação poderá o instituidor ou a pessoa
incumbida da sua elaboração, apresentar recurso ao juiz, pedindo o suprimento de aprovação.
Se também for negada aprovação pelo juiz, caberá recurso de apelação para o Tribunal de
Justiça.

d) registro dos estatutos: Aprovados os estatutos, deverão eles ser registrados no Serviço de
Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A fundação só tem existência legal a partir do registro de
seus atos constitutivos, como determina o art. 45, CC

Alteração dos Estatutos da Fundação

Tanto o ato de constituição da fundação quanto o ato de alteração de seus estatutos são
complexos e dependem de rigorosa obediência ao prescrito pela lei no art. 67, CC que
estabelece a necessidade de aprovação da alteração por dois terços dos dirigentes da
fundação. A alteração dos estatutos não pode afetar a sua finalidade, que é inalterável.

Se aprovada pelo quórum de dois terços, a alteração precisa ser submetida ao Ministério
Público, que nos termos do art. 66, CC deve fiscalizar as fundações que dará ciência à minoria
vencida para impugnação da alteração aprovada. Trata-se do controle de legalidade.

Extinção da Fundação

A fundação será extinta quando:

a) se tornar ilícito, impossível ou inútil sua finalidade;


b) vencer o prazo de sua existência, fixado pelo instituidor no seu ato de criação da fundação.

Extinta a fundação, caberá ao Ministério Público ou qualquer interessado providenciar a


incorporação do patrimônio fundacional a outra fundação municipal, estadual ou federal com
finalidade igual ou semelhante designada pelo juiz. Não havendo na localidade, o patrimônio
será arrecadado como bem vago e passará ao domínio do Município ou do Distrito Federal de
acordo com o art. 1.822, CC.

Outras pessoas jurídicas de Direito Privado

Organizações Religiosas, Partidos Políticos e Sindicatos possuem natureza muito particular


considerando as finalidades a que se destinam. Elas apresentam estrutura corporativa e,
portanto, natureza associativa, mas não podem ser consideradas associações no sentido
específico do termo, na medida em que não se ajustam ao desenvolvimento das atividades
próprias das associações.

Nesse sentido, ainda que sejam consideradas pessoas jurídicas de direito privado, a elas se
empresta o regime jurídico da associação naquilo que a associação não conflitar com as
finalidades específicas dessas pessoas. Assim, a elas se aplica o Código Civil desde que isso não
implique injustificado obstáculo ao exercício de suas finalidades.

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