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EXISTE UM DIREITO GERAL DE PERSONALIDADE?

Direito geral de personalidade significa dizer que o rol dos direitos de personalidade não é taxativo. Este posicionamento
prevalece no Brasil

TEORIAS QUE EXPLICAM A EXISTÊNCIA DA PESSOA JURÍDICA

Teoria da ficção legal – Savigny - a pessoa jurídica É uma ficção criada pela lei.

Teoria da realidade orgânica - Gierki (teoria minoritária) - Esta teoria foi política - as pessoas jurídicas existem e atuam
no mundo, operam, influenciam o nosso meio ambiente. Elas têm, portanto, realidade tão efetiva quanto a pessoa natural

Realidade técnica / institucionalista – Maurice Hauriou - as pessoas jurídicas existem, no entanto, como realidade
técnica, isto é, para fins de servir à pessoa natural. E sempre mediante concessão do direito positivo.

as pessoas jurídicas são em rol taxativo / numerus clausus – art. 44, CC

Miguel Reale e Moreira Alves, organizaram as pessoas jurídicas de direito privado de uma maneira muito clara.

De um lado a associação e a sociedade que são reunião de pessoas; a associação e a sociedade têm por elemento
fundamental do seu suporte fático, pessoas naturais ou jurídicas, mas pessoas.

De outro lado a fundação – Esta é um patrimônio personalizado – não é composta por pessoas, não tem membros,
associados ou sócios, mas sim administradores.

o regime jurídico da associação se aplica suplemente as sociedades lá na parte especial. Com relação à associação e a
sociedade, elas se diferenciam em dois aspectos fundamentais: (I) as associações, não perseguem fins econômicos;
enquanto que a sociedade - por definição - visa lucro; (II) nas associações não há direitos e obrigações recíprocos entre
os associados. Já nas sociedades com mais de um sócio, eles se obrigam reciprocamente entre si.

SOCIEDADE - celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício de atividade econômica e a partilha entre si dos resultados (resultado significa lucro ou perda).

com a lei da liberdade econômica - a possibilidade de a sociedade limitada ser unipessoal. - , o contrato deixou de ser a
única fonte constitutiva da sociedade. A partir da entrada em vigor da lei de liberdade econômica, o negócio jurídico
unilateral, também é constitutivo de sociedade.

A sociedade no Brasil pode ser simples ou empresária:

Empresária é a sociedade que exerce a empresa, Sociedade simples, todas as demais

Independentemente do objeto, as sociedades por ações (S/A e Comandita por ações) serão empresárias. E consideram
se sociedade simples as cooperativas (sempre)

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa.”
AS ASSOCIAÇÕES

As associações são reuniões de pessoas que se organizam para fins não econômicos - . Isto não significa dizer que a
associação não possa ter lucro. O que não pode haver é a repartição de resultados (lucros e perdas) entre os
associados.

não há entre os associados, direitos e obrigações recíprocos

regime constitucional da associação, duas regras são fundamentais:

o Liberdade de associação, segundo a qual ninguém é obrigado a se associar ou permanecer associado;

o As associações só podem ser compulsoriamente dissolvidas, mediante sentença judicial transitada em julgado.

Em regra, a qualidade de associado decorre de uma característica pessoal (ser advogado, juiz, promotor) por isso a
qualidade de associado é personalíssima e intransmissível, salvo se o estatuto dispuser de maneira distinta.

Eventualmente a qualidade de associado confere ao associado fração ideal do patrimônio da associação. Este direito
patrimonial circula de acordo com as regras gerais de direito patrimonial. É possível vender, doar e ainda ser espólio no
inventário.

Atenção! Salvo disposição diversa no estatuto, a transmissão de direitos patrimoniais não implica a transmissão da
qualidade de associado.

a exclusão do associado depende de justa causa e da concessão do direito de defesa.

Art. 61 – Extinção da associação

Se a associação por qualquer razão for dissolvida, os direitos dos associados serão os seguintes:

o Se após forem pagas todas as dívidas da associação sobrar valores, os valores terão de ser remetidos para uma
instituição municipal / estadual / federal prevista no estatuto. Na falta dessa previsão, àquela escolhida pelos associados.

o Os associados podem deliberar que receberão de volta, com atualização, os valores de suas contribuições
periódicas.

Atenção! Em hipótese nenhuma os associados podem receber lucro.

Atenção2: Se a associação for daquelas em que a qualidade de associado dá direito a quota do patrimônio, também será
direito do associado receber essa quota.

AS FUNDAÇÕES.

é um patrimônio personalizado - não tem sócio ou associados, tem instituidor e gestores - A fundação de direito privado
somente pode ser instituída para finalidades pré-determinadas previstas no art. 62.

se os bens destinados para a associação forem suficientes, eles serão destinados a outra fundação que se proponha a
fim igual ou semelhante, salvo se o instituidor dispuser de maneira diversa.

Se após instituída a fundação o instituidor não lhe transferir os bens, o juiz determinará o registro em nome da fundação
mediante mandado – pacifico na doutrina que a legitimidade para requerer é do MP.

cabe ao MP velar pelas fundações de direito privado


se o estatuto da fundação não for elaborado no prazo previsto do instituidor ou se não houver prazo em 180 dias, caberá
ao MP elaborar o estatuto da fundação

alteração do estatuto - O artigo 67 do CC trata da alteração do estatuto. A alteração somente poderá ocorrer quando
deliberada por 2/3 dos representantes da representação. Deverá também ter a aprovação do MP.

Em nenhuma hipótese poderá haver alteração ou desvirtuamento da finalidade da fundação.

Se o MP recusar a alteração do estatuto, cabe pedido ao juiz.

Quando os administradores não deliberarem por unanimidade, será pedido ao MP que dê ciência a minoria vencida para
que apresente suas razões no prazo de 10 dias. Passado esse prazo o MP decide.

Extinção da fundação – sê por qualquer razão a fundação for extinta, o seu patrimônio será destinado para outra
fundação de finalidade igual ou semelhante, salvo se houver disposição diversa no estatuto ou no ato de constitutivo

3. Desconsideração da personalidade jurídica

Origem – tribunais americanos – salomon x salomon

Não é causa de extinção da pessoa jurídica - mas suas obrigações serão estendidas para o patrimônio dos
sócios/administradores

Não falamos mais em teoria – já foi positivada no art. 50 CC. 28 CDC e na CLT.

requisitos da desconsideração

i. abuso da personalidade jurídica - desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. - Desvio de finalidade é a
utilização dolosa da pessoa jurídica para lesar credores ou praticar atos ilícitos de qualquer natureza. A utilização
culposa não caracteriza desvio de finalidade

ii. Confusão patrimonial é a ausência de separação de fato entre os patrimônios

Os sócios ou administradores devem ter sido beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso da personalidade
jurídica para que haja a desconsideração.
Preenchidos esses requisitos, as obrigações da pessoa jurídica atingirão os bens particulares dos sócios ou
administradores (há a derrubada do véu)

Não é automática – precisa de requerimento – parte ou MP – juiz não pode de ofício. Tem divergência doutrinaria no
CDC e ambiental.

Cabível em todas as fases do processo, no cumprimento da sentença e na execução fundada em titulo extrajudicial.

Será proferida uma decisão interlocutória, que pode ser objeto de agravo de instrumento

Desconsideração inversa – criação doutrinaria + stj – cpc já incorporou - as obrigações dos sócios ou administradores
podem ser executadas no patrimônio da pessoa jurídica. Justificativa - A pejotização - Ao invés de contratar pessoas
físicas, as empresas contratam pessoas jurídicas.
4. Administração da pessoa jurídica - Os atos praticados por administradores, nos limites dos poderes que lhes foram
conferidos, obrigam a pessoa jurídica.

Se a pessoa jurídica quiser cobrar algum prejuízo do administrador, é preciso avaliar a gestão, a prestação de contas
etc.
Há pessoa jurídica que possui administração coletiva, em que as decisões são tomadas pela maioria de votos dos
presentes.

Decai em 3 anos o direito de anular tais decisões quando violarem lei, estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo,
simulação ou fraude. prazo decadencial.

Excepcionalmente, caso uma decisão de uma pessoa jurídica seja simulada, ela é anulável, e não nula.

Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz pode, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe
administrador provisório

Alteração 2022 – permite assembleia virtual

5. Classificação da pessoa jurídica


i. Classificação da pessoa jurídica quanto à nacionalidade

a) Pessoa jurídica nacional - é aquela organizada conforme a lei brasileira e com sede no Brasil.

b) Pessoa jurídica estrangeira - organizada conforme a lei estrangeira e com sede no exterior

ii. Classificação da pessoa jurídica quanto à estrutura interna


a) Universitas personarum - é formada por um conjunto de pessoas, que gozam de direitos coletivamente – ex
associações

b) Universitas bonorum - é um conjunto de patrimônio personalizado, destinado a um fim que lhe dá unidade.
Exemplo: as fundações

iii. Classificação da pessoa jurídica quanto às funções e à capacidade


a) Pessoa jurídica de direito público - A pessoa jurídica de direito público se divide em:
I. pessoa jurídica de direito público interno - União, os Estados, o DF, os Municípios, os Territórios, as
autarquias, as associações públicas e as demais entidades criadas por lei.

II. pessoa jurídica de direito público externo - os Estados estrangeiros (como a Itália, a Espanha etc.), as pessoas
regidas pelo direito internacional público (como a ONU, o Mercosul etc.).

b) Pessoa jurídica de direito privado - se divide em: I. associações civis / II. Fundações particulares / III.
Sociedades/ IV. organizações religiosas /V. partidos políticos
6. Associações civis - são formadas pelo conjunto de pessoas unidas para atingir certos fins, não lucrativos.

são universitas personarum = uma universalidade de pessoas

pode desenvolver atividade de caráter econômico.

Entre associados não há direitos e obrigações recíprocos – a relação jurídica é com a pessoa jurídica da associação.

“Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:


I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005)”

Faltando qualquer dos requisitos previstos no artigo 54 do CC, haverá nulidade.


Em regra, os associados possuem iguais direitos, exceto se o estatuto indicar de forma contrária, caso em que pode
haver associados com vantagens especiais, conforme indicado pelo estatuto.

A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser de forma contrária

A exclusão de associado só é permitida havendo justa causa, reconhecida em procedimento que assegure a ampla
defesa

Nenhum associado pode ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido

O artigo 59 do CC estabelece a competência privativa da assembleia geral para destituir os administradores e alterar o
estatuto. A assembleia deve ser convocada especificamente para esse fim e o quórum estará estabelecido no estatuto.

Os critérios de eleição são definidos no próprio estatuto.


A convocação dos órgãos deliberativos é feita conforme o estatuto, tendo 1/5 dos associados o direito de convocá-
la.

“Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as
quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos
designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de
fins idênticos ou semelhantes

Cade o resto??

DOS BENS
Bem - é objeto de relação jurídica, apropriável pelo ser humano, dotado de valor patrimonial.

Coisa - no regramento dos direitos reais, é aquilo que é corpóreo, tangível e consistente. Exceção: penhor de crédito.
Bens, de forma genérica, abarcam aquilo que é corpóreo e incorpóreo.

Patrimônio - Atualmente, o patrimônio é


visto como complexo de relações jurídicas, a englobar o que é crédito e o que é débito (Clóvis Beviláqua).
● Patrimônio de afetação: não acabou com a ideia da unicidade patrimonial (o patrimônio é um só).
● Patrimônio dotado para fins de criação de fundação: destaque do patrimônio.

Diferentes classes de bens:

a) Bens considerados em si mesmos


● Bens imóveis: são aqueles que não podem ser removidos ou transportados sem que isso acarrete a sua
destruição ou alteração na sua substância
 Bens imóveis por determinação legal: direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; e o direito à sucessão
aberta (art. 80 do CC).
 Não perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local; e os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem (art.
81 do CC)

● Bens móveis: são aqueles suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia sem
alteração da substância ou da sua destinação econômico-social. Os bens móveis por natureza podem ser
classificados em semoventes (movimento próprio) e propriamente ditos (por força alheia).

○ Bens móveis por determinação legal: as energias que tenham valor econômico; direitos reais
sobre objetos móveis e as ações correspondentes; os direitos pessoais de caráter patrimonial e
respectivas ações (art. 83 do CC).

● Bens fungíveis e infungíveis: são fungíveis os bens móveis que podem se substituir por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.

Bens divisíveis e indivisíveis: a indivisibilidade pode ser (i) por natureza; (ii) por determinação legal e (iii)
por vontade das partes. Os bens naturalmente divisíveis podem se tornar indivisíveis por determinação
legal e por vontade das partes. O primeiro critério é a alteração de substância; o segundo é econômico
(depreciação do valor) e o terceiro é utilitarista.

b) Bens reciprocamente considerados


● Bem acessórios e bens principais: são principais os que independem de outros para sua existência
(existem por si só). São acessórios os bens cuja existência supõe a de um bem principal (art. 92 do CC).
● Consequências: em regra, o bem acessório segue a sorte do bem principal, de forma que se esse último
deixar de existir, o mesmo destino terá o acessório (acessorium sequitur suum principale), salvo se
pactuado de forma diversa. Princípio da gravitação jurídica - por força deste princípio, temos as seguintes
premissas:
○ bens acessórios possuem a mesma natureza dos bens principais;
○ bens acessórios acompanham o destino dos bens principais;
○ bens acessórios e bens principais pertencem ao mesmo proprietário.
● Classe dos bens acessórios:
○ Produtos: bem acessório que representa utilidade que, uma vez retirada (colhida/percebida), não
se reproduz periodicamente. Essa é a distinção com os frutos, que se reproduzem
periodicamente.
○ Frutos: podem ser naturais ou civis (ex.: juros remuneratórios, aluguéis).
○ Pertenças: bens acessórios que se destinam de modo duradouro ao uso, ao serviço ou ao
aformoseamento de outro, mas não constituem parte integrante. Os negócios que dizem respeito ao bem principal não
abrangem as pertenças, salvo se o contrário
resultar da lei, da vontade das partes ou das circunstâncias do caso.
○ Benfeitorias: necessárias, úteis e voluptuárias (art. 96 do CC).

2. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
os prazos de prescrição estão taxativamente listados na parte geral (art. 205 e 206 do CC).
Decadência os demais (todos da parte especial mais alguns da geral).

Prescrição
● O que prescreve? Pretensão - É o poder de exigir de outrem uma ação ou uma omissão.
● Solutio retentio: defesa do credor que recebeu voluntariamente prestação que estava prescrita.

Prescrição é a perda da pretensão. Nos termos do art. 189 do CC, a prescrição começa a fluir no momento em que há
violação do direito (actio nata).

2.4. Requisitos
● Violação do direito (art. 189 do CC) faz nascer a pretensão (princípio da actio nata).
● Inércia do titular.
● Decurso do tempo fixado em lei.

2.5. Prescrição intercorrente


Acontece quando o autor de processo já iniciado permanece inerte de forma continuada e ininterrupta durante lapso
temporal suficiente para a perda da pretensão
Lei 14.382/2022) diz que a prescrição intercorrente observará o mesmo prazo da prescrição da pretensão.

2.6. Pretensões imprescritíveis


Prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade é a exceção. Não prescreve:
● Pretensões que protegem direitos da personalidade.
● Pretensões que versam sobre estados de pessoa.
● Pretensões que tenham por objeto direito potestativo.
● Ações (pretensões) referentes a bens públicos.
● Pretensões referentes à proteção do direito de propriedade, que é perpétuo, por meio de ação reivindicatória.

2.7. Regime jurídico

2.8. Impedimento, suspensão e interrupção da prescrição


Art. 197 do CC - “Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.”
Art. 198 do CC - “Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.”
Art. 199 do CC - “Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.”
Art. 202 do CC - “A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma
da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do
processo para a interromper.

Direito das Obrigações

1. Conceito de obrigação

a) Conceito tradicional ou estático de obrigação - Obrigação é a relação jurídica pessoal e transitória, que confere ao
credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. enxerga apenas o dever nuclear da
obrigação, como se houvesse apenas um devedor que deve cumprir uma prestação em favor do credor.

b) Conceito moderno ou dinâmico de obrigação - Clóvis do Couto e Silva - a obrigação é vista como um processo, isto
é, uma série de atos, uma série de deveres, exigíveis do credor e do devedor para que seus interesses sejam
satisfeitos.
enxergou a estrutura e o conceito da obrigação à luz do princípio da boa-fé objetiva.
O princípio da boa-fé objetiva impõe o dever de bom comportamento aos contratantes. Em qual fase contratual?
Em todas as fases contratuais. As partes devem agir com lealdade, probidade, retidão, ética, dever de informar,
dever de segurança etc.
No conceito estático de obrigação, apenas o devedor tem deveres, e o credor tem direitos. No conceito dinâmico
de obrigação, tanto o credor quanto o devedor têm deveres. Ambos devem se preocupar com a boa execução do
negócio, a sua preservação, o dever de informação etc

A prestação é o dever jurídico nuclear, ao passo que os deveres da boa-fé objetiva são deveres anexos, satelitários,
secundários, fiduciários, deveres de confiança. São impostos a todas as partes. Os deveres anexos são impostos por lei.
Não precisa escrever no contrato que as partes devem cumprir a boa-fé objetiva. é norma de ordem pública.

O dever jurídico nuclear, a prestação, decorre da vontade das partes. Os deveres anexos decorrem da lei.
Essa distinção entre o dever jurídico nuclear e os deveres anexos fez surgir uma distinção entre a violação positiva
e a violação negativa do contrato.

i. Violação negativa do contrato - é o inadimplemento obrigacional. o devedor não cumpriu o dever jurídico nuclear.
Pode haver hipótese de inadimplemento relativo ou absoluto, por comportamento culposo ou fortuito

ii. Violação positiva do contrato - é a hipótese em que houve o cumprimento do dever jurídico nuclear com o
descumprimento de deveres anexos. a parte “cumpriu descumprindo”. Há o adimplemento do dever jurídico nuclear e o
inadimplemento de dever jurídico anexo.
Quais serão as consequências da violação positiva do contrato? Deve-se aplicar o artigo 422, que trata da boa-fé. Mas
ele não traz soluções concretas, e sim entendimentos abstratos. É uma cláusula geral, que consiste em técnica
legislativa em que o legislador propositalmente não diz o que é o instituto.
No conceito jurídico indeterminado, o legislador não define o que é o instituto, mas dispõe qual é a consequência
que se aplica em caso de descumprimento.
Na cláusula geral, o legislador não diz o que é o instituto e não diz o que ocorre em caso de sua violação. Em razão
disso, o juiz deve aplicar a melhor solução no caso concreto. Ele aplica a regra de equidade para decidir de forma
justa.
Exemplos: o juiz pode determinar que seja paga indenização, que seja feita revisão contratual, que o contrato seja
rescindido

2. Estrutura da obrigação (elementos da obrigação)


2.1. Elementos subjetivos da obrigação
são os sujeitos da obrigação.
• Sujeito ativo: é o credor da obrigação
• Sujeito passivo: é o devedor da obrigação – pode ser qualquer pessoa (capaz, incapaz, nascituros, PJ, etc).
É válida uma obrigação em que não se sabe quem é o credor ou quem é o devedor no momento da sua formação?
Há indeterminabilidade subjetiva. será válida desde que essa situação seja temporária e cesse no momento do
cumprimento da obrigação. (ex – pgto de recompensa).

2.2. Elemento objetivo


O elemento objetivo é a prestação que será cumprida pelo devedor. É o dever jurídico nuclear.
A prestação pode ser de:
i. Dar – positiva - envolvem uma ação.
ii. Fazer – positiva - envolvem uma ação.
iii. Não fazer – negativa - consiste em uma omissão

A obrigação precisa ter conteúdo econômico para que seja uma obrigação civil?
doutrina clássica – sim
doutrina mais avançada – não precisa – devolver uma carta, fazer referência bibliográfica.

2.3. Elemento imaterial/virtual/espiritual


é o vínculo formado entre as partes
a) Teoria monista ou unitária - teoria clássica, a mais antiga. há um vínculo entre credor e devedor – débito.
Débito é o dever jurídico de cumprir espontaneamente a obrigação.
responsabilidade civil é estudada como elemento da parte - existe de forma paralela à obrigação - consequência do
descumprimento.
b) Teoria dualista ou binária
reconhece dois vínculos entre credor e devedor
Débito/schuld.: é o dever jurídico de cumprir espontaneamente uma prestação (de dar, fazer ou não fazer)
Responsabilidade civil / haftung: é a consequência jurídica e patrimonial do descumprimento do débito. - é a
possibilidade de coercitivamente exigir o cumprimento da prestação devida (dar, fazer ou não fazer) e/ou a reparação
de danos.
Descumprido o schuld, surge o haftung
Qual é a relação entre a prescrição e a responsabilidade?
O poder que se tem de exigir de outrem o cumprimento de obrigação e/ou reparação de danos se chama pretensão.
A prescrição põe fim à pretensão. - Prescrição fulmina a responsabilidade civil - altera a natureza da obrigação civil, que
deixa de ser civil, e passa a ser uma obrigação natural.
A decadência põe fim ao direito potestativo.

1. Classificação das obrigações quanto à sua natureza


três tipos – civil, natural e moral.
a) Obrigação civil
A obrigação civil é aquela que gera duplo vínculo entre o credor e o devedor. Há schuld (débito) e há haftung
(responsabilidade civil).
pode ser cobrada em juízo

b) Obrigação natural
gera débito, mas não gera responsabilidade civil. Há schuld, mas não há haftung.
não pode ser cobrada em juízo.
A pessoa deve, tem obrigação de pagar – mas não pode ser cobrada em juízo.
Se o devedor pagar a obrigação prescrita, ele pode querer receber o dinheiro de volta?
Não - Quem paga espontaneamente não tem direito à repetição do indébito - fenômeno da soluti retentio (a retenção
do que foi solvido).
Não cabe ação de repetição de indébito. Indébito é aquilo que não é débito, aquilo que não é devido, e no caso aqui
tem débito.
Nenhuma dívida de jogo pode ser cobrada em juízo? Qual é a orientação do STJ sobre o tema?
STJ - se a dívida de jogo está relacionada a um jogo regulamentado por lei, pelo Estado,
ela caracteriza uma obrigação civil. Ou seja, ela pode ser cobrada em juízo.
Já o débito referente a jogo do bicho, por não ser regulamentado, não ser autorizado por lei, será considerado
obrigação natural.

c) Obrigação moral
fruto de nossa consciência - não gera débito nem responsabilidade.
A obrigação moral não tem débito. Pode-se pedir de volta o que já se pagou?
Se a obrigação moral for cumprida espontaneamente, não poderá ser cobrada de volta, pois o seu cumprimento
caracteriza um ato de liberalidade (doação).
Em regra, as doações são irrevogáveis.
Mas há duas exceções. As doações são revogáveis quando há:
i. descumprimento do encargo
ii. ingratidão

2. Classificação das obrigações de acordo com a prestação


2.1. Obrigação de dar
o devedor assume o compromisso de entregar uma coisa certa ou incerta.
A obrigação de dar transfere a propriedade da coisa? A obrigação de dar gera direito real?
Nunca!!!! – contratos são fontes de obrigações. Brasil adota a doutrina do titulo e modo - a transferência da
propriedade (ou a constituição de direitos reais) são sempre atos complexos. Isso significa que é preciso o título e o
modo.
O título é o aquisitivo (contrato de compra e venda, de permuta etc.). O título gera apenas direito obrigacional.
O modo:
i. se o bem for imóvel, é o registro no cartório de imóveis
ii. se o bem for móvel, é a tradição
2.1.1. Obrigação de dar coisa certa
o objeto está completamente individualizado, determinado.
Principais regras sobre a obrigação de dar coisa certa
a) Coisa diversa - “Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da
que lhe é devida, ainda que mais valiosa.”
E se o comprador aceitar A MAIS VALIOSA OU DE NATUREZA DISTINTA? ocorrerá a dação em pagamento

b) Princípio da gravitação jurídica/Princípio da acessoriedade - O acessório segue a sorte do bem principal (acessorium
sequitur principale). A existência do bem acessório está vinculada à do principal
A regra vale no silêncio do contrato. Ela tem aplicação supletiva.
Exceções ao princípio da gravitação jurídica:
i. Quando houver disposição em sentido contrário no contrato – obrigação contratual
ii. Pertenças - são bens acessórios que, em regra, não seguem a sorte do bem principal. Se destinam ao
aformoseamento de outro bem. Eles não constituem parte integrante do bem principal

Há exceções à exceção das pertenças (isto é, casos em que o acessório acompanhará o principal):
I. Disposição em sentido contrário - a venda na modalidade “porteira fechada”
II. Natureza do negócio – Quando a natureza do negócio dá a entender que as pertenças estão incluídas no negócio, elas
não serão excluídas

Primeiro se paga o preço ou se entrega a coisa? paga o preço - “Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não
é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. É possível convencionar em sentido contrário
c) Cômodos obrigacionais - Entre a formação do contrato e o momento do cumprimento, a coisa é transformada. gera
uma valorização.
O melhoramento é um cômodo qualitativo.
O acréscimo é um cômodo quantitativo.
O devedor da coisa poderá exigir do credor a complementação do preço, em atenção ao princípio da equivalência das
prestações.
E se o credor não quiser pagar? O credor não pode ser constrangido/executado para pagar a diferença. As partes
retornarão ao status quo ante.
Para que haja um cômodo obrigacional, é preciso que a coisa tenha se transformado. Não há simples valorização ou
desvalorização do preço de mercado da coisa, ou alta ou baixa do dólar. A coisa mudou.

d) Responsabilidade pela perda da coisa


significar tanto a destruição total da coisa ou o desaparecimento da coisa

Perda fortuita antes da tradição ou pendente uma condição suspensiva


o devedor não teve culpa
Antes da tradição ou pendente uma condição suspensiva, o bem ainda pertence ao devedor.
obrigação será considerada extinta e o devedor não terá o dever de reparar danos, não tem responsabilidade civil
res perit domino. A coisa perece para o dono
as partes retornam ao status quo ante.

Perda culposa antes da tradição ou pendente uma condição suspensiva


Considera-se a culpa lato sensu - abrange negligência, imprudência, imperícia ou dolo.
o devedor indenizará o credor pelo equivalente + as perdas e danos.
Equivalente é o valor atual do bem. É quanto a coisa valia naquele momento.

e) Responsabilidade pela deterioração da coisa - destruição parcial da coisa. Não há perda total.
i. Deterioração fortuita - o devedor não teve culpa pela deterioração da coisa.
o credor pode escolher:
1. Receber a coisa (com direito a abatimento proporcional no preço)
2. Resolver a obrigação (sem direito a indenização por perdas e danos)

O credor não é obrigado a receber uma coisa deteriorada.


Uma vez que a perda é fortuita, e não culposa, o credor não tem direito a receber indenização por perdas e danos.

ii. Deterioração culposa -


o credor pode escolher:
1. Receber a coisa (com direito a abatimento proporcional no preço e indenização por perdas e danos)
2. Resolver a obrigação (exigindo o equivalente mais indenização por perdas e danos)
Perdas e danos incluem danos materiais, morais e estéticos. Atualmente a compreensão de perdas e danos é ampla. Os
danos devem ter sido efetivamente sofridos para que sejam indenizados.

2.1.2. Obrigação de restituir coisa certa


CONCEITO É aquela em que o devedor assume o compromisso de devolver coisa que não lhe pertence. são contratos
em que há a transferência da posse da coisa, mas não da propriedade. Ao final do contrato, a pessoa tem o dever de
devolver a coisa para o credor, que é o proprietário.
é uma subespécie da obrigação de dar coisa certa – REGRAS DA obrigação de dar coisa certa são aplicadas
subsidiariamente, salvo as disposições em sentido contrário.
Principais regras da obrigação de restituir coisa certa
a) Cômodos obrigacionais - são os acréscimos qualitativos ou quantitativos sobre a coisa. A coisa melhorou ou
aumentou.
Se o acréscimo ocorreu sem despesa ou trabalho do devedor - ele não terá direito a indenização pelo cômodo
obrigacional.
Se o acréscimo ocorreu com despesa ou trabalho do devedor, o Código Civil determina que sejam observadas as regras
referentes a indenização por benfeitorias
Se o devedor agiu de má-fé: só tem direito a indenização pelas benfeitorias necessárias, sem direito de retenção
Se o devedor agiu de boa-fé: tem direito a indenização e retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis, e a
levantamento das benfeitorias voluptuárias A benfeitoria necessária visa à preservação da coisa. A benfeitoria útil gera
um aumento no uso da coisa.
b) Responsabilidade pela perda da coisa - Para verificar de quem é a responsabilidade, deve ser observado se o
comportamento do devedor foi culposo ou se houve perda fortuita.
i. Perda fortuita – não houve culpa- não há indenização – res perit dominus.
se estiver diante de um contrato oneroso, o credor poderá cobrar o valor proporcional ao uso da coisa até o momento
da perda.
Se for um empréstimo gratuito não deve pagar nada. Se for um comodato, o devedor nada pagará. O comodato é
gratuito.
ii. Perda culposa - o credor poderá cobrar o equivalente mais a indenização por perdas e danos.
c) Responsabilidade pela deterioração da coisa
Há destruição parcial da coisa. Deve-se observar se ela foi fortuita ou culposa.
i. Deterioração fortuita - o credor receberá a coisa de volta no estado em que se encontrar. Ele não tem outra opção. Ele
também não tem direito a indenização porque não houve culpa.
O credor não pode recusar o recebimento da coisa.
ii. Deterioração culposa - o credor só teria direito ao equivalente e a indenização por perdas e danos
Mas, de acordo com a doutrina, se a deterioração for culposa, o credor pode escolher:
1. Ser indenizado pelo equivalente mais as perdas e danos (isso está na lei)
2. Receber a coisa com direito a indenização pelas perdas e danos (isso não está na lei, mas é dito pela doutrina porque
é algo óbvio)

2.1.3. Obrigação de dar coisa incerta


Conceito - É aquela em que o objeto é determinável, ainda será individualizado, em um momento posterior à celebração
do contrato.
autores afirmam que a obrigação de dar coisa incerta é aquela que tem a indicação do gênero e da quantidade, e falta a
qualidade. Mas esse é apenas um exemplo de obrigação de dar coisa incerta, e não esgota o seu significado.
É possível ter uma obrigação em que há indicação de gênero, qualidade e quantidade, e a coisa ainda será tratada como
coisa incerta. Exemplo: alguém está devendo um automóvel da melhor qualidade.
O que define a obrigação de dar coisa incerta é a necessidade de escolha, de individualização - Para que o objeto seja
determinável, há indicação de, no mínimo, gênero e quantidade. Pode faltar a indicação da qualidade – SOB PENA DE
NULIDADE.
“Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.”
Se há obrigação de dar coisa incerta e uma coisa é roubada, a obrigação não é extinta e o devedor tem responsabilidade
civil.
Principais regras da obrigação de dar coisa incerta
a) Concentração - é a escolha, a individualização do objeto. No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor.
A escolha está vinculada ao princípio do meio-termo ou da qualidade média - o devedor está proibido de entregar o
objeto da pior qualidade, mas não está obrigado a entregar o objeto da melhor qualidade.
E se a escolha competir ao credor? há entendimento doutrinário (Simão) no sentido de que não se aplica o princípio do
meio-termo ou da qualidade média. Por sua vez, Flávio Tartuce entende que deve ser aplicado o princípio.
O Professor entende que é justo que, se o princípio limita a escolha do devedor por força de lei, ele também limite a
escolha do credor. Assim, o credor ficaria proibido de escolher o objeto da melhor qualidade, mas não estaria obrigado
a receber o da pior qualidade.
b) Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa incerta
De acordo com a doutrina, há as obrigações em que há um gênero limitado e as obrigações em que há um gênero
ilimitado.
Exemplos de obrigação de dar coisa incerta de gênero ilimitado: entregar um automóvel. Há muitos automóveis no
mundo. Entregar uma garrafa de vinho.
Quando o gênero for ilimitado, aplica-se a regra genus nunquam perit (o gênero nunca perece). Isso significa que o
devedor não poderá alegar a perda ou deterioração da coisa antes da concentração para se furtar do cumprimento da
obrigação. Nem mesmo a existência de caso fortuito ou de força maior afastam a obrigação.
quando há escolha ou concentração (pelo devedor ou pelo credor) e ela não é contestada pela outra parte, há uma
transformação PARA obrigação de dar coisa certa
A obrigação de dar coisa incerta é transitória.
Só há concentração quando ela é comunicada e aceita. Se a outra parte não reclama, ela está de acordo com a
concentração. VIROU obrigação de entregar coisa certa.
Se o gênero da coisa for limitado, há uma obrigação quase genérica.
• Obrigação genérica é a obrigação de dar coisa incerta.
• Obrigação quase genérica é o meio termo, no qual há dificuldade de se dizer se a coisa é certa ou incerta.
Exemplo de obrigação quase genérica: o devedor se compromete a entregar “um dos seus automóveis” ou “um vinho
da sua adega”.
Se houver a perda de um objeto, a obrigação não será extinta, devendo ser cumprida. Exemplo: se um carro foi
roubado, entrega-se o outro.
Se houver a perda de todos os objetos, o que acontece? Exemplo: todos os carros são roubados, ou todos os vinhos são
furtados. Nesse caso, a obrigação será extinta
É preciso avaliar se houve culpa do devedor.
Se a perda de todo o gênero ocorreu com culpa do devedor, ele responderá pelas perdas e danos. - Exemplos: o
devedor ateou fogo em todos os seus carros, ou deu uma festa na qual serviu todos os seus vinhos.
Se a perda de todo o gênero ocorreu sem culpa do devedor, não há responsabilidade civil.
Se o devedor agiu com culpa e deve indenizar o credor, qual é o valor dos danos? Deve-se usar um valor mediano dos
bens (nem o valor do melhor carro, nem o valor do pior carro), conforme construção doutrinária. Essa norma não consta
do Código Civil.

2.2. Obrigação de fazer


é uma obrigação positiva - caracteriza uma ação
conceito - é aquela em que o devedor assume o compromisso de desenvolver uma atividade física ou intelectual,
fungível ou infungível, que não seja a entrega de um objeto. É um conceito por exclusão.
Exemplo: André contratou o famoso artista Pierre para pintar um retrato seu. Pierre deveria pintar o quadro e entregar
até um determinado dia. Pierre não entregou o retrato na data. Há obrigação de dar ou de fazer?
Há as duas. Por mais que na origem, no contrato, houvesse 2 obrigações, de fazer e de dar, é possível que sejam
aplicadas apenas as regras sobre a obrigação de dar, se o quadro foi pintado e não foi entregue.

2.2.1. Obrigação de fazer fungível / IMPESSOAL


Fungível é substituível.
Obrigação de fazer fungível ou impessoal é aquela que outra pessoa pode realizar no lugar do devedor. Pode ser um
terceiro, e às vezes até mesmo o credor
Há 2 contratos que geram dúvidas o contrato de empreitada e o contrato de prestação de serviços.
A obrigação de fazer fungível está presente no contrato de empreitada ou no contrato de prestação de serviços? Qual
deles é fungível e qual é infungível?
O contrato de empreitada é em regra fungível. Excepcionalmente, pode ser infungível. Salvo disposição em contrário, o
empreiteiro pode subempreitar.
O contrato de prestação de serviços é em regra infungível. Excepcionalmente, pode ser fungível.

2.2.2. Obrigação de fazer infungível / PESSOAL


CONCEITO - é aquela insubstituível. Também é chamada de obrigação personalíssima, intuitu personae ou pessoal.
contratada em atenção a determinadas qualidades, características, atributos do devedor.
consequências da morte - No contrato personalíssimo, a morte de qualquer das partes provoca a extinção do contrato,
que tem um nome especial: cessação do contrato.
O que é a cessação do contrato? É a extinção do contrato pela morte. Os herdeiros devem cumprir o contrato nos
limites da força da herança, mas podem optar por cumprir o contrato, se for interessante para eles.
Atenção: na obrigação personalíssima, o credor não pode ser forçado a aceitar o cumprimento da obrigação por terceiro
Se o credor aceitar o cumprimento da obrigação por terceiro, depois não poderá cobrar abatimento proporcional no
preço. Por quê? Porque a obrigação infungível foi convertida em obrigação fungível.
Por que ela se converteu? Porque o credor aceitou que terceiro cumprisse a obrigação.
Há alguma exceção? Sim. Se em razão de uma situação de urgência ou emergência o credor foi forçado a aceitar o
cumprimento da prestação por terceiro, depois poderá reclamar indenização/ abatimento proporcional no preço.

Responsabilidade civil pelo descumprimento da obrigação de fazer fungível ou infungível


Se o inadimplemento for fortuito (sem culpa) a obrigação será extinta. Não há responsabilidade civil.
Se o inadimplemento for culposo, a obrigação será extinta. Há responsabilidade civil - dever de indenizar perdas e
danos.
Em ambos os casos a obrigação é extinta. Não há como fazer a banda certa cantar na festa do casamento se ela não está
lá.
2.3. Obrigação de não fazer
é a única espécie de obrigação negativa - consiste em uma omissão
conceito - é aquela em que o devedor assume um compromisso de se abster da prática de determinado ato.
pode ter origem legal ou contratual. O mais comum é a obrigação legal, quando há interpretação a contrário sensu do
artigo 186 do Código Civil, segundo a qual não se deve causar dano a outrem (neminem laedere).
Descumprimento da obrigação de não fazer
Se não há cláusulas contratuais sobre as consequências do descumprimento da obrigação de não fazer, como se resolve
a questão?
A doutrina fala em obrigação de não fazer transeunte e obrigação de não fazer permanente.
Obrigação de não fazer transeunte é aquela que é instantânea. é irreversível. Ela não deixa um resultado concreto que
possa ser desfeito.
qual é a consequência? Se o devedor agiu sem culpa, não há indenização. Se o devedor agiu com culpa, o credor tem
direito a indenização.
Obrigação de não fazer permanente é aquela é reversível. Ela pode ser desfeita. Se o devedor agiu sem culpa, o credor
não pode forçar o desfazimento. (Isso não é pacífico, mas polêmico. E não está no Código Civil, sendo uma construção
doutrinária.)
Se o devedor agiu com culpa, o credor pode forçar o desfazimento e obter indenização por perdas e danos
“Permanente” diz respeito ao fato de que o resultado se prolonga no tempo (não é passageiro, transeunte) e pode ser
desfeito.
“Permanente” não significa que a coisa não pode ser desfeita. Pelo contrário, a obrigação de não fazer permanente
pode ser desfeita, ao passo que a obrigação de não fazer transeunte não pode ser desfeita.

3. Classificação da obrigação de acordo com os seus elementos


A obrigação tem:
i. Elementos subjetivos, que são os sujeitos da obrigação, credor e devedor
ii. Elementos objetivos, que correspondem ao conteúdo, à prestação
iii. Elemento imaterial
Quando se classifica a obrigação segundo esses elementos, como elas se chamam?
a) Obrigação simples/mínima - é aquela que apresenta todos os seus elementos no singular. Um credor, um devedor,
uma prestação.
b) Obrigação plural/composta/complexa - apresenta um ou alguns de seus elementos no plural.
A obrigação plural pode ter todos os elementos no plural. Pode haver pluralidade de credores, de devedores e de
prestações.
Exemplo: André deve entregar a João um automóvel e uma moto.
Embora haja apenas um credor e um devedor, há duas prestações.
Outro exemplo: André celebrou um contrato de compra e venda com João. André é o comprador e João é o vendedor.
Pelo contrato de compra e venda, André deve pagar R$ 50 mil a João e João deve entregar um automóvel a André. Esse
exemplo é de obrigação simples ou complexa?
A imensa maioria dos alunos afirma que é uma obrigação complexa, o que está errado. É uma obrigação simples.
No exemplo anterior, vimos apenas um corte do contrato, e não o contrato completo.
O exemplo mostra um contrato bilateral, também chamado de sinalagmático, que gera obrigações para ambos os
contratantes.
Há uma relação jurídica complexa, mas não uma obrigação complexa. Há pluralidade de obrigações, mas não dos
elementos da obrigação.
Na obrigação complexa há pluralidade de elementos da obrigação. Na relação jurídica complexa há pluralidade de
obrigações.
A obrigação no exemplo dado, de compra e venda do carro, é uma obrigação simples.
Só é possível analisar se a obrigação é simples ou complexa se separarmos as duas obrigações:
1. André deve entregar a João R$ 50 mil – há um credor, um devedor, uma prestação: a obrigação é simples
2. João deve entregar a André um carro –há um credor, um devedor, uma prestação: a obrigação é simples
Trata-se de uma relação jurídica complexa formada por duas obrigações simples.

4. Obrigações plurais/complexas/compostas objetivas


Conceito - são aquelas nas quais há uma pluralidade de prestações.
Exemplo: André deve entregar a João mais de uma prestação.
Há três tipos de obrigações plurais objetivas:
4.1. Obrigação cumulativa/conjuntiva – x e y
Conceito - é aquela em que ambas as prestações são devidas e ambas devem ser cumpridas. Há o termo aditivo “e”.
Exemplo: André deve entregar o automóvel e a moto para João.
Se o devedor deseja entregar apenas uma das prestações, o credor é obrigado a recebê-la? O credor não pode ser
forçado a receber apenas uma das prestações. O adimplemento parcial pode ser considerado por ele como
inadimplemento total.
O credor pode aceitar o adimplemento parcial se quiser. Mas ele não pode ser forçado a aceitar.
A obrigação cumulativa é invenção da doutrina.

4.2. Obrigação alternativa/disjuntiva – x ou y


Conceito - é aquela em que ambas as prestações são devidas, mas apenas uma delas deverá ser cumprida. Há o termo
alternativo “ou”.
Exemplo: André deve entregar um automóvel ou uma moto a João.
O perigo é confundir a obrigação alternativa com a obrigação facultativa.
A obrigação alternativa é a única prevista no CC
É perigoso achar que na obrigação alternativa apenas uma prestação é devida. Ambas as prestações são devidas.
O “ser devido” é uma característica que surge na formação do negócio jurídico e diz respeito ao plano da existência. O
“mas apenas uma prestação deve ser cumprida” é referente à execução do contrato e diz respeito ao plano da eficácia,
conforme ensina Pontes de Miranda.
Se apenas uma prestação será cumprida, há um problema. Quem escolhe qual prestação será cumprida?
É preciso que seja feita a concentração. Não é a mesma escolha que ocorre na obrigação de dar coisa incerta, mas há
concentração na obrigação alternativa também. A escolha cabe ao devedor.
Concentração
No silêncio do negócio jurídico, a escolha competirá ao devedor.
“Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.”
Uma vez realizada a concentração (a escolha), a obrigação plural se transforma e passa a ser uma obrigação simples.
A concentração é um ato irrevogável e muda a natureza da obrigação. Realizada a concentração, a obrigação plural se
transforma em uma obrigação simples.
Na obrigação de dar coisa incerta, quando realizada a escolha, se ela não for contestada, a obrigação se transforma em
obrigação de dar coisa certa.
A concentração transforma a obrigação. A escolha na obrigação de dar coisa incerta transforma a obrigação em
obrigação de dar coisa certa. A escolha na obrigação alternativa transforma a obrigação em simples.
Após a concentração, não há mais obrigação alternativa, e são seguidas as regras da obrigação simples.
A concentração (escolha) pode ser:
i. Escolha in solutione - A escolha in solutione é feita pelo devedor, que é quem solve. Solver é pagar. é a regra.
Se o devedor falecer antes de realizar a concentração, ela passará aos seus herdeiros.
Se o devedor não realizar a escolha dentro do prazo (pode ser o prazo previsto no contrato, previsto na lei, determinado
pelo juiz), a escolha passa a ser do credor. Deixa de ser uma escolha in solutione e passa a ser uma escolha in petitione.
ii. Escolha in petitione - é aquela realizada pelo credor, que é quem pede, quem cobra. é uma exceção.
Se a escolha competir ao credor e ele falecer antes da concentração, a escolha será realizada pelos seus herdeiros.
Se o credor não realizar a escolha no prazo (prazo previsto no contrato, previsto na lei ou determinado pelo juiz), a
escolha passa a ser do devedor.
Mas a escolha não vai e volta várias vezes entre credor e devedor. Se isso acontece, ninguém está interessado em
cumprir a obrigação ou em cobrá-la. A inversão pode ser feita apenas uma vez, do credor para o devedor, ou do
devedor para o credor.
Principais regras da obrigação alternativa
Fracionamento do pagamento - Em regra, o devedor não pode forçar o credor a receber parte de uma prestação e parte
da outra prestação.
Há duas exceções:
i. o credor pode aceitar o fracionamento do pagamento, recebendo 0,5kg de arroz e 0,5kg de feijão
ii. quando houver prestações periódicas: é a hipótese em que o devedor deve cumprir a obrigação alternativa a cada
período de tempo. A cada período de tempo pode ser escolhida uma nova prestação
Exemplo: o devedor deve entregar a prestação de arroz ou feijão mensalmente. A cada mês ele pode escolher entregar
uma prestação. Em um mês ele pode escolher entregar arroz e no mês seguinte ele pode escolher entregar feijão.
Alguns autores chamam isso de balanceamento da concentração.
“§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.”
b) Princípio do meio-termo/da qualidade média - Em regra, o princípio do meio-termo ou da qualidade média não é
aplicável às obrigações alternativas.
Assim, o devedor pode entregar tanto o Fusca, quanto o Jetta, quanto a Ferrari. Essa escolha na obrigação alternativa é
livre.
Excepcionalmente, haverá incidência do princípio do meio-termo ou da qualidade média caso o conteúdo da obrigação
alternativa revele obrigação de dar coisa incerta. No fundo, o princípio do meio-termo não se aplica às obrigações
alternativas, mas sim às obrigações de dar coisa incerta. O princípio só incide quando se mistura as duas classificações
distintas.

4.3. Obrigação facultativa/de faculdade alternativa


• Obrigação cumulativa: André tem que entregar a João a caneta e o copo de água
• Obrigação alternativa: André tem que entregar a João a caneta ou o copo de água
Na obrigação alternativa, não há diferença entre a caneta e o copo de água, porque ambos são devidos.
• Obrigação facultativa: André tem que entregar a João um copo de água, mas reservou-se o direito de entregar uma
caneta
Na obrigação facultativa, a caneta é uma carta na manga do devedor, que ele pode usar para entregar ao invés do copo
de água.
Obrigação facultativa é a aquela em que apenas uma das prestações é devida. A outra prestação é facultativa e não
pode ser exigida pelo credor.
A principal diferença entre a obrigação alternativa e a obrigação facultativa é que, na obrigação alternativa, o devedor
está obrigado a entregar uma das coisas, e se uma delas é roubada, o credor pode cobrar a outra. Se é roubada a
caneta, o credor pode cobrar o copo de água. Se é roubado o copo de água, o credor pode cobrar a caneta.
Na obrigação facultativa, a única obrigação que pode ser cobrada é a devida. Se a caneta foi roubada, o credor pode
cobrar o copo de água. Mas se o copo de água foi roubado, a caneta não pode ser exigida, porque ela é uma carta na
manga do devedor. Ela é uma faculdade.
A obrigação alternativa não faz distinção jurídica entre as prestações. A obrigação facultativa distingue entre as
prestações.
A Professora Giselda Hironaka defende que a obrigação facultativa, na verdade, é uma obrigação simples, porque
apenas uma das prestações é devida. A outra é uma faculdade, e não um dever jurídico.
• Entregar o copo d’água: a entrega é devida – é um dever jurídico
• Entregar o copo de água: a entrega é uma faculdade – há um direito

5. Obrigações plurais/complexas/compostas subjetivas

conceito - é aquela que tem pluralidade de prestações, como estudamos (obrigação cumulativa, alternativa e
facultativa).
Obrigação plural subjetiva é aquela que tem pluralidade de sujeitos. Pode ser pluralidade dos sujeitos ativos (credores)
ou passivos (devedores).
Exemplo: A é credor de B e C pela quantia de R$ 100 mil. A ajuíza ação contra C. Quanto ele pode cobrar de C?
A pode cobrar apenas R$ 50 mil de C, porque o enunciado não afirmou que os devedores são solidários. B e C são
codevedores, mas não se disse que há solidariedade legal ou contratual.
Acreditar que há solidariedade nas obrigações é sempre a confusão feita pelos alunos, quando há pluralidade de
credores ou de devedores. A regra é que não haja solidariedade.
5.1. Obrigação não solidária
A obrigação não solidária é a regra porque a solidariedade nunca se presume. A solidariedade resulta da lei ou da
vontade das partes.
A solidariedade não resulta da determinação do juiz (embora muitos juízes criem solidariedade de forma indevida). O
juiz só deve reconhecer a solidariedade quando ela estiver prevista na lei ou no contrato. Ela nunca será presumida.
Se não há nenhum elemento que indica que a solidariedade está presente, presume-se que não há solidariedade.
Quando a obrigação é não solidária, deve ser observado se a prestação é divisível ou não.
a) Prestação divisível
Se a prestação é divisível, aplica-se a regra concursu partes fiunt: a prestação deverá ser dividida de acordo com a
quantidade de credores e/ou de devedores.
Cada credor/devedor poderá cobrar/ser cobrado apenas da sua quota-parte.

b) Prestação indivisível
A prestação indivisível não pode ser fracionada.
Tipos de indivisibilidade
Há três tipos de indivisibilidade:
i. Indivisibilidade natural
Na indivisibilidade natural, a coisa não pode ser fracionada, para não perder consideravelmente o seu valor, não perder
a sua utilidade ou não alterar a sua substância.
“Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão,
por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.”
ii. Indivisibilidade convencional
A indivisibilidade convencional pode ser convencionada em contrato de compra e venda, em uma doação etc. Pode-se
instituir cláusula de indivisibilidade sobre a herança em um testamento, por exemplo. O pai afirma que a fazenda será
de ambos os filhos e a grava com cláusula de indivisibilidade. Há o limite temporal de 5 anos.
Quando os irmãos convencionam entre si, podem renovar a indivisibilidade sucessivas vezes.
Quando o doador doou algo, o donatário pode renovar a indivisibilidade. O herdeiro também pode renovar a
indivisibilidade.
iii. Indivisibilidade legal
A indivisibilidade legal é aquela imposta por lei.
Exemplo: há uma fração mínima em cada cidade sobre o que pode ser um lote urbano. Cada cidade tem sua lei.
Se não tiver lei, aplica-se a metragem mínima de 125m2 segundo a Lei do Parcelamento do Solo Urbano
“Art. 4º Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:(...)
II - os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5 (cinco) metros,
salvo quando o loteamento se destinar a urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse
social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes”
Também há uma metragem mínima na área rural, determinada por padrões estabelecidos pelo INCRA. Outro exemplo
de indivisibilidade legal: as servidões (o direito real de fruição sobre coisa alheia) são inalienáveis por força de lei.
“Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e subsistem, no caso de divisão dos imóveis, em benefício de cada
uma das porções do prédio dominante, e continuam a gravar cada uma das do prédio serviente, salvo se, por natureza,
ou destino, só se aplicarem a certa parte de um ou de outro.”
A obrigação indivisível mais cobrada em provas é aquela decorrente da indivisibilidade natural.
Como se dá a solução da obrigação se a prestação for indivisível?
Cada credor/devedor poderá cobrar/ser cobrado da totalidade da prestação.
Exemplo de pluralidade de devedores: A é credor de B e de C por um touro reprodutor. A ajuíza ação contra C.
Quanto A pode cobrar? A totalidade. Não se pode matar o touro reprodutor para entregá-lo.
O devedor que for obrigado a cumprir sozinho a prestação terá direito de regresso em face dos demais devedores.
Assim, C tem direito de regresso em face de B.
Se o touro custou R$ 1 milhão para C, C pode cobrar de B o valor de R$ 500 mil.
Se o touro já era de B e de C e já estava na fazenda de C, e C o entregou para A, C arcou sozinho com a obrigação?
Não. Tanto B quanto C cumpriram a obrigação, porque o touro era da propriedade de ambos. Nesse caso, não há direito
de regresso.
Outro exemplo: se A é credor de B e C por dois touros, a prestação é divisível, embora os bens sejam indivisíveis (porque
se dividir o touro ele irá morrer, e não terá mais valor). Nesse caso, A pode cobrar de C um touro, e de B um touro.
Exemplo de pluralidade de credores: X e Y são os credores de Z por um touro. Y ajuíza ação contra Z. Quanto Y pode
cobrar? A totalidade. Pode cobrar um touro. Assim, Y tem a obrigação de indenizar X.
No exemplo inverso, em que há pluralidade de credores, se apenas um dos credores receber a totalidade da prestação,
ele depois deverá indenizar os demais credores proporcionalmente. Se o touro valia R$ 1 milhão, Y deve indenizar X em
R$ 500 mil.

Perda da prestação indivisível


Perda fortuita - a obrigação é extinta. Se havia a obrigação de dar coisa certa e a coisa foi perdida fortuitamente, não há
o dever de indenizar, mas de devolver o valor adiantado, segundo a regra res perit domino.

Perda culposa - a obrigação é convertida em perdas e danos.

Quando a obrigação é convertida em perdas e danos, ela sofre uma mutação: ela era uma obrigação indivisível e passa a
ser uma obrigação divisível.

5.2. Obrigação solidária


A obrigação solidária é sempre a exceção.
A obrigação solidária decorre:

i. Da vontade das partes - Quando a solidariedade decorrer da vontade das partes, o enunciado da questão de prova
afirma expressamente que os credores ou os devedores são solidários.

ii. Da lei - A lei estabelece a solidariedade em determinados contratos. Exs


• entre locadores totalidade do débito de C.
• entre locatários
• entre fiadores- Há solidariedade legal entre fiadores (e não entre fiadores e locatários). O fiador é o responsável
subsidiário pelo aluguel, com relação ao locatário.

O fiador é responsável solidário juntamente com os demais fiadores.


*Cuidado: entre locatários e fiadores a responsabilidade é subsidiária, como regra.
A responsabilidade é subsidiária, e não “responsabilidade não solidária”. Estamos estudando a obrigação solidária e a
obrigação não solidária.
Obrigação não é o mesmo que responsabilidade.
• O oposto da obrigação solidária é a obrigação não solidária
• O oposto de responsabilidade solidária não é “responsabilidade não solidária”, mas responsabilidade subsidiária
O descumprimento de uma obrigação solidária conduz à responsabilidade solidária? Sim, porque a responsabilidade é
um elemento da obrigação.
Mas o fiador é um exemplo de pessoa que não tem débito (schuld), e tem apenas responsabilidade (haftung).
Fiadores não têm obrigação civil. Apenas os locatários têm obrigação civil. O locatário tem o débito e a
responsabilidade.
Nos contratos de locação, na praxe de mercado, é comum colocar o fiador como principal devedor do contrato, para
estabelecer a sua responsabilidade solidária com o locatário.
A princípio, segundo a lei, em primeiro lugar são cobrados os locatários, e em segundo lugar são cobrados os fiadores,
que são responsáveis subsidiários.
É preciso cobrar em primeiro lugar todos os locatários, e não somente alguns deles. Apenas depois disso é possível
cobrar os fiadores. Os fiadores têm benefício de ordem.
Isso não é bom para o credor, motivo pelo qual a prática de mercado é incluir os fiadores como devedores solidários.
Quando o fiador assume responsabilidade solidária, ele continua a ser apenas fiador. Ele continua a ter apenas
responsabilidade, e não débito, mas ele tem responsabilidade sem benefício de ordem.

5.2.1. Obrigação solidária ativa


Obrigação solidária ativa é aquela que ocorre entre credores.
Na obrigação solidária ativa, qualquer um dos credores pode cobrar sozinho a totalidade da prestação.
Perda culposa da prestação e conversão em perdas e danos. Há uma questão que é muito cobrada em concursos
públicos: o que acontece se a coisa se perder (exemplo, o touro morreu de fome, de forma culposa) e a obrigação se
converter em perdas e danos?
Como estudamos, na obrigação não solidária indivisível, há uma mutação da obrigação, que deixa de ser indivisível,
passa a ser divisível, e o credor pode cobrar apenas a sua quota-parte.
Na obrigação solidária ativa, em caso de perda culposa da prestação e sua conversão em perdas e danos, a obrigação
solidária não terá sua natureza alterada. Ela era uma obrigação solidária e continua a ser solidária.
Qualquer um dos credores ainda pode cobrar sozinho a totalidade da prestação.
Exemplo: A e B são credores solidários de C por um touro reprodutor. B pode cobrar a totalidade da prestação de C.
Após a celebração do contrato, antes da entrega do touro reprodutor, o touro morreu de fome, por culpa do devedor. A
prestação foi convertida em perdas e danos, no valor de R$ 1 milhão. B continua podendo cobrar a totalidade da
prestação de C, no valor de R$ 1 milhão.
Se B receber a prestação sozinho, ele tem o dever de indenizar o credor A. A tem direito de regresso com relação a B.
Essa indenização e esse direito de regresso existem tanto na obrigação não solidária indivisível como na obrigação
solidária ativa. Aquele que recebeu a mais tem sempre o dever de indenizar proporcionalmente os demais credores. Ele
deve repassar o que excede a sua quota-parte.
Da mesma forma, quando há pluralidade de devedores, tanto na obrigação não solidária indivisível quanto na obrigação
solidária passiva, aquele que arcar sozinho com o pagamento da prestação para o credor tem direito de regresso contra
os demais.
Assim, o direito de indenizar, por parte dos devedores, e o direito de regresso, por parte dos credores, independe de
solidariedade.

5.2.2. Obrigação solidária passiva


Obrigação solidária passiva é aquela que ocorre entre devedores.
Na obrigação solidária passiva, qualquer um dos devedores pode ser cobrado sozinho da totalidade da prestação.
“Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida
comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos
devedores.”
Importa se a prestação é divisível ou indivisível?
Não. Isso vale tanto para a obrigação solidária ativa quanto passiva.
Exemplo: A é credor de B, C e D, que são devedores solidários pela dívida de R$ 90 mil. A ajuíza ação contra D.
Quanto A pode cobrar? A totalidade do débito, de R$ 90 mil.
Prestações em quantia são sempre obrigações divisíveis.
Há uma pegadinha nessa matéria. Se houver uma alternativa de prova que afirma “Nas obrigações solidárias, em
qualquer hipótese, é irrelevante o fato de a prestação ser divisível ou indivisível”, essa alternativa está certa ou errada?
Errada.
Essa regra é quase absoluta, tanto na solidariedade ativa quanto na solidariedade passiva. Mas há uma exceção.
A irrelevância da divisibilidade ou indivisibilidade da prestação é a regra nas obrigações solidárias, tanto ativas quanto
passivas. A exceção ocorre em caso de morte. Pode ser tanto a morte do credor solidário quanto a morte do devedor
solidário.
Exemplo: A é credor de B, C e D, que são devedores solidários pela quantia de R$ 900 mil. D morre e deixa como filhos
D1 e D2. D1 e D2 podem ser cobrados pela dívida de R$ 900 mil?
Não. Eles só vão responder pela quota-parte dentro das forças da herança.
B e C continuam a ser solidários entre si, ao passo que D1 e D2 não são devedores solidários.
E se a prestação for indivisível?
Exemplo: a prestação é um touro reprodutor. Nesse caso, D1 e D2 podem ser cobrados da totalidade da prestação,
dentro das forças da herança.
Por que eles podem ser cobrados da totalidade se não são devedores solidários?
Porque a prestação é indivisível.
“Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a
quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.”
Se a prestação for indivisível, eles só podem ser cobrados de sua quota-parte dentro das forças da herança.
O que ocorre se há solidariedade ativa?
A mesma coisa. Exemplo de solidariedade ativa e prestação divisível: B, C e D são credores solidários de A pela quantia
de R$ 900 mil. O credor D morre e deixa os filhos D1 e D2. O que D1 e D2 podem cobrar de A? A sua quota-parte, de R$
300 mil.
Exemplo de solidariedade ativa e prestação indivisível: B, C e D são credores solidários de A por um touro reprodutor. O
credor D morre e deixa os filhos D1 e D2. O que D1 e D2 podem cobrar de A? Podem cobrar o touro reprodutor, porque
a prestação é indivisível.
“Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a
quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.”
Há autores que afirmam que nas obrigações solidárias nunca importa se a prestação é divisível ou indivisível, porque se
alguém morreu, a obrigação só deixou de ser solidária para seus herdeiros (e não para as partes do negócio jurídico). Há
certa lógica nisso.
Mas para fins de concursos públicos é melhor pensar que, em regra, a divisibilidade ou a indivisibilidade da prestação é
irrelevante nas obrigações solidárias. Como exceção, em caso de morte de credor ou devedor solidário, é preciso
observar se a prestação é divisível ou indivisível.

Transmissão das obrigações


Cessão de crédito
1. Conceito
Cessão de crédito é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa transfere a totalidade ou parte de um crédito a outra
pessoa, independentemente do consentimento do devedor.
A cessão de crédito tem natureza contratual e é um negócio jurídico bilateral celebrado entre o cedente e o cessionário,
a título gratuito ou oneroso.
A cessão de crédito tem natureza jurídica de contrato e todo contrato é um negócio jurídico.
A cessão de crédito pode ser feita a título gratuito ou oneroso
A cessão de crédito onerosa é semelhante à compra e venda. A cessão de crédito gratuita é semelhante à doação. Mas
não são a mesma coisa.
Qual é a diferença entre alienação, disposição, cessão, compra e venda e doação?

A disposição é o gênero. As espécies de disposição são:


i. alienação - é a disposição de coisa corpórea. Assim, compra e venda e doação são exemplos de alienação. São
disposições de coisas corpóreas, que podem ser tocadas. pode ser gratuita ou onerosa. A compra e venda é onerosa. A
doação é gratuita.
ii. Cessão - é mais apropriada à disposição de coisa incorpórea. O herdeiro cede direitos hereditários, e não os vende. O
autor cede direitos autorais. O jogador de futebol faz uma cessão de uso de sua imagem para uma propaganda.

Faz-se cessão de crédito. Alguém toca no crédito? Não. Toca-se no dinheiro, mas não no crédito. Crédito e débito são
direitos e deveres, que têm existência abstrata, são intangíveis, são incorpóreos.

Quem são as partes da cessão de crédito?


i. Credor originário
ii. Devedor
iii. Novo credor (para quem o credor originário cede o crédito)

Quem é o cedente, o cessionário e o cedido?


i. Cedente: é o credor originário
ii. Cedido: é o devedor
iii. Cessionário: é o novo credor

A cessão de crédito é um negócio bilateral, e não trilateral.


O cedido é parte da cessão de crédito? Não. Por isso escrevemos no conceito de cessão de crédito que o negócio é
realizado independentemente do consentimento do devedor.
Mas o cedido não deve pagar para o cessionário? Sim, mas o cedido não participa do contrato de cessão de crédito, que
é celebrado apenas entre cedente e cessionário.
Se as partes quiserem, o devedor pode fazer parte do contrato de cessão de crédito, o que é comum. Mas isso
não é necessário.
2. Espécies de cessão de crédito
Quais são as espécies de cessão de crédito?
a) Cessão de crédito convencional
A cessão de crédito convencional decorre de um contrato entre as partes. Ela decorre da manifestação de
vontade dos contratantes.
A cessão de crédito convencional é regulamentada pelo Código Civil, nos artigos 286 a 298.
b) Cessão de crédito legal
A cessão de crédito legal é aquela imposta por força de lei. As partes não precisam manifestar a sua vontade.
O principal é o capital, o crédito. Os acessórios são os juros, a multa, a correção monetária. Exemplo: quando A cede um
crédito para B, B passa a ser credor não apenas do crédito, mas também de juros, multa, correção monetária. B substitui
A na titularidade do crédito em todos os seus consectários.

c) Cessão de crédito judicial - é aquela determinada por decisão judicial.


Exemplo: A cobra uma dívida de B no valor de R$ 10 mil. A descobre que B tem um crédito a receber, de uma
empresa. Os juízes geralmente determinam a penhora do crédito. O dinheiro é depositado em juízo e o débito é
quitado. Entretanto, há situações em que o pagamento não é imediato, mas ocorrerá apenas depois, ou de forma
parcelada. Nesses casos, o juiz determina a cessão do crédito. Pode ser uma cessão de crédito parcial, no valor
suficiente para quitar o débito.

3. Validade da cessão de crédito - vamos analisar a validade do negócio jurídico, dentro da teoria de Pontes de
Miranda.
Quais são os requisitos para a validade da cessão de crédito?
3.1.Sujeitos da cessão de crédito - são o cedente e o cessionário. Eles devem ter plena capacidade civil.
Se um deles for incapaz, é possível que seja representado ou assistido. Mas em algumas situações a representação e a
assistência não bastam, e o Código Civil pode exigir a autorização judicial para a cessão de crédito.
A legitimidade pode ser positiva, quando autoriza a prática do ato, desde que cumprido o requisito.
A legitimidade pode ser negativa, quando proíbe a prática do ato.
Na legitimidade negativa, a cessão do crédito é proibida. O ato é proibido.
Exemplo de legitimidade negativa: o cedente não pode ser um tutelado se o cessionário, que recebe o crédito, é o seu
tutor. Nem mesmo com autorização judicial. A cessão de crédito do tutelado para o tutor e do curatelado para o
curador é um negócio jurídico nulo. Da mesma forma, o testamenteiro não pode receber um crédito que ele mesmo
está administrando. Os administradores da falência não podem ceder crédito para si próprios.
Em toda legitimidade negativa há um conflito de interesses. Há uma situação grave que viola a ordem pública e ofende a
moralidade.

3.2.Objeto da cessão de crédito


Em regra, todo e qualquer crédito pode ser objeto de cessão. Pode ser cedida a totalidade ou parte de um crédito. Pode
ser cedido um crédito atual ou futuro. Pode ser cedido um crédito consensual (ou pacífico) ou litigioso. Até mesmo a
cessão de crédito de precatório é possível

Exceções - Quando o crédito não pode ser objeto de cessão?


a) Quando houver proibição na lei - Exemplo: um crédito já penhorado, de forma que perdeu o poder de disposição
da coisa, o crédito relativo a herança de pessoa viva. É proibida a pacta corvina
b) Quando a natureza da obrigação não admite a cessão - Exemplo: obrigações personalíssimas/intuitu personae, o
crédito trabalhista, o crédito alimentar.
A princípio não se pode ceder crédito trabalhista e alimentar, mas há exceções.
É possível ceder um crédito vencido? Sim. Não se pode ceder o crédito que vencerá no futuro.

3.3. Forma da cessão de crédito


A princípio não há nenhuma solenidade na cessão de crédito. Basta simples manifestação de vontade.
A cessão de crédito é um negócio jurídico não solene e também é informal. A princípio não se exige forma escrita ou
escritura pública.
Exceções
a) A solenidade será exigida quando a escritura pública for um requisito de validade do contrato-base
Exemplo: o contrato de compra e venda de um imóvel cujo valor ultrapassava 30 salários-mínimos. Ele foi feito
mediante escritura pública. Acertou-se que a propriedade seria transferida e que seria pago o preço de R$ 300 mil
em 10 parcelas de R$ 30 mil. O comprador pagou 5 das 10 parcelas. O vendedor quer ceder o crédito oriundo do
contrato-base, referente às outras 5 parcelas. Como o contrato-base exigia a escritura pública como requisito de
validade, a cessão de crédito também deve ser feita por escritura pública

b) Cessão de crédito hereditário - Exemplo: alguém tem um crédito a receber em uma herança
Toda cessão de crédito hereditário exige escritura pública

4. Eficácia da cessão de crédito


O que a cessão de crédito precisa ter para que produza os efeitos desejados? Pode-se separar a eficácia em eficácia
perante o cedido e eficácia perante o cedente.

4.1. Eficácia perante o cedido - O cedido é o devedor, que não é parte da cessão de crédito. Embora o consentimento
do cedido não seja um requisito de validade da cessão de crédito, o cedido deverá ser notificado, judicialmente ou
extrajudicialmente, para que tenha conhecimento, ciência do negócio.
No Código Civil de 1916, o legislador tratava a notificação do cedido como um requisito de validade da cessão de
crédito.
No Código Civil de 2002, o legislador trata a notificação do cedido como um requisito de eficácia da cessão de
crédito.

Para que é feita a notificação?


O devedor deve ser notificado por duas razões:
i. Para pagar a pessoa correta
O devedor irá pagar ao cessionário, e não ao cedente.
ii. Para que possa opor exceções
Que tipo de exceção o cedido pode opor ao cessionário?
a) O cedido pode opor as exceções pessoais que ele tem contra o próprio cessionário
b) O cedido pode opor as exceções pessoais que ele tinha contra o cedente no momento em que teve ciência da cessão
Exemplo: o devedor é notificado da cessão de crédito, que foi feita pelo credor originário André para o novo credor
João. O devedor pode alegar que João deve dinheiro para ele, e pode haver uma compensação total ou parcial de
créditos.
A exceção de compensação é uma das mais conhecidas.

Além da exceção de compensação, pode haver também exceção de pagamento.


Exemplo: o devedor é notificado da cessão de crédito, que foi feita pelo credor originário André para o novo credor
João. O devedor informa a João que André o enganou, porque o crédito já foi quitado e não existe mais
Exceção é o mesmo que defesa.
Qual é o prazo legal para que o cedido avise o cessionário sobre a exceção?
Não há. A lei não estabelece prazo para que o cedido (o devedor) oponha a sua exceção ao cessionário (o novo credor).
E se o devedor esperar a dívida vencer e deixar muito tempo passar, antes de avisar ao cessionário que a dívida já havia
sido paga ao cedente?
A despeito de não haver prazo legal, de acordo com a doutrina, o cedido deve apresentar a exceção imediatamente
após ter ciência da cessão do crédito, sob pena de não poder fazê-lo posteriormente. Se ele não se defender
imediatamente, haverá violação do princípio da boa-fé objetiva. Ocorre o fenômeno da supressio, que é a perda de um
direito pelo seu não exercício no tempo. Não é legítimo nem ético exercer o direito posteriormente.
Pode haver exceção de compensação, de pagamento, de prescrição, de invalidade etc. O cedido deve avisar a exceção
ao cessionário imediatamente ao ser notificado sobre a cessão do crédito.
Na prática, o que se faz para ter maior segurança jurídica é inserir o cedido como parte anuente no negócio jurídico de
cessão de crédito. Assim, ele não pode apresentar defesa posteriormente, porque concordou com a cessão do crédito.

4.2. Eficácia perante terceiros - cessão de crédito produzir efeitos erga omnes.
A cessão de crédito será protegida de eventuais credores do cedente e do cessionário.
Se a cessão de crédito é feita antes que o cedente deva para outras pessoas, não há fraude contra credores.
Pode-se colocar qualquer data em um instrumento de cessão de crédito. André pode fingir que cedeu um crédito para
Bruno antes que devesse para os seus credores. Como se prova quando o crédito foi cedido?
Embora a cessão de crédito não seja solene, para que haja a oponibilidade erga omnes, é preciso que haja uma
formalidade, uma solenidade.

Para que a cessão de crédito produza efeitos perante terceiros, ela deverá ser celebrada por meio de escritura pública, o
que é feito em um tabelionato de notas, ou por instrumento particular com as solenidades do artigo 654, § 1º do Código
Civil. A solenidade é o registro do documento no Cartório de Registro de Títulos e Documentos.

Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento
público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1º do art. 654.

A publicidade do registro ou da escritura pública garantirá a autenticidade de data, isto é, a certeza quanto ao momento
em que a cessão de crédito foi realizada.

Isso tem efeitos sobre quem? Sobre os credores pretéritos? Nunca.


A certeza da data protegerá o negócio jurídico (a cessão de crédito) do interesse de credores futuros. Em outras
palavras, os credores futuros não conseguirão penhorar o crédito. Por outro lado, ela não protegerá o negócio
jurídico do interesse de credores pretéritos, credores preexistentes. Em outras palavras, a celebração da cessão
de crédito será considerada fraude contra credores (desde que pretéritos) ou, eventualmente, fraude à execução,
a depender das circunstâncias.
5. Classificação da cessão de crédito quanto à onerosidade
A cessão de crédito pode ser gratuita ou onerosa.
5.1. Cessão de crédito onerosa
Cessão de crédito onerosa é aquela que equivale a uma compra e venda, isto é, o cessionário remunerará o cedente
pelo crédito.

Exemplo de cessão de crédito onerosa: no contrato de factoring, o comerciante troca cheques por capital, dependendo
do risco assumido. Hoje isso é mais incomum porque o cheque está caindo em desuso.
Atualmente é mais comum a cessão de crédito onerosa do cartão de crédito. O comerciante realiza vendas no cartão de
crédito para os seus clientes. Ele cede o seu crédito a um terceiro para receber, antes do prazo, um valor um pouco
menor.
Na cessão onerosa, o cedente tem responsabilidade pela existência do crédito ao tempo em que o cedeu. Ele não
tem responsabilidade pela solvência do devedor (o cedido). Essa é a regra. As partes podem dispor de forma diversa.
O crédito deve existir no momento da cessão de crédito. É algo lógico.
Mas a existência do crédito não se confunde com a solvência do devedor.
Se o cessionário cobra o crédito, mas o devedor não paga, nesse caso, o crédito existe, mas não há solvência.
Se as partes quiserem, elas podem convencionar que o cedente responde pela solvência do cedido.
Se o cedente se responsabiliza pela solvência, ele vende os créditos mais caro. Se o cedente não se responsabiliza pela
solvência, ele vende os créditos mais barato.

5.2.Cessão de crédito gratuita


A cessão de crédito gratuita equivale a uma doação. Não há remuneração. É uma ação benévola.
Nesse caso, qual é a responsabilidade do cedente?
Quando ele “vende” o crédito, ele responde pela existência do crédito, e não pela solvência.
Quando ele “doa” o crédito, qual é a responsabilidade dele?
A responsabilidade deve ser menor na cessão de crédito gratuita do que na cessão de crédito onerosa.
Na cessão de crédito gratuita, o cedente não tem responsabilidade pela existência nem pela solvência do crédito.
Essa é a regra. As partes podem dispor em sentido contrário.

Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.
Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele
recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito
com a cobrança.

6. Classificação da cessão de crédito quanto à responsabilidade do cedente


6.1. Cessão pro soluto ou in veritas nominis
Cessão de crédito pro soluto é aquela em que o cedente não tem responsabilidade pelo cumprimento da obrigação, isto
é, pela solvência do devedor.
Tanto na cessão de crédito gratuita quanto na onerosa, em regra, o cedente não responde pela solvência do devedor.
Assim, a regra é a cessão de crédito pro soluto. Quando o cedente cede o crédito para o cessionário, sua obrigação já foi
cumprida.
No silêncio do contrato, a cessão de crédito (tanto a gratuita quanto a onerosa) presume-se pro soluto.

6.2. Cessão pro solvendo ou in bonitas nominis


Cessão de crédito pro solvendo é aquela em que o cedente assume expressamente a responsabilidade pelo pagamento
da dívida, pela solvência do débito.
Isso ocorre em caráter excepcional e depende de disposição expressa pactuada pelas partes.

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