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DA PESSOA JURÍDICA

Conceito de pessoa jurídica e suas classificações

As pessoas jurídicas, denominadas pessoas coletivas, morais, fictícias ou abstratas,


podem ser conceituadas, em regra, como conjuntos de pessoas ou de bens
arrecadados, que adquirem personalidade jurídica própria por uma ficção legal.

A pessoa jurídica não se confunde com seus membros, sendo essa regra inerente à
própria concepção da pessoa jurídica.

O Código Civil de 2002 adotou a teoria da realidade técnica.

Essa teoria constitui uma somatória entre as outras duas teorias da existência da
pessoa jurídica:

* a teoria da ficção – de Savigny

*e a teoria da realidade orgânica ou objetiva – de Gierke e Zitelmann.

Para a primeira teoria, as pessoas jurídicas são criadas por uma ficção legal, não se
pode esquecer que a pessoa jurídica tem identidade organizacional própria,
identidade essa que deve ser preservada (teoria da realidade orgânica).

Teoria da Ficção + Teoria da Realidade Orgânica = Teoria da realidade técnica.

Não se pode negar que a pessoa jurídica possui vários direitos, tais como alguns
relacionados com a personalidade (art. 52 do CC), com o direito das coisas (a pessoa
jurídica pode ser proprietária ou possuidora), direitos obrigacionais gerais (tendo a
liberdade plena de contratar como regra geral), direitos industriais quanto às marcas e
aos nomes (art. 5.º, inc. XXIX, da CF/1988), e mesmo direitos sucessórios (a pessoa
jurídica pode adquirir bens mortis causa, por sucessão testamentária).
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A respeito dos direitos da personalidade da pessoa jurídica,


reconhecidos por equiparação, admite-se a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer
dano moral, na esteira da Súmula 227 do STJ.

O dano moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva (reputação social), mas
nunca a sua honra subjetiva, eis que a pessoa jurídica não tem autoestima.

“A pessoa jurídica tem existência distinta dos seus membros”.

Tal regra pode ser afastada, nos casos de desvio de finalidade ou abuso da
personalidade jurídica, situações em que se aplica o art. 50 do CC, que trata da
desconsideração da personalidade jurídica.

*** art. 49-A Código Civil pela Lei 13.874/2019 (Lei da Liberdade Econômica),

“Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores.

Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento


lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de
estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em
benefício de todos”.

Classificações da pessoa jurídica:


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a) Quanto à nacionalidade

• Pessoa jurídica nacional – é a organizada conforme a lei brasileira e que tem no


Brasil a sua sede principal e os seus órgãos de administração.

• Pessoa jurídica estrangeira – é aquela


formada em outro país, e que não poderá
funcionar no Brasil sem autorização do
Poder Executivo, interessando também ao
Direito Internacional.

b) Quanto à estrutura interna

• Corporação – é o conjunto de pessoas


que atua com fins e objetivos próprios.
São corporações as sociedades, as
associações, os partidos políticos e as
entidades religiosas.

• Fundação – é o conjunto de bens


arrecadados com finalidade e interesse
social.

c) Quanto às funções e capacidade

• Pessoa jurídica de direito público – é o


conjunto de pessoas ou bens que visa
atender a interesses públicos, sejam
internos ou externos.
De acordo com o art. 41 do CC/2002 são pessoas jurídicas de direito público interno a
União, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios,
os Municípios, as autarquias, as
associações públicas e as demais entidades
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de caráter público em geral.

As pessoas jurídicas de direito público


externo são os Estados estrangeiros e
todas as pessoas regidas pelo direito
internacional público (art. 42 do CC). As
demais são pessoas jurídicas de direito
público interno.

• Pessoa jurídica de direito privado


éa
pessoa jurídica instituída pela vontade de
particulares, visando a atender os seus
interesses.
Pelo que consta do art. 44 do
CC, inclusive pela nova redação dada
pelas Leis 10.825/2003 e 12.441/2011,
dividem-se em:
fundações,
associações,
sociedades (simples ou empresárias),
partidos políticos, entidades religiosas e empresas individuais de responsabilidade
limitada.

Da pessoa jurídica de direito privado.

“Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I – as associações;
II – as sociedades;
III – as fundações;
IV – as organizações religiosas; (Incluído pela Lei 10.825, de
22.12.2003.)
V – os partidos políticos; (Incluído pela Lei 10.825, de
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22.12.2003.)
VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada (Incluído pela Lei 12.441,
de 11.07.2011.)
1.º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-
lhes reconhecimento ou registro dos atos
constitutivos e necessários ao seu funcionamento.
2.º As disposições concernentes às associações aplicam-se
subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste
Código.
3.º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei
específica.

Não se confunde com a dos entes ou grupos despersonalizados. Esses são meros
conjuntos de pessoas e de bens que não
possuem personalidade própria ou distinta, não constituindo pessoas jurídicas, a
saber:

a) Família – pode ter origem no casamento, união


estável, entidade monoparental, nos termos do art. 226 da
CF/1988; ou mesmo outra origem, já que o rol previsto
na Constituição é exemplificativo (numerus apertus). A
família, base da sociedade, é mero conjunto de pessoas
não possuindo sequer legitimidade ativa ou passiva, no
campo processual.

b) Espólio – é o conjunto de bens formado com a morte


de alguém, em decorrência da aplicação do princípio saisine (art. 1.784 do CC). Possui
legitimidade, devendo
ser representado pelo inventariante. Entretanto, não deve
ser considerado uma pessoa jurídica.
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c) Herança jacente e vacante – nos termos dos arts. 1.819


a 1.823 do CC/2002, não deixando a pessoa sucessores,
os seus bens devem ser destinados ao Poder Público,
sendo certo que a massa formada pela morte do de cujus
em casos tais também não pode ser tida como pessoa
jurídica.

d) Massa falida – é o conjunto de bens formado com a


decretação de falência de uma pessoa jurídica. Não
constitui pessoa jurídica, mas mera arrecadação de coisas
e direitos.

e) Sociedade de fato – são os grupos despersonalizados


presentes nos casos envolvendo empresas que não
possuem sequer constituição (estatuto ou contrato social),
bem como a união de pessoas impedidas de casar, nos
casos de concubinato, nos termos do art. 1.727 do CC.

f) Sociedade irregular – é o ente despersonalizado


constituído por empresas que possuem estatuto ou
contrato social que não foi registrado, caso, por exemplo,
de uma sociedade anônima não registrada na Junta
Comercial estadual. É denominada pelo Código Civil
“sociedade em comum”. Enuncia o art. 986 do CC que
“Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a
sociedade, exceto por ações em organização, pelo
disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e
no que com ele forem compatíveis, as normas da
sociedade simples”.

g) Condomínio – é o conjunto de bens em copropriedade,


com tratamento específico no livro que trata do Direito
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das Coisas. Para muitos doutrinadores, constitui uma


pessoa jurídica o condomínio edilício, o que justifica a
sua inscrição no CNPJ (Cadastro Nacional das Pessoas
Jurídicas).

Das associações

Conforme dispõe o art. 53 do CC/2002, inovação em total sintonia com o princípio da


simplicidade “constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem
para fins não econômicos”.
As associações, pela previsão legal, são conjuntos de pessoas, com fins
determinados, que não sejam lucrativos. Assim deve ser entendida a expressão “fins
não econômicos”.
Não há, entre associados, direitos e obrigações recíprocos, eis que não há intuito de
lucro (art. 53, parágrafo único, do CC). Todavia, podem existir direitos e deveres entre
associados e associações, como o dever dos primeiros de pagar uma contribuição
mensal.
Como exemplos de associações podem ser citados os clubes de esportes e
recreação, típicos das cidades do interior do Brasil.

Das fundações particulares

Conforme aponta Maria Helena Diniz, o termo fundação é originário do latim fundatio,
ação ou efeito de fundar, de criar, de fazer surgir.
As fundações, assim, são bens arrecadados e personificados, em atenção a um
determinado fim, que por uma ficção legal lhe dá unidade parcial.
Nos termos do art. 62 do CC/2002, as fundações são criadas a partir de escritura
pública ou testamento.
Para a sua criação, pressupõem-se a existência dos seguintes elementos:
a) afetação de bens livres;
b) especificação dos fins;
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c) previsão do modo de administrá-las;


d) elaboração de estatutos com base em seus objetivos e submetidos à apreciação
do Ministério Público que os fiscalizará; único dos requisitos que não é obrigatório,
mas facultativo, no ato de instituição.
Sendo insuficientes os bens para a constituição de uma fundação, serão esses
incorporados por outra fundação, que desempenha atividade semelhante, salvo
previsão em contrário pelo seu instituidor (art. 63 do CC).

As fundações surgem com o registro de seus estatutos no Registro Civil de Pessoas


Jurídicas.

Como é notório, as fundações devem ter fins nobres, distantes dos fins de lucro
próprios das sociedades.

“a fundação somente poderá constituir-se para fins de:


I –assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e
artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional;

VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do


desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, desenvolvimento de
tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e
divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII –promoção da
ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; IX –
atividades religiosas.

O art. 64 do Código Civil “constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o
instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens
dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial”.
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Esse mandado judicial deve ser postulado pelo Ministério Público, a quem incumbe
zelar pelas fundações.
Pelo seu interesse social, há necessidade de os administradores prestarem contas ao
Ministério Público.
Nas fundações não existem sócios propriamente ditos, pois o conjunto é de bens e
não de pessoas.

Das sociedades

Foi exposto que a finalidade lucrativa é o que distingue uma associação de uma
sociedade, constituindo ambas as espécies de corporação (conjunto de pessoas).
Nesse sentido, as sociedades se dividem em:

a) Sociedades empresárias – são as que visam a uma finalidade lucrativa, mediante


exercício de atividade empresária.
Esse conceito está adaptado ao que
consta no art. 982 do CC, sendo certo que não se
pode mais utilizar a expressão atividade mercantil,
superada pela evolução da matéria. Como exemplo,
pode ser citada qualquer sociedade que tem objetivo
comercial ou, ainda, que traz como conteúdo o
próprio conceito de empresário (art. 966 do CC –
“Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços”). O Código Civil anterior denominava tais
sociedades como sociedades comerciais ou
mercantis.

b) Sociedades simples – são as que visam, também,


a um fim econômico (lucro), mediante exercício de
atividade não empresária. São as antigas sociedades
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civis. Como exemplos, podem ser citados os grandes


escritórios de advocacia, as sociedades imobiliárias
e as cooperativas.

As sociedades, sejam elas simples ou empresárias, de acordo com o


Código Civil de 2002, podem assumir a forma de sociedade em nome
coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade em conta de
participação ou sociedade por quotas de responsabilidade limitada; a última
inclusive na modalidade unipessoal, conforme o novo art. 1.052, § 1º,
introduzido pela Lei 13.874/2019. As sociedades anônimas, por outro lado,
somente podem se enquadrar como sociedades empresárias.

Das corporações especiais. Partidos políticos e organizações religiosas

Do domicílio da pessoa jurídica de direito privado

A pessoa jurídica, assim como a pessoa natural, também tem domicílio, que é a sua
sede jurídica, local em que responderá pelos direitos e deveres assumidos.

Pela regra legal, a União deverá promover as ações na capital do Estado ou Território
em que tiver domicílio a outra parte e será demandada, à escolha do autor, no Distrito
Federal, na capital do Estado em que ocorreu o ato que deu origem à demanda, ou em
que se situe o bem envolvido com a lide.

Os domicílios dos Estados e Territórios são as respectivas capitais. Os Municípios


têm domicílio no lugar onde funciona a sua administração.

Já a pessoa jurídica de direito privado tem domicílio no lugar onde funcionam as


respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial nos
seus estatutos.
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Admite-se a pluralidade de domicílios dessas pessoas jurídicas, assim como ocorre


com a pessoa natural, conforme o capítulo anteriormente estudado. Isso será possível
desde que a pessoa jurídica de direito privado, como no caso de uma empresa, tenha
diversos estabelecimentos, como as agências ou escritórios de representação ou
administração (art. 75, § 1.º, do CC).
A encerrar, “se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por
domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das
suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder” (art.
75, § 2.º, do CC).

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