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ANOTAÇÕES DE AULA 7 DIREITO CIVIL I

PROF. MARCO CRUZ

ESTA AULA:
- PESSOA JURÍDICA - CC, art. 40 a 69

Código Civil - Parte Geral - Livro I - Título II - Capítulo III: DAS PESSOAS JURÍDICAS

PESSOA JURÍDICA
1. CONCEITO
“É a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios que visa à
consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como
sujeito de direitos e obrigações” (Maria Helena Diniz).

2. NATUREZA JURÍDICA
a) Teoria da ficção:
I. Legal (Savigny): conclui que a pessoa jurídica é uma ficção legal,
isto é, uma criação artificial da lei para exercer direitos
patrimoniais e facilitar a função de certas entidades, uma vez que
só o homem é capaz de ser sujeito de direito.

II. Doutrinária (Vareilles-Sommières): afirma que a pessoa jurídica


apenas tem a existência na inteligência dos juristas, apresentando-
se como mera ficção criada pela doutrina.

- Crítica – esta teoria não pode ser aceita porque se o Estado é uma
pessoa jurídica, dizer que ele é ficção é o mesmo que afirmar que o
direito que dele emana também o é.

b) Teoria da realidade objetiva ou orgânica:


Admite ao lado da pessoa natural, que é organismo físico,
organismos sociais constituídos pelas pessoas jurídicas, que tenham
existência própria distinta da de seus membros, tendo por objetivo
realizar um fim social (Gierke e Zitelmann).
- Crítica – a pessoa jurídica não tem vontade própria; o fenômeno
volitivo é peculiar ao ser humano, daí ser inaceitável esta teoria.

c) Teoria da realidade das instituições jurídicas:


Afirma que, como a personalidade humana deriva do direito, da
mesma forma este pode concedê-la a agrupamentos de pessoas ou
de bens. A personalidade jurídica é um atributo que a ordem
jurídica outorga a entes que o merecerem (Hauriou).
- Adotada pelo Código Civil

3. CLASSIFICAÇÃO
a) Quanto à nacionalidade:
Nacionais.
Estrangeiras.

b) Quanto à estrutura interna:


Corporação (associação, sociedade simples e sociedade
empresária).
Fundação.

c) Quanto à função e capacidade (CC, art. 40):


- Pessoa jurídica de direito público:
Externo:
Nações estrangeiras.
Santa Sé.
Organismos internacionais
Interno: art. 41, CC
Administração direta: União, Estados, DF
e Municípios.
Administração indireta: Autarquias,
associações públicas e demais entidades de caráter público
criadas por lei.
- Pessoas jurídicas de direito privado:
+Fundações particulares (universalidade de bens personalizados
pela ordem jurídica, em consideração a um fim estipulado pelo
fundador: CC, art. 63).
+Associações (grupos de pessoas que colimam um fim não
econômico).
+Sociedade simples (grupos de pessoas que visam a fins
econômicos ou lucrativos, que devem ser repartidos entre os sócios,
alcançados pelo exercício de certas profissões ou pela prestação de
serviços técnicos).
+Sociedade empresária (grupo de pessoas que visa ao lucro
mediante exercício de atividade econômica organizada para a
produção ou circulação de bens ou serviços, própria de empresário).
+Organizações religiosas.
+Partidos políticos (CF/88, art. 17, I a IV, §§ 1º a 4º; Lei n.
9.096/95).
+Empresas individuais de responsabilidade limitada.
4. COMEÇO DA EXISTÊNCIA LEGAL DA PESSOA JURÍDICA
a) Pessoa jurídica de direito público: Tem seu início com fatos
históricos, criação constitucional, lei especial e tratados
internacionais.
b) Pessoa jurídica de direito privado
1a fase: a do ato constitutivo, que é unilateral inter vivos ou
causa mortis nas fundações, e bilateral ou plurilateral inter vivos
nas associações e sociedades. Nesta fase, temos elementos: a)
material, ou seja, atos de associação, fins a que se propõe e
conjunto de bens, e b) formal, deve ser por escrito, podendo ser
público ou particular, com exceção das fundações que estão sujeitas
ao requisito formal específico: instrumento público ou testamento
(CC, art. 62). Casos há em que se requer autorização
governamental (CC, arts. 45, 1.123 a 1.125, 1.134 e 1.135; LINDB,
art. 11, §1º; Dec. –lei n. 2.063/40; Dec. –lei n. 73/66, art. 74; Lei n.
4.728/65, arts. 7º e 8º; Resolução n. 39/66; Lei n. 6.385/76).
2a fase: a do Registro Público (CC, arts. 45, 46, 984, 985, 998,
1.134 e 1.150; Lei n. 6.015/73, arts. 114 a 121). Quanto às
fundações deve haver intervenção do Ministério Público (CC, arts.
62 a 69; CPC, arts. 764 e 765), para que se proceda ao Registro.
Quanto às sociedades não personificadas: CC, arts. 986 a 990,
1.132 e 1.136; CPC, art. 75, IX.

5. CAPACIDADE
a) Direitos subjetivos: Direitos da personalidade (CC, art. 52),
patrimoniais ou reais, industriais, obrigacionais e à sucessão.
b) Limitações
- Em razão da natureza: Falta-lhe titularidade ao direito da família,
parentesco e não pode praticar diretamente os atos da vida
jurídica, necessitando de um representante legal (CC, art. 49;
CPC, art. 75, I, II e III).
- Decorrentes de lei: CF, arts. 190, 176 § 1º, e 222.

6. RESPONSABILIDADE [CIVIL]
a) Responsabilidade contratual ou negocial: [CONTRATO] a
pessoa jurídica do direito público e privado, no que se refere à
realização de um negócio jurídico dentro do poder autorizado pela
lei ou pelo estatuto, deliberado pelo órgão competente, é
responsável, devendo cumprir o disposto no contrato, respondendo
com seus bens pelo inadimplemento contratual (CC, art. 389).
Terá responsabilidade objetiva por fato e por vício do produto e do
serviço (Lei n. 8.078/90, arts. 12 a 25 - CDC).
b) Responsabilidade extracontratual ou extranegocial: [LEI] As
pessoas jurídicas de direito privado respondem pelos atos ilícitos
praticados por seus representantes, desde que haja culpa in eligendo
ou in vigilando (CC, arts. 931, 932, III, 993, 186 e 927). As
pessoas jurídicas de direito público, pela teoria do risco integral,
devem indenizar todos os danos que seus funcionários, nessa
qualidade, por atos comissivos, causem aos direitos de particulares,
tendo ação regressiva contra eles, nos casos de culpa e dolo, daí ser
objetiva sua responsabilidade (CC, art. 43; CF, art. 37, § 6º).

c) Responsabilidade delitual: As pessoas jurídicas de direito público


e privado podem ter imputabilidade criminal, estando sujeitas à
responsabilidade penal (Lei n. 9.605/98, art. 3º), e podem exercer
ações penais (CPP, art. 37). A responsabilidade penal é de seu
representante, p. ex., arts. 61 a 80 da Lei n. 8.078/90.

7. DOMICÍLIO
a) Conceito: “Sede jurídica da pessoa jurídica, onde os credores
podem demandar o cumprimento das obrigações”. (DINIZ)
É o local de suas atividades habituais, de seu governo,
administração, ou direção, ou, ainda, o determinado no ato
constitutivo.

b) Pessoa jurídica de direito público interno: CC, art. 75, I, II, III;
CPC, arts. 51 e 52; CF, art. 109, §§ 1º a 4º.

c) Pessoa jurídica de direito privado: CC, art. 75, IV, §§ 1º e 2º;


CPC, art. 21, I, parágrafo único.
- Admite-se pluralidade de domicílios

8. FIM DA PESSOA JURÍDICA


a) Pessoa jurídica de direito público: Termina pela ocorrência de
fato histórico, por norma constitucional, lei especial ou tratados
internacionais.

b) Pessoa jurídica de direito privado:


I. Dissolução (CC, arts. 51, § 1º, 54, VI, 1.033, 1.125, 1.034 e
1.028, II):
- Pelo decurso do prazo de sua duração;
- Pela dissolução deliberada entre os membros, salvo direito da
minoria e de terceiro;
- Por deliberação dos sócios, por maioria absoluta na sociedade de
prazo indeterminado;
- Pela falta de pluralidade de sócios, se a sociedade simples não for
reconstituída no prazo de 180 dias (ação de dissolução parcial de
sociedade);
- Por determinação legal (CC, art. 1.033);
- Por ato governamental;
- Pela dissolução judicial;
- Por morte de sócio, se os sócios remanescentes assim
deliberarem.
II. Liquidação (CC, arts. 51, §§ 2º e 3º, 61, § 2º, e 69).

9. GRUPOS DESPERSONALIZADOS
a) Conceito: “conjunto de direitos e obrigações, pessoas e bens, sem
personalidade jurídica e com capacidade processual, mediante
representação” (DINIZ).

b) Casos:
- Família (CF, art. 226 – numerus apertus);
- Sociedades não personificadas – sem registro (CPC, art. 75, IX;
CC, arts. 986 a 990);
- Massa falida – decretação de falência (CPC, art. 75, V);
- Herança jacente ou vacante – herança sem sucessores (CC, arts.
1.819 a 1.823; CPC, art. 75, VI);
- Espólio – bens formados com a morte de alguém (CPC, art. 75,
VII);
- Condomínio (CC, arts. 1.314 e s.; Lei n. 4.591/64 com
regulamentação do Decreto Federal n. 55.815/65, arts. 1.331, §§
1º, 2º e 5º, 1.332, 1.347, 1.348, I a IX, 28, parágrafo único, e 63, §
3º; CPC, art. 75, XI) em que há uma semelhança com a fundação
que se expressa no documento constitutivo, na incorporação ou na
convenção inicial, tendo existência permanente; daí ser uma nova
figura de pessoa jurídica, não se enquadrando, como querem
alguns autores, entre o grupo dos despersonalizados (questão
controvertida)

10. DESPERSONALIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA


A teoria da desconsideração ou penetração, em voga
na Europa, permite que o juiz não mais considere os efeitos da
personificação ou da autonomia jurídica da sociedade, para atingir e
vincular a responsabilidade dos sócios, com o intuito de impedir a
consumação de fraudes e abusos de direito cometidos por meio da
personalidade jurídica, que causem prejuízos ou danos a terceiros. No
Brasil, ante os art. 50 do CC e art. 28 da Lei n.8.078/90 (CDC),
atualmente, está a desconsideração permitida.
 Teoria da desconsideração da personalidade jurídica, teoria
do levantamento do véu ou teoria da penetração na pessoa
física – em regra, a responsabilidade jurídica dos sócios é
subsidiária, ou seja, o patrimônio da pessoa jurídica responde
primeiro e depois o patrimônio dos sócios, se for o caso e se o
tipo societário permitir. Se houver abuso de personalidade jurídica
(atuarem além do permitido de forma delituosa, lesando a
outrem), “levanta-se o véu” de proteção da pessoa jurídica e os
sócios são responsabilizados diretamente. Pode ocorrer também o
inverso, os bens da empresa respondendo pelas dívidas dos sócios
(desconsideração invertida ou inversa)

“[...] não deve ser levada em conta a personalidade técnica, não deve ser
tomada em consideração sua existência, decidindo o julgador como se o ato ou
negócio houvesse sido praticado pela pessoa natural (ou outra pessoa jurídica).
Na realidade, nessas hipóteses, a pessoa natural procura um escudo de
legitimidade na realidade técnica da pessoa jurídica, mas o ato é fraudulento e
ilegítimo. Imputa-se responsabilidade aos sócios e membros integrantes da
pessoa jurídica que procuram burlar a lei ou lesar terceiros. Não se trata de
considerar sistematicamente nula a pessoa jurídica, mas, em caso específico e
determinado, não a levar em consideração. Tal não implica, como regra geral,
negar validade à existência da pessoa jurídica [...]” (SILVIO VENOSA)

- Origem – Inglaterra, 1897. Caso Irmãos Solomon; Caso States vs.


Standard Oil Co. (EUA - 1892)
- Influenciada pela Teoria da Aparência e Vedação ao Abuso de
Direito – Direito Empresarial
- Teoria Maior – juiz ignora a autonomia patrimonial das pessoas
jurídicas, a fim de coibir fraudes e abusos praticados através dela
(art. 50, CC)
- Teoria Menor – basta o prejuízo ao credor (art. 28, CDC)
- Desconsideração (art. 50, CC) X Despersonificação (art. 51,
CC) – na desconsideração, há ampliação de responsabilidades,
atingindo a figura dos sócios, quando se utilizarem da pessoa
jurídica para praticar fraudes e lesar terceiros; na
despersonificação, há a extinção da pessoa jurídica, com a
apuração do ativo e passivo (créditos e débitos), subsiste até que
seja finalizada a liquidação (pagamentos).

11. JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


“Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. Shopping Center de
Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério Público.
Legitimidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor.
Limite de responsabilização dos sócios. Código de Defesa do Consumidor. Requisitos.
Obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5.º –
Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da ordem econômica, e
incumbindo ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial
legitimidade para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos de
consumidores, decorrentes de origem comum. A teoria maior da desconsideração,
regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera
demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas
obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração
de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração
de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração). A teoria menor da
desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente no
Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova de
insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações,
independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão
patrimonial. – Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades
econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa
jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem
conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz
de identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores
da pessoa jurídica. – A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de
consumo está calcada na exegese autônoma do § 5.º do art. 28 do CDC, porquanto a
incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos
no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa
jurídica, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Recursos
especiais não conhecidos” (STJ, REsp 279.273/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler,
Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi, j. 04.12.2003, DJ 29.03.2004, p. 230).

“[...] é possível, em linha de princípio, em se tratando de vínculo de índole


consumerista, a utilização da chamada Teoria Menor da desconsideração da
personalidade jurídica, a qual se contenta com o estado de insolvência do fornecedor,
somado à má administração da empresa, ou, ainda, com o fato de a personalidade
jurídica representar um ‘obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores’ (art. 28 e seu § 5.º, do Código de Defesa do Consumidor)” (STJ, REsp
1.111.153/RJ, 4.ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 06.12.2012,DJE
04.02.2013).

DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA


RECURSO ESPECIAL (ART. 105, INC. III, a e c, CF/88)- AÇÃO CONDENATÓRIA
- MATÉRIA JORNALÍSTICA - COLISÃO ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E
A PROTEÇÃO À HONRA OBJETIVA DE PESSOA JURÍDICA - TUTELA DOS
DIREITOS DA PERSONALIDADE - INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE
JULGARAM PROCEDENTE O PEDIDO VEICULADO NA DEMANDA,
RECONHECENDO A OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR, AO REPUTAR
CARACTERIZADA A NEGLIGÊNCIA DO ÓRGÃO DE IMPRENSA AO NÃO
CONFERIR A VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES OBJETO DA REPORTAGEM
OFENSIVA. INSURGÊNCIA RECURSAL DA EMPRESA JORNALÍSTICA. 1. No
tocante à alegada ofensa aos artigos da Constituição Federal, tem-se por inviável a
análise de contrariedade a dispositivos constitucionais, nesta via recursal, o que
implicaria a usurpação de competência atribuída ao eg. Supremo Tribunal Federal
(CF/88, art. 102). 2. A partir de uma interpretação sistemática e sob a perspectiva do
princípio da unidade da Constituição, infere-se que a liberdade de informação
jornalística não detém caráter absoluto, de modo a ser mitigada nas hipóteses previstas
no artigo 5º e incisos ali enumerados, isto é, em se tratando de direitos e garantias
relacionadas aos direitos de personalidade. Especificamente quanto à pessoa jurídica,
a extensão de tais direitos de personalidade e sua respectiva tutela/proteção
encontra-se prevista no artigo 52 do Código Civil, ao assim dispor: Aplica-se às
pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 3. Não
se olvida da impossibilidade de se impor à imprensa um rígido dever de veracidade,
pois é apenas exigível um compromisso ético com a informação verossímil, consoante
já decidiu esse Colegiado (Cf. REsp 680.794/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 29/06/2010; REsp
1294474/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 19/11/2013, DJe 12/02/2014). Todavia, no caso em tela, ainda que incontroversa a
existência de demanda judicial na qual se discutia suposto inadimplemento contratual,
bem assim que os fatos relatados foram objeto de inquérito policial, a forma/o modo
com que se narraram as informações, consignando afirmações categóricas quanto à
prática de golpe internacional no mercado de pescados e, ainda, ao expor,
impositivamente, que a importadora norte-americana fora enganada, tendo recebido
produtos estragados, diversos daqueles solicitados ("empresa compra camarão e recebe
lula"), revelam ter a empresa jornalística ultrapassado o mero animus narrandi. Portanto,
inegável que a matéria jornalística, ao atribuir à autora conduta desonrosa,
maculou sua imagem, um dos principais direitos da personalidade reconhecidos às
pessoas jurídicas e, vale afirmar, bem de valor inestimável no âmbito comercial
(honra profissional). Efetivamente, em não tendo a recorrente se limitado a
noticiar eventual desentendimento entre as empresas contratantes, tecendo
comentários ofensivos à imagem da autora, inafastável o dever de
indenizar/compensar os danos extrapatrimoniais daí advindos. 4. No que tange ao
quantum indenizatório, aplicável o óbice da súmula 7/STJ, mormente quando
evidenciado que o arbitramento do valor da compensação por danos morais foi realizado
com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico das
partes, com razoabilidade, bom senso e com atendimento às peculiaridades do caso. 5.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E, NA EXTENSÃO,
DESPROVIDO.
(STJ - REsp: 1407907 SC 2013/0327526-0, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de
Julgamento: 02/06/2015, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
11/06/2015)

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. REDE


SOCIAL. FACEBOOK. OFENSAS. PESSOA JURÍDICA. HONRA SUBJETIVA.
IMPERTINÊNCIA. HONRA OBJETIVA. LESÃO. TIPO DE ATO. ATRIBUIÇÃO
DA AUTORIA DE FATOS CERTOS. BOM NOME, FAMA E REPUTAÇÃO.
DIREITO PENAL. ANALOGIA. DEFINIÇÃO DOS CRIMES DE DIFAMAÇÃO E
CALÚNIA. 1. O propósito recursal é determinar se as manifestações da recorrida na
rede social Facebook têm o condão de configurar dano moral indenizável à pessoa
jurídica recorrente. 2. Ao disponibilizarem informações, opiniões e comentários nas
redes sociais na internet, os usuários se tornam os responsáveis principais e imediatos
pelas consequências da livre manifestação de seu pensamento, a qual, por não ser
ilimitada, sujeita-lhes à possibilidade de serem condenados pelos abusos que venham a
praticar em relação aos direitos de terceiros, abrangidos ou não pela rede social. 3. Os
danos morais podem referir-se à aflição dos aspectos mais íntimos da
personalidade ou à valoração social do indivíduo no meio em que vive e atua. A
primeira lesão reporta-se à honra subjetiva, a segunda à honra objetiva. 4. A
pessoa jurídica, por não ser uma pessoa natural, não possui honra subjetiva,
estando, portanto, imune às violências a esse aspecto de sua personalidade, não
podendo ser ofendida com atos que atinjam a sua dignidade, respeito próprio e
autoestima. 5. Existe uma relação unívoca entre a honra vulnerada e a modalidade
de ofensa: enquanto a honra subjetiva é atingida pela atribuição de qualificações,
atributos, que ofendam a dignidade e o decoro, a honra objetiva é vulnerada pela
atribuição da autoria de fatos certos que sejam ofensivos ao bom nome do
ofendido, sua fama e sua reputação no meio social em que atua. Aplicação analógica
das definições do Direito Penal. 6. Na hipótese em exame, não tendo sido
evidenciada a atribuição de fatos ofensivos à reputação da pessoa jurídica, não se
verifica nenhum vilipêndio a sua honra objetiva e, assim, nenhum dano moral
passível de indenização. 7. Recurso especial conhecido e não provido.
(STJ - REsp: 1650725 MG 2017/0018900-9, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,
Data de Julgamento: 18/05/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
26/05/2017)

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