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Teoria Geral do Direito Civil (2)

07-05-2012

Legitimidade
 É uma qualidade do sujeito mas que é aferida em relação e diz respeito ao
conteúdo concreto desta
 Supõe uma relação entre o sujeito e o conteúdo do acto, por isso, é antes uma
posição, um modo de ser para com os outros

Esfera jurídica
 Complexo de direitos e vinculações de que uma determinada pessoa é titular
 Direitos e vinculações que são variáveis, o que se repercute na correspondente
esfera jurídica
o Esfera jurídica pessoal: não susceptíveis de avaliação pecuniária
o Esfera jurídica patrimonial: susceptíveis de avaliação pecuniária
 O património é uma garantia geral dos credores
 Em regra o património é geral, respondendo por todas as dívidas
do seu titular
 Em regra cada sujeito tem somente um património, excepção
feita aos patrimónios autónomos

Patrimónios autónomos
 Significa que existem massas de bens que podem coexistir com património
geral, mas que respondem apenas por algumas dívidas do seu titular, e por essas
dívidas só o património autónomo responde
o Herança: art.2068º,2070º,2071º
o EIRI: Estabelecimento individual de responsabilidade ilimitada

Domicilio
 Relevância jurídica:
o Para determinação do tribunal competente para qualquer acção, salvo
disposição especial: art.85º CPC
o A prestação debitória deve ser efectuada no lugar do domicílio do
devedor: art.772º
o No caso de obrigações pecuniárias, a prestação deve ser realizada no
lugar de domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento: art.774º
o A sucessão por morte abre-se no lugar do último domicílio do seu autor:
art.2031º

Noção
 Domicílio geral
o Coincide com o lugar de residência habitual.art.82º
o Não se confunde com paradeiro nem com residência
o O seu estabelecimento resulta de um acto voluntário, o mesmo
sucedendo com o seu termo
 Domicílios especiais
o Domicílio profissional: art.83º
 Relevante para as pessoas que exercem uma determinada
profissão.
 Localizada no lugar onde a profissão é exercida

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o Domicílio electivo: art.84º


 Domicílio particular, estipulado por escrito, para determinados
negócios
o Domicílio legal
 Domicílios que existem independente da vontade do titular
 Menores e interditos: art.85º
 Empregados públicos: art.87º
 Agentes diplomáticos portugueses: art.88º

Estatuto jurídico da ausência

 Em sentido estrito traduz-se na situação de alguém que desapareceu e de quem


não existem notícias, não se sabendo se está vivo ou morto e que deixou bens
que carecem de ser administrados
 Artigos 89º a 121º do CC
 O Direito providencia a tomada de medidas tendentes a evitar os prejuízos
decorrentes da falta de administração dos bens da pessoa ausente, através das
seguintes medidas legais:

Curadoria provisória
 Artigos 99º e ss
 Aqui a presunção da lei, é a de um possível regresso do ausente
 Requisitos:
o Desaparecimento da pessoa sem que dela haja notícias
o Necessidade de prover à administração dos bens do ausente
o Não haver representante legal ou procurador
 Legitimidade
o Requeridas ao Tribunal pelo MP ou por qualquer interessado (art.91º)
 O curador funciona como um simples administrador: art.94º
 Termo da curadoria provisória: art.98º

Curadoria definitiva
 Artigos 99º e ss
 Aqui a probabilidade de a pessoa ausente não retornar é maior
 Requisitos:
o Requisitos da curadoria provisória
o Decurso de um lapso
 De 2 anos sem saber do ausente
 De 5 anos, se deixou representante legal ou procurador
 Legitimidade
o Previsto nos art.99º e 100º
 Após a justificação da ausência procede-se à abertura dos testamentos (art.101º),
e à partilha e entrega dos bens, no entanto os herdeiros são tidos como curadores
definitivos 8art.104º) e não como proprietários desses bens, embora tenham
direito aos frutos percebidos (art.111º)

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Morte presumida
 Artigos 114º e ss
 Requisitos:
o Desaparecimento da pessoa sem que dela haja notícias
o Necessidade de prover à administração dos bens do ausente
o Não haver representante legal ou procurador
o Decurso de um lapso:
 De 10 anos sobre a data das ultimas noticias do ausente
 De 5 anos, se entretanto o ausente completar 80 anos de idade
 Caso o ausente seja menor, é necessário que decorram 5 anos
sobre a data em que ele teria completado 18 anos de idade
 Legitimidade
o Previsto no art.114º e 100º
 Produz os mesmo efeitos que a morte: art.115º
o Excepto o casamento que não cessa ipso facto, embora o art.116º dê ao
cônjuge do ausente legitimidade para casar de novo, sem necessidade de
recorrer ao divórcio
o Caso o ausente retorne, considera-se o primeiro casamento como
dissolvido
 Na esfera patrimonial, caso o ausente retorne ser-lhe-á devolvido o património
que era seu, no estado em que se encontrar

Pessoas colectivas

As pessoas colectivas são organizações constituídas por uma colectividade de pessoas


ou por uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns, normalmente de
carácter duradouro, e às quais a ordem jurídica atribui personalidade jurídica, tornando-
se centros autónomos de direitos e obrigações

Elementos caracterizadores da pessoa colectiva


Substrato
 Conjunto de elementos da realidade extra jurídica, que dá peso terreno à pessoa
colectiva, que lhe dá existência no mundo exterior
 A personalidade jurídica é reconhecida após verificado o substrato
 Realidade de “facto”, aquilo que realmente existe
o Elemento pessoal: mais importante nas sociedades e associações
o Elemento patrimonial: determinante nas fundações
o Elemento organizatório: os dois pontos anteriores estão sujeitos a uma
organização que resulta da existência de órgãos que representa a PC, e
por outro lado a existência de um conjunto de normas jurídicas que
regulam o seu funcionamento. Podem ser legal ou estatutária

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Reconhecimento
 É o elemento de direito, redutor da dispersão e pluralidade do substrato à
unidade, á qualidade de sujeito de direito
 Modalidade:
o Normativo: quando resulta de normas jurídicas
 Condicionado: Quando a lei estabelece requisitos jurídicos a
observar
 Incondicionado: Não existência de requisitos, bastando o
verificar do substrato
o Associações e sociedades têm reconhecimento normativo condicionado
o Por concessão:
 Uma autoridade administrativa vai verificar casuisticamente se
estão cumpridos os requisitos, para que seja concebida a
personalidade jurídica (art.188º,nº1 e 2)
 As fundações têm um reconhecimento por concessão

Fim da Pessoa colectiva


 As Pessoas colectivas visam alcançar um determinado fim
 Tem que ser um fim lícito e possível

Objecto da Pessoa colectiva


 O objecto da PC é o que esta efectua para alcançar o fim a que se propõe

Classificações das pessoas colectivas:

Pessoas colectivas públicas e pessoas colectivas privadas


 Critérios de distinção
o Critério do fim
 PC públicas as que prosseguem fins públicos
 PC privadas as que perseguem fins privados
o Critério da titularidade dos poderes de autoridade
 PC públicas as que são dotadas de poderes de autoridade
 PC privadas aquelas que não o são
o Critério da criação
 PC públicas as que são criadas por iniciativa de poderes públicos
 PC privadas as que são criadas por iniciativa de poderes privados
o Critério da integração
 PC públicas as que se integram na Administração Estadual
 PC privadas todas as outras
o A posição a tomar deve atender:
 Ao regime jurídico a que estão sujeitas
 Tribunais competentes
 Direito público ou direito privado
 Regime jurídico dos seus trabalhadores

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Pessoas colectivas quanto à Nacionalidade


 PC internacionais
o Constituídas por norma de Direito internacional (ONU)
 PC internas
o Constituídas de acordo com a legislação do Estado onde foi criada

 PC nacionais
o Aquelas que tem em Portugal a sua sede principal e efectiva (art.33º CC)
 PC estrangeiras
o Aquelas que tem a sede principal no estrangeiro

Pessoas colectivas privadas quanto ao fim


 Fim desinteressado ou altruísta
Quando a titularidade do interesse couber a pessoas estranhas aos associados da
PC
 Fim interessado ou egoístico
Quando o interesse, pelo menos dominante, seja o dos próprios associados da
PC
o Não económico
PC orientadas para a prossecução de interesses que não visam a obtenção
de vantagens patrimoniais
o Económico
Quando os interesse visados são susceptíveis de expressão monetária
 Lucrativo
Quando visam lucro, como as sociedades
 Não lucrativo
Quando não visam lucro, como os sindicatos

Pessoas colectivas privadas quanto á estrutura


 Fundações
o Elemento preponderante é o material
o Regidos por vontade exterior estipulada nos estatutos
 Corporações (Associações e Sociedades)
o Aqui o elemento preponderante é o humano
o Regidos por uma vontade imanente

As Sociedades
 É uma associação de duas ou mais pessoas que põem em comum os bens e
serviços necessários ao exercício de uma actividade económica, que não seja de
mera fruição, com vista à obtenção de um lucro a repartir pelos sócios
 Previsto no artigo 980º CC
 Deve atender á produção de algo novo
 Todos os sócios tem de participar nas perdas e tem direito aos lucros (994º)

Classificação de sociedades:
 Sociedades comerciais (art.1º,nº2 CSC)
o Construídas nos termos estabelecidos no Código das Sociedades
Comerciais
o Dedicam-se à prática de actos de comércio

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o Reconhecimento através de registo do contrato de sociedade

 Sociedades civis
o Sob a forma comercial (art.1º,nº4, CSC)
 Reconhecimento adquirido através de registo do contrato de
sociedade
o Simples (980º e ss, CC)
 Reconhecimento adquirido através de escritura pública

Outra classificação das sociedades atende à presença ou ausência de


responsabilidade pessoal dos sócios:
o Sociedades em nome colectivo
o Sociedades por quotas
o Sociedades anónimas
o Sociedades em comandita

Constituição de Associações
Existem três modos para as associações adquirirem personalidade jurídica

 O Procedimento clássico
o Reunião de fundação e aprovação dos estatutos (art.167º)
 Elementos obrigatórios (nº1)
 Elementos facultativos (nº2)
o Obtenção de Certificado de admissibilidade e cartão provisório (RNPC)
 Modos de apresentação do pedido
 Na RNPC
 Na Conservatória do Registo Comercial
 Por via postal
 Por intermédio do Cartório Nacional
 Junto de algumas associações comerciais ou industriais
que têm protocolo com o RNPC
 Via electrónica
o Escritura pública
o Publicações e registos definitivos
 Depois da publicação no site oficial, deve ser inscrita no FCPC e
posteriormente será emitido o Cartão de Identificação definitivo
o Comunicações várias
 Comunicado o inicio de actividade às Finanças
 Outras comunicações: SS, ACT

10-05-2012
 O regime da Associação na hora
o Reunião de fundação e aprovação de estatutos (entre associados)
o Actos de aquisição da personalidade jurídica nas conservatórias
o Eleição dos corpos gerentes

o Lei 40/2007

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o Observar a sequência de procedimento estabelecida no art.7º

 Regimes especiais
o Existem associações que seguem outras vias de constituição
o Partidos políticos, etc.

Associações sem personalidade:


 São associações de facto, pessoas que se juntam para um determinado fim, mas
não se constitui personalidade jurídica
 Art.195ºe ss
 No art. 198ºobservamos que o legislador acautela situações que possam surgir,
em virtude desta ausência de personalidade jurídica, para salvaguarda de
terceiros

Comissões especiais:
 São pessoas que se juntam por um fim comum, mas sem tem carácter duradouro,
somente esporádico, logo não são consideradas Associações

Fundações
 Adquirem personalidade jurídica através do reconhecimento
 Os estatutos da PC em princípio não são passíveis de alteração
 Podem ser criadas por pessoas singulares ou colectivas
 A sua constituição observa a três momentos
o Dotação: disposição do próprio fundador de um património para a
prossecução de um determinado fim pela PC
o Acto da Instituição (art185º,nº1)
 Instituição por testamento
 Instituição por acto entre vivos
o Reconhecimento
 Art.188º
 Por entidade administrativa: art.157º,nº2, CC

Extinção das pessoas colectivas


 Havendo um motivo para a extinção, não se determina de pronto o fim da PC,
existindo procedimentos que se devem adoptar para o finalizar da sua actividade
o Dissolução
o Liquidação
o Sucessão
 Estes aspectos são comuns a todas as Pessoas colectivas
o Associações:
 Dissolução: (art.182º), pode acontecer por:
 Deliberação da assembleia-geral: art.182º,nº1 a)
 Disposição da lei: 182º,nº1 b) a e)
 Decisão judicial: 182º,nº2
 Liquidação: 184º
 Sucessão: 166º
 Bens onerados com encargos ou afectos a outros fins (nº1)

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 Bens livres (nº2)


o Sociedades civis simples:
 Dissolução: 1007º
 Voluntária
 Legal
 Liquidação: 1015º e 1016º
 Sucessão: 1017º e 1018º
o Fundações
 Dissolução: 192º
 Legal
 Por decisão da autoridade administrativa competente
 Liquidação: 193º e 194º
 Sucessão: 166º na ausência de disposição específica

Capacidade das pessoas colectivas

 Capacidade de gozo:
Delimitação positiva
o A capacidade jurídica da PC abrange os direitos e obrigações que sejam
necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins : 160º,nº1
 As Associações não estão de todo incapacitadas para realizar
actos de natureza lucrativa, em ordem a obter recursos para a
prossecução dos seus fins, pois somente pode almejar o lucro
objectivo
 As sociedades (980º)em regra não podem fazer doações, pois é-
lhes vedada a prática de negócios jurídicos gratuitos, mas existem
excepções:
 Observância do art.940º,nº2
 Se for conveniente à prossecução dos seus fins
o Razões publicitárias
o Razões sociais da empresa
Delimitação negativa
o No artigo 160º,nº2, observamos que existem direitos que as PC não
podem ser titulares, por serem inseparáveis da personalidade singular
 Relações familiares
 A maior parte dos direitos de personalidade
o E outras situações vedadas por lei
 Art.1484º
 Art.2182º
 Art.1443º
 Capacidade de exercício:
o A maior parte da doutrina não atribui capacidade de exercício ás PC pois
agem através dos seus órgãos
o Mota Pinto, defende uma posição contrária, pois diz que os titulares
desses órgãos são a própria pessoa colectiva (perspectiva orgânica)

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Responsabilidade Civil das Pessoas colectivas

 Responsabilidade Contratual: 165º,798º,800º


o As PC respondem pelos factos dos seus órgãos ou mandatários que
produzam o incumprimento de uma obrigação
 Responsabilidade extracontratual: 165º;998º;500º;497ª
o Quem emprega determinadas pessoas para vantagem própria deve
suportar os riscos da sua actividade
o Para se observar responsabilidade por parte da PC devem-se observar os
pressupostos da responsabilidade civil extracontratual das pessoas
singulares

14-05-2012
O objecto da relação jurídica

Objecto (mediato) da relação jurídica

 É o “quid”, sobre que incidem os poderes do titular activo da relação jurídica


 A noção encontra-se no artigo 202º, mas não é de todo rigorosa
 Não existe uma equivalência entre “coisa” e objecto de relações jurídicas, pois
nem tudo o que pode ser objecto de relações jurídicas, são coisas em sentido
técnico jurídico
 Coisa é tudo aquilo que não sendo pessoa, tenha:
o Utilidade: tem que ser apto a satisfazer necessidades
o Individualidade: tem que ter existência autónoma; esta definição é
importante para distinguir a coisa das partes integrantes.
Determinada coisa pode ser retirada de outra e essa onde estava integrada
continua a “funcionar”.
o Seja susceptível de apropriação: possível de apropriar pelos sujeitos, o
que não é o caso da lua ou do ar por exemplo
 Objecto de relações jurídicas é então, todo o quid, todo o ente, todo o bem sobre
que podem recair direitos subjectivos

Possíveis objectos de relações jurídicas:


 Pessoas:
o Casos de responsabilidade parentais e da tutela, são os casos de deveres
poderes, para protecção de outras pessoas
o Aqui o quid sobre o que incide o poder do pai/tutor é a própria pessoa do
filho ou do pupilo
 Prestações:
o São característicos dos Direitos de crédito
o Aqui o objecto é uma conduta ou um acto humano
o Exemplo: um contrato de compra e venda

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Podem ser:
o Prestações de facto:
 Positivo (facere): exemplo, a obrigação de dar um concerto
 Negativo (non facere): exemplo, a declaração de não abrir um
restaurante por questões concorrenciais
o Prestações de coisa; divide-se em:
 Obrigação de prestar:
 Devedor entrega ao credor certa coisa para que ele a
devolva no final (a coisa pertence-lhe)
 Obrigação de restituir
 Devedor entrega ao credor certa coisa que lhe pertença
 Obrigação de dar:
 Devedor entrega ao credor certa coisa que pertence a este
desde o momento da celebração do contrato

As prestações podem ainda dividir-se em:


Este carácter fungível ou infungível resulta dos termos do acordo das partes
o Fungíveis: (em regra) art.767º,nº1
 Quando possa ser realizada por pessoa diversa do devedor sem
prejuízo dos interesses do credor
o Infungíveis: art.767º,nº2
 Só podem ser realizados pelo devedor atendendo às suas
qualidades pessoais (pintura de um quadro por exemplo)
 Aqui é possível exigir a sanção pecuniária compulsória:
Art.829º A

o Instantâneos:
 Esgotam-se num único momento temporal
o Duradouros:
 Duradouros propriamente ditos
 Reiterados ou periódicos: caso a prestação do devedor seja
realizada de forma pontual e sucessivamente ou
periodicamente ao longo do tempo de execução do
contrato
 De execução continuada: a prestação do devedor é feita de
forma continuada e ininterrupta ao longo do tempo
 Fraccionados
 O factor tempo não influencia o montante global da
prestação

o Prestações (obrigações) de meios:


 O devedor obriga-se a empregar toda a diligência necessária no
sentido de alcançar um determinado resultado, mas não se obriga
a alcançar esse mesmo resultado, pelo que não existirá
incumprimento se o devedor foi diligente, não obstante não ter
alcançado o resultado pretendido
o Prestações (obrigações) de resultados:
 O sujeito obriga-se a atingir um determinado resultado,
respondendo perante o credor, no caso de frustração desse

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resultado, salvo se provar que tal frustração se deve a facto


fortuito ou causa de força maior.

 Direitos subjectivos
o Direitos sobre direitos
o Exemplo a hipoteca de um usufruto
 A própria pessoa
o Os direitos de personalidade incidem sobre distintos modos de ser físicos
e morais da pessoa, ou bens da personalidade.

Classificação das coisas:


 Corpóreas
o É necessário que revistam certos requisitos:
 Terem existência autónoma
 Serem úteis
 Serem apropriáveis
 No fundo, serem apreensível pelos sentidos
 Incorpóreas
o Os chamados direitos de autor e propriedade industrial incidem sobre a
actividade espiritual do homem

 Materiais
o Existência de matéria
 Imateriais
o Não existência de matéria

 Coisas no comércio jurídico


o Passíveis de ser objecto de direitos privados
 Coisas fora do comércio jurídico
o Não podem ser objecto de direitos privados (fontanário público)

 Coisas simples
 Coisas compostas
o São universalidades de direito
o Possibilidade de exercer negócios jurídicos sobre a coisa ou sobre o
conjunto (ex: garrafa ou garrafeira)

Requisitos do objecto negocial, regulados no artigo 280º e 281º


 280º:
o Tem que ser física e legalmente possível (senão é nulo)
o Não pode ser ilícito
o Tem de ser determinado: deve ser possível individualizar o objecto do
negócio jurídico
o Não pode ser contrário à ordem pública: os valores que são aceites por
uma comunidade
 281º
o Aqui o contrato é física e legalmente possível, mas se o fim for ilícito e
ambas as partes tiverem conhecimento, deve ser declarado nulo

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Teoria Geral do Direito Civil (2)

Factos jurídicos

 São todos os acontecimentos humanos e naturais juridicamente relevantes


produtores de efeitos jurídicos.
 Podem criar, modificar, transmitir ou extinguir uma relação jurídica

 Factos jurídicos constitutivos:


o Criam ex novo uma relação jurídica que não existia anteriormente
o Exemplos: art.1318º e 1287º
 Factos jurídicos transmissivos:
o Transmite-se um direito que já existia na esfera jurídica de alguém
o Exemplo: contrato de compra e venda
 Factos jurídicos modificativos
o Facto jurídico que leva à modificação de um direito que já existe
 Objectivo: mudam-se os termos do negócio jurídico
 Subjectivo: exemplo uma cessação de créditos
 Factos jurídicos extintivos:
o Extinguem a relação jurídica existente
o Exemplo: pagamento de uma divida ou um divórcio

Conceitos e classificações de factos jurídicos:


 Factos materiais ou ajurídicos
São factos neutrais do ponto de vista do ordenamento jurídico, ou seja nem
todos os factos reais ou sociais são factos jurídicos. (ex: o convite para um
passeio)
 Factos jurídicos:
o Factos jurídicos involuntários ou naturais; strictu sensu
São estranhos a qualquer processo volitivo, porque resultam de causas de
ordem natural ou porque a sua eventual voluntariedade não tem
relevância jurídica
o Factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos
Resultam da vontade como elemento juridicamente relevante, são
manifestações ou actuação de uma vontade
 Actos jurídicos strictu sensu
São factos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não
tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora
muitas vezes haja concordância entre a vontade destes e os
referidos efeitos. Estes efeitos produzem-se ex lege.
 Quase negócios jurídicos ou actos jurídicos quase
negociais
Traduzem-se na manifestação exterior de uma vontade
 Operações jurídicas, actos reais ou exteriores
Realizado um determinado resultado material, a lei
desencadeia determinados efeitos jurídicos
 Negócio jurídico
São factos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma
ou mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico

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atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo de vontade


das partes, tal como este é objectivamente (de fora) apercebido.
Os efeitos dos negócios jurídicos produzem-se ex voluntate

Negócio jurídico

Modalidades de aquisição de Direitos


Um direito é adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele
Aquisição de direitos é então a criação de um laço de pertinência de um direito a uma
pessoa.
Aquisição originária
 O direito que se adquire não depende da existência ou extensão de um direito
anterior, que pode não existir, ou existindo o direito não se adquiriu por causa do
titular anterior, mas apesar dele.
o Ocupação de coisas móveis, em que o direito não tem um titular anterior:
art.1318º e ss
o No caso da usucapião, em que existe um titular anterior: art.1287º e ss
o No caso da aquisição de direitos de autor pela criação literária
Aquisição derivada
 O direito que se adquire funda-se na existência e medida de um direito do
anterior titular, e é o facto desse direito existir e se extinguir ou limitar que
permite que o novo titular adquira o direito
o Aquisição de direito de propriedade
o Aquisição de outro direito real por compra e venda, doação, troca, etc.
 Pode ser:
o Translativa:
 O direito que se adquire é o mesmo direito que pertencia ao anterior
titular
o Constitutiva
 O direito que se adquire funde-se num direito mais amplo do anterior
titular, limitando-se este.
o Restitutiva
 O titular do direito limitado vê regressar a si a totalidade dos poderes
que o seu direito lhe conferia

A importância da distinção entre aquisição originária e aquisição derivada leva-


nos á observância do seguinte princípio:
 Nemo plus iuris in alium transferre potest quam ipse habet
 Ninguém pode transmitir mais direitos do que aqueles que tem, ou transmitir os
direitos que não têm
 Existem excepções onde o adquirente, não obstante a aquisição ser derivada,
pode obter um direito que não pertencia ao transmitente
.
 Protecção de terceiros em geral pela figura do registo predial, registo de
automóveis e registos similares
o O registo não é um meio de aquisição de direitos, sendo o acto
plenamente eficaz inter partes. A consequência da falta de registo é a
ineficácia a relação a terceiros (art.5º,nº4 CRPredial)

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Teoria Geral do Direito Civil (2)

o Somente numa situação de hipoteca é que se verifica que o registo tem


efeitos constitutivos
o Se A vende um edifício a B e posteriormente vende novamente a C que
regista primeiro que B, prevalece a venda a C, embora A estivesse a
dispor de algo que já não era seu.
o Princípios do registo:
 Princípio da legitimação de direitos sobre imóveis (art.9º
CRPredial)
 O sujeito só pode dispor de um bem, se esse bem estiver
registado a seu favor, ou seja, se o bem não estiver
definitivamente registado pela pessoa do transmitente, o
negócio jurídico não pode ser titulado
 Princípio do trato sucessivo (art.34º CRPredial)
 Só se pode registar o bem no nome do adquirente, se
estiver definitivamente registado no nome de quem o
transmite.
o Efeitos do registo
 Central
 Vem previsto no art.5º,nº1 e 6º do CRPredial
 Significa que o registo de um bem, é condição de
oponibilidade do direito a terceiros
 Para se poder invocar um direito, deve ter havido um
registo prévio desse direito pela pessoa em causa
 Automático
 Embora elidível, pois admite prova em contrário o art.7º
CRPredial prevê a presunção de pertença de um direito
após registo (art.350º CC)
 Lateral
 O CC atribui o registo de um bem para daí determinar
várias consequências: 243º,nº3 e 291º CC
o Terceiros para efeitos do registo (art.5º)
 Só é considerado terceiro para efeito de registo os indivíduos
previstos no art.5º,nº4 CRPredial

 Inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé: art.243º


o O negócio simulado é nulo: art.243º CC
o Se no entanto o simulado adquirente vender ou doar o mesmo bem a
terceiros e este desconhecer a simulação, o terceiro adquire validamente
esse bem. Art.243º,nº1

 Eventual Inoponibilidade das nulidades e anulabilidades a terceiros de boa fé:


art.291º
o Aplicação a todos os casos de negócios jurídicos susceptíveis de
nulidade e anulação
o Deve atender a 5 pressupostos:
 Recair sobre bens imóveis ou móveis sujeitos a registo
 A título oneroso
 Por terceiros de boa fé
 O registo tem de ser anterior ao registo da acção de nulidade ou
anulação
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Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Não será o direito reconhecido se a acção de anulação ou


nulidade tiver sido entreposta nos três anos posteriores à
realização do negócio.
 Aquisição de herdeiro aparente: art.2076º
o Segundo este artigo quem adquiriu através de um negócio realizado com
um herdeiro aparente, que assim não seria titular do bem, está protegido,
desde que tenha agido de boa fé

Modificação de direitos
 Modificação subjectiva
o Aqui ocorre a substituição do respectivo titular, permanecendo a
identidade objectiva do direito. Exemplos:
 Cessão de créditos: art.577º
 Cessão da posição contratual: art.595º
 Modificação objectiva
o Aqui muda o conteúdo ou o objecto do direito, permanecendo o regime
jurídico inalterável. Exemplos:
 Prorrogação de um prazo para o cumprimento
 Não se cumprindo um dever, deixa de haver dever de cumprir e
passa a haver dever de indemnizar.

Extinção de direitos

 A extinção de um direito tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera


jurídica de uma pessoa. Quebra-se então a relação de pertinência entre um
direito e a pessoa do seu titular
 Pode ser uma extinção subjectiva, quando o direito sobrevive, mas apenas se
extingue em relação ao sujeito que era titular. Aqui o direito mudou de
titularidade
 Pode ser uma extinção objectiva, se o direito desaparece, deixando de existir
para o seu titular e para qualquer outra pessoa. Aqui não existe sucessão,
transmissão ou aquisição derivada translativa de direitos.

 Uma forma particular de extinção de direitos é a correspondente aos institutos da


prescrição (art.300º a 327º) e da caducidade (art.328º a 333º)

 Prescrição
o Aplica-se aos direitos subjectivos propriamente ditos
o Apenas aplicável quando a lei assim o referir (298º,nº2)
o Regime inderrogável (não pode ser afastado pelas partes), pois resulta da
lei (300º)
o Tem de ser invocada, não podendo o tribunal supri-la (303º)
o Susceptível de interrupção (323º e ss) e de suspensão (318º e ss)
o Destina-se a censurar a inércia negligente do titular do direito em
exercitá-lo
o Prazo ordinário de 20 anos; também previsto prazos de 5 anos
 Caducidade
o Respeita a direitos potestativos

XL Página 15
Teoria Geral do Direito Civil (2)

o Regime em regra aplicável perante o não exercício de um direito durante


certo tempo, salvo se a lei se referir à prescrição (298º,nº2)
o Admitem-se estipulações contratuais (330º)
o Oficiosamente apreciada pelo tribunal (333ª)
o Em princípio, não se interrompe nem se suspende, só sendo impedida
pela prática do acto (328ª)
o Pondera apenas o aspecto objectivo de certeza e segurança jurídicas.

21-05-2012

Negócios jurídicos

“Actos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de vontade, dirigidas


à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob tutela do
direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos
conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes”

Elementos dos negócios jurídicos

 Elementos essenciais
o São aqueles sem os quais o negócio não chegaria a constituir-se como
válido
 Capacidade dos sujeitos
 Declaração de vontade sem anomalias
 Idoneidade do objecto
 Regras relativas á forma

 Elementos naturais
o São os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas
o São naturalmente inerentes ao negócio jurídico
o Ex: art.762º: lugar de cumprimento da prestação

 Elementos acidentais
o São as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos
o A sua não existência não contende com a validade do negócio

Classificações dos negócios jurídicos

 Negócios jurídicos unilaterais


o Diz-se unilateral o negócio jurídico em que há uma única declaração
negocial que só por si produz efeitos jurídicos
o É também unilateral o negócio jurídico em que, havendo várias
manifestações de vontade, o conteúdo delas é idêntico, isto é integrado
por várias declarações negociais paralelas
o As declarações aqui presentes consideram-se:
 Receticidas ou recipiendas: quando só estiverem perfeitas depois
do seu destinatário delas tiver conhecimento ou puder delas tomar
conhecimento. Basta a sua cognoscibilidade. Ex: art.458º
XL Página 16
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Não receticidas ou não recipiendas: aqui vincula o declarante


logo que ele as emite. Ex: art.459º
o Vigora o princípio da tipicidade ou do numero clausus, ou seja só
existem os negócios jurídicos unilaterais previstos na lei, nos termos do
art.457º
o Exemplo: Testamento

 Negócios jurídicos bilaterais (contratos)


o É aquele que é integrado por duas ou mais declarações negociais de
conteúdo diverso, mas convergente no sentido da produção de um
resultado prático e jurídico unitário
o Contratos unilaterais
 Contrato do qual emergem obrigações a cargo apenas de uma das
partes ou obrigações não ligadas entre si pelo sinalagma
 Ex: cláusulas modais; art.963º
o Contratos bilaterais ou sinalagmáticos
 É o que impõem obrigações recíprocas às partes, isto é,
obrigações que, sendo principais e caracterizadoras do contrato,
impendem sobre ambas as partes e se encontram ligadas por um
nexo de correspectividade, o chamado sinalagma
 Nestes contratos existe a possibilidade consagrada no art.428º, de
uma das partes não cumprir o estipulado devido á outra também
não o cumprir (excepção de não cumprimento)
 Ex: contrato de compra e venda

 Negócios inter vivos


o Aqueles que se destinam a produzirem efeitos durante a vida dos sujeitos
a que respeitam
o Ex: contrato de compre e venda
 Negócios mortis causa
o Destinam-se a produzir efeitos apenas no momento da morte de alguém
o Ex: testamento

 Negócios formais
o Aquele para cuja validade a lei exige a observância de determinada
forma
o Ex: compra e venda de imóveis (875º); doação de imóveis (947º)
o Se não se observar a forma são nulos por força do art.220º
o Formas exigidas, previstas na lei: art.363º
 Documento autêntico: ex: 2204º;185,nº3
 Documento particular
 Autenticados
 Stricto sensu
 Negócios consensuais
o É a regra. É aquele que pode ser celebrado por quaisquer meios
declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial (art.219º)

XL Página 17
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Negócios reais quod constitutionem


o Aqueles cuja celebração depende da tradição da coisa, para além do
acordo de vontades
o Além da celebração, exige a entrega material da coisa
o Ex: 947º;1142º,1185º
 Negócios reais quod effectum
o Aqueles cujos efeitos reais ocorrem com a mera celebração do negócio
jurídico: artg.408º,nº1 (regra)
o Pode-se colocar nestes contratos o disposto no artg.409º: reserva de
propriedade
o Ex: contrato de compra e venda
 Negócios sujeitos a registo constitutivo
o Hipoteca voluntária, para existir tem que ser registada: art.687º

 Negócios obrigacionais
o Criam, modificam ou extinguem obrigações
o Ex: obrigação de pintar uma casa
 Negócios familiares
o Criam, modificam ou extinguem relações familiares
 Pessoais
 Patrimoniais

 Negócios patrimoniais
o Incidem sobre bens susceptíveis de avaliação pecuniária
o Ex: compre e venda, contrato de trabalho
 Negócios pessoais
o Aqueles que não se destinam a constituir, modificar ou extinguir relações
de carácter patrimonial, mas a influir no estado das pessoas, na sua
situação familiar, etc.
o Ex: casamento; limitação dos direitos de personalidade

 Negócios onerosos
o Aquele pelo qual cada uma das partes simultaneamente obtém e concede
um benefício; cada uma das partes tem uma vantagem e um
correspondente sacrifício que não necessitam de ser equivalentes
o Ex: contrato compra e venda
 Negócios gratuitos
o É o contrato nos termos do qual uma das partes apenas sofre um sacrifico
patrimonial e a contraparte só aufere uma atribuição ou vantagem
o São feitos com espirito de liberalidade “animus donandi”
o Ex: doações

 Negócios típicos
o Aqueles cujo regime está previsto na lei
 Negócios atípicos
o Aqueles em que a sua regulação é engendrada pelas partes

XL Página 18
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Negócios nominados
o Aquele que tem um nomen iuris, ou seja um nome atribuído pelo
legislador
o Ex: 1154º: podendo ser típico ou atípico
 Negócios inominados
o Contrato para o qual não existe um nome legal, sendo também em regra,
desprovido de disciplina legal própria. Isto é, sendo, muitas vezes
simultaneamente, um contrato atípico

 Negócios de mera administração


o O conceito de mera administração recobre, inequivocamente, os actos
que visam a conservação dos bens administrados e aqueles que tendem a
promover a sua normal frutificação, sendo discutível a inclusão na
categoria de mera administração de atos tendentes a modificar os bens
administrados ou a promover a sua frutificação anormal
 Negócios de disposição
o Aquele que põe em causa a substância do património

 Negócios causais
o Todos os negócios jurídicos provêm de uma causa e essa causa não é
independente do negócio jurídico, de tal forma que a inexistência de
causa determina a inexistência do negócio jurídico
 Negócios abstratos
o Aqueles que são válidos independentemente da sua causa
o Ex: o saque de um cheque

Formação do negócio jurídico

Declaração de vontade

Elementos constitutivos
 Elemento externo
o Comportamentos que são exteriormente observáveis, co elevam á
aparência de uma vontade negocial
o Vontade exteriorizada
o A declaração propriamente dita

 Elemento interno
o Vontade real
o Consiste no querer, na realidade volitiva
o Em regra é coincidente com o elemento externo, mas tal pode não
acontecer.

XL Página 19
Teoria Geral do Direito Civil (2)

o A vontade real pode decompor-se em três elementos:


 Vontade de ação
 Consiste na voluntariedade do comportamento declarativo
 Pode por vezes faltar. Ex: coação física para assinar um
documento
 Vontade de declaração
 Consiste em o declarante atribuir ao comportamento
querido o significado de uma declaração negocial
 Pode faltar a vontade de declaração. Ex: o individuo no
leilão
 Vontade negocial
 Consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico de
conteúdo coincidente com significado exterior da
declaração
 Pode haver um desvio na vontade negocial. Ex: individuo
quer comprar a quinta da Capela e declara que quer
comprar a quinta do Mosteiro
25-05-2012

Declaração negocial expressa e declaração negocial tácita

 Existe no ordenamento jurídico um critério de liberdade no que diz respeito à


forma dos negócios jurídicos: o princípio da liberdade declarativa
 Pode no entanto, por vezes a lei exigir que a declaração negocial seja expressa
Ex: 957º;731º;1681º,nº3
 Pode também ter o cuidado de frisar que um certo negócio pode ter lugar por
declaração tácita
o Ex: 302,nº2;234º,2323º

 A lei diz no art.217º que a declaração é expressa quando feita por palavras,
escritos ou quaisquer outros meios diretos, frontais, imediatos de expressão de
vontade
 No mesmo artigo refere que será tácita quando do seu conteúdo se infere um
outro

O silêncio como meio declarativo

 De acordo com o art.218º, o silêncio só vale como declaração negocial quando


esse valor lhe seja atribuído por:
o Lei
 Caso exista norma legal; 1163º;923º,nº2
o Uso
 Existência de um uso prevalente em determinado círculo social
o Convenção
 Definida pelas partes nesse sentido

XL Página 20
Teoria Geral do Direito Civil (2)

Declaração negocial presumida

 Presunção: consiste em perante fatos que são conhecidos, inferir fatos que são
desconhecidos
 Tem lugar quando a lei liga a determinado comportamento o significado de
exprimir uma vontade negocial em certo sentido, podendo ilidir-se tal presunção
mediante prova em contrário, de acordo com o art.350º
 Regra, as presunções podem ser ilididas, são as presunções tantum iuris
 Podem no entanto não admitir prova em contrário, são as presunções inilidíveis,
presunções juris et de jure
o Ex: 923º,nº2;1054º

Protesto e reserva

 No protesto, o sujeito ao emitis determinada declaração negocial antevê que a


ela possa ser atribuído um determinado sentido que o declarante não quer, pelo
que diz expressamente não ser esse o seu intuito
 A reserva, é uma forma de protesto que se caracteriza pelo facto do declarante
dizer que determinado comportamento não significa a renúncia a um direito ou o
reconhecimento de um direito alheio

Forma da declaração negocial

 Principio da liberdade de forma patente no art.219º


 O art.219º apresenta-nos a regra, ou seja as declarações negociais podem ser
emitidas por qualquer forma, salvo se a lei assim o exigir, 219º, in fine
 Existem vantagens no formalismo:
o Assegura uma mais elevada dose de reflexão das partes
o Permite uma formulação mais precisa e completa da vontade das partes
o Proporciona um mais elevado grau de certeza sobre a celebração do
negócio
o Possibilita uma certa publicidade do ato

 Âmbito da forma legal: art.221º


o A regra é que as estipulações anteriores ao negócio devem revestir a
forma exigida por lei, para esse ato, sob pena de nulidade
o Salvo quando se observem as seguintes condições:
 Quando se trate de cláusulas acessórias
 Que não sejam abrangidas pela razão de ser da exigência do
documento, ou seja quando as cláusulas alterem o conteúdo do
negócio (ex.: juros num contrato)
 Que se prove que correspondem à vontade das partes

 No art.222º está previsto o âmbito da forma voluntária


 No art.223ºestá previsto a faculdade de as partes convencionarem a forma sob a
qual desejam que o negócio se revista.

XL Página 21
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Em regra quando o legislador impõe uma determinada forma e esta não é


observada, o negócio carece de forma legal
 Deve-se distinguir entre:
o Formalidades “ad substantiam”
 São insubstituíveis por outro género de prova. Sem ela o negócio
jurídico é nulo, salvo a lei estipule outra consequência (art.220ª)
o Formalidades “ad probationem”
 Podem ser supridas por outros meios de prova

Perfeição da declaração negocial

 Quanto às declarações negociais recetícias, consagra-se a doutrina da receção,


ou seja, o negócio está perfeito quando a resposta contendo a aceitação chega à
esfera do proponente, de tal modo que, em circunstâncias normais, este possa
conhece-la em conformidade com os seus usos pessoais ou os usos de tráfico:
art.224º,nº1
o É igualmente eficaz a declaração que só por culpa do destinatário não foi
por ele oportunamente recebida: art.224º,nº2
o A declaração recebida pelo destinatário em condições de, sem culpa sua,
não poder ser conhecida, é ineficaz: art.224º,nº3

Processo de formação contratual

Proposta:
 Só a aceitação da outra parte implica a existência de um contrato, caso isso não
aconteça estamos perante um convite à contratação
 Requisitos:
o Deve ser completa: tem de conter todos os elementos que o proponente
quer ver incluídos no contrato, pois assim com a mera aceitação, é
possível o estabelecer de um contrato
o Deve ser firme: tem de resultar inequivocamente a vontade do sujeito
celebrar o negócio nos exatos termos que propõe
o Deve revestir a forma exigida para o contrato proposto: de tal forma que
da mera aceitação tenhamos contrato
 A outra parte também se chama juridicamente de contraparte
 A proposta é uma declaração recetícia, significa então que só produz efeitos a
partir do momento em que chega ao conhecimento ou pode ser conhecida pelo
seu destinatário

27-05-2012
 Duração e eficácia da proposta
o Deve-se observar o estatuído no art.228 relativamente à duração da
proposta
o Entende-se que quando o meio de resposta não for estabelecido, aplica-se
o meio mais demorado (via CTT)
o Irrevogabilidades, previstas as exceções no art.230º
o No caso de morte:
 Do proponente, a proposta mantém-se como válida, para proteção
de terceiros envolvidos (destinatários)

XL Página 22
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Do destinatário, determina a ineficácia da proposta, pois senão


seria uma limitação ao proponente na sua escolha de parceiro
contratual

Aceitação
 Declaração recipiendas, formulada pelo destinatário da proposta negocial, cujo
conteúdo exprima uma total concordância com o teor da declaração do
proponente
 Requisitos:
o Deve traduzir uma total e inequívoca concordância com a proposta
o Deve revestir a forma exigida
 Só temos contrato quando o destinatário da aceitação (o proponente), tem ou
pode ter conhecimento dessa declaração.

Receção tardia:
 Observável o art.229º
 Se o destinatário responde tardiamente, não é obrigado a responder, exceção
feita ao estatuído no art.229º,nº1 onde o proponente tem o ónus de avisar que
essa mesma receção foi tardia e como tal não se realiza o negócio, sob pena de
responder pelo prejuízo causado ao destinatário da proposta inicial
 No art.235ºestá prevista a revogação da aceitação ou da aceitação

Contraproposta
 Aqui existe uma aceitação, mas com alterações á proposta inicial
 Art.233º

Conclusão do contrato
 Só quando as partes estiverem de acordo com todos os pormenores é que o
negócio se pode concluir
 Art.232º

Atos preparatórios
 Breve referência para a responsabilidade pré contratual, prevista no art.227º

Conteúdo dos negócios jurídicos

 Os negócios jurídicos como já observámos versam sobre um objeto negocial

Requisitos do objeto negocial


 Previsto no art.280º
o Possibilidade física
 Haverá impossibilidade quando o negócio se reporte a uma coisa
inexiste ou inalcançável pelas partes.
o Determinabilidade
 Deve o objeto estar individualmente concretizado no momento do
negócio ou poder vir a ser individualmente determinado
o Licitude
 Impossibilidade de celebrar negócios:
 Contra legem
 Em fraude à lei

XL Página 23
Teoria Geral do Direito Civil (2)

o Não serem contrários à ordem pública e a ausência de ofensa aos bons


costumes
 Não podem ser contrários a um conjunto de princípios
fundamentais subjacentes ao sistema jurídico
 Não pode ter por objeto atos imorais

Clausulado típico:
 As cláusulas acessórias: podem constar nos negócios jurídicos por vontade das
partes
o Em regra, estarem ou não no negócio jurídico não contende em princípio
com a validade do negócio jurídico

Condição
 Cláusula contratual típica que vem subordinar a eficácia de uma declaração
contratual a um acontecimento futuro e incerto
o Tem de haver acordo das partes
o Dizer respeito a um acontecimento futuro
o Dizer respeito a acontecimento incerto quanto á sua verificação
 Diferente é a situação descrita no art.801º. aqui é independente de
qualquer acordo, pois resulta da lei
 Num contrato bilateral, o incumprimento do devedor dá ao credor
direito de resolver o contrato. O incumprimento é um fato futuro
e incerto (daí a confusão).
 Apelidada pela doutrina com condição resolutiva tácita. Não é
uma verdadeira condição, pois falta-lhe o acordo das partes
 Art.270º e ss
 Certos negócios são incondicionáveis
o Compensação de créditos: 848º,nº2
o Casamento: 1618º,nº2
o Convenção antenupcial: 1713º
o Perfilhação: 1852º
o Aceitação de herança: 2054º,º1
o Repúdio de herança: 2064º
o Testamentaria: 2323º,nº2
 A consequência da aposição duma condição a um negócio incondicionável é a
nulidade do negócio (Cfr. Art.1616º,nº2)

 Classificações das condições:


o Condição suspensiva
 As partes fazem depender o início da produção de efeitos do
negócio jurídico de um acontecimento futuro e incerto
o Condição resolutiva
 As partes fazem depender a cessação dos efeitos de um negócio
jurídico de um evento futuro e incerto

o Condição potestativa
 Quando a verificação do acontecimento está dependente da plena
vontade das partes ou de uma delas
o Condição causal

XL Página 24
Teoria Geral do Direito Civil (2)

Quando a verificação do evento for completamente alheio á


vontade das partes.
 Não está na disponibilidade das partes a ocorrência desse evento
o Condição de caráter misto
 Quando a verificação do evento depende em parte da vontade das
partes.

Termo
 Cláusula pela qual as partes subordinam a eficácia de certo negócio jurídico á
verificação de um evento futuro e certo; o evento irá realizar-se seguramente,
mas não se sabe quando
 Art.278º e 279º
 Existem negócios inapraziveis, portanto não admitem termo
o Compensação de créditos: 848º,nº2
o Casamento: 1618º,nº2
o Aceitação de herança: 2054º,nº1
o Repúdio de herança. 2064º

 Classificação do termo:
o Termo inicial ou suspensivo
 Os efeitos do negócio só começam a partir de certo momento
o Termo final ou resolutivo
 A partir de determinado momento, os efeitos cessam
o Termo certo
 Quando se consegue determinar a data
o Termo incerto
 Quando a data em que irá ocorrer o evento não é determinável

o Termo essencial
 Determinado pela impossibilidade de o sujeito ainda se oferecer
para cumprir. (801º e ss)
 Existe um incumprimento definitivo
o Termo não essencial
 Nesta situação, o sujeito poderá, mesmo passando o termo, ainda
cumprir.
 Aqui gera uma situação de mora do devedor (804º e ss)

 Cômputo do termo
o Art.279º
o Na falta de norma específica é então aplicável o disposto neste artigo a
todos os negócios jurídicos

Modo
 Cláusula típica, pela qual, nas doações e liberalidades testamentárias, o
disponente impõe ao beneficiário da liberalidade um encargo, isto é, a obrigação
de adotar um certo comportamento no interesse do disponente, de terceiro ou do
próprio beneficiário
 No entanto, não constitui porém a contrapartida da atribuição patrimonial
gratuita
 O modo pode ter conteúdo patrimonial ou não

XL Página 25
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Pode beneficiar o próprio ou terceiros


 Art.963ºe ss e 2244º e ss
 A cláusula modal impossível ou ilícita tem-se por não escrita: art.966º e 2248º

Sinal
 440º e ss
 Pode ser penitencial para o caso de incumprimento
 Pode também ser por antecipação do cumprimento de um contrato
 Pode ser em dinheiro ou outra coisa convencionada

Cláusula penal
 Estipulação em que as partes convencionam antecipadamente uma determinada
prestação, normalmente uma quantia em dinheiro, que o devedor terá de
satisfazer ao credor em caso de não cumprimento, ou não cumprimento perfeito
da obrigação
 Art.810º
 Pode ser:
o Compensatória
 Estipulada para o não cumprimento definitivo
o Moratória
 Estipulada para a simples mora do devedor
 Se a obrigação principal for nula, também o será a cláusula penal
 É caso raro, mas poderá a cláusula não ser cumprida. Cfr.art.812º

Interpretação dos negócios jurídicos

Atividade dirigida a fixar o sentido e alcance dos negócios, segundo as respetivas


declarações integradoras.
 Posição subjetivista:
o O intérprete deve procurar por todos os meios, a vontade real do
declarante, valendo o negócio com o sentido subjetivo, ou seja, tal como
foi querido pelo autor da declaração
 Posição objetivista:
o O intérprete não deve procurar a vontade real do declarante, mas o
sentido que foi exteriorizado ou cognoscível através de certos elementos
objetivos
 Posição adotada: Teoria da impressão do destinatário
o Declaração deve valer com o sentido que um destinatário razoável
(bonus pater familias), colocado na posição do real declaratório lhe
atribuiria: art.236º,nº1
o Existem limitações subjetivistas a este critério (236º)
 Se o declarante não pudesse razoavelmente contar com esse
sentido negocial, a impressão do destinatário não será tida em
conta. (nº1, parte final)
 Se o declaratório conhecer a vontade real do declarante, a
declaração negocial emitida vale de acordo com essa vontade

XL Página 26
Teoria Geral do Direito Civil (2)

real, mesmo que não coincida com o sentido objetivo normal e


que essa declaração seja ambígua ou inexata (nº2)
o Existem casos duvidosos e desvios com maior objetivismo ou
subjetivismo
 Negócios gratuitos: 237º
 Vale o sentido menos gravoso para o disponente
 Negócios onerosos: 237º
 Vale o sentido que conduzir ao maior equilíbrio das
prestações
 Negócios solenes ou formais: 238º
 A declaração só pode valer de acordo com o sentido que
um declaratório normal, colocado na posição de
declaratório real, apreenderia se esse sentido tiver o
mínimo de correspondência no texto do documento,
mesmo que imperfeito
 Testamentos: 2187º,nº1
 Vale o sentido negocial mais ajustado à vontade do
testador, de acordo com o contexto do testamento

Integração dos negócios jurídicos

 Quando existe a necessidade de regulamentação de questões não previstas pelas


partes aplica-se o estatuído no art.239º
 Deve-se então observar as seguintes regras sucessivamente para promover essa
integração
o Disposição supletiva
o Vontade hipotética ou conjetural das partes
 Na falta de disposição supletiva deve-se aplicar a vontade que as
partes teriam tido se houvessem previsto os pontos em falta
o Boa-fé
 Se a vontade das partes for contrária aos ditames da boa-fé, deve
a declaração ser integrada de acordo com este princípio.

31-05-2012
Divergência entre a vontade e a declaração

 Normalmente o elemento interno e o elemento externo da declaração negocial


coincidem, mas pode por vezes haver uma divergência entre o que se quis dizer
e o que se disse: estamos perante vícios da formulação da vontade.
 Estes vícios podem ser:
o Intencionais
 O declarante emite conscientemente e livremente uma declaração
com sentido objetivo diferente da sua vontade real
 Simulação
 Reserva mental
 Declarações não sérias

XL Página 27
Teoria Geral do Direito Civil (2)

o Não intencionais
 O declarante não se apercebe da divergência ou é levado a
declarar algo diverso da sua vontade real
 Coação física ou coação absoluta
 Falta de consciência na declaração
 Erro-obstáculo
 Erro na transmissão da declaração

Simulação
 Art.240º
 Divergência bilateral entre a vontade e o declarar.
 As duas partes do negócio declaram coisa diferente daquele que é a sua vontade
 Existe sempre um pacto simulatório, um acordo entre as partes e a intenção de
enganar terceiros
 Requisitos para que se observe a simulação:
o Intenção na divergência entre a vontade e a declaração
o Acordo entre declarante e declaratário
o Intuito de enganar terceiros

Modalidades:
 Simulação inocente
o Existe o intuito de enganar terceiros, mas não de prejudicar
o Animus decipiendi
o Ex: doação simulada com o fim de ostentação
 Simulação fraudulenta
o Existe o intuito de enganar terceiros e de prejudicar terceiros ou
contornar uma disposição legal: art.242º,nº2
o Animus nocendi
o Ex: venda fantástica; venda efetuada pelo devedor a um comprador
fictício para prejudicar os seus credores.

 Simulação absoluta
o As partes fingem celebrar um negócio jurídico, mas na realidade não
querem celebrar nenhum
o O negócio simulado é nulo: art.240º,nº2
o Ex: venda fantástica
 Simulação relativa
o As partes fingem celebrar um negócio jurídico, mas na realidade querem
celebrar um de diferente natureza: art.241
o Aqui existe um negócio simulado e um negócio dissimulado (real)
o Podemos distinguir duas modalidades de simulação relativa:
 Simulação subjetiva
 Existe a intervenção de um sujeito aparente ou supressão
de um sujeito real
 Ex: mulher vende ao marido por intermédio de terceiro
 Simulação objetiva
 Simulação sobre a natureza do negócio; simulação de
valor
 Ex: celebra-se uma compra e venda quando no fundo se
quer celebrar uma doação

XL Página 28
Teoria Geral do Direito Civil (2)

04-06-2012
Regimes jurídicos
 Simulação absoluta
o O negócio simulado é nulo: art.240º
o Legitimidade para arguir a simulação: art.242º, observando o art.394º,nº2
 Simulação relativa
o O negócio simulado é nulo: art.240º
o O negócio dissimulado é válido ou inválido consoante o seria se tivesse
sido celebrado sem a dissimulação: art.241º,nº1
o Legitimidade para arguir a simulação: art.242º, observando o art.394º,nº2

 Interpretações doutrinais na aplicação destes artigos


o Artigo 241º,nº2
 Mota Pinto defende que determinada forma não pode ser
aproveitada para um negócio jurídico diferente, logo num
negócio simulado de compra e venda, com um negócio
dissimulado de doação, a forma é idêntica, mas não seria o
negócio dissimulado válido
 Refere que uma das razões da forma prende-se com
razões de publicidade do negócio jurídico, logo é
diferente publicitar uma compra e venda ou uma doação.
 Assim não estariam verificadas as exigências de forma da
doação
 Numa situação de simulação relativa objetiva de
simulação de valor é aplicável este artigo, pois o conteúdo
será diferente, mas a forma está observada
 A doutrina maioritária favorece a celebração de negócios
jurídicos “favor negoti”, para tal basta que exteriormente a forma
seja observada.
o Artigo 242º
 A regra geral para a nulidade é a de que qualquer pessoa a possa
invocar; art.286º
 Quando o art.242º,nº1 prevê que a nulidade pode ser arguida
pelos simuladores, deve-se observar o art.394º,nº2 (testemunhas)
 Assim os herdeiros do de cujus, tem as mesmas limitações deste
quanto à prova testemunhal
 242º,nº2; herdeiros legitimários, já não sofrem dessa restrição do
394º,nº2
o Artigo 243º
 Divergência doutrinal referente à proteção de terceiros
relativamente à nulidade proveniente da simulação; art.243º,nº1
 Mota Pinto defende que terceiros, só estão protegidos quando a
simulação seja invocada pelos próprios simuladores
 Doutrina maioritária
 Interpretação literal do artigo
 Orlando Carvalho defende que o terceiro estará sempre protegido,
mesmo que a invocação de nulidade seja realizada por outros que
não os simuladores
 Interpretação extensiva

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Teoria Geral do Direito Civil (2)

Reserva mental
 Art.244º
 Emissão de uma declaração contrária à vontade real
 É realizada conscientemente
 Intuito de divergência é unilateral, pois pertence ao declarante com o intuito de
enganar o declaratário
 Se a reserva não é conhecida pelo declaratário, o negócio é válido
 Se a reserva é conhecida pelo declaratário, o negócio é nulo
 Existem também casos de reserva mental inocente
o Quando o declarante, embora com o intuito de enganar o declaratário, o
faz por motivos socialmente considerados legítimos
o Para fundamentar a nulidade, bastará simplesmente a cognoscibilidade
do vício

Declarações não sérias


 Art.245º
 Declarações que não correspondem à vontade do declarante, feitas na expetativa
de que o declaratário conheça a falta de seriedade da declaração, podendo ser
jocosas, cénicas, didáticas ou publicitárias.
 Não existe intenção de enganar o declaratário
 A declaração não séria não produz quaisquer efeitos (245º,nº1)
 245º,nº2: situação muito difícil de ocorrer e que se situa numa proximidade
evidente com a reserva mental.

Divergências não intencionais:


Quanto às divergências previstas no art.246º o Dr. Meneses Cordeiro entende que não
são verdadeiras divergências entre a vontade e a declaração, mas sim vícios de vontade.
Ou seja não os considera como vícios de formulação da vontade
O Dr. Mota Pinto e a doutrina maioritária defendem a sua inclusão nos vícios de
formulação de vontade.

Falta de consciência na declaração


 O declarante emite uma vontade negocial sem ter a vontade de o fazer, ou pelo
menos, sem ter consciência da declaração
 A declaração negocial é existente, mesmo que essa falta de consciência não seja
conhecida ou cognoscível do declaratário (art.246ª)
 Se no entanto existir culpa do declarante, fica este obrigado a indemnizar o
declaratário: art.246º, in fine

Coação física
 O declarante é forçado a dizer ou escrever o que não quer, devido ao uso de uma
força física irresistível que o instrumentaliza e leva a tomar determinado
comportamento
 A declaração negocial é ineficaz: art.246º
 Diferente de coação moral com recurso à força física (art.255º e 256º), onde não
existe divergência entre a vontade e a declaração.

XL Página 30
Teoria Geral do Direito Civil (2)

Erro na declaração ou erro obstáculo


 Art.247º
 O declarante tem a consciência de emitir uma declaração negocial, mas por
lapsus linguae, ou devido à atribuição às palavras de um sentido diverso do seu
sentido objetivo, não se apercebe de que a sua declaração tem um conteúdo
diferente da sua vontade real.
 A declaração é anulável, desde que:
o Essencialidade do elemento sobre o qual incidiu o erro
 O declarante tem de provar que não teria celebrado o negócio
jurídico se se tivesse a percebido do erro
o Conhecimento ou cognoscibilidade do erro
 O declaratário conhece o deveria conhecer a essencialidade do
elemento sobre a qual incidiu o erro

Erro na transmissão da declaração


 Art.250º
 Pode ser anulada nos termos do art.247º
 Na caso de dolo do intermediário o negócio é anulável

11-06-2012
Vícios da vontade

 Aqui existe uma anomalia na formação da vontade, ou seja, o processo de


construção da vontade do sujeito sofreu um vício, que fez com que a vontade do
sujeito não se formasse corretamente
 Aqui o sujeito exteriorizou a vontade que queria
 Não existe divergência entre a vontade e a declaração
 O problema reside na formação da própria vontade
 A vontade não se formou de um modo julgado normal e são

Erro – vício
 O declarante representa inexatamente ou ignora uma qualquer circunstância de
fato ou de direito que determinou a sua decisão de efetuar o negócio, de modo
que se tivesse conhecido exatamente essa circunstância, não teria celebrado
qualquer negócio ou não o teria celebrado nos termos em que o fez.
 Se tivesse conhecido tal circunstância não teria emitido qualquer declaração
 Só decide realizar o contrato, devido à existência de uma determinada realidade
 O elemento sobre o qual incide o erro é determinante para a vontade de declarar.
 No erro-vício não há dolo
o O declarante está enganado sobre determinadas circunstâncias que o
levaram a contratar, mas esse engano não é motivado pelo declaratário
ou por terceiros.
o Esta circunstância sobre a qual incide o erro é passada ou presente
 Caso não o seja remete-nos para o art.437º a 439º quanto á
alteração ou modificação das circunstâncias existentes no
momento em que o negócio foi concluído
 Modalidades
o Erro sobre a pessoa do declaratário: art.251º

XL Página 31
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Erro sobre a identidade


 Erro sobre as qualidades
 Ex: doação a filha de alguém que salvou o seu pai de morte certa.
o Erro sobre o objeto do negócio: art.251º
 Erro sobre o objeto mediato
 Identidade ou qualidades
 Erro sobre o objeto imediato
 Erro sobre a natureza do negócio
 Ex: comprar de uma moradia devido a esta ter piscina,
verificando posteriormente que afinal não tem
o Erro sobre os motivos não referentes á pessoa do declaratário nem ao
objeto do negócio
o No artigo 252º cabem todas as circunstâncias de erro-vício que não se
refiram nem à pessoa nem ao objeto do negócio: é um artigo residual
 Erro acerca da causa de direito ou de fato
 Erro acerca de pessoa de terceiro
 Ex: arrendamento de uma casa a determinada pessoa, pois
julgava que iria ser transferida para outra cidade
o Pode também incidir sobre a base do negócio:
 Ex: celebração de um contrato para arrendar uma varanda durante
um cortejo que entretanto não irá passar pelo lugar habitual

 Condições gerais de relevância do erro-vício como motivo de anulabilidade:


o A regra é a validade dos negócios
o O erro do declarante em princípio não revela, somente se se verificarem
os requisitos previstos no art.247º, que observamos por remissão do 251º.
o Neste caso determinará a anulabilidade do negócio
 A essencialidade do motivo
 Se não fosse a existência desse motivo, não se tinha
realizado o negócio
 No entanto o erro deve ser essencial, ou seja,
determinante para a vontade de contratar
 O erro será incidental quando o sujeito sabendo a verdade
sempre contrataria, mas em termos diferentes, dando
assim alteração dos termos do negócio, mas não a sua
anulabilidade
 A cognoscibilidade do motivo sobre o qual incidiu o erro
 Deve-se provar que o declaratário sabia ou devia saber
(segundo as regras do bonus pater familias) que o
declarante nunca teria contratado se não se observassem
tais condições

Art.252º
 Nº1: refere-se aos motivos determinantes da vontade de ambos
 Por vezes existem circunstâncias que levam uma das partes a celebrar, estamos
então perante um motivo unilateral e algo subjetivo
 Para que ele seja determinante para anulação é necessário que as partes
reconheçam por acordo a essencialidade do motivo, podendo esse acordo ser
tácito ou expresso

XL Página 32
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Nº2: aqui o erro é bilateral, ambas as partes pensam que as circunstâncias eram
as que posteriormente não se verificaram

Dolo
 Art.253º e 254º
 “Entende-se por dolo qualquer sugestão ou artificio que alguém empregue com a
intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração, bem
como a dissimulação, pelo declaratário ou terceiro, do erro do declarante”
 Existe intenção
 Existe um erro qualificável que resulta de um comportamento de terceiro
 Modalidades
o Dolo positivo ou dolo negativo
 Provocar o erro ou manter em erro o declarante
o Dolus malus ou dolus bonus
 Só o dolus malus é relevante para fundamento de anulabilidade e
de responsabilidade
 Dolus bonus, são sugestões ou artifícios usuais, comercialmente
aceitáveis
o Dolo inocente ou dolo fraudulento
 No dolo inocente há mero intuito enganatório, enquanto no dolo
fraudulento há consciência de prejudicar
o Dolo proveniente do declaratário e dolo proveniente de terceiro
 Pode partir do declaratário ou de terceiro
o Dolo essencial e dolo incidental
 No dolo essencial o declarante foi induzido pelo dolo a concluir o
negócio em si mesmo, enquanto que no dolo incidental apenas
incide sobre os termos em que foi concluído.
 Só o dolo essencial pode ser causa de anulabilidade do negócio
 Quando o dolo é essencial conduz somente à alteração/
modificação do negócio

 Efeitos:
o Conduz á anulabilidade (art.254º, nº1), podendo gerar responsabilidade
pré contratual (art.227º)

 Requisitos da anulabilidade do negócio perante dolo:


o Do declaratário
 Dolus malus (253º,nº2)
 Dolo essencial (254º,nº1)
 O decetor deve ter consciência ou intenção de induzir ou manter
em erro (art.253,nº1)
 Pode ser unilateral ou bilateral (art.254º, nº1, 2ª parte)
o De terceiro
 Requisitos exigidos para dolo do declaratário
 Se o declaratário conheceu ou lhe era cognoscível o dolo de
terceiro, o negócio é totalmente anulável (art.254º,nº2, 1ª parte)
 Se o declaratário não conheceu, nem devia conhecer o dolo de
terceiro, o negócio só é anulável se o terceiro decetor obteve, por
via do negócio, algum direito, limitando-se essa anulação a essa
cláusula: invalidade parcial: art.254º,nº2, 2ª parte)

XL Página 33
Teoria Geral do Direito Civil (2)

Coação moral
 A declaração é feita sob coação moral quando for determinada “pelo receio” de
um mal de que o declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a
declaração (art.255,nº1)
o O receio desse mal pode incidir sobre a pessoa ou terceiro
 Exclui-se a ameaça de exercício normal de um direito e o simples temor
reverencial (art.255,nº3), ou seja o grande respeito que se têm por alguém
(devido a relações pessoais, ou posição hierárquica, etc.)
 Modalidades:
o Coação física (absoluta) e coação moral (relativa)
o Coação principal e coação incidental
 Principal (essencial) quando é determinante para a vontade de
contratar
 Incidental, quando o declarante tivesse proferido a mesma
declaração mas noutros termos.
o Coação dirigida à pessoa ou á honra ou à fazenda do declarante ou de
terceiro (art.255º,nº2)
o Coação exercida pelo declaratário ou por terceiro (art.256º)
 Efeitos:
o A coação moral determina a anulabilidade do negócio (256º) e origina
igualmente responsabilidade pré-contratual (227º)
 Requisitos:
o Quando exercida pelo declaratário:
 Coação essencial
 Intenção de extorquir a declaração
 Ameaça ilícita
o Quando exercida por terceiro:
 Requisitos da coação exercida pelo declaratário
 Gravidade do mal ameaçado
 Justificado o receio da sua consumação

Estado de necessidade/negócios usurários


 Art.283º e 284º
 Situação de receio gerada por grave perigo que leva o necessitado a celebrar um
negócio para superar o perigo em que se encontra (art.282º)
 A vontade do declarante também está viciada, pois só emite a declaração devido
ao estado de fragilidade em que se encontra (remeter para o 287º)
 No caso em que exista dever legal de auxílio, deve-se aplicar o art.280º
o Requisitos:
 Objetivos:
 Benefícios excessivos ou injustificados
 Subjetivos:
 Exploração de uma situação de necessidade,
inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou
fraqueza de carater de outrem
o Efeitos:
 Subsume-se na previsão do art.282ª, onde se estatui a
anulabilidade dos negócios usurários
 Podendo ser substituída pela modificação do negócio (art.283º)

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Teoria Geral do Direito Civil (2)

Incapacidade acidental
 A declaração é feita por quem se encontrava acidentalmente incapacitado de
entender o seu sentido ou não tinha o livre exercício da sua vontade
(art.257º,nº1, 1ª parte)
 Notoriedade ou conhecimento da incapacidade 8257º,nº1, in fine, nº2)
 Efeitos:
o Anulabilidade do negócio jurídico
o Art.257º, nº1

18-06-2012
Ineficácia e invalidade dos negócios jurídicos

 Em sentido amplo a ineficácia tem lugar sempre que um negócio jurídico, não
produz, por impedimento decorrente do Ordenamento jurídico, no todo ou em
parte, os efeitos que tenderia a produzir
 Ineficácia em sentido estrito:
o O negócio jurídico não produz os efeitos a que tende, devido a uma
circunstância extrínseca que relacionada com aquele mesmo negócio
jurídico, impede a produção dos efeitos jurídicos
o Absoluta
 Atua automaticamente, erga omnes, podendo ser invocada por
qualquer interessado
 Ex: termo suspensivo
o Relativa (inoponibilidade)
 O negócio jurídico só não produz efeitos relativamente a certas
pessoas
 Embora eficaz noutras direções, é inoponível a certas pessoas
 Ex: negócios sujeitos a registo, não registados.
 Invalidade:
o Ineficácia que provém de uma falta ou irregularidade dos elementos
essenciais do negócio
o A ausência de produção de efeitos negociais resulta de vícios ou
deficiências do negócio, contemporâneos da sua formação
o Nulidade
 O negócio nulo não produz desde o início, por força da falta ou
vício de um elemento interno ou formativo, os efeitos a que
tendia
 Opera ipso iure, ou seja, não é necessário intentar uma ação ou
emitir uma declaração nesse sentido
 Podem ser declaradas ex officio pelo tribunal
 Invocáveis por qualquer pessoa interessada
 Insanáveis pelo decurso do tempo (286º)
 Insanáveis mediante confirmação (288º)
 Tutela interesses públicos
o Anulabilidade
 O negócio anulável, produz os seus efeitos e é tratado como
válido, enquanto não for julgada procedente uma ação de
anulação

XL Página 35
Teoria Geral do Direito Civil (2)

 Se não for anulado, no prazo legal e pelas pessoas com


legitimidade, passa a ser definitivamente válido
 Tem de ser invocadas pela pessoa dotada de legitimidade
 Só podem ser invocadas por determinadas pessoas e não por
quaisquer interessados
 São sanáveis pelo decurso do tempo
 A lei estabelece o prazo de um ano para a arguição da
anulabilidade
 São sanáveis mediante confirmação (288º)
 Tutela interesses predominantemente particulares

o Regime jurídico da nulidade e anulabilidade


 Art.289º
 Retroatividade (nº1) e consequente repristinação
 Observância do art.1269º a partir do nº3
 Referência para o art.291º (proteção de terceiros de boa
fé)
o Invalidades mistas
 Só existem quando a lei as estabelece

Redução e conversão dos negócios jurídicos inválidos


 Redução
o Art.292º
o A redução de um negócio jurídico só pode operar quando o negócio
jurídico seja de alguma forma divisível
o Só assim a nulidade ou anulabilidade pode ser parcial
o A redução dos negócios jurídicos consiste em “salvar” o negócio fazendo
com que ele valha apenas pela sua parte válida
o O ónus da prova impede sobre a parte interessada na invalidade do
negócio, uma vez que a redução só não acontecerá se se provar que o
negócio não teria sido concluído sem a parte que sofria de invalidade
 Conversão
o Art.293º
o Nesta situação altera-se o tipo de negócio jurídico ou o seu conteúdo
o Só opera nos negócios jurídicos totalmente inválidos
 Ex: contrato compra e venda por escrito particular, convertido em
contrato promessa de compra e venda
o O negócio para o qual se quer converter tem conter os requisitos
essenciais de substância e de forma
o O ónus da prova impede sobre as partes interessadas na conversão do
negócio, pois por regra não existe conversão
o Deve-se provar a vontade conjetural das partes, ou seja, tem de se provar
que se as partes tivessem previsto a invalidade, teriam elaborado um
negócio jurídico diferente.

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